ANDRADE: A Marcação com Elegância
Carreira: 1976-1977 Flamengo; 1978-1979 ULA Mérida (Venezuela); 1979-1988 Flamengo; 1988-1989 Roma (Itália); 1989-1990 Vasco; 1991 Internacional de Lages (SC); 1991 Atlético Paranaense; 1992-1993 Desportiva (ES); 1994 Linhares (ES); 1994-1995 Operário de Várzea Grande (MT); 1995 Bacabal (MA); 1996 Barreira (RJ)
Mais de 550 partidas com o vermelho e o preto. Um dos personagens do maior tripé de meio de campo da história rubro-negra: Andrade, Adílio e Zico. Quatro vezes campeão carioca, quatro vezes campeão brasileiro com o Flamengo (ainda seria uma quinta vez campeão pelo Vasco), campeão sul-americano e mundial. Se já não bastasse tão imponente curriculum, como treinador ele ainda viria levar o Flamengo a ser Campeão Brasileiro de 2009.
Como jogador do Flamengo, ele fez 568 jogos, e marcou 28 gols.
Abaixo, a combinação de dois textos sobre a carreira do jogador, escritos por Rafael de Oliveira no blog "FlaManolos" e por José Carlos de Oliveira no site "Memórias do Esporte":
Jorge Luis Andrade da Silva nasceu dia 21 de abril de 1957, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Apesar de atuar como volante, seu estilo de jogo não se restringia à função defensiva, era um jogador de muita técnica, dotado de excelente visão de jogo e capaz de realizar lançamentos de longa distância com extrema perfeição. Muito talentoso, Andrade formou ao lado de Adílio e Zico um meio de campo que resiste ao tempo e se mantém vivo na mente da torcida rubro-negra.
Andrade chegou ao Flamengo em 1974, após ter se iniciado para o futebol nas categorias de base do Tupi, de sua cidade-natal. Fez testes na Gávea e foi aprovado. Após expirar sua idade de juvenil (sub-20) foi emprestado por duas temporadas ao futebol venezuelano, onde atuou como camisa 10 e chegou a ser artilheiro pelo time da Universidad de Los Andes (ULA), da cidade de Mérida.
Reza a lenda que Cláudio Coutinho o viu pela primeira vez durante um treino na Gávea e se surpreendeu: "quem é esse garoto?". Responderam a ele que o jovem estava emprestado a um time da Venezuela. Coutinho então teria respondido "o que ele está fazendo lá? Ele é muito bom, tragam ele de volta já".
Em 1978, Andrade estava então de volta à Gávea. Ele começou a entrar com mais frequência no time em 1979, especialmente no segundo dos dois Campeonatos Cariocas que foram jogados naquele ano. Mas o meio de campo titular era formado por Carpegiani, Adílio e Zico. Em 1980, na campanha do título de Campeão Brasileiro, Andrade já aparecia entre os titulares, ao lado ora de Carpegiani ora de Adílio. Dali em diante não perderia mais a titularidade da camisa 6 durante várias temporadas.
Na final do Campeonato Brasileiro de 1980 no Maracanã, um jogaço entre Flamengo e Atlético Mineiro, com vitória rubro-negra por 3 x 2, com o gol do título saindo nos minutos finais, o "Tromba" (apelido que tinha recebido dos companheiros no elenco rubro-negro) tornou-se heroí, aos 45 minutos do 2º tempo, quando Manguito, zagueiro que substituía ao titular e lesionado Rondinelli naquela partida, recuou uma bola para o goleiro Raul. Pedrinho, jogador do Galo, chegou antes na bola e passou pelo goleiro rubro-negro. Seria o gol de empate, que daria o título ao Atlético. Seria! Andrade deu um pique e tirou a bola de carrinho, salvando o Mengão e salvando Manguito. Era a conquista do primeiro título Brasileiro do Flamengo. E Andrade, foi um dos heróis daquele jogo.
Outro momento histórico de Andrade no Flamengo aconteceu em 8 de novembro de 1981. Era a 7ª rodada do 3º turno do Campeonato Carioca daquele ano: Flamengo x Botafogo. O 1º tempo terminou 4 a 0 para o time rubro-negro. Aos 29 minutos do 2º tempo, Adílio foi derrubado na área e sofreu pênalti, que Zico no minuto seguinte cobrou, fazendo o quinto gol. Desde 1972 os torcedores rubro-negros sofriam com as gozações de botafoguenses pela derrota por 6 a 0 sofrida naquele ano. Naquele momento em que o placar apontava 5 a 0 com 15 minutos ainda por serem jogados, o Maracanã, lotado por 69 mil pessoas, inflamou-se como se fora uma disputa de título. A galera berrava "Queremos seis!". Nenhum rubro-negro iria para casa feliz, iria esboçar sorrisos nem emanar alegrias se aquele jogo houvesse terminado com uma goleada de cinco.
Faltava apenas um gol. E ele saiu três minutos antes do fim da partida. Após cruzamento de Adílio, a bola foi rebatida pela defesa alvi-negra e sobrou para Andrade na entrada da área. O volante chutou com força e fechou o placar. Por ironia do destino, coube a um ex-torcedor do Botafogo, vestindo a camisa 6, a honra de fazer o sexto tento.
"Eu garoto, em Juiz de Fora, era botafoguense. E aconteceu de eu ser o cara para fazer o sexto gol. Quando a bola veio, peguei de bate-pronto. Nem senti no pé: ela saiu com aquela pressão, reta, como se fosse um foguete", contou Andrade no livro "1981 O Ano Mágico Rubro-Negro". Foi o gol mais importante entre os que ele marcou pelo Mengão! Seu passado alvi-negro ficou definitivamente para trás: "Hoje sou rubro-negro de alma e de coração, respiro vermelho e preto".
Campeão Carioca, da Libertadores e Mundial em 81, Campeão Brasileiro em 82 e 83, o time rubro-negro vencia e vencia. A conquista da Libertadores foi em cima do Cobreloa, do Chile, quando o Mengão venceu por 2 a 0 no terceiro jogo, dois gols marcados por Zico. Mas a emoção maior na vida de Andrade, ainda estava para acontecer. Era o dia 13 de dezembro de 1981, quando o Flamengo entrou em campo para o jogo mais importante da sua história. E lá estavam; Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, encarregados de levar o clube rubro-negro à conquista do título Mundial Interclubes contra o Liverpool, poderoso time inglês. O jogo que parecia ser tão difícil, com o passar do tempo foi ficando cada vez mais fácil. Logo aos 13 minutos de jogo, Nunes marcou o primeiro gol. Aos 34, Adílio ampliou o placar. E ainda no primeiro tempo, aos 41 minutos, Nunes marcou o terceiro.
Foi com a camisa rubro-negra que Andrade chegou à Seleção Brasileira, tendo disputando 16 jogos com a camisa canarinho, tendo disputado as Olimpíadas de Seul em 1988, de onde trouxe uma Medalha de Prata.
Em 1988, após dez anos seguidos no Flamengo, transferiu-se para a Itália, aonde foi jogar pela Roma. Mas a experiência no futebol italiano foi curta, e no ano seguinte ele voltou ao Brasil. Recebeu proposta do Vasco e foi jogar em São Januário. Por lá conquistou seu 5° título brasileiro como jogador em 1989 (era reserva na conquista, o meio-campo titular do time cruzmaltino tinha Zé do Carmo como volante titular). Andrade conquistava o seu quinto Campeonato Brasileiro, haja visto que já possuía outros quatro títulos pelo Flamengo, e naquele momento era o maior conquistador de edições de Brasileirão, só vendo a ser superado por Zinho alguns anos depois.
Antes da aposentadoria, em 1992 sagrou-se Campeão Capixaba pela Desportiva, em 1994 sagrou-se Campeão Mato-Grossenso vestindo a camisa do Operário de Várzea Grande.
Depois que encerrou a brilhante carreira de jogador de futebol, Andrade voltou a trabalhar no Flamengo, primeiro como técnico do time sub-20, depois como assistente-técnico, tendo assumido à equipe por alguns jogos como técnico interino, até ter em 2009 a primeira oportunidade de ser efetivado como técnico do Flamengo.
A primeira vez em que Andrade assumiu a equipe principal do Flamengo, data da demissão de Abel Braga no ano de 2004. Naquela ocasião Andrade comandou o clube interinamente em três jogos, até a chegada de Paulo César Gusmão. Treze dias e três derrotas depois, PC Gusmão foi preterido da função e lá estava novamente Andrade à frente do time rubro-negro, desta vez por mais dois jogos, até a chegada de Ricardo Gomes. Quando este saiu, deu lugar novamente a Andrade. Naquela a oportunidade, o ex-jogador teve maior chance de demonstrar sua destreza à frente do Flamengo, já que a diretoria enfim o confiara a função até o fim da temporada, ainda assim, com a árdua missão de livrar a equipe do rebaixamento que assombrava a Gávea em 2004.
Naquele ano Andrade conseguiu uma arrancada e dessa maneira livrou o Flamengo da degola, no entanto, a diretoria preferiu tentar mais uma vez que outro treinador assumisse a equipe ao invés do próprio ex-jogador. Não demorou a que o então novo técnico Júlio César Leal pedisse as contas e que Andrade mais uma vez assumisse o Flamengo interinamente em outra partida, ao menos, até a efetivação de Cuca que na época chegaria para a sua primeira passagem pela Gávea. Naquela época conturbada em que o clube vivia, Cuca logo se desentendeu com membros da diretoria e saiu, mais uma vez Andrade comandou a equipe em duas partidas, até a chegada do novo técnico, que desta vez foi Celso Roth.
A estadia de Roth no Flamengo durou pouco mais de três meses. Com sua demissão, Andrade conseguiu a sua maior continuidade no cargo de treinador. Desta vez foram doze jogos á beira do gramado comandando a equipe principal, no entanto, os maus resultados e principalmente a péssima situação em que o clube se encontrava no Campeonato Brasileiro fizeram com que Andrade novamente voltasse ao cargo de auxiliar-técnico, passando a compor a Comissão Técnica comandada por Joel Santana. Seu bom senso e poder de observação fizeram com que a história se repetisse com as passagens de Caio Júnior e Cuca (novamente) pela Gávea.
Na saída de Cuca, durante o Brasileiro de 2009, Andrade mais uma vez assumiu o time profissional do Flamengo interinamente, àquela altura, porém, o próprio ex-jogador declarou a um site especializado que não tinha expectativas de ser efetivado. Apesar disso, as vitórias conquistadas pelo time, que voltou a se mostrar aguerrido, fizeram com que Andrade fosse se mantendo no cargo. O time engrenou, arrancou na competição, foi galgando posições na tabela, e na última rodada conquistou o título nacional. Andrade reforçava a escrita de seu nome na história rubro-negra, o primeiro a ser Campeão Brasileiro como jogador e como treinador vestindo vermelho e preto.
Depois do Flamengo, Andrade passou como técnico pelo Brasiliense em 2010, pelo Paysandu em 2011, pelo Boavista no Campeonato Carioca de 2012, pelo São João da Barra, na Segunda Divisão do Campeonato Carioca de 2014, pelo Jacobina, da Bahia, em 2015, e pelo Petrolina, de Pernambuco, em 2017. Apesar de campeão nacional, e eleito o melhor técnico no Brasil em 2009, Andrade não conseguiu construir uma carreira bem sucedida e duradoura na elite do futebol brasileiro.
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