sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Hall da Fama do C.R. Flamengo: ADRIANO


ADRIANO: o Imperador Problemático

Carreira: 2000-2001 Flamengo; 2001 Internazionale (Itália); 2002 Fiorentina (Itália); 2002-2004 Parma (Itália); 2004-2007 Internazionale (Itália); 2008 São Paulo; 2008-2009 Internazionale (Itália); 2009-2010 Flamengo; 2010-2011 Roma (Itália); 2011-2012 Corinthians; 2012 Flamengo; 2014 Atlético Paranaense

Uma explosão meteórica no Flamengo em 2000 e o rumo para a Europa. O auge de seu futebol aconteceu em 2005. Com a Seleção Brasileira teve atuações memoráveis: o gol do título da Copa América e título da Copa das Confederações com uma goleada de 4 a 1 na Argentina. Em 2006, o fracasso na Copa do Mundo. Ele voltou ao Flamengo em 2009, e o resultado não poderia ter sido melhor: artilheiro e campeão do Brasileiro, mas sempre convivendo com abusos em festas e com álcool. Uma curta e intensa história de amor entre Adriano e a camisa rubro-negra. Mas um dos maiores a terem ostentado a camisa 9 do clube em todos os tempos.

Como jogador do Flamengo, ele fez 94 jogos e marcou 46 gols.


Abaixo, texto sobre a carreira do jogador escrito por Nélson Oliveira para o site "Calciopedia", e complementado com diferentes trechos extraídos de diversos outros sites na internet:

Adriano Leite Ribeiro nasceu em 17 de fevereiro de 1982 na cidade do Rio de Janeiro. Filho de uma família humilde, foi criado na Favela da Vila Cruzeiro, no bairro da Penha. Ali, aos 7 anos de idade, sempre descalço, começou a chamar atenção nas peladas no campo de terra do "Ordem e Progresso", time da comunidade; alguns o chamavam de "Didico" e outros de "Pipoca", apelido que o menino ganhou dos colegas de comunidade. O pai, Seu Almir, chamado de "Mirinho", trabalhava como "office-boy" em escritórios no Centro do Rio. Foi ele quem organizou o "Hang Futebol Clube", que viria a conquistar seguidos títulos em campeonatos na comunidade com o menino Adriano como principal destaque.

Mas a carreira do jogador começou realmente graças ao esforço da mãe, Dona Rosilda. Era ela quem sempre levava o menino na Escolinha de Futebol do Flamengo. Revisora de uma fábrica de roupas, e também trabalhando como faxineira em casas de família, era ela quem pagava as mensalidades da escolinha de futebol. Nos meses que não conseguia, era a avó, Dona Vanda, quem ajudava com o que arrecadava vendendo doces e churrasquinhos na rua. Diariamente o menino pegava dois ônibus da Vila Cruzeiro até a Gávea, onde começou no time de futsal - ao mesmo tempo em que também jogava no futsal do Grajaú Country Clube - passando posteriormente aos gramados. Na infância difícil, superou ao sarampo, à violência em sua comunidade e ao trauma de ter visto o pai, baleado na cabeça, sobreviver por um triz.

Nas categorias de base, pelo seu porte físico (grande e forte), começou jogando como defensor. Primeiro, como zagueiro pela esquerda. Depois, lateral-esquerdo. Ainda foi testado como meio-campo defensivo (volante). Somente aos 15 anos, quando o então treinador da categoria experimentou-o mais à frente, Adriano encontrou sua verdadeira posição. Foi nesta posição que a aposta deu resultado.

O sucesso não tardou a chegar. Suas qualidades logo chamaram a atenção, principalmente pela força física diferenciada. Enquanto estava nas divisões de base, foi diversas vezes convocado para a Seleção Brasileira, com a qual se sagrou Campeão Mundial Sub-17 em 1999 na Nova Zelândia, e Campeão Sul-Americano Sub-20 em 2001 no Equador, conquista na qual também terminou como o artilheiro da competição, com 6 gols. Naquele ano ainda marcaria mais 6 gols com a camisa canarinho no Mundial Sub-20 disputada na Argentina, no qual a seleção acabou derrotada por Gana nas quartas de final.

Fez sua estreia no profissional do Flamengo durante o Torneio Rio-São Paulo de 2000, lançado pelo técnico Paulo César Carpegiani, durante sua breve passagem como treinador rubro-negro no primeiro semestre daquele ano. O time vinha mal, havia perdido para o São Paulo no Maracanã e para o Botafogo, e empatado com o Santos. Adriano entrou pela primeira vez em campo no dia 2 de fevereiro, num empate por 2 a 2 com o Botafogo no Maracanã, diante de meros 10 mil torcedores nas arquibancadas. O menino ainda tinha apenas 17 anos (naquele mesmo mês faria 18). Logo na sua segunda partida com a camisa rubro-negra, teve uma atuação diferenciada.

Era o dia 6 de fevereiro de 2000, o Flamengo goleou ao São Paulo por 5 x 2 em pleno Morumbi. O time rubro-negro havia tomado dois gols nos oito primeiros minutos de jogo, mas tinha conseguido descontar antes do intervalo, quando Carpegiani lançou o menino Adriano, que entrou com a camisa 14 no lugar do lateral-direito Maurinho, deslocando Fábio Baiano para a função, e reforçando ao ataque. O cronômetro estava para apontar um minuto complementado, quando Adriano recebeu pela ponta-direita, entrou pela área, cortou o zagueiro e acertou um petardo cruzado, empatando a partida. Dali em diante, construiu-se a goleada. Na rodada derradeira, uma semana depois, o time goleou ao Santos por 4 a 1 no Maracanã, com Adriano começando pela primeira vez no time titular, caindo pelas pontas, com Leandro Machado centralizado no ataque, e Rodrigo Mendes e Dejan Petkovic armando pelo meio. A goleada não evitou a eliminação precoce, mas aquelas duas goleadas revelavam um talento totalmente diferenciado. 


No segundo semestre, no Campeonato Brasileiro e na Copa Mercosul, já com Carlinhos como técnico do time, ele assumiria a titularidade no time. No Brasileirão de 2000, Adriano participaria de 18 dos 24 jogos da campanha rubro-negra, formando a dupla de ataque com Edílson, e deixando o recém-contratado Denílson no banco de reservas. Ele seria o vice-artilheiro do Flamengo na competição com 7 gols. Aos 18 anos, durante o Brasileirão de 2000, o garoto da Vila Cruzeiro ganhou sua primeira convocação para a Seleção Brasileira. Estreou contra a Colômbia, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

No Campeonato Carioca de 2001, com Zagallo de técnico, ele acabou perdendo a titularidade para Reinaldo. Disputaria apenas 7 das 20 partidas da campanha rubro-negra, tendo marcado apenas 1 gol; do banco de reservas, viu Petkovic acertar o ângulo e marcar o gol do Tri! Adriano foi Campeão Carioca de 2001 e ali encerrou sua primeira passagem em vermelho e preto, tinha apenas 19 anos.

Em profunda crise financeira após o colapso da parceria com a gigante de marketing suíça ISL, que pediu falência, o então Presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, montou uma operação financeira para contratar ao volante Vampeta. O jogador tinha parte de seu passe vinculado à Internazionale de Milão e parte ao Paris St-Germain. Para adquiri-lo, ofereceu o passe de dois jovens talentos da base, mandou Reinaldo para o PSG e Adriano para a Inter. Foi por isso que o menino Adriano só jogou no Flamengo até o ano de 2001.

Adriano logo causou impressão positiva no clube lombardo. Seu primeiro ato como nerazzurro foi no Estádio Santiago Bernabeu, num amistoso contra o Real Madrid: o atacante soltou um foguete de canhota, numa cobrança de falta, e decretou a vitória interista. O primeiro gol num jogo oficial também foi decisivo. Na terceira rodada da Serie A, a "Beneamata" empatava em casa contra o Venezia e Adriano, aos 48 minutos do 2º tempo, ganhou da zaga no alto, o goleiro Generoso Rossi deu rebote e o próprio camisa 28, quase sem ângulo, encheu o pé para fazer 2 a 1. Suas credenciais haviam sido apresentadas, mas a concorrência no elenco da Inter era grande e o espaço, escasso. Ele fez 14 jogos em pouco mais de seis meses. Para que o jovem talento não ficasse à sombra de Christian Vieri, Ronaldo, Álvaro Recoba e Mohamed Kallon, a diretoria nerazzurra optou por emprestá-lo à Fiorentina.

À beira da falência, o clube de Florença estava na penúltima colocação do campeonato e precisava de sangue novo para tentar reverter sua situação em campo. Adri - como os chamavam os italianos - chegou em janeiro de 2002 e estreou como titular, desbancando os experientes Predrag Mijatovic e Maurizio Ganz. No debute, ante o Chievo Verona, apareceu mais uma vez nos acréscimos e definiu o placar em 2 a 2, garantindo um ponto importante para sua equipe. Foi o suficiente para superar Nuno Gomes na hierarquia e se manter no onze inicial. Nas cinco rodadas posteriores anotou três gols pesadíssimos, sobre Milan, Roma e Juventus. Contra os rossoneri, teve a frieza de vencer Dida com um toque de letra nos acréscimos e, contra os romanos, acertou um petardo de falta. Aos 20 anos, o atacante já apresentava alguns dos principais atributos que lhe acompanhariam no ápice: destreza, potência, força física e precisão na perna esquerda. Porém, a Fiorentina, sem rumo, acabou rebaixada para a Serie B. Adriano, no entanto, destoou da maior parte dos companheiros, tendo tido cinco meses muito positivos em Florença. Em 15 jogos vestindo violeta, anotou 6 gols e terminou o campeonato como artilheiro dos toscanos.

Na temporada 2002/03, a Inter apostaria no argentino Hernán Crespo como parceiro de Vieri no ataque. Adri era considerado muito novo e, para prosseguir amadurecendo, transferiu-se, em co-propriedade, para o Parma, que era o detentor do título da Copa Itália. Por isso, Adriano estreou na Supercopa, vencida pela Juventus. Depois disso, fez gols nas quatro aparições seguintes, contra Udinese, Como, Juve e CSKA Moscou. Ao longo da temporada, o brasileiro formou uma dupla implacável com o romeno Adrian Mutu e voltou a anotar tentos importantes contra Milan, Lazio, Roma e rivais locais dos "ducali", como Bologna, Modena e Piacenza, vítimas da verve goleadora de Adri. O Parma chegou a brigar por vaga na Champions League, mas ficou com a 5ª posição na Serie A. Mutu foi o artilheiro da temporada, com 22 gols (18 no campeonato) e Adriano veio atrás com 17 (15 deles no campeonato). Em grande fase, ele viu as portas da Seleção Brasileira se abrirem de vez para o seu futebol. Ele foi convocado para a Copa das Confederações de 2003, na qual marcou dois gols, mas o Brasil foi eliminado num grupo que tinha Camarões, Turquia e EUA.

Na temporada 2003/04 Adriano perdeu a companhia de Mutu, que foi para o Chelsea. Seu parceiro de ataque seria Gilardino, o que (a princípio) faria com que o brasileiro jogasse um pouco mais distante do gol. Mas a nova condição em Parma não o prejudicou, ele foi às redes em seus primeiros seis jogos da temporada – correspondentes às cinco rodadas iniciais da Serie A e à ida dos playoffs da Copa da UEFA. Mas então ele se machucou e ficou dois meses e meio parado. Voltou no segundo tempo de uma partida contra a Udinese e deixou a sua marca naquela que seria a sua despedida do clube. A Inter queria seu talento de volta para concorrer com Vieri. Assim, Adriano deixou o Parma com 26 gols em 44 aparições.

O retorno à Inter foi o último passo da transformação do "Didico da Vila Cruzeiro" no "Imperador de Milão": foram os torcedores da Inter que o apelidaram de "Imperatore", em referência ao Imperador Adriano (monarca que governou Roma entre os anos 117 e 138 d.C.). O brasileiro marcou seus dois primeiros gols no segundo jogo dessa passagem pela "Beneamata", num 4 a 0 sobre o Siena. Três dias depois, nova "doppietta", nas semi-finais da Copa Itália contra a Juventus. Adri ainda guardou mais um na partida de volta, mas a Inter foi eliminada nos pênaltis. Na Serie A, a equipe teve melhor sorte: com nove tentos do "Tanque", incluindo uma pintura contra o Perugia, a "Beneamata" se classificou para a UEFA Champions League.

Ao fim da temporada 2004, Adriano embarcou para o Peru com a Seleção Brasileira para disputar a Copa América. E ali se tornaria herói nacional! Sem Ronaldo, o camisa 7 fez dupla com Luís Fabiano no ataque canarinho. O Imperador foi decisivo: anotou três sobre a Costa Rica, dois sobre o México e um contra o Uruguai nas semi-finais. Na final, Brasil e Argentina iam empatando em 1 a 1 quando a seleção albiceleste desempatou faltando poucos minutos para o fim. Nos acréscimos, de forma antológica, Adriano receberia e giraria para disparar um petardo ao arco e empatar de novo uma partida que parecia perdida. O Brasil venceria nas penalidades máximas, com o goleiro Júlio César garantindo o título. Com sete bolas nas redes, Adriano foi o artilheiro e ainda ganhou o título de melhor jogador do torneio: Campeão da Copa América 2004.

Uma semana depois, contudo, o jogador viu iniciar o maior drama de sua vida. No dia 3 de agosto, Seu Almir sofreu um infarto e faleceu. A morte do "Mirinho da Vila Cruzeiro" foi tratada com discrição por Adriano, mas representou um divisor de águas em sua carreira. Os efeitos da tragédia pessoal no futebol do craque não foram imediatos, mas o acompanharam até que deixasse os gramados. O Imperador nunca mais se sentiu a mesma pessoa depois que o pai, um de seus maiores conselheiros, partiu. Em suas palavras carinhosas ao pai, constam sempre a gratidão e o reconhecimento pelo incentivo nos tempos em que o futebol era somente uma brincadeira: "Foi meu torcedor número 1. Sempre acreditou em mim".

Apesar do baque, a temporada 2004/05 foi a melhor de sua vida. A campanha começou em altíssimo nível, com 14 gols nos primeiros 15 jogos. Nessa sequência, Adri anotou "doppiette" contra Basel, Werder Bremen e Udinese – contra os friulanos, assinou uma pintura, com uma arrancada desde o campo de defesa e dribles desconcertantes em Felipe e Valerio Bertotto. Outra atuação de gala aconteceu no 5 a 1 interista sobre o Valencia, em pleno Mestalla.

Adriano chegou a passar dois meses e meio sem marcar gols, entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005 – o que, de certa forma, antecipava a irregularidade dos anos seguintes. Quando conseguia motivação para jogar, o brasileiro era imperioso. De modo magistral, Adriano marcou uma "tripletta" sobre o Messina, na Serie A, e nas oitavas de final da Champions League, contra o Porto – esta última, num período em que a torcida já pegava no seu pé. Para fechar a campanha em alta, marcou dois gols num espaço de sete minutos e em lances de pura potência, na partida de ida da final da Copa Itália. Com o 2 a 0 sobre a Roma, no Estádio Olímpico, a Inter protocolou seu primeiro título após sete anos de um incômodo jejum: Campeão da Copa Itália de 2005. Marcou no total 28 gols na temporada da Inter, 16 deles na Serie A do Campeonato Italiano.

O técnico Carlos Alberto Parreira convocou-o para ser o titular brasileiro na Copa das Confederações, desenhando uma primeira versão de seu "Quadrado Mágico", sem Ronaldo, e com Adriano fazendo o 9 (centroavante) do Brasil, com Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho fazendo a aproximação à grande área. O Imperador estreou com um golaço contra a Grécia e continuou jogando bem, embora só tenha voltado a balançar as redes na semi-final, contra a dona da casa. O "Tanque" decidiu o jogo: marcou duas vezes e ainda sofreu um pênalti na vitória: Brasil 3 x 2 Alemanha. Na final, uma atuação antológica dele e de toda a seleção: Adriano voltou a anotar uma "doppietta" na goleada por 4 a 1 sobre a Argentina. Foi campeão, artilheiro e melhor jogador da competição: Campeão da Copa das Confederações de 2005.

Novamente, o brasileiro voltou coroado para Milão. E, mais uma vez, começou uma temporada a todo vapor, comemorando o título da Supercopa Italiana, anotando um gol na classificação da Inter à fase de grupos da Liga dos Campeões (em detrimento do Shakhtar Donetsk) e deixando uma "tripletta" sobre o Treviso na abertura da Serie A. Antes de viajar para a Alemanha e defender à Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006, Adriano ainda comemorou mais um título: Campeão da Copa Itália de 2006. Com Roberto Mancini, a "Beneamata" ia deixando os anos de seca de títulos para trás. Lentamente, porém, o nível das exibições de Adriano caía e ele era menos decisivo.

Na Copa, o "Quadrado Mágico" de Parreira - Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo - não foi páreo para o show do francês Zinedine Zidane nas quartas de final. Com a camisa 7, Adriano marcou contra Austrália e Gana. No Mundial, Adriano se apresentou acima do peso e não emagreceu durante o torneio, teria chegado a engordar 13 quilos depois da eliminação.

Começavam a vazar para a mídia os problemas que o Imperador vivia desde a morte do pai. Afinal, pela primeira vez, Adriano apresentava, de forma contínua, um rendimento muito aquém do esperado. Não tardou para que o técnico Roberto Mancini o sacasse do time titular. Hernán Crespo e Zlatan Ibrahimovic fizeram a dupla nerazzurra na temporada 2006/07 e Adriano, fora de forma, perdeu espaço até para o paraguaio Julio Cruz. O brasileiro só marcou um gol no segundo semestre de 2006. O império de Adriano estava ruindo antes mesmo de seu aniversário de 25 anos. Ele até melhorou seus números na parte final da Serie A – foram 5 gols e 11 assistências em 23 jogos – e a Inter se sagrou Campeã Italiana. Na temporada 2007/08 a Internazionale voltou a ser Campeã Italiana, mas o "Tanque" só atuou em quatro partidas.

Em depressão, Adriano pensava em suicídio. Só não consumava o fato porque, antes de levar a cabo as suas ideações, lembrava dos familiares. O craque vinha apresentando um comportamento autodestrutivo, que a Inter ajudava a encobrir, na expectativa de recuperá-lo. Fumava muito para aliviar a tensão, entregava-se às bebidas alcoólicas, chegava embriagado e atrasado a treinamentos e às vezes até faltava às atividades. Ao mesmo tempo, sentia enorme saudade da família e da Vila Cruzeiro. Ele não queria mais ser o Imperador, queria voltar a ser o Didico. O jogador ensaiava um retorno à sua infância e às raízes, longe dos holofotes e na busca de reativar o contato com as amizades que tinha na favela. Alguns dos seus antigos colegas, contudo, viviam à margem da lei e lhe traziam problemas. Acidentes automobilísticos em saídas de bailes funk, fotos em situação de embriaguez, fotos com armas de fogo de grosso calibre ao lado de membros de facções criminosas, Adriano era notícia pelo extra-campo.

A partir de janeiro de 2008, a Inter optou por cedê-lo por empréstimo ao São Paulo, Adriano queria se reaproximar da família. Perto da mãe, o jogador parecia mais feliz e, com acompanhamento psicológico no tricolor – algo a que se recusava em Milão – voltou a jogar bem. Os 17 gols na passagem pelo Morumbi (11 no Campeonato Paulista e 6 na Libertadores) e o bom futebol lhe renderam o retorno à Seleção Brasileira, então treinada por Dunga. Mas no São Paulo não conseguiu o título nem do Campeonato Paulista nem da Copa Libertadores. As boas atuações lhe proporcionaram um olhar carinhoso do novo técnico da Inter, o português José Mourinho. Ele então voltou para Milão para jogar a temporada 2008/09, tendo chances e revezando o posto de parceiro de Ibrahimovic com Crespo, Cruz e o jovem Mario Balotelli. Contudo, as positivas apresentações pontuais eram encadeadas a recaídas, atrasos e bebedeiras, que fizeram com que o brasileiro recebesse diversas advertências e sanções disciplinares.

Em fevereiro de 2009, Adri chegou até a marcar no clássico contra o Milan, o seu último gol pela Inter. Sua última partida pelo clube ocorreu no mês seguinte, contra o Manchester United. No fim de março, Adriano viajou para disputar jogos das Eliminatórias com a Seleção Brasileira e não se reapresentou. Após ficar no banco de reservas contra Equador e Peru, o atacante sumiu. Nem sua mãe nem seu empresário, Gilmar Rinaldi, sabiam do seu paradeiro. Duas semanas depois de reaparecer, o Imperador e a Inter resolveram rescindir seu contrato. Para os interistas, Adriano será sempre "L'Imperatore". Nas três passagens por Milão, o brasileiro somou oito títulos, 177 partidas e 74 gols. Adriano decidiu que se aposentaria do futebol, aos 27 anos, idade na qual a maioria dos jogadores está no seu auge físico e técnico.

Adriano retornou ao Rio de Janeiro e à Vila Cruzeiro. Bastaram algumas semanas para ele rever sua decisão a anunciar o retorno ao Flamengo. Vestindo rubro-negro, o Imperador participou, como protagonista, da arrancada rumo ao título nacional de 2009. Fez sua reestreia em vermelho e preto em 31 de maio de 2009, 72 mil pessoas no Maracanã para ver a vitória por 2 a 1 sobre o Atlético Paranaense. O Imperador voltou! E logo com 1 minuto do 2º tempo ele balança as redes ao escorar um cruzamento de cabeça para o gol. Curiosamente no mesmo primeiro minuto de volta do intervalo em que ele balançou a rede pela primeira vez com a camisa rubro-negra na goleada sobre o São Paulo em 2000. Naquela tarde, o Atlético diminuiria, e o gol de Adriano se mostraria fundamental para os três pontos. Três rodadas depois, ele voltaria a ser decisivo com um "hat trick" na goleada por 4 a 0 sobre o Internacional no Maracanã. Na 14ª rodada também seria decisivo, com um chutaço de canhota de fora da área, na vitória por 2 a 1 sobre o Santos na Vila Belmiro. Na 1º turno atuaria em 16 das 19 rodadas e marcaria 10 gols com a camisa rubro-negra.

Para mostrar o quanto ele estava sendo decisivo, várias vitórias por 1 x 0 com gol de Adriano: na 18ª rodada sobre o Corinthians no Maracanã, na 31ª sobre o Botafogo no Engenhão e na 33ª sobre o Santos no Maracanã. Na 27ª rodada, dois dele na vitória de 2 a 0 sobre o Fluminense. E na 34ª ele marcaria o terceiro de cabeça na importantíssima vitória sobre o Atlético no Mineirão; o Mengo abriu 2 x 0, viu o Galo diminuir e pressionar pelo empate, até Adriano sacramentar o placar final. Ele dividiria o protagonismo no returno com o sérvio Petkovic. Adriano marcaria 9 gols e Pet 7 tentos nas 19 rodadas finais. Flamengo, Campeão Brasileiro de 2009. Com 19 gols, Adriano foi o artilheiro do Brasileirão e ainda faturou os Troféus Bola de Prata e Bola de Ouro da Revista Placar. O camisa 9 escrevia seu nome definitivamente na história rubro-negra.

Para a temporada 2010, o Flamengo contratou Vágner Love, com quem Adriano formou a dupla de ataque que ficou conhecida como "Império do Amor". O título do Carioca foi perdido para o Botafogo, do centroavante uruguaio Loco Abreu, e na Libertadores o time caiu nas quartas de final para a Universidad de Chile. A pressão por resultados aumentou, e o Imperador voltou a se sentir incômodo sendo pressionado. A Roma entendeu que o craque, tão só com 28 anos, poderia ser um bom reforço e Adriano decidiu voltar à Itália. Ledo engano da Roma. O "Tanque" nunca entrou em forma, colecionou lesões, problemas extra-campo e encerrou seu vínculo com os giallorossi em março de 2011. Em um ano foram apenas 8 partidas, só 350 minutos em campo e nenhum gol.

A aposta seguinte foi feita pelo Corinthians, que achou que trazendo o Imperador de volta para o Brasil iria conseguir repetir o que aconteceu no Flamengo em 2009. O clube lhe pagou um salário exuberante, mas em um ano foram só 7 jogos, 305 minutos em campo e só 2 gols. Após alguns meses sem jogar, Adriano pediu uma nova chance ao Flamengo, que lhe abriu as portas de seu Centro de Treinamentos para sua recuperação após uma segunda cirurgia no tendão de aquiles. Mas desta vez se respaldando, com um salário vinculado à participação em jogos. Meses de treinamentos, abuso em festas e álcool sem conseguir perder peso, e o rompimento sem sequer entrar em campo uma única vez. Entre março de 2011 e maio de 2016, o atacante fez apenas 14 partidas oficiais. Quando entrou em campo, Adriano tinha apenas 20% de suas condições atléticas e pesava 101 quilos – 14 a mais do que tinha quando estava no auge. Era nítido que o atacante não atravessava um bom momento do ponto de vista psicológico.

Durante mais de um ano, Adriano ficou parado. O Internacional se interessou por seu futebol, mas desistiu da contratação. O Atlético Paranaense, então, resolveu apostar no Imperador para 2014. Mas ele não correspondeu: não compareceu à recepção de boas-vindas preparada pelo Furacão, faltou a treinamentos e, menos de três meses depois, foi demitido. Jogou apenas 4 partidas pelo rubro-negro paranaense, marcando 1 único gol, o último de sua carreira, após 774 dias sem balançar as redes, na derrota por 2 x 1 para o The Strongenst na altitude de La Paz, na Bolívia, pela 1ª Fase da Libertadores de 2014. Em 2016, após mais de dois anos parado, Adriano ensaiou uma volta ao futebol pelo Miami United, na Quarta Divisão dos Estados Unidos, mas não conseguiu.

Aqueles que buscam respostas fáceis para perguntas complexas questionariam se a carreira de Adriano foi um sucesso ou um fracasso. A sucessão de extremos que o Imperador vivenciou em parte de sua trajetória até soa convidativa para análises peremptórias, mas elas se revelariam carentes no desvelar das nuances de seu caminho. De uma forma ou de outra, porém, um fato é inegável: Adriano marcou época no futebol italiano do início dos anos 2000 e fez o suficiente para colocar seu nome tanto na história do Flamengo quanto da Seleção Brasileira.



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