domingo, 6 de fevereiro de 2022

Hall da Fama do C.R. Flamengo: PETKOVIC


DEJAN PETKOVIC: o Gringo Magistral

Carreira: 1988–1991 Radnicki Nis (Iugoslávia); 1991–1995 Estrela Vermelha (Iugoslávia); 1995 Real Madrid (Espanha); 1996 Sevilla (Espanha); 1996–1997 Racing Santander (Espanha); 1997–1999 Vitória (BA); 1999–2000 Venezia (Itália); 2000-2002 Flamengo; 2002-2003 Vasco; 2003-2004 Shanghai Shenhua (China); 2004 Vasco; 2005 Al Ittihad (Arábia Saudita); 2005-2006 Fluminense; 2007 Goiás; 2007 Santos; 2008 Atlético Mineiro; 2009-2010 Flamengo

Herói do 4º Tri, com um magistral gol de falta aos 43 minutos do 2º tempo. Herói do Hexa Brasileiro, com atuações determinantes na reta final de fechamento da campanha, com dois gols olímpicos contra Atlético Mineiro e Palmeiras. Com a camisa 10 e com a camisa 43, "Pet", como seu nome caiu no carinho popular, entrou para a história do Flamengo. Ele foi o primeiro europeu a "dar liga" no futebol brasileiro. Especial, diferenciado, Dejan Petkovic.

Como jogador do Flamengo, ele fez 198 jogos e marcou 57 gols.


Abaixo, a combinação com trechos de dois textos sobre a carreira do jogador escritos pelo site "Redação Rubro-Negra" e por Sidney Barbosa da Silva e publicado no site "Campeões do Futebol":

Dejan Petkovic nasceu em 10 de setembro de 1972 em Majdanpek, uma pequena cidade na Sérvia que em 2001, quando o jogador marcou o gol de falta que lhe eternizou na história do Flamengo, tinha tão só pouco mais de 20 mil habitantes, com a vila central da região tendo apenas 10 mil habitantes. No dia em que a bola arrematada por Petkovic entrou no ângulo do goleiro Hélton, havia 62.555 espectadores no Maracanã, várias vezes o tamanho da população inteira de sua cidade natal. A pequena cidade se industrializou através de um programa de incentivo governamental do governo da Iugoslávia, tendo um período de intenso progresso com a mineração e a metalurgia do cobre. A República da Iugoslávia existiu de 1918 a 1992, quando se consolidaram as separações em diferentes repúblicas após uma intensa e sangrenta guerra de independência. Majdanpek então passou a ser parte da Sérvia. A cidade está a 182 km da capital Belgrado. Dejan Petkovic se formou em enfermagem na Sérvia, sem nunca ter exercido a profissão.

Ele se mudou cedo de sua cidade natal para jogar nas categorias de base do Radnicki Nis, tornando-se o jogador mais jovem a ter atuado em uma partida oficial no futebol iugoslavo - com apenas 16 anos - tendo debutado em 25 de setembro de 1988 em partida contra o Zeljeznicar Sarajevo. Com a camisa do Radnicki Nis, Pet disputou 53 partidas e marcou 34 gols. Então Dejan, o Rambo – apelido que ganhou em sua cidade natal – transferiu-se em 1991 para o mais poderoso time da capital Belgrado, o Estrela Vermelha (Crvena zvezda, na lingua local). O clube atingia naquele ano o ápice de sua história, tendo sido o campeão da UEFA Champions League na temporada 1990/91, vencendo ao Oympique Marseille, da França, na final, no Estádio San Nicola, em Bari, na Itália.

O que chamava mais atenção no seu jogo era sua inteligência dentro de campo, com a capacidade de ser ambidestro e um ótimo aproveitamento nas cobranças de bola parada. O jogador se sobressaiu e se firmou como titular apenas na temporada 1994/95, exatamente quando seu time ganhou todos os títulos nacionais possíveis, tendo em seu camisa 10 seu grande nome. Pelo clube, ele foi 2 vezes Campeão da Copa da Iugoslávia (nas temporadas 1992/93 e 1994/95) e foi Campeão Iugoslavo de 1994/95. Com belas atuações e títulos conquistados pelo Estrela Vermelha, em 1995 o sérvio recebeu uma proposta de excelente magnitude: jogar pelo Real Madrid, um dos clubes mais influentes do planeta. O sucesso despertou a atenção dos dirigentes merengues na Espanha, para onde Pet rumou para jogar a temporada 1995/96. Com a camisa do Estrela Vermelha, foram 132 jogos e 38 gols.

Na Espanha, Petkovic não teve sucesso. Entrou em campo apenas 5 vezes com a camisa do Real Madrid. No meio de sua primeira temporada no clube, em janeiro de 96, Pet foi emprestado para o Sevilla. O clube estava em ebulição, lutando para fugir da Zona de Rebaixamento do Campeonato Espanhol. Por lá Pet disputou apenas 8 partidas e marcou 1 gol. Ficou encostado em sua segunda temporada, 1996/97, e acabou sendo novamente emprestado, desta vez para o Racing Santander, onde também teve uma passagem bastante curta. Voltou então para atuar algumas poucas partidas pelo Real Madrid B. Insatisfeito pelas poucas oportunidades na Espanha, apareceu-lhe uma oportunidade de jogar no Brasil. Em 1997, durante o Troféu Palma de Mallorca, disputado por Real Madrid, Mallorca, Flamengo e Vitória (no qual o Flamengo venceu ao Real Madrid na semi-final, mas acabou derrotado pelo Mallorca na final), dirigentes baianos construíram contatos com agentes espanhóis e fizeram uma oferta para que Petkovic fosse jogar pelo Vitória, em Salvador.

Em entrevista ao Programa Seleção SporTV, Pet declarou o que o levou a trocar o Real Madrid pelo Vitória: "O Bebeto estava lá jogando, mas quando cheguei ele tinha parado. Várias coisas influenciaram. A primeira foi que o Vitória era campeão. Eu pensei: 'O Vitória é campeão? O Bebeto joga no Vitória?'. Para mim, batiam as duas coisas. Depois que eu descobri que era campeão baiano e não brasileiro".

Petkovic se destacou, tendo jogado pelo clube baiano até 1999, tornando-se um dos grandes ídolos do Leão de Salvador. Em dois anos com a camisa do rubro-negro baiano, disputou 90 jogos e marcou 59 gols, tendo sido Campeão da Copa do Nordeste de 1999, e duas vezes Campeão Baiano, em 1997 e 1999. Ainda estava em adaptação ao calor e à dinâmica do futebol brasileiro, mas teve várias grandes atuações que levaram vários outros clubes brasileiros a especular sua contratação.

Porém, decidido a regressar ao mercado europeu, aceitou uma proposta do modesto Venezia para jogar na Série A do Campeonato Italiano na temporada 1999/00. A equipe do Vêneto, com seu exótico uniforme preto, verde e laranja, havia voltado à Primeira Divisão após 30 anos fora da elite. O Venezia já havia contratado ao zagueiro Fábio Bilica e ao meia Tácio do Vitória. Além de Pet, apostou no japonês Hiroshi Nanami, no norueguês Runar Berg e no austríaco Michael Konsel. O treinador era Luciano Spalletti. Seu início foi animador, fez boas partidas contra Udinese, Torino e Roma, chegando a marcar um golaço contra os romanos. A equipe, no entanto, não ia bem, tendo somado só 1 ponto nestas partidas. Dali em diante, inclusive, o futebol de Pet caiu, e ele disputou apenas outras 13 partidas, sendo substituído em 7 delas e começando uma no banco. Marcou apenas 2 gols, um pelo Campeonato Italiano e um pela Copa Itália. O Venezia ia muito mal, e já estava claro que o rebaixamento de volta à Série B era iminente.

Em dezembro de 1999, no meio da temporada italiana, o Flamengo apareceu como uma bela oferta pelo passe de Petkovic. Nos planos do jogador, a prioridade era se manter na Europa, mas ele acabou dobrado pela oferta. Chegou ao Flamengo para a disputa do Estadual de 2000, mas de início não conseguiu se firmar como titular, era reserva na campanha na qual o Flamengo foi Campeão Carioca de 2000. No segundo semestre, subiu de produção e se tornou titular absoluto da camisa 10, mas a campanha rubro-negra no Brasileirão de 2000 foi um retumbante fracasso, após a montagem de um time fortíssimo com recursos da gigante de marketing suíça ISL, que se associava como parceira do clube. Foram contratados Gamarra, Alex, Denílson e Edílson. O time ficou com um 19º lugar naquele confuso campeonato que tinha 25 participantes no Módulo Verde, mas com quatro módulos que se cruzavam em play-off até se chegar ao campeão.

Após o fracasso, Alex e Denílson deixaram o clube, não ficando para o Estadual de 2001. E foi então que o camisa 10 fez história! O gol que mais ficou marcado na carreira de Pet foi na final do Campeonato Carioca de 2001, disputada contra o Vasco. Aos 43 minutos do segundo tempo, o Flamengo ganhava o jogo por 2 a 1, porém, necessitava de mais um gol para se sagrar campeão, já que havia perdido o primeiro jogo por este mesmo placar, e era o Vasco quem tinha a vantagem de lavantar o troféu com dois resultados iguais. Naquela oportunidade, surgiu uma falta na entrada da área para Petkovic cobrar, sua maior especialidade. A cobrança foi perfeita, sem chances para o goleiro Hélton. A partir daquele momento, o sérvio tornou-se, de vez, ídolo do Flamengo! Seu nome estava cravado na história rubro-negra!


No segundo semestre de 2001, quando já se iniciavam os sinais do colapso financeiro em função da falência da ISL na Suíça, o Flamengo apostou num time centrado nos baianos Vampeta e Edílson, este último que desde o início daquele ano já se envolvia em subsequentes problemas de relacionamento com Petkovic. A campanha no Brasileirão de 2001 foi ainda pior que no ano anterior, o time terminou em 24º lugar entre 28 participantes, escapando do rebaixamento à Série B só na última rodada. E o início de 2002 foi ainda mais confuso, com o time eliminado - e em último lugar do grupo - logo na 1ª fase da Libertadores (que disputava por ter sido o Campeão da Copa dos Campeões Regionais de 2001). A Gávea estava vivendo o mais pleno caos. E não havia qualquer dinheiro no caixa, o fluxo financeiro estava girando no negativo.

O Flamengo estava financeiramente colapsado. Os salários todos atrasados. Durante março de 2002, apareceu uma proposta financeira do Vasco, e Pet, cansado da bagunça que havia se transformado a Gávea, aceitou a mudança para o rival. O jogador jogou o Brasileirão de 2002 pelo "Clube da Colina" e depois foi Campeão da Taça Guanabara de 2003. Antes do fim daquele Carioca, do qual o Vasco se sagraria campeão, deixou o clube ao ser vendido por R$ 10 milhões para o futebol chinês, onde foi defender ao Shanghai Shenhua, tendo ele se sagrado Campeão Chinês da temporada 2003/04 (lá, foram 22 jogos e 7 gols). Ao fim do campeonato, esteve perto de ser contratado pelo Botafogo, mas voltou para defender ao Vasco no Campeonato Brasileiro de 2004. Apesar do Vasco ter lutado contra o rebaixamento, Petkovic foi premiado com o Troféu Bola de Prata da Revista Placar, entrando para o "11 ideal" do torneio. No total das duas passagens com a camisa cruzmaltina, disputou 66 partidas e marcou 28 gols.

No início de 2005 deixou ao Vasco para jogar no futebol árabe, onde esteve por seis meses defendendo ao Al Ittihad, da Arábia Saudita. Em agosto de 2005 acertou seu retorno ao futebol brasileiro e ao Rio de Janeiro, desta vez para defender ao Fluminense, por quem disputou o Brasileiro de 2005 - no qual voltou a ser contemplado com o Troféu Bola de Prata da Revista Placar -, e o Carioca e o Brasileirão de 2006. Com a camisa tricolor, disputou 59 jogos e marcou 19 gols.

Em 2007, aceitou uma proposta do Goiás, mas saiu do clube esmeraldino insatisfeito com cobranças extra-campo, tendo jogado apenas 9 jogos pelo clube durante o Campeonato Goiano, marcando um único gol. No Brasileiro de 2007 jogou pelo Santos, onde teve uma sequência irregular, acabando dispensado no final da temporada. Foram 21 jogos e 1 gol com a camisa do alvi-negro praiano. Em março de 2008 foi contratado pelo Atlético Mineiro como a grande contratação do ano de centenário do clube. No Galo, atrapalhado por conta de seguidos problemas físicos, jogou 32 jogos e marcou 5 gols. Desvinculou-se do clube ao fim daquele ano de 2008, ficando sem contrato e sem propostas de trabalho.

Petkovic então retornaria ao Flamengo sete anos depois de sua primeira passagem, desejando encerrar sua carreira no futebol jogando com a camisa com a qual mais se identificou em sua carreira. Em 2009, selou um acordo com o rubro-negro para a realização do pagamento de uma dívida. Escolheu a camisa número 43 em referência ao gol do título marcado em 2001. Sua chegada foi cercada de desconfiança, e seu recomeço não foi nada fácil. Nos primeiros treinos, praticamente foi ignorado pelo então técnico Cuca. Ele e o vice-presidente de futebol Kléber Leite eram contra a contratação do sérvio. Publicou o jornal "O Globo" em 20 de maio de 2009: "A volta de Petkovic ao Flamengo está causando muita polêmica no clube. Sem jogar desde novembro, ele foi contratado em troca de redução da dívida de R$ 18 milhões que o Flamengo tem da primeira passagem do jogador. Segundo o repórter Eric Faria, da TV Globo, existe a possibilidade de Cuca e seus auxiliares, além do vice de futebol, Kléber Leite, pedirem demissão por causa da volta de Pet. O presidente em exercício Delair Dumbrosck declarou, ao anunciar a contratação do jogador na Rádio Tupi, que 'ele tem a caneta no momento para decidir o que é o melhor para o Flamengo, e que Kléber Leite não levará as despesas do Flamengo quando deixar o clube'.

Cuca não pediu demissão, mas acabou sendo demitido após uma sequência de resultados negativos durante o 1º turno do Brasileirão de 2009. Houve a efetivação de Andrade como técnico, e Pet passou a receber mais oportunidades, ganhando ritmo de jogo e mostrando um desempenho surpreendente em campo. Inesperadamente foi um dos líderes da equipe na arrancada que culminaria no título brasileiro daquele ano, tendo sido o autor de importantes gols na reta final, e assumindo um importante protagonismo na reta final, num momento no qual Adriano, que vinha sendo o grande protagonista durante a campanha, caiu bastante de produção. Suas atuações fizeram com que conquistasse pela terceira vez na carreira o Troféu Bola de Prata da Revista Placar. No jogo do título, no Maracanã lotado, foi o autor da cobrança de escanteio na cabeça do zagueiro Ronaldo Angelim, que testou para as redes e decretou a vitória por 2 a 1 sobre o Grêmio. Flamengo, Campeão Brasileiro de 2009.

A temporada 2010 foi a última de sua carreira como jogador de futebol. Havia grande expectativa para o desempenho do time com Pet, Adriano e o então recém-contratado Vágner Love, levando a torcida rubro-negra a ter esperança de título na Libertadores de 2010, mas o time acabou eliminado pela Universidad de Chile nas quartas de final. Com um desempenho visivelmente decadente a cada mês, estava claro o quanto a questão física estava pesando, o herói rubro-negro estava com 38 anos.

Seu contrato não foi renovado para a temporada 2011, na qual o Flamengo acertou as contratações de Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves e do argentino Dario Bottinelli, todos três para fazer a mesma função de camisa 10 que o "Gringo Magistral" fazia. Mas para dar glórias ao herói e protagonista de duas conquistas históricas para o clube, o Tri-Carioca de 2001 e o Brasileiro de 2009, o Flamengo deu a Petkovic uma despedida à sua altura, em um jogo oficial, válido pelo Campeonato Brasileiro. Em 5 de junho de 2011, a última partida do ídolo no futebol profissional aconteceu no clássico diante do Corinthians, válido pela 3ª rodada do Brasileirão, com o Engenhão recendo 42 mil pessoas para homenagear ao sérvio (o Maracanã estava fechado pela realização de obras para a Copa do Mundo de 2014). Petkovic foi ovacionado pela torcida rubro-negra, e recebeu uma placa comemorativa da então Presidente do Flamengo, Patrícia Amorim. O jogo terminou num empate por 1 x 1. Terminava o ciclo de Pet com a camisa rubro-negra, a que ele mais vestiu entre todas durante sua longa e nômade carreira.

O sérvio ficou erradicado no Rio de Janeiro após se aposentar como jogador. Passou a atuar como empresário na cidade, investindo em imóveis e como dono de pizzaria. Atuou também dando palestras motivacionais. Tentou a carreira de técnico, trabalhando com o time sub-23 do Athlético Paranaense no Estadual de 2014, com o Criciúma, de Santa Catarina, em 2015, com o Sampaio Correa, do Maranhão, em 2016, e terminando a frente do Vitória em 2017, clube onde sua trajetória no país havia começado 20 anos antes.

Também se dedicou a outra paixão: o poker. Em 2014, ele participou do Desafio das Estrelas do BSOP Millions, torneio que reuniu várias personalidades do esporte brasileiro. Na sequência, a partir de 2018, Petkovic passou a trabalhar como comentarista esportivo do canal da TV por assinatura SporTV, pertencente às Organizações Globo. Também em 2018, sua filha Ana Petkovic, então com 20 anos, lançou-se no Brasil como cantora com o álbum "Mais & Mais", com canções de sua autoria em português, inglês, espanhol e sérvio. As raízes de Pet no Rio estavam mais do que solidificadas. E seu lugar nos corações rubro-negros, mais do que reservado.


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