HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO
DO CAOS AO ESPAÇO À GLÓRIA DAS PRATAS DA CASA (1966 a 1977)
Do pior período da história rubro-negra até então ao espaço para o brilho da base
Os Anos 1960 marcaram uma mudança política no Brasil que teve fortes consequências para todo o Rio de Janeiro, incluindo, como não poderia deixar de ser, o próprio Flamengo. Em 1960 a capital federal foi transferida oficialmente para Brasília. Ao longo da década as esferas de poder foram sendo migradas uma a uma para o Planalto Central. Esta mudança teve forte impacto econômico sobre a cidade, que sofreria uma paulatina deterioração nas décadas seguintes. Entre as principais consequências para o futebol rubro-negro, a que parece mais reluzente foi a que impactou a forma de captar jogadores para as divisões de base. Enquanto capital da República, circulava pelo Rio uma ampla variedade de representantes executivos e legislativos de todas as regiões e estados do país, e desta rede de relacionamento chegava um leque de indicações de jovens talentosos de todos os lados do país para fazer teste no clube mais popular da capital, e estes jogadores eram testados tanto no time sub-20 quanto no time de aspirantes, aqueles que tinham qualidade e se diferenciavam, chegavam ao time principal.
O campeonato de aspirantes - ou segundos quadros - era disputado por equipes jovens, mas sem restrição de idade, e coincidência ou não só foi disputado até pouco depois da transferência da capital, tendo a última edição sido jogada em 1970. Já não chegavam tantas indicações da rede de relacionamento político que existia em torno do Rio de Janeiro. O próprio perfil do time sub-20 mudaria. Antes, dentre muitos dos nomes revelados pela base rubro-negra, havia um amplo leque de mineiros, paulistas, gaúchos, sergipanos, baianos e alagoanos (como o ídolo Dida). A partir dos Anos 1970, o jogador da categoria de base revelado na Gávea passou a ser mais aquele formado nos subúrbios do Rio de Janeiro, como viria a ser o próprio "Galinho de Quintino". Mesmo quando revelou um craque paraibano, como no caso de Júnior, era um garoto que havia chegado à cidade ainda criança junto com a família. E a partir disto o Flamengo foi buscar mais reforços nos times que disputavam os campeonatos estaduais de outros estados.
Esta mudança de perfil também acabou forçando à estruturação de campeonatos de base em idade inferiores, pois até então só havia a sub-20, que tinha um campeonato disputado initerruptamente desde a implementação do profissionalismo, em 1933 (ainda que tenha havido algumas disputas avulsas antes disso). Os clubes do Rio tiveram que ser mais proativos e menos passivos: tinham que ir atrás dos craques, já que estes haviam parado de vir até eles. Isto levou à estruturação de outras categorias inferiores, tanto que a primeira edição do Carioca Sub-17 foi disputada somente em 1980.
Uma segunda mudança marcante que transformaria à sociedade e ao futebol: a chegada da televisão, que revolucionaria os meios de comunicação em todo o mundo. E se em muito é argumentado que a grandeza rubro-negra e sua dimensão nacional estão associadas à difusão do rádio, sobretudo nos Anos 1930, a chegada da televisão é uma prova de que não foi apenas por causa disso, pois a televisão então deveria ter feito de outra a maior torcida do Brasil, pois a televisão nasceu primeiro em São Paulo, e as primeiras partidas de futebol a serem televisionadas a nível nacional foram os jogos do Campeonato Paulista - onde brilhava o Santos de Pelé - transmitidas para todo o território nacional pela TV Tupi. Era a primeira vez que o Brasil via imagens dos jogos de futebol em que atuavam os nomes que haviam levado a Seleção Brasileira aos títulos da Copa do Mundo. Só em 1965 foi criada a Rede Globo no Rio de Janeiro, e ainda levaria um pouco mais de tempo para que as imagens do Campeonato Carioca fossem difundidas pelo território nacional. E antes disso tudo acontecer, o Flamengo já era o arrebatador de multidões, que em 1915, num Flamengo x Botafogo em General Severiano, fez pela primeira vez na história que a plateia do futebol superasse a do remo, que em 1923, num Flamengo e Vasco, bateu o recorde de público da cidade, levando mais gente ao Estádio das Laranjeiras do que a Seleção Brasileira havia levado nas finais dos Campeonatos Sul-Americanos de 1919 e 1922, e que em 1963 fez um Fla-Flu no Maracanã obter o recorde mundial de público em uma partida de futebol jogada entre clubes. E em meio a isto tudo, o Flamengo dos Anos 1960 não ia lá muito bem das pernas, passando por uma das piores fases de sua história.
Mas quando a TV chega para a sociedade brasileira, a grandeza do Flamengo já estava consolidada. E já claramente além dos limites geográficos do Rio de Janeiro. Em 1969 o jornal O GLOBO encomendou ao IBOPE a primeira pesquisa nacional sobre a popularidade dos clubes brasileiros. Mas o questionamento apresentado aos entrevistados era: "No seu entender, qual o clube de futebol mais querido do Brasil?". A pergunta feita não era "para qual time você torce". Quem recebeu a maior quantidade de aclamações foi o Santos, que foi citado por 49% dos entrevistados. É facilmente explicável tal resultado, as respostas se referiam a aquele time dos Anos 60 liderado por Pelé, que era admirado por todos os amantes do futebol. Mas sendo excluídas as distorções a favor do Santos provocadas pela forma que a pergunta foi feita, e pelo "efeito Pelé", o Flamengo já era absolutamente dominante: o resultado nacionalmente medido em 1969 tinha uma proporção de distribuição das torcidas de Flamengo e Corinthians muito similar àquela verificada em 27 capitais do Brasil em levantamento feito cinco décadas depois, com os rubro-negros sendo 20% e o alvi-negro paulista sendo 14%.
A mesma enquete de 1969 apresentou os resultados a nível estadual, tendo que ser levado em conta que naquele momento da história isto se referia à cidade-estado da Guanabara, onde era até 1960 o Distrito Federal, o que equivale aos limites geográficos da cidade do Rio de Janeiro. O resultado apontou a massiva liderança rubro-negra com 56% do total, seguido pelo Vasco com 25%, o Botafogo com 9% e o Fluminense com 8% (a soma dos três rivais locais equivalia a 42%, bem abaixo do Flamengo). Mas, talvez, com alguma distorção estatística por imperfeição de amostragem, pois dois anos depois, em 1971, foi a vez da paulista Revista Placar encomendar uma medição a nível estadual. Não houve nesta pesquisa, uma medição nacional. No Rio de Janeiro, o Flamengo tinha 35%, o Vasco 18%, o Fluminense 16% e o Botafogo 14%, uma distribuição mais próxima à medida nos Anos 1940 e 1950. Entretanto, a mesma pesquisa apontou o resultado para os entrevistados na faixa etária entre 10 e 17 anos, e neste caso o Flamengo liderava com ainda mais folga no Rio, com 46% dos torcedores, contra 17% do Vasco, 16% do Botafogo e 10% do Fluminense.
Também já estava consolidada a conquista da paixão popular. O Flamengo era o time da massa, e a prova disto é que foi nos Anos 1960 que nasceu a simbologia do Urubu. Entre os muitos caminhos que são necessários serem percorridos para se tentar entender como e por que o Flamengo se tornou a maior paixão popular do Brasil, um dos caminhos precisa recair sobre este seu símbolo. É impossível percorrer tais caminhos sem se escarafunchar com a cultura, a sociedade, as desigualdades, os dilemas, as diferenças, as identidades, as divergências, e todos os sentimentos que emanam de tudo isto em meio à confusa complexidade que é o Brasil. Por que o símbolo do urubu? Porque a associação, pejorativa e preconceituosa, construída por seus rivais para tentar abafar e apequenar o massivo crescimento do Flamengo, nasceu fazendo associação ao negro da ave e ao ato de revirar o lixo atrás das carcaças que darão subsistência. A associação era expressamente com o pobre, que pelo histórico da sociedade escravocrata brasileira é em sua maioria de pele negra (o fim da escravidão no Brasil é uma realidade um tanto recente, tendo acabado apenas em 1888, apenas 7 anos antes da fundação do Clube de Regatas do Flamengo). É fundamental entender esta associação com o urubu para entender a grandeza do Flamengo, porque o espírito que fez o clube tão grande - já presente na identidade do clubes desde sua criação, muito antes do nascimento do símbolo e mascote - está associado até às entranhas com o mesmo espírito que transformou a difamação e o preconceito que partiam de seus oponentes em motivo de orgulho, identidade e força motriz. São pouquíssimos e raríssimos aqueles que conseguem quebrar a associação pejorativa, desmontá-la, e reergue-la como bandeira de identidade e imagem de sua própria auto-estima. O Flamengo nasceu como um clube de elite, mas conquistou o coração da multidão, independente de raça, condição social, inclinação política ou crença religiosa. Só um espírito coletivo de mentalidade aberta, ousada, e com auto-confiança, é capaz de fazer esta metamorfose, revertendo o desdém pejorativo do outro em fortaleza própria. O símbolo do urubu é a materialização deste espírito. O Flamengo sempre foi invejado e odiado, e isto o fez e construiu a identidade rubro-negra.
Isto tudo já estava lá quando a televisão chegou. Já havia alguns anos que era possível ver uma característica clara da força da massa rubro-negra que sempre se mostrou presente: a média de públicos dos campeonatos dos quais o Flamengo era campeão, sempre foi maior do que a dos demais anos. A força transformadora do Maracanã também se fazia presente, mesmo quando o Flamengo não conquistava o título. Entre 1967 e 1970 foi disputado o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ou Taça de Prata, um híbrido entre o modelo do Torneio Rio-São Paulo e o Campeonato Brasileiro. Nestes quatro anos, o time rubro-negro fez péssimas campanhas, mas, ainda assim, foi o líder na média de público, tendo colocado 38 mil torcedores por jogo nos estádios, seguido por Cruzeiro com 34 mil, Atlético Mineiro com 33 mil, e Vasco e Fluminense com 30,5 mil. O Corinthians aparece em 8º lugar, com 25 mil torcedores por partida. E isto tudo em meio a este gigante de popularidade, o Flamengo, vivendo um dos piores e mais difíceis momentos de sua história!
O prestígio internacional do Flamengo também era muito grande, e dois fatos marcantes nos Anos 1960 comprovam o quão grande. Em 1965, o goleiro Lev Yashin, o Aranha Negra, titular da Seleção da União Soviética e considerado o melhor goleiro do mundo, passou pelo Rio de Janeiro e treinou com o elenco rubro-negro durante a pré-temporada da equipe na Gávea. Ele chegou a manifestar o desejo de ficar no clube, mas em tempos do autoritarismo socialista em seu país, e sendo ele usado como um embaixador da propaganda soviética, não houve a menor possibilidade desta conversa ir adiante. Dois anos depois, em 1967, foi a vez do húngaro Florian Albert vestir a camisa rubro-negra em dois jogos amistosos contra o Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Ele havia sido eleito pela revista francesa France Football como o melhor jogador do mundo de 1967, recebendo a Bola de Ouro. Com a Seleção da Hungria, Albert despontou no time que foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960, marcando cinco gols no torneio, incluindo dois na goleada de 7 a 0 sobre a França. Brilhou também em sua primeira Copa do Mundo, no Chile em 1962, quando marcou quatro gols e terminou entre os artilheiros da competição, tendo sido eleito a revelação do Mundial com apenas 21 anos. Na Copa de 1966, destacou-se com a equipe que eliminou o Brasil logo na 1ª Fase. Albert ficou um mês treinando na Gávea com uma licença especial concedida pelo governo socialista húngaro.
A temporada de 1966 esteve mais uma vez enrolada por problemas de calendário do futebol brasileiro. Assim, pela segunda vez em três anos, não houve decisão para definir um único campeão do Torneio Rio-São Paulo. O torneio terminou com 4 clubes declarados campeões, já que pela realização da Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra os clubes não teriam datas para disputar partidas extras. Os resultados da última rodada (Santos 0-0 Corinthians e Botafogo 3-0 Vasco) decretaram um empate em 11 pontos entre estes quatro clubes. Antes mesmo da rodada, já vislumbrando essa possibilidade, as Federações Paulista e Carioca tomaram a decisão de declarar mais de um campeão se times terminassem empatados em pontos. No entendimento dos dirigentes, não seria possível determinar o campeão pelos critérios de desempate, pois esta possibilidade não estava prevista no regulamento da competição.
O elenco teve duas baixas no início da temporada, com o ponta-direita Amauri vendido ao Porto, de Portugal, e com a saída de Fefeu, que dois anos antes havia sido contratado ao Canto do Rio, e embora fosse o reserva imediato de Nelsinho, destacou-se a ponto de chamar a atenção do São Paulo, que investiu em sua contratação em janeiro de 66. Para o elenco, voltaram de empréstimo o centroavante Airton, após uma temporada no Corinthians, e o ponta-esquerda Osvaldo Ponte-Aérea, após uma temporada no Guarani. A única contratação foi a do zagueiro Itamar, do América. A aposta maior foi em dar mais oportunidades a uma nova safra emergida da base, que já tinha tido ao zagueiro Jaime Valente tendo assumido a titularidade na zaga no ano anterior, e com uma nova geração de atacantes, nos quais se apostava num futuro promissor, que contava com Fio, César Lemos e João Daniel.
Instável, o time rubro-negro venceu a Botafogo, Portuguesa de Desportos e Fluminense, este último com uma imponente goleada por 4 x 1, empatou com Santos e Vasco, e perdeu para São Paulo e Palmeiras. Já sem chance de título, nas duas últimas rodadas perdeu para Corinthians e Bangu, terminando num modesto 7º lugar.
Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1966
Valdomiro, Murilo, Ditão, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Evaristo, César Lemos, Silva e Rodrigues
Téc: Armando Renganeschi
Antes do Carioca de 66, o clube viveu uma experiência inusitada. Seu vice-presidente de futebol era o sueco Gunnar Goransson, que decidiu trazer três conterrâneos seus para uma experiência na Gávea: o lateral-direito Roger Magnusson, o zagueiro Kurt Axelsson e o atacante Roland Lundblad, o "Rimbo", todos três jogadores da Seleção Sueca (Axelsson viria a disputar a Copa do Mundo de 1970). Mas a experiência na Gávea não deu certo, só Rimbo chegou a entrar em campo com a camisa rubro-negra.
Em relação ao primeiro semestre, o elenco mudou muito pouco: o centroavante Airton Beleza foi para o Botafogo, Paulo Alves deixou o clube para defender à Portuguesa da Ilha do Governador, e o veterano Evaristo decidiu por sua aposentadoria dos gramados. A maior contratação foi o do atacante Gildo, do Palmeiras, que chegou à Gávea por empréstimo de seis meses. O clube também tentou algo diferente ao fazer uma troca por empréstimo com o Danubio, do Uruguai, na qual cedeu o reserva Dênis, e recebeu ao jovem ponta-direita Carlos Mendoza, que não viria a conseguir se destacar na Gávea, tendo entrado em campo em apenas dois amistosos e sendo devolvido aos uruguaios ao fim do empréstimo. O grupo era quase o mesmo que havia sido campeão carioca no ano anterior, com algumas peças mudando no decorrer do campeonato, já que Itamar ganhou a posição de Ditão na zaga e, nas pontas, Gildo e Osvaldo Ponte-Aérea se firmaram como titulares.
O Flamengo terminou o 1º turno invicto, com 8 vitórias e 3 empates em 11 jogos, com 19 pontos, um a mais que o vice-líder Bangu. Perdeu pontos apenas nos empates frente a América, Vasco e Botafogo. Chegou na última rodada um ponto atrás do Bangu, seu adversário na rodada. O Maracanã recebeu 34 mil torcedores, que viram a vitória rubro-negra de virada, com gols de Silva e Almir nos vinte minutos finais de jogo, tendo o gol da vitória sido marcado quanto o relógio apontava 40 minutos.
Os 8 primeiros colocados avançaram ao Turno Final (2º Turno), cujo vencedor, sagraria-se Campeão Carioca. O Bangu fez então uma campanha sensacional, com 7 vitórias em 7 jogos, terminando com 4 pontos de vantagem para o time rubro-negro, e sacramentando o título com uma vitória histórica de 3 x 0 sobre o Flamengo no Maracanã, na única derrota sofrida pelo time rubro-negro em todo o campeonato. Já o Flamengo, havia empatado com Fluminense e Botafogo. Apesar de chegar invicto à última rodada para o duelo contra o Bangu, o adversário tinha a vantagem do empate para se sagrar campeão. Ainda assim, o Maracanã lotou de rubro-negros, tendo recebido um público de 144 mil espectadores.
O detalhe é que se este jogo tivesse terminado empatado, o Flamengo teria se tornado o único vice-campeão invicto da história do Campeonato Carioca! Com 25 minutos do 1º tempo, Ocimar e Aladim haviam posto Bangu 2 a 0 no placar. O título já se via perdido. Logo no início do 2º tempo, Paulo Borges marcou o terceiro.
O jogo registrou uma das maiores pancadarias generalizadas entre jogadores da história do Maracanã. Segundo Almir Pernambuquinho, ele tinha certeza que o árbitro e o goleiro rubro-negro Valdomiro, que não era o titular, mas jogara as duas últimas rodadas no lugar do lesionado Franz, tinham sido subornados para dar a vitória ao time alvi-rubro (que era financeiramente sustentado pelo contraventor do "jogo do bicho" Eusébio de Andrade), e por isso no intervalo ele teria prometido ao técnico rubro-negro que naquela tarde "não haveria volta olímpica no Maracanã". Aos 25 minutos do 2º tempo, após um desentendimento entre Paulo Henrique, do Flamengo, e Ladeira, do Bangu, Almir partiu para agredir todo e qualquer jogador banguense que passasse diante dele. Após o fim da briga, o juiz Aírton Vieira de Morais expulsou 5 jogadores do Flamengo (Almir Pernambuquinho, Silva, Itamar, Paulo Henrique e Valdomiro) e 4 jogadores do Bangu (Ary Clemente, Ubirajara Motta, Luiz Alberto e Ladeira). Ficando o Flamengo com apenas 6 jogadores em campo, seguindo a regra da FIFA, o árbitro deu o jogo por encerrado, sem que os 20 minutos finais fossem disputados, com o Bangu, naturalmente, tendo sido declarado o campeão.
Flamengo no Carioca de 1966
Franz, Murilo, Itamar, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Gildo, Almir Pernambuquinho, Silva e Osvaldo Ponte-Aérea
Téc: Armando Renganeschi
Banco: Valdomiro, Ditão, Carlos Alberto, Fio Maravilha e César Lemos
A confusão generalizada provocada por Almir, e suas acusações, obviamente transformaram a Gávea num caldeirão, que deixou marcas no clube nos anos seguintes, que foram os piores da história rubro-negra no futebol profissional de até então.
De qualquer forma, o início da temporada de 1967 foi de continuidade ao trabalho que vinha sendo feito, já que o argentino Armando Renganeschi tinha tido bons desempenhos nos Cariocas de 65 e 66. Mas o time teria uma baixa de peso, seu principal jogador, o ponta de lança Silva, foi contratado pelo Barcelona, indo viver uma aventura na Espanha (com histórias inusitadas, pois só jogou amistosos por lá, e, muito preconceituosamente, chegou a se cogitar que trabalhasse como motorista do presidente do clube). Perdeu também o ponta Gildo, que voltou ao Palmeiras ao fim do período de empréstimo.
As apostas para repor a saída de Silva, o Batuta, foram modestas: o clube contratou ao meia Américo, do Guarani, e ao ponta de lança Jair, do Madureira (aquele que no futuro, quando veio a se tornar treinador, passou a ser conhecido como Jair Pereira). Ainda fez duas transações de troca de jogadores: com o Vasco, cedeu o goleiro Franz em troca do atacante Zezinho, e com o Palmeiras cedeu ao jovem centroavante César Lemos - o César Maluco - para receber o camisa 9 alvi-verde Ademar Pantera.
No 1º semestre de 1967, o futebol brasileiro entrou numa aventura nova. O objetivo era expandir as competições nacionais para além dos limites de Rio de Janeiro e São Paulo. Foi assim que entre 1967 e 1970 foi disputado o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o qual já era o nome oficial do Torneio Rio-São Paulo. A fórmula nada mais era do que a expansão do RJ-SP, mantendo-se o modelo de disputa por pontos corridos em turno único, mas expandindo os participantes de 10 para 15 clubes, com a inclusão de dois clubes de Belo Horizonte, dois de Porto Alegre, e um de Curitiba, não fazendo mais sentido chamar a competição de Torneio Rio-São Paulo, já que seus limites geográficos tinham sido expandidos.
Ademar Pantera e Pelé
Nas três primeiras rodadas, o time não perdeu, vencendo a Portuguesa de Desportos e Cruzeiro, e empatando com o Internacional. Depois disto, porém, seguiram-se quatro derrotas consecutivas, para Santos, Bangu, Grêmio e Atlético Mineiro, que tiraram o Flamengo completamente da briga pelo título. O time ainda conseguiu vencer ao Botafogo, mas empatou contra São Paulo, Palmeiras, Vasco e contra o Ferroviário, do Paraná. Nas duas últimas rodadas perdeu para o Corinthians e empatou o Fla-Flu (diante de um mísero público de 10 mil pagantes no Maracanã). Em 14 rodadas, só obteve 3 vitórias, terminando o torneio em 11º lugar. Era a pior colocação já obtida pelo Flamengo em todos os torneios disputados até então em sua história! Muito acanhado ofensivamente, o único ponto forte do time era o faro do goleador Ademar Pantera, que fez 15 dos 23 gols marcados pelo time rubro-negro na competição, tornando-se o artilheiro do campeonato.
Flamengo no Brasileiro de 1967
Marco Aurélio, Murilo, Ditão, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos (Jarbas) e Américo; Pedrinho, Ademar Pantera, Jair Pereira e Rodrigues
Téc: Armando Renganeschi
Banco: Valdomiro, Leon, Almir Pernambuquinho, Fio Maravilha e Osvaldo Ponte-Aérea
Dada a péssima campanha no primeiro semestre, a diretoria decidiu pelo encerramento do ciclo do argentino Armando Renganeschi como técnico do time, interrompendo o trabalho que estava completando dois anos. Para o seu lugar, a aposta foi caseira, com a efetivação do paraguaio Modesto Bria como novo treinador. Desde que ele se aposentara como jogador, seguia trabalhando na Gávea como assistente-técnico, e pela segunda vez assumiria o time.
Muito insatisfeita com o desempenho da equipe, a diretoria estava disposta a reformular todo o trabalho e desinflar bastante ao elenco. Uma grande barca partiu com jogadores dispensados pelo clube. Almir foi para o América, Rodrigues para o Cruzeiro, e Osvaldo Ponte-Aérea para o Bragantino. O clube também se desfez das duas principais apostas feitas para o primeiro semestre: Américo, que havia chegado do Guarani, seguiu para a Portuguesa Santista, e Jair Pereira, que chegara do Madureira, partiu para o Bonsucesso. Também deixaram o clube os laterais Leon e Altair Rosa, o meio-campista Jarbas e o ponta-direita Pedrinho.
As contratações foram pontuais. A principal delas foi a chegada do volante paraguaio Francisco Reyes, contratado ao Atlético de Madrid, da Espanha. Para reforçar ao meio de campo, chegaram também Amorim, do América, e o jovem Rodrigues Neto, do Vitória do Espírito Santo. As contratações para o meio demonstravam a insatisfação com o desempenho da dupla Carlinhos e Nelsinho. Com poucos e pontuais reforços, a maior aposta seria mais uma vez nas divisões de base, sobretudo para o ataque, dando-se espaço para o aproveitamento da linha emergida do time sub-20 formada por Luiz Carlos Tatu, Dionísio, Arílson e Zequinha, que se somavam a outros jovens talentos também formados na Gávea, como Fio e João Daniel.
Muito mal das pernas após um péssimo desempenho no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, e com um time com muita carência de qualidade técnica, o elenco embarcou, antes do Carioca de 67, para mais uma excursão à Europa. Era melhor não ter embarcado, dado o horripilante desempenho que teve em campo. Jogou 10 amistosos em 4 países - Alemanha Oriental, União Soviética, Hungria e Espanha - tendo vencido só 2 jogos e sofrido 8 derrotas, nas quais em quatro delas tomou quatro gols.
O time começou a campanha no Carioca de 67 vencendo os três primeiros jogos. Fez 3 a 0 no Olaria, com três gols do artilheiro do Brasileiro de 67, Ademar Pantera. Depois fez 2 x 0 no América, com dois gols de João Daniel, e venceu à Portuguesa por 1 x 0. Com um desempenho que vinha em contagem regressiva, o próximo resultado parece que seria um empate. E assim foi, só que por 3 x 3 frente ao Campo Grande no Estádio de Ítalo Del Cima. Daí para frente o trabalho desandou...
O time perdeu para o Bonsucesso e foi goleado por 4 a 1 pelo Bangu. Ainda venceu ao São Cristóvão na Gávea, resultado que não impediu uma decisão que já estava tomada. Era hora de mudar de técnico e apostar num nome forte e experiente para ter alguma chance de reverter aquele quadro caótico. E, então, o Flamengo foi agressivo: contratou o técnico campeão nacional no primeiro semestre a frente do Palmeiras, e cujo curriculum tinha a conquista da Copa do Mundo de 1962 com a Seleção Brasileira: Aymoré Moreira.
O ex-goleiro do Botafogo entre 1936 e 1946, havia construído sua carreira de treinador no futebol paulista, onde havia trabalhado de 1951 a 1967, com quatro passagens a frente do São Paulo, três do Palmeiras, duas da Portuguesa de Desportos e uma do Santos.
Sua passagem, no entanto, começou mal, com uma derrota para o Botafogo. O centroavante Ademar Pantera acabou perdendo espaço com ele no time. Houve alguma reação após uma vitória por 3 x 1 no Fla-Flu, e outro bom resultado frente ao Madureira. Durou pouco qualquer reação: na última rodada do 1º turno, diante de 52 mil pagantes no Maracanã, o time acabou goleado por 4 a 0 pelo Vasco. Daí em diante, tudo foi negativo. No octogonal de 2º turno, o time não venceu nas seis primeiras rodadas, empatando frente a América e Campo Grande, e perdendo para Bangu, Botafogo, Vasco e Olaria. Despediu-se com uma goleada por 4 x 1 no Fla-Flu diante de tão só 5 mil torcedores presentes no Maracanã. Terminou o returno em 6º lugar, tendo na classificação geral acabado como o 4º colocado.
O desempenho da garotada foi muito ruim. A principal carência do time era exatamente na capacidade de articulação no meio de campo. Exatamente na posição onde o clube via brilhar no rival Botafogo, bi-campeão carioca em 67 e 68, o "Canhota de Ouro" Gérson, cria das divisões de base da Gávea. Ele já havia ido com a Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1966, mas vivia naquele momento seu apogeu técnico e físico, que culminaria na esplendorosa campanha canarinho na Copa do Mundo de 1970, quando foi o dono supremo da camisa 8.
Flamengo no Carioca de 1967
Marco Aurélio, Murilo, Ditão, Jaime Valente e Paulo Henrique; Amorim (Reyes) e Rodrigues Neto; Luiz Carlos Tatu, Dionísio (Fio Maravilha), João Daniel e Zequinha
Téc: Modesto Bria, depois Aymoré Moreira
Banco: Renato, Itamar, Carlinhos, Nelsinho, Válter e Ademar Pantera
Em 1968 houve uma inversão no calendário que estava em vigor havia muitas décadas no futebol brasileiro, com os Campeonatos Estaduais passando do segundo para o primeiro semestre. Assim, houve a disputa de dois Campeonatos Cariocas em sequência, com o início de um acontecendo logo após o fim do anterior.
No Flamengo, a intenção era dar continuidade ao trabalho de Aymoré Moreira como técnico, porém, uma oferta do Corinthians o tirou da Gávea. O clube do Parque São Jorge, liderado em campo por seu camisa 10, Rivellino, recém havia feito a maior transação da história do futebol brasileiro até então, tendo contratado ao ponta Paulo Borges, do Bangu. Buscou então um nome experiente para tentar voltar a ser campeão paulista, título que não conquistava desde 1964, e mais uma vez, como já havia feito com Fleitas Solich, a aposta para isto foi a de tirar o técnico do Flamengo. Sem muito tempo para buscar reposição, o clube apostou numa "solução de casa", indo atrás de um treinador com identificação com a Gávea: o ex-jogador Válter Miraglia, que depois que se aposentara vestindo vermelho e preto, havia começado a carreira de treinador no time rubro-negro sub-20. Havia tido passagens por Atlético Mineiro e Náutico, mas sem um trabalho de destaque. A aposta era em alguém que além de demonstrar liderança, conhecesse as particularidades do Flamengo.
A diretoria também foi atrás de contratações para tentar reverter o mal momento rubro-negro. O reforço mais badalado foi a volta do ponta de lança Silva, que voltava à Gávea após passagens rápidas e sem sucesso pelo Barcelona e pelo Santos. Buscou também um xerife para arrumar sua defesa, contratando ao zagueiro Jorge Manicera, da Seleção do Uruguai, adquirido ao Nacional de Montevidéu. Voltou ao clube também o centroavante César Maluco, que foi destrocado por Ademar Pantera, que voltou ao Palmeiras após o fim do período de empréstimo de ambos. Para fechar o pacote de reforços, foram contratados os zagueiros Onça, ao Fluminense de Feira de Santana, da Bahia, e Guilherme, do Campo Grande, o ponta-direita Luís Cláudio, revelado pelo Santos, mas que estava defendendo ao Racing, da Argentina, e dois jogadores do Votuporanguense, de São Paulo, o meia Cardosinho e o volante Liminha. Na outra via, deixavam a Gávea o volante Amorim, que havia chegado seis meses antes do América e foi vendido ao Bahia, o zagueiro Ditão, que foi para o Cruzeiro, e o meio-campista Nelsinho, que se aposentou. Saiu também o jovem ponta-esquerda Zequinha, que foi emprestado ao Palmeiras, mas ele, um mês depois, não tendo se adaptado à vida na cidade de São Paulo, voltou à Gávea.
Bastante reformulado, o time, agora comandado por Válter Miraglia, até fez uma campanha acima de razoável no 1º turno, tendo como pior momento o tropeço com derrota perante o Madureira na 3ª rodada, e como melhores as vitórias sobre Fluminense e Vasco (esta, diante de mais de 134 mil pessoas no Maracanã). Perdeu pontos ao empatar com o América e ser derrotado pelo Botafogo, mas mantinha-se próximo ao líder. Abriu o returno com nova vitória no Fla-Flu, desta vez diante de mais de 102 mil espectadores, ameaçando embalar e entrar na disputa pelo título. Só que voltou a empatar com o América e perder para o Botafogo. Na reta final do campeonato, ainda empatou com o Vasco e com o Bonsucesso, terminando em 3º lugar.
Flamengo no Carioca de 1968
Marco Aurélio, Murilo, Onça, Manicera e Paulo Henrique; Liminha e Carlinhos; Luiz Carlos Tatu, César Lemos, Fio Maravilha (Silva) e Rodrigues Neto
Téc: Válter Miraglia
Banco: Ubirajara Alcântara, Guilherme, Reyes, Dionísio e Néviton
Para o segundo semestre, o time teve perdas importantes. O presidente Veiga Brito decidiu vender o ponta-direita Luiz Carlos Tatu para o Vasco. A saída da jovem revelação da base, que os rubro-negros apostavam que teria um futuro promissor, levou os torcedores a se indignar com a diretoria. Logo depois, foi a vez do Botafogo anunciar a aquisição do jovem ponta-esquerda Zequinha. Era a fase de "liquidação de jovens talentos", pois o centroavante César Lemos foi vendido em definitivo ao Palmeiras, onde havia deixado excelente impressão em sua passagem de um ano por empréstimo em 1967.
Também saíram o terceiro goleiro Valdomiro, para o Água Verde, do Paraná, o ponta de lança João Daniel, cedido ao Fluminense de Feira de Santana, e o atacante Zezinho, que desde que chegara do Vasco, nunca havia conseguido se firmar, acabando enviado ao Vitória, da Bahia. Para recompor elenco, foram contratados jogadores para reforçar o sistema defensivo. Chegaram o goleiro Claudinei, do XV de Piracicaba, o lateral-direito João Carlos, do Santos, o zagueiro Moisés, do Bonsucesso, e o lateral-esquerdo Tinho, que chegou do Vitória numa troca por Zezinho.
Antes do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 68, o time viajou para disputar um torneio amistoso na Espanha, o tradicional Troféu Joan Gamper. Venceu ao Athletic Bilbao por 1 x 0 e avançou para fazer a final contra o Barcelona, num jogo histórico e antológico. Palau abriu o marcador para os catalães aos 14 minutos do 1º tempo. Fio Maravilha empatou aos 23. Porém, Palau novamente colocou o Barça a frente aos 30. Incansável e guerreiro, o time rubro-negro buscou um novo empate antes do intervalo, com um gol de Zélio aos 42 minutos. Na volta para o 2º tempo, o português Jorge Mendonça, homônimo do brasileiro que jogou a Copa de 78, balançou a rede rubro-negra logo com 7 minutos. Mas sete minutos depois Néviton voltou a empatar o jogo: 3 x 3! Muitas emoções na decisão do campeão do troféu. Mas o Barcelona decidiu o jogo depois disto em quatro minutos. Josep Maria Fusté marcou aos 20 minutos, no minuto seguinte ao empate rubro-negro, e Jorge Mendonça marcou mais um aos 24 minutos. Festa terminada? O Flamengo ainda queria deixar seu cartão de visitas. Aos 36 minutos do 2º tempo, Silva marcou um golaço de bicicleta que levantou as arquibancadas para aplausos. No fim, um maravilhoso Barcelona 5 x 4 Flamengo!
Antes de regressar ao Brasil, o time parou na África, onde foi Campeão do Troféu Mohamed V, no Marrocos. Após vencer o time local da Real Força Aérea do Marrocos, o time avançou para fazer a final diante do Racing, da Argentina, que ostentava nada menos que o título de campeão do Mundial Interclubes. Os argentinos abriram o marcador no início, mas o time rubro-negro mostrou qualidade para virar para 3 a 1. No fim do jogo, ainda tomou outro gol, mas pôde voltar ao Brasil com a taça na bagagem.
Pelo que havia feito até então no ano, tinha esperanças de fazer uma campanha melhor na segunda edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Mas não o fez. Em 16 jogos, obteve apenas duas vitórias, fazendo uma campanha ainda pior do que havia feito no ano anterior. O campeonato havia se expandido geograficamente, além dos 10 clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, e de dois clubes de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, e de um do Paraná, passou a contar com um da Bahia e um de Pernambuco, adicionando a Região Nordeste.
O time sentiu o desfalque de Manicera na zaga, que, lesionado, ficou a competição inteira fora do time. Largou perdendo para o Santos no Maracanã. Recuperou-se vencendo ao Cruzeiro. Mas na sequência empatou com o Bangu e com a Portuguesa de Desportos, e perdeu para o Palmeiras e para o Fluminense. Não conseguia vencer, tendo empatado com São Paulo, Atlético Mineiro e Botafogo. Perdeu para o Grêmio. Após uma sequência de 8 jogos sem vitória, a pior em sua história até então, conseguiu vencer na 11ª rodada, batendo ao Corinthians por 1 x 0 no Morumbi. Porém, a sequência final foi ainda pior: goleado por 4 x 0 pelo Internacional, em Porto Alegre, empatou com Atlético Paranaense e Náutico, e perdeu para Bahia e Vasco. Terminou em 14º lugar entre 17 participantes. Um desempenho horroroso!
E a diretoria, pressionada pelos resultados ruins, apelou com apostas mais de publicidade do que de expectativa técnica. Na reta final do campeonato, aportaram na Gávea dois veteranos. Foi contratado o goleiro argentino Rogelio Domínguez, que chegava à Gávea já próximo de completar 38 anos, após passagem pelo Nacional de Montevidéu, e que tinha no curriculum o tri-campeonato da Copa dos Campeões da UEFA como titular do Real Madrid em 1958, 1959 e 1960. Chegava também o ídolo nacional Mané Garrincha, que após seus anos áureos com o Botafogo e com a Seleção Brasileira, passara sem muito sucesso pelo Corinthians e pelo Júnior de Barranquilla, da Colômbia. Ele chegava à Gávea já com 35 anos, e já consumido por problemas com o alcoolismo. Ainda assim, na última rodada diante do Vasco, num jogo que já não valia mais nada, 80 mil pessoas foram ao Maracanã para ver o primeiro jogo oficial de Garrincha com a camisa rubro-negra. Ele fez poucos jogos no clube, quase todos amistosos, e se retirou dos gramados.
Flamengo no Brasileiro de 1968
Marco Aurélio, Murilo, Onça, Guilherme e Paulo Henrique; Liminha, Carlinhos e Silva; Fio Maravilha, Dionísio e Rodrigues Neto (Arílson)
Téc: Válter Miraglia
Banco: Claudinei, Moisés, Reyes, Gilbert e Luís Cláudio
Após a péssima campanha no torneio nacional, a direção do Flamengo decidiu pela troca no comando técnico. Foi contratado Elba de Pádua Lima, mais conhecido como Tim, para ser o novo treinador rubro-negro. O ex-jogador do Fluminense, onde atuou de 1936 a 1944, e da Seleção Brasileira, com quem disputou a Copa do Mundo de 1938, como técnico chamou a atenção por bons trabalhos a frente do Bangu, mas foi também com o Fluminense que conquistou seu primeiro título, sendo campeão carioca de 1964. Chegava à Gávea após se sagrar Campeão do Metropolitano de Buenos Aires de 1968 com o San Lorenzo, e de forma invicta, algo que era inédito na história do futebol profissional argentino até então.
Para o Campeonato Carioca de 69, o clube perdeu Silva, que aceitou proposta para defender ao Racing, na Argentina. Para repor sua saída, por indicação do técnico Tim, o clube foi atrás de um jovem ponta de lança que vinha se destacando pelo San Lorenzo, mas que também acumulava problemas de comportamento fora de campo: Narciso Doval. Com 25 anos de idade, o "Louco" Doval formou uma poderosa linha de frente com a camisa azul-grená conhecida no futebol argentino como "Los Carasucias" (os caras-suja, uma expressão usada na Argentina para se referir a moleques atrevidos). Era a aposta da diretoria rubro-negra para reverter os resultados negativos. Voltando a seu passado, o clube apostava num elenco com quatro sul-americanos: os argentinos Domínguez e Doval, o uruguaio Manicera e o paraguaio Reyes. Este último que prestes a completar dois anos no clube, nunca havia conseguido se firmar titular, o que seria ainda mais difícil a partir de então, já que o regulamento naquele momento não permitia que fossem escalados quatro estrangeiros ao mesmo tempo.
A campanha no Carioca de 69 começou vacilante, com empates frente a América e Bonsucesso nas duas primeiras rodadas. O time encaixou uma sequência de quatro vitórias, mas depois perdeu para Botafogo e Olaria. No Fla-Flu, diante de 106 mil pagantes, ficou num empate sem gols. A maior afirmação foi com a vitória por 3 x 0 sobre o Vasco na última rodada diante de 86 mil pagantes no Maracanã. Deu moral ao time para engatar uma sequência de vitórias no início do 2º turno. Começou batendo o América por 1 x 0 diante de mais de 92 mil pessoas no Maracanã. A torcida estava empolgada, já que o time se mantinha próximo à ponta da tabela. Depois de vencer o Bonsucesso, o "maior estádio do mundo" novamente lotou, em ampla maioria por rubro-negros, e pouco menos de 149 mil pagantes viram o time bater ao Botafogo por 2 x 1. Depois, o time conseguiu a sexta vitória consecutiva, superando à Portuguesa. Com a "magnética" inflamada, o Carioca de 69 teve a 3ª maior média de público da história da competição.
Faltando três rodadas, o clássico entre Flamengo e Vasco pôs 131 mil pessoas no Maracanã. A torcida rubro-negra estava motivada e inflamada com a expectativa de conquistar um título após quatro temporadas sem gritar "campeão". O clássico terminou empatado em 1 a 1, com a importante perda de 1 ponto na corrida pelo título. Flamengo e Fluminense chegaram à penúltima rodada com o tricolor com 2 pontos de vantagem na liderança: o Fla-Flu valeria o título. O Maracanã recebeu pouco mais de 171 mil pagantes, sem que se saiba qual foi o número total de presentes - estima-se que superior a 190 mil espectadores - sendo o 2º maior público de um Fla-Flu na história, perdendo apenas para o jogo decisivo do Carioca de 63. Se naquele ano o título havia sido rubro-negro, desta vez ele ficou nas mãos tricolores. Era a prova de que desde sempre, não bastava um Maracanã lotado numa final para garantir um título do Flamengo.
Com a vantagem na tabela, o empate era favorável ao Fluminense. Foi um jogo que entrou para o folclore do futebol carioca. Com a vantagem do empate sendo tricolor, quem partiu para cima, pressionou e criou as melhores chances nos primeiros minutos de jogo foi o time rubro-negro. Porém, com tão só 11 minutos de jogo, Domínguez "bateu roupa", soltou uma bola estranha, dando um tapa nela para o alto depois dela estourar contra seu peito, e ficar caído no gramado na continuidade da jogada. A bola é rebatida, sobra pelo lado da pequena área e Wilton bate cruzado para fazer Flu 1 a 0 enquanto o argentino permanecia caído. Aos 35 minutos, Liminha acertou um chutaço de longe e empatou a partida. Cinco minutos depois, porém, o atacante Cláudio (o futuro treinador Cláudio Garcia) recebeu no meio da área e voltou a marcar. Domínguez saiu em disparada atrás do árbitro Armando Marques, perseguindo-o até o meio de campo para reclamar por impedimento, e acabou expulso por reclamação, deixando o time com um a menos ainda no primeiro tempo. Devido à atuação e às atitudes nestes 45 minutos, o veterano goleiro ex-Real Madrid, já com 38 anos de idade, foi acusado de ter recebido suborno para entregar o jogo para o adversário, sendo expulso da Gávea. Ali, naquele dia, encerrava sua carreira. No 2º tempo, Dionísio ainda voltou a empatar a partida, mesmo com o time estando com um a menos. A ducha de água fria chegou aos 34 minutos, quando Flávio fez 3 a 2 para os tricolores, enterrando as chances rubro-negras e garantindo matematicamente o título carioca para o Fluminense.
O time do estrategista técnico Tim, no final entregou até mais do que tinha a oferecer. Com Doval, o Flamengo reencontrou um sólido e eficiente ponta de lança, que inquestionavelmente elevou a qualidade técnica de jogo da equipe. O meio ainda tinha a raça de Liminha na contenção, e a eficiência de Rodrigues Neto no apoio - o versátil jogador que hora atuava no meio e hora na ponta-esquerda, e que nos Anos 1970 acabaria se consagrando como lateral-esquerdo - que ganhou a posição do veterano Carlinhos durante a campanha, sendo importante para o encaixe do meio-campo. Na frente, uma linha de jovens revelados na base rubro-negra, com Fio, o "Bode Atômico" Dionísio e Arílson (com o veterano Mané Garrincha na reserva, tendo entrado apenas em quatro partidas na campanha). Nas laterais havia a experiência e a força dos experientes Murilo e Paulo Henrique, donos das suas posições no Flamengo ao longo de todos os Anos 1960. A fragilidade da equipe estava em ter um goleiro já muito veterano, e uma dupla de zaga, com Onça e Guilherme, de baixa qualidade técnica e puro vigor físico. O uruguaio Manicera poderia ter compensado parte desta deficiência, mas seguia com muitos problemas de lesão, tendo ficado praticamente um ano inteiro fora de ação.
Flamengo no Carioca de 1969
Domínguez, Murilo, Onça, Guilherme e Paulo Henrique; Liminha, Rodrigues Neto e Doval; Luís Cláudio (Fio Maravilha), Dionísio e Arílson
Téc: Elba de Pádua Lima, "Tim"
Banco: Sidnei, Jaime Valente, Carlinhos, Luís Henrique e Garrincha
Para o 2º semestre, o Flamengo foi, pela primeira vez em muitas décadas, mais agressivo no mercado. A busca principal era por renovar o time e ao mesmo tempo ter um grupo mais experiente. O zagueiro Jaime Valente e o ponta-direita Garrincha decidiram se aposentar, e no meio, o volante paraguaio Reyes foi emprestado ao Campo Grande. Foi contratado um trio de jogadores do Vasco: o experiente zagueiro Brito, da Seleção Brasileira, e os atacantes Bianchini, que havia se destacado com a camisa do Bangu, sem ter repetido o mesmo desempenho em São Januário, e Nei Oliveira, que também não repetira com a camisa cruzmaltina as mesmas atuações que o haviam alavancado com a camisa do Corinthians.
Apesar de reforçado, no certame nacional, o time rubro-negro voltou a ter um péssimo desempenho, só obtendo 3 vitórias em 16 jogos disputados. Começou empatando com a Portuguesa de Desportos e vencendo ao Palmeiras, mas na sequência foi derrotado por Grêmio e Santa Cruz. Empatou com o Bahia e foi goleado por 4 x 1 no Fla-Flu. Venceu ao Vasco, mas empatou com Coritiba e Cruzeiro, e perdeu para o Atlético Mineiro. Venceu ao Internacional, mas na reta final sofreu mais duas goleadas de 4 a 1, para o Santos no Maracanã e para o São Paulo, tendo ainda perdido para o Botafogo, e empatado com América e Corinthians. Terminou o campeonato em penúltimo lugar, na 16ª colocação, a frente apenas do Vasco da Gama, que conseguiu fazer campanha ainda pior.
Nas três primeiras edições do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Flamengo ainda não havia conseguido terminar entre os 10 primeiros colocados. Ainda terminava pela quarta temporada consecutiva sem conquistar um título. Decidiu dispensar o técnico Tim, mas o futuro mostraria à diretoria que a culpa não era do treinador, pois Tim viria a ser campeão carioca de 1970 com o Vasco, terminando um jejum sem títulos do clube da cruz de malta que persistia desde 1958.
Flamengo no Brasileiro de 1969
Sidnei, Murilo, Manicera, Tinho e Paulo Henrique; Liminha, Rodrigues Neto e Nei Oliveira (Doval); Bianchini, Dionísio e Arílson
Téc: Elba de Pádua Lima, "Tim"
Banco: Ubirajara Alcântara, Brito, Tinteiro, Carlinhos, Alves, Ademir e Fio Maravilha
Para substituir ao estrategista e cordial Tim, o presidente André Richer escolheu um técnico disciplinador e de trato ríspido, o ex-goleiro rubro-negro, entre 1935 e 1944, Dorival Knipel, mais conhecido pelo apelido "Yustrich". Como treinador, destacou-se no futebol mineiro, onde havia sido campeão estadual com o América de Belo Horizonte em 1948, e com o Atlético Mineiro em 1952 e 1953. Foi então para Portugal, onde treinou ao Porto em duas temporadas - 1955-56 e 1957-58 - tendo se sagrado campeão português na primeira delas. Não tolerava jogadores que fumassem, e não aceitava cabelos compridos. Esta cartilha rígida atingia em cheio à principal estrela do elenco rubro-negro: o argentino Doval perdeu espaço com ele.
Querendo uma equipe física e rápida, deu oportunidade para jovens como o zagueiro Washington, o meia Zanata - que viria muito rápido a se tornar o principal nome do time - e os atacantes Ademir e Adãozinho. O elenco também perdeu veteranos, como o zagueiro uruguaio Manicera, que seguiu para defender ao Cerro, de Montevidéu, e o meio-campista Carlinhos, que se aposentou no fim de 1969.
O começo do novo treinador a frente de um clube que não era campeão desde 1965 foi arrasador! Logo de cara, foi campeão do Torneio Internacional de Verão, um quadrangular no Maracanã no qual o time rubro-negro atropelou, com goleadas por 4 x 1 na Seleção da Romênia e por 6 x 1 no Independiente, da Argentina, e vitória por 2 x 0 sobre o Vasco, num Maracanã lotado por 115 mil torcedores, erguendo a taça da competição amistosa.
Na sequência houve a disputa da Taça Guanabara, que era uma competição extra, não fazendo parte do Campeonato Carioca. O clube contratou dois nomes do Atlético Mineiro indicados por Yustrich, o goleiro Adão e o ponta-esquerda Caldeira. Recebeu de volta, após empréstimo ao Campo Grande, o paraguaio Reyes, que foi deslocado pelo treinador da posição de volante para a de quarto-zagueiro, na qual enfim encontraria seu espaço na história rubro-negra.
O começo no torneio não foi muito bom. Depois de empatar com o Botafogo, e vencer a São Cristóvão e Portuguesa, o time perdeu para América e Bonsucesso. Recuperou-se ao vencer ao Olaria e ao Fluminense, e empatar com o Vasco, mas acabou goleado por 4 x 0 pelo Bangu (dois gols de Dé Aranha e dois de Aladim). Na fase decisiva, no entanto, cresceu, vencendo em sequência a Vasco, Bangu, Botafogo e América, chegando à última rodada, para um Fla-Flu decisivo que colocou mais de 106 mil pessoas no Maracanã, com a vantagem do empate. A partida terminou 1 x 1, e enfim a torcida rubro-negra voltava a sentir o gosto de comemorar um título da cidade, ainda que não fosse o mais importante.
Flamengo na Taça Guanabara de 1970
Sídnei, Murilo, Washington, Reyes e Paulo Henrique; Liminha e Zanata; Ademir, Adãozinho, Fio Maravilha e Caldeira (Arílson)
Téc: Dorival Knipel, "Yustrich"
Banco: Adão, Onça, Tinteiro, Rodrigues Neto e Doval
Vitórias e conquistas seriam sinônimos de clima tranquilo? Não na Gávea! Com o zagueiro Brito de fora do time por estar se preparando com a Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1970, da qual se sagrou campeão como titular absoluto da zaga, Yustrich encontrou um arranjo que ergueu dois títulos com Washington e Reyes. Quando o campeão mundial voltou, o técnico partiu da premissa de que "em time que está ganhando não se mexe", barrando Brito e deixando o garoto Washington como titular no decorrer do Carioca de 70. O clima que já andava instável com as reclamações de Doval frente às imposições da cartilha de regras do treinador, azedou de vez com desentendimentos entre o zagueiro e o técnico. Durante o Estadual, Brito declarou que Yustrich tinha problemas em lidar com personalidades maiores do que o próprio treinador, que por sua vez respondeu aos jornalistas que o zagueiro gostava era de cachaça. Mais uma vez o clube se deparava com uma situação de "ou eu ou ele" entre o técnico e um jogador, como ocorrera com os desentendimentos entre Flávio Costa e Gérson anos antes, e mais uma vez o cabo de guerra arrebentou do lado do jogador. Brito, que mal atuou com a camisa rubro-negra, foi cedido ao Cruzeiro ao fim do Carioca de 70, onde também não permaneceria muito tempo, aportando no ano seguinte no Botafogo. A grande zaga que poderia ter se formado com Brito e Reyes juntos, não aconteceu.
Em meio ao ambiente tumultuado, a campanha no Estadual foi bem ruim. Começou bem, nas sete primeiras rodadas, seis vitórias e um empate, contra o São Cristóvão. Empolgada, a torcida lotou o Maracanã, tendo mais de 138 mil pagantes ido ver ao Fla-Flu, que terminou com vitória tricolor por 2 x 0. Dali em diante, o caldo entornou. Nas rodadas seguintes, derrotas para Olaria e Vasco, e empate com o Botafogo. No 2º turno, o time perdeu os três clássicos, diante de Vasco, Fluminense e Botafogo. Boa atuação, só na goleada de 4 a 0 sobre o América. Ainda empatou com o Olaria, terminando o campeonato num modestíssimo 5º lugar.
De inusitado, na última rodada, num confronto contra o Madureira no Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, o time ia vencendo por 1 a 0, quando, aos 30 minutos do 2º tempo, o então terceiro goleiro, Ubirajara Alcântara, repôs uma bola com um chutão, que ganhou força pelos fortes ventos daquela tarde de sábado, atravessou o campo, quicou, e encobriu o goleiro adversário, fazendo um gol de área a área. Nunca na história do futebol brasileiro havia acontecido um gol de goleiro.
Flamengo no Carioca de 1970
Sidnei (Adão), Murilo, Washington, Reyes e Paulo Henrique; Liminha e Zanata; Ademir, Adãozinho, Fio Maravilha e Caldeira
Téc: Dorival Knipel, "Yustrich"
Banco: Ubirajara Alcântara, Onça, Rodrigues Neto, Doval, Nei Oliveira e Dario
Para o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, além da já citada saída do zagueiro Brito para o Cruzeiro, o elenco teve as baixas do zagueiro Guilherme, para o Tupi, de Minas Gerais, e do ponta Bianchini, para o Sport Recife. E só entraram duas peças novas, dois jovens atacantes: Caio, do Botafogo (o "Cambalhota", irmão do César Maluco) e Milton, do Valeriodoce, de Minas Gerais. O time titular era basicamente o mesmo, a única diferença relevante foi que Doval voltou a assumir a posição de titular como ponta de lança. E apesar da campanha ruim no estadual, o Flamengo fez pela primeira vez uma boa campanha no torneio nacional, o oposto de 69, quando foi bem no estadual e mal no nacional, uma mostra de que no futebol não há regras. Não houvesse sido o excesso de empates por 0 x 0, e teria chegado à semi-final e disputado o título.
Começou com vitórias sobre dois campeões estaduais: São Paulo, no Morumbi, e Vasco. Veio então o primeiro empate sem gols, contra a Ponte Preta. Venceu ao América, e empatou três vezes seguidas sem gols, contra Palmeiras, Grêmio e Botafogo. Goleou ao Santa Cruz por 5 x 1, e mais um empate sem gols, desta vez frente ao Atlético Paranaense, em Curitiba. Não perdeu nenhuma partida nas 9 primeiras rodadas, mas empatou 5 vezes por 0 x 0. A primeira derrota foi para o Cruzeiro, no Mineirão. Fez 2 a 0 no Santos, de Pelé, perdeu para o Bahia, empatou com o Fluminense, venceu a Internacional e Atlético Mineiro, e foi derrotado pelo Corinthians. Terminou em 6º lugar.
Na última rodada, como se classificavam dois clubes em cada grupo para avançar às semi-finais, o Flamengo lutava ponto a ponto com Fluminense e Internacional para se classificar. Quem terminou na liderança do grupo foi o Cruzeiro, com 21 pontos (9 vitórias, 3 empates e 4 derrotas), seguido por Fluminense, Flamengo e Internacional empatados com 20 pontos (o tricolor com saldo de gols +10, a frente de rubro-negros e colorados com saldo +9). Uma disputa acirradíssima! O Fluminense largou na frente, venceu seus 4 primeiros jogos, venceu 5 nas 6 primeiras rodadas, venceu 8 nas 11 primeiras rodadas; mantinha-se líder absoluto. Teve então Fla-Flu na 13ª rodada, e se vencesse o Flamengo se igualava ao líder do grupo. Mas os dois empataram por 1 x 1 e o time rubro-negro não conseguiu aproveitar a oportunidade. Quem não tinha nada com isso e vinha atropelando por fora era o Cruzeiro, que venceu 7 dos seus últimos 8 jogos (vitórias nos cinco últimos), assumindo a ponta na reta final. Na 14ª rodada, nova decisão para o Flamengo frente ao Internacional no Maracanã, vencendo o rubro-negro se igualava em pontos aos colorados. Desta vez o time não desperdiçou a chance e venceu. Ao final da 15ª e penúltima rodada, o Flamengo era o líder com 20 pontos, seguido por Cruzeiro e Fluminense com 19 e Internacional com 18. O Flamengo jogava contra o Corinthians em São Paulo, enquanto o Fluminense ia a Curitiba jogar contra o Atlético Paranaense, o Cruzeiro jogava como visitante contra o São Paulo, e o Inter recebia em Porto Alegre ao Atlético Mineiro. No sábado, o Inter venceu e o Flamengo perdeu para o Corinthians no Pacaembu. No domingo, o Flamengo precisava que Fluminense e Cruzeiro, ambos jogando fora de casa, perdessem. O Flu empatou, e o time celeste venceu. Nos critérios de desempate, o Flamengo ficou fora. Com um empate frente ao Corinthians, teria avançado à semi-final. O Fluminense avançou, e acabou se sagrando campeão.
Flamengo no Brasileiro de 1970
Ubirajara Alcântara, Murilo, Washington, Reyes e Paulo Henrique; Liminha, Zanata e Doval; Fio Maravilha, Nei Oliveira e Caldeira
Téc: Dorival Knipel, "Yustrich"
Banco: Sidnei, Onça, Rodrigues Neto, Adãozinho, Caio Cambalhota e Mário Sérgio
Fora dos planos do técnico Yustrich, por hábitos que descumpriam a cartilha do treinador, como os cabelos longos, o consumo de bebida alcóolica e a presença constante na Praia de Ipanema, o argentino Doval foi cedido por empréstimo ao Huracán, da Argentina. Pelas boas atuações durante 1969 e 1970, o clube não tinha interesse em se desfazer dele em definitivo.
O Corinthians demonstrou interesse no goleiro Sidnei, e para cedê-lo, o Flamengo recebeu dois jogadores alvi-negros, o meia Tales e o atacante Buião. Para repor a saída de Doval, negociou com o Botafogo o recebimento por empréstimo do centroavante Roberto Miranda, que um ano antes havia sido reserva da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970. Fora isto, foram poucas as mudanças no elenco: o lateral-direito reserva João Carlos foi cedido ao XV de Piracicaba, e o jovem atacante Caio Cambalhota saiu por empréstimo para ganhar experiência, no primeiro semestre para a Ponte Preta, e no segundo para o América. O ponto de atenção era em relação à renovação dos dois laterais, já veteranos, e havia uma década donos da posição. O processo começou pela esquerda, com Paulo Henrique perdendo a posição durante este Carioca. A primeira aposta foi num garoto recém emergido da base, Tinteiro, mas no final do campeonato, quem assumiu a posição, para efetivar-se dali em diante para sempre como lateral-esquerdo, foi Rodrigues Neto, posição na qual ele veio a ser o titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978, quando já não estaria mais na Gávea.
Embalado pela boa campanha no Torneio Roberto Gomes Pedrosa no fim de 1970, o time de Yustrich começou embalado o Carioca de 71, goleando ao Madureira por 4 a 1 na 1ª rodada. Inflamada, a torcida lotou o Maracanã com 143 mil pagantes para o clássico contra o Botafogo na 2ª rodada, que terminou em vitória alvi-negra por 2 x 0, gols de Jairzinho e Paulo César Caju. Dali em diante a campanha murchou. Seguiram-se empates frente a Olaria, Bangu e Fluminense. O 1º turno neste ano foi curto, dividido em dois grupos, e classificatório para o 2º e o 3º, quando em ida e volta em pontos corridos seria efetivamente definido o campeão.
No 2º turno, em sete rodadas, o time só venceu duas vezes, a Bonsucesso e Bangu, empatando contra América, Olaria, Botafogo e Fluminense, e perdendo para o Vasco. A escalada de críticas ao trabalho de Yustrich se acentuou. Logo na abertura do 3º turno, o time foi derrotado pelo Bangu, e a diretoria optou então pela demissão do treinador.
Interinamente o cargo foi assumido pelo auxiliar-técnico, o paraguaio Modesto Bria. E o elenco parecia estar em problemas com o treinador, pois após sua saída, encaixou quatro vitórias consecutivas, três sob o comando de Bria, sobre Bonsucesso, América e Vasco, e outra já na estreia do novo treinador, um velho conhecido, o paraguaio Fleitas Solich. Depois de ter trocado o Flamengo pelo Corinthians em 1963, o técnico ainda dirigiu a Fluminense, Palmeiras, Atlético Mineiro e Bahia. Nunca repetiu o sucesso feito na Gávea, ainda que tenha sido campeão baiano de 1970. Solich dirigiu o time nos três últimos jogos do campeonato, com vitórias sobre Botafogo e Olaria, e uma derrota para o Fluminense, terminando o campeonato com um módico 4º lugar. Sua missão era ajustar o time para o Campeonato Brasileiro de 71, a ser disputado no segundo semestre.
Flamengo no Carioca de 1971
Ubirajara Alcântara, Murilo, Washington (Onça), Reyes e Rodrigues Neto (Tinteiro); Liminha e Zanata; Buião, Nei Oliveira (Dionísio), Fio Maravilha e Caldeira
Téc: Yustrich, depois Fleitas Solich
Banco: Adão, Tinho, Milton, Roberto Miranda e Arílson
Naquele ano, a Taça Guanabara foi mais uma vez um torneio avulso (a partir de 1972, ela passaria a ser o 1º turno do Campeonato Carioca) e foi nela que Solich lançou pela primeira vez no time profissional aquele que, desde o fim dos Anos 60, era a grande aposta de craque da divisão de base rubro-negra, um garoto loirinho, magrinho e franzino chamado Zico, o "Galinho de Quintino", então com 18 anos, que entrou no time usando a camisa 9.
Depois da má campanha no Carioca, a diretoria apostou num fortalecimento de elenco. O pacote de reforços que chegou à Gávea visava, sobretudo, fortalecer ao meio de campo. O principal nome da lista era Samarone, que chegava ao clube após uma rápida passagem pelo Corinthians, onde não repetiu o brilho que teve com a camisa do Fluminense, campeão carioca de 69 e brasileiro de 70. O técnico Solich pediu também a contratação de Zé Eduardo, que havia trabalhado com ele no Bahia, e a transação para sua chegada envolveu o envio de três reservas para reforçar ao tricolor baiano, o goleiro Marco Aurélio, o centroavante Dionísio e o ponta-esquerda Caldeira (estes dois últimos por empréstimo). Chegaram ainda mais dois meio-campistas por empréstimo: Cabralzinho, do Palmeiras (jogador campeão carioca de 66 pelo Bangu), e Renato Silveira, do América (irmão caçula de Amarildo, campeão com a Seleção Brasileira no Mundial de 62).
Mudanças também no ataque, já que Roberto Miranda voltou ao Botafogo, após sua passagem totalmente infrutífera pela Gávea, para onde migrou também Nei Oliveira. Para reforçar o setor foram contratados o ponta-direita Rogério Hetmanek, ex-Botafogo, que estava no Santos, e o centroavante Édson Trombada, do Bangu. Para fechar o pacote, chegaram também dois zagueiros: Fred, contratado ao Botafogo, e Luís Alberto, adquirido ao Bangu. Com um pacote de 8 reforços contratados, esperava-se um melhor rendimento, o que não aconteceu.
Em 1971, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) - então responsável por administrar o futebol brasileiro - decidiu organizar pela primeira vez um campeonato de dimensões nacionais, ao qual chamou de 1º Campeonato Brasileiro de Futebol, com 20 clubes divididos em dois grupos. Os 10 clubes que mais vezes disputaram o Torneio Rio-São Paulo e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa lá estavam (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, América, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e Portuguesa de Desportos). Minas Gerais teve 3 representantes (Atlético, Cruzeiro e América Mineiro). Tiveram 2 representantes, o Rio Grande do Sul (Grêmio e Internacional) e Pernambuco (Santa Cruz e Sport Recife). Os outros 3 participantes foram Coritiba, Bahia e Ceará.
A campanha rubro-negra começou com dois tropeços jogando no Nordeste, uma derrota por 1 x 0 para o Sport, na Ilha do Retiro, em Recife, seguida por uma empate contra o Bahia na Fonte Nova, em Salvador, em que o time saiu atrás no marcador e conseguiu o empate com o primeiro gol rubro-negro na competição sendo marcado pela joia franzina de 18 anos que ali mostrava seu "cartão de visitas", Zico. Mas o início foi muito ruim. O Flamengo só conseguiu sua 1ª vitória no campeonato na 9ª rodada. A 1ª Fase era dividida em 2 grupos de 10 clubes, sendo que os 6 primeiros de cada grupo (12, portanto) avançavam à 2ª Fase, na qual se dividiam em 3 grupos de 4 clubes, com o primeiro de cada avançando a um Triangular Final. O Flamengo empatou 10 de seus 19 jogos, obtendo apenas 4 vitórias (sobre Santos, Palmeiras, Portuguesa de Desportos e Ceará). Terminou em 8º em seu grupo e ficou fora da 2ª Fase. Dos 12 clubes mais tradicionais do futebol brasileiro, só 2 não avançaram à 2ª Fase, Flamengo e Fluminense, com suas vagas sendo ocupadas pelo América, do Rio, e pelo Coritiba.
Terminou o Campeonato Brasileiro de 71 em 14º lugar na classificação geral. Vivendo um jejum de 6 anos sem conseguir ser campeão estadual, e tendo, nos 5 torneios nacionais disputados entre 1967 e 1971, terminado quatro vezes fora do Top 10, das quais três vezes fora do Top 13, era o pior momento do futebol profissional rubro-negro desde os Anos 1930.
Flamengo no Brasileiro de 1971
Ubirajara Alcântara, Aloísio, Fred, Reyes e Paulo Henrique; Liminha, Renato Silveira e Samarone; Rogério, Zico e Rodrigues Neto
Téc: Fleitas Solich
Banco: Amauri, Murilo, Tinteiro, Buião, Édson e Fio Maravilha
Decidida a reverter o momento ruim, a diretoria rubro-negro decidiu ser mais ousada na reformulação do elenco, a começar pela mudança de treinador. Decidiu substituir o veterano paraguaio Fleitas Solich pelo técnico da Seleção Brasileira Zagallo, então campeão da Copa do Mundo de 1970. O ex-jogador rubro-negro havia sido Bi-campeão Carioca de 1967 e 1968 com o Botafogo, e Campeão Carioca de 1971 com o Fluminense, e sustentava o status de melhor técnico do Rio de Janeiro. Para liderar tecnicamente dentro de campo, o Flamengo fez a bombástica contratação de Paulo César Caju, tirando do Botafogo aquele que era considerado o melhor jogador do futebol carioca naquele momento. Junto a ele, foram contratados outros dois jogadores do Botafogo, o goleiro Ubirajara Motta (campeão carioca de 66 com o Bangu) e o zagueiro Chiquinho Pastor. E ainda foi atrás de mais um ex-botafoguense, contratando ao lateral-direito Moreira, que estava no Santos.
A mudança foi profunda. Dois oito jogadores contratados para o 2º semestre de 71, só dois continuaram na Gávea (os ex-botafoguenses Fred e Rogério Hetmanek). Todos os quatro nomes contratados para reforçar o meio de campo foram dispensados: Samarone, emprestado à Portuguesa de Desportos, Cabralzinho e Renato Silveira devolvidos ao fim do empréstimo, e Zé Eduardo vendido para o Vitória, da Bahia. De quebra, voltou ao clube um pacote de jogadores que estavam emprestados, entre os quais se destacava o argentino Doval, de volta após passagem pelo Huracán. Também regressaram Caio Cambalhota, após passagem pelo América, e Dionísio e Caldeira, que voltavam do Bahia. Para fechar, uma contratação menos badalada, mas que se mostrou bastante produtiva, a chegada do meia Zé Mário, comprado ao Bonsucesso.
Para enxugar o elenco, além da venda de Zé Eduardo, do empréstimo de Samarone, da saída de Cabralzinho, e da devolução de Renato Silveira ao América, e de Luís Alberto e Édson Trombada ao Bangu, também saiu a dupla de zaga que chegou a ser titular, formada por Washington e Onça, o primeiro cedido à Portuguesa, da Ilha, e o segundo vendido ao Sport Recife; e saíram dois nomes que haviam chegado do Corinthians e que não conseguiram se firmar na Gávea, com Tales indo para o São Bento de Sorocaba, e Buião para o Atlético Paranaense. Com técnico novo, apostas novas, e um elenco mais enxuto, o Flamengo apostava em construir um ano de 1972 melhor do que os resultados obtidos nos anos anteriores.
O Campeonato Carioca de 72 durou de fevereiro até o início de setembro, com o Campeonato Brasileiro sendo disputado posteriormente durante apenas três meses, entre setembro e dezembro. O time não começou o Estadual bem, empatando com o Olaria na estreia. Depois engatou cinco vitórias consecutivas, com destaque para uma goleada de 6 x 1 sobre o São Cristóvão. Voltou a empatar, desta vez sem gols contra o Botafogo, e depois venceu mais três jogos. Chegou à última rodada do 1º turno, que pela primeira vez era chamado de Taça Guanabara, invicto para jogar o Fla-Flu. O Maracanã lotou, recebendo 137 mil pagantes. E o Flamengo embalou, com 30 minutos do 1º tempo, Liminha e Caio duas vezes colocaram 3 a 0 no placar. No segundo tempo, Doval marcou o quarto. O título estava sacramentado! O Flu ainda diminuiu com dois gols, mas nos acréscimos Caio Cambalhota marcou o terceiro dele na partida: 5 a 2. Campeão invicto da Taça Guanabara, garantindo vaga na final do Carioca.
Apesar da invencibilidade, o Flamengo ainda foi atrás de contratar mais um goleiro. Ubirajara Alcântara e Ubirajara Motta haviam se revezado no gol durante o turno, e em meio a ele chegou um novo titular, um velho conhecido. Renato foi revelado na Gávea no fim dos Anos 1960, mas sem espaço foi para o Atlético Mineiro, onde foi o titular do time que foi campeão brasileiro de 71. A diretoria então o recontratou e ele assumiu a titularidade.
No 2º turno, o time empatou com Vasco e América, e perdeu para São Cristóvão e Fluminense. No 3º turno, empatou com Vasco, América e Fluminense, e perdeu para o Olaria. Não venceu nas quatro últimas rodadas, preocupando a torcida para a disputa do Triangular que definiria o campeão estadual, a ser disputado entre os vencedores de cada um dos três turnos: Flamengo, Fluminense e Vasco.
Na abertura da decisão, diante de 78 mil pessoas no Maracanã, o time rubro-negro bateu ao Vasco por 1 a 0, com gol de Paulo César Caju. No segundo jogo, o Fluminense também venceu ao Vasco por 1 a 0. O título seria decidido então num Fla-Flu. O Maracanã recebeu quase 137 mil pagantes. O time rubro-negro, assim como no jogo que definiu o título da Taça Guanabara, praticamente definiu a fatura no 1º tempo, com gols de Doval e Caio Cambalhota. No 2º tempo, os tricolores ainda diminuíram, mas o time de Zagallo segurou o 2 x 1 a seu favor até o final, sagrando-se Campeão Carioca de 1972, interrompendo um jejum de seis anos sem conquistar o título estadual.
Flamengo no Carioca de 1972
Renato, Moreira (Aloísio), Chiquinho Pastor, Reyes e Rodrigues Neto; Liminha, Zé Mário e Doval; Rogério, Caio Cambalhota e Paulo César Caju
Téc: Mário Zagallo
Banco: Ubirajara Motta, Fred, Tinho, Zanata, Vicentinho, Dionísio e Arílson
Campeão Carioca, o clube tinha esperança de obter um bom resultado no Brasileiro. A quantidade de participantes aumentou de 20 para 26 de 1971 para 1972, numa fórmula parecida. Na 1ª Fase eram 4 grupos e todos se enfrentavam contra todos, com os 4 primeiros colocados de cada grupo avançando à 2ª Fase.
O time começou com três empates, contra o América, no Maracanã, o Nacional, em Manaus, e o Remo, em Belém do Pará. Depois venceu Atlético Mineiro, Bahia, Ceará e Santa Cruz, e empatou contra o São Paulo, o ABC, em Natal, e o Vasco. Estava invicto, mas com 6 empates em 10 jogos. A primeira derrota aconteceu para o Coritiba, no Couto Pereira. Depois, empates contra Palmeiras e Internacional, e uma derrota no Fla-Flu. Recuperou-se com três vitórias seguidas, contra Portuguesa de Desportos, Vitória e Sergipe. Em 17 jogos, havia perdido só 2 vezes.
Mas foi a partir daí que o "barraco desabou"! Na 18ª rodada, derrota para o América Mineiro. E depois, algo ainda pior. O Flamengo enfrentava ao Botafogo no Maracanã. Havia 46 mil testemunhas nas arquibancadas. Do lado rubro-negro, um elenco recheado de ex-alvi-negros: Ubirajara Motta, Moreira, Chiquinho Pastor, Fred, Rogério e Paulo César Caju (quatro deles estavam em campo naquela tarde). Um dia trágico para a história em vermelho e preto: Jairzinho marcou três, e o argentino Fischer fez dois, com Fernando Ferreti fechando a conta. Virou três, fechou seis: Botafogo 6 x 0 Flamengo.
Depois desta catástrofe, seguiu-se uma derrota para o Grêmio, a terceira seguida no certame, e empates com Santos e Cruzeiro. Na reta final, vitórias sobre o Náutico, em Recife, e sobre o CRB, em Maceió. O Flamengo terminou com a 4ª vaga de seu grupo, atrás de Palmeiras, Coritiba e Cruzeiro, e a frente de Remo, Náutico e ABC (de Natal).
Na 2ª Fase, eram 4 grupos de 4, com cada vencedor de grupo avançando para fazer a semi-final. O grupo do Flamengo, que ainda tinha a Vasco e Cruzeiro, foi vencido pelo Internacional, que bateu aos rubro-negros por 3 x 1 no Maracanã. O time já tinha empatado com o Vasco, e na rodada derradeira empatou com o Cruzeiro. Terminou o campeonato com um modesto 13º lugar. Desde 1967, o desempenho rubro-negro mantinha-se muito ruim a nível nacional. Em 1972, ainda fora do G-12 do futebol brasileiro, acabou atrás de Coritiba e Ceará na classificação final.
Flamengo no Brasileiro de 1972
Renato, Moreira, Chiquinho Pastor, Fred (Tinho) e Rodrigues Neto; Liminha, Paulo César Caju e Doval; Vicentinho, Caio Cambalhota (Fio Maravilha) e Arílson
Téc: Mário Zagallo
Banco: Ubirajara Motta, Reyes, Mineiro, Zanata, Zé Mário, Rogério e Dionísio
Apesar do insucesso no Brasileiro de 72, poucas modificações foram feitas no trabalho para a temporada de 73. Zagallo foi mantido como treinador, e o elenco teve poucas baixas: o meia Zanata, que havia brilhado na temporada de 1970, mas perdido espaço durante 71 e 72, trocou o Flamengo pelo Vasco. Buscava-se um goleador. Saíram três centroavantes: Dionísio, o "Bode Atômico", foi para o Fluminense, Caio retornou para o América, e Fio acabou indo para o Avaí, de Santa Catarina. As reposições foram pontuais: o meia Sérgio Galocha, do Internacional, e o centroavante Dario, o Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro. A mudança na camisa 9 foi eficiente, pois Dionísio e Fio já estavam longe de seus melhores dias, e Caio havia brilhado no Carioca de 72, mas não teve outros grandes momentos. E Dario chegou fazendo aquilo que foi contratado para fazer, gols, vindo a se tornar o artilheiro do Carioca de 73 com 16 gols.
O Flamengo começou muito bem, tendo terminado a Taça Guanabara invicto, com 9 vitórias em 11 jogos (empatou com América e Botafogo), faturando o bi-campeonato e garantindo antecipadamente uma vaga na final. O time que fez esta grande campanha no 1º turno estava jogando com a formação: Renato, Moreira, Chiquinho Pastor, Fred e Rodrigues Neto; Liminha, Paulo César Caju e Doval; Vicentinho, Dario e Arílson.
No 2º Turno, a equipe caiu de produção (turno conquistado pelo Fluminense), não vencendo nenhum grande clássico: perdeu para o Botafogo e para o Vasco, e empatou com o Fluminense. Em sua melhor atuação, goleou ao Bangu por 8 x 0. No 3º Turno eram dois grupos, um vencido pelo Fluminense e outro pelo Vasco. Nele, o Flamengo venceu ao Olaria, empatou com o Bonsucesso, e perdeu para Fluminense e Botafogo. Foi disputado então o SuperCampeonato - um Triangular Final - com o Fluminense indo direto à final, por ter vencido o 2º turno e um dos grupos do 3º turno, e Flamengo (campeão do 1º turno) e Vasco (vencedor de um dos grupos do 3º turno) fazendo uma semi-final para decidir o adversário tricolor. O Flamengo tinha a vantagem do empate, por ter tido uma melhor campanha que os vascaínos. E foi com um empate sem gols que avançou à final.
O título foi decidido numa finalíssima - um Fla-Flu - num dia de forte chuva no Rio de Janeiro. O Fluminense tinha a vantagem do empate, e em caso de vitória rubro-negra haveria um novo jogo. Diante de 74 mil pagantes, o Flu venceu por 4 x 2 e se sagrou campeão carioca, deixando o Flamengo com o vice-campeonato. Talvez a história tivesse sido outra se o time rubro-negro não houvesse perdido ao argentino Doval por lesão no joelho ao longo da campanha, o que por outro lado fez com que, na reta final, o jovem Zico assumisse a titularidade no time rubro-negro, a qual ele não largaria mais dali para frente.
Flamengo no Carioca de 1973
Renato, Moreira, Chiquinho Pastor, Fred e Rodrigues Neto; Liminha, Sérgio (Zé Mário) e Zico (Arílson); Vicentinho (Doval), Dario e Paulo César Caju
Téc: Mário Zagallo
Banco: Ubirajara Motta, Tinho, Mineiro e Rogério
Com Zagallo, o Flamengo havia sido campeão carioca de 72 e vice de 73, e havia tido um mau desempenho no Brasileiro de 72. Mas na avaliação da diretoria, com um técnico experiente e um elenco oferecendo opções de qualidade, o grupo estava pronto e a base foi toda mantida. Após o Carioca, foram contratados apenas dois reforços pontuais, com as chegadas do meia Afonsinho, do Santos, ex-jogador de Vasco e Botafogo, e do ponta-direita Paulinho, do Bonsucesso.
O Campeonato Brasileiro de 73 saltou para 40 equipes participando (tinham sido 26 no ano anterior) das quais 20 avançavam à 2ª Fase. O módulo de disputa era um tanto complexo e confuso: eram dois turnos, sendo que o 1º turno era disputado em dois grupos de 20 clubes em cada, com todos se enfrentando no mesmo grupo (19 jogos), e o 2º turno em 4 grupos com 10 clubes em cada, seguindo um critério de distribuição geográfica, também com todos se enfrentando no mesmo grupo. Assim, cada clube disputava 19 partidas no 1ª turno e 9 no 2º turno.
O time rubro-negro tinha a Liminha como o "cão de guarda" na contenção. Na camisa 8, revezavam-se Afonsinho, Zé Mário e Sérgio Galocha. Com a camisa 10, o garoto Zico, então com 20 anos, começava a despontar e assumir protagonismo, tanto que foi o artilheiro do time na competição, com 8 gols, e deixou ao argentino Doval como opção no banco de reservas. Entre as opções de meio-campo, ainda havia a possibilidade de recuar Paulo César Caju da ponta-esquerda, ou de utilizar o garoto Geraldo, que recém chegava da base rubro-negra, chamando atenção e ganhando oportunidades com Zagallo. Com Rogério Hetmanek pela direita, Dadá Maravilha de centroavante, e Paulo César Caju pela esquerda, o ataque era renomado, ainda tendo as opções de Paulinho e Arílson pelas pontas. Era um elenco de boa qualidade.
Porém, o início da campanha já foi vacilante, com o time conseguindo uma magra vitória por 1 x 0 sobre o Comercial, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e depois perdendo para o Goiás, em Goiânia, e para o Santa Cruz, em Recife. Conseguiu vitórias magras sobre Olaria e Sergipe (as três vitórias até então no campeonato foram todas por 1 a 0), perdeu para Santos e Atlético Mineiro, e empatou com Vasco e Ceará. Na sequência, enfim conseguiu obter vitórias mais elásticas, sobre América de Natal e Náutico, mas foi "fogo de palha", pois daí em diante viveu um apagão na reta final do turno, ficando 7 jogos seguidos sem vencer. Perdeu para Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Desportiva (do Espírito Santo), Remo (do Pará) e Grêmio. Empatou com o Vitória, em Salvador, e perdeu para o Atlético Paranaense.
Insatisfeito com a queda de desempenho do centroavante Dario, que deixou de fazer gols, a diretoria ainda tentou uma aposta desesperada, contratando ao veterano Toninho Guerreiro, do São Paulo, mas a tentativa foi completamente fracassada, tendo ele entrado em campo pouquíssimas vezes, sem balançar as redes.
Na última rodada do 1º turno, o time ainda venceu ao Rio Negro, em Manaus. Com esta campanha horripilante, o Flamengo conseguiu a proeza de não ficar entre os 20 primeiros colocados. Dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro, apenas Flamengo e Fluminense não conseguiram terminar entre os 20 que avançaram à 2ª Fase. No 1º turno, foram 6 vitórias, 3 empates e 10 derrotas, terminando atrás de clubes como Rio Negro, América de Natal, Olaria e Desportiva. No 2º turno, o time fez uma boa campanha e ficou em 2º no seu grupo, mas não foi suficiente para reverter o catastrófico desempenho no 1º turno. A campanha no 2º turno teve vitórias sobre Figueirense, Vasco, Botafogo, Olaria e América, um empate com o América Mineiro, e derrotas para Cruzeiro, Atlético Mineiro e Fluminense.
O time rubro-negro conseguiu uma marca negativa que perduraria por décadas, com a pior sequência de jogos sem vencer em toda sua história até então, tendo terminado o campeonato com um pavoroso 24º lugar. Seguia a sina de fracassos em competições nacionais, tendo até então, entre 1967 e 1973, em 7 campeonatos, terminado só uma vez entre os dez primeiros colocados.
Flamengo no Brasileiro de 1973
Renato, Moreira, Chiquinho Pastor, Reyes (Fred) e Rodrigues Neto; Liminha, Afonsinho e Zico; Rogério, Dario e Paulo César Caju
Téc: Mário Zagallo
Banco: Ubirajara Motta, Mineiro, Geraldo, Doval e Arílson
Como 1974 era a ano de Copa do Mundo, e no calendário brasileiro dos Anos 1970 o tempo de campeonato estadual era maior do que do nacional, para dar mais tempo de preparação à Seleção Brasileira, o calendário foi invertido, assim logo após o fim do Brasileiro de 73 e um breve período de férias, foi iniciado o Campeonato Brasileiro de 74.
Todos os rubro-negros estavam insatisfeitos com o desempenho do time em 1973, e havia um anseio de mudança. Naquele começo de ano uma nova diretoria assumiu o clube, liderada pelo presidente Hélio Maurício, e esta mudança de liderança marcou a emersão de um novo pensamento que traria excelentes resultados a médio prazo. A partir de 1974, a diretriz na Gávea foi a de que fossem abertos espaços para a utilização de uma geração que havia tido excelentes resultados no sub-20, nela chegavam o goleiro Cantareli, os laterais Júnior e Vanderlei (que após se tornar treinador passou a ser conhecido como Vanderlei Luxemburgo), os zagueiros Rondinelli e Jayme (o filho do ídolo Jayme de Almeida), o meia Geraldo, e o centroavante Rui Rei. O técnico desta garotada era o ex-lateral rubro-negro Joubert. E foi nele que a nova diretoria apostou para substituir a Zagallo, que naquele ano tinha a responsabilidade de comandar a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1974.
A principal mudança foi o afastamento da principal estrela do time, Paulo César Caju, que viria a disputar a Copa de 74 como titular do time de Zagallo ainda vinculado ao Flamengo, ainda que não tenha defendido o clube durante todo o 1º semestre. Após o Mundial, Paulo César acertaria sua transferência para o Olympique de Marselha, da França. Outro meio-campista que se desvinculou do clube foi Sérgio Galocha, que seguiu para o Atlético Paranaense. A principal mudança no início do ano, no entanto, foi no sistema defensivo, com a saída de Reyes, que regressou a seu país para defender ao Olimpia, e com a liberação dos também zagueiros Fred e Tinho. Para a reposição, foi contratado Luís Calos Galter, do Corinthians. Na lateral-direita, saiu o veterano Moreira, que seguiu carreira no Olaria.
Com a rearrumação no elenco, foram abertos espaços para a garotada do sub-20. Com Joubert, o menino Cantareli assumiu a titularidade no gol, Jayme barrou Chiquinho Pastor e formou uma sólida dupla de zaga com Luís Carlos; sem confiança em Aloísio, o técnico acabou improvisando durante a competição ao zagueiro Rondinelli na lateral-direita, e Geraldo se firmou no meio ao lado de Zico, destacando-se a ponto de receber convocação para defender à Seleção Brasileira, coisa que Zico ainda não havia conseguido. A principal mudança com Joubert, no entanto, foi que o Galinho assumiu definitivamente o protagonismo que o consagrou, ganhando confiança sob a tutela daquele que havia sido seu treinador no sub-20, e tendo sido o artilheiro da equipe naquele Campeonato Brasileiro, com 12 gols.
A escolha e o sucesso de Joubert a frente do time reforçou uma tradição rubro-negra - que já existia desde o fim dos Anos 1940 - a busca por soluções caseiras, tendo sido assim com Jayme de Almeida, com o paraguaio Modesto Bria, e com Válter Miraglia. Ao mesmo tempo, foi um marco de utilização das "pratas da casa". A tradição de revelação e uso dos jogadores da base para fortalecer a equipe vinha desde o período em que Fleitas Solich assumiu como treinador rubro-negro nos Anos 1950. Por temporadas seguidas, o elenco perdia peças e não contratava. Esta forma de atuação foi mudada pontualmente em 1965, quando o clube apostou na contratação de Almir e Silva. Entretanto, os jovens voltaram a ser a principal aposta no fim dos Anos 1960, ainda que desta vez resultando em mais casos de fracasso do que sucesso. Entre 1971 e 1973, a estratégia mudou, tendo a contratação de pacotes de jogadores renomados vindos de fora do clube sido a tendência. O ano de 74 foi um marco de redescoberta da busca de soluções na base, e isto viria a ser fundamental para a eclosão na Era de Ouro do futebol rubro-negro a partir de 1978, e com ápice em 1981.
O Campeonato Brasileiro de 1974 teve novamente 40 clubes divididos na 1ª Fase em 2 grupos de 20, com cada grupo se enfrentando entre si. Desta vez, porém, eram os 24 melhores classificados que avançavam à 2ª Fase, onde se dividiam em 4 grupos, nos quais o vencedor de cada um avançava à semi-final. O Flamengo, enfim, fez uma boa campanha. Começou fazendo o dever de casa e vencendo aos adversários da Região Nordeste, superando a Sampaio Correa, em São Luís, no Maranhão, ao América de Natal, no Rio Grande do Norte, ao Tiradentes, do Piauí, e ao Bahia. Empatou com Vasco e Internacional, e venceu a América, Atlético Paranaense, Desportiva (do Espírito Santo), Avaí e Grêmio. Empatou com Olaria, Paysandu e Fluminense, alcançando uma série de 14 jogos invicto, com 10 vitórias e 4 empates.
Uma modificação feita por Joubert foi crucial para restabelecer o equilíbrio do elenco e resolver a deficiência ofensiva: ele deslocou Doval para mais perto da área, encontrando espaço para que ele e Zico jogassem juntos. Deu muito certo! Se Zagallo tivesse tido esta sacada no ano anterior, talvez a sorte rubro-negra houvesse sido outra, já que o elenco era forte.
A primeira derrota aconteceu apenas na 15ª rodada, caindo perante o Coritiba, no Paraná. Mas depois venceu três jogos seguidos: Remo, Itabaiana (de Sergipe) e Botafogo. Na última rodada, perdeu para o Vitória, em Salvador, mas terminou a 1ª Fase em 2º lugar no grupo, um ponto atrás do líder Grêmio, e com a segunda melhor campanha na soma dos dois grupos.
A 2ª Fase era de "tiro curto". Era hora de lutar por uma vaga na semi-final. O time começou vencendo bem ao Guarani, mas depois perdeu duas vezes por 3 a 1, para o Palmeiras no Pacaembu, e para o Cruzeiro no Maracanã, e ficou fora da luta pela vaga. Despediu-se com uma goleada de 6 a 0 sobre o Paysandu no Maracanã, e ainda teve o desprazer de ver seu maior rival, o Vasco, terminar o torneio como campeão nacional. Terminou a 2ª fase em 3º lugar no grupo, atrás de Cruzeiro e Palmeiras. Na classificação geral, ficou com o 6º lugar, igualando a colocação que havia alcançado em 1970.
Flamengo no Brasileiro de 1974
Cantareli, Rondinelli, Jayme, Luís Carlos Galter e Rodrigues Neto; Liminha, Geraldo e Zico; Paulinho, Doval e Arílson
Téc: Joubert
Banco: Renato, Aloísio, Zé Mário, Dario, Rui Rei e Julinho
No segundo semestre, para o Campeonato Carioca, o processo de abertura de espaço para a base continuou, mas algumas contratações para reposição foram feitas. Na lateral-direita, Aloísio seguiu para o Sport Recife, e foi contratado Humberto Monteiro, da Portuguesa de Desportos, jogador que havia sido titular do Atlético Mineiro campeão brasileiro de 71. Na zaga, Chiquinho Pastor, que havia perdido a posição de titular para Jayme, seguiu para o Grêmio, e para repor o espaço no elenco foi contratado Vantuir, do Atlético Mineiro. No meio, saíram os reservas Paulo Roberto (para o Vitória) e Afonsinho (para o América Mineiro), e suas saídas foram repostas com a contratação de Pedro Omar e Édson, que chegavam do América Mineiro. E para a posição de centroavante, saiu Dario, o Dadá Maravilha, que após um bom começo, havia caído de produção e perdido espaço, voltando para o Atlético Mineiro (no ano seguinte ele passaria pelo Sport Recife, e em 1976 chegaria ao Internacional, onde seria titular da camisa 9 no time que se sagrou campeão brasileiro naquele ano). Sua saída foi reposta com a contratação de Ivanir, do Grêmio. Nenhum destes contratados, entretanto, conseguiu conquistar a titularidade.
A campanha começou titubeante. Na estreia, um empate contra o Bangu, e na segunda rodada, uma derrota para o Madureira no Maracanã. O time reagiu vencendo a América, São Cristóvão e Portuguesa, mas perdeu o Fla-Flu. Na reta final da Taça Guanabara, empatou com Bonsucesso e Botafogo, e venceu o Vasco. O título do turno ficou com o América, de Edu Coimbra (irmão de Zico) e Luisinho Lemos (irmão de César Maluco e Caio Cambalhota). No 2º turno, o time começou bem, goleando ao América (4 x 1) e ao Madureira (5 x 1), mas empatou os três clássicos contra Vasco, Botafogo e Fluminense. Sem ter vencido nenhum dos dois primeiros turnos, só restava ao time vencer ao 3º turno para ir à final. O time engatou uma boa sequência de vitórias, sobre Botafogo, Madureira, Vasco e Fluminense, mas tomou um susto ao perder para o Bonsucesso na penúltima rodada em pleno Maracanã. Na última rodada, era preciso uma vitória sobre o América para a conquista do turno. Logo aos seis minutos de jogo, um gol sofrido exigiu que o time se superasse. Com raça, a garotada reagiu, e com gols de Júnior e Zico, o time virou, empurrado por 65 mil pagantes no Maracanã, vencendo por 2 a 1 e conquistando o 3º turno.
O título foi decidido então num Triangular Final entre Flamengo, América e Vasco. Na largada, o filme foi quase o mesmo. O Maracanã com 64 mil pagantes e uma vitória por 2 x 1 sobre o América, desta vez com gols de Jayme e Júnior. O menino paraibano que havia assumido a titularidade na reta final jogando improvisado na lateral-direita, marcou nos dois jogos decisivos contra o time rubro, carimbando a arrancada que o levou a ser o jogador que mais vezes utilizou a camisa rubro-negra na história! Na 2º rodada, Vasco e América empataram por 2 x 2. Bastava assim um empate na última rodada para o título ser rubro-negro. O Maracanã recebeu mais de 165 mil pagantes para o "Clássico das Multidões". A garotada rubro-negra segurou o empate sem gols frente à equipe de Zanata e Roberto Dinamite, e o Flamengo voltou a ser Campeão Carioca!
Os astros da conquista foram Zico e Doval. Juntos, os dois marcaram 29 dos 42 gols rubro-negros no campeonato, tendo o Galinho marcado 19 e o Gringo feito 10 gols. O time campeão era bastante jovem: entre os titulares na campanha, cinco jogadores tinham menos de 23 anos - Júnior (20), Jayme (21), Geraldo (20), Zico (21) e Paulinho (22) - e entre os reservas mais utilizados, três estavam nesta mesma faixa etária - Cantareli (20), Rondinelli (19) e Rui Rei (21) -, destes oito nomes, só um não tinha sido formado no clube (Paulinho). A garotada de Joubert deu conta do recado! Emergia na Gávea a primeira das três gerações criadas na base que se juntariam e formariam, sete anos depois, o time Campeão Sul-Americano e Campeão Mundial.
Flamengo no Carioca de 1974
Renato, Júnior, Jayme, Luís Carlos Galter e Rodrigues Neto; Liminha, Geraldo e Zico; Paulinho, Doval e Zé Mário
Téc: Joubert
Banco: Cantareli, Humberto Monteiro, Nei, Vanderlei, Édson e Rui Rei
Em 1975 o calendário voltou a ser como nos anos anteriores a 74, com o Estadual no primeiro semestre e o Brasileiro no segundo semestre. Assim, houve a disputa de dois Campeonatos Cariocas consecutivamente.
Para a temporada de 75, a principal contratação do Flamengo foi o centroavante Luisinho Lemos, do América, artilheiro do Carioca de 74. Pontualmente, o clube se reforçou também com a aquisição do ponta-esquerda Luís Paulo, do Olaria. Seguindo a linha de abrir mais espaços no elenco para a chegada da safra forte que subia da base, saíram o meia Zé Mário, para o Fluminense, o ponta-direita Rogério, de volta ao Botafogo, e o ponta-esquerda Arílson, para o Corinthians. Saíram também três dos reforços que haviam chegado no semestre anterior e não agradaram: Humberto Monteiro, Vanturir e Pedro Omar. Mas a grosso modo, foi mantida a base do elenco que obtivera bons resultados durante 1974. Para encaixar a chegada de Luisinho, Doval foi deslocado por Joubert para a ponta-direita, havendo uma intensa inversão de posições entre os dois durante os jogos no comando de ataque.
Daquela histórica geração de "pratas da casa", nem todos os jogadores da forte safra foram aproveitados pelo clube. Naquele início de 1975 o Flamengo cedeu o centroavante Rui Rei em definitivo para a Ponte Preta. Em Campinas, ele ganharia destaque na equipe que viria a ser vice-campeã paulista de 77, perdendo o título para o Corinthians na histórica decisão que deu fim ao mais longo jejum de títulos do alvi-negro paulista. E seria com a camisa do próprio Corinthians que ele encontraria nos anos seguintes os melhores momentos de sua carreira.
No 1º turno, o time iniciou empatando por 2 x 2 com o Vasco. A primeira derrota aconteceu na 5ª rodada, de forma surpreendente. O Flamengo enfrentava ao São Cristóvão no Maracanã, com Fio Maravilha como o principal nome do time adversário. O 1º tempo seguia com um 2 a 0 para os rubro-negros, quando o "São Cri Cri" descontou no minuto final. No 2º tempo, a virada impensada, e a derrota rubro-negra por 3 x 2. O time ainda perderia para Botafogo e América. No 2º turno, o time não perdeu, mas ao empatar duas vezes, contra Campo Grande (no Maracanã) e Botafogo, não conseguiu vencer o turno.
Só restava então a conquista do 3º turno para ir à final. O time venceu 6 das 7 partidas, tendo perdido para o Vasco, com quem terminou empatado, levando a disputa para um jogo extra. A decisão do 3º turno levou 126 mil pagantes ao Maracanã, e terminou com um 1 a 0 para os cruzmaltinos. Assim, o Flamengo ficou fora do Triangular Final, disputado por Fluminense, Vasco e Botafogo. Fracassou, apesar do excelente desempenho ofensivo: aplicou seis goleadas nas quais marcou 5 gols, tendo vencido os três jogos contra o Bangu por 5 x 0, metido 5 x 0 na Portuguesa, 5 x 1 no Campo Grande, e 5 x 0 no Madureira, além de haver goleado ao Botafogo por 4 a 0. Zico, arrasador, marcou 30 gols e foi o artilheiro do campeonato. Doval marcou 13 e Luisinho fez 10. Mas a poderosa linha ofensiva não foi suficiente, o jovem time não conseguiu vencer os jogos decisivos, terminando tão só em 4º lugar.
Flamengo no Carioca de 1975
Cantareli, Júnior, Jayme, Luís Carlos Galter e Rodrigues Neto; Liminha, Geraldo e Zico; Doval, Luisinho Lemos e Édson
Téc: Joubert
Banco: Renato, Rondinelli, Vanderlei, Paulinho e Luís Paulo
Apesar da colocação ruim no Carioca de 75, a diretoria deu um voto de confiança à continuidade de Joubert como técnico da equipe e manteve toda a base. Foram contratados reforços pontuais, e a preocupação maior era encontrar um substituto para o já veterano Liminha na cabeça de área. A fonte de reforços foi mais uma vez o América, de onde chegaram dois jogadores, o volante Tadeu Ricci, e o centroavante Caio Cambalhota, que voltava ao clube, desta vez para dividir o ataque com o irmão Luisinho Lemos (também chamado de Luisinho Tombo). Adicionalmente, após fazer amistosos pela Bahia entre um torneio e outro, dois jogadores do Atlético de Alagoinhas chamaram atenção e foram contratados pelo clube, o volante Merica e o atacante Dendê. Dos quatro nomes que chegaram, o único que efetivamente ganhou a posição, ainda que só no ano seguinte, foi o menos badalado de todos eles, o pequenino e voluntarioso cabeça de área Merica.
Em julho de 75, o Flamengo fez um amistoso contra a Juventus, de Turim, no Maracanã. Era um time repleto de alguns jovens nomes que viriam a conquistar a Copa do Mundo de 1982 com a Seleção da Itália, nomes como Dino Zoff, Gaetano Scirea, Claudio Gentile, Franco Causio, Fabio Capello e Marco Tardelli, além de Roberto Bettega e Pietro Anastasi, e em cujo elenco também estava um adolescente de nome Paolo Rossi. A Juve não se deu muito bem nesta passagem pelo Brasil, perdeu para Flamengo, Vasco e Palmeiras nos três amistosos que fez no país. O time do Flamengo os venceu por 2 x 1, com gols de Zico e Doval.
Num Campeonato Brasileiro com módulo de disputa bastante complexo e confuso, o Flamengo fez boa campanha e ficou muito perto da classificação à Semi-Final. Inovando, quando até então vitória valia 2 pontos, empate 1 ponto e derrota 0, nesta edição do Brasileirão, vitória por 2 ou mais gols de diferença valia 3 pontos. Na 1ª Fase, os 42 participantes foram divididos em 4 grupos, dois de 10 e dois de 11. Só em turno único, os clubes do Grupo A enfrentavam os do Grupo B e os do Grupo C os do Grupo D, e os 5 primeiros colocados avançavam à 2ª Fase, os demais disputavam uma Repescagem, que, entre as camisas mais tradicionais do Eixo Sul-Sudeste, foi disputada por Botafogo e Santos.
O time rubro-negro começou muito mal. Logo no primeiro jogo, perdeu por 2 x 1 para o Sport Recife no Maracanã. Na terceira rodada ainda foi derrotado pelo Náutico em Recife. Naquele ano, os clubes pernambucanos seriam uma dor de cabeça para o Flamengo. Entre as duas derrotas, houve um empate sem gols com o Bahia, em Salvador. Três confrontos contra clubes do Nordeste, e nenhuma vitória. Os primeiros resultados positivos vieram sobre a Desportiva, do Espírito Santo, e o Americano, de Campos. Na sequência, porém, o time foi goleado por 4 a 2 pelo Vasco. Depois venceu ao CSA, de Alagoas, e perdeu para o São Paulo, no Morumbi. Foi a gota d'água para a diretoria, que decidiu pela demissão de Joubert, que estava a caminho de completar dois anos a frente do clube. O novo treinador escolhido foi o gaúcho Carlos Froner. O "capitão Froner", como era chamado, trazia no curriculum três títulos gaúchos com o Grêmio, e o time ao qual estava treinando, o Santa Cruz, era a grande sensação daquela 1ª Fase do Brasileiro. Nas três últimas rodadas, vitória sobre o CEUB, em Brasília, empate sem gols contra o Goiás, em Goiânia, e vitória sobre o Internacional, no Maracanã. Apesar da campanha muito titubeante, o Flamengo terminou a 1ª Fase em 1º lugar no seu grupo, seguido pelo Grêmio em 2º (10 clubes dos outros grupos fizeram pontuação melhor que a do Flamengo).
Na 2ª Fase, eram 2 grupos de 10, com os 6 primeiros de cada grupo avançando à 3ª Fase junto a 4 clubes emergentes da Repescagem. O Flamengo começou perdendo para o Cruzeiro, no Maracanã. Depois encaixou uma sequência de três boas vitórias, sobre América, Palmeiras e Corinthians (esta última jogando em São Paulo). Porém, vacilante, no jogo seguinte perdeu para o Remo no Maracanã, e para o Tiradentes, em Teresina, no Piauí. Mal, perdeu de 3 x 0 um Fla-Flu diante de 80 mil pagantes, empatou com o Atlético Mineiro, venceu ao Coritiba e perdeu para o Guarani, em Campinas. Terminou em 4º em seu grupo, atrás de Internacional, Santa Cruz e São Paulo, avançando de fase. Entre as camisas mais tradicionais, ficaram de fora da 3ª Fase: Vasco, Atlético Mineiro e Santos.
Na 3ª Fase, os 16 remanescentes foram divididos em 2 grupos de 8, com os 2 primeiros de cada grupo avançando à Semi-Final. O Flamengo liderou seu grupo na 3ª Fase desde o início, mas perdeu a vaga na última rodada! O vencedor do grupo rubro-negro foi o Santa Cruz. Flamengo e Internacional terminaram com 12 pontos, dois atrás do líder do grupo, e o critério de desempate era a melhor campanha na fase anterior, e o Inter tinha esta vantagem, e assim avançou à Semi-Final e acabou vindo a se consagrar campeão brasileiro, após bater ao Fluminense na semi-final e ao Cruzeiro na final.
O Flamengo pela primeira vez desde que o Campeonato Brasileiro começou a ser disputado teve chances reais de chegar ao G-4. Perdeu a vaga nas duas rodadas finais, após empatar com o Internacional em Porto Alegre, e perder para o Santa Cruz dentro do Maracanã, com o estádio completamente lotado, por mais de 74 mil rubro-negros, numa partida na qual lhe bastava o empate para obter a classificação. O time montado pelo então treinador rubro-negro Carlos Froner, e que estava sendo comandado por Paulo Emílio, e tendo como destaques em campo a Givanildo, Fumanchu e Ramon, não se intimidou com o estádio lotado que empurrava o vermelho e o preto: abriu o placar com Ramon, viu Zico empatar ainda no 1º tempo, desempatou de novo com Ramon na metade do 2º tempo, e ampliou com Fumanchu. Santa Cruz 3 a 1. Balde de água fria, Maracanã silenciado, afundando as pretensões daquele time de Luisinho e Zico, autores de 22 dos 34 gols rubro-negros naquele Brasileiro, doze marcados pelo primeiro e dez pelo Galinho.
Flamengo no Brasileiro de 1975
Cantareli, Júnior, Jayme, Luís Carlos Galter e Rodrigues Neto; Liminha (Tadeu), Geraldo e Zico; Paulinho, Luisinho Lemos e Luís Paulo
Téc: Joubert, depois Carlos Froner
Banco: Renato, Rondinelli, Nei, Doval, Caio Cambalhota e Édson
Mesmo com o ambiente turbulento após a eliminação para o Santa Cruz, o Flamengo apostou em dar continuidade ao trabalho do Capitão Froner, mas mexeu bastante no elenco. O início de 76 foi agitado pelo badalado troca-troca proposto pelo presidente do Fluminense, Francisco Horta, que manteve a imprensa agitada. Saíram três jogadores da Gávea para as Laranjeiras em troca de outros três que fizeram o caminho contrário. A "Máquina Tricolor", campeã carioca de 75 com Rivellino, Paulo César Caju, Carlos Alberto Pintinho e Cafuringa, havia caído na semi-final do Brasileiro, e queria o título nacional em 76.
O goleiro Renato havia perdido espaço no Flamengo com a ascensão de Cantareli, mas era um goleiro experiente, com convocações para a Seleção Brasileira. Ele foi trocado pelo goleiro reserva do Fluminense, Roberto, e nas Laranjeiras se tornou titular. Nas laterais, o Flamengo mandou o lateral-esquerdo Rodrigues Neto e recebeu o lateral-direito Toninho Baiano; uma troca equivalente, tanto que os dois viriam a ser os titulares da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978. No ataque, o argentino Doval havia perdido espeço, com Zico e Luisinho dominando as posições nas quais ele atuava melhor, e ele não tendo mantido o rendimento quando foi deslocado para a ponta-direita. Foi trocado pelo jovem ponta-esquerda Zé Roberto, que atuou pouco e sem brilho em vermelho e preto. Os três jogadores enviados para as Laranjeiras se tornaram titulares do Fluminense que se sagrou bi-campeão carioca em 76, enquanto só um dos que chegaram ao Flamengo, o lateral Toninho, tornou-se titular.
O Flamengo queria mexer também na zaga. Liberou a Luís Carlos, que acabou indo para o Operário de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul, e contratou dois novos zagueiros: o argentino Jorge Paolino, comprado ao Racing, e Beto Bacamarte, contratado ao Grêmio. Durante o campeonato, porém, nenhum dos dois vingou com a camisa rubro-negra, com a dupla de zaga titular sendo formada pelos jovens Jayme e Rondinelli. Fechando o pacote chegaram mais dois jogadores: o atacante Claudiomiro, que havia se destacado pelo Internacional, e no ano anterior havia tido uma passagem discreta pelo Botafogo, e o irmão de Zico, Edu Coimbra, ídolo e camisa 10 do América, clube que mais uma vez recebia uma investida rubro-negra, depois de ter, em 1975, perdido Tadeu, Caio e Luisinho para o Flamengo.
O time começou o Carioca de 76 muito bem, vencendo todos os jogos das oito primeiras rodadas, superando a Goytacaz, Madureira, Olaria, Campo Grande, São Cristóvão, Portuguesa, Vasco e Botafogo. A torcida rubro-negra estava empolgada com a arrancada, e em meio a esta sequência de vitórias, na partida na qual superou por 3 x 1 ao Vasco, pela 6ª rodada, o Maracanã recebeu pouco menos de 175 mil pagantes, o maior público da história do "Clássico dos Milhões", e segundo maior público da história do futebol numa partida entre clubes, perdendo apenas para o Fla-Flu de 1963. A invencibilidade rubro-negra foi interrompida na 9ª rodada, quando o time perderia para o América. Depois, superaria a Americano, Bonsucesso e Bangu, e empataria com Volta Redonda e Fluminense. Na última rodada, o Fla-Flu levou mais de 155 mil pagantes ao Maracanã. Com uma vitória, o Flamengo teria sido o campeão da Taça Guanabara, mas o jogo terminou num empate sem gols, e assim Flamengo e Vasco terminaram empatados com o mesmo número de pontos, forçando um jogo desempate para definir quem seria o campeão do 1º turno. O Maracanã recebeu mais de 133 mil pagantes, que viram Roberto Dinamite abrir o placar logo no começo de jogo, e Geraldo empatar no decorrer do 2º tempo. Com o empate, o título foi decidido nos pênaltis. Foi a primeira decisão por pênaltis da história do futebol rubro-negro. O Flamengo vencia a disputa por 4 x 3 e bastava Zico acertar a última cobrança e o título teria sido selado. Mas Mazarópi defendeu o chute e o Vasco empatou a série na sequência em 4 x 4, levando para as cobranças alternadas. Daí foi Geraldo quem perdeu, e o Vasco foi o campeão da Taça Guanabara e se classificou direto para o Triangular Final.
No 2º turno, o time rubro-negro goleou ao Vasco por 4 x 1, mas uma derrota para o Botafogo, e empates contra Goytacaz e Fluminense tiraram o time da disputa. No 3º turno, mesmo vencendo a Botafogo e Vasco, um terceiro empate num Fla-Flu, e uma derrota por 3 a 0 para o Americano, em Campos, tiraram novamente o time da disputa. Assim, o Flamengo não conseguiu se classificar para o Quadrangular Final, decidido entre Fluminense, Vasco, Botafogo e América, terminando o campeonato com um péssimo 5º lugar. Ofensivamente, todo o time girava em torno da dupla Luisinho e Zico, que juntos marcaram 36 dos 58 gols rubro-negros na competição, tendo cada um dos dois balançado as redes 18 vezes.
Muito pior do que a má colocação no Carioca, foi a tragédia ocorrida após o término da participação rubro-negra na competição: onze dias após sua última partida no Carioca de 1976, e uma rodada antes do fim do Quadrangular Final, o meia Geraldo faleceu durante uma simples cirurgia de retirada de amídalas, por causa de um choque anafilático. Como descreveu seu irmão: "Geraldo morreu sentado numa cadeira de dentista, vestindo calça jeans e calçando apenas chinelo, sem camisa, como se estivesse extraindo um dente". A nação rubro-negra chorou a perda de seu proeminente jovem craque.
Flamengo no Carioca de 1976
Cantareli, Toninho Baiano, Jayme, Rondinelli e Vanderlei; Merica, Tadeu e Zico; Paulinho, Luisinho Lemos e Luís Paulo
Téc: Carlos Froner
Banco: Roberto, Dequinha, Júnior, Geraldo, Edu Coimbra, Caio Cambalhota e Zé Roberto
Apesar de resultados vacilantes, foram feitas pouquíssimas mudanças no elenco para a disputa do Campeonato Brasileiro: o centroavante Caio Cambalhota foi vendido para o Braga, de Portugal, e três das apostas do semestre anterior, por não terem rendido, acabaram dispensadas, com o goleiro Roberto seguindo por um empréstimo de seis meses para o Grêmio Maringá, do Paraná, o zagueiro Beto Bacamarte indo para o América Mineiro, e o atacante Claudiomiro seguindo para o Caxias, do Rio Grande do Sul. A única contratação foi a do centroavante Marciano, do Ceará.
Havia uma insegurança a respeito da qualidade do trabalho do técnico Carlos Froner, além de que a sofrida eliminação para o Santa Cruz no ano anterior ainda era uma lembrança vivíssima. E isto eclodiu logo nas primeiras rodadas. Após vencer ao ABC, do Rio Grande do Norte, e ao Flamengo do Piauí, o time perdeu de virada para o Santa Cruz por 2 x 1 no Estádio do Arruda, em Recife, com os dois gols do tricolor pernambucano tendo sido marcados pelo centroavante Nunes, um jogador revelado no sub-20 da Gávea, mas que sem nunca ter conseguido chegar ao profissional, tornara-se um "andarilho da bola", até se reencontrar no próprio Flamengo para se consagrar como o "Artilheiro das Decisões". Curiosamente, Nunes seria o responsável pela demissão do Capitão Froner, a qual abriu as portas da Gávea para um novo treinador que marcaria a história rubro-negra.
A aposta da diretoria comandada pelo presidente Hélio Maurício foi arriscada e ousada, dando oportunidade a um jovem treinador com pouca experiência. Cláudio Coutinho havia sido o preparador físico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, e sua única experiência como técnico havia sido no comando do time amador do Brasil que disputou as Olimpíadas de 1976. Tinha, portanto, experiência em comandar jovens, e um monte de ideias táticas na cabeça que ainda não havia tido a oportunidade de colocar em prática.
O trabalho de Coutinho começou arrasador. O time venceu ao Sport Recife por 3 x 0, e impôs uma goleada acachapante de 8 x 1 no Sampaio Correa, do Maranhão. Depois de um empate sem gols contra o América de Natal, meteu 3 a 0 no Náutico e 4 x 0 no Volta Redonda. Em seus cinco primeiros jogos a frente do Flamengo, em quatro deles meteu três ou mais gols no adversário. A regra de pontuação do Campeonato Brasileiro havia voltado a mudar frente à experiência feita no ano anterior, desta vez era a vitória por 3 ou mais gols de diferença que valia 3 pontos. O Brasileiro de 76 tinha 54 clubes. Na 1ª Fase eles foram divididos em 6 grupos de 9 clubes cada, com os 4 primeiros de cada grupo avançando à 2ª Fase e os demais jogando uma Repescagem. O Flamengo terminou em 1º lugar de seu grupo, seguido por Santa Cruz, Sport Recife e América de Natal. Dos clubes mais tradicionais, Vasco e Cruzeiro foram para a Repescagem.
Na 2ª Fase, eram 4 grupos de 6 clubes, com os 3 primeiros de cada grupo avançando à 3ª Fase, na qual estes 12 clubes se juntavam a 6 clubes oriundos da Repescagem. O Flamengo terminou em 2º no seu grupo, atrás do Palmeiras e a frente do Guarani, num grupo no qual o São Paulo acabou eliminado. A trajetória começou com uma vitória por 3 a 0 sobre o Vitória em Salvador. Depois, porém, o time perdeu para o Palmeiras, no Maracanã. Mas com vitórias sobre América, Guarani (goleada por 4 a 0) e São Paulo, classificou-se sem sustos.
Na 3ª Fase, eram 2 grupos de 9 clubes e os dois primeiros de cada grupo avançavam à Semi-final. O time rubro-negro iniciou sua trajetória muito bem, vencendo ao Atlético Mineiro por 3 x 1 no Maracanã. Depois, porém, empatou com o Guarani e perdeu para o Fluminense. Venceu ao CRB, em Maceió, empatou com o Bahia, em Salvador, e perdeu para o Vasco. Nos dois últimos jogos, goleou ao Grêmio por 5 x 1 no Maracanã, e venceu ao Náutico. O Flamengo lutou pela classificação até o final, mas terminou em 3º lugar no grupo com 13 pontos, atrás do Fluminense, com 15, e do Atlético Mineiro, com 14. O time rubro-negro perseguiu aos atleticanos até o final, mas não conseguiu alcançá-los. Zico com 14 gols e Luisinho com 13 seguiam comandando as ações ofensivas, e a surpresa foi o terceiro na tabela de artilharia: Marciano com 8 gols, dois sobre o Sport Recife e três na vitória de 3 a 0 sobre o Náutico, tendo os pernambucanos sido suas vítimas preferidas.
Depois de conseguir um 7º lugar no Brasileiro de 1975, o Flamengo terminou em 6º lugar na edição de 1976. Aquele time formado pela defesa que havia se destacado junta no sub-20, com Cantareli, Jayme, Rondinelli e Júnior, com o poderio ofensivo da dupla formada por Luisinho e Zico com as camisas 9 e 10, e com os modestos mas eficientes Paulinho e Luís Paulo pelas pontas (contratados a Bonsucesso e Olaria), fazia com que o vermelho e o preto enfim voltassem a figurar próximo às primeiras posições do Campeonato Brasileiro, o que não foi comum entre 1967 e 1974.
Flamengo no Brasileiro de 1976
Cantareli, Toninho Baiano, Jayme, Rondinelli e Júnior; Merica, Tadeu e Zico; Paulinho, Luisinho Lemos e Luís Paulo
Téc: Carlos Froner, depois Cláudio Coutinho
Banco: Ubirajara Motta, Dequinha, Dendê, Adílio, Júnior Brasília e Marciano
No início da temporada de 1977, o Flamengo perdeu três titulares: o zagueiro Jayme foi contratado pelo São Paulo, o meia Tadeu Ricci pelo Grêmio e o ponta-direita Paulinho pelo Fluminense. O ponta-esquerda Zé Roberto, que havia chagado do Fluminense e não encontrado espaço, seguiu para o Santa Cruz, e o centroavante Marciano foi para o Vitória, da Bahia.
O Movimento Frente Ampla pelo Flamengo venceu a eleição de dezembro do ano anterior, e com Márcio Braga na Presidência, chegava prometendo revolucionar o clube. A intenção era manter o espaço para as "pratas da casa", já que uma nova geração emergia do sub-20, esta agora com Andrade, Adílio, Tita e Júnior Brasília. Mas ao mesmo tempo, a intenção da nova direção, assim como do treinador Cláudio Coutinho, era encorpar o elenco. Foram contratados seis jogadores para reforçar o time. Para a zaga chegaram o veterano Carlos Alberto Torres (contratado ao Fluminense, chegava à Gávea aos 32 anos) e o jovem Nélson, do Guarani. Para a lateral, foi contratado o uruguaio Sérgio Ramírez, do Huracán Buceo, do Uruguai. Para dar experiência ao meio de campo, a principal contratação do pacote foi Paulo César Carpegiani, do Internacional. Para repor a perda na ponta-direita, chegou ao clube o baixinho Osni, do Vitória. E para fechar o pacote foi contratado o centroavante Cláudio Adão, do Santos, uma aposta pessoal de Coutinho. Adão havia despontado com muito sucesso, chegando à Seleção Brasileira Olímpica, e sendo chamado por muitos de "um novo Pelé". Depois de uma grave lesão, estava encostado no Santos e não havia recuperado o bom futebol, coisa que o treinador rubro-negro apostou que conseguiria fazer florescer.
O Carioca de 77 teve a quantidade de participantes aumentada para 15 clubes. No 1º turno, o Flamengo só deixou de vencer a três jogos, empatando com o Olaria na estreia, e perdendo para Vasco (diante de 135 mil pagantes) e América. Com estes tropeços, o Vasco se sagrou campeão da Taça Guanabara. Nas últimas rodadas, o time subiu de produção, aplicando goleadas por 6 x 0 no São Cristóvão, por 7 x 1 no Volta Redonda, e por 5 x 1 no Campo Grande. O esquema tático de Coutinho passou a chamar bastante atenção, pela ofensividade da estratégia batizada por ele de overlapping, ou "ultrapassagem para o ponto futuro", que era a utilização de lançamentos da bola em profundidade no "espaço vazio" para a penetração das peças de ataque, especialmente os laterais. Embalado, o Flamengo projetava um bom returno pela frente. Mas logo na 1ª rodada, um empate contra o Bonsucesso no Maracanã viria a ser um tropeço que teria graves consequências mais adiante.
No 2º turno, Flamengo e Vasco terminaram invictos e com a mesma campanha: 12 vitórias e 2 empates (incluindo em empate sem gols entre ambos). Se não houvesse tropeçado no "Bonsuça" na rodada inaugural do returno, teria conquistado o direito de ir à Final. Porém, com o empate de pontos entre os rivais, foi disputada uma decisão de turno diante de 152 mil pagantes no Maracanã, na qual se o Vasco vencesse, por ter sido campeão dos 2 turnos, seria automaticamente o campeão. Se a vitória fosse rubro-negra, haveria um novo duelo entre os dois pela Final. Após um novo empate sem gols - como já havia acontecido no jogo do 2º Turno - seguido por uma prorrogação de 30 minutos também sem gols, os vascaínos venceram nos pênaltis e ficaram com o título. Pelo segundo ano consecutivo, Flamengo e Vasco decidiam um turno na disputa por pênaltis. Todos converteram até o placar apontar 3 x 3. O encarregado de fazer a quarta cobrança rubro-negra foi o garoto Tita, então com apenas 19 anos. O goleiro vascaíno Mazarópi defendeu, voltando a ser o herói do duelo, como fora na final da Taça Guanabara de 76, quando havia defendido as cobranças de Zico e Geraldo. Todos seguiram convertendo suas cobranças até Roberto Dinamite converter o último e decretar o 5 x 4 definitivo que deu o título carioca aos cruzmaltinos.
Após o jogo, para dar forças ao jovem Tita, todos os jogadores saíram do Maracanã direto para o Barril 1800, uma choperia em frente à Praia de Ipanema, e lá fizeram um pacto de vitória. Foi assim que este jogo é associado por aquela geração de jogadores do Flamengo como o que marcou a união que teria supostamente levado ao início da Era de Ouro da história do futebol rubro-negro (1978-1983). Mesmo com um Zico brilhante, autor de 27 gols naquele Campeonato Carioca, o Flamengo amargaria seu terceiro ano de jejum.
Flamengo no Carioca de 1977
Cantareli, Sérgio Ramirez (Toninho Baiano), Rondinelli, Dequinha e Júnior; Merica, Carpegiani e Zico; Osni, Cláudio Adão (Luisinho Lemos) e Luís Paulo
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Roberto, Carlos Alberto Torres, Vanderlei, Adílio e Tita
Apesar da dolorosa perda do título nos pênaltis para o rival, a intensão era a de se dar continuidade a todo o trabalho que estava sendo feito. No entanto, Cláudio Coutinho foi convocado para assumir a Seleção Brasileira no lugar de Oswaldo Brandão, afastando-se do clube para se dedicar exclusivamente à preparação para a Copa do Mundo de 1978 (ele viria a voltar à Gávea e reassumiria o time após o Mundial). Para substituí-lo, o clube foi buscar uma solução caseira, acertando com seu ex-zagueiro Jaime Valente, que era o treinador da equipe sub-20 rubro-negra.
No elenco, nenhum novo jogador foi contratado para o Brasileiro e só houve uma perda indesejada, a saída de Luisinho Lemos que, insatisfeito por haver perdido espaço para Cláudio Adão, seguiu negociado para o Internacional. De resto, apenas ajustes, com a saída de jogadores que vinham sendo pouco utilizados: Carlos Alberto Torres foi para o New York Cosmos, dos Estados Unidos, o zagueiro argentino Jorge Paolino seguiu para o Pumas de UNAM, do México, e Dendê tendo ido para o Vitória, da Bahia.
Assim como no Brasileiro de 75, a vitória por dois ou mais gols de diferença valia 3 pontos, diferente do Brasileiro de 76, quando a vitória que valia 3 pontos era a por três ou mais gols de diferença. O número de participantes saltou para 64 clubes, que na 1ª Fase se dividiram em 6 grupos, 4 com 10 e 2 com 11 clubes. Os 5 primeiros de cada grupo avançavam à 2ª Fase, e os demais jogavam a Repescagem. O Flamengo venceu seu grupo, com o Fluminense terminando em 2º lugar. O clube mais tradicional a ter ido para a Repescagem foi o Coritiba. A campanha começou com uma goleada por 5 x 0 sobre o Vitória, da Bahia, na 1ª rodada. Nos 10 jogos disputados, perdeu para o Fluminense, e empatou com Bahia, América e Volta Redonda. Uma campanha bastante irregular, mas que ainda assim lhe deu a primeira posição, com nenhum tropeço frente a clubes de menor expressão de outros estados.
Na 2ª Fase, os 30 clubes classificados foram divididos em 6 grupos de 5, e os 3 primeiros de cada grupo avançavam à 3ª Fase, onde estes 18 clubes se juntavam a 6 vindos da Repescagem. O Flamengo novamente venceu seu grupo, seguido por XV de Piracicaba e Cruzeiro. O time teve um tropeço, perdendo por 1 x 0 para o XV de Piracicaba no interior de São Paulo, mas ganhou os outros três jogos e voltou a liderar seu grupo.
Na 3ª Fase, os 24 restantes foram divididos em 4 grupos de 6 clubes, com os vencedores de cada um dos grupos avançando à Semi-Final. Dentre os mais tradicionais, Internacional e Fluminense acabaram fora da 3ª Fase, na qual o grupo do Flamengo também tinha a Corinthians, Santos e Vasco. Porém, quem venceu o grupo e avançou à Semi-final foi o Londrina. O Flamengo terminou tão só em 5º lugar no grupo. Os demais classificados à Semi-Final foram São Paulo, Atlético Mineiro e Operário de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul. Na hora decisiva, o time rubro-negro caiu de produção, tendo na 3ª Fase, em 5 jogos, marcado apenas 1 gol. Empatou sem gols com Vasco e Santos, e por 1 x 1 contra o Caxias em pleno Maracanã, e perdeu por 1 x 0 para o Londrina no Estádio do Café, e para o Corinthians. Despediu-se da competição com uma moderada 9ª colocação na tabela geral.
Flamengo no Brasileiro de 1977
Cantareli, Toninho Baiano, Rondinelli, Dequinha e Júnior; Merica, Carpegiani (Adílio) e Zico; Osni, Cláudio Adão e Luís Paulo
Téc: Jaime Valente
Banco: Roberto, Sérgio Ramirez, Nélson, Vanderlei e Tita
No período de 1966 a 1977 o desempenho rubro-negro foi muito fraco. A nível estadual houve a conquista de apenas dois Campeonatos Cariocas, num período de domínio tricolor, já que o Fluminense conquistou 5 títulos (Botafogo e Vasco também foram campeões duas vezes cada um). A nível nacional, o domínio foi do Palmeiras, 4 vezes campeão, em 1967, 1969, 1972 e 1973. Internacional foi bi-campeão em 1975 e 1976, e Santos, Fluminense, Atlético Mineiro, Vasco da Gama e São Paulo já haviam erguido a taça uma vez cada um. O Flamengo, assim como Corinthians, Grêmio, Cruzeiro e Botafogo, ainda não tinha conquistado a principal competição nacional (ainda que Botafogo e Cruzeiro já houvessem faturado a Taça Brasil). Em termos de desempenho médio nas edições de Campeonato Brasileiro disputadas entre 1971 e 1977, o Flamengo, apesar de algumas campanhas muito ruins e de nenhum título, aparecia com o 8º melhor desempenho no ranking, atrás dos três grandes da capital paulista, dos dois de Belo Horizonte e dos dois de Porto Alegre.
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