quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Um Guia para a busca do Flamengo pelo treinador para 2022


Depois do extraordinário trabalho do português Jorge Jesus a frente do Flamengo em 2019, e da busca na Europa por seu substituto em 2020, ao final da temporada 2021, após as desilusões com os trabalhos de Rogério Ceni e Renato Gaúcho, a diretoria rubro-negra voltou a ir em busca de um treinador na Europa. E foram tantas as especulações - algumas com fundamento em sondagens que realmente aconteceram, outras meras cavadas na imprensa de empresários oportunistas - que se faz necessário um guia para entender quem era quem em cada um dos nomes especulados.

Para começar vamos retornar a julho de 2020, quando o Flamengo fez um verdadeiro processo seletivo para a escolha de seu novo treinador, após Jorge Jesus trocar o Flamengo pelo Benfica. Daquela vez, também houve muita especulação, tendo-se ventilado nomes como o espanhol Miguel Ángel Ramírez (retumbante fracasso posteriormente a frente do Internacional), o renomado espanhol Rafa Benítez, o mexicano Javier Aguirre, o alemão Jurgen Klinsmann e o espanhol Fernando Hierro. Mas os nomes efetivamente no "processo" rubro-negro eram 7, alguns dos quais, naturalmente, voltaram à pauta nesta nova busca no fim de 2021. Os nomes daquela vez eram:

1. O argentino Marcelo Gallardo, técnico do River Plate, Campeão da Libertadores de 2018 e vice-campeão da Libertadores de 2019, e que posteriormente veio a ser Campeão Argentino de 2021. Técnico do River Plate desde 2014 até 2021, em oito temporadas a frente do time, conquistou três resultados expressivos, um dos quais sendo o mesmo vice que levou à demissão de Renato Gaúcho. No Flamengo não teriam a mesma paciência. Ainda assim, o clube voltou a cogitar contratá-lo no fim da temporada 2021, mas ele optou por renovar e continuar no River.

2. O argentino Jorge Sampaoli brilhou na Universidad de Chile, onde foi Tri-Campeão Chileno e Campeão da Copa Sul-Americana de 2011. Assumiu à Seleção do Chile e foi Campeão da Copa América de 2015. Na temporada 2016/17 foi 4º lugar do Campeonato Espanhol com o Sevilla. Assumiu então à Seleção da Argentina e foi vice-campeão da Copa do Mundo de 2018. Parada seguinte no futebol brasileiro, vice-campeão do Brasileirão de 2019 com o Santos e 3º lugar no de 2020 com o Atlético Mineiro. Assumiu então ao Olympique de Marselha, levando-o ao 5º lugar na temporada 2020/21. Na temporada 2021/22 terminou a primeira metade na vice-liderança do Campeonato Francês. Embora seu nome tenha surgido como especulação na imprensa no processo rubro-negro no fim de 2021, nunca foi cogitado como possibilidade real.

3. O português Marco Silva teve seu primeiro trabalho de mais destaque a frente do Sporting na temporada 2014/15 do Campeonato Português, na qual foi 3º lugar. Migrou para a Grécia na temporada 2015/16 e foi Campeão Grego com o Olympiacos. Depois teve duas oportunidades na Inglaterra, na temporada 2016/17 na 2ª Divisão a frente do Hull City, e na 1ª Divisão com o Watford. Na temporada 2018/19 da Premier League, treinou ao Everton, terminando em 8º lugar. Em 2020, estava desempregado, foi sondado, mas informou ao Flamengo que não tinha planos de sair da Europa. E assim, foi, pois seguiu na Inglaterra: na temporada 2021/22 foi o treinador do Fulham. No processo 2021, o Flamengo nem cogitou o procurar.

4. O português Paulo Sousa, ex-jogador, começou a carreira de treinador na Inglaterra, a frente de Queens Park Rangers, Swansea e Leicester. Passou por Hungria, Israel e Suíça, até na temporada 2015-16 assumir à Fiorentina, da Itália, onde esteve por duas temporadas: 5º e 8º lugares no Campeonato Italiano. Passou pela China e na temporada 2019/20 assumiu ao Bordeaux, da França: 12º lugar no Campeonato Francês. O Flamengo negociou com ele em 2020, mas ele não renunciou ao Bordeaux, mas um mês depois foi demitido na França. Em 2021 assumiu como técnico da Seleção da Polônia. Não tem títulos expressivos no curriculum como técnico. Ainda assim, o Flamengo voltou a procurá-lo como opção no fim de 2021.

5. O português Leonardo Jardim treinou a Chaves, Beira-Mar, Braga e Sporting em Portugal, e no Olympiacos, da Grécia, na temporada 2012/13. Mas seu trabalho de maior destaque foi a frente do Monaco, da França, onde ficou de 2014 a 2019, tendo se sagrado Campeão Francês da temporada 2016/17. Estava desempregado em 2020, abriu conversas com a diretoria rubro-negra, mas avisou que tinha propostas da Europa e da Ásia, e que daria prioridade a estas. E assim foi, tendo na temporada 2021/22 sido o treinador do Al Hilal, da Arábia Saudita. No processo de 2021, o Flamengo não cogitou voltar a procurá-lo.

6. O português Carlos Carvalhal era o preferido do "processo 2020". Técnico do Sporting nas temporadas 2009/10 e 2010/11, e do Besiktas, da Turquia, na temporada 2011/12, esteve um tempo sem clube até recomeçar na Inglaterra, com duas temporadas com o Sheffield na 2ª Divisão (2015/16 e 2016/17), e na temporada 2017/18 no Swansea, onde terminou rebaixado à 2ª Divisão. Na temporada 2019/20 era o treinador do Rio Ave, de Portugal, quando foi sondado pelo Flamengo, tendo sido a 5ª colocação do Campeonato Português. Rejeitou a proposta rubro-negra para assumir ao Braga, com quem foi 4º lugar no Campeonato Português 2020/21. Voltou a ser um dos nomes preferidos no "processo seletivo 2021 da Gávea". Mas é um treinador sem títulos no curriculum.

7. O escolhido do "processo seletivo 2020 da Gávea" foi o espanhol Domenec Torrent, que por 10 anos havia sido o auxiliar-técnico de Pep Guardiola em Barcelona, Bayern Munique e Manchester City, e que na temporada 2018/19 se arriscou pela primeira vez num trabalho solo como técnico de futebol, assumindo ao New York City, dos Estados Unidos. Trabalhou no Flamengo por um turno do Brasileirão 2020, brigando pela ponta da tabela, mas demitido após ser goleado duas vezes seguidas por quatro gols, perante o São Paulo no Maracanã e o Atlético no Mineirão. Desde sua saída do Rio de Janeiro, não voltou a trabalhar.

Do "Processo Seletivo 2020 da Gávea", dos sete nomes, três voltaram a efetivamente ser cogitados novamente: o Flamengo voltou a sonhar com Marcelo Gallardo, e abriu negociação com os portugueses Carlos Carvalhal e Paulo Sousa. É com esta revisão histórica que iniciamos o guia de quem foi quem no "Processo Seletivo 2021 da Gávea", e nele serão misturados, a seguir, tanto nomes que o Flamengo efetivamente procurou, quanto nomes que foram levados à diretoria por empresários, e/ou meramente ventilados pela imprensa, não só brasileira como estrangeira. A intenção original, no entanto, parece que girava em torno de dois nomes: os portugueses Jorge Jesus e André Villas-Boas.

O sonho de contar de volta com Jorge Jesus, no entanto, parecia depender e muito de uma eventual eliminação do Benfica na Liga dos Campeões da UEFA. Mas seu time eliminou ao Barcelona e se classificou à fase seguinte junto ao Bayern Munique, afundando o sonho rubro-negro de voltar a contar com JJ.

A outra opção era André Villas-Boas, Campeão Português de 2010/11 com o Porto, Campeão da Copa da Inglaterra de 2012 com o Chelsea, e Campeão Russo de 2014/15 com o Zenit. Ele estava sem clube após duas temporadas a frente do Olympique de Marselha, da França. Ele respondeu ao Flamengo dizendo que sua prioridade era continuar na Europa.

Restava partir atrás de alternativas. Logo no início, três treinadores estrangeiros foram oferecidos à diretoria rubro-negra, mas logo não foram cogitados como opções reais. Um grupo de empresários ofereceu a Ernesto Valverde, Rudi Garcia e Javi Gracia. O primeiro era o renomado espanhol Ernesto Valverde, que estava desempregado, com um curriculum no qual foi três vezes Campeão Grego com o Olympiacos, nas temporadas 2008/09, 2010/11 e 2011/12, e principalmente Bi-Campeão Espanhol com o Barcelona nas temporadas 2017/18 e 2018/19. Mas a possibilidade envolvia cifras muito altas, e logo descartadas pela diretoria do Flamengo. O outro espanhol era o jovem Javi Gracia, treinador com passagens por Almeria, Osasuna e Málaga, na Espanha, Rubin Kazan, na Rússia, e Watford, na Inglaterra, e então recém demitido no Valencia. Um nome sem títulos no curriculum, que não empolgou, e logo a seguir assinou com o Al Sadd, do Catar. Por fim o francês Rudi Garcia, como passagens na França por Lille, Olympique Marselha e Lyon, e técnico da Roma de 2013 a 2016. Um curriculum de respeito, tendo sido considerado técnico do ano na França em 2011, e vice-campeão da Liga Europa com o Olympique em 2018. Mas as conversas também não esquentaram.

Logo a seguir chegou uma sondagem de empresários ligados ao espanhol Fran Escribá, que teria interesse no futebol brasileiro e em especial no Flamengo. Sem um curriculum robusto, acumulava passagens por Getafe, Villarreal, Celta de Vigo e Elche, sem trabalhos fora da Espanha, e também sem títulos no curriculum. Sequer foi cogitado pela diretoria rubro-negra.

Na imprensa da Turquia surgiu a notícia de que o Flamengo teria avançado conversações com o técnico português Vítor Pereira, então treinador do Fenerbahce. Técnico Bi-Campeão Português com o Porto nas temporadas 2011/12 e 2012/13, e Campeão Grego de 2014/15 com o Olympiacos, também tinha passagens pelo 1860 Munique, da Alemanha, e pelo Shanghai SIPG, da China. Os dirigentes rubro-negros chegaram a Portugal para abrir o "Processo Seletivo 2021 da Gávea" numa sexta-feira, 17 de dezembro. Em 20 de dezembro, Vítor Pereira foi demitido pelo Fenerbahce, quando era o 5º lugar no Campeonato Turco.

Na imprensa italiana surgiu notícia insistente de que o Flamengo estaria negociando com o ex-goleiro italiano Walter Zenga, que como treinador passou por Estados Unidos, Romênia, Sérvia, Emirados Árabes e Arábia Saudita, e pelo futebol italiano por Catania, Palermo e Sampdoria. Também trabalhou no Wolverhampton, da Inglaterra, e que estava desde 2016 sem nenhum trabalho. Esta notícia não foi replicada em nenhum lugar fora da Itália, o que aparentemente indica que não passou de especulação sem qualquer fundo de verdade.

Quem parece que a diretoria rubro-negra efetivamente sondou foi o português Paulo Fonseca, técnico com passagens por Paços de Ferreira, Porto e Braga, e que foi Tri-Campeão Ucraniano com o Shakhtar Donetsk nas temporadas 2016/17, 2017/18 e 2018/19. E que nas temporadas 2019/20 e 2020/21 tinha sido o técnico da Roma, no Campeonato Italiano. Sem clube, ele respondeu dizendo que sua prioridade também era continuar na Europa.

Outra hipótese ventilada foi Rui Vitória, um nome que havia sido especulado em 2020 após a demissão do espanhol Domenec Torrent. Ele, assim como Jorge Jesus, foi Tri-Campeão Português com o Benfica, no caso dele, nas temporadas 2015/16, 2016/17 e 2018/19. Depois passou pelo Al Nassr, da Arábia Saudita, e pelo Spartak Moscou, da Rússia, tendo recém sido demitido, no início de dezembro de 2021, quando o Flamengo iniciava sua nova busca na Europa, e quando estava como 5º lugar no Campeonato Russo.

Também surgiram notícias indicando um possível interesse no português Pedro Martins, treinador do Olympiacos, da Grécia, desde 2018. Após passagens por Marítimo, Rio Ave e Vitória de Guimarães, foi no futebol grego que ele colocou títulos no curriculum, sendo Bi-Campeão Grego nas temporadas 2019/20 e 2020/21.

Por fim, surgiu uma especulação em torno do nome do português Luis Castro, treinador com passagens em Portugal por Penafiel, Porto, Rio Ave, Chaves e Vitória de Guimarães, além de Shakhtar Donetsk, onde foi Campeão Ucraniano, e que estava no Al Duhail, do Catar. Aparentemente, apenas uma especulação plantada por empresário e sequer verdadeiramente cogitada.

Com negativas de Marcelo Gallardo, Jorge Jesus, André Villas-Boas e Paulo Fonseca, no fim as opções reais pareciam girar em torno de quatro portugueses: Carlos Carvalhal, Paulo Sousa, Vítor Pereira e Rui Vitória.

Opinião do blog A NAÇÃO:
1. Carlos Carvalhal: é mais difícil colocar o Fortaleza em 4º lugar do Campeonato Brasileiro do que colocar Rio Ave em 5º e Braga em 4º no Campepnato Português. A capacidade como treinador do argentino Juan Pablo Vojvoda chama mais atenção do que a de Carlos Carvalhal.
2. Paulo Sousa: seus trabalhos mais relevantes são 5º lugar no Campeonato Italiano com a Fiorentina e 12º lugar no Campeonato Francês com o Bordeaux. Não parece nada muito diferente do que, por exemplo, o argentino Hernán Crespo também seria capaz de fazer.
3. Vítor Pereira: bi-campeão português uma década antes, e campeão grego. O português Jesualdo Ferreira, que fracassou no Santos, tinha curriculum bem parecido. Pesa a favor de Vítor Pereira que ele seja mais jovem do que Jesualdo, com conceitos táticos, talvez, mais rejuvenecidos. Talvez...
4. Rui Vitória: tri-campeão português num período mais recente, parece ser o nome dentre estes quatro com mais possibilidades de vingar positivamente a frente do Flamengo. Um "novo Jorge Jesus" ele com certeza não seria, talvez pudesse ser um "novo Abel Ferreira".


Com os dirigentes rubro-negros Marcos Braz e Bruno Spindel em Portugal, e em meio a uma enxurrada de notícias envolvendo Flamengo e a crise entre Jorge Jesus e Benfica, foi então que explodiu a bomba em 26 de dezembro de um acerto com Paulo Sousa. E então a crise por conta do Flamengo mudou de país, de Portugal para a Polônia, onde os jornais trataram ao treinador como "traidor" e "desertor". Faltavam três meses para que a Seleção da Polônia enfrentasse à Rússia em dois jogos, valendo pela Repescagem para a Copa do Mundo de 2022 no Catar, e Paulo Sousa comunicou à Federação Polonesa sua intenção de romper seu contrato.

Completando um ano no cargo, seu desempenho a frente da Polônia não era empolgante. Na Euro 2021 ficou em último lugar em seu grupo, após empatar com Espanha (1 x 1) e ser derrotado por Eslováquia (1 x 2) e Suécia (2 x 3). Nas Eliminatórias para o Mundial, ficou em 2º lugar num grupo de seis, indo à Repescagem. Terminou atrás da Inglaterra, que obteve a classificação, e tendo como único mérito ter terminado a frente da Hungria, pois os outros países no grupo eram Albânia, Andorra e San Marino, seleções que nunca tinham jogado uma Copa do Mundo na história. Restava-lhe, em março de 2022, dois jogos contra a Rússia para tentar a vaga na Copa. Mas ele decidiu aceitar à oferta do Flamengo.


Apenas dois dias após estourar a bomba que gerou a crise com a Polônia, em 28 de dezembro outras duas bombas explodiram, dando uma sacudida no contexto: Cuca, treinador Campeão em 2021 do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil pediu demissão no Atlético Mineiro, alegando problemas familiares aos quais necessitava se dedicar, e em Portugal o Benfica oficializou a demissão de Jorge Jesus, que passou automaticamente a ser o nome número um da lista do Atlético. Mas a decisão estava tomada. Paulo Sousa chegou ao Flamrngo com outros seis estrangeiros em sua comissão técnica: três espanhóis, outros dois portugueses e um italiano.




"Não tenho receio em tomar decisões. Me apareceram vários clubes durante o período em que eu treinei a Seleção da Polônia, mas não tinha aparecido um Flamengo. E aí me apareceu o Flamengo e tive que me tomar uma decisão".
Paulo Sousa, em entrevista à RTP TV, de Portugal, em 06/01/2022


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