quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Futebol do Flamengo de 1984 a 1992: a nova safra de pratas da casa


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO


A ERA DE OURO - 2ª PARTE: A NOVA SAFRA DE PRATAS DA CASA (1984 a 1992)
Craque o Flamengo continuava fazendo em casa, mas nem sempre aproveitando


Logo após a "Frente Ampla pelo Flamengo" ganhar a eleição do clube em dezembro de 1976, iniciou-se a "Era de Ouro Rubro-Negra". O auge das conquistas se deu no período entre 1978 e 1983: no Rio de Janeiro, das sete edições de Campeonato Carioca disputadas, o Flamengo foi campeão de mais da metade, e a nível nacional conquistou a metade das seis edições do Campeonato Brasileiro disputadas no período. Após a saída de Zico para a Udinese, a hegemonia flamenguista arrefeceu, entretanto, pode-se considerar que a Era de Ouro durou até 1992, pois uma nova safra de grandes nomes emergiu das divisões de base da Gávea, permitindo ao clube algumas grandes conquistas a mais. Eram nomes que já não estariam mais vestindo a camisa do Flamengo quando em 1994 formaram a base da Seleção Brasileira que conquistou a Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos: Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho e Bebeto.

Quando Zico foi vendido para o futebol italiano, a política rubro-negra entrou em ebulição, causando a renúncia do presidente Dunshee de Abranches em 1983. Porém, a sucessão após sua saída ainda ficou dentro do grupo da "Frente Ampla pelo Flamengo". Houve um pequeno racha que formou dois grupos políticos, um liderado por Márcio Braga e outro por George Helal. Estes dois grupos se sucederam no poder nas 4 eleições seguintes. Quem venceu a eleição de 83 foi George Helal (presidente de 1984 a 86), que teve como homens-fortes do futebol em sua gestão a Josef Berensztein, vice-presidente de futebol, na função executiva, e a um Gerente de Futebol, Isaías Tinoco, na função operacional. Na eleição seguinte venceu o grupo que reelegeu Marcio Braga (presidente em 1987 e 88). O Gerente de futebol, Isaías Tinoco, trocou o Flamengo pelo Vasco, e foi substituído por Luiz Henrique de Menezes. Na gestão seguinte, no biênio 1989-90, o presidente foi Gilberto Cardoso Filho, com George Helal como Vice-presidente de futebol e Josef Berensztein como Vice de Finanças. No segundo ano da gestão, 1990, tentou-se uma nova revolução administrativa, contratando-se a Francisco Horta como Gerente Executivo do Futebol para ser um Manager num modelo moderno de gestão. Horta, que fora presidente do Fluminense de 1975 a 1977, havia revolucionado o mercado do futebol ao montar a Máquina Tricolor. A escolha de Horta foi um amadurecimento do conceito de gestor profissional no futebol, que tinha tido um embrião em Domingos Bosco, que trabalhara com Horta no Fluminense. No entanto, é fundamental notar que ainda não havia no futebol brasileiro gestores profissionais nos Anos 1980, eram conceitos que estavam amadurecendo. Mas a gestão do filho de Gilberto Cardoso foi a menos vitoriosa desde que a FAF assumiu o clube em 76 e isso teve um preço. Apostou-se então na volta de Márcio Braga para o biênio seguinte, que trouxe Isaías Tinoco de volta ao clube, novamente como Gerente de Futebol. Márcio Braga pode ser considerado o presidente mais vitorioso da história do Flamengo. Foi presidente por dois mandatos consecutivos entre 1977 e 1980, conquistando o primeiro título brasileiro, e semeando o trabalho que levou aos títulos nacionais de 1982 e 1983 e aos títulos da Libertadores e do Mundial em 1981. Quando regressou ao clube para um novo mandato, o Flamengo conquistou mais um título nacional, em 1987. E quando voltou de novo, o time rubro-negro foi mais uma vez campeão brasileiro, em 1992. Um político com estrela e com liderança de vencedor.


Após o conturbado segundo semestre de 1983, culminando com o gol sofrido nos acréscimos contra o Fluminense, marcado por Assis, o clube trabalhou por reformular seu elenco para a temporada de 1984, na qual, pelo quarto ano consecutivo, teria pela frente a disputa da Taça Libertadores da América. O goleiro Raul, já com 39 anos, optou pela aposentadoria. Dos quatro nomes de peso que chegaram como reforços após a saída de Zico, dois deixaram o clube: Cláudio Adão seguiu para o Botafogo e Cléo foi devolvido ao Palmeiras. O mesmo destino teve o centroavante Baltazar, que havia chegado à Gávea no começo de 83 também por empréstimo junto ao alvi-verde paulista. Para desinflar o elenco, o lateral-direito Carlos Alberto e o zagueiro Ademar foram cedidos ao Cruzeiro, e o centroavante Ronaldo Marques foi trocado pelo meia Toninho Cajuru junto ao Botafogo de Ribeirão Preto.

A base do time montado pelo técnico Cláudio Garcia para a temporada mantinha o eixo do time que ganhou tudo na Era de Ouro, com Leandro, Figueiredo, Mozer, Júnior (de volta à lateral-esquerda), Andrade, Adílio, Tita, Lico e Nunes, que voltava ao clube após um ano emprestado ao Botafogo. Para reforçar esta base, foram adquiridos dois reforços de peso. O primeiro deles foi o goleiro argentino Fillol, titular da Argentina campeã da Copa do Mundo de 1978, que foi contratado aos Argentinos Juniors (seus anos de ouro haviam sido entre 1974 e 1982 no River Plate), ele chegava ao clube aos 33 anos. O outro foi o ponta-esquerda João Paulo, um dos destaques do Santos vice-campeão brasileiro de 83.

Na 1ª Fase do Campeonato Brasileiro de 84, os 40 clubes se dividiram em 8 grupos com 5 clubes, classificando-se três à 2ª Fase (24 no total, portanto). Mas os melhores 3º colocados ainda faziam uma repescagem em mata-mata, avançando outros quatro. O Flamengo fez uma campanha invicta - 4 vitórias e 4 empates - e terminou como líder de seu grupo, seguido pelo Palmeiras. Na 2ª Fase, os 28 remanescentes foram divididos em 7 grupos de 4, avançando os 2 melhores à 3ª Fase, além do melhor 3º colocado. O time conseguiu três vitórias e um empate em seis jogos, perdendo nas duas vezes que atuou no Rio Grande do Sul, na pior delas tendo sofrido uma goleada de 4 a 0 perante o Internacional no Estádio Beira-Rio. O Flamengo terminou em 2º lugar em seu grupo, atrás da Portuguesa de Desportos, e a frente dos gaúchos Brasil de Pelotas e Internacional, ambos eliminados.


Na 3ª Fase, os 16 remanescentes foram divididos em 4 grupos de 4, com os 2 primeiros de cada grupo avançando às Quartas de Final. Largando com três vitórias consecutivas, e depois empatando com América e Santos, o Flamengo fez o suficiente para vencer seu grupo, e avançar para enfrentar ao Corinthians, segundo em seu grupo, atrás do Grêmio, pelas quartas de final. Após uma boa vitória em casa no 1º jogo (2 x 0, gols de Élder e Bebeto), o time foi goleado na capital paulista por 4 x 1, acabando eliminado. A acachapante desclassificação com goleada acabou provocando a demissão do treinador Cláudio Garcia.

Flamengo no Brasileiro de 1984
Fillol, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Tita; Lúcio (Bebeto), Nunes (Edmar) e João Paulo
Téc: Cláudio Garcia
Banco: Abelha, Marinho, Bigu, Élder e Lico

Como campeão brasileiro de 1983, o Flamengo caiu no Grupo 3 da Libertadores, junto ao Santos, vice-campeão brasileiro, e aos colombianos América de Cali e Júnior de Barranquilla. Só o vencedor do grupo avançava à 2ª Fase. O time rubro-negro fez uma excelente campanha na 1ª Fase! Na estreia contra o Santos, no Maracanã, venceu por goleada: 4 x 1. Na Colômbia, empatou por 1 x 1 com o América, em Cali, e venceu ao Atlético Júnior por 2 x 1. Flamengo e América de Cali dividiam a liderança do grupo. Faltavam os jogos de volta. O time rubro-negro foi então ao Pacaembu e arrasou, aplicando mais uma goleada sobre o Santos, desta vez por 5 x 0. Foi o momento então de decidir o grupo contra o América no Maracanã. Jogando bem, o time venceu por 4 x 2 e selou matematicamente a sua classificação. Na última rodada, ainda venceu ao Júnior de Barranquilla por 3 x 1.

Apesar da boa campanha até ali na Libertadores, com a eliminação nas quartas de final do Brasileiro, e em especial pelas goleadas sofridas por 4 a 0 para o Internacional e por 4 a 1 para o Corinthians - esta que decretou sua eliminação - o técnico Cláudio Garcia foi demitido do cargo. Para o seu lugar foi contratado o renomado Zagallo, que estava havia três anos no comando da Seleção da Arábia Saudita. O time também sofreu uma baixa importante, com a venda do lateral-esquerdo Júnior para o Torino, da Itália. Duas mudanças cruciais para determinar seu destino na competição.

Na 2ª fase, um Triangular Semi-final contra Grêmio e ULA Mérida, da Venezuela, definiria um dos finalista. Logo na estreia de Zagallo, porém, a coisa ficou muito ruim. Mais uma vez sofrendo no Rio Grande do Sul, como havia acontecido no Campeonato Brasileiro, o Flamengo foi a Porto Alegre e acabou goleado, desta vez no Estádio Olímpico, por impiedosos 5 x 1. O que minimizava é que a regra da Libertadores não considerava saldo de gols para desempate, logo uma vitória rubro-negra simples no Maracanã forçaria um jogo extra. O time venceu ao ULA por 3 x 0 na Venezuela, e depois bateu ao tricolor gaúcho por 3 x 1 no Maracanã. Na última rodada, precisava vencer ao frágil time de Mérida no Maracanã para forçar o jogo desempate contra o Grêmio. Parecia fácil, mas foi um sufoco! Logo aos 13 minutos de jogo, o brasileiro Itamar colocou os visitantes na frente no marcador, e o Flamengo saiu para o intervalo sem conseguir um gol. Logo no início da etapa final, porém, Tita empatou. O alívio só saiu aos 36 minutos do 2º tempo, com gol de Adílio. Vitória por 2 x 1 e jogo desempate contra o Grêmio em campo neutro, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O tricolor gaúcho, pela melhor campanha, jogava com a vantagem do empate. O jogo foi muito nervoso! Valia uma segunda vez como finalista do torneio para qualquer um dos dois rivais. As duas equipes não saíram do zero no marcador e o Grêmio acabou avançando, pelo segundo ano consecutivo, para disputar a final da Libertadores, na qual acabaria sendo derrotado pelo Independiente, da Argentina.

Flamengo na Libertadores de 1984
Fillol, Leandro, Figueiredo, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Tita; Élder, Bebeto e João Paulo
Téc: Cláudio Garcia, depois Mário Zagallo
Banco: Abelha, Heitor, Guto, Bigu, Lúcio, Edmar e Lico

Para o segundo semestre daquele ano, o elenco passaria por poucas modificações. Uma delas extremamente indesejada, com a morte prematura do jovem zagueiro Figueiredo num acidente aéreo durante a disputa do Estadual, numa viagem num jato monomotor entre o Rio de Janeiro e Salvador. O elenco ainda teve outras três baixas: Lico decidiu pela aposentadoria, o zagueiro Marinho, que havia perdido espaço para os jovens, foi vendido ao Atlético Mineiro, e o ponta Lúcio foi para o América. O único reforço a haver chegado foi o jovem lateral-direito Jorginho, contratado justamente ao América. No decorrer da competição, ainda haveria mais uma mudança, com o ponta João Paulo tendo sido contratado pelo Corinthians.

O time rubro-negro fez uma grande campanha na Taça Guanabara, só deixando de vencer dois dos onze jogos do 1º turno, empatando contra o Goytacaz e perdendo para o Vasco. Mas foi o campeão do turno, garantindo-se na disputa do título. Na Taça Rio, o time já largou sofrendo uma derrota para o Volta Redonda, depois ainda empatou com Olaria, Vasco, Bangu e Campo Grande, e na última rodada perdeu o Fla-Flu.


O Triangular Final para definir o campeão carioca foi disputado entre Flamengo (campeão da Taça Guanabara), Vasco (campeão da Taça Rio) e Fluminense (melhor campanha na soma dos dois turnos). A dupla Fla e Flu venceu ao Vasco e foi para a rodada final para decidir o título. Os mais de 153 mil pagantes no Maracanã viram a partida se arrastar num empate sem gols até os 30 minutos do 2º tempo, quando um cruzamento encontrou Assis livre na entrada da pequena área para escorar longe do alcance de Fillol. Pelo segundo ano consecutivo o título acabou sendo tricolor, e mais uma vez com um 1 a 0 num gol de Assis.

Flamengo no Carioca de 1984
Fillol, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Élder, Adílio (Gilmar) e Tita; Bebeto e Nunes
Téc: Mário Zagallo
Banco: Cantareli, Guto, Bigu e Edmar

Insatisfeito com o rendimento de seu ataque, o Flamengo buscou reformulá-lo. A única peça intocável era o garoto Bebeto. Os centroavantes Nunes e Edmar deixaram o clube, o primeiro rumo ao Náutico e o segundo para o Guarani, onde voltaria a conseguir um grande destaque. Foram feitas três contratações para a linha de frente, o ponta-direita Heyder, do Náutico, o centroavante Chiquinho, do Botafogo de Ribeirão Preto, e a principal e mais badalada aquisição foi o ponta-esquerda Marquinho, do Vasco, o mesmo que fora algoz rubro-negro na final do Carioca de 82.

A fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro de 85 mudou totalmente frente aos anos anteriores. Na 1ª Fase, os 44 clubes foram divididos em 4 grupos, dois com 10 e dois com 12 clubes, e os times do Grupo A enfrentavam só os do B e os do Grupo C só os do D, enfrentando-se em Turno e Returno. Avançavam à 2ª Fase os vencedores de turno em cada grupo, mais os dois melhores colocados em cada grupo além dos vencedores de turno. Avançavam, portanto, 4 de cada grupo à 2ª Fase. No 1º turno, o time goleou ao Santa Cruz, e venceu a Corinthians, Palmeiras, Coritiba, América e Grêmio, empatou com Atlético Mineiro e Fluminense, e perdeu para Botafogo e Guarani, vencendo seu grupo no 1º Turno e garantindo a classificação antecipadamente. No 2º turno, goleou ao Santa Cruz por 7 x 0 e ao Botafogo por 6 x 1, mas teve queda no desempenho, perdendo quatro jogos.

Na 2ª Fase, os 16 clubes remanescentes foram divididos em 4 grupos, e só os vencedores de cada grupo avançavam à Semi-final. O grupo do Flamengo tinha ainda a Bahia, Ceará e Brasil de Pelotas. O Flamengo era o franco-favorito para vencer o grupo. Nos jogos de ida, o time rubro-negro empatou com Ceará e Bahia, e venceu ao time de Pelotas no Maracanã. 

Era reta final quando o Flamengo e o Rio de Janeiro entraram em polvorosa, com um ambicioso projeto de marketing, recursos levantados viabilizaram a recontratação de Zico. Após duas temporadas defendendo à Udinese no Campeonato Italiano, o Galinho de Quintino regressava à camisa rubro-negra para a reta final do Brasileiro, alimentando o sonho de um novo título nacional. Na primeira partida oficial, uma vitória por 3 a 0 sobre o Bahia no Maracanã, com um dos gols marcados por Zico, levou o Flamengo a 6 pontos na tabela. Em 2º lugar estava o Brasil de Pelotas, com 5 pontos.

Líder e vice-líder se enfrentavam no Rio Grande do Sul. Um empate deixava o Flamengo em ótimas condições para conseguir a vaga, a vitória significaria a classificação antecipada. Mas, mesmo com Zico em campo, eis que o Brasil venceu ao Flamengo por 2 x 0, gols de Bira e Júnior Brasília (jogador revelado nas categorias de base rubro-negras). A última esperança era o jogo na rodada final, quando os gaúchos enfrentariam ao Bahia na Fonte Nova, em Salvador, enquanto o Flamengo jogaria contra o Ceará no Maracanã. Só que o Brasil venceu o Bahia por 3 x 2 e confirmou a vaga na Semi-final, e assim os confrontos que definiriam os finalistas daquele ano ficaram sendo: Atlético Mineiro x Coritiba; e Bangu x Brasil de Pelotas. Coritibanos e banguenses passaram à Final, e o título foi parar no Paraná.

Flamengo no Brasileiro de 1985
Fillol, Ailton (Jorginho), Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Gilmar (Zico); Bebeto, Chiquinho e Marquinho
Téc: Mário Zagallo
Banco: Cantareli, Guto, Júlio César Barbosa, Tita, Élder e Heyder

A eliminação para o Brasil de Pelotas no Brasileiro de 85 gerou mais uma grave crise na Gávea, levando à demissão do técnico Zagallo e de seu auxiliar Américo Faria. Inicialmente o substituto escolhido foi o irmão de Zico, Edu Coimbra, mas em meio às turbulências quem acabou assumindo o time foi Joubert, que regressava ao clube após um longo período trabalhando nos Emirados Árabes. No elenco, a grande perda foi a saída do goleiro argentino Fillol, que aceitou proposta do Atlético de Madrid, da Espanha. Quem também saiu foi Tita, vendido ao Internacional. De resto, apenas movimentações para reduzir elenco, com a saída de alguns reservas: Bigu e Heyder foram cedidos ao Vitória, da Bahia, e Toninho Cajuru ao Remo, do Pará. Deu-se prioridade à abertura de espeço no profissional para novos nomes que emergiam da base, como o goleiro Zé Carlos, os zagueiros Guto, Aldair e Zé Carlos II, os meias Ailton, Gilmar, Valtinho e Zinho, os centroavantes Vinícius e Wallace, e o ponta Paulo Henrique.

O Carioca de 1985 foi trágico na história do Flamengo. Após iniciar sua caminhada com uma goleada por 5 x 0 sobre o Bonsucesso, na segunda rodada, num duelo contra o Bangu no Maracanã, o lateral-direito alvi-rubro entrou com as travas da chuteira nas pernas de Zico, quebrando-lhe a perna e causando danos nos ligamentos do joelho. Era tão só o quinto jogo oficial desde seu regresso da Europa, e ele estava fora da temporada rubro-negra.

O time empatou sem gols com Bangu, Americano, América e Fluminense, e perdeu para a Portuguesa. Já sem chance de conquistar a Taça Guanabara, na última rodada ainda foi goleado por 4 x 0 pelo Vasco, levando à demissão do técnico Joubert. A solução para a substituição foi caseira, com a efetivação do auxiliar Sebastião Lazaroni.


Na Taça Rio, o time só perdeu pontos nos empates com Bangu, América e Fluminense, fazendo a mesma campanha do Bangu (8 vitórias e 3 empates), forçando um jogo extra para decidir o turno, no qual venceu ao Bangu por 1 x 0, gol de Adílio, garantindo vaga na fase final. O Triangular Final foi disputado por Fluminense (campeão da Taça Guanabara), Flamengo (campeão da Taça Rio) e Bangu (melhor campanha na soma dos dois turnos).

Com a boa campanha no returno, o Flamengo parecia embalado para a fase final. Depois de conseguir um empate heroico com gol de Leandro nos acréscimos contra os tricolores, uma derrota por 2 x 1 para o Bangu acabou com qualquer chance rubro-negra de título. O Fluminense venceu ao Bangu na última rodada e se sagrou tri-campeão carioca.

Flamengo no Carioca de 1985
Cantareli, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Valtinho (Gilmar); Bebeto, Chiquinho e Marquinho
Téc: Joubert, depois Sebastião Lazaroni
Banco: Zé Carlos, Guto, Ailton, Élder, Júlio César Barbosa, Vinícius e Paulo Henrique

Em 1986, o instável calendário do futebol brasileiro sofreu mais uma vez uma inversão, com os Estaduais voltando a ser jogados no primeiro semestre. Assim, logo após o término do Carioca de 85, foi iniciado o Carioca de 86. Todas as expectativas rondavam a recuperação física de Zico. Visando formar um grande meio de campo, o Flamengo fez a badalada contratação de Sócrates, repatriado do futebol italiano após passagem pela Fiorentina. Esperava-se que Andrade, Adílio, Sócrates e Zico fossem formar o maior meio de campo do Brasil! Entretanto, as condições físicas de Sócrates e Zico impediriam que este sonho fosse transformado em realidade, pois ambos atuaram pouquíssimo naquele semestre. Do elenco no semestre anterior, a única baixa foi a saída de Élder, vendido ao Cruzeiro.

A estreia no Carioca de 86 era num Fla-Flu que marcava o retorno de Zico após a grave lesão do ano anterior. Mais de 84 mil pagantes encheram o Maracanã. O meio dos sonhos com Andrade, Adílio, Sócrates e Zico regeu a goleada por 4 x 1 (três gols de Zico e um de Bebeto) que incendiou a torcida rubro-negra de esperanças. Ainda mais porque ainda viram um sólido sistema defensivo, com Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto, e a agilidade do jovem Bebeto no ataque. Mas o restante do Carioca seria muito diferente: Sócrates não entrou mais nenhuma vez em campo, Zico apenas outras três vezes, Mozer apenas duas, e Leandro jogou uma partida a mais, ficou de fora por um longo período pelos problemas no joelho e só regressou nos quatro últimos jogos da competição. Quem teve que assumir as rédeas do time foi a garotada emergida do elenco sub-20.

O entusiasmo da torcida se manteve depois de uma nova goleada na segunda rodada, desta vez por 4 x 0 sobre a Portuguesa, e de uma vitória sobre o Botafogo. Nas oito primeiras rodadas, só um empate, contra o Americano, de resto só vitórias. Na reta final, porém, uma derrota para o Bangu e um empate com o Goytacaz permitiram a aproximação do Vasco. Na última rodada da Taça Guanabara, os dois rivais chegaram empatados em pontos para o clássico que decidiria o turno. Mais de 121 mil pagantes no "Clássico dos Milhões", vencido pelos vascaínos por 2 a 0, com dois gols do jovem Romário.

Na Taça Rio, o time empatou com o Campo Grande e perdeu para o Botafogo nas primeiras rodadas. Ainda perderia pontos nos empates frente a Americano e Bangu. Mas na hora de decidir, venceu o Fla-Flu por 1 x 0 e assumiu a ponta. Na última rodada, precisava vencer ao Vasco para conquistar o 2º turno e ir à final. No 1º tempo, Bebeto e Romário deixaram o placar empatado. No início do 2º tempo, Roberto Dinamite virou para o Vasco. Só que o Flamengo conseguiu uma revirada relâmpago, com gols de Bebeto aos 36 e Júlio César Barbosa aos 39, fazendo um 3 x 2 que lhe deu o título do turno, e o direito de fazer a Final do Carioca contra o Vasco. Os dois primeiros jogos da disputa do título terminaram em empates sem gols, forçando a realização de um terceiro jogo. Quase 128 mil pagantes no Maracanã viram Bebeto e Júlio César Barbosa voltarem a decidir o clássico na reta final de jogo, o primeiro marcando aos 29, e o segundo sacramentando a conquista aos 38 minutos do 2º tempo. Após quase três anos, o Flamengo voltava a levantar um título, e naquela conquista emergia uma nova geração de jovens pratas da casa que levaria o clube a um novo ciclo de conquistas.

Flamengo no Carioca de 1986
Zé Carlos, Jorginho, Leandro (Guto), Aldair e Adalberto; Andrade, Ailton e Adílio (Júlio César Barbosa); Bebeto, Vinícius (Chiquinho) e Marquinho
Téc: Sebastião Lazaroni
Banco: Cantareli, Valtinho, Gilmar e Carlinhos

Bebeto vs Romário

Para o segundo semestre, a principal mudança no time foi na camisa 9. Saiu o centroavante Chiquinho, vendido ao Benfica, de Portugal, e para repor sua saída foi contratado Kita, destaque do time da Internacional de Limeira que surpreendentemente havia sido a campeã paulista. Foi adquirido também o lateral-esquerdo Airton, que era reserva no Vasco.

Em 1986, houve mais uma mudança brusca de regulamento no Campeonato Brasileiro. Na 1ª Fase, os 44 clubes se dividiam em 4 grupos de 11, dos quais avançavam à 2ª Fase os 6 primeiros colocados de cada grupo, mais os 12 de melhor campanha entre os demais clubes. Os problemas físicos deixaram Zico de fora do time o torneio inteiro, não tendo entrado em campo nem sequer uma única vez. Sócrates também ficou de fora de toda a 1ª fase. E um problema adicional ainda surgiu na reta final, quando o jovem lateral-esquerdo Adalberto, promissora revelação da base rubro-negra, sofreu uma entrada desleal num jogo contra o Botafogo da Paraíba, no Estádio de Caio Martins, em Niterói, fraturando gravemente a perna, numa lesão que viria a abreviar precocemente sua carreira no futebol. Apesar destes percalços, o time rubro-negro foi bem, das onze partidas disputadas, venceu cinco e só perdeu duas vezes, para o Corinthians, no Maracanã, e para o Atlético Paranaense, em Curitiba. Com este desempenho, venceu seu grupo, seguido por Ponte Preta, Corinthians, Atlético Paranaense, Grêmio e América.

Na 2ª Fase, os 36 clubes remanescentes foram divididos em 4 grupos de 9 clubes, com os 4 primeiros colocados avançando ao mata-mata, que se iniciaria a partir das Oitavas de Final. Agora com Sócrates recuperado e atuando entre os titulares, das dezesseis partidas disputadas, venceu apenas seis, e foi derrotado cinco vezes, para o Central de Caruaru, de Pernambuco (fora de casa) e por Goiás, Fluminense, Grêmio e Santa Cruz (destas quatro derrotas, só a perante os gremistas foi fora do Maracanã). O time não estava nada bem. Terminou em 3º lugar de seu grupo, atrás de Guarani e Fluminense, e a frente do Grêmio. Nas oitavas de final enfrentou ao Atlético Mineiro, que havia vencido a um grupo que também tinha a Corinthians e Vasco. Dentre os clubes mais tradicionais, o Internacional, o Santos e o Botafogo não conseguiram a classificação às oitavas, fase na qual o Flamengo acabou caindo perante o Galo, após um empate por 1 x 1 no Maracanã e uma derrota por 1 x 0 no Mineirão.

Flamengo no Brasileiro de 1986
Zé Carlos, Jorginho, Aldair, Mozer e Adalberto (Airton); Andrade, Ailton e Gilmar (Júlio César Barbosa); Bebeto, Kita e Marquinho (Zinho)
Téc: Sebastião Lazaroni
Banco: Cantareli, Leandro, Guto, Adílio, Sócrates, Carlinhos e Vinícius

A campanha ruim no certame nacional levou o Flamengo a investir mais pesado para a temporada de 1987, com duas contratações de grande impacto. A principal delas foi a contratação do ponta-direita Renato Gaúcho ao Grêmio, revelação de maior proeminência entre os jovens do futebol brasileiro. A outra foi a aquisição do ponta-esquerda Sidney, do São Paulo, destaque na conquista pelo clube paulista do Campeonato Brasileiro de 86. Enquanto isso, Zico continuava sua luta contra a lesão no joelho, tendo disputado apenas 5 das 31 partidas que o time fez no Carioca de 87.

A campanha rubro-negra não começou bem, tendo o time tropeçado logo na segunda rodada, com uma derrota por 2 x 0 em Itaperuna para o Porto Alegre, que acabara de ascender da 2ª Divisão. Pouco depois, o time ainda perdeu para o Americano. Curiosamente foram as duas únicas derrotas na Taça Guanabara, mas a campanha foi repleta de jogos terminando 0 x 0, assim foi contra Mesquita, Botafogo, Fluminense, América e Vasco. Com o Flamengo em 5º lugar na tabela, a diretoria decidiu então pela demissão de Sebastião Lazaroni (o curioso é que o treinador viria a ser o campeão carioca no final daquele campeonato). Nas seis últimas rodadas da Taça Guanabara, o time foi comandado pelo auxiliar técnico Carlinhos, que pela segunda vez na história assumia a equipe interinamente.

Para a Taça Rio foi contratado um novo técnico: Antônio Lopes. Um nome fortemente ligado ao Vasco da Gama, com quem havia sido campeão carioca de 82 sobre o Flamengo, e que no ano anterior havia perdido o título justamente para o time rubro-negro do então novato Lazaroni. O time só perdeu uma vez no 2º turno, para o Bangu, mas seguiu empatando muito, tendo perdido pontos para Cabofriense, Vasco, Campo Grande e Fluminense. E foi justamente no Fla-Flu da última rodada, disputada perante tão só 5 mil pagantes no Estádio de Caio Martins, em Niterói, que Zico fez sua estreia no Carioca de 87.

O regulamento do campeonato daquele ano previa um 3º turno, na verdade um quadrangular, a ser disputado entre os quatro primeiros colocados da soma dos dois turnos. Com a ligeira melhora sob o comando de Lopes, o time saltou para a 4ª colocação e conseguiu entrar no turno extra. Com Zico titular em todos os jogos, mas sem que o time ainda jogasse um bom futebol, o time empatou com Vasco e Bangu, mas com uma vitória por 1 a 0 no Fla-Flu, gol de Marquinho, conseguiu vencer o turno. Chegando à final, e com Zico recuperado, ainda que estivesse havia muitos meses sem jogar, a torcida se inflamou de esperanças pelo título.


O Triangular Final, para definir o Campeão Carioca, foi disputado entre Vasco (campeão da Taça Guanabara), Bangu (campeão da Taça Rio) e Flamengo (campeão do 3º Turno). Vasco e Flamengo venceram ao Bangu, e decidiram o título no jogo final. Mais de 114 mil pagantes no Maracanã viram um novo duelo entre Antônio Lopes e Sebastião Lazaroni, desta vez invertendo as camisas defendidas. Com a queda de produção ao longo do torneio, o Vasco demitiu Joel Santana e colocou Lazaroni em seu lugar. A decisão do título foi dura. Com um gol do ex-rubro-negro Tita no finzinho do 1º tempo, o Vasco venceu por 1 a 0, deixando ao Flamengo com o vice-campeonato.

Flamengo no Carioca de 1987
Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Aldair (Mozer) e Airton (Adalberto); Andrade, Ailton e Bebeto; Renato Gaúcho (Alcindo), Kita e Zinho
Téc: Sebastião Lazaroni, depois Antônio Lopes
Banco: Cantareli, Zé Ricardo, Adílio, Zico e Marquinho

Para o 2º semestre, o Flamengo reformulou seu elenco, saíram quatro jogadores: o zagueiro Mozer foi vendido ao Benfica, de Portugal, o veterano meia Adílio, cedido ao Coritiba, o ponta-esquerda Marquinho foi vendido ao Atlético Mineiro, e o ponta-esquerda Sídney, que jogou apenas 10 jogos com a camisa rubro-negra, seguiu para o Marítimo, de Portugal. Para reforçar o elenco, a aposta foi em dois veteranos: o zagueiro Edinho voltava ao Brasil após uma longa passagem pela Udinese, da Itália, e o centroavante Nunes, que após passar sem brilho por Náutico, Santos, Atlético Mineiro e Boavista, de Portugal, regressava já veterano à Gávea para disputar posição com Kita. Mas quem tomaria conta da camisa 9, deixando ambos na reserva, seria o jovem Bebeto, que já havia jogado tanto de camisa 7 pela ponta-direita como de camisa 10 na armação, mas atingiria seu auge vestindo rubro-negro com a camisa 9. Como opção de elenco, o clube contratou ainda o meia Henágio, jogador que havia se destacado por Santa Cruz e Sport Recife, e estava no Guarani.

O Campeonato Brasileiro de 1987 foi o mais conturbado da história do futebol nacional. Insatisfeitos com o modelo de disputa que vigorou até 1986, inflado e pouco rentável, com o nível de competitividade aumentando apenas a partir da 3ª fase, os clubes mais tradicionais se rebelaram contra a CBF, que por sua vez, frente à grave crise econômica que atravessava o país, alegava falta de recursos e incapacidade de organizar o campeonato. As agremiações mais fortes então se juntaram e formaram o Clube dos 13, que reunia Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético Mineiro e Bahia. A nova entidade convidou três outros clubes (Santa Cruz, Coritiba e Goiás) e formou a Copa União, torneio com apenas 16 equipes se enfrentando em turno único, e as quatro primeiras avançando a um mata-mata semi-final e final. Estes dezesseis times jogariam o Módulo Verde. Outros 16 foram colocados no chamado Módulo Amarelo, que reuniu Guarani, Portuguesa de Desportos, Inter de Limeira, Bangu, América-RJ, Atlético Paranaense, Vitória, Sport Recife, Náutico, Criciúma, Atlético Goianiense, Ceará, Joinville, CSA, Treze (PB) e Rio Branco (ES). Ainda foram formados os Módulos Azul e Branco, cada um deles com 24 clubes. A segregação por critérios econômicos gerou muitos protestos, especialmente por parte de Guarani, vice-campeão brasileiro de 86, América do Rio, terceiro colocado no Brasileiro de 86, e Bangu, vice-campeão brasileiro de 85, todos excluídos da disputa pelo Clube dos 13.

Logo na estreia, o Flamengo perdeu por 2 x 0 para o São Paulo, de Muller e Careca, no Maracanã. Depois da perda do título para o Vasco no Estadual, a derrota logo na estreia levou à demissão de Antônio Lopes. Demitir um treinador após apenas uma rodada era algo inédito na história rubro-negra, e mostrava o início de anos nos quais decisões emocionais da gestão do clube se sobreporiam às escolhas racionais, mostrando um total descompasso na capacidade de planejamento.

Assim, logo na 2ª rodada assumia, a princípio interinamente, para depois ser efetivado, o auxiliar-técnico Carlinhos. Com ele no comando, o Flamengo venceu ao Vasco por 2 x 1, gols de Bebeto e Zico, mas depois engatou uma sequência ruim, com um empate sem gols com o Santos, duas derrotas seguidas, para Internacional e Fluminense, uma vitória no Coritiba, e empates contra Goiás e Cruzeiro. Com uma campanha modesta, com 2 vitórias, 3 empates e 3 derrotas, o Flamengo patinava após oito rodadas, e num torneio de tiro curto, cuja fase de classificação tinha apenas 15 rodadas e sem returno, não parecia que o time teria forças para se classificar entre os quatro primeiros que avançavam para a semi-final. Nas rodadas seguintes, venceu ao Botafogo, empatou com o Grêmio e perdeu para o Atlético Mineiro.

Numa competição disputadíssima e restando apenas quatro rodadas, avançar parecia algo muito improvável. Nas 4 rodadas finais, porém, o time rubro-negro encaixou uma sequência de bons resultados, com uma vitória por 2 x 0 sobre o Palmeiras no Maracanã, uma vitória fora de casa por 2 x 0 sobre o Bahia, na Fonte Nova, em Salvador, um empate contra o Corinthians no Pacaembu, e um duelo frente ao Santa Cruz no Maracanã, no qual só a vitória lhe daria a classificação. Zico chamou a responsabilidade, fazendo três gols, e garantiu a vitória por 3 x 1, terminando a 1ª fase como 4º colocado e avançando para fazer a semi-final contra o Atlético Mineiro, que tinha tido a melhor campanha da Copa União.

No 1º jogo, no Maracanã, uma vitória magra por 1 x 0, com gol de Bebeto. No Mineirão, o Flamengo começou arrasador, e com 31 minutos do 1º tempo já vencia por 2 x 0, gols de Bebeto e Zico. O Atlético tinha um time fortíssimo e no 2º tempo reagiu, marcando de pênalti aos 15 minutos, e quatro minutos depois empatando, gol de Sérgio Araújo. Daí para frente foi pura pressão sobre a área do Flamengo, até que aos 34 minutos do 2º tempo, Zico roubou uma bola na intermediária e enfiou para Renato Gaúcho penetrar livre pela intermediária adversária, driblar o goleiro João Leite, empurrar para o gol vazio, e sair comemorando com o dedo indicador na boca, pedindo silêncio ao Mineirão lotado: Flamengo  3 x 2, classificado para a final contra o Internacional.

Os dois clubes tinham três títulos nacionais cada um, quem vencesse seria o primeiro a alcançar quatro títulos desde a implementação do formato de Campeonato Brasileiro em 1971. O primeiro jogo foi no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, e terminou empatado em 1 x 1 (Bebeto para o Flamengo e Amarildo para o Inter). No jogo de volta, numa tarde chuvosa de domingo no Maracanã, logo no começo do jogo Andrade enfiou um passe em profundidade no tempo certo para Bebeto penetrar pela área e tocar na saída do goleiro Taffarel: 1 x 0. Foi tudo naquela tarde! E foi o suficiente. Mengão mais uma vez campeão!


Flamengo no Brasileiro de 1987
Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton, Zico e Zinho; Renato Gaúcho e Bebeto
Téc: Carlinhos
Banco: Cantareli, Aldair, Zé Carlos II, Kita e Nunes

Depois de ser campeão nacional, o clube estava com auto-confiança muito elevada para a temporada de 1988. As mudanças no elenco foram pontuais, tendo o lateral-esquerdo reserva Airton sido vendido ao Grêmio, e também deixado a Gávea os dois centroavantes reservas, tendo Kita ido para a Portuguesa de Desportos, e o veterano Nunes ido para o Volta Redonda. A única contratação foi uma aposta, o promissor meia Luís Henrique, contratado à Catuense, da Bahia. O teste no Flamengo durou pouco tempo, ele jogou apenas 26 partidas, e depois de deixar o clube construiu uma brilhante carreira com as camisas de Bahia, Palmeiras, Fluminense e Monaco, da França, com passagens pela Seleção Brasileira.

No embalo da conquista da Copa União em dezembro de 87, o time se sagrou campeão da Taça Guanabara ao vencer oito dos dez primeiros jogos, empatando contra Botafogo e Bangu. Foi campeão com uma rodada de antecipação com uma vitória sobre o América. Já garantido na final do Estadual, na última rodada do 1º turno perdeu para o Fluminense. Na Taça Rio, venceu cinco das sete primeiras partidas, porém com tropeços contra América e Volta Redonda. A decisão do turno se deu nas três rodadas seguintes, mas o time perdeu por 1 x 0 para o Vasco e empatou com Botafogo e Fluminense, tendo o título do 2º turno ficado com os cruzmaltinos. Com Zico mal tendo podido entrar em campo (jogou apenas seis partidas no Estadual e ficou de fora de toda a reta final), a confiança da torcida decaía.


O 3º turno foi mais uma vez um quadrangular entre os primeiros colocados da soma dos dois turnos. O time de Carlinhos empatou com o Fluminense e venceu ao Americano, e voltou a perder para os vascaínos, desta vez por 3 x 1. A Final foi disputada entre Flamengo (campeão da Taça Guanabara) e o Vasco (campeão da Taça Rio e do 3º Turno), tendo por isto o time cruzmaltino iniciado com 1 ponto de bonificação. Quem somasse 4 pontos primeiro era o campeão. O Vasco venceu o 1º jogo de virada por 2 x 1, depois que Bebeto abriu o placar logo no início, mas Bismarck e Romário marcaram, levando seu time a somar 3 pontos (um que tinha na largada, mais os dois pela vitória). No 2º jogo, um empate garantiria o título ao Vasco da Gama. Se o Flamengo vencesse, forçaria um 3º jogo, no qual novamente o Vasco teria a vantagem do empate. A partida se arrastou num empate sem gols até os 44 minutos do 2º tempo, quando um gol do lateral-direito Cocada (ex-jogador do Flamengo) sacramentou o título de campeão. Com quatro derrotas consecutivas para o Vasco, os rubro-negros ficaram com o vice-campeonato, perdendo mais uma vez para o rival, como havia acontecido no ano anterior.

Flamengo no Carioca de 1988
Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton, Bebeto e Zinho; Renato Gaúcho e Alcindo
Téc: Carlinhos
Banco: Cantareli, Aldair, Zé Carlos II, Luís Henrique, Júlio César Barbosa, Zico e Henágio

Desapontada e frustrada com a perda do título, a diretoria buscou uma grande reformulação para o segundo semestre. Em boa parte, é verdade, foi forçada a isto depois que viu uma pomposa oferta financeira da Roma, da Itália, levar dois dos jogadores mais talentosos do elenco: Renato Gaúcho e o veterano Andrade. Também saiu o meia Júlio César Barbosa, vendido ao Racing Santander, da Espanha. O fortalecimento do elenco passou pela contratação de quatro jogadores: o veterano zagueiro uruguaio Dario Pereyra chegou à Gávea depois de encerrar seu longo e vitorioso ciclo com a camisa do São Paulo, de onde também chegou o volante Paulo Martins, trocado pelo jovem Flávio, então recém ascendido das divisões de base rubro-negras; para o meio foi comprado Luvanor, que estava no Santos, e para repor a saída de Renato na ponta-direita o clube fez a aposta mais ousada dentre as quatro, tirando Sérgio Araújo do Atlético Mineiro. Para fechar o pacote, apostou na aquisição daquele que era apontado como a maior revelação do futebol do Rio de Janeiro, o meia Renato, do América, que também cedeu ao volante Delacir e ao lateral-esquerdo Paulo César, numa transação na qual, além de dinheiro, foram enviados para o clube rubro três nomes que tinham ascendido do sub-20 no ano anterior, o lateral-direito Valmir, o centroavante Paloma e o ponta-esquerda Gérson. Para comandar o renovado elenco rubro-negro, a diretoria decidiu apostar na troca de treinador, com a chegada de um nome que entendia que daria mais experiência ao trabalho. Foi contratado então o técnico Candinho, semi-finalista do Campeonato Paulista de 88 a frente do Santos.

A 2ª Copa União reuniu 24 clubes divididos em 2 grupos de 12. O campeonato trouxe uma novidade experimental, a vitória passou a valer 3 pontos e não mais 2, e na 1ª Fase todo jogo empatado seguia para uma disputa de pênaltis, com o vencedor nas penalidades fazendo 2 pontos. A 1ª Fase foi em turno e returno, e em cada turno enfrentavam-se os adversários de cada um dos dois grupos, de forma que todos jogavam contra todos, e com os 2 primeiros colocados de cada grupo em cada turno avançando para fazer as Quartas de Final.

A campanha rubro-negra se iniciou com mais uma derrota para o Vasco, a quinta consecutiva. Depois o time ainda venceu a América e Corinthians, mas perdeu para o Bahia, em Salvador, e empatou com o Santa Cruz, no Maracanã (perdendo nos pênaltis). A insatisfação com o começo irregular acabou levando à saída de Candinho após apenas cinco rodadas disputadas. E isto que ele estava sem Zico, que atuou na derrota para o Vasco e depois saiu pelas dores no joelho, não voltando mais antes da 8ª rodada.

O time atuou por três partidas com o auxiliar João Carlos como técnico interino (empates contra Botafogo e Grêmio, e vitória sobre o Santos). Foi então escolhido como novo técnico o experiente Telê Santana, técnico da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986. Com Telê a frente da equipe, e a volta de Zico, o time engrenou uma boa sequência, goleando ao Guarani por 5 a 1 em Campinas (na estreia do técnico) e fazendo 3 x 0 no Criciúma, no Maracanã, e nas rodadas finais do turno empatou fora de casa com Cruzeiro e Coritiba, terminando o 1º Turno em 5º lugar no seu grupo, atrás de Fluminense, Internacional, Portuguesa de Desportos e Atlético Mineiro.

No 2º Turno, o Flamengo melhorou seu desempenho após ter começado mal sua caminhada, tendo perdido três das cinco primeiras partidas, perdendo fora para Internacional e São Paulo, e caindo perante o Vitória no Maracanã. Ainda teve um desempenho vexatório na 2ª rodada, quando perdia por 1 a 0 para o Palmeiras no Maracanã, quando o goleiro alvi-verde Zetti sofreu uma fratura nos minutos finais, forçando que o centroavante Gaúcho fosse para o gol. Bebeto empatou e levou para os pênaltis, no qual o Flamengo conseguiu inacreditavelmente ser batido, com Zinho e Aldair desperdiçando suas cobranças, defendidas pelo jogador que fazia o papel de goleiro, e o Palmeiras venceu as penalidades por 5 x 4. A única vitória nas cinco primeiras rodadas foi sobre o Sport Recife.

Na reta final, o time cresceu de produção. Venceu cinco dos seis últimos jogos, superando a Fluminense, Atlético Paranaense, Portuguesa de Desportos, Bangu e Atlético Mineiro, só empatando nesta sequência frente ao Goiás. Terminou o 2º turno em 2º lugar de seu grupo, atrás do Sport Recife, e conseguiu a classificação às Quartas de Final, na qual enfrentaria ao Grêmio. No primeiro jogo, houve um empate sem gols no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Uma vitória simples no Maracanã colocaria o clube na Semi-final. Mas 67 mil pagantes no Maracanã viram Cuca marcar o gol da vitória gremista que eliminou ao Flamengo.

Flamengo no Brasileiro de 1988
Zé Carlos, Jorginho, Aldair, Rogério Lourenço e Leonardo; Delacir, Ailton, Zico e Zinho; Sérgio Araújo e Bebeto
Téc: Candinho, depois Telê Santana
Banco: Cantareli, Dario Pereyra, Luvanor, Renato Carioca e Alcindo

Após a eliminação, apostou-se em se dar continuidade ao trabalho de Telê Santana, mas foi feita uma grande limpeza no elenco. Saíram Dario Pereyra (que foi para o Palmeiras), Luvanor e Paulo Martins, dispensando-se três dos cinco componentes do principal pacote de reforços contratado no semestre anterior. Também foram descartados Delacir e Henágio. E houve só uma contratação para reforçar o grupo, com a chegada do centroavante Nando, do Bangu.

Após o fracassado pacote de reforços renomados contratado em 1988 e que não deu certo, a aposta rubro-negra para a temporada de 89 foi a de voltar a dar mais espaço para "pratas da casa". Depois da emersão de uma geração da qual fizeram parte nomes como os zagueiros Aldair e Zé Carlos II, o lateral-esquerdo Leonardo, o volante Flávio, o meia Zé Ricardo e o atacante Alcindo, chegava ao elenco profissional uma nova geração de jovens, com os zagueiros Júnior Baiano, Rogério e Gonçalves, e os meias Marquinhos, Luís Antônio, Luís Carlos, Marcelinho e Djalminha. O time no Carioca de 89 era quase todo formado na Gávea, apenas com presenças pontuais de "forasteiros" como Renato Carioca e Sérgio Araújo.

A campanha na Taça Guanabara começou com um tropeço, num empate sem gols com o Porto Alegre na Gávea, mas dali em diante engrenou bons resultados, como as vitórias por 4 x 2 sobre o Bangu, e goleadas por 4 a 0 sobre Fluminense e Cabofriense, e com impiedosos 8 x 1 sobre o recém-ascendido Nova Cidade. Bebeto e Renato Carioca brigavam gol a gol pela artilharia do campeonato. Para fechar, uma vitória por 3 x 1 sobre o Vasco na última rodada coroou o título do 1º turno e garantiu a presença rubro-negra na final.

Na Taça Rio, o Porto Alegre foi novamente uma dor de cabeça, sendo o Flamengo derrotado por 3 x 1 no Estádio Jair Bittencourt, em Itaperuna, no interior do estado do Rio. A recuperação poderia ter vindo na 3ª rodada, quando o time vencia o Botafogo por 3 x 1 até os 36 minutos do 2º tempo, mas cedeu o empate nos minutos finais. O time ainda engrenou uma sequência de vitórias depois disto, mas não foi suficiente para alcançar o Botafogo, que ficou com o título do 2º turno.

Naquele ano não houve 3º turno, e a Final do Estadual foi disputada entre Flamengo e Botafogo, clube que vivia um jejum de 20 anos sem conquistar um título em sua história. Após um empate sem gols na primeira partida, o título foi decidido na segunda por um gol do ponta-direita Maurício aos 12 minutos do 2º tempo (no qual ele empurra Leonardo para dentro das redes antes de completar para o gol, infração não vista pelo árbitro). Pelo terceiro ano consecutivo, o Flamengo terminava com o vice-campeonato carioca.

Flamengo no Carioca de 1989
Zé Carlos, Jorginho, Aldair, Zé Carlos II e Leonardo; Marquinhos, Ailton, Renato Carioca e Zinho; Alcindo e Bebeto
Téc: Telê Santana
Banco: Cantareli, Gonçalves, Rogério Lourenço, Zico e Sérgio Araújo

Após o fracasso no Estadual, a diretoria voltou a apostar em grandes nomes, e a grande contratação para a temporada foi a volta de Renato Gaúcho, que não havia conseguido conquistar aos romanos com suas atuações na temporada 1988-89 do Campeonato Italiano. Ele estava de volta à Gávea, e sua presença claramente criava um problema: ele não se dava com o técnico Telê Santana desde que este o cortou da Seleção Brasileira às vésperas da Copa do Mundo de 86. A diretoria apostou que eles fossem capazes de superar suas diferenças e conviver profissionalmente, apostou errado.

Esta aposta em grandes nomes foi provocada por uma tremenda rasteira recebida de um rival. O Vasco fez um pesado investimento e conseguiu tirar o craque rubro-negro Bebeto da Gávea, aplicando um duro golpe na alma flamenguista, que ficou ferida. A chegada de Renato era uma tentativa de recuperar o orgulho rubro-negro. A principal aposta, porém, para repor a saída de Bebeto, deu-se com a contratação do jovem meia argentino Borghi, do River Plate, que chegou à Gávea sob grande expectativa. Porém, decepcionou, tendo atuado pouquíssimo.

A rivalidade entre Flamengo e Vasco no mercado estava muito acirrada. Os dois clubes disputaram a contratação do zagueiro equatoriano Quiñones, que acabou indo para São Januário, e como uma espécie de vingança, a diretoria rubro-negra contratou o ex-zagueiro vascaíno Fernando, que estava atuando no Louletano, de Portugal. Havia uma preocupação com a zaga depois que dois jovens talentos acabaram vendidos para o futebol de Portugal após o Estadual, com Aldair indo para o Benfica e Zé Carlos II para o Porto. Outro jovem zagueiro, Gonçalves, acabou dispensado, indo parar no Botafogo. Fazendo liquidação de seus jovens talentos, o clube vendeu também ao lateral-direito Jorginho, que seguiu para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Vendeu todos a preços relativamente baixos, aplicando os recursos arrecadados no financiamento da aquisição de jogadores mais experientes.

Para repor as perdas na zaga, além de Fernando, foi contratado também o veterano zagueiro Márcio Rossini, que estava no Bangu. Com menos badalação em meio a todas estas disputas, voltou à Gávea o ídolo Júnior, após algumas temporadas no Torino e no Pescara, ambos da Itália, regressando da Europa para encerrar a carreira no Flamengo. O pacote de reforços teve um total de 8 nomes contratados. Além dos já citados, também aportaram no clube o goleiro Zé Carlos Paulista, reserva do São Paulo, o veterano lateral-direito Josimar, tirado do Botafogo, e o volante Uidemar, do Goiás.

Antes do Campeonato Brasileiro, no entanto, foi a hora do Flamengo entrar na disputa de uma nova competição do calendário nacional, a Copa do Brasil, que teve sua primeira edição disputada em 1989. O Flamengo avançou e chegou à Semi-final após eliminar a Paysandu, Blumenau e Corinthians. Disputou a vaga na final contra o Grêmio, que já havia sido seu algoz nas quartas de final do Campeonato Brasileiro de 88. No primeiro jogo, o time rubro-negro abriu 2 a 0 no Maracanã, mas cedeu o empate. Pior foi o que aconteceu no jogo de volta em Porto Alegre - partida que forçou a aposentadoria do veterano goleiro Cantareli - quando o Grêmio aplicou uma impiedosa goleada de 6 x 1, avançando para fazer a final contra o Sport Recife, na qual o clube gaúcho se sagrou campeão.

A derrota para o Botafogo na final do Estadual, e a vexatória eliminação para o Grêmio na semi-final da Copa do Brasil, deixaram a situação de Telê Santana difícil. Ainda assim, o time começou sua campanha no Brasileiro com ele como seu treinador. Porém, durou apenas três rodadas. Sem vencer após empatar com Atlético Mineiro em casa e Atlético Paranaense como visitante, e perder para o Corinthians no Maracanã, Telê foi demitido. Pelo terceiro ano consecutivo, o Flamengo demitia seu treinador logo nas primeiras rodadas, fato que nunca antes havia acontecido em sua história. Sorte do São Paulo, para onde Telê foi não muito tempo depois, e aonde se consagrou Campeão Brasileiro de 1991 e Bi-Campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes em 1992 e 1993.

No Brasileiro de 89, os 22 clubes participantes foram divididos em 2 grupos de 11 na 1ª Fase. Os 8 primeiros colocados de cada grupo avançavam à 2ª Fase. O Flamengo terminou em 6º lugar de seu grupo, atrás de Corinthians, Botafogo, Atlético Mineiro, Náutico e Inter de Limeira, e a frente de São Paulo e Internacional. Na 2ª Fase, os clubes se mantinham no mesmo grupo e carregavam os pontos da 1ª Fase, e os confrontos passavam a ser contra os clubes do outro grupo; só os vencedores de cada grupo avançavam para fazer a final.


Nas três rodadas seguintes à saída de Telê, o time foi comandado interinamente pelo auxiliar João Carlos, vencendo a Botafogo e Guarani, e empatando com o Vitória. O novo treinador contratado para o lugar de Telê foi Valdir Espinosa, preferido de Renato Gaúcho, com quem havia sido Campeão da Libertadores e do Mundial de 1983 pelo Grêmio, e treinador que havia meses antes dado o título carioca ao Botafogo sobre o próprio Flamengo, quando deu fim ao jejum alvi-negro de vinte anos sem um título.

Com Espinosa no comando, o time fez uma campanha bastante irregular. Os melhores momentos aconteceram em dois clássicos estaduais, nos quais acabou com a invencibilidade do Vasco ao vencer por 2 x 0 com dois gols do centroavante sub-20 Bujica, e na despedida oficial de Zico, no Estádio Municipal de Juiz de Fora, quando aplicou uma impiedosa goleada de 5 x 0 no Fla-Flu. Mas, instável, o Flamengo terminou em 5º lugar no seu grupo, atrás de São Paulo, Botafogo, Corinthians e Atlético Mineiro.

Flamengo no Brasileiro de 1989
Zé Carlos, Josimar, Júnior, Fernando e Leonardo; Uidemar, Ailton, Zico (Marcelinho Carioca) e Zinho; Renato Gaúcho (Alcindo) e Bujica (Nando)
Téc: Telê Santana, depois Valdir Espinosa
Banco: Zé Carlos Paulista, Márcio Rossini, Rogério Lourenço, Renato Carioca, Luís Carlos e Borghi

Para a temporada de 1990, o time de Valdir Espinosa passou por uma grande renovação. Saíram Zico e Cantareli, que passaram a desfrutar da aposentadoria. No ataque, o ponta-direita Sérgio Araújo seguiu para o Grêmio, o argentino Borghi, um fiasco total em sua passagem pela Gávea, foi para o Independiente de Avellaneda, e o centroavante Nando foi vendido para o Hamburgo, da Alemanha. O veterano zagueiro Márcio Rossini seguiu para o Santos, também sem deixar saudade, e o meia Renato Carioca foi contratado pelo Fluminense. Com a saída de sete peças do elenco, era preciso contratar, mas mais do que isto, a prioridade foi para dar mais espaço para uma nova geração de "pratas da casa".

Em janeiro de 1990, o time sub-20 rubro-negro, comandado pelo técnico Ernesto Paulo, deu o primeiro título para o Flamengo em sua história na Copa São Paulo de Juniores, que era a principal competição a nível nacional da categoria. O time rubro-negro era formado por: Adriano, Mário Carlos, Tita, Júnior Baiano e Piá; Fabinho, Marquinhos (Edmílson), Djalminha e Marcelinho Carioca (Fábio Augusto); Paulo Nunes (Luís Antônio) e Nélio. Quase todos os jogadores deste elenco jogaram bastante vezes no profissional. Na campanha, o Flamengo meteu 7 x 1 no Corinthians nas quartas de final (com 5 gols de Djalminha), passou pelo Internacional na semi-final, e decidiu o título contra o Juventus da Rua Javari, de São Paulo, no Estádio do Pacaembu, vencendo por 1 a 0, com gol do zagueiro Júnior Baiano.

Para a disputa do Campeonato Carioca de 90 chegaram três reforços, um para cada setor do campo. Foram contratados o jovem zagueiro da Seleção Brasileira, André Cruz, da Ponte Preta (adquirido após um intenso duelo de ofertas com o Vasco) e o meia Edu Marangon, que após ter se destacado pelo Palmeiras, e tido algumas convocações também para a Seleção Brasileira, voltava ao país após uma temporada sem muito sucesso com a camisa do Porto, em Portugal. E a terceira aquisição - a menos badalada, mas que acabou sendo a única que vingou - foi a compra do centroavante Gaúcho, do Palmeiras, jogador que fora revelado na base da Gávea, mas que não havia tido qualquer oportunidade no profissional, acabando no futebol paulista, onde se destacou, e um ano e meio antes havia sido personagem ao ir para o gol numa partida justamente contra o Flamengo no Maracanã e defender dois pênaltis.

Com esta mescla de juventude e experiência, o time começou sua trajetória na Taça Guanabara. Nas nove primeiras rodadas, não perdeu, mas empatou quatro vezes, contra Fluminense, América, Americano e Vasco. Nas duas últimas rodadas, duas derrotas, para Bangu e Botafogo. A principal dor de cabeça do treinador era a lateral-direita, onde Josimar não jogava (estava muito longe de ser o jogador que havia se destacado pelo Botafogo e brilhado na Copa do Mundo de 86 com a Seleção Brasileira, já envolto em muitos problemas derivados de seu vício em cocaína). Buscando soluções, Espinosa alternou, ora improvisando o cabeça de área Uidemar, ora lançando o jovem Mário Carlos.

Na Taça Rio, o time tinha sua última oportunidade de ir à final do Carioca. Mas após empatar com Itaperuna e Cabofriense, a situação se complicou. Depois ainda perdeu para Fluminense e Vasco, e se despediu de qualquer chance de título. Na última rodada, ainda perdeu para o Botafogo, encerrando sua participação sem ter conseguido vencer nenhum clássico frente aos três principais rivais da cidade. O Triangular Final foi entre Vasco (campeão da Taça Guanabara), Fluminense (campeão da Taça Rio) e Botafogo (maior número de pontos na soma dos dois turnos). Com o fracasso, a diretoria deu fim ao trabalho de Valdir Espinosa e partiu em busca da contratação de um novo treinador.

Flamengo no Carioca de 1990
Zé Carlos, Mário Carlos (Uidemar), André Cruz, Fernando e Leonardo; Ailton, Júnior, Marcelinho Carioca (Edu Marangon) e Zinho; Renato Gaúcho e Gaúcho
Téc: Valdir Espinosa
Banco: Zé Carlos Paulista, Leandro, Luís Carlos, Alcindo e Bujica

Antes da disputa do Campeonato Brasileiro, o Flamengo iniciou sua participação na segunda edição da Copa do Brasil, na qual o time rubro-negro já iniciou com um novo treinador. A competição foi disputada em paralelo ao Brasileirão de 1990. A escolha do comandante foi pautada por um nome com experiência de trabalho com jovens - ele foi Campeão do Mundial Sub-20 com a Seleção Brasileira em 1983 - e que vinha de um ciclo de títulos - campeão paulista com o Corinthians em 1988 e campeão mineiro com o Atlético em 1989 - assim chegou à Gávea o técnico Jair Pereira, que vinha de um resultado não muito positivo a frente do Palmeiras no Paulista de 90, no primeiro semestre. Ele, além disto tudo, tinha tido uma rápida passagem como jogador pelo Flamengo, em 1968, sem muito sucesso.

Após o Carioca, o zagueiro Leandro se aposentou, e duas das principais contratações do semestre anterior deixaram o clube sem deixar muita saudade: André Cruz indo para o Standard Liége, da Bélgica, e Edu Marangon, que foi para o Santos. Para suprir a dificuldade na lateral-direita foi contratado Zanata, jogador campeão brasileiro de 88 pelo Bahia, e que estava atuando pelo Palmeiras. Com a saída de dois zagueiros do elenco, a aposta para reforçar a zaga foi no zagueiro Vitor Hugo, do Guarani. Por fim, a transação mais badalada. O São Paulo manifestou interesse no jovem lateral-esquerdo Leonardo, e a diretoria rubro-negro decidiu usá-lo como moeda de troca para reforçar ao elenco, acertando uma troca por empréstimo de dois por dois; Leonardo e o atacante Alcindo foram para o tricolor paulista, e chegaram à Gávea o também lateral-esquerdo Nelsinho, jogador experiente e com convocações para a Seleção Brasileira, e o meia Bobô, que havia sido o grande nome do time do Bahia de 1988, mas não havia encontrado sucesso pelo tricolor do Morumbi.

O início da nova linha de frente formada por Bobô, Renato Gaúcho e Gaúcho foi promissor. No meio do ano o clube voltou a jogar em Tóquio, no Japão, onde foi campeão mundial em 81, tendo desta vez, porém, jogado no estádio Tokyo Dome. Um dos duelos foi contra o Real Sociedad, da Espanha, numa partida que terminou com uma impiedosa goleada rubro-negra por 7 a 0.

Na Copa do Brasil, após eliminar a Capelense, Taguatinga, Bahia e Náutico, chegou à final contra o Goiás. O primeiro jogo da decisão foi no Estádio Municipal de Juiz de Fora, e terminou com uma vitória rubro-negra por 1 x 0, com gol de cabeça do zagueiro Fernando. No segundo jogo, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, o time segurou um empate sem gols que lhe garantiu o título, consagrando-se como o Campeão da Copa do Brasil de 1990.

Flamengo na Copa do Brasil de 1990
Zé Carlos, Zanata, Vítor Hugo, Fernando e Piá; Uidemar, Ailton, Júnior e Zinho; Renato Gaúcho e Gaúcho
Téc: Jaír Pereira
Banco: Neneca, Rogério Lourenço, Marquinhos, Bobô, Djalminha, Marcelinho Carioca e Alcindo

No Campeonato Brasileiro, os 19 clubes se enfrentaram em turno único, avançando os 8 primeiros colocados para fazer a Fase Mata-Mata, a partir das Quartas de Final. A campanha rubro-negra se iniciou sem vitórias nas quatro primeiras rodadas, com derrotas para Bahia e Bragantino, e empates com Goiás e Internacional. Nas nove primeiras rodadas, só conseguiu uma vitória, sobre o Vasco. Na 15ª rodada, justamente no duelo contra seu ex-clube, o São Paulo, o lateral-esquerdo Nelsinho fraturou a perna, e ali encerrou prematuramente sua passagem em vermelho e preto. Com a campanha ruim, e apenas sete vitórias nas 19 rodadas, o time de Jair Pereira terminou em 11º lugar e não obteve a classificação para o mata-mata.

Flamengo no Brasileiro de 1990
Zé Carlos, Ailton, Vítor Hugo, Rogério Lourenço e Piá (Nelsinho); Uidemar, Júnior, Bobô (Nélio) e Zinho; Renato Gaúcho e Gaúcho
Téc: Jair Pereira
Banco: Neneca, Zanata, Fernando, Djalminha e Marcelinho Carioca

Apesar do título da Copa do Brasil, conquistada no início de novembro, a má campanha no Campeonato Brasileiro foi a que determinou a decisão rubro-negra de fazer mais uma troca de treinador para a temporada seguinte. O calendário brasileiro mais uma vez passou por uma inversão, e no início do ano começava mais uma edição do Brasileirão, colada na conclusão da edição anterior. Para comandar o time, a diretoria decidiu fugir completamente do perfil de escolhas de até então no clube, buscando uma renovação e escolhendo o nome de um técnico emergente. O escolhido foi Vanderlei Luxemburgo, que havia sido campeão da 2ª divisão do Brasileiro de 89 e, surpreendentemente, campeão paulista de 1990 a frente do Bragantino. O ex-jogador do Flamengo, formado com a geração sub-20 de Zico e Júnior nos Anos 1970, conhecia os meandros internos da Gávea, e era um nome emergente no cenário de treinadores do futebol nacional. Era uma aposta ousada!

Para a disputa do título nacional de 91, o time foi reformulado. Primeiro, teve que lidar com a perda de um dos principais ídolos da torcida: Renato Gaúcho aceitou proposta do Botafogo e deixou a Gávea. Também deixou o clube o zagueiro Fernando, contratado pelo Atlético Mineiro. Além destas duas saídas, diversos jogadores que estavam sem espaço no elenco ainda deixaram o Flamengo: o goleiro reserva Zé Carlos Paulista e o centroavante Bujica também foram para o Botafogo, o jovem Luís Carlos foi para o Vasco, o zagueiro Vítor Hugo seguiu para o Noroeste, de Bauru, e os dois laterais-direitos foram dispensados, tendo Zanata seguido para a Portuguesa de Desportos e Josimar ido jogar no Novo Hamburgo, do Rio Grande do Sul, onde pouco depois viria a encerrar a carreira.

O São Paulo quis continuar com Leonardo após o fim do período de empréstimo, mas não tinha dinheiro para contratá-lo. Da troca “dois por dois” feita seis meses antes, Alcindo voltou para a Gávea, e Nelsinho e Bobô para o tricolor paulista (este último acabou vendido ao Fluminense após regressar). O Flamengo aceitou ceder Leonardo, mas em troca, em definitivo, por três jogadores, tendo recebido o goleiro Gilmar Rinaldi, o zagueiro Adílson, e o jovem atacante Paulo César Cruvinel.

Ainda foram contratados dois jogadores do Botafogo, o zagueiro Wilson Gottardo e o meia Jéfferson, e dois da Portuguesa de Desportos, o meia Toninho e o cabeça de área Charles (que na Gávea ganhou a alcunha de "Guerreiro"). Para fechar o pacote, o clube foi atrás do lateral-esquerdo Dida, do Palmeiras, jogador que havia se destacado no cenário nacional com a camisa do Coritiba. Com oito reforços adquiridos, o novo treinador tinha um time inteiro a montar. A ciranda de nomes saindo e chegando não deu nem um pouco certo naquele primeiro momento.

Os 19 clubes que estavam na disputa do Brasileiro de 91 se enfrentaram em turno único, avançando somente os 4 primeiros colocados para fazer a Fase Mata-Mata, a partir das Semi-Finais. A campanha rubro-negro começou muito ruim. Na 1ª rodada uma derrota de 3 a 0 frente ao Atlético Paranaense em Curitiba. O time se recuperou ao vencer ao São Paulo no Estádio da Gávea. Mas logo em seguida tomou uma acachapante e humilhante goleada de 5 x 1 para o Goiás no Estádio Serra Dourada, e perdeu para o Bahia. Alternou bons e maus momentos após este péssimo início, mas venceu apenas sete vezes nas 19 rodadas disputadas. Terminou em 9º lugar e não obteve a classificação às semi-finais.

Flamengo no Brasileiro de 1991
Gilmar, Ailton, Wilson Gottardo, Rogério Lourenço e Piá; Charles Guerreiro, Júnior, Marcelinho Carioca e Zinho; Alcindo (Nélio) e Gaúcho
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Zé Carlos, Adílson, Dida, Marquinhos, Toninho e Paulo Nunes

Em paralelo à disputa do Campeonato Brasileiro de 1991, o Flamengo voltou a alimentar o sonho de uma nova conquista da Copa Libertadores, a qual disputaria como Campeão da Copa do Brasil de 90. O grupo na 1ª Fase era difícil, juntando brasileiros e uruguaios. O clube já estava envolto em alguns problemas financeiros, em função de uma combinação de dois fatores: o aumento com o gasto na aquisição de jogadores entre 1987 e 1989, e a grande redução da arrecadação com bilheteria na segunda metade da década de 80, com a economia do país esfrangalhada por uma profunda crise e com o aumento da violência nos estádios decorrente de confrontos entre torcidas organizadas. A combinação destes dois fatores levou a uma brusca queda na presença de público, refletindo na redução das receitas com bilheteria. Precisando arrecadar mais, o Flamengo vendeu sua estreia na Libertadores, levando, como mandante, o jogo contra o Corinthians para ser disputado na cidade de Cuiabá, no Mato Grosso. Assumiu um risco grande, dado que na sequência teria dois jogos seguidos em Montevidéu. A partida terminou 1 x 1. O que lhe tranquilizava era que diferente de suas outras participações entre 1981 e 1984 na competição continental, quando só o primeiro do grupo passava de fase, nas edições dos Anos 1990 os três primeiros do grupo iam adiante, havendo desta vez confrontos mata-mata.

Na sequência jogou duas vezes no Uruguai, onde empatou por 2 a 2 com o Bella Vista, e venceu o duelo mais tradicional, contra o Nacional, por 1 x 0, gol de Nélio. Abriu os jogos de volta com outra boa vitória como visitante, fazendo 2 x 0 no Corinthians no Pacaembu. Perto da classificação, voltou a vender uma partida como mandante, levando o confronto para o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, onde empatou contra o Bella Vista. Fechou a campanha em sua única atuação no Maracanã em toda a 1ª Fase, e em grande estilo, goleando ao Nacional por 4 x 0. Avançou às oitavas de final, e não teve dificuldade para vencer duas vezes ao Deportivo Táchira, da Venezuela, seguindo para jogar as quartas.  

A torcida estava animada com a campanha rubro-negra. Nas quartas de final, o confronto era contra o Boca Juniors, com o primeiro duelo no Maracanã. O estádio recebeu aproximadamente 60 mil pagantes, que viram o time rubro-negro abrir 2 x 0 nos vinte primeiros minutos da segunda etapa. Mas a vantagem confortável durou pouco, pois dois minutos após o segundo gol, o centroavante argentino Gabriel Batistuta diminuiu. Com um placar magro de só um gol de vantagem, a missão em Buenos Aires seria bastante complicada. E assim foi. Em La Bombonera, o Boca meteu 3 x 0, com dois de Diego Latorre e um de Batistuta, e acabou com o sonho dos flamenguistas.

Flamengo na Libertadores de 1991
Gilmar, Ailton, Adílson, Rogério Lourenço e Piá; Charles Guerreiro, Marquinhos, Júnior e Marcelinho Carioca; Alcindo e Gaúcho
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Zé Carlos, Wilson Gottardo, Dida, Toninho, Zinho, Paulo Nunes e Nélio

Antes do Estadual, houve a disputa de um torneio extra, a Taça Estado do Rio de Janeiro. Uma competição curta, com dois grupos, um de clubes da capital e outro do interior do estado do Rio, com os dois primeiros colocados de cada grupo avançando para fazer a semi-final, sendo o Grupo da Capital formado por Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Campo Grande e Olaria. O time rubro-negro só não venceu ao Botafogo, com quem empatou sem gols, ficando em 1º. No Grupo do Interior, o Americano ficou em 1º e o América de Três Rios em 2º lugar, a quem o time rubro-negro superou na semi-final para avançar para fazer a final contra o Americano, que superou ao Botafogo na outra semi. Na final, vitória rubro-negra por 3 x 0 e o título da competição.

Mas após a a eliminação na Libertadores, mas principalmente pela campanha ruim no Brasileiro, a relação entre Luxemburgo e a diretoria estava azedada, e esta conquista não mudou em nada a isto. Num primeiro momento a aposta foi pela manutenção do trabalho do técnico, mas as pressões internas daqueles que achavam que era um nome muito inexperiente para comandar o Flamengo cresceram, e sua demissão foi concretizada após um empate frente ao Itaperuna pela 2ª rodada da Taça Guanabara. Depois de sua saída do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo passaria por Guarani e Ponte Preta antes de chegar ao Palmeiras, onde viria a ser bi-campeão paulista e bi-campeão brasileiro em 1993 e 1994, ponto de partida para uma vitoriosa carreira de muitas conquistas no futebol nacional.

O elenco havia tido algumas baixas após o Brasileiro, mas nenhuma significativa. O meia Toninho foi vendido ao Tokyo Verdy, e o ponta Alcindo para o Kashima Anthlers, ambos clubes do Japão. Após perder a titularidade para Gilmar, o goleiro Zé Carlos optou por deixar o clube e seguir para o Cruzeiro. O zagueiro Adílson e o volante Ailton foram para o Guarani, o lateral Dida foi devolvido ao Palmeiras, Paulo César Cruvinel emprestado ao Coritiba e o meia Jéfferson dispensado. Só uma contratação foi feita, a do zagueiro Sandro Becker, do Internacional.

A aposta para substituir a Vanderlei Luxemburgo foi caseira, com o técnico voltando a ser Carlinhos, e foi nas mãos dele que aquele time engrenou. Sem ter feito uma grande campanha na Taça Guanabara, o trabalho engrenou após as vitórias sobre Vasco e Botafogo na reta final do 1º turno. Para a Taça Rio, o time só deixou de vencer uma vez nas seis primeiras rodadas, tropeçando num empate frente ao Americano. Na reta final voltou a vencer ao Vasco, disputando o título do turno cabeça a cabeça com o Botafogo. Os dois se enfrentaram na última rodada, com 110 mil pessoas no Maracanã que viram o Flamengo abrir 2 a 0 nos 17 primeiros minutos de jogo. No 2º tempo, no entanto, Carlos Alberto Dias marcou duas vezes e empatou a partida. A decisão foi adiada para a quarta-feira, quando os dois voltaram a se enfrentar e Gaúcho marcou o gol que colocou o Flamengo na Final do Carioca contra o campeão da Taça Guanabara, que havia sido o Fluminense.


Após um empate por 1 x 1 no primeiro jogo, a garotada comandada por Carlinhos e em campo pelo veterano Júnior brilhou na segunda partida, vencendo por 4 x 2 e voltando a dar um título de Estadual para o Flamengo após um jejum de cinco anos. A partida poderia ter sido a última de Júnior, que estava indeciso se optaria ou não pela aposentadoria. Foi justamente dele o quarto gol, aos 38 minutos do 2º tempo, que selou a conquista. Para o bem do Flamengo, ele acabou decidindo por dar continuidade à sua carreira no clube.

Flamengo no Carioca de 1991
Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Júnior Baiano e Piá; Uidemar, Júnior, Nélio e Zinho; Paulo Nunes e Gaúcho
Téc: Vanderlei Luxemburgo, depois Carlinhos
Banco: Roger, Rogério Lourenço, Fabinho, Marquinhos, Djalminha e Marcelinho Carioca

O time do técnico Carlinhos vinha embalado pela conquista do Carioca de 91 e a estrutura da equipe foi integralmente mantida para a nova temporada que se iniciava, um grupo recheado por uma maravilhosa safra de jovens pratas da casa. Só foram feitas as contratações de duas peças novas, e ambas para compor elenco: o meia-atacante Júlio César, adquirido ao Atlético Goianiense, e o centroavante Toto, do Internacional de Lages, de Santa Catarina. O elenco só seguia com problemas na lateral-direita, sem ter nenhuma peça de ofício, tendo os dois jogadores que atuaram nesta posição durante o campeonato daquele ano sido improvisados, ambos originalmente cabeças de área: Charles Guerreiro e Fabinho (assim como nos anos anteriores a solução havia sido improvisar ora Ailton ora Uidemar). Nunca em sua história, o Flamengo teve um elenco tão cheio de jogadores revelados na Gávea. Do elenco no Brasileiro de 92, dos 22 jogadores utilizados, 15 foram criados nas divisões de base do clube, que tinha, dentre outros, os zagueiros Gélson, Rogério e Júnior Baiano, o lateral-esquerdo Piá, os volantes Fabinho e Marquinhos, os meias Nélio, Djalminha, Marcelinho e Luís Antônio, e o ponta Paulo Nunes.

A campanha começou promissora, sem nenhuma derrota nos cinco primeiros jogos, vencendo fora de casa a Guarani e Palmeiras, e em casa ao campeão paulista São Paulo, e empatando com o Bahia em Salvador e com o Botafogo. Um excelente tiro de largada. Nas sete rodadas seguintes, no entanto, aconteceu um revés, principalmente com as derrotas no Maracanã para o Cruzeiro e o Bragantino, e por uma duríssima derrota de 4 x 2 para o Vasco, da dupla de ataque Edmundo e Bebeto. Alternando boas e más atuações, o time venceu ao Corinthians por 3 x 1 no Pacaembu, e perdeu para o Sport Recife no Maracanã. No sprint final, não perdeu nas quatro últimas rodadas, fechando a série com vitórias no Maracanã sobre o Goiás (3 x 1) e o Internacional (2 x 0), terminando a fase classificatória em 4ª lugar (oito se classificavam).

Na 2ª fase as oito classificados se dividiam em dois grupos de quatro, que se enfrentariam em turno e returno, com os vencedores de cada grupo avançando para fazer a final e disputar o título. O grupo rubro-negro tinha a Vasco (1º), Flamengo (4º), São Paulo (6º) e Santos (8º). Embalado, o time rubro-negro começou com uma boa vitória, vencendo ao São Paulo no Maracanã. Depois perdeu para o Santos no Morumbi. Na sequência, dois jogos seguidos contra o Vasco para decidir a sorte rubro-negra. Após obter um empate por 1 x 1 e uma vitória por 2 x 0, o Flamengo saltou para a liderança. Na 5ª rodada, perdeu para o São Paulo no Morumbi, e tudo ficou adiado para a rodada final: Flamengo x Santos jogavam no Maracanã e Vasco x São Paulo jogavam em São Januário, dois duelos simultâneos balançando a cidade do Rio de Janeiro. O São Paulo era o líder do grupo com 6 pontos, Flamengo e Santos tinham 5 pontos, e o Vasco, já sem chances, tinha 4 pontos. Só uma vitória interessava ao Flamengo, mas, ainda assim, não bastava, um simples empate em São Januário exigia que a vitória rubro-negra fosse por mais de dois gols de diferença. O Flamengo fez sua parte e venceu ao Santos por 3 x 1. Em São Januário, o Vasco atropelou ao São Paulo, vencendo por 3 x 0, com cada gol vascaíno sendo efusivamente comemorado pela torcida rubro-negra no Maracanã. O Flamengo avançou para fazer a final contra o Botafogo, que era liderado dentro de campo por Renato Gaúcho, e era considerado com amplo favorito para levantar o troféu.

Os desconcertantes dribles de Júnior em Renato Gaúcho no dia do histórico 3 a 0

No 1º jogo da final, logo no 1º tempo o destino da taça foi decidido: com uma atuação implacável, surpreendente e arrasadora, com gols de Júnior, Gaúcho e Nélio, o Flamengo fez 3 a 0. Atônitos, os alvi-negros não reagiram. Após o jogo, indignados, decidiram pela demissão de Renato Gaúcho, que após a partida fez um churrasco em sua casa junto ao centroavante rubro-negro Gaúcho. O 2º jogo foi um dia trágico para o futebol do Rio de Janeiro, por causa do acidente que ocorreu antes de seu início, quando uma grade de proteção se rompeu no Maracanã, causando a morte de alguns torcedores e interditando o estádio para manutenção pelos seis meses seguintes. Quando a bola rolou, o Flamengo abriu o placar logo no primeiro tempo, com Júnior, ampliando sua vantagem de gols no confronto para quatro. O título estava assegurado! No início do 2º tempo, Júlio César ampliou. O Botafogo ainda foi buscar o empate por 2 x 2, e o Flamengo se sagrou, pela quinta vez em sua história, campeão nacional.


Flamengo no Brasileiro de 1992
Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Júnior Baiano (Rogério Lourenço) e Piá; Uidemar, Júnior, Nélio (Fabinho) e Zinho; Paulo Nunes (Júlio César Goiano) e Gaúcho
Téc: Carlinhos
Banco: Adriano, Gélson Baresi, Marquinhos, Djalminha, Marcelinho Carioca e Toto

Com o time embalado pela conquista do título nacional, a diretoria apostou na manutenção do elenco, e buscou reforços pontuais. Fez uma troca com o Cruzeiro, na qual cedeu o centroavante reserva Toto e recebeu o ponta Aélson, e buscou um lateral-direito de ofício para tentar dar fim aos improvisos na posição, contratando Cláudio, do Bangu. O grande desafio rubro-negro era que o Maracanã estaria fechado para obras em função do desmoronamento ocorrido na final do Brasileiro de 92 e, por conta disto, todos os clássicos do Carioca de 1992 iriam ser disputados no Estádio de São Januário, do Vasco da Gama.

No 1º turno, o time começou bem, mas ao longo da campanha perdeu para Botafogo e Bangu, e empatou com o América de Três Rios. Ainda assim chegou à última rodada com chances de título, mas precisava vencer ao Vasco em São Januário. Entrou em campo jogando com três zagueiros, e foi um deles, Rogério, quem abriu o marcador no início do 2º tempo, mas vinte minutos depois o meia Carlos Alberto Dias deu números finais (1 x 1). No 2º turno, o time perdeu para Madureira, Botafogo e Fluminense, e empatou com o Olaria, mas ainda assim voltou a enfrentar ao Vasco em São Januário na última rodada nas mesmas condições. Novamente entrando em campo com três zagueiros, e mais vez empatando por 1 x 1. O Vasco foi o campeão da Taça Guanabara e da Taça Rio, sagrando-se assim automaticamente o campeão carioca. O Flamengo terminou ambos os turnos em 2º lugar, sagrando-se vice-campeão.

Flamengo no Carioca de 1992
Gilmar, Cláudio, Júnior Baiano, Rogério Lourenço e Piá; Fabinho, Marquinhos, Júnior e Júlio César Goiano; Paulo Nunes e Gaúcho
Téc: Carlinhos
Banco: Adriano, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Uidemar, Djalminha, Luís Antônio e Marcelinho Carioca


O período de 1978 a 1992 representou a "Primeira Era de Ouro" da história o futebol rubro-negro, concentrando a maior quantidade de conquistas até então, com uma certa hegemonia tanto a nível estadual quanto a nível nacional. Certamente, a maior parte destas glórias foi obtida entre 1978 e 1983, no apogeu de Zico, que não por acaso se tornou o maior ídolo da história do Flamengo: "ei, ei, ei, o Zico é o nosso rei!". O maior goleador com o vermelho e o preto, tendo marcado 513 gols, muito mais do que o segundo colocado Dida, que marcou 264 vezes. Ele foi o artilheiro do time por 9 temporadas, mais um recorde seu com a camisa rubro-negra, tendo sido o máximo goleador em todas as temporadas entre 1974 e 1980, e novamente em 1982 e 1983. Em dez anos consecutivos, o Galinho de Quintino só perdeu a ponta da artilharia rubro-negra na temporada uma única vez, em 1981, quando Nunes naquele ano balançou a rede mais vezes do que ele (e certamente a maioria destas vezes, com assistência de Zico). Ele é o segundo jogador com maior quantidade de vezes vestindo o vermelho e o preto, tendo entrado em campo em 732 partidas, atrás apenas de Júnior, seu grande amigo e contemporâneo de Gávea, que vestiu rubro-negro em 876 jogos.

No total do período de 1978 a 1992, em 16 edições do Campeonato Carioca o Flamengo foi 6 vezes campeão, o Fluminense e o Vasco foram 4 vezes cada um, e o Botafogo foi 2 vezes. Entre 1978 e 1983 venceu 4 de 7 edições, e entre 1984 e 1992 venceu apenas 2 em 9. Neste mesmo período, em 15 edições do Campeonato Brasileiro, o Flamengo foi 5 vezes campeão, tendo o São Paulo sido 2 vezes, e Corinthians, Fluminense, Vasco, Grêmio, Internacional, Guarani, Coritiba e Bahia, sido uma vez cada um. Entre 1978 e 1983 foram três conquistas entre seis possíveis, e entre 1984 e 1992 foram duas entre nove possíveis.

A fórmula de sucesso da primeira destas duas fases não foi repetida na segunda, se houvesse sido talvez o sucesso tivesse voltado a ter sido enorme. Para chegar à formação do time Campeão da Libertadores e do Mundial em 1981, combinaram-se três gerações distintas de pratas da casa, a primeira com Cantareli, Rondinelli, Júnior, Geraldo e Zico, a segunda com Andrade, Adílio e Júlio César, e a terceira com Leandro, Figueiredo, Mozer, Vítor e Tita. Para dar experiência a esta turma, foi contratado um goleiro veterano, Raul, e foram pincelados alguns talentos escolhidos a dedo, como Marinho, Lico e o goleador Nunes. O segundo período poderia ter repetido a fórmula, se tivesse havido paciência e tivessem sido tomadas decisões mais adequadas. Foram formadas três gerações com alto nível de qualidade técnica, uma primeira com Zé Carlos, Jorginho, Aldair, Ailton, Bebeto e Zinho, uma segunda com Rogério, Gélson e Leonardo, e uma terceira com Júnior Baiano, Piá, Fabinho, Marquinhos, Marcelinho, Djalminha, Nélio e Paulo Nunes. Para dar experiência a esta turma, também foi contratado um goleiro veterano, Gilmar, e foram pincelados alguns talentos escolhidos a dedo, como Wilson Gottardo, Uidemar e o goleador Gaúcho. É certo que não havia um Zico nesta segunda parte da história, e isto faz muita diferença, mas o resultado poderia ter sido tão bom quanto, ou ainda melhor. Em vez disto, o Flamengo formou talentos que foram brilhar com a camisa de outros clubes. Escolheu vender muitos jovens para o futebol europeu, e ainda assim, optando por levas de contratações em quantidade maior mas que deram retorno pequeno, deteriorando a situação de caixa do clube, e fazendo a dívida se descolar de sua capacidade de arrecadação, uma tendência que só viria a piorar nos anos seguintes, vindo a culminar na pior crises e nos piores resultados futebolísticos da história do Flamengo.


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