ZICO: o Menino Prodígio
Carreira: 1971-1983 Flamengo; 1983-1985 Udinese (Itália); 1985-1989 Flamengo; 1991-1992 Sumitomo Metals (Japão); 1992-1994 Kashima Anthlers (Japão)
O maior artilheiro da história do Flamengo! Nenhum jogador fez mais gols do que ele com a camisa rubro-negra! Zico não cansava de quebrar recordes. Com 22 anos, já tinha feito mais de 100 gols. Com 24, já era o segundo maior artilheiro da história do Flamengo. Em 1979, com 26 anos, bateu vários recordes: superou Dida e tornou-se o maior artilheiro da história rubro-negra, superou os 300 gols (viria a superar os 500) e com 81 gols tornou-se o recordista máximo de gols numa única temporada. E ainda houve mais um recorde em 79: foi a 6ª temporada consecutiva como artilheiro rubro-negro no ano. Cinco vezes consecutivas como artilheiro do Flamengo na temporada só Nonô entre 1921 e 1925, e Pirilo entre 1941 e 1945, haviam conseguido. Silvio Pirilo chegou a uma sexta vez, em 1947 (em 1946, Perácio fez mais que ele). Leônidas da Silva foi por quatro temporadas (entre 1937 e 1940). Zico chegou à sua 6ª vez consecutiva, de 1974 a 1979, algo que ninguém havia conseguido na Gávea (ele ainda viria a ser o artilheiro rubro-negro nas temporadas 1980, 1982 e 1983). Ele poderia ter se dado por satisfeito, mas, para felicidade rubro-negra, os tempos áureos sequer haviam começado em 79, e ele não parou por aí, as maiores conquistas ainda estavam por vir... como o próprio Zico afirmou em sua biografia: "era preciso matar um leão por domingo".
Nestes tempos, havia quem afirmasse que ele era craque de laboratório (em alusão ao tratamento para que ele ganhasse massa muscular, feito pelo departamento médico do Flamengo). A imprensa de São Paulo contestava sua presença na Seleção Brasileira: Zico seria apenas jogador de Maracanã. Só quando ele foi três vezes campeão brasileiro, uma vez da Libertadores e uma vez do Intercontinental, é que estes argumentos caíram. Na Copa do Mundo de 1982, ele formou um dos maiores meios de campo da história do futebol – Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico – mas não conquistou o Mundial. O Galinho era um craque completo! Os números só confirmam aquilo que os olhos contemporâneos a seus dias de glória tiveram a felicidade de ver ao vivo.
Como jogador do Flamengo, ele fez 732 jogos e marcou 513 gols. O Maior Artilheiro da História do Maracanã: deixou sua marca 333 vezes nas redes do estádio, um recorde que ainda não foi quebrado - e nunca será! - por nenhum outro jogador.
Abaixo, pedaços combinados de vários diferentes textos na internet falando sobre a carreira do jogador vão sendo somados a dois textos principais, escritos por Sinclair Cechine e publicado no CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV (Fundação Gestúlio Vargas), e por Murillo Moret para o site "Calciopedia":
Arthur Antunes Coimbra nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 3 de março de 1953. Filho do alfaiate português - e torcedor do Flamengo - José Antunes Coimbra e de Matilde Silva Coimbra. O seu avô materno, Arthur Ferreira da Costa Silva, nasceu em Oliveira de Azeméis, em Portugal, e emigrou para o Brasil em finais do Século XIX. No Rio de Janeiro, mais exatamente no bairro de Quintino, criou uma fábrica de cerâmica. A mãe de Zico, Matilde Ferreira da Costa Silva (seu nome de solteira), já nasceu no Brasil. Pelo lado paterno, o avô, Fernando Antunes Coimbra, viveu a maior parte da sua vida em Tondela, em Portugal, onde nasceu, em 1901, José Antunes Coimbra, pai de Zico. A família emigrou para o Brasil quando ele tinha apenas 10 anos. Em Quintino, Seu Antunes trabalhou em padaria, mas já estava dedicado ao ofício de alfaiate no terceiro ano da década de 50. Já Dona Matilde, a Tidinha, era a responsável por organizar a casa, que acabava de ganhar um reforço. Pela ordem, a família Antunes Coimbra já contava com Maria José (Zezé), José Antunes (Zeca), Fernando (Nando), Eduardo (Edu) e Antônio (Tunico). Exatamente na sétima badalada matinal mais um menino chegou ao mundo: às 7h do dia 3 de março de 53, na casa 7 da Rua Lucinda Barbosa, no subúrbio de Quintino Bocaiúva, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nasceu o sexto filho: Arthur.
Registrado com o nome de Arthur Antunes Coimbra, o menino era chamado inicialmente de Arthurzinho. Com o passar do tempo, Arthurzinho virou Arthurzico. Até que uma prima chamada Ermelinda o passou a chamar de Zico. E pegou! Para a história!!
O menino Arthurzico com os garoros na rua em Quintino
em 1956, Zico é o mmenorzinho, último da fila, loirinho
Dois de seus irmãos viraram jogadores de futebol profissional. O mais velho deles, Antunes, jogou no Fluminense de 1963 a 1965, no América em 1966 e 1967, e no Olaria em 1968 e 1969. Já Edu Coimbra defendeu a camisa 10 do América de 1966 a 1974, sendo um dos maiores, se não o maior, ídolo da história rubra. Depois ainda passou sem brilhar por Vasco, Bahia, Flamengo, Colorado (do Paraná), Joinville, Brasília e Campo Grande. Na Gávea, atuou pouco, e ao lado de Zico: foram 24 partidas e 6 gols marcados com a camisa rubro-negra entre outubro de 1975 e junho de 1976. Edu também foi técnico, tendo comandado, inclusive, à Seleção Brasileira durante o ano de 1984, numa passagem que durou apenas três jogos.
Zico desde criança jogou futebol de campo no Juventude, de Quintino. Ingressou também para jogar futebol de salão no River Futebol Clube, do bairro da Piedade. Em 1967, aos 14 anos, ingressou nas categorias de base do Flamengo, levado pelo locutor esportivo Celso Garcia, que havia sido convidado por Ximango - um amigo da família Antunes Coimbra - para ver um jogo de salão no River. Ele queria mostrar um garoto para Celso, que viu Zico arrebentar! O garoto marcou 9 gols na maiúscula vitória de 14 x 0. E foi por muito pouco que Zico não foi parar no América - ressaltando que os dois irmãos estavam jogando lá naquele momento - já que o irmão Edu havia acertado tudo, naquela mesma semana, com a escolinha do clube para que Zico passasse a treinar lá. Mas a paixão pelo Flamengo falou mais alto. Celso Garcia apareceu na hora certa! E o vermelho e o preto entraram na vida do "Galo".
A família Antunes Coimbra, na casa de Quintino
Devido ao corpo franzino, com pouco mais de 40 quilos aos 17 anos, Zico enfrentou dificuldades para se firmar como atacante. Por iniciativa do técnico Joubert, do médico José Paula Chaves e do preparador físico José Roberto Francalacci, submeteu-se a uma série de exercícios e a uma disciplina alimentar capazes de lhe proporcionar o porte físico necessário para enfrentar aos adversários. No Maracanã, em 1970, recebeu as chuteiras de Carlinhos, "o Violino", em seu jogo de despedida do futebol, numa partida entre Flamengo e América que terminou empatada em 0 a 0. O jovem magrinho e pequenino tinha acabado de completar 17 anos e já era considerado um garoto de futuro bastante promissor.
Estreou no time profissional do Flamengo numa partida contra o Vasco da Gama, válida pela Taça Guanabara, no dia 27 de janeiro de 1971. Seu físico ainda mirrado, sua agilidade e seu espírito de luta levaram o locutor esportivo Waldir Amaral a apelidá-lo de "Galinho de Quintino". Entre 1971 e 1973, ficou entre idas e vindas entre os juvenis e o profissional. Foi Bi-Campeão Carioca Juvenil (sub-20) em 1972 e 1973, num time que também tinha a Cantareli, Jayme de Almeida, Rondinelli, Júnior, Geraldo e Rui Rei. No profissional, chegou a entrar em dois jogos durante a campanha que fez do clube o Campeão Carioca de 1972. Mas só se firmou mesmo no elenco a partir de 1973.
O sucesso não tardou a chegar, ele logo se mostrou um fenômeno! Era titular no time Campeão Carioca de 1974, e no Campeonato Brasileiro de 74 recebeu seu primeiro Troféu Bola de Ouro da Revista Placar, o primeiro prêmio de uma série recebida ao longo da carreira. Entre 1973 e 1983, o habilidoso camisa 10 conquistou 22 títulos com a camisa rubro-negra!
No início, entretanto, teve que se contentar com o domínio dos rivais no Rio de Janeiro: o Fluminense foi bi-campeão carioca em 1975 e 1976 e o Vasco foi o campeão em 1977, batendo ao Flamengo nos pênaltis. Se fossem tempos de "imediatismo de resultado" no futebol, possivelmente teriam contestado sua capacidade, e possivelmente não teria havido paciência suficiente para dar tempo de maturação àquela geração que conquistou tudo entre 1978 e 1983: Penta-Campeão da Taça Guanabara em 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982; Tri-Campeão Carioca em 1978, 1979.I e 1979.II, e voltando a ser Campeão Carioca em 1981; Campeão Brasileiro em 1980, 1982 e 1983; Campeão do Troféu Palma de Mallorca em 1978, vencendo a Real Madrid e Rayo Vallecano; Bi-Campeão do Troféu Ramón de Carranza em 1979 e 1980, em 79 batendo a Barcelona e Ujpest, e em 80 a Real Bétis e Dínamo Tbilisi; Campeão do Troféu Ciudad de Santander em 1980; Campeão do Torneio de Nápoles em 1981; Campeão da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes, sobre o Liverpool, em 1981.
Naquele fim de Anos 1970, a voz do cantor Jorge Ben entoava o refrão da música que compôs para o craque: "É falta na entrada da área / Adivinha quem vai bater? / É o camisa 10 da Gávea". Já Moraes Moreira entoou outra canção: "A gaitinha vai tocar / Como no tempo de Ari Barroso / Pra comemorar mais um gol / Desse meu vitorioso Flamengo / Esse Flamengo de agora / Faz lembrar aquele do tri / Quem conhece a sua história diz: / Assim eu nunca vi! / Tem quem jogue com a cabeça / E usando a intuição / E é bom que sempre aconteça / Na hora da decisão / Tem quem tem intimidade / Quem sabe e quem conhece / E com rara habilidade / Dá o trato que ela merece / Escravizando a pelota / No peito e bota no chão / Faz um lançamento longo / Lance de grande emoção / Tem quem tem raça e tem fé / Quem mantém a tradição / E acima de tudo é / Rubro-negro de coração! / E a galera canta! / Flamengo eu sou teu fã / Grito de gol levanta / Sacode o Maracanã! / E a galera canta! / Flamengo eu sou teu fã / Grito de gol levanta / Sacode o Maracanã!".
Em 1976, Zico conquistou seus primeiros títulos com a Seleção Brasileira, nos Torneios Bi-centenário dos Estados Unidos, Copa Roca e Taça do Atlântico. Posteriormente, foi convocado pelo treinador Cláudio Coutinho para disputar sua primeira Copa do Mundo, em 1978 na Argentina. Em sua primeira Copa, marcou de cabeça no último minuto diante da Suécia, mas o gol foi anulado pelo árbitro Clive Thomas, do País de Gales, que decidiu encerrar a partida enquanto a bola estava no ar durante a cobrança. A partida, válida pela 1ª rodada da Fase de Grupos, terminou empatada em 1 x 1. A Seleção Brasileira fez uma campanha instável na Fase de Grupos, e Zico chegou a perder a posição no time titular para Jorge Mendonça. Na 2ª Fase, de um grupo com Brasil, a anfitriã Argentina e Peru sairia um dos finalistas. Brasileiros e argentinos empataram sem gols, e depois o Brasil venceu ao Peru por 3 a 0. O jogo entre a Seleção Argentina e os peruanos terminou 6 a 0 para os donos da casa. Invicto, o Brasil ficou com o 3º lugar. O técnico Coutinho decretou a seleção como a "Campeã Moral", já que recaíam suspeitas sobre a venda de resultado nos 6-0.
Voando e ganhando tudo com o Flamengo, Zico superou as críticas internas no país e chegou em seu apogeu físico e técnico para disputar a Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Naquele ano, foi eleito "o craque do ano" no Brasil, faturando mais um Troféu Bola de Prata da Revista Placar. Na Seleção Brasileira formava um meio-campo fantástico ao lado de Toninho Cerezo, Falcão e Sócrates. A equipe dirigida por Telê Santana chegava à Espanha como favorita. Em amistosos, no segundo semestre de 1981 ganhou de 1 x 0 da Inglaterra no Estádio de Wembley (gol de Zico), de 3 x 1 da França no Parc des Prince em Paris, e de 2 x 1 de virada da Alemanha em Stuttgart. E começou 1982 no mesmo ritmo, vencendo duas vezes à Alemanha jogando em casa: 3 x 1 em Fortaleza e 1 x 0 no Maracanã, no Rio de Janeiro. Depois fez 3 x 1 em Portugal e 7 x 0 na Irlanda. Chegava ao Mundial em perfeita sintonia. Na 1ª Fase: 2 a 1 na União Soviética, 4 a 1 na Escócia e 4 a 0 na Nova Zelândia. Uma máquina ofensiva! Superou e eliminou à Argentina, com Maradona, por 3 a 1. Enfrentava então à Itália jogando por um empate para ir à semi-final. Paolo Rossi marcou três gols, os italianos venceram por 3 x 2 e a Seleção Brasileira foi eliminada. Como o futebol não é um exercício de justiça, o destino tratou de iluminar Paolo Rossi na triste tarde de 5 de julho de 1982 no - hoje já demolido - Estádio Sarriá.
Após a Copa do Mundo, Zico ainda veio a se tornar Campeão Brasileiro de 1983 com o Flamengo, conquistando o terceiro título nacional em quatro anos. Mas após a vitória por 3 a 0 sobre o Santos no Maracanã, que lhe deu o direito de erguer a taça, foi disparada a bomba: Zico estava vendido para o futebol italiano! Inconformada, a torcida rubro-negra não perdoou ao presidente Antônio Augusto Dunshee de Abranches, que não conseguiria terminar seu mandato na Presidência do Flamengo.
"A torcida é uma coisa muito bonita, mas cadê a grana?", assim resumiu José Antunes Coimbra, 82 anos, pai de Zico. "A proposta da Udinese era fantástica", emendou Matilde Silva Coimbra, 63 anos, a mãe do jogador. As frases são de entrevista à Revista Veja de junho de 1983. O time friulano desejava – e muito – ter Zico em seu plantel. O Flamengo não conseguiria prender ao jogador por mais tempo. O craque achava a mesma coisa. Foram dias de novela: o presidente Dunshee de Abranches simulou chorar frente às câmeras pela perda do craque, Zico afirmou que era o clube quem decidiria se ficaria ou não, e o dirigente respondeu dizendo que a decisão era do jogador. No fim, ele desembarcou na Itália.
Zico recebeu um milhão de dólares na assinatura de um contrato válido por três anos com a Udinese, ao longo dos quais ganharia outro milhão, além de salários totalizando 540 mil dólares. Eram valores astronômicos para o futebol da época! Ao Flamengo, o clube de Udine pagou 4 milhões de dólares – valor altíssimo para um clube que só havia voltado para a Série A na Itália quatro anos antes.
Porém, problemas conturbavam o aeroporto de Ronchi dei Legionari: dirigentes da Roma, clube que chegou a sondar Zico, tentaram suspender a transferência por achar que a quantia era demasiado alta. A Federação Italiana, então, bloqueou as transações que levariam Zico ao Friuli e Toninho Cerezo à Roma. Àquela altura, Zico já havia disputado um amistoso com a camisa da Udinese, justamente contra o Flamengo.
Zico foi à Itália duas vezes. Na primeira, o frisson: duas mil pessoas esperavam o "Galinho de Quintino" no aeroporto local. Depois, com o cancelamento temporário da negociação, ele voltou ao Brasil até a resolução do imbróglio, e então chegou à Itália de novo, desta vez através do aeroporto de Milão. Já em Udine, outra festa calorosa. Na mesma praça em que o presidente Lamberto Mazza havia anunciado que seriam feitos esforços para que Zico aportasse em definitivo no Friuli. O jogador foi ovacionado. Franco Marin, dono do hotel "La di Moret", primeira casa do jogador em Udine, afirmou que parecia que o Papa estava acenando para a multidão, tamanha a idolatria dos torcedores por Zico.
O nono lugar na primeira temporada foi ofuscado pela maravilhosa época individual que o jogador teve. Ele marcou 19 gols, apenas um atrás de Michel Platini, artilheiro do campeonato e da campeã Juventus, que jogou seis partidas a mais, devido à lesão do brasileiro durante um amistoso contra o Brescia.
No Brasil ou na Itália, os goleiros temiam as cobranças de falta do jogador. A maestria da batida gerava discussões em programas esportivos nos canais de televisão: "como evitar gols de Zico?". Dos 30 gols marcados com a camisa bianconera, 17 foram de bola parada. Mas dois são lembrados em especial. E foram com a pelota rolando. Em 1983, o camisa 10 marcou aos 41 minutos do segundo tempo o único gol da vitória sobre a então campeã Roma – que nunca havia sido derrotada pela Udinese. Na primeira partida no San Siro, contra o Milan, a equipe do Galinho perdeu por 3 a 2, mas ele deu assistência e marcou um gol de bicicleta.
Mas Zico não queria que a equipe dependesse apenas de si. A Udinese prometeu investir para lutar pelo scudetto, o que não aconteceu. Ele, então, começou a sonhar com o retorno ao Flamengo. Na segunda e última temporada do jogador na Itália, em 1984-85, Zico, vitimado por lesões, jogou somente 15 partidas. Na última delas, um confronto de peso: Zico e Maradona se enfrentaram num Udinese x Napoli, pela última rodada daquele campeonato. Um confronto de dois dos melhores camisas 10 da história – e dois dos três daquele período, o outro era Platini – e no qual houve muita polêmica. A partida terminou 2 a 2, com Zico participando dos dois gols, enquanto Maradona marcou dois – um, uma pintura, de falta, e o outro com a mão, antecipando a "Mão de Deus", que aconteceria um ano depois na Copa do Mundo de 86 em partida contra a Inglaterra. As câmeras não pegaram o toque de mão do argentino, e nem mesmo o árbitro Giancarlo Pirandola viu. Maradona assumiria a irregularidade anos depois. Zico reclamou muito do árbitro: ele apitara só 6 partidas na vida pela Serie A, três delas contra a Udinese, com nenhuma vitória friulana. Depois das duras reclamações contra Pirandola, Zico recebeu seis jogos de suspensão no campeonato. Uma suspensão que nunca cumpriria, porque voltaria ao Flamengo logo em seguida.
A fase estava bastante turbulenta na Itália, além da suspensão, ele foi acusado pela Justiça do país de sonegação de impostos devido a uma transação comercial que envolvia a exploração de sua imagem publicitária por uma empresa suíça, como parte do financiamento da compra de seu passe. Condenado a pagar multa e a oito meses de prisão, Zico recorreu e foi absolvido em segunda instância. Após o episódio, deixou a Itália em maio de 1985, recontratado pelo Flamengo através de um pool de empresas que garantiu a compra de seu passe.
A curta passagem de Zico pelo Campeonato Italiano foi marcante: o jornal "La Repubblica" em 2006 realizou uma pesquisa sobre os 10 maiores jogadores brasileiros na Itália. O nome de Zico apareceu em 1º lugar, seguido por Falcão, Kaká e Careca. Três anos mais tarde, ele recebeu o título de cidadão honorário de Premiaracco.
E Zico voltou ao Flamengo... em 12 de julho de 1985 ele vestiu novamente vermelho e preto numa partida festiva no Maracanã na qual o Flamengo venceu por 3 a 1 à Seleção de Amigos de Zico. Dois dias depois, o primeiro jogo oficial, válido pelo Campeonato Brasileiro de 1985: Flamengo 3 a 0 no Bahia no Maracanã. Ele jogou nas três últimas rodadas do Brasileirão. No 2º semestre começou o Campeonato Carioca, e este seria fatídico! Pela 2ª rodada do Estadual, partida contra o Bangu no Maracanã... Zico sofreu uma entrada cruel e desleal do lateral-direito Márcio Nunes que lhe causou o rompimento dos ligamentos do joelho. O craque relembrou sua dor: "Quando ele me atingiu, a perna rodou e o joelho torceu. A dor foi mais no joelho, e eu fiquei com a perna dormente porque as travas da chuteira dele romperam minha caneleira e ficaram as marcas nas minhas canelas. E eu jogava de caneleira. Foi muito forte". Dali em diante seriam diversas cirurgias, e o "Galinho de Quintino" nunca mais seria o mesmo!
Ele regressou aos campos em 12 de fevereiro de 1986, e com uma atuação de gala! Primeira rodada do Carioca de 86 com Fla-Flu no Maracanã. Goleada rubro-negra por 4 a 1, com três gols de Zico e um de Bebeto. Mas o joelho voltou a incomodar, e ele parou novamente. O Flamengo foi Campeão Carioca de 1986, mas Zico atuou em apenas 4 partidas.
Ainda assim, Telê Santana decidiu levar Zico para a Copa do Mundo de 1986. O camisa 10 regressou em alto estilo num amistoso em abril, no Estádio do Arruda, em Recife, em que a Seleção Brasileira venceu à Iugoslávia por 4 a 2, com três gols de Zico e um de Careca. Na Copa no México, ele atuou poucos minutos. Nas quartas de final, contra a França, entrou no 2º tempo quando o placar apontava 1 x 1. Aos 40 minutos do 2º tempo, Zico deu um passe primoroso para Branco, que penetrou a área e foi derrubado pelo goleiro francês Joel Bats. Careca era o cobrador, mas cedeu a bola a Zico, que não refugou em pegá-la. Antes tivesse... Zico cobrou e Bats defendeu. O Brasil perdeu a chance de vencer e avançar às semi-finais. Na disputa de pênaltis, Zico converteu sua cobrança, mas a Seleção Brasileira perdeu (4 x 3). Acabava ali a trajetória do Galinho com a camisa canarinho. Com a Seleção Brasileira, entre 1976 e 1986, atuou em 88 jogos e marcou 69 gols.
Pelo Flamengo, ele não jogou nenhuma partida pelo Brasileiro de 86. Ficou um ano sem atuar em vermelho e preto, de julho de 86 a julho de 87. Voltou para jogar os cinco últimos jogos do Carioca de 87, participando da derrota para o Vasco na final daquele campeonato. Suas últimas atuações em alto nível foram na Copa União de 1987, na qual o Flamengo voltou a ser Campeão Brasileiro, com Zico titular e atuando frequentemente. Mas ainda assim tinha que ficar algumas partidas fora pelas dores no joelho. E assim foi a rotina durante 1988 e 1989. Até que Zico decidiu que não havia mais como seguir.
No final de 1989 anunciou o encerramento de sua carreira. Aos 36 anos de idade, jogou futebol pela última vez como profissional no Brasil no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1990, numa partida festiva na qual o Flamengo empatou por 2 x 2 contra a Seleção do Mundo. A última partida oficial havia sido em 2 de dezembro de 1989, e uma despedida em grande estilo. No Estádio Municipal de Juiz de Fora, Zico abriu a contagem com uma cobrança magistral de falta no ângulo. Seu último gol com a camisa rubro-negra. O gol de abertura para a goleada histórica: Flamengo 5 x 0 Fluminense.
Assim que se aposentou, Zico foi convidado pelo Presidente da República, Fernando Collor de Melo, e tomou posse em 15 de março de 1990 como Secretário Nacional de Desportos, órgão recém-criado a partir do desmembramento do Ministério da Educação e do Desporto. Em 22 de abril de 1991, foi enviado ao Congresso Nacional um projeto de lei que passou a ser denominado "Lei Zico", cujos pontos principais eram a autorização para que os clubes se organizassem como empresas com fins lucrativos, com um prazo máximo de três anos para os contratos com os atletas, e dando o direito aos jogadores para votarem nas eleições das federações estaduais. Nesse mesmo dia, Zico pediu exoneração, sua missão política estava cumprida. Ele foi substituído no cargo pelo ex-jogador de voleibol Bernard Rajzman.
Mas a história ainda reservava um último capítulo para sua trajetória. Ele foi convidado e aceitou o desafio de comandar a profissionalização do futebol no Japão. Zico chegou em Ibaraki em 1991 ao convite do Sumitomo Metals, um clube amador. O camisa 10 não decepcionou, e em seu primeiro ano levou o time a um 2º lugar na Segunda Divisão da JSL, tornando-se o artilheiro do time com 22 gols e líder de assistência.
O Sumitomo Metals então se profissionalizou e virou Kashima Antlers. Na estréia na "J.League", a nova liga profissional de futebol japonesa, Zico foi responsável pelo primeiro gol do Kashima na história da liga. Numa partida histórica, o Kashima venceu ao Nagoya Grampus por 5 x 0, três gols de Zico e dois do também brasileiro Alcindo.
Sua passagem pelo futebol japonês em números: em 1991 com o Sumitomo Metals fez 31 jogos e marcou 27 gols, com o Kashima Antlers: em 1992 fez 12 jogos e marcou 7 gols, em 1993 disputou 23 jogos e marcou 13 gols, e em 1994 fez 7 jogos e marcou 5 gols. Sua última partida com o Kashima foi contra o Bellmare Hiratsuka. Zico marcou 2 gols, um deles de falta. E ali abandonou definitivamente as chuteiras. No futebol japonês, jogou 88 partidas, marcando 54 gols.
Após deixar os gramados, atuou ao lado de Júnior na Seleção Brasileira de Beach Soccer, num bem-sucedio projeto de globalização do futebol de praia. Os dois craques atuaram juntos com a camisa amarelinha no 1º Mundial de Beach Soccer, na Praia de Copacabana.
Zico jamais conseguiria se afastar totalmente do futebol. Foi auxiliar-técnico de Zagallo na Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo de 1998. Como treinador, trabalhou em 1999 no Kashima Anthlers, de 2002 a 2006 na Seleção do Japão, a quem dirugiu na Copa do Mundo de 2006. Após o Mundial, treinou de 2006 a 2008 ao Fenerbahce, da Turquia, na temporada 2008-09 ao Bunyodkor, do Uzbequistão, em 2009 comandou ao CSKA Moscou, da Rússia, na temporada 2009-10 ao Olimpiakos, da Grécia, e em 2011 e 2012 teve uma expreriência a frente da Seleção do Iraque. Na temporada 2013-14 treinou ao Al Gharafa, do Qatar, e entre 2014 e 2016 foi técnico por duas temporadas do Goa, da Índia. No Kashima Antlers, no Japão, foi diretor, técnico e conselheiro. No Rio de Janeiro, fundou e administrou o CFZ (Centro de Futebol Zico), no bairro do Recreio dos Bandeirantes, que chegou a disputar a Segunda Divisão do Campeonato Carioca nos Anos 1990. Trabalhou ainda como Diretor de Futebol do Flamengo em 2011. No Japão, o Imperador entregou a ele uma comenda pelos serviços prestados ao país. Um craque dentro e fora das quatro linhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário