RODRIGUES NETO: o multi funções
Carreira: 1967-1975 Flamengo; 1976-1977 Fluminense; 1977-1978 Botafogo; 1978-1981 Ferro Carril Oeste (Argentina); 1981-1982 Internacional; 1982-1983 Boca Juniors (Argentina); 1983 São Cristóvão (RJ); 1984 SCAA (Hong Kong); 1985 Eastern Sports (Hong Kong)
Um jogador com mais de 400 partidas vestindo a camisa rubro-negra, que executou quase todas as opções táticas que um jogador poderia executar pelo lado esquerdo do campo. Originalmente, e na maior parte da sua carreira, foi lateral-esquerdo, mas com a camisa do Flamengo jogou também de ponta-esquerda, meia de criação pela esquerda e meia de contenção (segundo volante) pelo lado esquerdo.
Como jogador do Flamengo, ele fez 439 jogos e marcou 29 gols.
Abaixo, a combinação de dois textos sobre a carreira do jogador publicados pelos sites "Tardes de Pacaembu" e por André Felipe de Lima no "Museu da Pelada":
José Rodrigues Neto nasceu no município mineiro de Central de Minas em 1º de dezembro de 1949. O pai era dono de uma sapataria e de uma pequena lavoura, o suficiente para cuidar da família numerosa e ainda patrocinar os gostos e aventuras do filho Rodrigues Neto com o futebol. O jovem mineiro começou sua trajetória nas categorias de base do Vitória Futebol Clube, do Espírito Santo. Seu futebol foi descoberto por olheiros do Flamengo em um amistoso do Vitória diante do Fluminense. Na ocasião, Rodrigues Neto jogou apenas 20 minutos. O interesse rubro-negro se confirmou quando o massagista do clube conhecido por Mineiro encaminhou Rodrigues Neto aos quadros amadores do Flamengo em 1966. Ele iniciou sua trajetória na Gávea atuando com o time sub-20.
No ano seguinte, assinou seu primeiro compromisso profissional. Ainda timidamente, Rodrigues Neto foi conquistando alguma credibilidade quando era aproveitado no decorrer de alguns compromissos. Jogador de grande mobilidade, sua facilidade para apoiar ao ataque era tão evidente que seu futebol foi aproveitado pela ponta-esquerda em algumas partidas.
O período de 1967 a 1971 foi muito difícil para o Flamengo, com crises constantes e resultados muito ruins. Rodrigues Neto entrava e saía do time o tempo todo. Sua projeção definitiva foi consolidada com os títulos cariocas de 1972 e 1974, além da conquista da Taça Guanabara em 1970, 1972 e 1973. Titular absoluto da lateral-esquerda, em 1974 forçou a que a estreia do lateral Júnior no time profissional que acabou campeão estadual naquele ano fosse como lateral-direito.
Foi neste período de melhora de desempenho do Flamengo, que Rodrigues Neto teve sua primeira participação junto à Seleção Brasileira, fazendo parte do grupo que conquistou a Taça Independência, competição disputada no Brasil em 1972. Ele participou também da excursão do time canarinho aos gramados da Europa em 1973, mas acabou cortado pelo médico Lídio Toledo em razão de um suposto problema na coluna. Decepcionado, Rodrigues Neto nunca esqueceu o corte do escrete. Guardou mágoas e muito descrédito em relação ao trabalho do Departamento Médico. A revista Placar de 29 de junho de 1973 também lançou dúvidas sobre os verdadeiros motivos de sua dispensa, inclusive apontando uma suposta preferência do técnico Zagallo pelo futebol de Marinho Chagas.
Inventaram de tudo como motivo para Rodrigues Neto ter abandonado a seleção em 73. Citaram, inclusive, a trágica morte da primeira esposa dele, ocorrida em 1970, durante um parto prematuro. Rodrigues não estaria bem psicologicamente e por isso andava fazendo bobagens; também maldosamente comentaram que estaria enrabichado com amantes e que até teria se recusado a fazer um tratamento psiquiátrico sob recomendação do Flamengo após a morte da esposa. Porém o próprio jogador desfez o emaranhado de especulações e disse que decidiu deixar a seleção porque estava machucado e de nada adiantaria brigar pela posição com Marinho Chagas e Marco Antônio.
Em janeiro de 1976 o passe de Rodrigues Neto foi envolvido na "Mega Negociação" proposta pelo presidente do Fluminense Francisco Horta, que ofereceu ao Flamengo os jogadores Toninho Baiano, Roberto e Zé Roberto, em troca de Rodrigues Neto, do argentino Doval e do goleiro Renato, que desembarcaram nas Laranjeiras. A troca foi mais benéfica para o tricolor, que conquistou o bi-campeonato carioca em 1976.
Em entrevista para a Revista Placar em 25 de março de 1977, Rodrigues Neto revelou os motivos que o faziam feliz nas Laranjeiras, pois além do salário, também recebeu 185 mil cruzeiros em premiações num período de apenas 12 meses. Muito mais do que recebeu em quase 10 anos de serviços prestados ao Flamengo. Rodrigues Neto permaneceu nas Laranjeiras até o findar da temporada de 1977, quando foi negociado com o Botafogo de Futebol e Regatas.
Em 1978, durante sua breve passagem pelo Botafogo, Rodrigues Neto disputou a Copa do Mundo na Argentina, quando a Seleção Brasileira ficou com o terceiro lugar e o título de "Campeão Moral" instituído pelo treinador Cláudio Coutinho. No total, com a camisa canarinho, ele realizou um total de 19 partidas com 12 vitórias, 6 derrotas e 1 empate.
Depois da Copa do Mundo, ele começou sua fase "além-fronteiras" na Argentina, onde o lateral ficou conhecido como "El Negrito". Com muito prestígio, morava em um amplo e confortável apartamento na Calle Campichuelo. Rodrigues Neto estava com 29 anos. Em entrevista à Revista Placar, testemunhou: "Aqui na Argentina o jogador é mais respeitado como ser humano. No Brasil, você é considerado acabado quando passa dos 27 anos. Mesmo assim, não entendo como no Brasil possam se surpreender com meu sucesso no Ferro Carril Oeste. Ora, em julho de 1978 eu era titular da Seleção Brasileira!".
A dimensão de seu sucesso nos gramados argentinos é vista pelas palavras de César Luiz Menotti, técnico da Seleção da Argentina campeã da Copa de 78: "Lástima que El Negro Neto no sea argentino". Ele foi respeitadíssimo por lá e sempre garantiu jamais ter sofrido alguma cena de racismo nas temporadas que passou em Buenos Aires.
Na volta ao Brasil firmou compromisso com o Sport Club Internacional. Um tanto gordinho e calvo, o experiente Rodrigues Neto impressionou ao preparador físico colorado Gilberto Tim por seu condicionamento físico, apesar de já ser considerado um veterano. Sua passagem por Porto Alegre foi um tanto curta (marcou apenas um gol com a camisa do Inter) mas suficiente para se sagrar Campeão Gaúcho de 1981 e 1982.
Ele havia deixado tão boa passagem pelos campos argentinos, que o Boca Juniors veio ao Brasil buscá-lo para que disputasse mais uma vez ao Campeonato Argentino. Em seguida, voltou ao Rio de Janeiro para jogar o Campeonato Carioca de 1983 pelo São Cristóvão. Antes de se aposentar, ainda aventurou-se numa empreitada "caça-níquel" pelo futebol de Hong Kong.
O ex-lateral-esquerdo faleceu em 29 de abril de 2019, aos 69 anos, no Hospital de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Ele sofria de diabetes e sua morte foi relacionada a uma trombose decorrente deste quadro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário