terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Futebol do Flamengo de 1993 a 2001: a megalomania dos investimentos sem lastro


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO

ANOS DE REENGENHARIAS: A MEGALOMANIA DOS INVESTIMENTOS SEM LASTRO (1993 a 2001)
As mais ousadas contratações de sua história e um crescente buraco nas finanças


Apesar do título brasileiro em 1992, o caldeirão político da Gávea estava em ebulição, fazendo com que imperasse o desejo de renovação. A eleição no fim daquele ano marcou pela primeira vez desde 1976 a vitória de um candidato sem ligações com a Frente Ampla pelo Flamengo, e ele chegava prometendo mudanças. O jovem empresário Luiz Augusto Veloso presidiu o clube no biênio 1993-1994, tendo a seu lado, como homem forte do futebol, a Paulo Dantas, que assumiu como Vice-presidente de futebol. Prometendo conter despesas, a linha de trabalho foi em massificar o elenco com jovens vindos das divisões de base. O grupo inexperiente não conquistou títulos no futebol, e isso na política do clube é fatal. O insucesso de Veloso abriu a porta para emergir um novo grupo político no clube, liderado por Kléber Leite, que assumiu o clube tendo a Plinio Serpa Pinto como seu braço direito, na Vice-presidência de futebol, e Paulo Angioni como Superintendente de futebol, mesmo cargo que ele ocupou no Vasco entre 1979 e 1994. Kléber agitou o futebol carioca com contratações de impacto, ao estilo de Francisco Horta no Fluminense nos Anos 1970. A ousadia foi bem aceita e ele foi reeleito, tendo sido presidente por duas gestões 1995-96 e 1997-98. Mas para o segundo mandato o clube perdeu Angioni, que foi contratado pelo Corinthians.

Kléber Leite era jornalista esportivo, trabalhou como radialista na Rádio Globo, onde cobria as partidas sentado atrás do gol e entrevistando os jogadores em campo. Enriqueceu ao se meter no negócio de exploração de placas de publicidade do Maracanã e no mundo do entretenimento, investindo em casas de espetáculo. Seu modelo de gestão foi altamente gastador e isto levou a dívida do clube, que já vinha crescente e preocupante desde o final dos Anos 1980, a estourar de vez.

Depois dele, o presidente seguinte foi Edmundo Santos Silva, eleito para o biênio 1999-2000 e reeleito para 2001-2002. Seu Vice-presiente de Futebol foi Wálter Oaquim. Na primeira gestão eles voltaram a tentar implementar um modelo moderno de gestão, com um executivo autônomo gerindo o futebol. Entre janeiro de 1999 e fevereiro de 2000 este gestor foi o ex-goleiro de Flamengo, São Paulo e Seleção Brasileira, Gilmar Rinaldi, que exercia a função de Gerente Executivo do futebol. Depois ele veio a ser substituído, com a função entre fevereiro e maio de 2000 tendo sido ocupada pelo treinador Renê Simões, que nunca tinha trabalhado no clube e assumiu como Superintende de futebol. O modelo moderno entrou em conflito com os "diretores amadores", não remunerados, ex-chefes de Torcidas Organizadas, e que foram levados para dentro da política do clube por Edmundo Santos Silva, pois haviam sido peças-chave na sua vitória nas eleições do fim de 1998: Leonardo Ribeiro - o Capitão Léo (ex-presidente da Torcida Jovem do Flamengo) e Eugênio Onça (ex-presidente da Raça Rubro-Negra). O mesmo Capitão Léo que foi peça ativa na demissão de Renê Simões, também foi personagem principal, 10 anos depois, no pedido de demissão de Zico do cargo, só que, então, Capitão Léo exercia a função de Presidente do Conselho Fiscal do clube.

Durante seu segundo mandato, Edmundo Santos Silva fechou parceria milionária com a empresa de marketing ISL, que pouco depois entrou em falência na Suiça. O Flamengo não tinha recebido todos os recursos do contrato, mas já tinha gastado de forma antecipada o que tinha por receber, tendo os cofres ficado com um rombo enorme, o qual levou aos piores anos da história profissional rubro-negra, quando se acumularam vexames.

Mas a grandeza rubro-negra já estava consumada, e apesar de alguns arranhões, seguiu inabalada. Como a Revista Placar escreveu na matéria na qual divulgou a primeira pesquisa de dimensão das torcidas a nível nacional, em junho de 1983: "os números simplesmente comprovam o que todos suspeitavam (...) A vitória rubro-negra (na pesquisa) serve para confirmar o que sempre se suspeitou. E o mesmo se pode dizer do segundo lugar conseguido pelo Corinthians". Em 1993, quando a mesma revista encomendou uma segunda pesquisa, o percentual de vantagem do Flamengo na liderança havia caído, principalmente porque os números de 1983 estavam inflados pelas conquistas da Era de Ouro Rubro-Negra, mas a primeira posição seguia sendo confortavelmente vermelha e preta.

A supremacia foi constatada por todas as pesquisas realizadas nas duas primeiras décadas do Século XXI, quando o Brasil tomou gosto pelas estatísticas. Todas as pesquisas a nível nacional para determinar quais clubes de futebol tinham as maiores torcidas do Brasil eram unânimes em um ponto: a maior era a do Flamengo, e a segunda maior a do Corinthians. Daí para baixo podiam haver contestações, discordâncias e pontos para questionamento. E sem qualquer sinal de modificação brusca de mudança na liderança a curto ou a médio prazo desta realidade.

É o que é facilmente constatável ao se tomar 17 pesquisas encomendadas pelas seguintes mídias: 5 pelo jornal Lance!, 3 pela Revista Placar, 2 pelo jornal Folha de São Paulo, 1 pela Rede Globo, e 13 independentes, feitas diretamente pelo institutos de pesquisa (interessante notar que 75% delas foram encomendadas pela imprensa de São Paulo contra 25% por mídias do Rio de Janeiro). Dentre os institutos de pesquisa que as realizaram: 13 foram feitas pelo Datafolha e 7 pelo Ibope, todos os dois institutos fundados e sediados em São Paulo. Na média destas pesquisas, o Flamengo aparecia com 17,07% da preferência, com um desvio-padrão de 1,33 pontos percentuais, o que significa um intervalo de confiança de 15,74% a 18,40%. O Corinthians aparecia com 13,15% da preferência, com um desvio-padrão de 1,49 pontos percentuais, o que significa um intervalo de confiança de 11,66% a 14,64%. Ao se trabalhar só com a média das pesquisas feitas a partir de 2000, excluindo as feitas nos Anos 1990, o Flamengo tinha 17,18% da preferência, com um desvio-padrão de 1,37 pontos percentuais, o que significa um intervalo de confiança de 15,81% a 18,54%, e o Corinthians tinha 13,39% da preferência, com um desvio-padrão de 1,32 pontos percentuais, o que significa um intervalo de confiança de 12,07% a 14,71%. Uma estatística inquestionável do gigantismo do Clube de Regatas do Flamengo.


A temporada de 1993 teve mais uma inversão de calendário frente às temporadas anteriores, tendo, portanto, sido disputados dois Campeonatos Cariocas consecutivamente. Se no de 1992 o Maracanã estava fechado para reformas, com todos os clássicos tendo sido jogados em São Januário, na edição de 1993 o "Maior Estádio do Mundo" estava de volta como palco principal.

O planejamento para a temporada de 93 começou pela decisão de mudar o técnico, saindo Carlinhos, para que voltasse em seu lugar o técnico campeão da Copa do Brasil de 1990, Jair Pereira. Desde que havia sido demitido do Flamengo, ele havia trabalhado no Atlético Mineiro e no Cruzeiro, tendo em Belo Horizonte sido campeão mineiro de 1991 com o primeiro, e campeão da Supercopa dos Campeões da Libertadores de 1992 com o segundo. Estes troféus, e a experiência de trabalho com jovens, levaram a diretoria a apostar nele para comandar uma equipe na qual sete dos onze titulares durante aquele Estadual eram jogadores que tinham sido campeões da Copa São Paulo Sub-20 de 1990. E junto com o treinador campeão da Supercopa, o Flamengo trouxe de volta para a Gávea a principal estrela desta conquista cruzeirense, Renato Gaúcho. Para ter uma concorrência para o centroavante Gaúcho, que havia tido uma queda de produção no segundo semestre, foi contratado Nílson, goleador que havia se destacado pelo Internacional em 1988 e 1989, e chegava após passagem sem muito destaque pelo Corinthians.

O elenco também teve uma baixa importante, com o Palmeiras contratando ao meia Zinho. Após assinar parceria milionária com a Parmalat, o alvi-verde paulista investia na montagem de um supertime, que viria a dominar o cenário nacional por duas temporadas consecutivas. Ainda assim, o rubro-negro não partiu para muitas contratações, além dos dois atacantes já citados, reforçou-se apenas com o zagueiro Andrei, do Goiás.

O principal reforço rubro-negro, no entanto, Renato Gaúcho, iria se lesionar logo na 2ª rodada, e só voltaria nas últimas rodadas, quando o Flamengo já estaria fora da briga pelo título, que foi disputado entre o Fluminense (campeão da Taça Guanabara) e o Vasco (campeão da Taça Rio). No 1º Turno, o time rubro-negro tropeçou em empates contra América, São Cristóvão e Botafogo, e perdeu para Fluminense e Vasco. Portanto, não venceu nenhum clássico no turno. No returno, venceu o Fla-Flu e goleou ao Botafogo por 4 x 1, mas tropeçou em empates contra Americano, Bangu e Itaperuna, e ainda por cima voltou a perder para o Vasco. O 3º lugar no final do campeonato deixou a situação de Jair Pereira bastante complicada, não tendo ele resistido no cargo às turbulências decorrentes deste mau desempenho, principalmente porque em paralelo também havia fracassado na Libertadores. A despedida precoce no Estadual, marcou também a despedida do "Maestro" Júnior dos gramados, que ali encerrava sua carreira de jogador e se aposentava.

Flamengo no Carioca de 1993
Gilmar, Fabinho, Wilson Gottardo, Júnior Baiano e Piá (Andrei); Marquinhos, Júnior, Djalminha e Nélio; Marcelinho Carioca e Nílson
Téc: Jair Pereira
Banco: Adriano, Rogério Lourenço, Uidemar, Luís Antônio, Júlio César Goiano, Renato Gaúcho, Paulo Nunes e Gaúcho

O maestro Júnior e a garotada da base rubro-negra

O grupo rubro-negro na 1ª fase da Libertadores de 93 era bem difícil, mas se classificavam três equipes às oitavas de final. Seus adversários eram o Internacional e os colombianos América de Cali e Atlético Nacional de Medellin. As três primeiras partidas eram todas fora de casa, tendo o time empatado sem gols com o Inter em Porto Alegre, perdido por 2 x 1 do América, e vencido ao Atlético Nacional por 1 x 0, partida na qual, numa tentativa do goleiro René Higuita de sair driblando, como tradicionalmente fazia, ele perdeu a bola para Renato Gaúcho, que marcou o gol da vitória.

Na volta, três duelos seguidos no Maracanã. Logo no primeiro, o tropeço, com a equipe perdendo por 3 x 1 para o América de Cali. No jogo seguinte, porém, com uma vitória por 3 x 1 sobre o Internacional, a classificação ficou assegurada. Na última rodada, mais um 3 x 1, desta vez numa vitória sobre o time de Medellin, garantindo a 1ª colocação do grupo (o Internacional acabou prematuramente eliminado). O Flamengo avançou às oitavas de final, na qual não teve dificuldade para superar ao Minerven, da Venezuela, aplicando inapeláveis 8 x 2 no Maracanã (tomou dois gols aos 44 e aos 45 do 2º tempo).

Pela frente, nas quartas de final, o então campeão da competição, o São Paulo do técnico Telê Santana. A missão já era complicada, e ainda por cima o Flamengo estava sem seu principal jogador, o lesionado Renato Gaúcho. O primeiro jogo foi no Rio, e terminou num empate por 1 x 1, tendo Palhinha aberto a contagem, e Nélio empatado. Missão duríssima no Morumbi para tentar ir para a semi-final. Muller, no 1º tempo, e o lateral-direito Cafu, no 2º, decretaram a vitória de uma equipe inquestionavelmente superior à rubro-negra, que viria a ser mais uma vez a campeã da competição, pelo segundo ano consecutivo.

Flamengo na Libertadores de 1993
Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Júnior Baiano e Piá; Uidemar, Marquinhos, Júnior e Nélio; Marcelinho Carioca e Gaúcho
Téc: Jair Pereira
Banco: Adriano, Fabinho, Rogério Lourenço, Djalminha, Júlio César Goiano, Paulo Nunes e Nílson

Para o 2º semestre, a diretoria apostou na contratação do treinador Evaristo de Macedo. Ídolo rubro-negro dos Anos 1950 e 1960, ele havia obtido sucesso como técnico no futebol no Nordeste, onde foi 7 vezes campeão de Estadual num intervalo de 10 anos, entre 1970 e 1979, tendo sido três vezes campeão baiano com o Bahia e quatro vezes pernambucano com o Santa Cruz, e tendo levado o Bahia ao título de Campeão Brasileiro de 1988. Depois treinou Fluminense, Grêmio e Cruzeiro, tendo sido campeão gaúcho de 1990. Regressava à Gávea depois de ter estado dois anos trabalhando com técnico da Seleção do Catar.

A meta do trabalho era o Campeonato Brasileiro de 93, mas antes, no meio do ano, foi organizada uma nova edição do Torneio Rio-São Paulo que seria marcante e digna de registro pelas consequências para os anos seguintes do futebol do Flamengo. Eram dois grupos de quatro, com o vencedor de cada um fazendo a final. Depois de empatar com Fluminense e Palmeiras (fora) e de vencer ao Santos por 3 x 0 no Maracanã nas três primeiras partidas, a classificação parecia bem encaminhada quando o time, num Fla-Flu disputado no Estádio Caio Martins, em Niterói, vencia ao Fluminense por 2 a 0 até os 32 minutos do 2º tempo. O time tomou três gols em nove minutos (entre os 33 e os 42) e sofreu uma virada impensada. Os ânimos esquentaram, e Renato Gaúcho e Djalminha trocaram empurrões e quase brigaram dentro de campo, tendo o episódio forçado a saída do jovem meia da Gávea, tendo ele acabado vendido para o Guarani. Em Campinas, brilhou. Destacou-se ainda posteriormente por Palmeiras e Deportivo La Coruña, da Espanha. Este torneio marcou o início do encerramento prematuro da história daquela geração desregrada e indisciplinada que havia subido do sub-20, um grupo de jogadores muito talentoso, mas que brilhou mais fora da Gávea do que com a camisa do Flamengo, e sempre marcando suas passagens por muitas confusões por onde estiveram.

Mas, apesar da reversão de resultado no Fla-Flu, na rodada seguinte o time meteu 3 x 1 no rico time do Palmeiras no Maracanã e se manteve na luta para ir à final, precisando de um empate contra o Santos na Vila Belmiro na última rodada para avançar. Foi um jogo maluco. O Flamengo perdia por 4 a 0 até os 32 minutos do 2º tempo, ainda marcou três gols nos minutos finais, mas a derrota por 4 x 3 acabou o eliminando. Em meio a toda esta instabilidade, o temperamental Evaristo de Macedo acumulava desentendimentos com a jovem geração campeã da Copinha de 1990, e o clima interno estava péssimo. Nas duas primeiras rodadas do Brasileirão, o time empatou com o Bahia (fora) e com o Bragantino (em casa), e isto marcou a sua demissão e um rápido fim para esta passagem de Evaristo pelo clube. Seu substituto foi prontamente escolhido: o recém-aposentado Júnior. Assim como aconteceu com Carpegiani em 1981, a diretoria apostou, esperando repetir o sucesso com Júnior, que o nome mais experiente do elenco e acostumado a comandar à garotada em campo fosse ter sucesso como técnico da equipe.

A diretoria também foi atrás de lhe dar mais opções, contratando um pacote de reforços. O elenco para o 2º semestre tinha perdido o aposentado Júnior e o meia Djalminha, vendido ao Guarani, e também haviam saído alguns reservas, como Uidemar, que foi para o León, do México, o lateral-direito Cláudio, comprado pelo Palmeiras, e dois jogadores que seguiram para o Fluminense, o zagueiro Andrei e o centroavante Nílson. Para fortalecer a equipe, foram contratados cinco jogadores: o lateral-direito Jorge Antônio, do Novorizontino, o lateral-esquerdo Marcos Adriano, do São Paulo, o cabeça de área Éder Lopes, do Atlético Paranaense, o meia Edu Lima, do Guarani, e o veterano centroavante Casagrande, então com 30 anos, que chegava oriundo do Torino, da Itália.

O campeonato teve 32 clubes divididos em 4 grupos de 8 na 1ª Fase. Dos dois grupos mais fortes, avançavam 3 de cada grupo à 2ª Fase, um Quadrangular Semi-Final, aos quais se juntavam os dois primeiros dos dois grupos mais fracos. Com Júnior a frente, o time engatou quatro vitórias seguidas, sobre o Cruzeiro, em Belo Horizonte, e sobre São Paulo, Botafogo e Internacional, no Rio de Janeiro. Na última rodada do turno, perdeu para o Corinthians, no Pacaembu. No returno, depois de um novo empate frente ao Bahia, desta vez no Maracanã, o time tomou uma acachapante goleada de 5 x 1 para o Bragantino, em Bragança Paulista. Um duro golpe na moral daquela equipe.


Na reta final, venceu a Cruzeiro e Botafogo, empatou com o Corinthians, e perdeu para Internacional e São Paulo. Terminou em 3º em seu grupo, atrás de Corinthians e São Paulo, mas avançando ao Quadrangular Semi-Final, no qual seu grupo foi formado por Corinthians, Santos e Vitória, e só o melhor colocado avançava à Final.

O time rubro-negro não venceu nenhuma das 6 partidas desta fase. Começou perdendo para o Vitória, em Salvador, depois empatou com o Santos e duas vezes com o Corinthians. Nas duas últimas rodadas, derrota para o Santos fora de casa e um empate contra o Vitória, equipe que ficou com a vaga do grupo na final, e justamente a que havia obtido a vaga entre os dois classificados que emergiram dos grupos mais fracos.

Flamengo no Brasileiro de 1993
Gilmar, Jorge Antônio, Júnior Baiano, Rogério Lourenço e Marcos Adriano; Charles Guerreiro, Fabinho e Marquinhos (Nélio); Renato Gaúcho, Casagrande e Marcelinho Carioca
Téc: Evaristo de Macedo, depois Júnior
Banco: Adriano, Gélson Baresi, Piá, Éder Lopes, Hugo, Edu Lima e Magno

Em paralelo ao Brasileiro, o Flamengo disputou a Supercopa dos Campeões da Libertadores, e pela primeira vez conseguiu fazer uma boa campanha na competição, que havia começado a ser jogada a partir de 1988. Na 1ª edição, depois de passar pelo Estudiantes, caiu nas quartas de final para o Nacional de Montevidéu. Em 1989 e em 1990, caiu duas vezes logo nas oitavas, e ambas perante o Argentinos Juniors. Em 1991, passou pelo Estudiantes, mas caiu nas quartas para o River Plate. E em 1992, passou por Grêmio e Estudiantes, e caiu na semi-final diante do Racing.

Na edição de 1993, a linha de ataque formada por Renato Gaúcho, Casagrande e Marcelinho funcionou bem, e o time eliminou a Olimpia, River Plate e Nacional de Montevidéu, e com grande campanha se classificou para fazer a final diante do São Paulo, do técnico Telê Santana, que naquele ano já havia sido seu algoz nas quartas de final da Libertadores.

Novamente, como na Libertadores, o primeiro jogo foi no Maracanã e o segundo no Morumbi. Em casa, o Flamengo viu seu ex-lateral Leonardo abrir o placar, mas conseguiu a virada com dois gols de Marquinhos. Porém, deixou a vitória escapar aos 43 minutos do 2º tempo, quando Juninho Paulista marcou o gol de empate. No jogo de volta o time lutou bravamente. A história foi parecida, mas invertida: Renato Gaúcho abriu a contagem no início, veio a virada com gols de Leonardo e Juninho Paulista, e e aos 38 minutos do 2º tempo, Marquinhos empatou, levando a decisão para a disputa por pênaltis. Marcelinho perdeu logo a segunda cobrança, e ninguém mais desperdiçou até a última cobrança, quando Muller decretou o 5 x 3 que deu o título aos sãopaulinos.

Flamengo na Supercopa de 1993
Gilmar, Charles Guerreiro, Gélson Baresi, Rogério Lourenço e Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos e Nélio; Renato Gaúcho, Casagrande e Marcelinho Carioca
Téc: Júnior
Banco: Adriano, Júnior Baiano, Piá, Éder Lopes, Edu Lima, Júlio César Goiano e Magno

O ano de 1993 havia sido o primeiro sob uma nova diretoria depois de os dirigentes ligados à "Frente Ampla pelo Flamengo" terem se revezado no poder do clube de 1977 a 1992. A primeira estratégia foi mexer pouco no grupo de jogadores que havia sido vitorioso no biênio 1991-1992, mas com os insucessos no Carioca, na Libertadores, no Brasileiro e na Supercopa, os ventos de transformação sopraram mais fortes.

Vários nomes deixaram o elenco. Entre os figurões, Renato Gaúcho foi para o Atlético Mineiro e Casagrande foi encerrar a carreira no Corinthians. Dos reforços que não deram certo, Edu Lima foi para o Guarani, Éder Lopes seguiu para o Atlético Mineiro e o lateral-direito Jorge Antônio ao Internacional. Três jovens da "Geração da Copa São Paulo de 90" foram descartados, indo Júnior Baiano para o São Paulo, Piá vendido para o União da Ilha da Madeira, de Portugal, e Luís Antônio que seguiu para o Fluminense. Com 8 peças a menos no elenco, a diretoria buscou ser certeira nas contratações. Chegaram quatro nomes de maior peso à Gávea: os meias Marco Antônio Boiadeiro, do Cruzeiro (titular do time do Vasco campeão brasileiro de 89) e Carlos Alberto Dias, do Grêmio (que havia tido sucesso por Vasco e Botafogo nos anos anteriores); e os atacantes Valdeir, que chegava à Gávea após uma passagem sem brilho pelo São Paulo, que o contratou após suas grandes atuações pelo Botafogo, e Charles Baiano, adquirido ao Grêmio, centroavante destaque do Bahia campeão brasileiro de 88 e com passagens pela Seleção Brasileira. Para fechar o pacote, foi contratado o lateral-direito Henrique, do Guarani. De resto, a ordem era dar espaço para mais uma geração que emergia da base, esta contando com os zagueiros Fabiano e Índio, os meias Hugo, Fábio Baiano e Rodrigo Mendes, e os atacantes Sávio e Magno. Com este elenco, e sob o comando de Júnior, o Flamengo visava alcançar seu principal objetivo naquele semestre, que era impedir o primeiro tri-campeonato carioca da história do Vasco. O torneio daquele ano teve turno único (Taça Guanabara) com os quatro primeiros colocados avançando para fazer um Quadrangular Final em turno e returno, cujo vencedor se sagrava o campeão carioca.

No turno, o time rubro-negro perdeu para Vasco e Fluminense, e empatou com Bangu, Madureira e Botafogo. Classificou-se para o Quadrangular Final, que reuniu os quatro clubes que todos esperavam que ali estariam. O Vasco iniciou a Fase Final com 2 pontos de bonificação por ter vencido o Grupo A e por ter sido o Campeão da Taça Guanabara, e o Fluminense entrou com 1 ponto de bonificação por ter vencido o Grupo B. No quadrangular decisivo, o time rubro-negro engrenou, vencendo a Fluminense, Botafogo e Vasco. Após estas três rodadas, a classificação apontava o 1º lugar do Flamengo com 6 pontos, seguido pelo Vasco com 5, o Fluminense com 3 e o Botafogo com apenas 1 ponto. Na 4ª rodada, o Fluminense poderia ter terminado matematicamente fora da briga, mas a goleada por 7 a 1 sobre o Botafogo deu novo ânimo ao clube na disputa pelo título. No outro jogo, Flamengo e Vasco empataram, com a ponta seguindo sendo rubro-negra. Tivesse sido outra a história da rodada anterior, no Fla-Flu o adversário teria chegado à penúltima rodada já eliminado e consequentemente desmotivado. Ao invés disto, no entanto, encontrou um adversário motivado e confiante, disposto a lutar para ser campeão. O Fluminense venceu por 2 x 0 e embolou a disputa pelo título. Na última rodada, o Flamengo venceu ao Botafogo no sábado e só ficou faltando o jogo entre Vasco e Fluminense para encerrar o campeonato. No domingo - 15 de maio de 1994 - três resultados eram possíveis no Maracanã: se Vasco e Fluminense empatassem, o Flamengo era o campeão carioca, e quem vencesse se sagrava campeão (a classificação na véspera do último jogo mostrava: 1º- Flamengo com 9 pontos; 2º- Vasco com 8 pontos; 3º- Fluminense com 7 pontos; e 4º- Botafogo com 1 ponto). O Vasco venceu ao Fluminense por 2 a 0 e conquistou o primeiro tri-campeonato carioca de sua história, numa das disputas de título mais acirradas da história do Campeonato Carioca de futebol.

Flamengo no Carioca de 1994
Gilmar, Charles Guerreiro, Gélson Baresi, Rogério Lourenço e Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Boiadeiro e Nélio; Sávio (Valdeir) e Charles Baiano
Téc: Júnior
Banco: Adriano, Henrique, Índio, Carlos Alberto Dias e Wallace

O Flamengo teve um bom time no 1º semestre, mas o insucesso levou à desmontagem do trabalho, apesar da equipe ter estado muito perto de obter sucesso. O correto teria sido dar continuidade ao trabalho e se reforçar pontualmente com uma peça ou outra. Mas a alegação do jovem presidente Luiz Augusto Veloso foi a de que as finanças estavam comprometidas, e que para o segundo semestre a diretriz seria a de apostar nos jovens talentos e em reforços pontuais e pouco badalados.

Os quatro principais reforços do começo do ano deixaram o clube: Boiadeiro para o Corinthians, Carlos Alberto Dias para o Paraná Clube, Valdeir para o Bordeaux, da França, e o artilheiro do Carioca, Charles Baiano, foi para o Matonense, do interior de São Paulo. Na posição de treinador, Júnior foi substituído por Carlinhos, que voltava ao clube após passagens fracassadas pelo Guarani e pelo Remo. Foram contratados quatro nomes, todos para a defesa: o veterano lateral-direito Jura, do São Paulo, os zagueiros Paulo Paiva, do Bangu, e Marçal, do Madureira, e o lateral-esquerdo Serginho, do Bahia.

O Campeonato Brasileiro de 94 tinha 24 clubes, que na 1ª Fase foram divididos em 4 grupos de 6, com os 4 primeiros colocados avançando à 2ª Fase. Nos 10 jogos da 1ª Fase, o Flamengo teve 4 vitórias, 4 empates e 2 derrotas, terminando em 2º lugar, atrás do Corinthians e a frente de Grêmio e Sport Recife. O grande momento da equipe foi na vitória por 5 x 2 sobre o Corinthians no Maracanã, na qual brilhou a dupla de atacantes recém emergida da base, Sávio e Magno (centroavante que marcou três gols neste dia). As duas derrotas foram nos dois jogos mais difíceis, como visitante contra Grêmio e Corinthians. Na 2ª Fase, os 16 clubes jogavam todos contra todos em dois turnos, com os 6 primeiros avançando ao mata-mata, a partir das quartas de final. A eles se juntavam os dois primeiros colocados do Grupo de Repescagem, formado pelos 8 que não se classificaram na 1ª Fase. O Flamengo terminou a 2ª Fase em 15º e penúltimo lugar. No seu único momento de brilho, venceu ao Palmeiras por 2 x 0 no Maracanã, com dois gols de Sávio. Depois disto, porém, ficou com uma sequência de oito jogos sem vencer, em cinco dos quais acabou derrotado. Em meio à fase ruim, decidiu-se pela demissão de Carlinhos e pela contratação do ex-jogador Edinho para ser o técnico da equipe, tendo ele comandado o time nos oito últimos jogos. Recém tendo iniciado sua carreira de treinador, ele havia sido campeão da Taça Guanabara em 1991 e em 1993 com o Fluminense, e chegava ao clube após uma rápida passagem a frente do Marítimo, de Portugal. As escolhas confusas naquele momento, mostravam uma direção perdida e desnorteada. Era a prova de que nem sempre os ventos de mudança chegam para o bem.

O desempenho do futebol rubro-negro em 1994 foi muito aquém daquele obtido nos quinze anos anteriores, e isto seria determinante para uma mudança brusca nos rumos políticos do clube nas eleições realizadas no final daquele ano, da qual emergiria um grupo disposto a revolucionar o futebol rubro-negra à base de uma gastança descontrolada. A aposta nos anos seguintes seria em se gastar o que não havia, apostando em vencer e conseguir financiar à base de sucesso aos gastos excessivos. Com os resultados não chegando, a tendência que se materializou pouco a pouco nos anos seguintes foi de um endividamento crescente e cada vez mais descontrolado.

Flamengo no Brasileiro de 1994
Gilmar, Isael (Henrique), Gélson Baresi, Índio e Marcos Adriano; Charles Guerreiro, Fabinho (Hugo), Marquinhos e Nélio; Sávio e Magno
Téc: Carlinhos, depois Edinho
Banco: Adriano, Marçal, Serginho, Rodrigo Mendes e Paulo Nunes

O ex-radialista Kléber Leite assumiu como presidente eleito do Flamengo prometendo um inesquecível ano para a comemoração do centenário de fundação do clube. O primeiro passo foi se desfazer das contratações baratas do semestre anterior: Jura, Marçal, Paulo Paiva e Serginho deixaram o clube (este último que viria fazer muito sucesso dali em diante, com as camisas de Cruzeiro, São Paulo, e Milan, da Itália). Também saíram o goleiro Gilmar, vendido ao Cerezo Osaka, do Japão, e o jovem zagueiro Índio, contratado pelo Palmeiras.

Os anos de muita badalação publicitária se iniciaram com duas mega contratações: o atacante Romário, do Barcelona, da Espanha (e que seis meses antes havia sido a principal estrela da Seleção Brasileira na conquista da Copa do Mundo de 94), e o técnico Vanderlei Luxemburgo, bi-campeão brasileiro e bi-campeão paulista com o Palmeiras em 1993 e 1994. Mas não ficou nisso, ao Grêmio foram contratados o goleiro Emerson Ferreti e o zagueiro Agnaldo, e também chegaram o atacante Mazinho Oliveira, que estava no Bayern Munique (no Brasil havia se destacado pelo Bragantino), o veterano lateral-esquerdo Branco, antes no Corinthians, os zagueiros Jorge Luís, do Guarani, e Válber, do São Paulo, o lateral-direito Gustavo, do Palmeiras, o atacante Mauricinho, do Juventude, e o meia Willian, ex-Vasco, que também estava no Guarani. Nada menos do que 10 jogadores contratados de uma única vez. Foi formada uma expectativa enorme por grandes resultados.

Branco, Vanderlei Luxemburgo e Romário

Na Taça Guanabara havia 2 grupos de 8 clubes, com o vencedor de cada grupo, após jogos em turno e returno, decidindo o título. Romário fez sua estreia na 4ª rodada num empate sem gols diante de 99 mil torcedores que foram ao Maracanã ver ao Fla-Flu. Nas sete rodadas seguintes, seis vitórias e um empate (um 3 x 3 contra o Volta Redonda). Naquele 1º turno ainda, o time voltaria a não vencer ao Fla-Flu, desta vez sendo derrotado por 3 x 1, com Renato Gaúcho comandando o time tricolor. Ainda assim, o Flamengo venceu o grupo e foi fazer a final da Taça GB contra o Botafogo, do centroavante Túlio. Romário marcou três vezes e comandou o título de turno do time rubro-negro.

A conquista da Taça Guanabara foi quase que meramente simbólica, pois os 4 primeiros colocados de cada grupo avançavam a um Octogonal Final. O título serviu apenas como bonificação, tendo o Flamengo largado com 3 pontos, e Vasco e Botafogo com 1 ponto cada. Tudo ia bem nas primeiras rodadas, após uma goleada por 6 x 0 sobre o Entrerriense, e uma vitória sobre o América, mas então o time empatou com o Bangu, perdeu para o Botafogo, voltou a empatar por 3 x 3 contra o Volta Redonda, e voltou a ser derrotado num Fla-Flu, desta vez por 4 x 3, sequência de resultados ruins que pulverizou a sua vantagem na tabela. Depois, porém, recuperou-se, vencendo duas vezes ao Vasco, e superando a Entrerriense, América, Bangu, Botafogo e Volta Redonda.

Depois de sete vitórias rubro-negras consecutivas, o título foi decidido na última rodada, com o Flamengo tendo a vantagem do empate no Fla-Flu para se sagrar campeão carioca no ano de seu centenário. Entretanto, o 1º tempo terminou 2 a 0 para os tricolores. Mas no 2º tempo Romário aos 26 minutos e Fabinho aos 32 empataram. Porém, aos 41 minutos do 2º tempo, o ex-rubro-negro Ailton entrou pela ponta e bateu cruzado, a bola escorou na barriga de Renato Gaúcho e entrou. Para frustração rubro-negra e delírio apoteótico dos rivais, o gol de barriga acabava com o multimilionário sonho de título do Flamengo.

Foram 4 vezes que Flamengo e Fluminense se enfrentaram no campeonato, sem que tenha havido nenhuma vitória rubro-negra frente a um elenco que era muito mais modesto do que o seu. Romário, apesar de ter marcado 26 gols, não foi o artilheiro do Carioca de 95, ficando atrás do centroavante Túlio, do Botafogo, que marcou 27. Restava um semestre para salvar o ano, e a diretoria rubro-negra seguia com sua política de apostas ousadas. Antes mesmo da conclusão do campeonato, ela já havia anunciado mais uma bombástica contratação visando o título nacional no 2º semestre: com um pesado investimento, chegava à Gávea o atacante Edmundo, do Palmeiras, jovem ídolo da torcida do Vasco. Com ele esperava-se ter o "Melhor Ataque do Mundo" e conquistar todos os títulos a partir dali. Mas o gol de barriga já impossibilitava que o "tudo" fosse possível.

Flamengo no Carioca de 1995
Roger, Marcos Adriano, Jorge Luís, Gélson Baresi (Válber) e Branco; Charles Guerreiro, Fabinho, Marquinhos e Willian (Mazinho Oliveira); Sávio e Romário
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Emerson Ferreti, Agnaldo Liz, Fábio Baiano, Rodrigo Mendes e Nélio

O fracassado Ataque dos Sonhos de 1995

Frustrado com a perda do título, a diretoria rubro-negra não deu continuidade ao projeto. Os desentendimentos entre Romário e Vanderlei Luxemburgo deixaram o ambiente insustentável, e teria que ser feita a escolha entre um ou outro, pois já não era mais possível o convívio entre os dois. A direção optou pelo "melhor jogador do mundo" e demitiu ao treinador, escolhendo pela volta de Edinho para substituí-lo. Mas as mudanças foram muito mais radicais além desta. A começar pela enorme barca dispensada após o fracasso: saíram quase todos os laterais do elenco - Charles, Gustavo, Marcos Adriano e Branco - além de Jorge Luís, Willian, Mauricinho e Mazinho Oliveira, e de dois jovens revelados no clube e vendidos ao Cruzeiro - Gélson e Fabinho -. Nada menos do que 11 jogadores deixaram o elenco no meio do ano.

E o balcão de negócios comandado por Kléber Leite na Gávea seguia a todo vapor! Assim como saiu um time inteiro, foi mais uma vez contratado um time inteiro. Além de Edmundo, que já havia sido anunciado com estardalhaço e muita publicidade antes mesmo do fim do Carioca, outros 10 jogadores chegaram à Gávea. Do time campeão carioca com o Fluminense foram contratados três dos principais nomes: o lateral-esquerdo Lira, o volante Márcio Costa, e o meia Djair. Chegaram também o goleiro Paulo César Borges, da Portuguesa de Desportos, o lateral-esquerdo Alexandre, do Bangu, os zagueiros Cláudio, do Guarani, e Ronaldão, do Shimizu S-Pulse, do Japão, o volante Pingo, do Cruzeiro - jogador que havia se destacado pelo Botafogo no começo daquela década - e o meia Uéslei, do Bahia.

No Brasileirão de 95, o time começou vencendo ao Bragantino por 2 x 1, gols de Edmundo e Romário. Depois disto, porém, seu desempenho foi horripilante. Após três derrotas seguidas, para Palmeiras, Paysandu e Corinthians, Edinho foi demitido, e a escolha para novo treinador a partir da 6ª rodada foi inusitada, o novo responsável por comandar a equipe foi o comentarista de rádio Washington Rodrigues, popularmente conhecido como Apolinho. As coisas não melhoraram, e o time perdeu sete das onze primeiras partidas. Tentando reverter ao quadro agonizante, ainda foi atrás de mais um reforço, contratando ao experiente lateral-direito Luís Carlos Winck, que estava no Botafogo, mas já sem repetir as grandes atuações por Internacional e Vasco que o haviam levado à Seleção Brasileira alguns anos antes. Mas nada parecia ser capaz de amenizar ao péssimo desempenho do time. O "melhor ataque do mundo" passou a ser chamado nas páginas dos jornais de "pior ataque do mundo". Para comprometer ainda mais a conjuntura, Edmundo se envolveu num acidente automobilístico na Lagoa Rodrigo de Freitas quando dirigia alcoolizado e bateu com seu carro, causando a morte de três envolvidos no choque.

Nas 23 rodadas do Campeonato Brasileiro, o Flamengo venceu apenas cinco vezes (Bragantino, Juventude, Criciúma, Goiás e Sport Recife) terminando a competição em 21º lugar. Não conseguiu vencer sequer às duas equipes que terminaram rebaixadas: Paysandu e União São João de Araras. Aquela campanha representava o pior desempenho do Flamengo num Campeonato Brasileiro desde 1973.

Flamengo no Brasileiro de 1995
Paulo César, Luís Carlos Winck, Cláudio, Ronaldão e Alexandre (Lira); Pingo, Márcio Costa e Djair; Edmundo, Romário e Sávio
Téc: Edinho, depois Washington Rodrigues
Banco: Emerson Ferreti, Agnaldo Liz, Fabiano, Uéslei, Nélio, Rodrigo Mendes e Aloísio Chulapa

Restava ao Flamengo a disputa pelo título da Supercopa dos Campeões da Libertadores para tentar terminar o ano de seu centenário sem passar em branco. O time fez uma campanha excepcional, vencendo 7 dos 8 jogos disputados. Com vitórias tanto como mandante quanto como visitante, superou ao Vélez Sarsfield (então campeão da Copa Libertadores), ao Nacional de Montevidéu e ao Cruzeiro, avançando para fazer a final contra o Independiente. O primeiro jogo foi no Estádio La Doble Visera, em Avellaneda. Com gols de Javier Mazzoni no 1º tempo, e Cristian Domizzi aos 26 minutos do 2º tempo, os argentinos fizeram 2 a 0, dificultando a missão rubro-negra no segundo jogo no Maracanã. O estádio lotou, recebendo aproximadamente 105 mil pagantes. O time rubro-negro fez uma enorme pressão, conseguiu marcar um gol pelos pés de Romário aos 17 minutos do 2º tempo, mas não foi suficiente. Venceu por 1 x 0 e viu a taça seguir para a Argentina. Mais uma frustração para sua torcida.

Flamengo na Supercopa de 1995
Paulo César, Fabiano, Cláudio, Ronaldão e Lira; Pingo, Márcio Costa, Djair e Nélio; Romário e Sávio
Téc: Washington Rodrigues
Banco: Emerson Ferreti, Agnaldo Liz, Marquinhos, Uéslei, Rodrigo Mendes e Aloísio Chulapa

O cenário então se repetiu e em função do fracasso o projeto inteiro foi desmontado, um time inteiro saiu e um outro inteiro foi contratado. O primeiro pilar foi a escolha do treinador. O nome escolhido foi Joel Santana, campeão carioca em 1992 e em 1993 com o Vasco, e em 1995 com o Fluminense (no gol de barriga).

Além da saída de Edmundo, que após os problemas com a justiça pelo acidente de carro, foi vendido para o Corinthians, saíram os goleiros Paulo César e Emerson, os laterais Luís Carlos Winck e Lira, os zagueiros Cláudio e Agnaldo Liz, e o meia Uéslei. Dos jogadores formados no clube, Marquinhos foi vendido para o Palmeiras e Hugo para o Fluminense. No total, foram 10 jogadores que deixaram a Gávea no fim da temporada de 1995. E mais um time inteiro foi contratado. Mais 11 jogadores fecharam contrato antes do Carioca de 96 começar. Chegaram à Gávea os goleiros Sérgio, do Palmeiras, e o veterano Zé Carlos, revelado na Gávea e que estava no Felgueiras, de Portugal, o lateral-direito Alcir, do Atlético Mineiro, de onde também voltava, após fim de empréstimo, o zagueiro Jorge Luís. Do Palmeiras, além do goleiro Sérgio, foram contratados o lateral-direito Índio e o volante argentino Alejandro Mancuso. O atacante Márcio Amoroso havia sido vendido pelo Guarani para a Udinese, da Itália, e ficaria seis meses por empréstimo no Flamengo antes de seguir para a Europa. Também foram contratados o meia Iranildo, do Botafogo, e os pontas Marques, do Corinthians, e o jovem Gláucio, que estava no Feyenoord, da Holanda. Para fechar, foi contratado o lateral-esquerdo Gilberto, irmão de Nélio, que estava no América (e que viria a se transformar num jogador de Seleção Brasileira anos depois, após já ter deixado o clube).

Alejandro Mancuso

Nas mãos de Joel, a fase de contratações massivas enfim deu certo. O time conquistou sete vitórias consecutivas nas sete primeiras rodadas. Na 8ª rodada, viu Renato Gaúcho marcar duas vezes no Fla-Flu, do qual saiu com um empate por 2 x 2, nos únicos pontos que deixaram de ser conquistados naquela Taça Guanabara. Nas últimas três rodadas, mais três vitórias, fechando com um 2 a 0 sobre o Vasco, com gols de Romário e Sávio, que garantiram o título do turno. Aquele jogo ainda teve mais uma novidade, pois às vésperas dele chegou mais um reforço à Gávea, o lateral-direito Zé Maria foi vendido pela Portuguesa de Desportos ao Parma, da Itália, e os bons relacionamento do presidente rubro-negro com os agentes italianos fizeram que se repetisse a operação que havia colocado Amoroso no elenco, onde ficaria por empréstimo até o fim do Campeonato Carioca, aguardando o término da temporada italiana para se apresentar ao novo clube.

Na Taça Rio, o time só empatou com Bangu e Botafogo, vencendo todos os demais jogos, chegou à última rodada na liderança, entrando em campo contra o Vasco no Maracanã por um empate para garantir o título do returno e a conquista automática do Estadual. O Maracanã recebeu 65 mil pagantes, que viram um empate sem gols que deu o título carioca invicto para o Flamengo. Com um onze repleto de nomes de projeção no cenário nacional, e um banco de reservas de luxo, aquele talvez fosse o melhor elenco que já havia vestido o vermelho e o preto até então na história, campeão com 18 vitórias e 4 empates nas vinte e duas rodadas jogadas, com 57 gols marcados (quase três por jogo) - 34 dos quais marcados pela dupla Romário e Sávio, com destaque para o primeiro, artilheiro do campeonato com 26 gols - e apenas 15 gols sofridos.

Flamengo no Carioca de 1996
Roger, Zé Maria, Jorge Luís, Ronaldão e Gilberto; Márcio Costa, Mancuso e Nélio; Marques, Romário e Sávio
Téc: Joel Santana
Banco: Zé Carlos, Válber, Pingo, Djair, Iranildo, Gláucio e Amoroso

O mais recomendável era que o elenco vitorioso do primeiro semestre fosse todo ele mantido, mas o modelo de negócio adotado pela diretoria rubro-negra já forçava algumas saídas, pois Zé Maria e Amoroso seguiram para a Itália, e Gláucio foi devolvido ao Feyenoord ao fim do empréstimo. Mantendo a diretriz publicitária de contratações bombásticas, o projeto foi fazer uma nova versão do "Melhor Ataque do Mundo", e para isso foi contratado Bebeto ao Deportivo La Coruña, da Espanha. A intenção era reeditar a dupla Bebeto e Romário, que havia brilhado junto com a Seleção Brasileira na conquista da Copa do Mundo de 1994. Mas faltou combinar o projeto com Romário, que não quis reeditar a dupla de sucesso e dividir o protagonismo na equipe, decidindo forçar uma volta ao futebol espanhol. Ele acabou vendido ao Valencia, da Espanha.

Não foram só estes quatro jogadores, no entanto, que deixaram o elenco, porque o São Paulo investiu nas contratações do zagueiro Válber e do meia Djair, e o zagueiro Jorge Luís seguiu para o Atlético Paranaense. Algumas das contratações do semestre anterior que não vingaram no clube, também seguiram outro rumo, tendo havido as saídas do goleiro Sérgio, dos laterais-direito Alcir e Índio, e do lateral-esquerdo Alexandre. Com isso, mesmo com o título invicto, o elenco perdeu 11 jogadores. Mais uma vez, mesmo com o bom resultado, um time inteiro deixava a Gávea.

Além de Bebeto, para reforçar o elenco foi contratado também o zagueiro Júnior Baiano, que após deixar o clube e passar pelo São Paulo, estava no Werder Bremen, da Alemanha. Com a saída dos três laterais-direitos que o elenco tinha no primeiro semestre, foi necessário apostar em reposição, tendo sido contratado o lateral da Seleção do Equador, Wagner Rivera, que jogava no modesto Espoli, de seu país. Da base, emergiam três promessas: o zagueiro Juan, o lateral-esquerdo Athirson e o centroavante Aloísio. E com estas peças, apostava-se numa boa campanha em busca do título nacional.

Antes da disputa do Campeonato Brasileiro, o Flamengo teve como compromisso a disputa da Copa Ouro da Conmebol, uma vez que o campeão da Supercopa (Independiente) rejeitou a disputa e cedeu sua vaga ao Flamengo, que fora o vice-campeão. Os demais participantes foram Grêmio (campeão da Libertadores), São Paulo (campeão da Copa Master) e Rosario Central (campeão da Copa Conmebol). O time rubro-negro venceu aos argentinos por 2 x 1, e na final superou ao São Paulo por 3 x 1, no Estádio Vivaldão, em Manaus, com três gols de Sávio, conquistando o título internacional.

No Brasileirão, o time de Joel Santana largou bem, vencendo a Atlético Mineiro e Vitória, mas na sequência perdeu três partidas seguidas, para Juventude, Cruzeiro e Guarani. Recuperou-se, e nas seis rodadas seguintes não perdeu, mas daí em diante o trabalho desandou totalmente. Até a 11ª rodada fazia uma campanha boa, com 6 vitórias, 2 empates e 3 derrotas, jogando com: Roger, Paulo César (Rivera), Fabiano, Ronaldão e Gilberto; Mancuso, Márcio Costa e Iranildo (Fábio Baiano); Marques, Bebeto e Sávio. Entre a 12ª e a 15ª rodadas, no entanto, perdeu três vezes por 4 x 1, para São Paulo, Vasco e Paraná Clube, e por 3 x 1 para o Grêmio (foram 17 dias de pesadelo!).

Agonizando, a diretoria foi atrás de mais reforços, contratando dois meias: Caíco, jovem jogador que havia se destacado pelo Internacional e estava no Verdy Kawasaki, do Japão, e Willian, que após passagem pelo Fluminense voltava à Gávea por onde já havia passado sem muito sucesso em 1995. Assim, conteve o sangramento desatado, mas concluiu sem brilho as rodadas finais, terminando em 13º lugar.

Flamengo no Brasileiro de 1996
Zé Carlos, Fábio Baiano (Rivera), Fabiano (Júnior Baiano), Ronaldão e Athirson (Gilberto); Pingo (Mancuso), Márcio Costa, Iranildo (Caíco) e Sávio (Willian); Marques e Bebeto (Aloísio Chulapa)
Téc: Joel Santana
Banco: Roger, Paulo César, Juan e Nélio

Com o fracasso no Brasileiro de 96, o mercadão rubro-negro entrou em ação novamente e 10 jogadores deixaram o elenco. Com o fracasso de Bebeto após sua volta ao clube, ele acabou seguindo para o Vitória. Dois jogadores seguiram para o São Paulo - o goleiro Roger e o atacante Marques - e outros dois foram jogar no Santos - o zagueiro Ronaldão e o meia Caíco. O lateral equatoriano Rivera foi negociado com o Barcelona de Guayaquil, Pingo regressou ao Botafogo e Márcio Costa ao Fluminense. O centroavante Aloísio Chulapa foi vendido ao Guarani, e Willian também seguiu carreira no interior de São Paulo, indo defender ao XV de Piracicaba. A diretoria também optou por não dar continuidade ao trabalho de Joel Santana, colocando novamente a Júnior como técnico da equipe, e desta vez tendo a Leandro como seu assistente-técnico. Os históricos laterais do time de 81 chegavam para instruir a garotada formada no clube.

Após tantas saídas, aquela diretoria foi atrás do que mais gostava de fazer: montar elencos (e depois desmontá-los). As contratações desta vez, porém, foram bem mais modestas do que as dos semestres anteriores. Para o sistema defensivo, a aposta foi dar mais espaço aos jovens talentos formados na base. Para o meio de campo, foram contratados quatro volantes: Moacir, do Atlético Mineiro, Jamir, campeão brasileiro em 95 com o Botafogo e contratado ao Benfica, de Portugal, Maurinho, do Bragantino, e Marcelo Ribeiro, ex-jogador do Fluminense, que estava atuando pelo Americano, de Campos. Ainda no meio, foi adquirido Evandro, do Goiás, que chegava meio a contra-peso numa transação na qual o alvo principal foi a aquisição do ponta-direita Lúcio, considerado a maior revelação do futebol brasileiro no semestre anterior. Também para o ataque foi contratado ao Santos o centroavante Marcelo Passos. Além destes 7 reforços, a principal novidade foi o regresso de Romário do Valencia. Insatisfeito no futebol espanhol, ele convenceu os dirigentes do clube a cedê-lo por empréstimo ao Flamengo.

O time rubro-negro começou bem no campeonato, aplicando quatro goleadas nas seis primeiras rodadas: 5 x 1 no Volta Redonda, 4 x 1 no Americano, 5 x 0 no Barreira, e 7 x 0 no Madureira. Mas depois empataria com América, Bangu e Fluminense, e perderia para o Botafogo. No 2º turno, empataria com Botafogo e Madureira, e perderia para o Fluminense, resultado que levou à demissão de Júnior, substituído pelo técnico do time sub-20, Sebastião Rocha. O time rubro-negro já não fazia boa campanha, quando no 3º turno perdeu os dois últimos jogos por WO, em protesto pela FERJ ter antecipado as partidas do Vasco para que o clube não jogasse desfalcado dos jogadores convocados para jogar a Copa América e o Mundial Sub-20. O título do Estadual foi decidido entre o Botafogo (Campeão da Taça Guanabara e da Taça Rio) e o Vasco (Campeão do 3º Turno). Com tanta confusão política, a partida decisiva, na qual o Botafogo se sagrou Campeão Carioca sobre o Vasco, atraiu apenas 16.854 pagantes no Maracanã.

Flamengo no Carioca de 1997
Zé Carlos, Fábio Baiano, Fabiano (Juan), Júnior Baiano e Athirson; Bruno Quadros, Maurinho (Marcelo Ribeiro) e Iranildo; Lúcio, Romário e Sávio
Téc: Júnior, depois Sebastião Rocha
Banco: Fábio Noronha, Jamir, Mancuso, Evandro, Nélio e Marco Aurélio

Naquele semestre o Flamengo também teve a oportunidade de conquistar a Copa do Brasil. Depois de eliminar ao Nacional, do Amazonas, ao Rio Branco, do Acre, ao Internacional e ao Palmeiras, avançou para fazer a final contra o Grêmio, contra quem acumulava péssimo retrospecto em confrontos mata-mata. O Flamengo havia caído para o Grêmio na semi-final da Libertadores de 84, nas quartas de final do Brasileiro de 88, e nas semi-finais da Copa do Brasil em 89, em 93 e em 95. Cinco fracassos em confrontos diretos.

O primeiro jogo no Estádio Olímpico terminou num empate sem gols. O título seria decidido no Rio de Janeiro, com o Maracanã recebendo um público de mais de 95 mil pagantes. Como critério de desempate, contava quem fizesse mais gol como visitante. E a história começou a ter outro rumo logo aos 6 minutos do 1º tempo, quando João Antônio abriu o placar para o tricolor gaúcho, pulverizando a vantagem rubro-negra. Ainda na etapa inicial, entretanto, o time rubro-negro virou, primeiro com Lúcio e depois com Romário, seguindo para o intervalo com a vantagem que trabalhou para segurar na etapa final. Entretanto, o sonho rubro-negro ruiu aos 34 minutos do 2º tempo, quando o meia Carlos Miguel marcou de novo, colocando o 2 x 2 no placar que dava o título ao Grêmio. Foi por pouco, mas o time rubro-negro não conseguiu erguer a taça, e pela sexta vez consecutiva os gremistas superavam aos flamenguistas num duelo mata-mata.

Flamengo na Copa do Brasil de 1997
Zé Carlos, Maurinho, Fabiano, Júnior Baiano e Athirson; Jamir, Evandro e Fábio Baiano; Lúcio, Romário e Sávio
Téc: Sebastião Rocha
Banco: Fábio Noronha, Leandro Silva, Juan, Bruno Quadros, Iranildo, Nélio e Marco Aurélio

Diferentemente do que vinha sendo feito por aquela diretoria que estava cuidando do clube desde 1995, o investimento para o segundo semestre de 1997 foi mais moderado. Deu-se continuidade ao trabalho de Sebastião Rocha como treinador e menos aquisições foram feitas. O primeiro objetivo foi trocar de goleiro, havendo a contratação de Clemer, do Internacional, e as saídas de Zé Carlos, para o Vitória, e Fábio Noronha, para o Fluminense. Saíram também aqueles que estavam sem espaço, tendo deixado o clube os volantes Mancuso, Moacir e Marcelo Ribeiro, o meia Nélio, e o atacante Marcelo Passos. As contratações foram mais modestas. A principal aposta foi no regresso ao clube do veterano Renato Gaúcho, contratado ao Fluminense, que regressava para sua quarta passagem pelo clube já aos 35 anos de idade. Além dele e do novo goleiro, chegaram ao clube o volante Jorginho, do Olaria, o meia polonês Piekarski, que havia se destacado no primeiro semestre pelo Atlético Paranaense, e o jovem atacante Kelly, repatriado após breve passagem pelo Logroñes, da Espanha.

O objetivo principal era conseguir a continuação no clube do centroavante Romário. O time começou mal sua campanha no Brasileirão, perdendo para Santos e Bahia, mas depois venceu ao Criciúma e goleou ao Goiás por 4 x 1 no Maracanã, com três gols de Romário e um de Sávio. Na rodada seguinte, porém perdeu para a Portuguesa de Desportos, no Estádio do Canindé, em São Paulo, partida depois da qual foi anunciado o fracasso das negociações, com Romário regressando ao Valencia. Depois de sua saída, o time rubro-negro perdeu mais dois jogos, para Vasco e Sport Recife, e com as três derrotas seguidas, foi decidida pela demissão de Sebastião Rocha e pela contratação de Paulo Autuori, técnico campeão brasileiro de 95 com o Botafogo para ocupar o seu lugar.

O Brasileirão de 1997 tinha 26 clubes jogando a 1ª Fase todos contra todos em turno único, e com os 8 primeiros colocados avançando aos Quadrangulares Semi-Finais, onde os vencedores de cada grupo avançavam para fazer a Final. Sob o comando de Autuori, o time engatou uma sequência de 13 jogos sem perder, com vitórias sobre Atlético Mineiro, Cruzeiro, Fluminense, América de Natal, Juventude, Paraná Clube, Grêmio e São Paulo, e empates contra Botafogo, Guarani, Bragantino, Atlético Paranaense e Palmeiras. A boa sequência foi interrompida com uma goleada de 4 x 0 sofrida para o Internacional no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Mas o time conseguiu terminar bem a 1ª Fase, apesar deste tropeço, avançando em 5º lugar, atrás de Vasco, Internacional, Atlético Mineiro e Portuguesa de Desportos.

Na Semi-final, formou um grupo junto com Vasco, Portuguesa e Juventude, num quadrangular em ida e volta. O Vasco se manteve na ponta quase o tempo inteiro, e avançou para fazer a final contra o Palmeiras, tornando-se campeão brasileiro. O Flamengo terminou o quadrangular em 2º lugar no grupo, tendo feito uma boa campanha, mas o fato de perder a vaga na final para o maior rival, combinado a uma goleada para o Vasco por 4 a 1 na penúltima rodada do Quadrangular, tiveram um peso negativo maior sobre a avaliação do trabalho que foi feito. Ainda assim a aposta inicial foi pela continuidade do trabalho de Paulo Autuori no semestre seguinte.

Flamengo no Brasileiro de 1997
Clemer, Fábio Baiano (Leandro Neto), Júnior Baiano, Luiz Alberto e Gilberto; Jamir, Bruno Quadros, Iranildo e Evandro; Lúcio e Sávio
Téc: Sebastião Rocha, depois Paulo Autuori
Banco: Júlio César, Fabiano, Juan, Athirson, Jorginho, Piekarski, Lê e Renato Gaúcho

O ano de 1998 começou com a badalada venda de Sávio para o Real Madrid, da Espanha. O negócio estimulou a diretoria rubro-negra, ainda comandada pelo presidente Kléber Leite, a construir mais um projeto de "Super Time", inflando o elenco com grandes contratações, naquele que foi seu projeto mais ousado desde o primeiro, marcado pelas chegadas de Romário e Vanderlei Luxemburgo. Foi mantida a base que havia terminado o Brasileiro de 97 em 5º lugar, saindo poucos jogadores. Além de Sávio, saíram o polonês Piekarski e o atacante Kelly, não tido nenhuma das duas contratações do semestre anterior rendido com a camisa rubro-negra. Também foi vendido o lateral-esquerdo Gilberto, já que o elenco também contava com o jovem Athirson para a posição. Ele foi vendido para o Cruzeiro, depois ainda passaria com sucesso por Vasco, Internazionale, da Itália, e Hertha Berlin, da Alemanha, vindo a ser o titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006.

O anúncio do Super Time de 1998

Se as saídas foram poucas, as chegadas foram muitas. Foram contratados 10 jogadores para a disputa do Carioca de 98. O carro-chefe do novo projeto apoteótico foi o regresso de Romário, desta vez em definitivo. Junto a ele chegaram cinco contratações de grande impacto: o lateral-esquerdo Zé Roberto, cedido por empréstimo pelo Real Madrid na transação que levou Sávio para o clube merengue, o volante Marcos Assunção, principal nome do Santos, e os meias Palhinha, Rodrigo Fabri e Cleisson, o primeiro adquirido ao Mallorca, da Espanha, na esperança de que reeditasse no clube as grandes atuações com a camisa 10 do São Paulo, o segundo comprado à Portuguesa de Desportos, tinha sido considerado o principal jogador do futebol brasileiro no ano anterior, e o terceiro fora um dos destaques do time do Cruzeiro campeão da Libertadores de 97. Além deste "pacote bombástico" de seis grandes nomes, foram contratados também os laterais-direitos Alberto, do Cruzeiro (que no futuro, quando virou treinador, passou a ser Alberto Valentim), e Pimentel, do Palmeiras (que havia tido destaque com a camisa do Vasco), além de mais dois jogadores do Santos, o meia Arinélson e o centroavante Caio Ribeiro.

A campanha no Carioca de 98 já se iniciou turbulenta. Na estreia, o "super time" perdeu de 2 x 1 para o Bangu no Estádio de Moça Bonita, resultado que culminou, já na primeira partida, com a demissão de Paulo Autuori. Tudo que aquela diretoria sabia da arte de montar e desmontar elencos sucessivamente, não sabia em capacidade de realizar um bom planejamento. O imediatismo era a palavra de ordem. O novo treinador escolhido foi Joel Santana, um especialista em títulos estaduais, tendo sido campeão carioca com o Vasco em 1992 e 1993, com o Fluminense em 1995, com o Flamengo em 1996 e com o Botafogo em 1997.

Com a chegada de Joel, o time engrenou seis jogos sem derrota, entre os quais dois empates, ambos sem gols, contra Fluminense e Vasco. O campeonato havia sido encurtado, passando a ser disputado apenas por 8 equipes e não mais por 12. A derrota para o Bangu e os dois empates em clássicos foram suficientes para impedir o título da Taça Guanabara, que ficou com o Vasco. Na Taça Rio, o time já largou mal, empatando com Bangu e Botafogo. No decorrer do 2º turno, mais uma grande confusão se instaurou no futebol carioca: Flamengo, Fluminense e Botafogo abandonaram o campeonato antes do fim em protesto contra as relações entre o Vasco e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), tendo três clássicos não sido jogados, incluindo o Fla-Flu, que teve um inédito "WO Duplo", já que nenhuma das duas equipes compareceu para jogar a partida. Assim como no Carioca de 1997, as duas últimas partidas do Flamengo no Carioca de 1998 terminaram em derrotas por WO (a única derrota em campo da equipe rubro-negra naquele torneio foi na estreia, contra o Bangu). O Vasco foi campeão dos dois turnos, sagrando-se assim campeão carioca.

A outra aposta rubro-negra naquele semestre para que o time conquistasse um título era na Copa do Brasil. Entretanto, a equipe acabou desastrosamente sendo eliminada pelo Vitória nas oitavas de final. Venceu a primeira partida como mandante por 5 x 2, e parecia ter a classificação encaminhada, porém, no jogo de volta o time foi goleado de forma vexaminosa por 5 x 0 no Estádio Barradão, em Salvador, dando adeus à competição.

Flamengo no Carioca de 1998
Clemer, Pimentel (Alberto), Júnior Baiano, Luiz Alberto e Zé Roberto; Jorginho, Marcos Assunção, Palhinha e Cleisson; Rodrigo Fabri e Romário
Téc: Paulo Autuori, depois Joel Santana
Banco: Júlio César, Fabiano, Bruno Quadros, Maurinho, Renato Gaúcho e Caio

Com o fracasso nos resultados do primeiro semestre, aquela diretoria, responsável pelo clube entre 1995 e 1998, voltou a fazer aquilo que mais acreditava: desconstruir e reconstruir projetos, sem dar tempo para que maturassem, sem planejamentos futebolísticos adequados e mais preocupada com a publicidade do que com fatores técnicos. Para o segundo semestre, deixaram o elenco os laterais Alberto, Zé Roberto e Athirson (emprestado ao Santos), o zagueiro Júnior Baiano (vendido ao Palmeiras), os meias Palhinha e Arinélson, e os atacantes Renato Gaúcho e Lúcio.

Ainda assim, buscou-se manter uma espinha dorsal - com Clemer, Pimentel, o garoto Luiz Alberto (recém ascendido da base), Marcos Assunção, Cleisson, Rodrigo Fabri e Romário - e fortalecer o elenco com alguns nomes. As principais apostas na defesa foram no veterano zagueiro Ricardo Rocha, de 36 anos, que estava no Newell's Old Boys, da Argentina, e no paraguaio Daniel Cáceres, adquirido ao Guarani do Paraguai. Para o meio, as apostas foram no volante Leandro Ávila, contratado ao Fluminense, e no meia Beto, do Grêmio, ambos com bastante rodagem no futebol carioca. Ainda foram contratados alguns nomes para rechear o elenco, tendo chegado à Gávea o goleiro Jean e o zagueiro Fabão, contratados ao Bahia, o lateral-esquerdo Wágner, do Palmeiras, e o meia Nélio, do Atlético Parananse, que regressava ao clube após passagens por empréstimo pelo Fluminense e pelo próprio rubro-negro de Curitiba. Quando quis dar continuidade a uma base já montada, contratando menos, aquela diretoria ainda apostava em 8 jogadores chegando para reforçar o elenco.

O trabalho de Joel Santana a frente do time só resistiu por seis rodadas. O time venceu duas vezes como visitante, a Coritiba e Ponte Preta, empatou com o Botafogo e contra o Grêmio em Porto Alegre, quatro resultados bastante aceitáveis, mas perdeu duas vezes no Maracanã, para Bragantino e Juventude, e isto bastou para a diretoria decidir pela demissão de Joel. Em seu lugar assumiu o técnico da equipe sub-20, Toninho Barroso. Ele ficou cinco jogos a frente do time e não venceu nenhum, empatando com Atlético Paranaense, Vasco e Cruzeiro, perdendo para o Palmeiras como visitante e no jogo que foi decisivo para a mudança, quando foi derrotado pela Portuguesa de Desportos no Maracanã.

O técnico escolhido para assumir à equipe a partir da 12ª rodada foi um ex-jogador rubro-negro que não tinha tido um bom desempenho nas suas duas passagens como treinador pelo clube, mas que no ano anterior fora campeão da Copa do Brasil com o Grêmio, batendo justamente ao Flamengo na final: Evaristo de Macedo.

Ele começou mal. Apesar de ter vencido ao Goiás em sua estreia, foi goleado por 4 x 1 pelo Santos na Vila Belmiro e caiu por 3 x 1 para o Internacional no Maracanã. Depois disto o rendimento da equipe foi crescendo, emplacando quatro vitórias consecutivas, incluindo duas goleadas seguidas por 4 x 1, sobre o Corinthians no Maracanã, e sobre o Vitória no Barradão. Mas não foi suficiente para avançar para o mata-mata. Oito times se classificavam para as quartas de final, e o Flamengo terminou com o 11º lugar. Cansados de tanta instabilidade, os sócios do clube optaram por não dar continuidade àquela gestão na eleição ocorrida no fim daquele ano.

Flamengo no Brasileiro de 1998
Clemer, Eduardo, Ricardo Rocha, Luiz Alberto e Wágner; Jorginho, Marcos Assunção, Beto e Iranildo; Rodrigo Fabri (Caio) e Romário
Téc: Joel Santana, depois Toninho Barroso, depois Evaristo de Macedo
Banco: Júlio César, Pimentel, Juan, Leonardo Inácio, Nélio e Cleisson

Sob nova direção, o Flamengo iniciou o ano de 1999 com técnico novo - Carlinhos estava de volta - e com uma política mais austera, dando fim às grandes contratações midiáticas. O elenco foi desinflado, e saíram Ricardo Rocha, Cáceres, Wágner, Jamir, Nélio e Rodrigo Fabri. Havia a intenção de permanência de Marcos Assunção, mas ele acabou aceitando proposta da Roma, da Itália, e deixou o clube. O principal reforço contratado foi o centroavante Leandro Machado, jogador que havia se destacado no Internacional, e estava no Tenerife, da Espanha. Além dele, chegaram à Gávea os volantes Narciso, do Santos, e Vágner, do Cruzeiro, e Athirson voltou do empréstimo ao Santos. E o elenco foi fechado com um pacote de contratações mais modestas, que incluía o goleiro Róbson e o centroavante Bebeto Melo, adquiridos ao Paysandu, e o zagueiro Ronaldo, do Sport Recife. Claramente a situação financeira já não permitia muita ousadia.

O elenco mais modesto respondeu em campo. O campeonato teve 10 participantes, e nas nove rodadas da Taça Guanabara, o time rubro-negro só não venceu uma partida, na qual empatou com o Fluminense. Na última rodada não era o favorito no duelo contra o Vasco, mas venceu por 2 x 1, com gols de Athirson e Romário, e faturou o título, garantindo presença na final do Carioca.

Na Taça Rio, perdeu para Botafogo e Fluminense, chegando à última rodada totalmente desacreditado para enfrentar ao Vasco, que confirmou seu favoritismo, vencendo por 2 x 0 com dois gols de Edmundo, e conquistando o 2º turno. O time cruzmaltino tinha grandes nomes, como Edmundo, Juninho Pernambucano, Felipe, Ramon, Zé Maria, Mauro Galvão e Donizete. E no primeiro jogo da finalíssima, no duelo entre os vencedores dos dois turnos, a impressão era que o Vasco atropelaria sem grande dificuldade. Abriu a contagem novamente com Edmundo, dominava o jogo, mas deixou o Flamengo empatar, com gol de Fábio Baiano, e perdeu a oportunidade de definir a disputa. No segundo jogo, logo aos 5 minutos do 1º tempo, os mais de 87 mil presentes no Maracanã viram Romário sair de campo com uma contratura muscular, dificultando ainda mais a missão rubro-negra.

O domínio em campo era todo vascaíno, mas não era convertido em gol. O empate sem gols se arrastava. Na volta do intervalo, os jogadores rubro-negros fizeram uma corrente circular em campo, e aquilo motivou sua torcida, que dali em diante não cessou mais de cantar, empurrando a equipe para uma vitória que parecia extremamente improvável. Até que o segundo tempo já ia por sua segunda metade quando Caio foi derrubado na intermediária. Rodrigo Mendes cobrou a falta, a bola desviou na barreira e matou o goleiro Carlos Germano, não lhe dando qualquer chance de reação. O relógio apontava 31 minutos do 2º tempo: Flamengo 1 a 0. O que parecia impossível, materializava-se. O time aguentou a pressão fortíssima nos minutos finais e conquistou o título de Campeão Carioca de 1999, com o gol de Rodrigo Mendes ficando marcado como um dos momentos mais emblemáticos da história rubro-negra.

Flamengo no Carioca de 1999
Clemer, Pimentel, Fabão, Luiz Alberto e Athirson; Leandro Ávila (Vágner), Jorginho, Beto e Rodrigo Mendes; Leandro Machado e Romário
Téc: Carlinhos
Banco: Róbson, Fabiano, Maurinho, Fábio Baiano, Iranildo e Caio


Com o título do Carioca no 1º semestre, a diretoria apostou na continuidade do trabalho, mantendo a base do elenco. Foram poucas as saídas, e indesejada apenas a do lateral-direito Pimentel, que acertou transferência para o São Paulo. As demais baixas não eram de titulares, tendo o zagueiro Fabiano ido para o Atlético Paranaense, o volante Vágner para o Botafogo e o meia Cleisson para o Grêmio. Para reforçar o time, foram contratados o zagueiro Célio Silva, que estava no Goiás, e o meia de contenção Marcelo, que estava no Internacional. Estratégia muito diferente da espalhafatosa fase de contratações midiáticas feitas pela diretoria que cuidou do clube de 1995 a 1998.

O  Brasileirão de 99 tinha 22 clubes que jogaram a 1ª Fase enfrentando-se todos contra todos em turno único, com os oito primeiros colocados avançando para fazer um mata-mata a partir das quartas de final. Na primeira metade, nas dez primeiras rodadas, o time não foi mal, venceu seis vezes, empatou uma e perdeu três. Restavam onze rodadas para definir a classificação. O time ainda conseguiu mais duas vitórias, mas viveu uma grande instabilidade entre a 13ª e a 18ª rodada, ficando seis jogos sem vencer, com derrotas consecutivas para Atlético Mineiro, Vasco, Botafogo e Guarani, um empate com o Palmeiras, e uma derrota no Maracanã para o Cruzeiro. O intervalo de 29 de setembro a 24 de outubro foi de pesadelo, tirando o time da luta por classificação para as quartas. A sequência ruim foi interrompida com uma vitória sobre a Portuguesa de Desportos no Canindé, mas nas duas últimas rodadas o time perdeu para Santos e Juventude e terminou em 12º lugar, sendo eliminado na 1ª Fase.

Após a derrota para o Juventude em Caxias do Sul, pela 21ª rodada, alguns jogadores rubro-negros foram flagrados por jornalistas na celebração da Festa da Uva, evento turístico da cidade gaúcha. Inconformada com a indiferença dos jogadores frente à eliminação e à péssima fase ao ter vencido apenas um jogo na sequência dos nove últimas rodadas do Brasileirão, foi decidida pela demissão sumária de Romário, o capitão do bonde rubro-negro nos festejos em Caxias do Sul. Era novembro de 1999, e em janeiro de 2000 haveria o Mundial de Clubes organizado pela FIFA no Rio de Janeiro e em São Paulo, com a participação do Vasco. Ao dispensar Romário, já era imaginável que ele viesse a retornar a São Januário. E assim foi, o Vasco formou uma dupla de ataque com Edmundo e Romário, superou ao Manchester United na fase de grupos, mas perdeu a final nos pênaltis, no Maracanã, para o Corinthians.

Flamengo no Brasileiro de 1999
Clemer, Pimentel, Fabão, Luiz Alberto e Athirson; Leandro Ávila, Maurinho, Marcelo Rosa e Fábio Baiano (Beto); Leandro Machado (Caio) e Romário
Téc: Carlinhos
Banco: Róbson, Célio Silva, Juan, Leonardo Inácio, Jorginho, Iranildo e Rodrigo Mendes

Paralelamente ao Brasileiro de 99, o Flamengo disputou também a Copa Mercosul. Era a segunda edição do torneio que reunia os clubes de maior poder financeiro de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. A campanha rubro-negra na 1ª fase começou bem, vencendo ao Olimpia no Maracanã, e goleando ao Colo Colo por 4 x 0 em Santiago. Depois, como visitante, perdeu para Universidad de Chile e Olimpia. Perdeu a oportunidade de garantir a classificação quando empatou por 2 x 2 com o Colo Colo no Maracanã.

A situação na última rodada era complicadíssima: o time precisava vencer à Universidad de Chile por pelo menos quatro gols de vantagem para se classificar. O time rubro-negro teve uma atuação de gala! Antes dos 20 minutos do 1º tempo já vencia por 3 a 0, dois gols de Romário e um de Caio. Ainda antes do intervalo, Romário marcou mais uma vez, já fazendo os 4-0 de que o Flamengo necessitava. Sem dar chance ao azar, antes dos 10 minutos do 2º tempo, o time já havia marcado mais dois, um deles de Romário, que marcou seu quarto no jogo. No final, um impiedoso 7 x 0 e a classificação para as quartas de final.

Na fase mata-mata, o time empatou por 1 x 1 com o Independiente em Avellandeda, e goleou aos argentinos no jogo de volta por 4 x 0 no Maracanã. Na semi-final, já sem Romário, demitido após a eliminação no Campeonato Brasileiro, o time praticamente definiu a situação logo no primeiro jogo no Maracanã, vencendo ao Peñarol por 3 x 0. Na segunda partida, em Montevidéu, saiu atrás no primeiro tempo, virou com gols aos 25 e aos 33 do 2º tempo, o que era suficiente para lhe assegurar a vaga na final. Nos minutos finais, tomou dois gols, e assim que saiu o que decretou os 3 x 2, aos 45 minutos do 2º tempo, os jogadores uruguaios, titulares e reservas, partiram para a agressão contra os jogadores rubro-negros (com o agravante das portas de acesso ao vestiário terem sido propositalmente trancadas, numa ação premeditada).

Na final, o favorito era o Palmeiras, do técnico Luis Felipe Scolari, e com um elenco com Arce, Júnior Baiano, César Sampaio, Alex, Zinho, Paulo Nunes, Euller e Asprilla. Naquele ano, no primeiro semestre, o Palmeiras havia sido o responsável pela eliminação rubro-negra nas quartas de final da Copa do Brasil. O primeiro confronto da final da Mercosul foi no Maracanã. No 1º tempo, um gol de zagueiro para cada lado: Juan para o Flamengo e Júnior Baiano para o Palmeiras. No 2º tempo, duas vezes os alvi-verdes passaram a frente, mas em ambas o time rubro-negro reagiu e empatou dois minutos depois. Toda a luta foi premiada com o gol da vitória marcado pelo centroavante Reinaldo aos 40 minutos do 2º tempo: 4 a 3. A decisão foi na segunda partida, no Parque Antárctica, em São Paulo. Os palmeirenses saíram na frente no 1º tempo, mas o time rubro-negro, mais uma vez com muita raça, virou nos onze primeiros minutos da etapa final, com gols de Caio e Rodrigo Mendes. Porém, nos dez minutos seguintes foi a vez do Palmeiras revirar, alcançando um resultado que lhe dava o título. Incansável, o time rubro-negro foi para cima na base da força de vontade e conseguiu, aos 38 minutos do 2º tempo, através dos pés do meia Lê, marcar o gol de empate que lhe deu mais um título internacional em sua história. Com bastante protagonismo de uma nova geração que emergia da base, com nomes como Reinaldo, Leonardo Inácio e Lê, Carlinhos conquistava o segundo título rubro-negro do ano de 1999.

Flamengo na Copa Mercosul de 1999
Clemer, Maurinho, Célio Silva, Juan e Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa, Fábio Baiano e Rodrigo Mendes; Caio e Leandro Machado
Téc: Carlinhos
Banco: Róbson, Pimentel, Fabão, Jorginho, Leonardo Inácio, Lê, Iranildo, Reinaldo e Romário

Apesar dos bons resultados em 1999, a diretoria rubro-negro decidiu mudar radicalmente sua estratégia para o ano de 2000. A começar por ter decidido substituir Carlinhos por um técnico mais renomado, decidindo contratar um velho conhecido do clube, Paulo César Carpegiani, que regressava à Gávea após trabalhos de sucesso com a Seleção do Paraguai e com o São Paulo. E também decidiu mudar com relação à política de contratação de reforços, assumindo escolhas mais alinhadas a contratações mais bombásticas, passando a adotar um estilo similar ao da gestão que esteve a frente do clube entre 95 e 98. Tudo por conta do contrato assinado no fim de 1999 com a ISL, acordo no valor de US$ 80 milhões (cerca de R$ 150 milhões na cotação da época), dos quais US$ 40 milhões iriam ser investidos no futebol, e o restante na construção de um estádio e na compra do Centro de Treinamento que vinha sendo usado pelo clube na Barra da Tijuca (o Fla-Barra).

O elenco que havia sido Campeão da Copa Mercosul teve poucas baixas, só tendo havido as saídas de Célio Silva, Marcelo Rosa e Caio Ribeiro. A base foi mantida e reforçada. A grande contratação feita no início de 2000 foi a aquisição do sérvio Dejan Petkovic, jogador que havia passado com destaque pelo futebol brasileiro em 1998 com a camisa do Vitória, e estava jogando a Serie A do Campeonato Italiano com a camisa do Venezia. Foi contratado ainda um outro jogador com passagem pelo Vitória e que também estava no Venezia, o centroavante Tuta. Também foram contratados o lateral-direito Bruno Carvalho, que estava na Portuguesa de Desportos, o volante Mozart, do Coritiba, e o ponta-direita Catê, ex-São Paulo, adquirido à Sampdoria, da Itália. Dois velhos conhecidos também regressaram ao clube, o ponta-direita Lúcio, voltando de empréstimo ao Santos, e o veterano zagueiro Rogério Lourenço. O elenco ainda recebeu uma nova geração que emergia da base, da qual faziam parte o lateral-direito Alessandro, os volantes Rocha e Fabiano Cabral, o meia Camilo, e os atacantes Roma e Adriano (que posteriormente, na Itália, seria batizado como "o Imperador").

Era um grupo, em teoria, mais forte do que o do ano anterior, e largou na Taça Guanabara com duas goleadas: 5 x 0 no América e 4 x 0 no Madureira. No restante do turno, ainda meteu 7 x 1 no Friburguense e 6 x 1 no Bangu. Mas nem tudo foram flores, pois perdeu para o Botafogo e empatou com Americano e Cabofriense. Na última rodada, decidia o título do turno contra o Vasco, no reencontro rubro-negro com Romário. Foi um vexame, uma goleada vergonhosa. Apesar de ter saído em vantagem logo no começo da partida, tomou a virada ainda no 1º tempo, com gols de Felipe e Romário. Na segunda etapa, logo nos primeiros dez minutos, Romário marcou mais duas vezes. Não muito depois disso, Pedrinho fechou a goleada, num Domingo de Páscoa: Vasco 5 x 1, e campeão do 1º turno. Com a goleada Carpegiani foi demitido, substituído primeiro interinamente por Carlos César, técnico da equipe sub-20, e enfim por Carlinhos, reconduzido ao posto de onde não deveria ter sido tirado alguns meses antes.

Na Taça Rio, o Flamengo engatou cinco vitórias consecutivas nas primeiras rodadas, incluindo o Fla-Flu, mas depois tropeçou, com uma derrota para o Americano no Maracanã. Ainda perdeu pontos na rodada seguinte, num empate em 3 x 3 com o Vasco. Mas venceu seus jogos nas rodadas finais e assegurou o título do 2º turno, habilitando-se para decidir o título do Estadual frente ao Vasco, com seu grande time recheado de craques, que contava com Mauro Galvão, Gilberto, Amaral, Felipe, Juninho Pernambucano, Pedrinho, Edmundo e Romário. Como no ano anterior, o favoritismo era todo cruzmaltino.

E como no ano anterior, o título foi totalmente rubro-negro. Após um 1º tempo morno no primeiro jogo da final, o time rubro-negro surpreendeu com três gols num 2º tempo avassalador, que se arrastava num empate sem gols até os 28 minutos (tentos de Athirson, Fábio Baiano e Beto). No segundo jogo, o Vasco saiu em vantagem no final do primeiro tempo, mas nos onze primeiros minutos da etapa final se materializou a virada rubro-negra, com gols de Reinaldo e Tuta. O Flamengo venceu, e por ironia do destino com a soma dos dois resultados dando 5 a 1, o placar da acachapante goleada sofrida na decisão do turno. Mas o que valia era o título do Carioca, e este pelo segundo ano consecutivo era rubro-negro!

Flamengo no Carioca de 2000
Clemer, Maurinho, Juan, Fabão (Luiz Alberto) e Athirson; Leandro Ávila, Mozart, Iranildo (Beto) e Fábio Baiano; Reinaldo e Tuta
Téc: Paulo César Carpegiani, depois Carlinhos
Banco: Júlio César, Rocha, Rodrigo Mendes, Petkovic e Leandro Machado

Para o 2º semestre daquele ano, a diretoria montou mais um grande projeto para construção de um "Super Time", entrando de forma extremamente agressiva no mercado. A ousadia das contratações só foi comparável às do início das temporadas de 1995 e 1998. Antes, porém, foi a vez de esvaziar o elenco. Apesar do time ter sido campeão do Rio, houve a saída de 11 jogadores do elenco, um time inteiro (na mesma linha do que era feito pela gestão do clube entre 1995 e 1998). Pouco aproveitados, Rogério e Lúcio foram dispensados. E foram vendidos: o zagueiro Luiz Alberto para o Saint Etienne, da França, o zagueiro Fabão para o Bétis, da Espanha, o volante Mozart para o Reggina, da Itália, o atacante Catê para o New England Revolution, dos Estados Unidos, e mais Rodrigo Mendes e Fábio Baiano para o Grêmio, e Tuta para o Palmeiras. E dois saíram por empréstimo: Beto para o São Paulo e Iranildo para o Bahia. Já o pacote de reforços não foi numeroso, mas foi repleto de nomes de ponta e grande destaque no cenário nacional. Foram contratados cinco jogadores: o zagueiro paraguaio Carlos Gamarra, ao Atlético de Madrid, da Espanha, os meias Alex, ao Parma, da Itália, e Denílson, emprestado por seis meses pelo Béts, da Espanha, e os atacantes Edílson, do Corinthians, e Rodrigo Gral, do Grêmio. Dos cinco, só o último não era figura frequente nas convocações das seleções.

Mas os reforços demoraram a entrar em campo, tendo feito suas estreias apenas: Edílson na 8ª rodada, Denílson na 9ª, Gamarra na 12ª e Alex somente na 15ª, e o campeonato tinha, na 1ª fase, 24 rodadas. O Brasileirão de 2000 era dividido em 4 Módulos. O Módulo Azul tinha 25 clubes, com os 12 primeiros colocados avançando para o mata-mata a ser jogado a partir das oitavas de final. O Módulo Amarelo tinha 36 clubes e os 3 primeiros colocados avançavam às oitavas. E os Módulos Verde e Branco, juntos, tinham 55 clubes, com o 1º colocado avançando às oitavas de final. Assim, pode-se dizer que o Campeonato Brasileiro de 2000 teve a participação de 116 clubes. Uma bagunça!

Nas quatro primeiras rodadas o time não perdeu, mas empatou três vezes, como visitante contra Juventude e Atlético Paranaense, e no Maracanã contra o Guarani, e também em casa venceu ao Grêmio por 3 a 0. Nas rodadas seguintes, perdeu para o São Paulo e empatou em Recife com o Santa Cruz, e venceu ao Coritiba como mandante e ao Atlético Mineiro como visitante. Em 8 rodadas, acumulava 3 vitórias, 4 empates e 1 derrota.

Na 9ª rodada, contra o Palmeiras no Maracanã, o time teria pela primeira vez a Edílson e Denílson juntos, formando uma potente linha de frente: Petkovic, Denílson, Edílson e Adriano. Nas cinco rodadas seguintes, vitórias sobre Goiás, Santos e Gama, empate com o Palmeiras e uma goleada de 4 x 1 sofrida para o Bahia no Estádio da Fonte Nova, em Salvador (na 11ª rodada). Gamarra fez sua estreia no jogo seguinte à goleada sofrida, mas saiu lesionado, só regressando na reta final. O desempenho nas 13 primeiras rodadas acumulava 6 vitórias, 5 empates e 2 derrotas. Era compatível à obtenção da classificação. A diretoria teve afobação e e não soube administrar as pressões internas e externas por um bom resultado, em função dos grandes investimentos realizados. Exigia-se a ponta da tabela. E como agravante, já apareciam problemas de fluxo de caixa que causavam atrasos no pagamento de salário dos jogadores.

A partir da 14ª rodada, seguiram-se 5 derrotas consecutivas, para Ponte Preta, Botafogo (na estreia de Alex), Sport Recife, América Mineiro e Portuguesa de Desportos. O caldo estava entornado. Carlinhos foi demitido, e para seu lugar foi contratado o velho Mário Jorge Lobo Zagallo, regressando à Gávea aos 69 anos, com larga experiência a frente da Seleção Brasileira e em lidar com grandes estrelas, para comandar a equipe nos seis jogos finais da 1ª fase e tentar obter a classificação.

Alex e Denílson treinando na Gávea

Na estreia de Zagallo a frente do time a fase negativa vivida no mês de outubro foi revertida com o time goleando ao Vasco por 4 a 0, com Gamarra já de volta, o time jogando com três volantes, Alex e Denílson no banco, e com dois gols marcados por Pet, um por Edílson e um por Adriano. Mas depois o time empatou com o Fluminense e perdeu para Internacional e Cruzeiro. Ainda aplicou uma goleada de 4 x 1 no Corinthians em plena capital paulista, no Pacaembu, com dois gols de Alex, um de Pet e outro de Reinaldo, e venceu ao Vitória na última rodada. Mesmo com 12 clubes avançando ao mata-mata em seu módulo, o Flamengo, e seu "Super Time" com Gamarra, Petkovic, Alex, Denílson e Edílson, não conseguiu a classificação, terminando como 15º colocado do Módulo Azul. Um retumbante fracasso.

Flamengo no Brasileiro de 2000
Júlio César, Maurinho, Juan, Fernando e Bruno Carvalho; Leandro Ávila, Rocha, Petkovic e Alex (Denílson); Adriano e Edílson
Téc: Carlinhos, depois Mário Zagallo
Banco: Clemer, Gamarra, Athirson, Mozart, Lê e Reinaldo

Para a temporada de 2001, o milionário elenco rubro-negro teve baixas com a saída de duas das estrelas contratadas no semestre anterior, tendo Denílson regressado ao Bétis após o fim do período de empréstimo, e Alex optado em trocar o Flamengo pelo Palmeiras, fugindo do turbulento ambiente vivido na Gávea. Também deixaram o clube o lateral-esquerdo Athirson, vendido à Juventus, da Itália, e algumas peças que estavam sem espaço, como o zagueiro Ronaldo, que voltou ao Sport, o lateral-esquerdo Leonardo Inácio, que foi para o Botafogo, os meias revelados na base Lê, que seguiu para Internacional, e Camilo, que foi para o Coritiba, e o atacante Rodrigo Gral, que sem ter conseguido conquistar seu espaço, foi jogar no Sport Recife. Desta vez não houve contratações para repor as saídas, o elenco contou com os retornos após empréstimo de Beto e Iranildo, e se apostou em reforço com duas apostas, o zagueiro Max, do Frigurguense, e o meia Rodrigo Juliani, do XV de Piracicaba, do interior de São Paulo.

Já naquele ano de 2001, o Campeonato Carioca sofreria as primeiras consequências de busca de readequação do calendário do futebol nacional, visando diminuir as datas disponíveis aos Estaduais, e aumentar a das demais competições. A Taça Guanabara, 1º turno do Carioca, foi disputada por dois grupos de seis, com os dois primeiros de cada grupo avançando para fazer um mata-mata a partir das semi-finais. Já a Taça Rio, 2º turno, foi mantida em turno único em pontos corridos. Os vencedores de cada turno fariam a final do Campeonato Carioca.

No 1º turno, a disputa era de tiro curto, com apenas cinco rodadas. O time não vacilou e venceu seus quatro primeiros jogos, contra Olaria, Americano, Volta Redonda e Bangu. Na última rodada, perdeu por 1 x 0 para o Botafogo, avançando em segundo lugar e encontrando o Vasco na semi-final. Venceu o clássico por 1 x 0, gol de Beto aos 31 minutos do 2º tempo, e avançou para fazer a final contra o Fluminense. Diante de 66 mil pagantes no Maracanã, o Fla-Flu terminou empatado em 1 x 1, com a disputa do título indo ser decidida nos pênaltis. Nela, o goleiro rubro-negro Júlio César defendeu a segunda cobrança, de Magno Alves, e pôs o Flamengo em vantagem. A disputa quase ficou empatada novamente após a quarta cobrança, quando no chute do lateral-esquerda Cássio - cria das divisões de base da Gávea - a bola defendida pelo goleiro subiu (a torcida tricolor já comemorava) mas desceu, quicou próxima à linha e entrou, naquele que a imprensa batizou como "gol espírita". O Flamengo venceu por 5 x 3, conquistando a Taça Guanabara e garantindo presença na final do Estadual.

No 2º turno, o time perdeu para Americano e América, e empatou com Botafogo e Vasco, tendo este último conquistado o direito de jogar a final contra o time rubro-negro. Era o terceiro ano consecutivo que Flamengo e Vasco faziam a final do Carioca. Só em duas vezes na história até então, dois clubes no Rio de Janeiro haviam terminado três edições consecutivamente nas duas primeiras posições: Fluminense e Botafogo em 1908, 1909 e 1910, e Flamengo e Vasco em 1986, 1987 e 1988. E em nenhuma das duas oportunidades o campeão havia sido o mesmo nos três anos.

O time cruzmaltino tinha a vantagem de dois resultados iguais para faturar o título. No primeiro jogo da final, após um empate sem gols no 1º tempo, o time rubro-negro saiu em vantagem na etapa final, com gol de Petkovic, mas tomou a virada, gols de Viola e Juninho Paulista. No segundo jogo, Edílson marcou primeiro, mas, no finzinho da primeira etapa, Juninho Paulista empatou. Logo aos 8 minutos do 2º tempo, porém, Pet cruzou e Edílson tocou de cabeça para igualar o resultado obtido pelos vascaínos na primeira partida. E Júlio César fazendo uma sequência de defesas magistrais, impedindo um gol que teria sido fatídico para as aspirações rubro-negras. Mas os mais de 62 mil pagantes no Maracanã estavam vendo o título seguir para São Januário. Só que não! Falta na intermediária do Vasco, e Petkovic faz a cobrança, aos 43 minutos do 2º tempo. A bola faz um arco e entra no ângulo, no único espaço que havia entre a mão do goleiro Hélton e a furquilha da trave com o travessão. Gol épico! Façanha histórica. Flamengo 3 x 1. Flamengo Tri-campeão Carioca, pela quarta vez em sua história. Vasco Tri-vice. Num momento meio que de reencarnação dos gols de Rondinelli em 1978 e de Rodrigo Mendes em 1999 mesclados num só, uma cobrança de falta para a eternidade.

Flamengo no Carioca de 2001
Júlio César, Alessandro, Juan, Gamarra e Cássio; Leandro Ávila, Rocha, Beto e Petkovic; Reinaldo e Edílson
Téc: Mário Zagallo
Banco: Clemer, Maurinho, Fernando, Jorginho, Adriano e Roma

Quando conquistou o tri-Carioca em 2001 a gigante suíça ISL já havia anunciado sua falência e as finanças rubro-negras já estavam colapsadas. Em decorrência deste colapso financeiro, após a conquista houve uma debandada no elenco, além de se desfazer dos nomes testados e não aprovados como Max e Rodrigo Juliani, também deixaram o clube o zagueiro Gamarra, tendo ido para o AEK Atenas, e o meia Iranildo, que foi para o Salonika, ambos clubes da Grécia. Também saíram Maurinho, para a Portuguesa de Desportos, Leandro Ávila, para o Botafogo, Bruno Quadros, para o Sport Recife, e Leandro Machado, para o Internacional. O pacote de reforços foi bem mais modesto, com as contratações dos zagueiros Gilmar, do Palmeiras, e Leonardo Valença, do Internacional, e do atacante Alexandre Gaúcho, do Botafogo. Pontualmente, ainda adquiriu ao volante Dé, do Volta Redonda, e proporcionou a volta à Gávea de dois jogadores revelados na base rubro-negra, o lateral-direito Isael, que havia jogado o Carioca de 2001 pela Cabofriense, e o meia Fábio Augusto, que estava no Botafogo. Basicamente se apostou num esforço financeiro para a manutenção da dupla Petkovic e Edílson (que viviam sob constante problema de relacionamento já havia algum tempo) ao lado de um elenco jovem e recheado de nomes formados nas divisões de base do clube. Acuada por um fluxo de caixa muito negativo, a diretoria, num ato de desespero para tentar motivar a torcida com uma novidade, sacrificou duas peças "a preço de banana", naquele que muito provavelmente foi o pior negócio já feito por um dirigente rubro-negro na história: para contar com o volante Vampeta, jogador constantemente convocado para a Seleção Brasileira, cedeu duas jovens promessas para os dois clubes que detinham 50% cada um de seu passe, tendo Reinaldo sido repassado ao Paris St-Germain, da França, e Adriano à Internazionale, da Itália.

O jovem Adriano, o Imperador

O Brasileirão de 2001 foi disputado por 28 clubes que jogaram todos contra todos em turno único, com os 8 primeiros colocados avançando para fazer as quartas de final. Nas três primeiras rodadas, um empate como mandante, disputado em Juiz de Fora, contra a Ponte Preta, seguido por três derrotas consecutivas, para Goiás, Paraná Clube e Atlético Paranaense, neste último sofrendo uma goleada de 4 x 0 na Arena da Baixada, em Curitiba. Já estava desenhado o quanto aquela competição seria difícil e sofrida para o Flamengo.

Na sequência, vitórias sobre Sport Recife e Bahia, seguidas por mais três derrotas consecutivas, para Botafogo de Ribeirão Preto, Coritiba e Santa Cruz. Nas nove primeiras partidas haviam sido seis derrotas e apenas duas vitórias. E sem ter enfrentado ainda à maioria de seus adversários mais tradicionais.

Na 10ª rodada o time venceu ao Santos, depois obteve três empates consecutivos por 1 x 1, contra América Mineiro, Juventude e Vitória. Venceu ao Guarani, e perdeu para o Gama, do Distrito Federal. Em quinze jogos, tinha apenas 4 vitórias, 4 empates e 7 derrotas. O péssimo momento foi carimbado com uma goleada de 5 x 1 sofrida para o Vasco no Maracanã (três gols de Romário). O rubro-negro acumulava derrotas em metade dos jogos disputados até ali no Brasileirão de 2001. Era um indício de que os piores dias da história profissional do clube estavam começando...

Numa luta desesperadora para se afastar das últimas posições, o time empatou com o Botafogo, venceu ao Corinthians como visitante, no Pacaembu, perdeu três seguidas, para Atlético Mineiro, Grêmio e Fluminense. O time estava com três meses de salários atrasados, e em meio a toda a turbulência já natural pelos resultados ruins, Vampeta ainda disse para um jornalista a frase que se tornou folclore: "eles fingem que me pagam, e eu finjo que jogo". O Flamengo voltou a vencer como visitante, desta vez ao Cruzeiro, no Mineirão, em Belo Horizonte, mas depois perdeu mais duas seguidas, para Portuguesa de Desportos e São Paulo. E foi assim que, pela primeira vez em sua história, o Flamengo precisou lutar contra o Rebaixamento, do qual se livrou apenas na última rodada.

O técnico Zagallo pediu demissão após a 24ª rodada, alegando não ter mais saúde para enfrentar tamanhas emoções, afinal havia recém cumprido 71 anos. Faltavam três rodadas para o fim da 1ª Fase, e Carlos Alberto Torres foi contratado para a operação de emergência visando o salvamento do rebaixamento (quatro clubes caíam para a Segunda Divisão). Não tivesse havido aquela troca de treinador e é muito provável que o time rubro-negro teria sido rebaixado para a Série B.

Na 25ª rodada, com uma escalação extremamente ofensiva contra o Internacional, o time rubro-negro venceu com gol de Felipe Melo, em partida como mandante jogada em Juiz de Fora, e respirou na luta pela permanência na 1ª Divisão. Derrotado na 26ª rodada pelo São Caetano, o último confronto era contra um Palmeiras totalmente sem aspiração no campeonato. O Flamengo entrou na última rodada com 26 pontos, contra 25 do Botafogo de Ribeirão Preto, 24 do Santa Cruz e do América Mineiro, e 19 do já rebaixado Sport Recife. O Flamengo venceu ao Palmeiras por 2 x 0, gols de Juan e Roma, partida a qual se houvesse perdido, teria sido rebaixado, já que seria ultrapassado pelo Santa Cruz, que venceu ao Guarani, em Campinas. Foi a primeira vez em sua história que o Flamengo teve que lutar efetivamente contra um rebaixamento. Os piores anos de sua história já davam suas caras, e nos anos seguintes o clube teria que lutar algumas outras vezes mais para não cair para a 2ª Divisão do futebol brasileiro.

O gol salvador de Felipe Melo em 2001

Flamengo no Brasileiro de 2001
Júlio César, Alessandro, Juan, Leonardo Valença e Cássio; Jorginho, Rocha, Beto e Petkovic; Reinaldo e Edílson (Roma)
Téc: Mário Zagallo, depois Carlos Alberto Torres
Banco: Clemer, Gilmar, André Bahia, Vampeta, Fábio Augusto, Felipe Melo e Alexandre Gaúcho

Paralelamente à péssima campanha que fazia no Campeonato Brasileiro, o time rubro-negro disputava a Copa Mercosul. Na Fase de Grupos daquela edição, o Flamengo venceu cinco de seus seis jogos, superando duas vezes ao San Lorenzo, da Argentina, e ao Olimpia, do Paraguai. Na única derrota, foi goleado por 4 x 1 pelo Nacional, em Montevidéu. Dois clubes avançavam, e o time rubro-negro seguiu adiante juntamente com o San Lorenzo, a quem pouco tempo depois reencontraria na final do torneio.

Pelas quartas de final, empatou sem gols com o Independiente, em Avellaneda, e goleou aos argentinos por 4 x 0 no Maracanã, assim como havia feito nas quartas da edição de dois anos antes, quando havia se sagrado campeão. Desta vez, com dois gols marcados por Edílson e outros dois pelo zagueiro Juan. Na semi-final, empatou duas vezes com o Grêmio, tendo a segunda partida, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, ido para a decisão por pênaltis. O jovem goleiro rubro-negro Júlio César, então com 21 anos, defendeu duas cobranças, garantindo a vitória rubro-negra por 4 x 2, e levando o time para fazer a final contra o San Lorenzo.

O primeiro jogo da final, no Maracanã, terminou num empate sem gols. O segundo duelo, no Estádio Nuevo Gasometro, em Buenos Aires, no entanto, teve que ser adiado por conta da crise econômica que irrompeu na Argentina, com a quebra de seu sistema financeiro, múltiplas falências bancárias subsequentes e muita confusão nas ruas. O duelo só pode vir a ser disputado mais de um mês depois, já em 24 de janeiro de 2002. O Flamengo saiu na frente com um gol de Leandro Machado (de volta à Gávea após um período de empréstimo ao Internacional) logo no comecinho da partida, mas cedeu o empate aos 22 minutos do 2º tempo, gol de Raul Estévez. O jogo terminou 1 x 1 e foi para a disputa por pênaltis (o regulamento não previa o gol fora como critério de desempate, e se previsse, o time rubro-negro teria caído na semi perante o Grêmio). Nas penalidades, apesar de Juan ter perdido a primeira cobrança, Júlio César voltou a se destacar e o Flamengo chegou a abrir 2 x 0 de vantagem. Porém, Cássio perdeu a terceira cobrança rubro-negra, e o atacante Roma perdeu a sexta. Cápria converteu o último pênalti e o San Lorenzo venceu por 4 x 3, deixando o Flamengo com o vice-campeonato.

Flamengo na Copa Mercosul de 2001
Júlio César, Alessandro, Juan, Fernando e Cássio; Jorginho, Rocha, Beto e Petkovic; Edílson e Reinaldo
Téc: Mário Zagallo, depois Carlos Alberto Torres
Banco: Clemer, Bruno Carvalho, André Bahia, Carlinhos, Fábio Augusto, Adriano e Leandro Machado


Todo o período de 1993 a 2001 foi uma época de muito barulho na mídia, com muitos alardes publicitários, mas projetos que foram realizados através de grandes investimentos sem lastro real, pois eram grandes negócios sustentados numa engenharia financeira na qual não havia recursos no presente para dar lastro a estas grandes contratações, sendo todas realizadas em cima de uma perspectiva de retorno financeiro futuro, sustentada pela perspectiva de realização de grandes conquistas. Uma vez que os títulos não foram conquistados, não houve retorno sobre o capital investido, e a consequência foi uma deterioração crescente das finanças rubro-negras, que já não andavam tão saudáveis no começo dos Anos 1990 e foram piorando cada vez mais. As dívidas foram crescendo exponencialmente e os problemas de fluxo de caixa foram ficando cada vez maiores, fazendo com que os problemas para honrar compromissos fossem ficando cada vez mais complicados de serem equalizados, emergindo especialmente em constantes situações de atrasos no pagamento de salários dos jogadores. O colapso definitivo explodiu com a catastrófica parceria com a gigante multinacional de marketing esportivo ISL. Como muitas vezes acontece na cultura brasileira - que foi forjada sob os costumes de um país colonizado sob um modelo meramente extrativista de recursos, sustentada num mecenas para salvar a tudo e a todos - o que prometia ser a solução milagrosa definitiva, tornou-se um pesadelo, o qual levou o clube aos piores dias da história de seu futebol profissional entre 2002 e 2006.

Neste período de 1993 a 2001 o Flamengo não conquistou nenhum título nacional. Nas nove edições de Campeonato Brasileiro, o título foi conquistado duas vezes por Palmeiras, Corinthians e Vasco, e uma vez por Botafogo, Grêmio e Atlético Paranaense. Acostumado com um período de muitas conquistas entre 1980 e 1992, que lhe deu a alcunha de "time de chegada", pois quando conseguia entrar na disputa por títulos, chegava para ser campeão e não perdia, característica que construiu o dito popular: "deixou o Flamengo chegar, já era". Mas a rotina no período imediatamente subsequente foi outra. Na Copa do Brasil teve um bom desempenho, mas não venceu. Entre 1989 e 1992, das quatro primeiras edições do torneio participou de duas, sendo semi-finalista em 89 e campeão em 90. Entre 1993 e 2001 só não participou do torneio em 1994, tendo sido semi-finalista em 1993, 1995 e 1996 (caiu perante o Grêmio nas duas primeiras e para o Internacional na última) e sido vice-campeão em 1997 (perdeu para o Grêmio), sofrendo quatro derrotas diante dos dois grandes clubes de Porto Alegre. Entre 1998 e 2001, caiu três vezes nas quartas de final (para o Palmeiras em 1999, para o Santos em 2000 e para o Coritiba em 2001) e uma vez nas oitavas de final (para o Vitória em 1998). Era um bom desempenho na principal competição mata-mata do país, mas sem a qualidade e o poder de decisão de um "time de chegada" capazes de lhe dar um título. E além de perder uma final de Copa do Brasil, acabou também com os vice-campeonatos da Supercopa dos Campeões da Libertadores em 1993 e 1995, e do Torneio Rio-São Paulo de 1997, derrotado na final pelo Santos após uma derrota por 2 x 1 no primeiro jogo e um empate por 2 x 2 num Maracanã que recebeu quase 71 mil pagantes no segundo. Ainda viria a chegar a duas finais da Copa Mercosul nesse período, vencendo uma e perdendo outra. Portanto, disputou 6 finais fora dos limites do Rio de Janeiro entre 1993 e 2001, e conquistou apenas um destes títulos.

No âmbito estadual, acabou se salvando pela conquista de seu quarto tri-campeonato, e pelo poder de superação frente às poderosas e mais caras equipes montadas pelo Vasco nos três anos do "Tetra-Tri". Nas nove edições de Campeonato Carioca jogadas entre 1993 e 2001, o Flamengo foi quatro vezes campeão, contra três títulos do Vasco, e um de Fluminense e de Botafogo. O futebol do Rio de Janeiro viveu um período de uma forte bipolaridade entre Flamengo e Vasco, especialmente no período de 1986 a 2001, no qual das 16 edições disputadas, o título foi 6 vezes do Flamengo e 6 vezes do Vasco, só ficando, portanto, em quatro edições com outro clube: 3 vezes com o Botafogo e 1 com o Fluminense.

Nos Anos 1980 e 1990 a estrutura comercial do futebol brasileiro e mundial passou por algumas transformações profundas. Aumentou gradativamente o poderio econômico do futebol europeu, e com isto passou a ser cada vez mais frequente e crescente a aquisição de jogadores brasileiros. A partir do final da década de 80 as transações passaram a ser intermediadas por agentes dedicados a cuidar da carreira de seus clientes, os jogadores (no Brasil, estes agentes foram denominados empresários). Com estes novos atores, as trocas de clube, principalmente na década de 90, passaram a ser mais constantes, pois se tornaram o meio de enriquecimento para os jogadores e seus agentes (e para muitos dirigentes também, que com bastante frequência eram comissionados "por baixo dos panos").

O Flamengo, com o gigantismo de sua torcida e sua diferenciada característica de estar espalhada por todo o território nacional, com uma penetração que nenhum outro clube do país jamais teve, sempre foi um catalisador de novas modas, fossem as que ele mesmo lançava, fossem aquelas que só realmente viravam moda depois que o Flamengo aderia e as incorporava: tanto as modas positivas quanto as negativas, e sendo as que ele lançou ou apenas as lançadas por outros que ele aderiu. Aquele espírito de vanguarda e entusiasmo juvenil que o clube trazia de berço em seus genes, incrustrado pelos jovens da República Paz e Amor que montaram um clube de bairro, sem campo para treinar ou estádio para jogar, e que mesmo assim eram capazes de enfrentar de igual para igual e superar aos mais endinheirados, fossem eles os representantes das aristocracias coloniais ou dos colonizadores portugueses, continuava pulsando no fanatismo das veias rubro-negras.

E se mesmo com o período de 1993 a 2001 tendo representado anos de uma vulnerabilidade financeira cada vez maior, até eclodir no mais grave colapso financeiro da história rubro-negra, ainda assim aqueles projetos de megalomanias sem lastro financeiro deixaram uma marca na cultura do futebol brasileiro. Aquelas duas gestões rubro-negras, cada uma com dois mandatos, uma de 1995 a 1998, e outra de 1999 a 2002, implantaram como nunca antes uma cultura de imediatismo de resultados, sem que zelassem por um planejamento eficiente, que oferecesse tempo adequado de preparação e entrosamento, e continuidade à formação do time. Em esportes coletivos, não basta colocar um monte de grandes valores individuais juntos, é preciso fomentar a construção da equipe. Aquelas gestões não inventaram nada, apenas catalisaram características já trazidas pela cultura nacional - em especial pela do Rio de Janeiro - amplificando fatores negativos de gestão que custaram bastante tempo para serem melhorados.


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