terça-feira, 1 de março de 2022

Futebol do Flamengo de 2002 a 2006: os piores dias de sua história, um caos


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO

OS PIORES DIAS DA HISTÓRIA PRIFISSIONAL DO FLAMENGO (2002 a 2006)
Após um colapso financeiro e um processo de impeachment, foram anos de caos


Não fosse pelo gol de Petkovic em cima do Vasco que garantiu o título Carioca e pelo fato do time haver chegado à final da Copa Mercosul, já no ano de 2001 se poderia dizer que havia começado os piores dias da história profissional do Flamengo, pois as consequências do colapso financeiro já estavam instauradas.

O então presidente Edmundo dos Santos Silva fechou parceria milionária com a empresa suíça de marketing ISL, a mesma envolvida anos depois nas investigações de corrupção dentro da FIFA envolvendo os nomes de Joseph Blatter, João Havelange e Ricardo Teixeira. A ISL faliu na Suíça, o Flamengo não tinha recebido todos os recursos do contrato, não tinha como cobrar da massa falida na Suíça, e já tinha gastado de forma antecipada o que tinha por receber. Os cofres ficaram com um rombo enorme, levando anos para as finanças serem reorganizadas. Este processo levou a que o presidente Edmundo Santos Silva sofresse Impeachment. Assim como a Presidência da República sofrera 10 anos antes, em 1992, o Flamengo foi o primeiro clube no Brasil a interromper um mandato por incapacidade de gestão. Gilberto Cardoso Filho assumiu como presidente interino e convocou eleições, vencidas por Hélio Ferraz para um mandato-tampão de pouco mais de um ano, entre outubro de 2002 e dezembro de 2003, após o qual tendo sido definida uma mudança de regimento, com a presidência do clube passando a ser ocupada por triênios e não mais biênios.

Com Hélio Ferraz, o futebol foi gerido pelo Vice-presidente Geral, Radamés Lattari, ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, pelo Vice-presidente de Futebol, Paulo Dantas, que tinha tido a mesma função na gestão de Luiz Augusto Veloso, e pelo Superintendente de futebol Paulo Angioni, que havia trabalhado no Corinthians em 1997, no Palmeiras em 1998-99 e no Fluminense em 2000-01.

Em dezembro de 2003 foi novamente eleito Márcio Braga. O clube estava em meio a um caos financeiro e consequentemente político. Ele conseguiu unir as diferentes correntes e reorganizar muita coisa, e acabou reeleito por isso. Esteve na presidência nos triênios 2004-05-06 e 2007-08-09. Em 2004, uma nova tentativa de modernização: o Vice-presidente de Futebol continuou sendo Paulo Dantas, o Diretor-Executivo era José Maria Sobrinho e o Diretor Técnico do Fla-Futebol escolhido foi Júnior. O ídolo rubro-negro exerceu a função entre janeiro e dezembro de 2004. Para 2005, reformulação: o Vice-presidente de futebol foi Gérson Biscotto e o Gerente de Futebol foi Anderson Barros (janeiro a novembro de 2005), tendo ele, anos depois, vindo a ocupar o mesmo cargo em Botafogo, Vasco e Palmeiras.


Após o colapso financeiro do estouro da "Bolha ISL", as apostas rubro-negras para a temporada 2002 foram bastante modestas. Sem dinheiro em caixa, e com uma fila de credores batendo à porta, vários dos principais jogadores do elenco do semestre anterior deixaram o clube: Vampeta seguiu para o Corinthians, e Edílson para o Cruzeiro. O único grande nome a ter permanecido foi o sérvio Dejan Petkovic. A aposta foi sobretudo em ter um elenco recheado de jogadores formados nas divisões de base: Júlio César, Juan, Fernando, Athirson, Rocha, Felipe Melo, Nélio Rodrigues, Andrézinho e Roma. Dois reforços renomados foram contratados para o meio de campo: Juninho Paulista, do Vasco, e o veterano Leonardo, que regressava ao Brasil para encerrar a carreira defendendo aos dois clubes nos quais atuou antes de construir sua carreira de sucesso na Europa, atuando no São Paulo em 2001 e no Flamengo em 2002. Ademais, conseguiu o empréstimo do lateral-esquerdo Athirson, que regressava após uma temporada sem destaque pela Juventus, da Itália, além de ter adicionado ao elenco dois jogadores que tinham estado emprestados no semestre anterior e regressavam ao clube: Maurinho, à Portuguesa de Desportos, e Leandro Machado, ao Internacional. Para fechar, apostou na contratação dos zagueiros Flávio, do Sport Recife, e Valnei, do Santa Cruz.

Para comandar a esta "colcha de retalhos", foi escolhido o técnico João Carlos Costa, que havia feito parte da comissão técnica da Gávea no fim dos Anos 1980 e início dos Anos 1990, e que depois trabalhou algumas temporadas no futebol do Japão, tendo sido o técnico de Kashima Anthlers, Nagoya Grampus e Cerezo Osaka.

A temporada 2002 começou com conflitos políticos no futebol carioca, com as principais fichas do clube colocadas na disputa do Torneio Rio-São Paulo, no qual teve um desempenho horroroso, com apenas 4 vitórias em 15 jogos disputados (3 empates e 8 derrotas), terminando com uma vexatória 13ª colocação entre 16 participantes, atrás de São Caetano, Paulista de Jundiaí, Portuguesa de Desportos, Ponte Preta e Guarani, e a frente apenas de Americano, de Campos, Bangu e América.

No Campeonato Carioca, o Flamengo abandou a disputa, tendo atuado toda a Taça Guanabara com uma equipe sub-20, sem usar seu elenco principal, sofrendo goleadas para América (0 x 4) e Americano (1 x 4), além de haver sido derrotado também por Madureira, Bangu, Botafogo e Vasco. Só conseguiu 1 vitória em 11 jogos, e terminou o turno na última colocação. Disputou em paralelo à Copa Libertadores, e fez uma campanha vergonhosa, tendo sido eliminado logo na 1ª Fase como último colocado de seu grupo, que tinha ao Olimpia, do Paraguai, ao Once Caldas, da Colômbia, e à Universidad Católica, do Chile. Conseguiu apenas uma vitória nos seis jogos disputados. Os péssimos resultados levaram à demissão de João Carlos e à escolha de um novo treinador para substituí-lo.

Flamengo na Libertadores de 2002
Júlio César, Maurinho, Valnei, Fernando e Athirson; Leandro Ávila, Rocha, Felipe Melo e Juninho Paulista; Andrézinho e Leandro Machado
Téc: João Carlos Costa
Banco: Clemer, Juan, Ânderson, Jorginho, Leonardo, Petkovic e Roma

O novo treinador escolhido foi Lula Pereira, um nome sem experiência em clubes de ponta do futebol nacional, cujos melhores resultados em Campeonatos Brasileiros não tinham ido além da 20ª colocação, com o Botafogo de Ribeirão Preto em 1999 e com a Portuguesa de Desportos em 2000, e cujo maior destaque foi ter sido campeão com o América Mineiro do Estadual de Minas Gerais em 2001. Uma escolha modesta, e sem um histórico de relação com o clube. Era um claro sinal dos dias extremamente difíceis que a situação financeira rubro-negra impunha.

No 2º turno do Carioca, ainda muito mal, o time sofreu derrotas para Madureira, Volta Redonda, Bangu, Americano e Botafogo. Ou seja, ainda perdeu metade dos jogos que disputou. Ainda assim, conseguiu a classificação para a 3ª fase, formada por dois grupos de quatro clubes, com os dois primeiros de cada um deles avançando à semi-final. O time de Lula Pereira empatou com a Friburguense e venceu ao Volta Redonda, e na partida decisiva acabou goleado por 4 x 1 no Fla-Flu, não conseguindo a classificação para a semi-final, da qual Botafogo e Vasco também ficaram de fora. Melancolicamente, a goleada no Fla-Flu encerrava o semestre mais tenebroso do futebol rubro-negro, que foram, com certeza, os piores seis meses de toda a história do Flamengo!

Flamengo no Carioca de 2002
Júlio César, Alessandro, Juan, Fernando e Athirson; Jorginho (Rocha), Beto, Nélio Rodrigues (Juninho Paulista) e Felipe Melo; Andrézinho e Leandro Machado (Roma)
Téc: João Carlos Costa, depois Lula Pereira
Banco: Diego, Flávio, Carlinhos, Fabiano Cabral, André Gomes, Edmílson e Victor Simões

O segundo semestre daquele horripilante ano de 2002 não seria muito diferente do primeiro, tendo o Flamengo, pelo segundo ano consecutivo, lutado contra o rebaixamento à 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro. Na largada, foi dada continuidade ao trabalho de Lula Pereira. Mas o elenco continuou sofrendo perdas: Petkovic foi para o Vasco, Juninho Paulista para o Middlesbrough, da Inglaterra, e a passagem de Leonardo foi encurtada pela tremenda bagunça vivida na Gávea. Para complementar, pela necessidade de fazer caixa para mitigar os efeitos da crise, o zagueiro Juan foi vendido ao Bayer Leverkusen, da Alemanha. E também deixaram o clube: Maurinho, Rocha, Beto e Leandro Machado.

Para refazer o elenco foram feitas diversas apostas de baixo investimento. Regressaram ao clube os meias Fábio Baiano, após passagem pelo Grêmio, Iranildo, que esteve emprestado ao Salonica, da Grécia, e o centroavante Caio Ribeiro, após passagem pelo Fluminense. Além deles, foram contratados mais 9 reforços: o zagueiro Váldson, do Botafogo, o também zagueiro André Dias e o meia Marquinhos, ambos do Paraná Clube, o volante Messias, do São Caetano, o volante André Gomes e o meia Hugo, estes dois da Friburguense, e os atacantes Zé Carlos, do Botafogo, Sandro Hiroshi, do São Paulo, e Liédson, do Coritiba. Um total de 12 jogadores aportavam na Gávea para tentar melhorar o péssimo ano rubro-negro.

O Brasileirão de 2002 foi disputado por 26 clubes que jogaram todos contra todos em turno único, com os 8 primeiros colocados avançando para a fase de Mata-Mata, a partir das Quartas de Final. Com uma campanha extremamente irregular, o time rubro-negro ficou quase todo o campeonato à beira da Zona de Rebaixamento (quatro últimos colocados), chegando algumas vezes a figurar dentro dela. A estreia iludiu a torcida rubro-negra, com uma vitória por 3 x 1 sobre o Internacional no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Depois, porém, a equipe ficou seis jogos sem vencer, empatando com Juventude, Goiás e Cruzeiro, e perdendo para Coritiba, Paysandu (em pleno Maracanã), e Gama, do Distrito Federal. A péssima arrancada levou à demissão de Lula Pereira.

O novo técnico escolhido foi Evaristo de Macedo, ex-jogador do clube, e que chegava para sua terceira passagem como treinador rubro-negro, tendo suas duas primeiras, em 1993 e em 1998-99, não durado muito (uma por 24 e a outra por 26 jogos). Com ele o time melhorou, especialmente após a goleada de 5 x 2 no Fla-Flu da 8ª rodada, mas ainda assim terminou o campeonato com mais derrotas do que jogos vencidos. As vitórias na 22ª rodada sobre o Botafogo no Maracanã, e, sobretudo, na 23ª rodada, sobre a Portuguesa em São Paulo, foram cruciais para livrar o time do rebaixamento à 2ª Divisão, do qual o Flamengo só se livrou matematicamente após um empate contra o Palmeiras, em São Paulo, na penúltima rodada. O time terminou o campeonato em 18º lugar, apenas 3 pontos acima de Portuguesa de Desportos e Palmeiras, os dois primeiros dentre os rebaixados, lista na qual também figurou o Botafogo.

Flamengo no Brasileiro de 2002
Júlio César, Alessandro (Fábio Baiano), André Dias, André Bahia e Athirson; Jorginho, André Gomes, Iranildo e Felipe Melo; Zé Carlos e Liédson
Téc: Lula Pereira, depois Evaristo de Macedo
Banco: Diego, Fernando, Ânderson, Ânderson Gils, Marquinhos Santos, Hugo, Andrézinho, Caio Ribeiro e Sandro Hiroshi

Para a temporada 2003 duas diretrizes iniciais foram traçadas: dar continuidade ao trabalho de Evaristo de Macedo, e utilizar mais jogadores formados nas categorias de base da Gávea do que vindos de fora do clube. A intenção era manter ao centroavante Liédson - seu principal destaque na temporada anterior - mas, sem poder financeiro, o clube não conseguiu retê-lo, tendo ele sido contratado pelo Corinthians. Também saíram Messias, para o Racing Santander, da Espanha, e Caio Ribeiro, para o Grêmio. E o clube não teve interesse em continuar com Marquinhos, Hugo e Sandro Hiroshi. Foram feitas menos contratações, buscando-se tiros mais certeiros em nomes mais conhecidos. Foram contratados três jogadores: o meia Felipe, ex-Vasco, que regressava ao Brasil após passagem pelo Galatasaray, da Turquia, o meia Lopes, um dos destaques do Brasileirão anterior com a camisa do Palmeiras, e o centroavante Fernando Baiano, do Internacional.

O calendário do futebol brasileiro passou por uma mudança radical a partir de 2003 frente ao modelo utilizado nas décadas anteriores. O Campeonato Brasileiro passou a ser disputado em turno e returno por pontos corridos, passando a ocupar quase nove meses do calendário, e não mais seis, e forçando a um encolhimento dos Estaduais, que passaram a durar menos de três meses. O Carioca de 2003 foi jogado por 12 equipes em turno único, com as quatro primeiras colocadas avançando para uma semi-final, e as vencedoras para fazer a final, ambas as fases em melhor de dois jogos.

A campanha rubro-negra se iniciou com sete vitórias nas oito primeiras rodadas, perdendo apenas o Fla-Flu. Nas últimas rodadas, porém, o time perdeu para América e Olaria, e empatou com o Vasco. Mas conseguiu ir às semi-finais, na qual enfrentou ao Fluminense, do técnico Renato Gaúcho. Após um empate por 1 x 1 na primeira partida, a equipe rubro-negra foi atropelada com uma goleada por 4 x 0 no segundo jogo. Era o segundo ano seguido em que a campanha rubro-negra era finalizada com uma goleada de quatro sofrida para o Fluminense. Com o novo vexame no Maracanã, a diretoria decidiu pela demissão de Evaristo.

Flamengo no Carioca de 2003
Júlio César, Alessandro, André Dias (André Bahia), Fernando e Athirson; Jorginho, André Gomes, Felipe e Fábio Baiano; Zé Carlos e Fernando Baiano
Téc: Evaristo de Macedo
Banco: Diego, Fabiano Cabral, Felipe Melo, Andrézinho e Jean

Para a disputa do Campeonato Brasileiro, o Flamengo foi atrás de um treinador "mais da moda", indo buscar no futebol paulista a um nome com resultados mais expressivos no período imediatamente anterior àquela escolha. O escolhido foi Nelsinho Baptista, técnico campeão paulista em 1997 com o Corinthians e em 1998 com o São Paulo.

O elenco também mudou bastante. Após o Carioca, saíram o lateral-direito Alessandro, para o Palmeiras, o zagueiro André Dias, para a Ponte Preta, o meia Felipe Melo, para o Cruzeiro, o meia Lopes, para o Fluminense, além de Jorginho e Iranildo, que após anos na Gávea, seguiram para o Brasiliense, do Distrito Federal. A principal contratação feita foi o retorno ao clube do centroavante Edílson, então no Cruzeiro. Junto a ele chegaram outros 6 reforços: o lateral-direito Luciano Baiano, da Ponte Preta, o zagueiro Fabiano Eller, do Palmeiras, os volantes Paulo Miranda, do Cruzeiro, e Fabinho, da Ponte Preta, o meia Igor, do Rio Branco de Americana, de São Paulo, e o atacante Fernando Diniz, do Fluminense. Adicionalmente, houve ainda o retorno do lateral-esquerdo Cássio, que havia sido emprestado ao Internacional.

Sob o comando de Nelsinho, a equipe chegou à Final da Copa do Brasil após eliminar a Botafogo da Paraíba, Ceará, Remo, Vitória e Sport Recife, postulando-se para enfrentar ao Cruzeiro na decisão. Era um adversário extremamente difícil, que, treinado por Vanderlei Luxemburgo, liderava ao Campeonato Brasileiro, do qual alguns meses depois viria a se sagrar campeão, e era apontado por todos como o grande favorito a erguer a Copa do Brasil.

O Cruzeiro, comandado em campo pelo meia Alex, o mesmo da fracassada passagem pelo Flamengo em 2000, esteve perto de sair do Maracanã com a vitória já na primeira partida da final, mas sofreu um gol de empate, marcado por Fernando Baiano já nos acréscimos da etapa final. Mas no segundo jogo, no Mineirão, confirmou seu favoritismo, com sua poderosa linha de frente com Alex, Zinho, Deivid e o colombiano Aristizábal, e venceu por 3 x 1, oficializando o que quase todos já esperavam, o vice-campeonato rubro-negro.

Flamengo na Copa do Brasil de 2003
Júlio César, Luciano Baiano, André Bahia, Fernando e Athirson; Fabinho, André Gomes, Fábio Baiano e Felipe; Jean e Edílson
Téc: Nelsinho Baptista
Banco: Diego, Váldson, Cássio, Jônatas, Igor, Andrézinho, Zé Carlos e Fernando Baiano

No turno do Brasileirão, a equipe de Nelsinho fazia uma campanha bastante irregular. Ainda envolto em sérios problemas financeiros, o clube ainda tinha grande dificuldade de honrar seus compromissos; os pagamentos salariais ainda atrasavam, e administrativamente o cenário ainda era bastante caótico, o que claramente interferiu nos resultados. O time começou razoavelmente bem, tendo nas 9 primeiras rodadas obtido 3 vitórias - com a de maior destaque tendo sido uma goleada por 4 x 1 no Fla-Flu - 5 empates, e apenas 1 derrota, para o Santos no Maracanã. Na 10ª e na 11ª rodada, porém, duas derrotas catastróficas em duas partidas seguidas em Curitiba, tendo sido goleado por 4 x 1 pelo Atlético Paranaense na Arena da Baixada, e por 6 x 2 pelo Paraná Clube, no Pinheirão. Depois disto, nas oito rodas seguintes ocorreram 3 vitórias, 1 empate contra o Paysandu, em Belém, e 4 derrotas. E em paralelo, ainda houve a derrota para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil. A pressão na Gávea subiu, uma crise eclodiu, e ao considerar que não tinha as condições de trabalho que desejava, Nelsinho Baptista pediu demissão, deixando apenas um breve comunicado: "o Flamengo passa por um momento muito difícil e a pressão é muito grande, então decidi sair".

Para substituir a Nelsinho, a aposta foi a de mais uma vez ir ao futebol paulista para contratar a um "nome da moda" e de curriculum recheado de conquistas no período imediatamente anterior. O escolhido foi Oswaldo de Oliveira, técnico campeão paulista de 1999 com o Corinthians e de 2002 com o São Paulo, e campeão brasileiro de 1999 com o Corinthians e de 2000 com o Vasco.

Com o interino Marcos Paquetá no comando, o time voltou a ser derrotado no Sul do país, caindo por 4 x 3 perante o Criciúma. Nas três últimas rodadas do turno, com o início do trabalho do novo treinador, o time venceu ao Internacional no Maracanã, e depois empatou com São Paulo e Ponte Preta. Terminou o turno com 7 vitórias, 8 empates e 8 derrotas.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2003
Júlio César, Luciano Baiano, André Bahia, Fernando e Cássio; Fabinho, Jônatas, Igor e Fábio Baiano; Jean e Fernando Baiano
Téc: Nelsinho Baptista, depois Oswaldo de Oliveira
Banco: Diego, Fabiano Eller, Athirson, André Gomes, Felipe, Andrézinho, Zé Carlos e Edílson

Durante o turno, o elenco havia tido as baixas da saída de Athirson, que voltava à Juventus de Turim após o fim de seu empréstimo, e de Paulo Miranda e Fernando Baiano, que saíram respectivamente para o Bordeaux, da França, e o Wolfsburg, da Alemanha. E foram feitas aquisições pontuais, com a chegada à Gávea do lateral-direito Rafael, do Guarani, do lateral-esquerdo Júlio César, do América de Natal, e do meia Yan, ex-jogador do Vasco, que estava defendendo ao Náutico. Nenhuma mudança que parecesse capaz de reverter aquele fraco desempenho rubro-negro. Entretanto, o resultado rubro-negro no returno teve alguma melhora frente ao do turno: 11 vitórias, 4 empates e 8 derrotas.

A campanha no returno começou com uma goleada de 6 x 0 sobre o Bahia, no Maracanã, seguida por uma goleada de 5 x 0 sofrida para o Coritiba, no Estádio Couto Pereira. Nas três partidas jogadas em Curitiba naquela edição do Brasileirão, o Flamengo foi goleado em todas as três. Muito frágil defensivamente, o time ainda perderia por 5 x 3 para o Guarani, em Campinas, por 3 x 0 para o Paraná Clube em pleno Maracanã, e seria goleado por 4 x 1 pelo Fortaleza na capital cearense.

O trabalho de Oswaldo de Oliveira durou até a 36ª rodada, e após uma vitória no clássico sobre o Vasco, no Maracanã, ele pediu demissão. Quem ficou em seu lugar a frente da equipe foi seu irmão, que era seu auxiliar-técnico, Waldemar Lemos. Com Oswaldo, o time conseguiu 7 vitórias, 3 empates e 6 derrotas. Nas últimas 10 rodadas, Waldemar, que nunca havia sido técnico até então, obteve 5 vitórias, 3 empates e 2 derrotas.

No fim, um honroso 8º lugar na tabela final de classificação, um resultado bastante positivo frente a uma situação financeira tão ruim, crises subsequentes, e três treinadores diferentes ao longo da campanha. O aproveitamento com Nelsinho Baptista foi de 42% dos pontos disputados, o de Oswaldo de Oliveira de 50%, e o de Waldemar Lemos foi de 60%.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2003
Júlio César, Rafael, Fabiano Eller, Fernando e Ânderson; Fabinho, André Gomes, Jônatas e Igor; Zé Carlos (Jean) e Edílson
Téc: Oswaldo de Oliveira, depois Waldemar Lemos
Banco: Diego, André Bahia, Ibson, Fábio Baiano, Felipe e Andrézinho

O ano de 2004 começou com diretoria nova, e com mudanças no departamento de futebol. Assumia a presidência o nome mais vitorioso no cargo na história rubro-negra, Márcio Braga. Tentando sanear financeiramente ao clube, ele plantou a semente para um orçamento pautado em três conjuntos - futebol, esportes olímpicos, e o clube social - de forma que os dois últimos só trabalhassem com superávit, diminuindo a pressão financeira sobre o endividado futebol. A ideia demorou alguns anos para ser de fato implementada, mas foi uma semente fundamental para começar a sanear os debilitados resultados financeiros.

Para o departamento de futebol foi nomeado um gestor específico, o ex-jogador e ídolo rubro-negro Júnior. E como novo treinador foi escolhido Abel Braga. Um nome sem identidade com o clube, ex-jogador de Fluminense, Vasco, Botafogo e Seleção Brasileira, e que como treinador acumulava passagens por Internacional, Vasco, Atlético Paranaense, Coritiba, Botafogo, Atlético Mineiro e Olympique de Marselha, da França, e que chegava ao clube após um trabalho na Ponte Preta.

Tentando chacoalhar a estrutura após os catastróficos resultados do biênio 2002-2003, o elenco foi completamente reformulado. Do grupo que terminou o no anterior, vários jogadores seguiram para o exterior, mas a única transação que rendeu financeiramente para o Flamengo foi a venda do zagueiro Fernando para o Munique 1860, da Alemanha. O volante Fabinho seguiu para o Shimizu S-Pulse, do Japão, o volante André Gomes para o Maccabi Haifa, de Israel, o atacante Zé Carlos foi para o Pohang Steelers, da Coréia do Sul, e o meia Yan para o Al Khaleej, da Arábia Saudita. Também deixaram à Gávea: Luciano Baiano (para o Bahia), André Bahia (Palmeiras), Valnei (Atlético Paranaense), Anderson (Caxias), Fábio Baiano (São Caetano), Igor (Coritiba), Fernando Diniz (Juventude) e Edílson (Vitória). Ou seja, um time inteiro foi embora, com a saída de 13 jogadores.

Sem recursos em caixa, as contratações para remontar o elenco foram modestas. As duas principais chegadas foram a de dois veteranos que retornavam ao clube, o meia Zinho, chegado do Cruzeiro, e o zagueiro Júnior Baiano, do Internacional. Os outros 9 contratados eram todos nomes pouco conhecidos: o lateral-direito Reginaldo Araújo, do Coritiba, os laterais-esquerdo Roger Guerreiro, do Corinthians, e Nielsen, do Ituano, os volantes de contenção Da Silva, do Madureira, Douglas Silva, do Atlético Paranaense, e Juliano, do Náutico, e os atacantes Rafael Gaúcho, do Juventude, Diogo, do América de Natal, e Flávio, do Necaxa, do México.

Sem motivos para estar otimista com um grande desempenho, dado o modesto elenco, cujo principal jogador era o meia Felipe, a briga pelo título do Campeonato Carioca só poderia ser considerada possível porque o futebol do Rio de Janeiro inteiro passava por uma gravíssima crise financeira, à exceção do Fluminense, que sustentado financeiramente por uma parceria com a empresa de planos de saúde Unimed, contava com Romário, Edmundo, Roger Flores e Ramon.

O modelo de disputa do Estadual, ainda bem mais curto do que o Brasileiro, como já havia sido no ano anterior e como continuaria sendo nos anos subsequentes, passou a um formato de tiro curto. Os clubes eram divididos em dois grupos de seis, sendo jogados dois turnos, um enfrentando os clubes do mesmo grupo e no outro os do grupo oposto. Em cada turno, os quatro melhores avançavam para fazer semi-finais e finais, e o Estadual era decidido entre os dois campeões de turno.

Na Taça Guanabara, o Flamengo venceu a Cabofriense e Madureira, empatou com o Friburguense e perdeu para o América. Conseguiu avançar à semi-final principalmente pela vitória por 4 x 3 no Fla-Flu, no qual esteve perdendo por 3 x 1 até os 24 minutos do 2º tempo, mas obteve uma grande virada com três gols em seis minutos, um feito por Felipe e dois pelo lateral Roger. Na semi-final bateu ao Vasco por 2 x 0, decidindo o 1º Turno novamente num Fla-Flu, este vencido por 3 x 2, com o gol da vitória sendo marcado mais uma vez por seu lateral-esquerdo Roger Guerreiro.


Garantido na final do Estadual, nos seis jogos da Taça Rio, o time só venceu a um, ficando fora das semi-finais do turno após empatar com Americano e Bangu, e perder para Olaria, Botafogo e Vasco. E foi o time cruzmaltino o adversário rubro-negro na decisão do Carioca de 2004, numa melhor de dois jogos. No primeiro, vitória rubro-negra por 2 x 1. No segundo, o Vasco na frente logo aos 3 minutos do 1º tempo. Mas na etapa final, o atacante rubro-negro Jean marcou três vezes, aos 4, aos 28, e aos 32. Nas arquibancadas a torcida rubro-negra passou a entoar "ôôôô vice de novo!", fazendo menção às finais dos Cariocas de 1999, 2000 e 2001, vencidas pelo Flamengo sobre o rival, e os vascaínos se descontrolaram emocionalmente a partir de então, e, incentivados pelos gritos de seu treinador Geninho, partiram para uma subsequente série de faltas violentas que levaram às expulsões de campo de Rafael Coutinho, Valdir, Victor Boleta e Ygor (mais uma e o jogo precisaria ter sido encerrado antes da hora). O esforçado e tecnicamente fraco time de Abel Braga, sagrou-se assim Campeão Carioca!

Flamengo no Carioca de 2004
Júlio César, Rafael, Henrique, Fabiano Eller e Roger Guerreiro; Da Silva, Douglas Silva (Jônatas), Ibson e Zinho; Felipe e Jean
Téc: Abel Braga
Banco: Diego, Júnior Baiano, Juliano, Andrézinho, Diogo, Rafael Gaúcho e Flávio

Paralelamente ao Carioca, o time rubro-negro jogou a Copa do Brasil, na qual chegou à final pelo segundo ano consecutivo, após eliminar a CRB, Tupi, Santa Cruz, Grêmio e Vitória. O adversário na final era o modesto Santo André, da cidade homônima da região metropolitana do município de São Paulo. O time rubro-negro, apesar de suas limitações técnicas, era franco favorito para conquistar o título. Ficou ainda mais após obter um empate por 2 x 2 na primeira partida da final, disputada no Estádio do Parque Antárctica. Com os dois gols como visitante, o Flamengo jogava por dois empates possíveis no Maracanã, por 0 x 0 ou 1 x 1 para ser campeão. Os quase 72 mil rubro-negros presentes no estádio, no entanto, esperavam uma vitória e o título. Mas o que viram foi o mais triste dia da história do Clube de Regatas do Flamengo: com gols de Sandro Gaúcho e Élvis, ambos marcados na segunda etapa, o time rubro-negro foi derrotado por 2 x 0 e perdeu o título, amargando o mais ácido vice-campeonato em todos os seus dias.


Flamengo na Copa do Brasil de 2004
Júlio César, Reginaldo Araújo, Fabiano Eller, André Bahia e Roger Guerreiro; Da Silva, Douglas Silva, Ibson, Felipe e Zinho; Jean
Téc: Abel Braga
Banco: Diego, Henrique, Athirson, Róbson, Jônatas, Diogo e Negreiros

Para o Brasileirão, a aposta foi pela manutenção da base que venceu ao Estadual. Houve a saída de Andrézinho, vendido ao Pohang Steelers, da Coréia do Sul, e o regresso do zagueiro André Bahia após fim de empréstimo ao Palmeiras. O principal reforço foi o regresso ao clube do lateral-esquerdo Athirson, então na Juventus, da Itália. Foram contratados ainda três reforços pontuais, três atacantes: Marcelo, do Bangu, Negreiros, do Rio Branco de Paranaguá, do Paraná, e Whelliton, do Beira-Mar, de Portugal. Todos tendo participado da reta final da Copa do Brasil, na qual o time perdeu a final para o Santo André.

A campanha no 1º turno do Brasileirão foi horrorosa, digna de uma equipe que estava a caminho de ser rebaixada à 2ª Divisão. Em 23 rodadas, a equipe venceu apenas 4 jogos. Nas oito primeiras rodadas, não venceu nenhuma partida, tendo ainda sido goleada por 5 x 1 pelo Vitória no Estádio Barradão, em Salvador. Foram 4 empates e 4 derrotas. Nas rodadas seguintes venceu a Atlético Paranaense e Paysandu, ambas as vezes como mandante. Com a derrota na final da Copa do Brasil para o Santo André, a pressão sobre o treinador aumentou. Sem seu principal jogador em campo, pois Felipe passava quase o tempo inteiro no departamento médico, as atuações rubro-negras eram pífias. Após uma sequência de três derrotas, para Vasco, Santos e Juventude, decidiu-se pela demissão de Abel. Ele saía com um péssimo aproveitamento, de míseros 25% dos pontos disputados, com 2 vitórias, 6 empates e 8 derrotas em 16 rodadas disputadas.

Nas três rodadas seguintes, o time foi comandado pelo auxiliar-técnico Andrade, que venceu ao Guarani, como visitante, e empatou sem gols com Atlético Mineiro e Botafogo. A partir da 20ª rodada, o novo treinador contratado foi Paulo César Gusmão, ex-auxiliar de Vanderlei Luxemburgo no Cruzeiro, cuja única experiência como treinador havia sido por poucos meses no próprio clube celeste de BH, onde substitui a Vanderlei. Foi uma escolha infeliz. Ele durou pouquíssimo no cargo, brigou com um monte de gente no clube, e foi embora. Nas quatro últimas rodadas do turno, derrotas para Palmeiras, Coritiba e Cruzeiro, e uma vitória sobre o São Paulo. Sua última partida foi na primeira rodada do returno, justamente a melhor, uma vitória por 3 x 0 sobre o Grêmio no Maracanã. Ele então pediu demissão, e nas duas rodadas seguintes o comando esteve entregue interinamente, mais uma vez, para Andrade, que perdeu para a Ponte Preta e venceu ao Paraná.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2004
Júlio César, Reginaldo Araújo (Gauchinho), Henrique, Fabiano Eller e Roger Guerreiro; Da Silva, Douglas Silva, Jônatas, Ibson e Juliano; Jean
Téc: Abel Braga, depois Paulo César Gusmão
Banco: Diego, André Bahia, Júnior Baiano, Athirson, Felipe, Zinho, Negreiros, Whelliton e Marcelo

Em mais um ano no qual o Flamengo brigou para não cair para a 2ª Divisão, como havia acontecido em 2001 e 2002, o clube se segurou na aposta de treinador para o returno. O escolhido foi Ricardo Gomes, mais um nome jovem no cenário de técnicos do futebol brasileiro. O ex-zagueiro do Fluminense e da Seleção Brasileira começou a carreira de treinador no Paris St-Germain, da França, seu último clube como jogador. Chegava à Gávea após três anos comandando à Seleção Brasileira Sub-23, e a um desempenho aquém do esperado a frente do Fluminense no Carioca de 2004.  

Ao fim do turno, o clube ainda perdeu três jogadores, o lateral-direito Rafael, que foi para o Messina, da Itália, o zagueiro Fabiano Eller, para o Al Wakra, do Catar, e o centroavante Diogo, para o Kalmar, da Suécia. Assim como estava sem dinheiro para atrair aos técnicos que vinham comandando aos times da ponta da tabela, também não havia caixa para contratações de grandes nomes. Desesperado pela carência de gols de seu ataque, o clube apostou então na contratação de dois centroavantes para o returno, tendo havido as chegadas de Dimba, artilheiro do Brasileirão de 2003 pelo Goiás, que estava jogando no Al Ittihad, da Arábia Saudita, e de Dill, artilheiro da Série B do Brasileiro de 2003 pelo Botafogo. E, para repor a perda que teve na lateral-direita, contratou a China, do Volta Redonda.

A situação rubro-negra era muito difícil. Mas Ricardo Gomes começou bem, obtendo duas vitórias em seus dois primeiros jogos, como visitante sobre o São Caetano, e como mandante sobre o Vitória. Mas o trabalho não decolava. A limitação técnica da equipe não permitia. Seguiu-se uma alternância de vitórias e derrotas, sem que a equipe conseguisse vencer duas vezes seguidas. Ricardo Gomes ficou 13 jogos a frente da equipe e foi demitido, assim como Abel Braga no 1º turno, teve sua demissão decretada após uma derrota para o Juventude, desta vez jogando em Caxias do Sul. Saiu com um aproveitamento de 41% dos pontos disputados, com 4 vitórias, 4 empates e 5 derrotas. Quem ficou a frente da equipe nas sete rodadas finais foi o auxiliar-técnico Andrade.

Após sofrer uma goleada por 6 x 1 para o Atlético Mineiro, no Mineirão, em Belo Horizonte, quando faltavam cinco rodadas para o fim do campeonato, as chances de Rebaixamento aumentaram bastante. Mas dali em diante o time não perdeu mais e conseguiu se manter na 1ª Divisão, com três empates e dois jogos vencidos. A vitória chave foi sobre o Palmeiras, em São Paulo, na 43ª rodada, 2 x 1, gols de Ibson e Athirson. Nas duas rodadas seguintes, dois empates, e o time não conseguiu se livrar matematicamente do descenso. A confirmação matemática veio apenas com uma goleada sobre o Cruzeiro na última rodada, sobre um time cruzeirense que já não tinha mais qualquer pretensão no campeonato, pois não tinha nem chances de classificação à Libertadores nem risco de rebaixamento.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2004
Júlio César, China, André Bahia, Júnior Baiano e Roger Guerreiro; Da Silva, Júnior, Ibson e Zinho (Felipe); Jean e Dimba
Téc: Ricardo Gomes, depois Andrade
Banco: Diego, Athirson, Douglas Silva, Jônatas, Dill e Whelliton

A situação do Flamengo para a temporada 2005 continuava muito ruim e muito confusa. A escolha do novo treinador foi mais uma vez muito infeliz. O novo técnico contratado foi Júlio César Leal, cujo principal feito no curriculum havia sido a conquista do Mundial Sub-20 com a Seleção Brasileira de Juniores em 1993. Depois disto vinha de trabalhos nada expressivos com América de Natal, Sport Recife, Coritiba e Remo, e estava a frente do Kazma, do Kuwait.

Para mitigar a caótica situação financeira, o goleiro Júlio César foi vendido para a Internazionale, da Itália, o zagueiro André Bahia para o Feyenoord, da Holanda, e o meia Ibson para o Porto, de Portugal. O meia Felipe foi contratado pelo Fluminense, Athirson e Jean pelo Cruzeiro, e Roger Guerreiro pelo Corinthians. Também saíram Douglas Silva, Juliano, Dill, Negreiros e Whelliton. Com a saída de 12 jogadores, o clube precisou contratar. As duas principais apostas foram no meia Renato Abreu, do Corinthians, e no atacante Marcos Denner, do Criciúma. No pacote de reforços também chegaram o zagueiro Fabiano, cria da base da Gávea, que estava no Atlético Paranaense, e o lateral-esquerdo André Santos, do Figueirense. Além destes quatro, foram contratados também outros 5 jogadores: o lateral-direito Ricardo Lopes, do Ituano, o volante Márcio Guerreiro, do Volta Redonda, os meias Adrianinho, do Paysandu, e Caio, ex-Paraná Clube, que estava no Anyang Dragons, da Coréia do Sul, e o atacante Alessandro, do América Mineiro. De resto, o elenco era recheado por nomes formados nas suas divisões de base, como o goleiro Diego, o zagueiro Rodrigo Arroz, os volantes Júnior e Jônatas, o meia Felipe Gabriel, e os atacantes Emerson Geninho e Bruno Barbosa.

A campanha na Taça Guanabara foi macabra. Com derrotas para Olaria, Cabofriense e Americano, o time não conseguiu a classificação para a semi-final. O Flamengo terminou na 6ª e última posição do grupo, e Júlio César Leal foi demitido. Americano e Cabofriense avançaram. Além da dupla Fla e Flu, o Vasco também não conseguiu a classificação no outro grupo. O campeão da Taça Guanabara acabou vindo a ser o Volta Redonda.

O técnico escolhido para comandar a equipe na Taça Rio foi Alexi Stival, o Cuca. Era mais um jovem treinador em projeção, chegando à Gávea após trabalhos a frente de Goiás, São Paulo e Grêmio, este último terminando em rebaixamento ao fim do Brasileirão de 2004. Com ele, o time ao menos obteve a classificação às semi-finais no 2º Turno, mas, ainda assim, perdendo para o Volta Redonda, e empatando com Botafogo, Vasco e América. Na semi-final venceu ao Volta Redonda por 1 x 0, e decidiu o returno num Fla-Flu, cujo vencedor decidiria o título do Carioca contra o Volta Redonda, campeão do 1º turno. O time rubro-negro terminou levando uma acachapante goleada de 4 x 1 do Fluminense, repetindo os vexames dos Fla-Flus dos Estaduais de 2002 e 2003. Mais uma vez o time rubro-negro "caía de quatro"... era a terceira vez em quatro anos. Com a goleada, Cuca foi demitido.

Flamengo no Carioca de 2005
Diego, Ricardo Lopes, Júnior Baiano, Fabiano e André Santos; Da Silva, Júnior, Jônatas e Felipe Gabriel (Zinho); Emerson Geninho e Dimba (Marcos Denner)
Téc: Júlio César Leal, depois Cuca
Banco: Getúlio Vargas, Rodrigo Arroz, Renato Abreu, Caio Sousa, Adrianinho e Bruno Barbosa

O treinador escolhido para estar a frente do Flamengo no Brasileirão de 2005 foi o gaúcho Celso Roth, um técnico que gostava de um jogo fortemente defensivo. Campeão Gaúcho de 1997 com o Internacional e de 1999 com o Grêmio, com passagem em 2001 pelo Palmeiras e em 2003 pelo Atlético Mineiro, chegava à Gávea após um 6º lugar a frente do Goiás no Brasileiro de 2004.

O elenco teve que ser remontado durante a temporada. Saíram o veterano Zinho, além de nomes como Dimba, Marcos Denner, Adrianinho, Caio, Márcio Guerreiro e Ricardo Lopes, nenhum deles teve grande sucesso na carreira após a passagem pela Gávea. No sentido oposto, regressaram ao clube nomes que haviam saído e não brilharam fora: o zagueiro Fernando, que após passar pelo futebol alemão, estava defendendo ao Austria Viena, no pouco competitivo futebol austríaco, e o atacante Jean, que não teve sucesso com a camisa do Cruzeiro. Os dois grandes reforços contratados foram Leonardo Moura e Obina. O primeiro, lateral-direito, nos quatro primeiros anos de carreira tinha vestido cinco camisas do futebol nacional - Botafogo, Vasco, Palmeiras, São Paulo e Fluminense - passou pelo Braga, de Portugal, e regressava ao Brasil. Já Obina chegava como grande revelação do Vitória. Sem condições financeiras para investimentos, a aposta era a de se agarrar aos talentos emergidos das divisões de base.

Sem o Maracanã, fechado para as obras para a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Flamengo mandou seus jogos no modesto Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador. A campanha nas oito primeiras rodadas já mostrava uma equipe limitada: 2 vitórias, 3 empates e 3 derrotas. Na 9ª rodada, uma derrota como mandante por 4 x 3 para o Brasiliense, do Distrito Federal, jogou um holofote sobre tais limitações. Seguiram-se mais duas derrotas, amenizadas por uma vitória sobre o Vasco. Só que o time voltou a perder como mandante por 4 x 3, desta vez para o Juventude. Ainda assim, o trabalho do treinador seguiu até a 20ª rodada, a penúltima do turno, quando Celso Roth foi demitido após uma derrota para o Goiás. Saiu com um aproveitamento de 33% dos pontos disputados (5 vitórias, 5 empates e 10 derrotas). A escolha para substituí-lo foi na manutenção do auxiliar-técnico Andrade - profissional contratado do clube, e que já havia sido auxiliar de Abel Braga, Ricardo Gomes e Cuca - desta vez efetivado como técnico efetivo.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2005
Diego, Leonardo Moura, Rodrigo Arroz, Júnior Baiano, Henrique e André Santos (André); Fabiano, Jônatas e Renato Abreu; Jean e Obina
Téc: Celso Roth
Banco: Getúlio Vargas, Fernando, Róbson, Júnior, Felipe Gabriel e Fabiano Oliveira

Em agonia frente ao péssimo desempenho da equipe, reforços foram sendo contratados ao longo do turno e até o início do returno. Foram contratados o volante Augusto Recife, do Internacional, o veterano meia Souza, ex-Corinthians, que chegava do Krylya Sovetov, da Rússia, o meia Diego Souza, ex-Fluminense, que regressava ao Brasil após passagem pelo Benfica, de Portugal, e o atacante Marcelo Moscatelli, do Brugges, da Bélgica. As três principais apostas, no entanto, foram as contratações do zagueiro Renato Silva, do Goiás, e dos atacantes Josafá, do Madureira, e César "El Tigre" Ramírez, do Cerro Porteño.

Foi, sobretudo, a partir da chegada do paraguaio Ramírez, que o time conseguiu acumular alguns resultados melhores. Ele jogou na 26ª rodada, mas na 27ª sofreu uma lesão, regressando à equipe apenas na 32ª rodada, justamente a que foi crucial para a decisão da demissão de Andrade, quando o Flamengo foi goleado por 6 x 1 pelo São Paulo no Estádio Luso-Brasileiro. O trabalho de Andrade como técnico se iniciou com 7 jogos seguidos sem perder - o time, no entanto, venceu apenas dois destes sete duelos - mas logo caiu de produção; com ele como treinador, o time conquistou 44% dos pontos que disputou (4 vitórias, 5 empates e 4 derrotas).

Lutando contra o rebaixamento, o Flamengo se salvou por um milagre. Faltando 9 rodadas para o fim do campeonato, o time ocupava o 20º lugar entre os 22 participantes, com 34 pontos conquistados em 33 jogos disputados, figurando entre os 4 que estavam na Zona de Rebaixamento. O Flamengo havia sofrido uma goleada acachapante em casa por 6 x 1 para o São Paulo e perdido para o Vasco. Demitiu então Andrade e contratou para seu lugar o técnico Joel Santana, demitido do Brasilense, clube que também lutava contra o Rebaixamento, e colocou o time num regime de concentração constante na Granja Comary, CT da Seleção Brasileira, em Teresópolis. Com Joel, o time venceu 6 e empatou 3 partidas nas 9 últimas rodadas, não perdeu (78% de aproveitamento) e assim se safou do descenso à 2ª Divisão. Na estreia de Joel, o time estava perdendo por 2 x 0 para o Juventude em Caxias do Sul, mas conseguiu um empate improvável com dois gols nos minutos finais do jogo, aos 44 e aos 46 minutos do 2º tempo. Daí em diante não perdeu mais. Conseguiu se livrar matematicamente do descenso com 3 rodadas de antecipação, com uma vitória por 1 x 0 sobre o Paraná Clube, também com um gol aos 47 minutos do 2º tempo.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2005
Diego, Leonardo Moura, Renato Silva, Fernando e André Santos; Júnior, Jônatas, Diego Souza (Souza) e Renato Abreu; César Ramírez (Felipe Gabriel) e Obina
Téc: Andrade, depois Joel Santana
Banco: Getúlio Vargas, Júnior Baiano, André, Augusto Recife, Fabiano Oliveira e Josafá

Para 2006, o objetivo da diretoria rubro-negra era manter Joel Santana, mas ele recebeu uma proposta financeiramente muito vantajosa do Vegalta Sendai, do Japão, e deixou o clube. O substituto escolhido foi Valdir Espinosa, que havia passado pela Gávea em 1989-90, e desde então tivera como trabalhos mais destacados suas passagens pelo Cerro Porteño, do Paraguai, e pelo Atlético Paranaense. Ele havia terminado 2003 como treinador do Fortaleza, e ao chegar ao clube, indicou como reforço ao zagueiro Ronaldo Angelim, que havia trabalhado com ele por lá. Foi a sua grande contribuição à história rubro-negra em sua breve passagem pela Gávea em 2006.

As contratações mais badaladas no início de 2006 foram as chegadas do veterano centroavante Luizão, antes no Santos, do meia uruguaio Horacio Peralta, antes no Grashoppers, da Suíça, e de dois jogadores do Fluminense, o lateral-esquerdo Juan e o meia Toró, de 19 anos, considerado grande revelação das divisões de base tricolor. Além destes quatro e de Angelim, também foram contratados dois meio-campistas do Paysandu, do Pará: Marabá e Rodrigo Broa. Renovação do elenco que havia começado com as saídas de Fabiano, Augusto Recife, Souza, Marcelo Moscatelli e Josafá.

Naquele Campeonato Carioca, o Flamengo usou como estratégia iniciar a campanha com um time de juniores, então sob o comando técnico do ex-jogador rubro-negro Adílio. O jovem time entrou em campo nas duas primeiras rodadas, nas quais foi derrotado por Nova Iguaçu e Cabofriense. Quando o time titular fez sua estreia, o time empatou com Portuguesa e Fluminense, e venceu ao Americano. Porém, não foi suficiente para se classificar para as semi-finais da Taça Guanabara. No 2º Turno, a Taça Rio, o time só venceu um de seus seis jogos, sobre o Botafogo, tendo empatado com o Friburguense e perdido para o Madureira, derrota que levou à demissão de Espinosa, diante do iminente risco de eliminação.

O caldeirão política da Gávea fervia. Exigia-se a contratação de um treinador renomado, mas a realidade é que a situação financeira do clube, e a subsequente instabilidade política, afastavam os principais nomes do cenário deste desafio. Para enorme frustração dos torcedores, o escolhido para ser o novo técnico foi Waldemar Lemos, que desde que deixara a Gávea após fazer um bom papel a frente da equipe rubro-negra em 2003, quando substituiu a seu irmão, Oswaldo de Oliveira, nunca havia trabalhado novamente como técnico, seguindo como auxiliar do irmão.

Comandada por Waldemar, a equipe empatou com América e Volta Redonda e perdeu para o Vasco, não conseguindo a classificação para a semi-final do 2º turno. Ainda que a situação rubro-negra fosse caótica, a situação do futebol carioca como um todo era tão absurdamente caótica nesta época, que nenhum dos quatro clubes mais tradicionais da cidade se classificou para as semi-finais deste turno, tendo num grupo avançado América e Madureira, e no grupo rubro-negro avançado Cabofriense e Americano. O Flamengo terminou aquele Carioca com uma inacreditável 11ª colocação, ficando em penúltimo na tabela. Somando 11 pontos na soma dos dois turnos, a frente apenas da rebaixada Portuguesa, que somou apenas 6 pontos.

Flamengo no Carioca de 2006
Diego, Leonardo Moura, Renato Silva, Ronaldo Angelim e Juan; Felipe Dias, Jônatas, Diego Souza e Renato Abreu; César Ramirez e Luizão
Téc: Valdir Espinosa, depois Waldemar Lemos
Banco: Getúlio Vargas, Fernando, Toró, Rodrigo Broa, Felipe Gabriel e Fabiano Oliveira

Em paralelo ao Carioca, o time jogou a Copa do Brasil, na qual eliminou a ASA de Arapiraca, ABC de Natal, Guarani, Atlético Mineiro, e Ipatinga, classificando-se para fazer a final frente ao arquirrival Vasco, treinado por Renato Gaúcho. O Ipatinga, do técnico Ney Franco, era a grande sensação do futebol de Minas Gerais, tendo sido o Campeão Mineiro de 2005. Na semi-final, o primeiro jogo terminou empatado em 1 x 1 na cidade mineira de Ipatinga, e no jogo de volta, no Maracanã, os mineiros saíram na frente, com um gol aos 10 minutos do 1º tempo, mas o time rubro-negro virou e venceu por 2 x 1.

Classificação à final conquistada, a diretoria rubro-negra tomou a insólita decisão de demitir a Waldemar Lemos e colocar a Ney Franco, o técnico derrotado na semi-final, em seu lugar. Como a final seria disputada apenas após a paralisação do calendário brasileiro por causa da disputa da Copa do Mundo, o novo treinador teria tempo para preparar a equipe.

Juan e Leonardo Moura, trunfos nas laterais

O Maracanã recebeu 44 mil pessoas para o primeiro jogo da final, vencido pelo equipe rubro-negra por 2 x 0, gols de Obina e Luizão. No segundo jogo, mais de 45 mil pagantes viram o lateral-esquerdo Juan marcar com um chute de fora da área logo aos 27 minutos do 1º tempo, sacramentando a conquista rubro-negra. Das arquibancadas ecoavam novamente os gritos de "ôôôô vice de novo!", para a loucura coletiva dos vascaínos, derrotados pela quinta vez consecutiva num duelo de final de campeonato, como havia acontecido nos Estaduais de 1999, 2000, 2001 e 2004. Ainda que em meio ao caos, o Flamengo chegou pela terceira vez em quatro anos à final da Copa do Brasil, e desta vez para faturar o título. Uma conquista importantíssima para fincar as bases da recuperação rubro-negra após período tão tenebroso de sua história.

Flamengo na Copa do Brasil de 2006
Diego, Leonardo Moura, Renato Silva, Ronaldo Angelim, Fernando e Juan; Jônatas, Renato Augusto e Renato Abreu; Obina e Luizão 
Téc: Waldemar Lemos, depois Ney Franco
Banco: Marcelo Lomba, Marcelinho, Rodrigo Arroz, André, Léo Oliveira, Júnior, Toró, Diego Souza, Peralta e Vinícius Pacheco

A base foi mantida, apenas com as saídas de Diego Souza e André Santos. E as apostas em reforços foram modestas. O clube firmou uma parceria com o Ipatinga, e recebeu jogadores do clube então campeão mineiro. Na primeira leva chegaram os volantes Paulinho e Léo Medeiros, o meia Wálter Minhoca e o atacante Diego Silva. Ainda foram contratados dois jogadores do Nova Iguaçu - o volante Léo e o meia Deni - e dois do Guarani, de Campinas - o zagueiro Emerson e o volante Goeber -. Apostas modestas frente aos subsequentes vexames vividos nos anos anteriores, e à péssima campanha no Carioca daquele ano. Mas não havia qualquer dinheiro em caixa que pudesse permitir apostas mais ousadas.

O início, ainda com Waldemar Lemos como treinador nas seis primeiras rodadas, não foi nada bom, com o time obtendo 2 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. Era uma sinalização clara de que tudo levava a crer que seria mais um Brasileiro difícil, o clube havia lutado contra o rebaixamento em quatro das cinco edições anteriores do campeonato nacional.

Foi então que foi feita a escolha de troca de Waldemar Lemos por Ney Franco, após a semi-final da Copa do Brasil, na qual, inusitadamente, Waldemar havia eliminado ao time de Ney (Ipatinga). Na final, ocorreram as vitórias sobre o Vasco e o título, e com o ambiente mais pacificado após a conquista da Copa do Brasil, o objetivo primordial da diretoria passou a ser o de estabilizar as trocas de treinadores. Apesar de campeonatos mais curtos, de três meses, o Flamengo tinha feito trocas de treinadores em meio à disputa dos Cariocas de 2002, 2005 e 2006, e teve trocas em meio a todas as quatro edições anteriores de Campeonatos Brasileiros, tendo tido dois técnicos diferentes em 2002, três diferentes em 2003 e em 2005, e quatro diferentes durante a campanha do Brasileiro de 2004. As trocas de treinadores estavam acontecendo a cada três meses e meio. A meta era manter agora Ney Franco até o fim do campeonato. Tudo dependeria, naturalmente, dos resultados.

Após um empate com o Santos e uma derrota para o Fluminense, vieram duas boas vitórias consecutivas, sobre o Palmeiras no Maracanã, e sobre o Corinthians no Morumbi. Mas a fragilidade do time ficou evidente nas quatro rodadas seguintes, com quatro derrotas, incluindo uma goleada por 4 x 1 para o Paraná Clube, além de ter caído perante Vasco, Santa Cruz e Atlético Paranaense.

Para reforçar à equipe, a principal aposta então foi na volta do veterano Sávio, ídolo da torcida rubro-negra nos Anos 1990, que teve passagem pelo Real Madrid, da Espanha, e estava atuando pelo Zaragoza. E foi justamente na estreia dele, na 15ª rodada, que o time voltou a vencer. Mas não crescia na tabela. O saldo final do 1º turno foi bem fraco, uma campanha com 6 vitórias, 5 empates e 8 derrotas. Ainda assim Ney Franco foi mantido no cargo.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2006
Diego, Leonardo Moura, Renato Silva, Fernando (Ronaldo Angelim) e Juan; Paulinho (Léo Oliveira), Léo Medeiros, Renato Augusto (Wálter Minhoca) e Renato Abreu; Sávio (Obina) e Luizão
Téc: Waldemar Lemos, depois Ney Franco
Banco: Getúlio Vargas, Rodrigo Arroz, Jônatas, Vinícius Pacheco, Peralta, César Ramirez e Diego Silva

Tentando reforçar ainda mais ao elenco, para o returno chegaram mais dois jogadores à Gávea, ambos oriundos do Atlético Mineiro: o goleiro Bruno e o atacante Jajá. Nas três primeiras rodadas, duas derrotas e um empate. A incerteza era a tônica. Mas, então, o time encaixou três vitórias consecutivas, sobre Botafogo, Fortaleza e Cruzeiro, e respirou um pouco na tabela, e nas rodadas seguintes venceu ao Fluminense de goleada, por 4 x 1, e ao Corinthians por 3 x 0. 

A campanha no returno teve 9 vitórias, 2 empates e 8 derrotas. O Flamengo chegou a frequentar a Zona de Rebaixamento por algumas rodadas, mas fez uma campanha de recuperação no returno e não correu riscos na reta final do campeonato, terminando na 11ª colocação. Foi mais um ano sem condições de grandes aspirações, mantendo-se a uma grande distância da ponta da tabela.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2006
Bruno, Leonardo Moura, Renato Silva, Fernando, Ronaldo Angelim (Rodrigo Arroz) e Juan; Paulinho, Léo Medeiros, Renato Augusto e Renato Abreu; Obina
Téc: Ney Franco
Banco: Diego, Toró, Felipe Gabriel, Vinícius Pacheco, Sávio, Fabiano Oliveira e Luizão


Foram dias muito difíceis na história rubro-negra. Certamente, os anos de 2002 a 2006 foram os piores dias do futebol profissional do Flamengo em todos os tempos. Um período que deve ser lembrado e relembrado, porque não só de glórias é feita a vida, e é preciso que todos os erros sejam entendidos e todas as lições sejam aprendidas para que dias assim nunca mais se repitam. Foi um acúmulo de vexames! As três derrotas levando quatro gols em Fla-Flus nos Cariocas de 2002, 2003 e 2005, as derrotas na Região Sul no Brasileirão de 2003 por 4 x 1 para o Atlético Paranaense, por 6 x 2 para o Paraná Clube, por 4 x 3 para o Criciúma e por 5 x 0 para o Coritiba, além das derrotas no mesmo campeonato por 5 x 3 para o Guarani, por 3 x 0 para o Paraná Clube em pleno Maracanã, e a goleada por 4 x 1 para o Fortaleza na capital cearense; a derrota para o Santo André na Final da Copa do Brasil de 2004 no Maracanã lotado, as goleadas por 5 x 1 para o Vitória em Salvador e por 6 x 1 para o Atlético Mineiro no Brasileirão 2004, e a goleada de 6 x 1 sofrida para o São Paulo no Estádio Luso-Brasileiro no Brasileirão de 2005. Foram muitos os resultados vergonhosos. O Flamengo lutou contra o Rebaixamento à Série B nas edições do Campeonato Brasileiro de 2001, 2002, 2004 e 2005.

Mas a característica de muita luta e muita raça para reverter os momentos mais difíceis seguiu sendo uma marca registrada do clube. Apesar de dias tão ruins, com uma situação financeira tão debilitada, o Flamengo ainda conseguiu chegar a três finais de Copa do Brasil, vindo a conquistar uma delas. Um título muito importante para pacificar o clube, que permitiu a colocação dos alicerces para a reestruturação administrativa e financeira que foram fundamentais para a união política em torno de esforços conjuntos para a reconstrução do clube. E resultados muito melhores seriam obtidos já a partir de 2007.

E o desempenho rubro-negro no histórico de disputas da Copa do Brasil até então chamava bastante atenção! Até 2006, o Flamengo havia disputado 12 das 16 edições do torneio, e somente duas vezes havia deixado de chegar às quartas de final, tendo sido eliminado em 1998 e em 2005 nas oitavas (na primeira diante do Vitória e na segunda diante do Ceará).

Até 1997, em 6 participações, o Flamengo jamais havia deixado de chegar às semi-finais da Copa do Brasil, tendo sido uma vez campeão, uma vez vice (derrota para o Grêmio) e quatro vezes caído na semi-final (três derrotas para o Grêmio e uma para o Cruzeiro). O tricolor gaúcho era seu grande carrasco! De 1998 a 2001, caiu uma vez nas oitavas e três nas quartas de final, eliminado pelo Palmeiras em 1999, pelo Santos em 2000, e pelo Coritiba em 2001. Portanto, em suas 10 primeiras participações, em só uma não alcançou pelo menos às quartas de final. Um excepcional desempenho, ainda que só convertido em um título até então. Entre 2003 e 2006 disputou três vezes a final, faturando um segundo título, e acumulando mais uma queda em oitavas de final. Eram assim em 14 participações: 2 títulos e 3 vice-campeonatos (5 finais), 4 eliminações em semi-final, 3 em quartas e 2 em oitavas de final. O Flamengo nunca havia sido eliminado antes das oitavas.

Enquanto isso, muitos de seus rivais entre as camisas mais tradicionais do futebol brasileiro no Século XX acumulavam quedas em fases anteriores às oitavas de final, e eliminações perante clubes de orçamento infinitamente inferior. São muitos os exemplos. O Vasco tinha uma queda na fase 16 avos de final, e eliminações para Remo, CSA, e suas duas piores diante do XV de Campo Bom, do Rio Grande do Sul, e do Baraúnas, do Rio Grande do Norte. O Botafogo tinha cinco eliminações na fase 16 avos de final, e quedas diante de Remo, Gama, Paulista de Jundiaí e Ipatinga. O Fluminense tinha quatro quedas na fase 16 avos de final, e eliminações perante Linhares, do Espírito Santo, e Brasiliense. O Internacional havia sido eliminado cinco vezes na 16 avos, e teve quedas diante de Londrina e Remo. O Palmeiras havia caído uma vez na fase 32 avos de final perante o ASA de Arapiraca, além de ter tido uma eliminação para o Paulista de Jundiaí. O Cruzeiro e o Grêmio tinham caído duas vezes cada na fase 16 anos de final, com os gremistas tendo uma eliminação para o XV de Campo Bom. Já o Atlético Mineiro e o Santos tinham sido eliminados uma vez cada na 16 avos de final. E o Galo ainda acumulava duas eliminações perante o Criciúma, e quedas para Brasiliense e Santo André. Entre as camisas mais tradicionais, só Flamengo, Corinthians e São Paulo não tinham eliminações antes das oitavas de final.

Desde que a capital federal fora mudada do Rio de Janeiro para Brasília, em 1960, a cidade do Rio entrou numa paulatina decadência econômica, que foi ganhando aceleração ao longo do tempo, com efeitos sentidos por toda a sociedade, e aos quais o mundo do futebol não escapou. A cidade havia passado a ser a capital do Brasil a partir de 1763, foi também a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1808 e 1822, período no qual o rei de Portugal, toda a Família Real e a corte lusitana viveram na cidade. A partir de 1889, quando houve a Proclamação da República, e durante a primeira metade do Século XX, a cidade, ainda como a capital, foi o centro da construção do projeto de identidade nacional brasileira. Após deixar de ser Distrito Federal, de 1960 a 1974 o Rio foi a cidade-estado da Guanabara, tendo em 1974 sido feita a fusão entre os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, este última cuja capital até então era Niterói, fusão a qual só acentuou sua implosão econômica. A partir de então, com a gradual mudança do serviço público para o novo DF, em Brasília e suas cidades-satélites, foi-se também o capital, e sem ele a decadência se acelerou. Todas as esferas sociais do Rio retrocederam, a violência cresceu, várias empresas deixaram a cidade e se mudaram para São Paulo, que passou a ser hegemonicamente o maior centro econômico do país.

O futebol carioca gradativamente também foi perdendo força econômica e importância. Depois de viver o apogeu de seus resultados nos Anos 1980, o futebol do Flamengo se enfraqueceu durante os Anos 1990, e viveu a fase de sua mais extrema decadência no período entre 2002 e 2006. Mas havia algo que esta história de decadência econômica não havia sido capaz de mudar: a força da torcida rubro-negro espalhada por todo o território nacional, a maior massa de torcedores espalhada por todo o Brasil e a única com penetração diferenciada em todas as cinco regiões políticas do país. Apesar dos muitos vexames neste caótico período, a torcida rubro-negra continuou a ser a maior do Brasil. Mas era preciso reagir e reverter a este estado de caos, pois a força econômica paulista estava ávida por destronar ao Flamengo do título de "mais querido do Brasil". E sendo a hegemonia econômica e de capital absolutamente paulista, todos os veículos de comunicação foram sendo cada vez mais tomados por jornalistas de São Paulo, que não tinham qualquer pudor em tentar fazer com que as feridas abertas daquele período tenebroso da história rubro-negra sangrassem ao máximo. Era preciso reagir e se reerguer, e muitos rubro-negros entenderam o quanto era importante se unir e reconstruir o futebol do Flamengo. Os Anos de 2007 a 2015 - mesmo com divisões políticas internas - marcou uma fase de reconstrução rubro-negra.



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