segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Futebol do Flamengo de 1978 a 1983: a Monarquia do Rei Zico


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO


A ERA DE OURO - 1ª PARTE: A MONARQUIA DO REI ZICO (1978 a 1983)
Regido pelo maior ídolo de sua história, o Flamengo viveu seis anos mágicos


Entender a política do Flamengo não é nada simples. Por ser o clube mais popular, há diversos atores no cenário político com as mais diversas origens. Ao mesmo tempo, e isto é importante ser ponderado para quem não é do Rio de Janeiro e não conhece a cidade, a sede do clube está localizada na interseção de 4 bairros de mais alta concentração de renda da cidade: Leblon, Lagoa, Gávea e Jardim Botânico. E essa "posição estratégica" será atriz preponderante na história do clube.

A história moderna da política do Flamengo começou com José Bastos Padilha, que foi presidente do clube de 1933 a 1938. Ele foi um revolucionário, que modernizou o clube no momento de transição da Era Amadora para o Profissionalismo no futebol brasileiro. Ele foi ainda o responsável por levar o clube do bairro do Flamengo para o da Gávea. Era um cara a frente de sua época. Uma curiosidade: ele é o avô de José Padilha, que ficou nacionalmente conhecido no Século XXI como diretor dos filmes "Tropa de Elite" e "Tropa de Elite 2", e das séries "Narcos" e "Narcos México", no Netflix.

Após a Gestão Padilha, na década de 1940, os nomes mais fortes da política rubro-negra foram Gustavo de Carvalho (presidente de 1939 a 42) e Dario de Melo Pinto (presidente em 1943/44 e depois em 1949/50). Até que na década de 1950 estabeleceu-se um novo marco na política rubro-negra com Gilberto Cardoso, o presidente-mártir, o homem que morreu de infarto por amor ao clube após uma cesta no último segundo que deu o título carioca de basquete de 1955 para o Flamengo. Ele presidiu o clube de 1951 a 55.

Após a morte de Gilberto Cardoso, as lideranças que mais marcaram a política da Gávea, e ocuparam a Presidência do Flamengo foram as de Hilton Gonçalves dos Santos, Fadel Fadel, Luís Roberto Veiga Brito, André Richer (que posteriormente foi presidente do Comitê Olímpico Brasileiro - COB entre 1990 e 1995) e Hélio Maurício (que dá nome ao Ginásio de basquete da Gávea). Uma vida política sempre agitada, bastante democrática, e com muita alternância de poder sempre! Essas são marcas destacadas do clube.

Até que na eleição de 1976, o clube passou por uma nova revolução política, realizada pelo grupo que formou a "Frente Ampla pelo Flamengo", do qual faziam parte Otto Lara Resende, Wálter Clark, Luiz Carlos Barreto, Márcio Braga, George Helal, Antônio Augusto Dunshee de Abranches e Joel Tepet. O grupo venceu a eleição e liderou o clube no período mais vitorioso da história do futebol da Gávea, fincando sua influência na política do clube pelas décadas seguintes. Lara Resende era um notório escritor e jornalista, pai do economista André Lara Resende, ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do BNDES. Wálter Clark era diretor das Organizações Globo. Barreto, ou Barretão, era um dos principais cineastas do país. Junto deles estavam Márcio Braga, dono de cartório, e o advogado Dunshee de Abranches, os dois responsáveis por operacionalizar o planejado pela FAF.

O grupo ganhou a eleição, colocando Márcio Braga na presidência por dois mandatos (1977/78 e 1979/80) e Dunshee de Abranches por outros dois (1981/82) e (1983/84). Nas gestões de Braga e Abranches, os nomes que cuidaram do futebol foram Eduardo Motta, vice-presidente de futebol, e Domingos Bosco, que entre 1978 e 1982 foi Supervisor (Gerente Executivo) do futebol. Bosco havia trabalhado entre 1976 e 77 no Fluminense, quando foi convidado por Márcio Braga para implementar um moderno modelo de gestão que foi revolucionário no futebol brasileiro, e amplamente replicado em outros clubes após a "Era de Ouro do Flamengo". Ele, de certa forma, foi o primeiro gestor profissional de futebol no Brasil.


Sem conquistar um título desde 1974, o caldeirão na Gávea fervia, como sempre aconteceu em todas as vezes em que o Flamengo passou três anos inteiros sem conquistar nenhum campeonato. Em 1978, assim como aconteceu em 1974, o calendário do futebol brasileiro foi invertido para aumentar o tempo de preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo, assim o Campeonato Brasileiro foi disputado no 1º semestre. Pelo mau desempenho do time na fase final do Brasileiro de 77, a decisão foi pela retirada de Jaime Valente do comando técnico. A política, porém, seria mantida a mesma, com a utilização de um treinador que fosse grande conhecedor da base rubro-negra, e alguém que ficaria temporariamente na função, pois ao final do semestre, depois da Copa do Mundo, Coutinho voltaria a assumir o time. O escolhido foi Joubert, quem havia comandado a maturação da geração de Cantareli, Rondinelli, Júnior e Zico no profissional (Jayme, Geraldo e Rui Rei já não estavam mais), e que agora teria a missão de fazer o mesmo com Adílio, Tita, Júnior Brasília e Édson (Andrade, que era da mesma geração na base, não fora aproveitado num primeiro ano no profissional, e estava emprestado ao ULA Mérida, da Venezuela, para amadurecer e ganhar experiência).

O Flamengo teria ao longo de todo o Brasileiro de 78 os desfalques de Zico e Toninho Baiano, que estavam a serviço da Seleção Brasileira na preparação para a disputa da Copa do Mundo de 1978, na Argentina. No elenco, em relação ao semestre anterior, houve a saída de apenas um jogador, tendo o ponta-direita Osni ido seguir carreira no Bahia. O pacote de reforços que chegou à Gávea tinha apenas opções mais baratas, que chegavam para encorpar elenco, e nenhum destes nomes que chegou veio a ser titular, tendo o que mais se destacou sido o centroavante Radar, contratado ao Rio Verde, de Goiás. Os outros nomes foram o goleiro Nielsen, do Fluminense, e os atacantes Evilásio, do Santos, e o ponta-esquerda Santos, do Internacional.

O Brasileiro de 1978 foi disputado por 74 clubes. Pela 4ª edição seguida houve um modelo de pontuação experimental, distinto do vigente nas regras da FIFA. Desta vez a vitória que valia 3 pontos voltou a ser por 3 ou mais gols de diferença, como foi na edição de 1976. Na 1ª Fase, os 74 clubes estavam divididos em 6 grupos, 4 com 12 e 2 com 13, classificando-se os 6 primeiros de cada grupo (total de 36 clubes), com os demais jogando uma Repescagem. O Flamengo terminou em 1º lugar de seu grupo, mas não teve um grande desempenho, apesar de ter vencido 10 de seus 11 jogos, incluindo um Fla-Flu. Só teve uma derrota, para o América. Na goleada por 4 x 1 sobre o Bangu, todos os quatro gols rubro-negros foram feitos por Radar, que foi o artilheiro da equipe com 6 gols.

Na 2ª Fase eram 4 grupos de 9 clubes, com os 6 primeiros de cada grupo (24 clubes no total) avançando à 3ª Fase, para a qual também se classificaria o clube com melhor campanha na soma das duas fases entre aqueles que não estivessem entre os 6 primeiros, e a estes ainda se juntavam mais 7 clubes vindos da Repescagem. O Flamengo terminou em 7º lugar entre os 9 times do grupos, e só se classificou por causa da vaga de melhor campanha entre os que não obtiveram a classificação. Empatou quatro das oito partidas, perdendo pela segunda vez para o América, e sendo ainda derrotado por 1 a 0 pelo Operário, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Na 3ª Fase, os 32 clubes restantes foram divididos em 4 grupos de 8, com os 2 primeiros de cada grupo avançando às Quartas de Final. Com péssima campanha, o Flamengo ficou em 6º lugar em seu grupo e acabou eliminado. As vagas no grupo ficaram com Grêmio e Palmeiras. O time empatou contra Botafogo, Palmeiras e São Paulo, e foi goleado por 5 x 2 pelo Grêmio no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Sua única vitória na fase foi sobre o Coritiba. Nas duas últimas rodadas, duas derrotas por 1 x 0, para o América (a terceira derrota para o time rubro em três duelos naquele Campeonato Brasileiro) e para o Noroeste, em Bauru, no interior de estado de São Paulo. Na classificação geral, o time terminou com um péssimo 16º lugar, o que era uma significativa amostra de como Zico fazia falta, e de como o desempenho da equipe caía com sua ausência.

Flamengo no Brasileiro de 1978
Cantareli, Sérgio Ramirez, Rondinelli, Nélson e Júnior; Merica, Carpegiani e Adílio; Júnior Brasília, Cláudio Adão e Luís Paulo
Téc: Joubert
Banco: Nielsen, Dequinha, Valdo, Tita e Radar

Havia muita desconfiança com o trabalho e muitas críticas internas e externas. Com paciência, a diretoria apostava que as coisas melhorariam com as voltas de Zico e Coutinho. O Galinho havia ido mal com a Seleção Brasileira, tendo perdido a titularidade durante o Mundial, e recebia muitas críticas de que seria um "jogador de Maracanã", que seria o único lugar onde atuaria bem.

A pressão levou a diretoria a mexer no elenco. Saíram Merica, para o Bahia, o lateral-esquerdo Vanderlei Luxemburgo, vendido ao Internacional, e o jovem atacante Júnior Brasília, cedido ao Cruzeiro. Todas as apostas do semestre anterior saíram, incluindo o artilheiro Radar, cedido à Ferroviária, de Araraquara. Um pacote de reforços foi contratado para todas as posições: o experiente goleiro Raul, com 34 anos, chegou do Cruzeiro, e os zagueiros Moisés, do Corinthians - campeão brasileiro de 74 com o Vasco - e o voluntarioso Manguito, do Olaria; para o meio-campo chegaram Cléber, do Atlético Mineiro, e Alberto Leguelé, do Bahia; e para o ataque chegaram à Gávea Tião e Eli Carlos, do Cruzeiro, e Marcinho, do Atlético Mineiro, tendo sido muitas as apostas oriundas do futebol de Minas Gerais.

Antes da disputa do Campeonato Estadual, em agosto de 78 o Flamengo voltaria ao solo europeu para disputar dois torneios quadrangulares de pré-temporada do futebol espanhol. Em La Coruña, pelo Troféu Tereza Herrera, disputado no Estádio Riazor, na semi-final teve Fla-Flu na Europa, com um empate sem gols seguido por vitória rubro-negra na disputa de pênaltis. Já a final foi diante do Real Madrid, e terminou com vitória merengue por 2 x 0, gols do dinamarquês Henning Jensen e de Francisco Aguilar, e grande atuação do alemão Uli Stielike. O Flamengo se vingaria no quadrangular seguinte, valendo o Troféu Palma de Mallorca. Na semi-final, venceu ao Rayo Vallecano por 2 x 1, com gols de Júnior e Cléber. A final, novamente, seria frente ao Real Madrid. Logo no começo do jogo, Tita deu a assistência e Cláudio Adão completou para as redes, colocando o time rubro-negro a frente no marcador. De cara, o Flamengo quebrava a estratégia dos espanhóis e forçava o adversário a se abrir mais para o jogo. Antes ainda do intervalo, Cléber ampliou para o time rubro-negro. Na volta para o 2º tempo, o árbitro Asocúa Sani marcou pênalti inexistente, os rubro-negros reclamaram muito, e Eli Carlos foi expulso. Na cobrança, Aguilar diminuiu. Aos 18 minutos, o juiz inverteu um escanteio, mais reclamações rubro-negras e desta vez Toninho Baiano foi expulso. Com nove contra onze, o Flamengo se fechou. Aos 27 minutos, contra-ataque e Cléber é derrubado, o juiz nada aponta, houve reclamação e a expulsão de Cléber. Nos 15 minutos finais eram oito contra onze. Muita pressão, e muitos chutões. Nos descontos, Cláudio Adão salvou de cabeça, em cima da linha, o que teria sido o gol de empate. Heroicamente, o Flamengo segurou a pressão e sagrou-se Campeão do Palma de Mallorca.

Embalado e motivado pelo sucesso em solo europeu, o time de Coutinho começou bem sua campanha no Carioca, goleando a São Cristóvão (6 x 0) e Campo Grande (5 x 0) nas duas primeiras rodadas. Cláudio Adão marcou cinco gols e Zico três. Foram dez jogos sem perder - empatando com Vasco, América e Botafogo - o que lhe garantiu o título do 1º turno com uma rodada de antecipação. Na última rodada, perdeu o Fla-Flu por 2 x 0. No 2º turno, o time venceu nove dos dez primeiros jogos, incluindo as goleadas de 4 x 0 sobre o Fluminense e de 9 x 0 sobre a Portuguesa, só tendo empatado contra o Madureira. O Vasco, porém, venceu suas dez partidas, e assim na última rodada entrava no "Clássico dos Milhões" com a vantagem do empate para ser campeão do 2º turno e forçar uma Final.

O Maracanã recebeu mais de 120 mil pagantes, que viram uma partida muito disputada se arrastar num empate sem gols até os minutos finais. Aos 41 minutos do 2º tempo, o Flamengo ganhou um escanteio. Zico, que normalmente não cobrava, pegou a bola rápido, dada a corrida contra o relógio pela vitória, e fez a cobrança para a área. A bola foi encontrar a cabeça do "Deus da Raça", que subiu nas costas do zagueiro cruzmaltino Abel Braga, e o zagueiro central rubro-negro não perdoou, Rondinelli testou firme, superando ao goleiro Emerson Leão. O histórico gol de Rondinelli deu o título do 2º turno ao time rubro-negro, que tendo vencido aos dois turnos, sagrou-se Campeão Carioca de 1978, interrompendo um jejum de três anos sem título, e tranquilizando o ambiente. Destaques da campanha, Zico e Adão dividiram a artilharia com 19 gols cada um. Foi um título fundamental para dar início à "Era de Ouro do Futebol do Flamengo".

Flamengo no Carioca de 1978
Cantareli, Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli (Nélson) e Júnior; Carpegiani, Adílio e Zico; Tita, Cláudio Adão e Marcinho
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Raul, Leandro, Alberto Leguelé, Eli Carlos, Tião e Cléber



Como o calendário de 78 havia sido invertido pela Copa do Mundo, haveria dois Campeonatos Estaduais seguidos. Entretanto, turbulências políticas fariam que fossem disputados três Campeonatos Carioca consecutivamente. Desde que a Capital Federal fora transferida para Brasília (em 1960), o antigo DF passou a ser a Cidade-Estado da Guanabara. Em 1974 houve a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, porém, até 1979 continuou havendo a divisão entre as Federações Carioca e Fluminense de futebol. Em 1979 houve um imbróglio com a criação do primeiro campeonato da nova Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ). Acabou que foram disputados dois torneios, o último da Federação Carioca e o primeiro da FFERJ. A confusão acabou prejudicando a disputa do Campeonato Brasileiro, que teve em 1979 sua forma mais curta na história, disputado somente entre novembro e dezembro, e com o maior número de participantes (94 clubes), o que obviamente gerou grande insatisfação dos clubes de outros estados.

Com o time encaixado, os jogadores que haviam chegado por empréstimo seis meses antes não seguiram na Gávea, tendo saído Alberto Leguelé, Tião, Eli Carlos e Marcinho. Buscando um novo pacote de apostas, em caminho contrário chegaram à Gávea o meia Carlos Henrique, do Goiás, o ponta-direita Reinaldo, do América, e o centroavante Luisinho das Arábias, da Portuguesa carioca.

O primeiro estadual daquele ano foi disputado de fevereiro a abril. O Flamengo venceu 7 dos 9 jogos do 1º turno, só empatando contra Fluminense e Vasco. No 2º turno, venceu 6 dos 9 jogos, tendo empatado com América, Fluminense e Botafogo, sagrando-se assim campeão por ter vencido os dois turnos, assim como havia sido na edição do Carioca no semestre anterior. Ninguém parava o Flamengo no Rio de Janeiro! Foi uma campanha repleta de goleadas em pequenos, metendo 5 x 1 no Fluminense de Friburgo, duas vezes 6 x 1, no Americano e no São Cristóvão, e com um 7 x 1 sobre o Goytacaz. Empolgada, a torcida rubro-negra proporcionou invasões de multidões ao Maracanã em todos os clássicos da competição: no turno, mais de 109 mil pagantes contra o Vasco, quase 104 mil contra o Fluminense, e mais de 128 mil na última rodada contra o Botafogo; no returno foram mais de 122 mil frente ao Vasco, mais de 138 mil na penúltima rodada diante do Fluminense, e mais de 158 mil no último jogo contra o Botafogo.

A boa fase também atiçou manifestações da música popular. O baiano Moraes Moreira lançou a música "Vitorioso Flamengo", na qual cantava: "Esse Flamengo de agora faz lembrar aquele do Tri, mas quem conhece a sua história diz 'Assim eu nunca vi!'. E a galera canta, Flamengo eu sou seu fã, grito de gol levanta, e sacode o Maracanã". E o sambista João Nogueira regravou o sucesso do Anos 1950 atualizando os personagens, cantando: "Flamengo joga amanhã e eu vou pra lá, vai haver mais um baile no Maracanã. O mais querido tem Zico, Adílio e Adão, eu já rezei pra São Jorge pro Mengo ser campeão! Pode chover, pode o sol me queimar, que eu vou pra ver a Charanga tocar. Flamengo! Flamengo! Tua glória é lutar! Quando o Mengo perde, eu não quero almoçar, eu não quero jantar".

Flamengo no Carioca de 1979.I
Cantareli, Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli e Júnior; Carpegiani, Adílio e Zico; Reinaldo, Cláudio Adão (Luisinho das Arábias) e Júlio César
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Raul, Leandro, Nélson, Andrade e Tita

Depois do segundo título estadual consecutivo, saíram o lateral uruguaio Ramírez, que seguiu para o Independiente, da Argentina, e o zagueiro Moisés para o Fluminene, tendo este pouco atuado em vermelho e preto. Durante o semestre, foi contratado mais um centroavante: Beijoca, do Bahia. No entanto, a diretriz principal no clube seguia sendo a de abrir espaço para as revelações das divisões de base, desta vez emergindo a terceira das gerações que viriam a formar a base do time que seria campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes dois anos depois. Esta nova safra trazia agora a Leandro, Mozer, Figueiredo, Vítor e Júlio César.

Entre as duas edições do Campeonato Carioca em 1979, houve um momento especial para a torcida rubro-negra, num amistoso no Maracanã para angariar fundos para as vítimas das enchentes de março de 79. Zico cedeu a camisa 10, e não foi para qualquer um, foi para Édson Arantes do Nascimento, Pelé, o Atleta do Século, que jogou o primeiro tempo apenas. E foi no segundo, com ele já substituído, que o Flamengo aplicou uma avassaladora goleada por 5 a 1. O dia será eternamente lembrado pelas imagens de Pelé trajando rubro-negro, ofuscando um fato marcante: naquela noite, com os três gols marcados nesta goleada, Zico se tornou o maior goleador da história do Flamengo, superando a marca do até então maior artilheiro da história rubro-negra, Dida, que fez 264 gols. Com os três daquela nostálgica noite, Zico, ainda com apenas 26 anos, alcançou 265 gols em vermelho e preto.

O segundo estadual daquele ano foi mais inflado, disputado por 18 clubes de maio até o início de novembro. No 1º turno, em 17 rodadas, o time rubro-negro venceu 16 jogos, conquistando com facilidade ao turno, que serviu apenas para classificar os dez primeiros colocados que disputariam os dois turnos seguintes, nos quais seria efetivamente definido o campeão. Na única partida sem vitória neste turno, o clássico contra o Botafogo pela 5ª rodada, o jogo diante de 139 mil pagantes, no Maracanã, valeria o 53º jogo invicto do time rubro-negro, o que seria um recorde, já que com 52 jogos seguidos sem perder, o time havia igualado a maior série do futebol brasileiro, pertencente ao próprio Botafogo. Naquela tarde, porém, a vitória seria alvi-negra, com gol marcado pelo meia Renato Sá logo a 9 minutos do 1º tempo.

No meio do Estadual o Flamengo voltou a ser convidado para um quadrangular de pré-temporada na Espanha, desta vez para disputar o Troféu Ramon de Carranza, em Cádiz, tendo assim tido alguns jogos remarcados. Na semi-final, impôs-se sobre o Barcelona, vencendo por 2 x 1. Os catalães eram Campeões da Recopa Europeia e contavam em seu time com o dinamarquês Allan Simonsen e o austríaco Hans Krankl, tendo ainda a Migueli na defesa, e a Asensi e Rexach no meio, todos três titulares na Seleção da Espanha. Logo aos 2 minutos de jogo, o ponta-esquerda Júlio César deixou dois zagueiros do Barça para trás e mandou para a rede, abrindo o placar. Ainda no 1º tempo, aos 39 minutos, saiu o segundo gol: Zico cobrando falta no ângulo. Daí para frente, o time administrou o placar. Relaxou e acabou levando um gol de honra do Barcelona, marcado por Esteban, mas sem que em momento algum tenha corrido risco de deixar de vencer. No dia seguinte, na final, o adversário foi o Ujpest, da Hungria. O Flamengo venceu por 2 x 0, com dois gols de Zico e se sagrou Campeão do Ramon de Carranza, voltando suas atenções para a continuidade da disputa do Campeonato Carioca.

No 2º turno, o time tropeçou três vezes, caindo por 1 x 0 para o Americano em pleno Maracanã, empatando por 1 x 1 com o Bonsucesso, e sendo batido por 4 x 2 pelo Vasco. Ainda assim, voltou a faturar o turno. No 3º turno, perdeu para o Fluminense e empatou com o Botafogo, mas também faz a melhor campanha, sagrando-se Tri-Campeão Carioca. O Flamengo venceu todos os 7 turnos disputados nas três edições de Campeonato Carioca jogadas entre 1978 e 1979. Zico estava imparável, tendo sido o artilheiro com 34 gols.

Flamengo no Carioca de 1979.II
Cantareli, Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli e Júnior; Andrade (Carpegiani), Adílio e Zico; Tita, Cláudio Adão e Júlio César (Reinaldo)
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Raul, Leandro, Nélson, Carlos Henrique e Luisinho das Arábias

Aquele foi um ano muito confuso no futebol brasileiro, e em função disto, houve um campeonato nacional muito curto, durando apenas três meses. No coração do problema político estavam as desavenças no Rio de Janeiro e as duas edições de Campeonato Carioca num mesmo ano. Em paralelo a esta confusão, houve, no 2º semestre de 1979, a criação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que assumiu o lugar da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). A soma destes dois fatores resultou numa confusão enorme. Decidiu-se que os times de São Paulo e do Rio de Janeiro só entrariam na 2ª Fase, mas os paulistas pleiteavam entrar direto na 3ª, mas não foram atendidos, e, em meio a esta briga política, Corinthians, São Paulo e Santos decidiram não disputar o Brasileirão de 79.

O torneio teve a participação de 92 clubes. A 1ª Fase teve 80 clubes, divididos em duas categorias entre os 8 grupos de 10 clubes em cada, numa categoria de 2 grupos classificavam-se os 8 primeiros colocados de cada grupo, e na outra categoria de 6 grupos classificavam-se os 4 primeiros colocados de cada grupo. Ainda se classificavam os 4 com melhor campanha entre os que não obtivessem a classificação. Assim, nesta confusão plena, avançavam 44 clubes à 2ª Fase, onde se juntavam a 12 clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Na 2ª Fase, os 56 clubes foram divididos em 7 grupos de 8, com os 2 primeiros colocados de cada grupo se classificando à 3ª Fase. O Flamengo venceu seu grupo e se classificou junto com o XV de Piracicaba, eliminando ao Grêmio, que terminou em 3º. Botafogo e Fluminense também acabaram eliminados nesta 2ª Fase. Com uma campanha irreparável, o time rubro-negro não perdeu, vencendo cinco de seus sete jogos, mas tropeçando duas vezes como visitante diante de Londrina e Santa Cruz.

Na 3ª Fase, eram 4 grupos de 4, com os vencedores avançando para fazer a Semi-Final. O Flamengo venceu seus dois primeiros jogos e entrou em campo numa partida decisiva contra o Palmeiras, num Maracanã tomado por 112 mil pagantes, que valia a vaga na semi-final. O time rubro-negro, entretanto, acabou goleado por 4 x 1 e foi eliminado. Era a segunda vez naquela década que o time rubro-negro entrava em campo como mandante e sob estádio absolutamente lotado, precisando de uma vitória simples para avançar à semi-final do Campeonato Brasileiro. Os palmeirenses avançaram e perderam na semi para o Internacional, que viria a ser o campeão. Num torneio tão confuso, até a colocação final é difícil de explicar: o Flamengo foi considerado o 12º colocado, apesar de só ter sofrido 1 derrota em 10 jogos, e justamente naquele jogo que se tivesse vencido, teria ficado entre os quatro semi-finalistas.

Flamengo no Brasileiro de 1979
Cantareli, Toninho Baiano, Manguito, Dequinha e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico; Reinaldo, Cláudio Adão e Adílio
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Raul, Leandro, Rondinelli, Tita, Beijoca e Carlos Henrique

Em 1980, a recém-criada CBF decidiu fazer uma reformulação geral de calendário do futebol brasileiro. Para não fazer mais as inversões feitas em 1974 e 1978 para dar maior tempo de preparação à Seleção Brasileira, decidiu que o Campeonato Brasileiro passasse a ser disputado no 1º semestre e os Campeonatos Estaduais no 2º semestre. Assim, o ano de 1980 começou com mais uma disputa nacional após o recém terminado torneio de 79.

Para a temporada de 1980, o elenco mais uma vez viveu uma pequena reformulação comandada por Coutinho. Já havia uma base titular montada e jogando junta havia alguns anos, com Cantareli no gol, dois laterais com experiência de Seleção Brasileira como Toninho e Júnior, uma zaga raçuda com Manguito e Rondinelli, um meio de campo técnico com Carpegiani e Zico, e um elenco recheado por vários jovens talentos como Leandro, Andrade, Adílio, Tita e Júlio César. Como havia acontecido nos anos anteriores, as contratações que chegaram foram escolhidas pela filtragem do olho clínico de Coutinho para serem testados e avaliados. Neste pacote chegaram o lateral Carlos Alberto, do Joinville, e o zagueiro Marinho, do Londrina. Naquele Brasileiro, quem emergiu à posição de titular seria o goleiro Raul, que já estava com 35 anos (uma idade muito avançada para o padrão de condicionamento físico daquela época) e que desde sua chegada ao clube havia realizado apenas 15 partidas oficiais em um ano e meio na Gávea.

O elenco teve a saída do terceiro goleiro Nielsen, contratado pelo Botafogo, e a saída do jovem zagueiro Dequinha, vendido para o Antuérpia, da Bélgica. Havia uma preocupação também com a camisa 9. Nos anos anteriores tinham sido testados e posteriormente descartados Marciano e Radar; as opções testadas em 79 também foram descartadas, com Beijoca saindo de volta para o Bahia, e Luisinho das Arábias seguindo para o Bangu, e foram contratadas duas novas opções. A primeira escolha foi Nunes, jogador formado na base da Gávea que não havia sido usado no profissional do clube, acabando por se destacar com a camisa do Santa Cruz (curiosamente ele foi o autor dos dois gols que impuseram a derrota em 1976 que causou a demissão de Carlos Froner, abrindo espaço para que Coutinho assumisse). Depois disto, Nunes passou sem muito sucesso pelo Fluminense e estava atuando pelo Monterrey, do México. A outra escolha foi Gérson Lopes, que havia se destacado no Brasileiro de 79 pelo Operário de Várzea Grande, do Mato Grosso. A chegada de dois centroavantes foi ainda mais importante porque logo no começo da temporada, um desentendimento entre Cláudio Coutinho e o centroavante Cláudio Adão levou à saída do principal atacante rubro-negro, que deixou o clube e foi para o Botafogo.

A fórmula do Campeonato Brasileiro de 80 tinha 40 clubes disputando o título. Na 1ª Fase eles estavam divididos em 4 grupos com 10 equipes cada, e com os 7 primeiros colocados avançando à 2ª fase. O time rubro-negro arrancou com três jogos seguidos no Maracanã, venceu a Santos e Internacional por 1 x 0, e na terceira partida tropeçou, perdendo por 2 x 1 para o Botafogo da Paraíba. Recuperou-se na 4ª rodada, vencendo ao Mixto fora de casa por 2 x 0, em Cuiabá. Depois venceu ao Ferroviário, do Ceará, por 2 x 1, no Maracanã, empatou em 2 x 2 com o Náutico, em Recife, e goleou ao Itabaiana, de Sergipe, por 5 x 0 no Maracanã. Com a classificação assegurada, o time relaxou, e nas duas rodadas finais empatou com o São Paulo do Rio Grande do Sul (0 x 0) e com a Ponte Preta (2 x 2).

Na 2ª Fase, as 28 equipes restantes se juntavam a 4 ascendidas da 2ª divisão e eram divididas em 8 grupos com 4 clubes em cada. A disputa agora era em turno e returno, e os dois primeiros avançavam à 3ª fase. O Flamengo começou empatando em 0 x 0 com o Santa Cruz no Estádio do Arruda, em Recife. Na 2ª partida, teve uma atuação de gala e goleou por 6 x 2 ao Palmeiras no Maracanã, com dois gols de Zico e dois de Tita, vingando a goleada sofrida em 79 que impediu o time de avançar à semi-final. Na 3ª rodada, venceu por 2 x 1 ao Bangu e assumiu a liderança do grupo. No returno, venceu ao Santa Cruz por 2 x 1 no Maracanã, foi a São Paulo e empatou em 2 x 2 com o Palmeiras no Morumbi, e na última rodada enfrentou a um já eliminado Bangu, vencendo por 3 x 0.

Adílio e Zico

Na 3ª fase, as 16 equipes restantes se dividiam em 4 grupos de 4, com os vencedores de grupo na 2ª fase tendo o privilégio de jogar uma partida a mais como mandante e com apenas um clube de cada grupo avançando à semi-final. O Flamengo venceu à Desportiva, do Espírito Santo, por 3 x 0 no Maracanã, e empatou em 1 x 1 com a Ponte Preta no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas. Na última rodada recebia ao Santos para um duelo decisivo no Maracanã, tendo a vantagem de jogar por um empate. Aquele time precisava exorcizar seus fantasmas, pois tanto em 1975 quanto em 1979 havia jogado com sua casa abarrotada de torcedores empurrando o time por uma vaga na semi-final, e nas duas vezes foi derrotado. Desta vez havia 110 mil pagantes no estádio, empurrando o time, mas havendo por trás sobre a equipe uma pressão negativa imensa para a equipe de Coutinho superar. E ela conseguiu, venceu por 2 x 0, com dois gols de Zico, e garantiu o passaporte para enfrentar ao Coritiba na semi-final.

No primeiro duelo semi-final, venceu por 2 x 0 no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, novamente com dois gols de Zico, voltando para o segundo duelo no Maracanã com enorme vantagem. Jogando em casa, saiu em desvantagem no placar, tomou um grande susto, mas se recuperou e venceu por 4 x 3, em noite na qual brilharam Nunes, com dois gols, e Anselmo, com um golaço que selou a vitória.

A final foi diante do Atlético Mineiro, tido pela mídia esportiva como o melhor time do Brasil, onde brilhavam Reinaldo, Éder, Toninho Cerezo e Luizinho. O time rubro-negro chegava à final com apenas uma derrota na bagagem. No primeiro jogo, no Mineirão, o Atlético venceu por 1 x 0, numa partida muito violenta, da qual o time saiu sem o zagueiro Rondinelli, com fratura na mandíbula. Na decisão, a zaga foi formada por Marinho e Manguito.

Gol de Nunes na Final do Brasileiro de 1980

O Flamengo abriu vantagem logo no começo do jogo, com Nunes completando excelente passe em profundidade de Zico. O Atlético, que realmente tinha um timaço, empatou. Antes do intervalo, Zico desempatou, mas na volta para o segundo tempo, Reinaldo, lesionado e se arrastando em campo, encontrou espaço na área para mais uma vez empatar. O 2 x 2 dava o título aos atleticanos. Nos minutos finais, porém, Nunes desempatou em brilhante jogada individual, colocando o 3 x 2 no placar que deu ao Flamengo seu primeiro título nacional.

Flamengo no Brasileiro de 1980
Raul, Toninho Baiano, Marinho, Rondinelli e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Cantareli, Carlos Alberto, Reinaldo e Carlos Henrique

Campeão nacional, o Flamengo foi convidado para disputar três quadrangulares de pré-temporada na Espanha, os troféus Tereza Herrera, Ciudad de Santander e Ramon de Carranza. Sagrou-se campeão de dois deles. No Troféu Tereza Herrera, caiu na semi-final para o Sporting Gijón após um empate por 1 x 1 e uma derrota nos pênaltis por 4 x 2. Na decisão de 3º lugar, acabou goleado por 4 x 1 pelo Porto, de Portugal. Pelo Troféu Ciudad de Santander, venceu na semi-final ao Racing Santander por 2 x 0, e na final bateu ao Levski Spartak Sofia, da Bulgária, por 2 x 1. Viajou então para Cádiz para o Troféu Ramon de Carranza: na semi-final, empatou por 2 x 2 com o Dínamo Tbilisi, da União Soviética, vencendo por 4 x 3 na disputa por pênaltis. Na final, sem muita dificuldade, o time rubro-negro venceu por 2 x 1 ao Bétis, com dois gols de Zico, sagrando-se Bi-Campeão do Ramon de Carranza.

Antes da disputa do Carioca de 80 foi jogada uma edição avulsa da Taça Guanabara, da qual o Flamengo se sagrou campeão. Foram apenas cinco rodadas em pontos corridos, tendo a equipe vencido a América, Fluminense e Americano, e empatado com Botafogo e Vasco. Após vencer todos os sete turnos do Carioca jogados entre 1978 e 1979, a conquista da Taça Guanabara foi como um oitavo turno consecutivo conquistado. A competição marcou a ascensão do zagueiro Mozer, que assumiu imediatamente a condição de titular.

Para o Estadual, o clube decidiu reforçar ainda mais o time campeão nacional, e fez uma aquisição de peso para a defesa, apostando na contratação de Luís Pereira, zagueiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1974, ídolo da torcida do Palmeiras, onde atuou de 1968 a 1974, e que de 1975 a 1980 jogou no Atlético de Madrid. Ele chegava à Gávea aos 31 anos. Outra contratação foi a do ponta Fumanchu, que tinha uma trajetória de carreira muito parecida à de Nunes, aquisição de maior sucesso no início daquele ano. Nunes começou na base do Flamengo, destacou-se no Santa Cruz, teve uma rápida passagem pelo Fluminense, e estava no México antes de sua chegada à Gávea. Fumanchu se profissionalizou no Vasco, destacou-se também no Santa Cruz, posteriormente também passou pelo Fluminense, e antes de chegar à Gávea também estava atuando no futebol mexicano, onde defendia ao América do México. Para fechar, duas apostas menos badaladas observadas por Coutinho chegaram à Gávea, o lateral-esquerdo Gílson Paulino, do Coritiba, e o meia Lico, do Joinville. Outras mexidas no elenco: houve a saída do lateral-direito Toninho, que seduzido pelos dólares do emergente mercado de futebol do Oriente Médio, aceitou proposta do Al Ahli, da Arábia Saudita, e o clube optou por não dar continuidade aos contratos dos zagueiros Manguito e Nélson, e do centroavante Gérson Lopes.

Esperava-se muito do reforçado e badalado time rubro-negro, já dominante no Rio de Janeiro desde o início de 78. Na lateral-direita, o garoto Leandro assumiu a titularidade com a saída de Toninho; com Raul, Leandro, Marinho, Júnior na defesa, Andrade, Adílio e Zico no meio, e Tita e Nunes na frente, o maior time da história rubro-negra até então começava a tomar forma. Na campanha no Carioca de 80, no entanto, o time vacilou logo no 1º turno, empatando muito - contra Fluminense, Americano, Botafogo, Campo Grande e Vasco - e perdendo para o Bangu com um gol nos minutos finais. O campeão do turno foi o Fluminense. Coutinho então mexeu no time, sacando Luís Pereira, Andrade e Júlio César, e lançando Rondinelli, Vítor e Édson. No 2º Turno, o time empatou com Fluminense e América, mas venceu ao Vasco a quatro rodadas do fim, igualando-se em pontuação aos cruzmaltinos (o que forçaria um jogo desempate caso a situação se mantivesse até o fim). Porém, a três rodadas do final, o Flamengo foi derrotado pelo Serrano, em Petrópolis (1 a 0, gol de Anapolina) e o Vasco voltou a abrir dois pontos de vantagem. Na penúltima rodada, o Flamengo venceu ao Botafogo, e o Vasco empatou com o Fluminense, e a diferença caiu para 1 ponto. Na última rodada, porém, o Vasco venceu ao Americano e conquistou o 2º Turno, classificando-se para fazer a Final do Carioca contra o Fluminense, e impedindo o Flamengo de ser tetra-campeão carioca.

Flamengo no Carioca de 1980
Raul, Leandro, Marinho, Rondinelli (Luís Pereira) e Júnior; Vítor, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Édson (Júlio César)
Téc: Cláudio Coutinho
Banco: Cantareli, Carlos Alberto, Andrade, Carpegiani e Anselmo

No início de 1981, o Flamengo perdeu seu treinador, tendo Cláudio Coutinho aceito uma oferta para treinar ao Los Angeles Aztecs, dos Estados Unidos. Para substituí-lo, o clube apostou numa solução caseira, escolhendo o paraguaio Modesto Bria, que mais uma vez assumia como treinador rubro-negro, pela quinta vez, tendo sido o único clube onde o ex-jogador trabalhou em sua carreira como técnico. No elenco, poucos ajustes: saiu o ponta-direita Reinaldo, vendido para o Leones Negros, do México, e entraram o lateral-direito Nei Dias, do Atlético Mineiro, e o meia Peu, do CSA, de Alagoas. Da base, emergiam o meia Lino, e os atacantes Anselmo e Ronaldo Marques.

Na 1ª Fase do Brasileiro de 81, os 40 clubes foram divididos em 4 grupos de 10, classificando-se os 7 primeiros de cada grupo à 2ª Fase. Em toda a fase inicial, o time atuou desfalcado de duas peças importantíssimas: Zico e Júnior. Ainda assim, O Flamengo terminou em 2º lugar em seu grupo, atrás do Santos, e a frente de Santa Cruz e Cruzeiro, tendo sofrido uma única derrota, por 3 x 0 para o Paysandu, em Belém do Pará. Na sua melhor atuação, goleou ao Fortaleza por 8 x 0 no Maracanã, com cinco gols de Nunes.

Na 2ª Fase, os 28 classificados se juntavam aos 4 melhores da Taça de Prata (espécie de 2ª Divisão); entre os 4 ascendidos estava o Palmeiras. Os 32 clubes se dividiram em 8 grupos de 4, com os dois primeiros de cada grupo avançando às oitavas de final. A campanha rubro-negra foi muito ruim, levando inclusive uma goleada de 4 x 0 para o Colorado, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, no Paraná. Apesar da inconstância - e já com Zico e Júnior de volta ao time - o Flamengo terminou em 1º lugar em seu grupo, seguido pelo Atlético Mineiro. Dali em diante a competição era em mata-mata. Envolto em uma de suas tradicionais crises internas, Modesto Bria alegou razões médicas e pediu demissão (até a esposa deu declarações nos jornais, ela é quem teria o convencido a sair, antes que ele tivesse um infarto). Apostando que com um nome mais experiente a frente do time, aumentariam as chances de uma arrancada rumo ao título, o substituto escolhido foi o paulista Dino Sani, numa escolha já visando a disputa da Copa Libertadores. Com passagens por Corinthians e Palmeiras, e tri-campeão gaúcho com o Internacional em 1971-72-73, ele estava no Peñarol, onde foi bi-campeão uruguaio em 1978 e 1979.


O Flamengo passou pelo Bahia nas oitavas de final, após um empate sem gols no Estádio da Fonte Nova, em Salvador, e uma vitória por 2 a 0 no Maracanã, com dois gols de Nunes nos quinze minutos finais. Nas quartas de final, fez um clássico carioca contra o Botafogo. Diante de 117 mil pagantes no Maracanã, o primeiro duelo terminou num empate sem gols. No segundo jogo, mais de 135 mil pagantes viram Zico abrir o marcador logo aos três minutos de jogo. Porém, com dois gols do meia Mendonça, os alvi-negros viraram e venceram por 3 x 1, eliminando ao Flamengo.

Flamengo no Brasileiro de 1981
Raul, Carlos Alberto, Marinho, Luís Pereira e Júnior; Andrade, Vítor e Zico (Peu); Fumanchu (Tita), Nunes e Adílio
Téc: Modesto Bria, depois Dino Sani
Banco: Cantareli, Leandro, Rondinelli, Carpegiani e Édson

Após a eliminação para o Botafogo, foram feitas algumas mexidas no elenco. A principal foi uma transação com o Palmeiras, na qual o veterano zagueiro Luís Pereira seguiu para o Parque Antárctica, onde era ídolo, e o ponta-esquerda Baroninho fez o caminho contrário, cedido por empréstimo. No meio, Carpegiani, que via os jovens Andrade, Vítor e Adílio dominando sua posição, optou pela aposentadoria. Quem também optou por deixar o clube foi o ponta-esquerda Júlio César, que havia perdido espaço após ter sido peça-chave para a conquista do título nacional de 80. Ele optou por seguir carreira na Argentina, aceitando uma proposta do modesto Talleres. De resto, ajustes pontuais, com as saídas de Carlos Henrique para o Londrina, e do jovem meia Lino para o Atlético Paranaense (ele posteriormente faria sucesso com as camisas de Santos e Palmeiras), e com as contratações do ponta-direita Chiquinho, do Olaria, e do centroavante Reinaldo Potiguar, do Náutico. O time treinado por Dino Sani fez uma boa campanha e foi o campeão da Taça Guanabara, 1º turno do Carioca de 81 - tendo em 11 rodadas deixado de vencer quatro jogos, ao empatar com Bangu, América e Botafogo, e perder para o Fluminense.

No meio da campanha, o Flamengo ainda foi fazer uma excursão pela Europa, e o desempenho frente aos europeus em 1981 foi espetacular. Em junho, o time viajou ao ser convidado para disputar o Torneio de Nápoles. Teve uma atuação impecável, de encher os olhos dos italianos. No primeiro jogo, goleou por 5 x 1 ao Avelino, da Itália, com dois gols de Baroninho, e Adílio, Zico e Leandro fechando o placar. A final, contra o Napoli, teve uma nova atuação de gala e mais uma goleada, com impiedosos 5 x 0, tendo Zico feito três gols, e Nunes e Adílio fechado o atropelamento. Dez gols em dois jogos.

Apesar do bom desempenho, o estilo durão e disciplinador de Dino Sani gerou problemas no elenco: Adílio se desentendeu com o treinador e foi afastado. A diretoria, então, optou de forma inesperada e intempestiva pela demissão do treinador. O estopim, supostamente, foi uma veemente repreensão pública ao zagueiro Mozer. Em julho de 1981, às vésperas de iniciar sua campanha na Taça Libertadores da América, o time estava novamente sem treinador, e novamente em crise.

A opção então foi por um nome conhecido e íntimo do elenco, o recém aposentado Carpegiani passou a ser o técnico do time com o qual até poucos meses antes ele jogava junto. A campanha no 2º turno foi bem similar à do 1º, porém desta vez o título ficou com o Vasco. Em 11 rodadas, novamente deixou de vencer quatro jogos, empatando com Volta Redonda, Fluminense e Vasco, e perdendo para o Botafogo.

No 3º turno, o time tropeçou duas vezes, empatando com Bangu e Serrano, mas a partir da 7ª rodada engrenou uma sequência de excelentes resultados. Começou goleando ao Botafogo por 6 x 0, depois meteu 6 x 1 no Americano, venceu ao Fluminense por 3 x 1, e goleou ao Volta Redonda por 5 x 1, sacramentando-se vencedor do turno. Tendo vencido dois dos três turnos, o Flamengo iniciava a Final contra o Vasco com uma bonificação que lhe permitia depender somente de um empate num dos dois jogos finais para que se sagrasse campeão do Estadual.

Goleada Histórica 

Antes da disputa, porém, uma tragédia abalou profundamente o emocional do time. Cláudio Coutinho, que passava férias no Rio de Janeiro, morreu enquanto praticava pesca submarina por apneia. O lateral Júnior, que o esperava na praia para almoçar, foi o primeiro a receber a trágica notícia quando o barco retornou sem seu amigo e ex-treinador. O Vasco venceu ao primeiro jogo da finalíssima por 2 a 0, com dois gols de Roberto Dinamite. No segundo jogo, o empate, mais uma vez, daria o título ao time rubro-negro. A partida se arrastou sem gols até 43 minutos do 2º tempo, quando Roberto Dinamite voltou a marcar, e a mais uma vez adiar a conquista. No terceiro jogo, não havia vantagem, quem vencesse era campeão, e um empate levaria a decisão para a disputa por pênaltis. Diante de 162 mil pagantes no Maracanã, o Flamengo enfim despertou do baque emocional. Na metade do 1º tempo, fez dois gols seguidos, em menos de cinco minutos, com Adílio e Nunes. Aos 38 minutos do 2º tempo, Ticão descontou para o Vasco. Nos minutos finais, o time da cruz de malta pressionava pelo empate, quando houve o reverberado caso da invasão de campo pelo ladrilheiro - uns dizem que pulando pelo foço que separa o campo e a torcida, outros que ele saiu correndo pelo túnel de acesso ao vestiário rubro-negro - causando uma confusão generalizada e uma longa paralisação. Reiniciada a partida, mais nada de importante aconteceu, e o Flamengo se sacramentou como Campeão Carioca de 1981. Era a quarta conquista em cinco edições do Estadual.

Flamengo no Carioca de 1981
Raul, Leandro, Marinho (Figueiredo), Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico (Baroninho)
Téc: Dino Sani, depois Paulo César Carpegiani
Banco: Cantareli, Carlos Alberto, Rondinelli, Nei Dias e Chiquinho

Em paralelo à disputa do Carioca, o Flamengo disputava pela primeira vez em sua história à Libertadores da América. Pelas confusões do calendário futebolístico brasileiro, embora o Grêmio já houvesse se sagrado campeão nacional alguns meses antes do início da Libertadores, as vagas brasileiras eram do campeão e do vice do ano anterior.

O grupo na 1ª Fase tinha a Atlético Mineiro, e aos paraguaios Olimpia e Cerro Porteño, um grupo bastante difícil, do qual só o campeão avançava à 2ª Fase, composta por dois triangulares semi-finais. No primeiro jogo, após começar perdendo por 2 a 0 para o Galo no Mineirão, o time foi buscar o empate por 2 x 2, com o zagueiro Marinho marcando de cabeça a cinco minutos do fim do jogo. Na sequência, no Maracanã, uma goleada por 5 x 2 sobre o Cerro Porteño (diante de meros 26 mil pagantes), e um empate por 1 x 1 com o Olimpia.

Com dois empates em três jogos, o time precisaria ser eficiente nos duelos de volta. Porém, a campanha foi quase a mesma. No Maracanã, voltou a empatar por 2 x 2 com o Atlético. Restavam duas partidas no Estádio Defensores Del Chaco, em Assunção. Primeiro, voltou a golear ao Cerro Porteño, desta vez por 4 x 2. E no último jogo, precisava da vitória, mas ficou num empate sem gols diante do Olimpia. Assim, Flamengo e Atlético terminaram empatados, forçando um jogo extra, a ser disputado em campo neutro, no Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia. A partida foi dura e violenta, como vinham sendo os duelos entre os dois rivais desde 1980. O árbitro José Roberto Wright expulsou Reinaldo ainda no 1º tempo após falta dura sobre Zico. Dali em diante, os atleticanos se descontrolaram emocionalmente, assim como o árbitro, e o que se viu foi um festival de cartões vermelhos. O jogo acabou interrompido ainda no 1º tempo, e posteriormente a Confederação Sul-Americana, em julgamento, endossou a decisão do árbitro, e deu vitória ao Flamengo por WO.

No triangular semi-final, os adversários rubro-negros seriam o Deportivo Cali, da Colômbia, que havia vencido o grupo com os argentinos, eliminando a River Plate e Rosario Central, e com o Jorge Wilstermann, da Bolívia. Foram quatro jogos e quatro vitórias rubro-negras. Em Cali, fez 1 x 0 no Deportivo, gol de Nunes. E em Cochabamba, venceu aos bolivianos por 2 x 1. No Maracanã, fez 3 x 0 no Deportivo Cali (diante de só 29 mil torcedores) e goleou por 4 x 1 ao Jorge Wilstermann (diante de meros 7,5 mil pagantes). Avançou assim para fazer a final diante do Cobreloa, do Chile, que superou aos uruguaios Nacional e Peñarol no outro grupo.

O primeiro jogo da decisão foi no Maracanã, e, diante de 94 mil pagantes, terminou em vitória rubro-negra por 2 x 1. O segundo jogo foi no Estádio Nacional, em Santiago, no Chile. O empate daria o título ao Flamengo, que enfrentou um clima de guerra na capital chilena. Segurou o empate sem gols até os 39 minutos do 2º tempo, quando Victor Merello fez o gol que forçou um jogo desempate em campo neutro. O palco foi o Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai. Com dois gols de Zico, um logo aos 18 minutos do 1º tempo, e o que sacramentou o título aos 39 minutos do 2º tempo, o Flamengo se sagrou Campeão da América!

O gol do título da Libertadores de 81

Flamengo na Libertadores de 1981
Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adilio e Zico; Tita, Nunes e Baroninho
Téc: Paulo César Carpegiani
Banco: Cantareli, Nei Dias, Marinho, Vítor, Chiquinho, Anselmo e Lico

Campeão da Copa Libertadores da América de 1981

Campeão da Libertadores da América, o Flamengo ganhou o direito de disputar a Copa Intercontinental contra o Campeão da Champions League em Tóquio, no Japão. Na final da Liga dos Campeões, o Liverpool venceu ao Real Madrid por 1 x 0 no Parc des Princes, em Paris, com gol de Alan Kennedy, e foi o adversário rubro-negro no dia 13 de dezembro de 1981 em Tóquio. Foi um baile! Aos treze minutos do primeiro tempo, Nunes aproveitou lançamento de Zico para fazer 1 a 0, aos 36 minutos, Adílio fez 2 a 0, e aos 42, Nunes, de novo, sacramentou o 3 a 0. Os times desceram para o intervalo já com a conquista explicitada. E poderia ter sido de mais, se o Flamengo não houvesse passado o segundo tempo administrando o resultado, esperando o tempo correr, diante de um Liverpool que ainda não conseguia entender muito bem o que se passava. Mengão campeão do mundo! Coisa que, até então, só o Santos de Pelé havia logrado entre as equipes brasileiras.

A escalação que todo torcedor do Flamengo passou a ressonar como verso a partir de 1981, quase num poema rimado de exaltação máxima à presença de deuses na Terra: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. No entanto, os 11 que deram uma aula de futebol aos ingleses, time exaltado como o maior Flamengo de todos os tempos, jogou apenas quatro partidas junto: em 25 de novembro de 1981 contra o Volta Redonda, em 29 de novembro de 1981 contra o Vasco, em 13 de dezembro de 1981 contra o Liverpool, e em 16 de fevereiro de 1982 contra o São Paulo. E só uma única vez no Maracanã, justamente no único jogo no qual estes onze saíram derrotados.

Flamengo, Campeão Mundial de 1981
Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adilio e Zico; Tita, Nunes e Lico
Téc: Paulo César Carpegiani

Campeão da Copa Intercontinental de 81

O Flamengo teve o ano mais vitorioso de sua história até então naquele que havia sido um dos mais turbulentos e bagunçados, repleto de troca de treinadores. E isto parece ter construído um imaginário a partir de então de que seriam necessárias crises para construir vitórias, pois desde então a rotina de crise em crise na Gávea seria cada vez mais constante. Mas não ainda naquele começo de 1982, já que campeão de tudo, o clube manteve o time titular vencedor para a disputa do Brasileiro de 82. Mas o elenco teve quatro baixas: o veterano zagueiro Rondinelli, vendo Marinho, Figueiredo e Mozer tomarem conta de sua posição, aceitou proposta do Corinthians (após breve passagem infrutífera pelo clube paulista, o ídolo rubro-negro voltaria ao Rio para uma breve passagem, também sem sucesso, pelo rival Vasco), o ponta-esquerda Baroninho voltou para o Palmeiras após o fim de seu empréstimo, o lateral-direito reserva Nei Dias foi para o Fluminense, e o meia Fumanchu, sem espaço, foi defender ao Vitória, da Bahia.

No embalo dos títulos da Libertadores e do Mundial, o Flamengo seguiu dominante. Na 1ª fase, o Flamengo fez sua estreia com um resultado espetacular no Maracanã. Sua primeira partida após as férias foi o primeiro jogo válido pelo Brasileiro, sem qualquer amistoso para aquecer os motores. Depois de estar perdendo por 2 a 0 para o São Paulo no 1º tempo no Maracanã, o time foi buscar uma sensacional virada e venceu por 3 x 2, com dois gols de Zico e um de Andrade. Naquele ano, os 40 clubes estavam organizados em 8 grupos de 5 clubes, e os três primeiros avançavam à 2ª fase. Ainda haveria repescagem, de forma que 24 clubes avançavam à 2ª fase. O Flamengo atropelou seus adversários. Venceu ao São Paulo por 3 x 2, ao Náutico por 4 x 3, em Recife, goleou ao Treze, da Paraíba, por 5 x 0, e venceu ao Ferroviário, do Ceará, por 3 x 0. Com quatro vitórias em quatro jogos, já estava garantido na fase seguinte. No returno, fez 3 x 1 no Treze, em Campina Grande, e 2 x 1 no Ferroviário, em Fortaleza. Só perdeu ponto no sétimo jogo, quando empatou por 1 x 1 com o Náutico, no Maracanã. Para fechar com chave de ouro, num outro jogaço, venceu ao São Paulo por 4 x 3 no Morumbi. O time estava jogando um futebol espetacular.

Na 2ª fase, os clubes se dividiram em 8 grupos de 4, e os dois primeiros de cada grupo avançavam ao mata-mata, que começava a partir das oitavas de final. O forte grupo rubro-negro tinha Corinthians, Atlético Mineiro e Internacional. O primeiro jogo foi no Morumbi contra o Corinthians de Sócrates, Wladimir, Casagrande e Biro-Biro. Empate em 1 x 1. Na sequência, dois jogos no Maracanã, uma vitória por 2 x 1 no Atlético e um empate por 1 x 1 com o Inter. Na sequência, o Flamengo perdeu por 3 x 1 para o Galo no Mineirão. O jogo seguinte, no Beira-Rio, era fundamental para as pretensões rubro-negras, uma derrota implicaria numa quase desclassificação. Até o empate era ruim. Zico abriu o placar, mas os colorados viraram, com gols de Mauro Pastor e Geraldo. Aos 30 minutos do 2º tempo, o centroavante reserva Reinaldo Potiguar empatou para o Flamengo. E aos 42 minutos, Vítor fez o gol que selou uma virada heroica. No último jogo, uma vitória por 2 x 0 sobre o Corinthians, no Maracanã, selou a classificação.

Nas oitavas de final, o adversário foi o Sport Recife. Não foi fácil. O rubro-negro carioca fez 2 x 0 no Maracanã, e foi jogar contra o rubro-negro pernambucano em Recife. Saiu atrás, mas com gol de Leandro, buscou o empate antes do intervalo. Tomou gol no 2º tempo e sofreu pressão, mas no fim, Sport 2 x 1 e Flamengo classificado às quartas, para enfrentar ao Santos. Foi outra pedreira. Primeiro, uma vitória por 2 x 1 no Maracanã, gols de Tita e Marinho, depois um empate por 1 x 1 no Morumbi. Muita luta, muita pressão, mas mais uma vez o time resistiu e conseguiu avançar. Na semi-final, o adversário era o Guarani, de Campinas, onde brilhava Jorge Mendonça. Depois de uma vitória magra no Maracanã, no primeiro jogo, todos sabiam que seria uma pedreira a partida em Campinas. Mas quando Zico está numa noite inspirada, não há pedreira que resista. Com três gols do Galinho de Quintino, o time venceu por 3 a 2 e garantiu presença na final do Brasileirão.

A final foi contra o Grêmio, que eliminara ao Corinthians na outra semi-final, e que, por ter melhor campanha, tinha a vantagem de fazer a segunda partida em casa e de ser sede também de um eventual jogo-desempate em caso de resultados iguais. Quando a primeira partida, no Maracanã, terminou empatada em 1 x 1, com o Flamengo tendo sofrido gol aos 38 minutos do 2º tempo, e ido buscar o empate com um gol de Zico aos 44 minutos do 2º tempo, a missão de evitar que o troféu ficasse em Porto Alegre parecia improvável.

No 2º jogo, um empate em 0 x 0 levou o confronto para um terceiro jogo, mais uma vez a ser jogado no Estádio Olímpico. Conquistar um título sobre o Grêmio em plena Porto Alegre é tarefa para quem joga muita bola! Depois de dois empates, a taça parecia estar mais inclinada para os lados do sul do país. Mas com um gol de Nunes logo no começo da partida, o Flamengo se sagrou Bi-campeão Brasileiro sobre um time fortíssimo, que viria a conquistar a Taça Libertadores do ano seguinte. Com a conquista, todos os títulos possíveis de serem conquistados naquele momento tinham o Flamengo como seu detentor, o clube era então o Campeão Carioca, Campeão Brasileiro, Campeão Sul-Americano e Campeão Mundial.

Flamengo no Brasileiro de 1982
Raul, Leandro, Marinho, Mozer (Figueiredo) e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico
Téc: Paulo César Carpegiani
Banco: Cantareli, Vítor, Chiquinho e Popéia

Para o Campeonato Carioca de 1982 o torneio pela primeira vez passou a ser dividido em dois turnos: mantendo-se a Taça Guanabara como 1º turno, e o 2º turno passando a se chamar Taça Rio. Os campeões dos dois turnos faziam a final, que poderia vir a ser um triangular caso um outro clube fizesse a melhor campanha na soma geral sem que fosse o campeão de um dos dois turnos. Este modelo perduraria pelas duas décadas seguintes.

A base do vitorioso elenco rubro-negro foi mantida, ainda que tenham saído alguns nomes no ataque para desinflar o grupo: o ponta-direita Chiquinho, que havia chegado do Olaria, foi para o Guarani, de Campinas; o centroavante Reinaldo Potiguar seguiu para o Vila Nova, de Goiás, e Anselmo foi cedido ao Comercial de Ribeirão Preto. Como reforços, foram contratados dois jogadores: o meia Zezé, do Guarani, e o ponta-direita Wilsinho, do Vasco.

A campanha rubro-negra começou avassaladora. Nas primeiras rodadas, goleadas por 5 x 2 no Campo Grande, 4 x 0 na Portuguesa e 8 x 0 no Madureira. Vitórias por 3 x 0 sobre Botafogo e Fluminense. Nos nove primeiros jogos, o time só não venceu uma vez, uma derrota de 1 a 0 para o Americano, em Campos. Nas duas últimas rodadas do 1º turno, empates com Bangu e Vasco. Na final da Taça GB, uma vitória por 1 x 0 sobre o Vasco, com gol de Adílio, e o Flamengo se consagrou Penta-campeão da Taça Guanabara: 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982.


No 2º turno, o time caiu de produção. Perdeu para Campo Grande e Portuguesa, e empatou com o Volta Redonda. Na reta final, ainda foi derrotado por Fluminense, América e Vasco. Entrou então na disputa do Triangular Final para a definição do Campeão Carioca. O triangular foi disputado por Flamengo (campeão da Taça Guanabara), América (campeão da Taça Rio) e Vasco (melhor campanha na soma dos dois turnos). Nas duas primeiras rodadas, Vasco e Flamengo venceram ao América, do centroavante Luisinho Lemos, por 1 x 0, e assim o título foi decidido num "Clássico dos Milhões" que levou mais de 113 mil pessoas ao Maracanã. Com o Flamengo dominante no Rio de Janeiro entre 1978 e 1982, os cruzmaltinos queriam vingança após a final de 81. E foi aos 3 minutos do 2º tempo que o ponta-esquerda Marquinho marcou o gol que sacramentou a vingança vascaína, deixando o time rubro-negro com o vice-campeonato. A péssima campanha na Taça Rio, e a derrota na final, talvez tenham sido o primeiro indício de que a "Era de Ouro do Flamengo" estava próxima de seu fim. Ainda assim, um último suspiro estava reservado para o semestre seguinte.

Flamengo no Carioca de 1982
Cantareli, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico
Téc: Paulo César Carpegiani
Banco: Raul, Mozer, Vítor, Peu e Wilsinho

Paralelamente ao Carioca, o Flamengo disputou a Libertadores de 82. Como campeão da edição de 81, entrou direto no triangular semi-final. Pegou um grupo dificílimo, cujo vencedor avançava à final. Pela frente, o campeão argentino, River Plate, e o vice-campeão uruguaio, o Peñarol, que na 1ª fase havia eliminado a Grêmio e São Paulo. Na estreia, o time perdeu por 1 x 0 para o Peñarol, em Montevidéu. Na 2ª rodada, recuperou-se e ganhou moral, batendo ao River Plate por 3 x 0 dentro do Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, com gols de Lico, Zico e Nunes. Na 3ª rodada, o Peñarol também venceu ao River Plate dentro da capital argentina. No fim do turno, os uruguaios lideravam o grupo com 4 pontos e o time rubro-negro tinha 2. Na 4ª rodada, uma imponente vitória rubro-negra por 4 x 2 sobre o River Plate no Maracanã. Os argentinos não conseguiram tirar ponto de ninguém, já matematicamente eliminados, ainda foram a Montevidéu e perderam por 2 x 1 para os uruguaios.

Na última rodada, o Peñarol jogava por um empate no Rio para avançar à final, já o Flamengo precisava vencer para forçar um jogo-desempate em campo neutro. Diante de 91 mil torcedores, a camisa amarela e negra impôs sua grande tradição na América do Sul e venceu por 1 x 0, gol do brasileiro Jair, aos 25 minutos do 1º tempo, acabando com o sonho rubro-negro de disputar sua segunda final continental consecutiva. Na final, o Peñarol venceu ao Cobreloa e se sagrou campeão da Libertadores.

Flamengo na Libertadores de 1982
Cantareli, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Andrade, Adilio e Zico; Tita, Nunes e Lico
Téc: Paulo César Carpegiani
Banco: Raul, Mozer, Vítor, Peu, Popéia, Wilsinho e Ronaldo Marques

Para a temporada de 1983 o clube decidiu mexer no ataque. Nunes, apesar do gol do título brasileiro do ano anterior, havia caído muito de produção, deixando de balançar as redes. A principal aposta para a temporada então foi a troca na camisa 9, Nunes saiu cedido por empréstimo ao Botafogo, e chegou ao clube o centroavante Baltazar, goleador que havia se destacado pelo Grêmio, e estava no Palmeiras. Por outro lado, o clube decidiu ceder Tita por empréstimo ao Grêmio. Mudança também na opção para a ponta-direita com um troca-troca com o Fluminense, no qual Wilsinho seguiu para as Laranjeiras e Robertinho aportou na Gávea. Um último reforço pontual chegou ao clube, o lateral-direito Cocada, contratado ao Operário de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul. De resto, uma nova leva de talentos emergidos da equipe sub-20 chegou, da qual faziam parte o zagueiro Ademar, o volante Bigu, os meias Gilmar, Élder e Júlio César Barbosa, e o atacante Bebeto, que havia chegado ao clube pouco antes oriundo do Vitória, da Bahia.

O Brasileiro de 1983 teve um formato parecido ao de 1982, a principal mudança foi que o mata-mata começava nas quartas de final e não nas oitavas. Na 1ª fase, os 40 clubes foram divididos em 8 grupos de 5, com os três primeiros avançando, os quartos disputando uma repescagem, e os quatro primeiros da 2ª divisão entrando na fase seguinte. Na 2ª fase restavam 32 clubes, divididos em 8 grupos de 4, com os dois primeiros avançando a uma 3ª fase, quando 16 times se dividiam em 4 grupos de 4, e os dois primeiros de cada grupo avançavam às quartas de final, passando daí para frente o campeonato a ser um mata-mata.

Na 1ª fase, o Flamengo largou mais uma vez sem fazer pré-temporada, e ainda haveria a disputa da Taça Libertadores da América, desta vez jogada no primeiro semestre. Na estreia no Campeonato Brasileiro, vitória sobre o Santos por 2 x 0 no Maracanã. Depois, também em casa, um empate por 1 x 1 com o Moto Clube, do Maranhão, seguido por um empate, em Manaus, por 1 x 1 com o Rio Negro. Para fechar o turno, venceu ao Paysandu por 3 x 2 em Belém do Pará. Com a campanha fraca, emergiam muitas críticas ao técnico Carpegiani.

No returno, o time foi a São Luís e mostrou que o jogo no Maracanã tinha sido apenas um acidente de percurso, não tomando conhecimento e goleando ao Moto Clube por 5 x 1. Na sequência, uma nova goleada, por 7 x 1 sobre o Rio Negro no Maracanã, onde o time também venceu ao Paysandu por 3 x 2. As críticas foram silenciadas. Na última rodada, já classificado, o time perdeu para o Santos por 3 x 2 no Morumbi. Logo depois do primeiro jogo na 2ª fase, uma vitória por 3 x 1 sobre o Tiradentes, em Teresina, no Piauí, a diretoria foi informada que Paulo César Carpegiani havia aceitado uma proposta milionária do Al Nassr, da Arábia Saudita, e estava deixando o clube. O time passou a ser treinado, interinamente, por Carlinhos - então treinador do time sub-20 - que assumia ali, pela primeira vez de muitas, à equipe rubro-negra. Seguiu-se uma derrota por 3 x 1 para o Palmeiras no Morumbi, e depois três jogos seguidos no Maracanã - vitórias por 3 x 0 sobre o Americano e por 2 x 0 no Tiradentes, e empate em 1 x 1 com o Palmeiras - que garantiram a classificação. Na última rodada, um empate por 2 x 2 contra o Americano em Campos.

Figueiredo, Andrade, Leandro, Zico e Júnior

Para a 3ª fase, chegou um novo treinador. A aposta era na liderança de Carlos Alberto Torres, um técnico que ainda tinha pouca experiência na beira do campo, mas que tinha o respeito de ter sido o capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1970. O grupo tinha Goiás, Guarani e Corinthians, e só dois avançavam às quartas. O time venceu ao Goiás, em casa, por 2 x 0, e empatou fora com o Guarani, por 0 x 0. Para fechar o turno, aplicou uma goleada por 5 x 1 sobre o Corinthians no Maracanã. No returno, empatou em Goiânia por 1 x 1 e venceu ao Guarani por 2 x 0, garantindo a classificação. Na última rodada, em São Paulo, sofreu a forra corinthiana, acabando goleado por 4 x 1.

O adversário do desacreditado time rubro-negro nas quartas de final foi o rival Vasco da Gama. Foi um duelo duríssimo. No primeiro jogo, uma vitória rubro-negra por 2 x 1, e no segundo um empate por 1 x 1 e a classificação à semi-final para enfrentar ao Atlético Paranaense, que havia eliminado ao São Paulo. No primeiro jogo, o Flamengo se impôs no Maracanã e venceu por 3 x 0. Ninguém acreditava que fosse possível reverter este resultado em Curitiba. Mas não foi fácil, e ainda deixou evidente o quanto o time flamenguista era oscilante. O Atlético venceu por 2 x 0, e vendendo caro a eliminação.

Mais uma final, desta vez diante do Santos de Pita, Paulo Isidoro, Serginho Chulapa e João Paulo. A primeira partida foi no Morumbi. Com gols de Pita e Serginho, os santistas abriram 2 x 0. Mas, providencialmente, o Flamengo diminuiu com gol de Baltazar aos 22 minutos do 2º tempo. Agora, o time precisava vencer por dois gols no Maracanã para se sagrar pela terceira vez campeão nacional. No Maracanã - diante do maior público da história do Campeonato Brasileiro, com mais de 155 mil pagantes - Zico abriu a contagem antes do relógio completar um minuto de jogo. No fim do 1º tempo, Leandro ampliou e deixou o Flamengo perto do título. No 2º tempo houve uma enorme pressão do alvi-negro praiano, que buscava o gol que lhe manteria na disputa. Foi uma segunda etapa de emoções fortes, até que Adílio, aos 44 minutos do 2º tempo, fez o terceiro, aliviando os corações rubro-negros. Flamengo, Tri-campeão! E fim de jogo com briga generalizada dentro de campo entre os jogadores santistas e os jornalistas cariocas. O criticado time rubro-negro, já bastante desfigurado frente ao que fora campeão de tudo que era possível, voltava a dar alegria aos flamenguistas. Mas a festa duraria muito pouco: poucos dias após a conquista foi anunciado que Zico havia sido vendido para a Udinese, da Itália. A saída do Galinho decretava definitivamente o fim daquela Era de Ouro.

Flamengo no Brasileiro de 1983
Raul, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Vítor, Élder, Adílio e Zico; Júlio César Barbosa (Robertinho) e Baltazar
Téc: Paulo César Carpegiani, depois Carlos Alberto Torres
Banco: Cantareli, Mozer, Andrade, Édson e Lico

Em paralelo à disputa do Brasileiro, o Flamengo jogou a Taça Libertadores. Seu grupo na 1ª fase era formado pelo Grêmio, e pelos bolivianos Blooming e Bolivar. Só um avançava à 2ª fase. Na 1ª rodada, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, conseguiu um empate por 1 x 1 contra o Grêmio. Na sequência o time viajou para dois jogos na Bolívia, e já sem Carpegiani, que havia pedido demissão e aceito uma proposta para ir trabalhar no futebol árabe. Com Carlinhos interinamente como seu treinador, no seu 2º jogo o time foi a Santa Cruz de la Sierra enfrentar ao Blooming e ficou num empate sem gols, no jogo seguinte, não resistiu à altitude de La Paz e foi derrotado por 3 x 1 pelo Bolivar. A passagem pela Bolívia foi catastrófica. Nos jogos de volta, já com Carlos Alberto Torres como seu novo técnico, eram três partidas seguidas o Maracanã. O time goleou ao Blooming por 7 x 1 e ao Bolivar por 5 x 2, mas faltando uma rodada, o Grêmio tinha 9 pontos e o Flamengo tinha 6, não podendo mais alcançar ao rival, já que nestes tempos a vitória ainda valia apenas dois pontos. O jogo da última rodada era um mero amistoso no Maracanã, que acabou com vitória gremista por 3 x 1.

Flamengo na Libertadores de 1983
Raul, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Vítor, Élder, Adilio e Zico; Robertinho e Baltazar
Téc: Paulo César Carpegiani, depois Carlos Alberto Torres
Banco: Luís Alberto, Cocada, Mozer, Andrade, Júlio César Barbosa, Felipe e Édson

No meio do ano de 1983, o Flamengo foi convidado para jogar o Mundialito de Clubes, um pentagonal em Milão, na Itália, reunindo as três mais tradicionais equipes do Campeonato Italiano - então a liga mais rica do mundo - junto aos campeões das duas edições anteriores da Copa Libertadores da América (Flamengo em 1981 e Peñarol em 1982). Era a primeira vez do Flamengo após a saída de Zico. Para tentar suprir sua ausência, e dar força ao meio de campo, Júnior foi deslocado para fazer o meio ao lado de Andrade e Adílio.

Na primeira partida, o time rubro-negro venceu à Internazionale por 2 x 1. Folgou na segunda rodada, e na terceira empatou com o Milan por 1 x 1. Com os resultados, estava na vice-liderança, dois pontos atrás do Peñarol, seu adversário na rodada seguinte. O Flamengo venceu por 2 x 0, assumindo a liderança, com o mesmo número de pontos dos uruguaios, que não atuariam mais, e um a frente da Juventus. Assim, o duelo final contra a equipe de Turim valia o título da competição, com a vantagem do empate sendo rubro-negra. Aquela poderosa Juve, cujos destaques eram o francês Michel Platini e o polonês Boniek, ainda tinha vários nomes da Seleção da Itália, como Gentile, Scirea, Cabrini, Tardelli e o centroavante Paolo Rossi. Platini abriu a contagem logo aos 11 minutos, mas Adílio empatou seis minutos depois. No 2º tempo, aos 16 minutos, Boniek fez o gol que deu a vitória e o título à equipe de Turim.

Flamengo no Mundialito de 1983
Raul, Leandro, Marinho, Figueiredo e Ademar; Andrade, Júnior e Adílio; Robertinho, Baltazar (Peu) e Júlio César Barbosa
Téc: Carlos Alberto Torres

O clube entrou em ebulição após a venda de Zico, culminando com a renúncia do presidente Antônio Augusto Dunshee de Abranches. Para o segundo semestre, tentando compensar a perda de seu ídolo, e com os cofres avolumados pelos recursos recebidos da Udinese, a diretoria buscou um pacote de reforços considerados de peso. Tita voltou do empréstimo ao Grêmio, para ocupar a camisa 10 como sempre quis, atuando na posição original em que jogava no sub-20. Para o ataque chegaram quatro reforços: Lúcio, Edmar, Cláudio Adão e Cléo. Lúcio era um ponta-direita veloz, que havia se destacado pela Ponte Preta, e estava no rival de Campinas, o Guarani; o centroavante Edmar havia chamado atenção nacional como goleador do Cruzeiro, e chegava após uma temporada vestindo a camisa do Grêmio; e o meia Cléo havia tido muito destaque pelo Internacional, a ponto de ter sido contratado pelo Barcelona, mas sem sucesso na Espanha, regressou ao Brasil para defender ao Palmeiras, onde não jogou bem, sendo enviado por empréstimo ao Flamengo. A peça final do caro "pacote de estabilização política" foi o regresso ao clube de Cláudio Adão. Depois de deixar a Gávea em 1980, ele havia vestido as camisas de Botafogo, Fluminense e Vasco, jogado também pelo Áustria Viena, e estava defendendo ao Benfica, de Portugal. Com estes cinco nomes incorporados à linha de frente do elenco, esperava-se que a saída de Zico fosse ser amenizada.

A caminhada no Carioca de 83 começou mal. Logo na primeira rodada, o time foi derrotado por 2 a 1 pelo Goytacaz, em Campos. O time ainda empataria com o Fluminense e seria derrotado por 3 x 0 pelo Botafogo. Após seis rodadas da Taça Guanabara, a diretoria decidiu pela demissão do técnico Carlos Alberto Torres. Interinamente, o time foi comandado pelo preparador físico, José Roberto Francalacci, num período de resultados catastróficos, em quatro partidas, um empate com o Bonsucesso, uma derrota para o América, uma vitória sobre o Campo Grande, e uma vexatória e acachapante goleada sofrida para o Bangu, quando apenas 5 mil pagantes viram os alvi-rubros massacrarem o time rubro-negro por 6 x 2, com quatro gols marcados pelo meia Arturzinho.

Despedaçado, o clube enfim definiu seu novo treinador, e a aposta foi na contratação do treinador que liderava aquele Campeonato Carioca: aportava na Gávea o gaúcho Cláudio Garcia, que havia acabado de conquistar a Taça Guanabara pelo Fluminense. Seduzido por uma oferta financeira superior do Flamengo, o técnico decidiu trocar as Laranjeiras pela Gávea. E ele arrumou o time, dando-lhe o título do 2º turno. A grande ironia de tudo, é que Cláudio Garcia viria a ser campeão da Taça Guanabara e da Taça Rio de 1983, mas não seria o campeão carioca de 83.

Adílio e Mozer

A estreia do novo treinador foi na última rodada do 1º turno, com uma derrota de 1 x 0 para o Vasco. A campanha rubro-negra na Taça Guanabara havia sido péssima, em 11 jogos, o time venceu 4, empatou 2 e perdeu 5. No 2º turno, o novo técnico deu cara nova ao time, que já começou com três vitórias seguidas, contra Goytacaz, Fluminense e Volta Redonda. Na 4ª rodada, um tropeço, uma derrota por 1 x 0 para o Americano, em Campos. Mas se seguiram mais quatro vitórias consecutivas, sobre São Cristóvão, Botafogo, América e Bonsucesso. Mais um tropeço, com derrota por 1 x 0 para o Campo Grande no Maracanã, e duas vitórias nas duas últimas rodadas, sobre Bangu e Vasco. Vencendo todos os clássicos disputados, o Flamengo se sagrou campeão da Taça Rio ao voltar a vencer ao Bangu na final.

O título do Estadual foi definido num Triangular Final entre Fluminense (campeão da Taça Guanabara), Flamengo (campeão da Taça Rio) e Bangu (melhor campanha na soma dos dois turnos). Após o empate entre Fluminense e Bangu no primeiro jogo, no Fla-Flu que se seguiu o empate sem gols perdurou até os 45 minutos do 2º tempo. O resultado praticamente acabava com as chances de título tricolor, que teria que torcer por um empate na última rodada, para forçar num novo triangular de desempate.

No entanto, já nos descontos, Assis marcou o gol tricolor que acabou matematicamente com qualquer chance rubro-negra de título. Se o Bangu vencesse ao Flamengo na última rodada, o time alvi-rubro forçaria um jogo extra contra o Fluminense para decidir o título. Um empate ou uma vitória rubro-negra dava o título ao time tricolor. Em outros tempos, haveria polêmica se o Flamengo facilitaria a vida do Bangu para derrubar os tricolores. Mas a coisas não eram assim naqueles tempos, o Flamengo venceu ao Bangu e o Fluminense foi o campeão.

Flamengo no Carioca de 1983
Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Tita; Lúcio (Robertinho), Edmar e Cléo
Téc: Carlos Alberto Torres, depois Cláudio Garcia
Banco: Abelha, Marinho, Vítor, Lico, Baltazar, Cláudio Adão e Júlio César Barbosa


O Flamengo foi dominante no futebol brasileiro no período de 1978 a 1983. Neste período, em 7 edições disputadas do Campeonato Carioca, o título foi rubro-negro em 4 delas - mais da metade - tendo os outros três sido dois do Fluminense e um do Vasco. A nível nacional, nas 6 edições de Campeonato Brasileiro o título foi rubro-negro na metade delas, com os outros três ficando com Grêmio, Internacional e Guarani. Foram seis anos nos quais o Flamengo viveu uma Era de Ouro de seu futebol, tendo ainda conquistado a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes.

Em função da grandiosidade do domínio rubro-negro neste período, passou a ser muito comum encontrar opiniões de que o Flamengo só é "o Flamengo da maior torcida do Brasil" por causa da "Era Zico" e das conquistas dos Anos Dourados da Gávea. Isto é balela! As raízes que levaram o Flamengo a ter a maior torcida do Brasil já estavam plantadas muito antes desta fase. Se Zico e sua geração, sozinhos, fossem capazes de transformar o Flamengo no clube de futebol mais popular do Brasil, por que a torcida do Santos não se tornou a maior do Brasil? Afinal, ninguém superou as conquistas do Santos de Pelé no futebol brasileiro, tendo a era de ouro do clube paulista acontecido justamente no momento no qual a nascente tecnologia das transmissões televisivas levava as imagens do futebol para todo o território nacional. Aquele poderoso ataque de Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe arrastava multidões por onde passava - no Brasil e no exterior - tendo inclusive lotado o Maracanã diversas vezes em jogos contra equipes estrangeiras. Ainda assim, o alvi-negro praiano, com toda sua grandeza e todas as suas conquistas nos Anos 1960, jamais figurou entre os mais populares do país.

Esta falsa verdade - fruto de uma percepção completamente equivocada dos fatos - tem relação com dois fatores, preponderantes para este erro de interpretação, sendo eles: (1) a primeira vez em que foi medido o tamanho das torcidas a nível nacional por um instituto de análises estatísticas, seguindo a metodologia de pesquisas de intenção de votos nas Eleições Presidenciais, foi em 1983, em plena Era de Ouro e de conquistas da Era Zico; (2) na segunda pesquisa de dimensionamento de torcidas, em 1993, o percentual de flamenguistas caiu abruptamente em relação à pesquisa de 83, e isto levou a interpretações equivocadas (o resultado de 83 foi sim influenciado pela Era Zico, inflando os dados apurados naquela primeira vez).

O número de torcedores do Flamengo na pesquisa de 1983 ficou certamente inchado, e sem dúvidas isto é um efeito de todas as glórias acumuladas pelo clube entre 1978 e 1983. Os números da pesquisa de 1993 são mais corretos e refletem uma tendência que se confirmou nas 16 outras pesquisas que foram feitas nos 20 anos seguintes. Resultados com as mais diversas amostragens e metodologias, por diferentes institutos de pesquisa e encomendadas pelos mais diferentes órgãos de imprensa esportiva, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro. O resultado médio destas 16 pesquisas, feitas entre 1993 e 2011, aponta o Flamengo tendo 17,15% da torcida no Brasil e o Corinthians tendo 12,76%. Estatisticamente eram estes os intervalos de confiança: Flamengo entre 15,67% e 18,64%, e o Corinthians entre 11,23% e 14,28%. Uma paixão inabalável, uma estatística inquestionável e uma verdade incontestável: o Flamengo sempre teve a maior torcida do Brasil.

E onde isto está melhor registrado é justamente na matéria de 1983 da Revista Placar - responsável por ter encomendado aquela primeira pesquisa - pelas palavras da edição 682, aquela que trouxe os resultados da primeira pesquisa feita a nível nacional, e que assim iniciou seus comentários sobre o resultado: "A vitória rubro-negra (na pesquisa) serve para confirmar o que sempre se suspeitou. E o mesmo se pode dizer do segundo lugar conseguido pelo Corinthians". Complementando: "Embora o Flamengo sempre fosse o time de maior popularidade do país, parece claro que os inúmeros títulos que conquistou recentemente contribuíram para aumentar sua legião de fãs". As razões que fizeram do Flamengo o clube de futebol mais popular do Brasil são inúmeras, remontam ao Rio de Janeiro como a capital federal num período histórico de formação da identidade do Brasil como nação. Mesmo sem seu rei, Zico, e sem as vitórias desta era vivida entre 1978 e 1983, o Flamengo seria o primeiro em popularidade nacional.

Aquele período de vitórias seria marcante também para os anos seguintes da vida do clube, nos quais politicamente a busca incessante passou a ser por se repetir o que se havia conseguido naquele período de seis anos de glória, e em muitas das vezes tendo sido feitos sacrifícios que aumentaram a vulnerabilidade financeira, acabando por gerar um efeito contrário, fomentando fracassos. Lições que o clube levaria alguns anos para aprender e reverter.


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