quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: MURILO


MURILO: um inesquecível lateral-direito

Carreira: 1960-1962 Olaria (RJ); 1963-1971 Flamengo; 1972-1973 Tiradentes (PI); 1974-1975 River (PI); 1975 Campos (RJ)

O lateral-direito disputou quase 450 jogos com a camisa rubro-negra, tendo disputado mais partidas do que Leandro com o Manto Sagrado. Só um lateral-direito disputou mais partidas do que Murilo com a camisa do Flamengo: Leonardo Moura, e isto só nas duas primeiras décadas do Século XXI. Portanto, Murilo é o lateral-direito que mais vezes vestiu a camisa rubro-negra no Século XX.

Como jogador do Flamengo, ele fez 448 jogos e marcou 3 gols.


Abaixo, sobre a carreira do jogador, a combinação de dois textos, publicados nos sites "Flamengo Eternamente", "Tardes de Pacaembu" e "Flamengo Alternativo":

Paulo Murilo Frederico Ferreira nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 30 de abril de 1939, no bairro de Anchieta, à época uma zona rural nos limites da cidade. Sua carreira foi iniciada no time infanto-juvenil do Esporte Clube Anchieta, que disputava o certame do chamado Departamento Autônomo, um gigantesco campeonato amador do Rio de Janeiro que era dividido em três séries: urbana, suburbana e rural. De lá rumou para os quadros amadores do Olaria Atlético Clube em 1959. Promovido ao time principal pelo técnico Jorge Vieira, Murilo foi efetivado como titular quando Duque assumiu o comando do Olaria.

No Campeonato Carioca de 1962, já sem principal jogador, Cané, que havia migrado para o futebol italiano, o time dirigido por Duque fez excelente campanha, vencendo duas vezes tanto ao Vasco e quanto ao América, em ambos os turnos, e arrancando empates de Flamengo e Botafogo, terminando em 6º lugar e assegurando pela primeira vez uma das vagas cariocas para o Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte. A grande campanha valeu a Murilo a convocação para a Seleção Carioca, na qual ficou na reserva da lateral-direita, cujo titular foi o tricolor Jair Marinho. Em janeiro de 1963, Murilo foi envolvido numa negociação com o Flamengo, rumando para a Gávea junto com Nélson em troca de três jogadores (o lateral-direito Valtinho, o ponta-direita Othon e o ponta-de-lança Luís Carlos Cunha) mais Cr$ 27 milhões, uma quantia significativa para a época.

Na Gávea, Murilo mal esquentou o banco de reservas, pois logo assumiu a posição no time titular. Atuou em todos os 24 jogos da campanha rubro-negra que o sagrou Campeão Carioca de 1963. Passou então a ser titular absoluto na lateral direita do Flamengo. Ele era um excelente marcador e apoiava bem ao ataque.

Com duas derrotas sofridas no primeiro turno para America (1 a 3) e Bangu (1 a 2), o Flamengo passaria a maior parte daquela campanha de 1963 correndo por fora, na cola do time de Moça Bonita, líder por quase toda a competição. Mas uma sequência de 14 jogos de invencibilidade e uma série de vitórias de tirar o fôlego na reta final – entre elas um eletrizante 4 a 3 de virada no Vasco e um 3 a 1 no próprio alvirrubro da Zona Oeste – alçaram os rubro-negros ao topo, um ponto à frente do Fluminense, rival na última rodada. Flamengo e Fluminense decidiram o título do Carioca de 1963 e a vantagem do empate era rubro-negra, pois ao vencer a Bangu (3 a 1) e São Cristóvão (2 a 1), nas duas rodadas anteriores, manteve-se um ponto na frente do Flu. A final foi assistida por um total de 194.603 torcedores, sendo 177.020 pagantes, o maior público já registrado em jogos entre clubes em todo o mundo na história do futebol.

Com muita garra, o Flamengo segurou o 0 a 0 que lhe favorecia e reconquistou o título carioca após oito anos. Para Murilo, a emoção e o esforço físico foram tão grandes que o lateral desmaiou logo depois do apito final. Mas já se sagrava campeão em seu primeiro ano de clube, sendo logo em seguida convocado junto com o botafoguense Joel e o jovem tricolor Carlos Alberto Torres (a revelação daquela temporada) para a lateral-direita da Seleção Carioca que faria um amistoso de fim de ano contra o escrete paulista em São Paulo.

Em 1964, o Flamengo conquistou o Troféu Naranja, na Espanha. No primeiro jogo, o Flamengo perdeu para o Nacional do Uruguai por 1 a 0, mas venceu o Valência por 3 a 1 (gols de Aírton, Paulo Alves e Espanhol) e ficou com o título no saldo de gols. Em 1965, ao lado de nomes como Valdomiro, Ditão, Jaime Valente, Paulo Henrique, Nelsinho Rosa, Carlinhos, Fefeu, Rodrigues, Almir Pernambuquinho e Silva, Murilo era o titular absoluto da lateral-direita quando o Flamengo conquistou o Campeonato Carioca de 1965.

A equipe dirigida pelo argentino Armando Renganeschi – ex-zagueiro de Fluminense, São Paulo e Bonsucesso que fizera carreira de treinador no interior paulista antes de chegar à Gávea após a saída de Flávio Costa em meados de 1965 – exibia um futebol moderno, com a defesa e o meio-campo adiantados, sufocando o adversário em sua própria intermediária, permitindo o constante apoio dos laterais Murilo e Paulo Henrique (que esbanjavam fôlego para ir e voltar), enquanto o setor ofensivo girava em deslocamentos e troca de posições. Além dos laterais, os destaques do Fla na conquista (selada antes mesmo do último jogo) seriam a dupla de meio-campo remanescente de 1963, Carlinhos e Nelsinho; o também meia-armador Fefeu, que se revezou com Nelsinho no setor e, ótimo na bola parada, acabou como o vice-artilheiro da equipe.

Em 1966, Murilo também esteve em campo na amarga derrota de 3 x 0 para o Bangu, confronto que decidiu o campeonato carioca de 1966, dando o título à equipe alvi-rubra. O jogo é sempre lembrado pela verdadeira batalha que tomou conta do gramado do Maracanã, com vários jogadores expulsos de campo. A decepção pelo título perdido para o Bangu foi compensada pela projeção alcançada com suas convocações para o escrete canarinho.

Murilo esteve na Pré-convocação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra, mas acabou não sendo convocado para a Copa. O técnico Vicente Feola levou para a lateral-direita a Djalma Santos, do Palmeiras, e a Fidélis, do Bangu. Com a Seleção Brasileira, ele disputou apenas um jogo, em 1968.

Em 1966, conforme reportagem especial publicada pela Revista do Esporte, o salário de Murilo no Flamengo foi reajustado dos 438 mil cruzeiros mensais que recebia, para 500 mil cruzeiros. Posteriormente, o Flamengo ainda precisou oferecer outro reajuste, que chegou aos 975 mil cruzeiros mensais. Um salário e tanto para os padrões da época! Tamanha valorização ocorreu diante de uma perigosa investida do Vasco da Gama, que ofereceu 120 milhões de cruzeiros para contar com o futebol de Murilo em São Januário. Sem perder tempo, os dirigentes do Flamengo elevaram o valor do passe do jogador para 200 milhões de cruzeiros, o que fez o Vasco desistir do negócio.

Após uma temporada ruim de ponta a ponta para o Flamengo em 1967, na qual Murilo chegou a atuar com frequência um pouco menor que em anos anteriores devido a lesões esporádicas e a uma demorada renovação de contrato no meio do ano, o clube decairia em competitividade nos anos finais daqueles anos 1960. Mas ainda reservaria alguns momentos especiais aos torcedores. E na maioria deles com Murilo em campo, como na conquista do prestigioso Troféu Mohamed V, em Casablanca, no Marrocos, em setembro de 1968.

O torneio, que ao longo de sua história contou com a participação de gigantes como Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Internazionale, Bayern de Munique, Boca Juniors e Peñarol, mais os brasileiros Flamengo, São Paulo, Internacional e Grêmio, reuniu naquela edição de 1968, além dos rubro-negros, o argentino Racing, o francês Saint-Étienne e o FAR Rabat, equipe da Força Aérea marroquina. O Fla estreou batendo este último por 2 a 1 e conquistou a taça ao vencer na final o Racing, então campeão mundial interclubes, por 3 a 2.

Em 1970, Murilo conquistou mais dois títulos com a camisa rubro-negra, ao lado de nomes como Fio Maravilha, Liminha, Reyes, Dionísio, Arílson e Zanata. O primeiro título foi o Torneio Internacional de Verão. No primeiro jogo da competição, o Flamengo venceu à Seleção da Romênia por 4 a 1, e na partida seguinte goleou ao Independiente, da Argentina, por 6 a 1, com dois gols de Doval, dois de Dionísio, um de Fio e outro de Liminha. Na última partida, o Flamengo venceu ao Vasco por 2 a 0, com gols de Liminha e Arílson, sagrando-se campeão do torneio. A segunda conquista do ano foi o primeiro título da Taça Guanabara da história do clube, conquistada após um empate com o Fluminense por 1 a 1.

Murilo conquistou 12 títulos pelo Flamengo, sendo que os principais foram os Cariocas de 1963 e 1965 e a Taça Guanabara de 1970, além de ganhar o Troféu Naranja, na Espanha, em 1964, o Troféu Mohamed V, no Marrocos, em 1968, e o Torneio Internacional de Verão, em 1970. Pelo Flamengo foram 448 partidas com 230 vitórias, 104 empates e 114 derrotas, e com 3 gols marcados.

Ele deixou o Flamengo em 1971, quando seus direitos federativos foram negociados com a Sociedade Esportiva Tiradentes, do Piauí. Murilo foi Campeão Piauiense de 1972 pelo Tiradentes. Em 1974 transferiu-se para o rival River Atlético Clube, equipe que defendeu até 1975. De volta ao Rio de Janeiro, Murilo aceitou ao convite do ex-companheiro Paulo Henrique, que na época trabalhava como treinador no Campos Atlético Associação, e jogou o Campeonato Fluminense de 1975 (do antigo estado do Rio de Janeiro). Foram as últimas vezes que pisou num gramado como jogador profissional.

Após essa curta passagem jogando em Campos dos Goytacazes, Murilo deixou os gramados definitivamente e iniciou a carreira de treinador, voltando para Teresina para assumir ao Flamengo do Piauí, equipe com a qual se sagrou Campeão Piauiense de 1976. Pelo Campeonato Carioca, teve uma participação como técnico do Americano, de Campos.

Murilo faleceu em 18 de dezembro de 2022, aos 81 anos, de causas naturais. Ele passou seus últimos meses de vida no abrigo LAJE - Lar Abrigo Amor a Jesus - em Nova Friburgo, na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.


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