quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: JOEL


JOEL: a Lenda da Ponta-Direita

Carreira: 1948-1951 Botafogo; 1951-1958 Flamengo; 1958-1961 Valência (Espanha); 1961-1963 Flamengo; 1963-1964 Vitória (BA)

Jogou mais de 400 partidas com a camisa rubro-negra, o que por si só é sua credencial para estar entre os maiores da história rubro-negra. Ponta-direita que fez muito sucesso na década de 1950, tanto é, que foi convocado para disputar a Copa do Mundo de 1958 na Suécia e saiu do Brasil como titular, deixando Garrincha como seu substituto direto no banco de reservas.

Como jogador do Flamengo, ele fez 414 jogos e marcou 116 gols.


Abaixo, três textos combinados sobre a carreira do ponta, um escrito por José Carlos de Oliveira no site "Memórias do Esporte", outro por André Felipe de Lima no site "Museu da Pelada", e ambos mesclados a outro do site "Tardes de Pacaembu":

Joel Antônio Martins nasceu dia 23 de novembro de 1931 na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na rua Andrade Pertence, no bairro do Catete. Filho de José Antônio Martins e de Deolinda de Almeida Martins, Joel teve dois irmão mais velhos que também jogavam futebol. O mais velho, José, jogou nos juvenis do Fluminense. Parou logo. O do meio, João, iniciou no Flu e chegou a jogar entre os profissionais do Vasco. O pai não os queria como jogadores. Definia futebol como "um esporte estúpido". Criado no tradicional bairro carioca do Catete, seus primeiros contatos com o futebol aconteceram onde estudava, no Colégio Santo Antônio Maria Zacharias.

Levado pelo irmão João, Joel quase iniciou a carreira no Vasco. Não o fez por um motivo torpe: ao tentar um gol de letra durante o teste em São Januário, teria humilhado ninguém menos que o goleiro Barbosa. Nunca mais retornou ao clube da Colina. O jovem poderia ter desistido de tudo após o decepcionante desfecho com o Vasco. Mas não. Quis seguir adiante. Sabia que algo bom o destino lhe reservara. Se um dia chove, no outro reluz o sol. Esse clichê, diria Nelson Rodrigues, é "batata".

Em 1948 foi encaminhado às divisões de base do Botafogo de Futebol e Regatas. No Campeonato Carioca de Juvenis de 1950 (sub-20), ele disputou simplesmente as 20 partidas do Botafogo, formando num ataque que tinha o artilheiro Dino da Costa, vendido ao Roma em 1955. Joel fez o suficiente para ser uma referência quando o assunto é camisa 7, código de identificação dos jogadores que atuaram na ponta-direita pelo Botafogo. Tinha tudo para fazer uma carreira de muito sucesso em General Severiano, com 71 quilos e 1,74m de altura, o ponteiro-direito era dono de um futebol solidário, com passes precisos e muita habilidade.

Em 1951, ainda com 19 anos de idade ele trocou o Botafogo pelo Flamengo. A saída de General Severiano para a Gávea foi conturbada. Após ser acusado de aliciar o jovem atleta de 19 anos, o Flamengo depositou aos cofres botafoguenses a quantia de Cr$ 100 mil (valor de um carro de luxo da época). Carlito Rocha presidente do Botafogo de 1948 até 1951 lutou para manter o jogador até o último instante na então Federação Metropolitana de Futebol.

O Botafogo e o Flamengo travaram uma belicosa batalha pelo passe do rapaz. Interessante reportagem de Alfredo Curvelo mostrava a preocupação da imprensa com o "Caso Joel" e as consequências que tal disputa poderia provocar na relação entre os clubes de futebol dali em diante. "Joel, na qualidade de amador, menor, vítima inclusive da modalidade com que lhe poderiam ter deformado a condição de amador, tinha e tem o direito de ficar onde está ou transferir-se para onde bem quiser. O tribunal equivocou-se na recusa ao reconhecimento desse direito que lhe conferem as leis desportivas, mesmo conhecida a situação, de fato, do dinheiro recebido, no que não existe exceção, sabendo-se que a própria Federação assim o premiara como premiara os seus outros companheiros de seleção. Contrato não se conhece entre o jogador e o seu clube de origem e o contrato é condição essencial para que se reconheça a condição de profissional".

O embate era um prato cheio para a imprensa da época, que estampava manchetes sobre os porquês de uma briga pelo passe de um garoto que consistia apenas em uma "promessa de craque". Questionamento que o cronista Geraldo Romualdo da Silva fazia constantemente: "Por causa de um moço calmo, não ainda um nome feito em sua promissora esportiva, pelejam ardentemente, tenazmente, demagogicamente, furiosamente, dois grandes clubes. Dois clubes. Dois clubes que deveriam constituir poderosos alicerces morais de um regime. Dois clubes que juntos, sinceramente unidos e sinceramente entendidos, muito poderiam fazer pela boa causa e pela causa justa do futebol nacional". Na mesma crônica, o autor cita o que o primeiro técnico de Joel no Botafogo, Newton Cardoso, dissera sobre a promessa de craque: "Pra que negar? É um craque de extraordinário futuro! Tão bom é que já havia ultrapassado a categoria de aspirantes, numa idade em que não é comum o aproveitamento de aspirantes nos quadros efetivos dos chamados grandes clubes. Dos clubes que só gostam de craques feitos". O Botafogo chegou, inclusive, a ameaçar romper relações com o clube da Gávea, mas não teve jeito.

Mas ele rumou para a Gávea, onde fez muito sucesso. Já no segundo ano de clube, em 1953, no Torneio Quadrangular de Buenos Aires, disputado por Flamengo, San Lorenzo, Boca Juniors e Botafogo, Joel foi um dos grandes destaques, comandando o ataque do Flamengo que acabou conquistando o título ao bater o Botafogo no Monumental de Nuñez por 3 x 0, um dos gols marcado pelo próprio Joel. O ataque do Flamengo tri-campeão teve algumas variações, mas sempre com Joel na ponta-direita. Mesmo vigiado por grandes marcadores, como o vascaíno Coronel e o botafoguense Nilton Santos, o ponta foi responsável por muitos gols do primeiro tri-campeonato da Era Maracanã. Ao lado de Rubens, Índio, Zagallo e Evaristo, formou o famoso "Rolo Compressor", um dos maiores ataques da história rubro-negra.

Joel se destacava por seus cruzamentos em curva, sempre perfeitos, e de vez em quando, na direção do gol, surpreendendo não só os zagueiros como os goleiros. Foi com cruzamentos assim que o ponta deu passes para dois dos três gols do Flamengo na final do Campeonato Carioca de 1954, contra o América.

Joel era econômico em tudo. Dava dribles precisos, apenas quando necessário, e fazia cruzamentos milimétricos. Alguns diziam, na época, que o seu jeito frio de jogar não combinava com a alegria e vibração do futebol brasileiro. Isso não o impediu de entrar na galeria dos melhores jogadores da história do Flamengo, conquistando o Tri-campeonato Carioca de 1953, 1954, 1955 e o Torneio Rio-São Paulo de 1961 em cima do arqui-rival Botafogo, onde Joel iniciou sua carreira de jogador de futebol.

"Joguei no Flamengo, que mais posso querer da vida?". Era assim que Joel lembrava com orgulho de seu tempo como jogador do Flamengo. Aos amigos mais próximos, ou mesmo em suas entrevistas, ele sempre afirmou que foi o único que deixou o sempre inquestionável Garrincha no banco de reservas do escrete, mesmo que por pouco tempo.

Joel foi convocado por Vicente Feola para disputar a Copa do Mundo de 1958 na Suécia, quando ele saiu do Brasil como titular, enquanto Mané Garrincha era seu substituto direto no banco de reservas.

O primeiro jogo de Joel com a camisa canarinho foi no dia 13 de março de 1957. No Estádio Nacional de Lima, no Peru, pelo Campeonato Sul-Americano, Joel formou o ataque da seleção ao lado de Evaristo, Zizinho e Pepe na goleada brasileira de 4 x 2 contra o Chile. Os gols brasileiros foram marcados por Didi (3) e Pepe. Uma semana depois o Brasil atropelou ao Equador (7 a 1) e Joel marcou dois gols, com os demais marcados por Evaristo (também dois), Índio, Pepe e Zizinho. Essa seleção era tão boa, que dois dias depois goleou à Colômbia por 9 a 0, com cinco gols de Evaristo, dois de Didi, um de Pepe e um de Zizinho. Somente no dia 14 de maio de 1958, que Joel marcaria outro gol com a camisa canarinho, na goleada de 4 a 0 contra a Bulgária no Maracanã. Este foi também o último de sua carreira vestindo a camisa da Seleção Brasileira.

Para o Mundial disputado na Suécia, Vicente Feola convocou dois pontas-direita: Garrincha e Joel. Depois dos preparativos realizados no Brasil, o técnico viajou com o time escalado, aquele  que faria a estréia na Copa do Mundo: Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Dida, Mazzola e Zagallo.

O primeiro adversário era a Áustria e este jogo aconteceu dia 8 de junho na cidade de Uddevalla. Com dois gols de Mazzola e um de Nilton Santos, o Brasil venceu por 3 a 0 com certa facilidade. Joel fez uma grande partida. Era o reconhecimento de que ali estava um dos mais cerebrais atacantes brasileiros, com a mesma importância tática de Zagallo, mas mais ofensivo do que o ponta-esquerda. Joel se saiu bem no primeiro jogo, quase marcou um gol. Veio a segunda partida e Joel continuava como titular da equipe, deixando mais uma vez Garrincha sem jogar. O jogo foi contra a Inglaterra e terminou empatado em 0 a 0. Este jogo aconteceu no dia 11 de junho e foi realizado na cidade de Gotemburgo. A equipe brasileira foi exatamente a mesma que havia vencido a primeira partida.

Na terceira partida, tudo mudou na Seleção Brasileira. Um grupo de jogadores liderados por Nilton Santos, Didi e Bellini sugeriram à comissão técnica, que fossem escalados Zito, Vavá, Garrincha e Pelé, uma vez que na partida seguinte seria decisiva para que o Brasil continuasse na competição, e o adversário era a favorita União Soviética. A comissão técnica aceitou a sugestão. Era o dia 15 de junho e lá estavam frente a frente, brasileiros e soviéticos. Dois minutos de jogo, Garrincha bate a três zagueiros e chuta violentamente contra a trave. Um minuto depois, era a vez de Pelé chutar no travessão. Na jogada seguinte, de Didi para Pelé, de Pelé para Vavá e surge o primeiro gol brasileiro. Não seria exagero afirmar que aqueles três minutos de jogo modificaram a própria história do futebol brasileiro e superado a infantilidade de 1930, a imaturidade de 1934, a inexperiência de 1938, o otimismo de 1950 e os nervos de 1954. A exibição de Garrincha contra os russos excluía a hipótese de outro ponta-direita aventurar-se por ali, por melhor que fosse. Garrincha não era o melhor, era um gênio em seu maior momento, e Joel era o primeiro a reconhecer-lhe o mérito.

Ainda assim, pela Seleção Brasileira, tendo o monstruoso Garrincha como concorrente, Joel disputou 15 partidas e marcou 4 gols.

O papel com a Seleção Brasileira fez com que o ponta-direita rubro-negro recebesee um convite para ir jogar na Espanha. Joel transferiu-se para o Valência. Mas sua passagem pelo futebol espanhol foi relativamente breve, tendo jogado as temporadas 1958-59, 1959-60 e 1960-61. Na primeira temporada no futebol espanhol, jogou 32 partidas, tendo estado em campo por um total de 2.835 minutos, nos quais marcou 12 gols e deu 2 assistências; na segunda temporada, jogou 39 partidas, tendo estado em campo por 3.375 minutos, nos quais marcou 13 gols e deu 6 assistências, tendo sido esta sua melhor temporada em Valência; na terceira temporada, jogou apenas 15 partidas, ficando em campo por 1.350 minutos, nos quais marcou 5 gols e deu 3 assistências. Fez um total de 86 partidas do Campeonato Espanhol com a camisa do Valência, em todas elas iniciando como titular, e só vindo a ter sido substituído quatro vezes. Marcou 27 gols.

Depois da aventura na Espanha, voltou ao Flamengo para conquistar o Torneio Rio-São Paulo de 1961, marcando um dos gols do jogo decisivo contra o Corinthians. Este jogo aconteceu dia 23 de abril e o placar foi de 2 a 0 para o time rubro-negro, gols de Joel e Dida. O time campeão em 61: Ari, Joubert, Bolero, Jadir e Jordan; Carlinhos e Gérson; Joel, Henrique Frade, Dida e Germano.

Posteriormente, Joel defendeu ao Esporte Clube Vitória (BA) durante os anos de 1963 e 1964, sua última equipe como jogador profissional. Abandonou então ao futebol, mas passou a trabalhar no Flamengo, em suas divisões de base, com a missão de reconhecer os talentos que chegavam na Gávea, onde permaneceu por muitos anos.

Joel Antônio Martins faleceu no dia 1º de janeiro de 2003 no Rio de Janeiro por insuficiência respiratória. Foi velado no Salão Nobre da Gávea e sepultado no cemitério de São João Batista com a bandeira do Flamengo no peito.



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