segunda-feira, 4 de abril de 2022

Futebol do Flamengo de 2007 a 2015: os esforços para a reconstrução rubro-negra


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO

O PERÍODO DE RECONSTRUÇÃO DA GRANDEZA DO FLAMENGO (2007 a 2015)
Após os piores dias de sua história, com muito esforço se reconstruiu o clube


O clube continuava em meio a uma constante nuvem de poeira de turbulências políticas. Uma nova reformulação política no futebol foi feita pelo então presidente Márcio Braga e a partir de dezembro de 2005 quem assumiu como Vice-presidente de futebol foi o ex-presidente Kléber Leite, adversário de Márcio Braga no pleito à presidência anterior. Junto a ele, foi colocado a Isaías Tinoco - voltando à Gávea depois de vários anos trabalhando no Vasco - como Gerente de Futebol. Sob esta composição, a dobradinha Márcio Braga-Kléber Leite funcionou de dezembro de 2005 até julho de 2009 e produziu bons resultados, tendo sido crucial para a reconstrução do clube.

Em 2009, Márcio Braga se afastou do cargo por problemas de saúde - cardíaco e de pressão - e durante todo o ano o Presidente foi Delair Dumbrosck (de fevereiro a dezembro). Delair, antes, era ferrenho adversário de Márcio quando, como Presidente da Associação de Moradores do bairro, lutava contra a construção de um novo estádio na Gávea, projetos idealizados nas gestões de Kléber Leite e depois Márcio Braga. De adversário virou aliado, e assumiu à Vice-presidência geral e, em 2009, acabou como substituto, sido o Presidente. Em julho, Kléber Leite se demitiu e seu substituto, como Vice-presidente de futebol, foi Marcos Braz, que ficou no cargo de agosto a dezembro de 2009. O Gerente de Futebol ainda era Isaías Tinoco.

No fim de 2009 houve a eleição mais disputada da história do Flamengo, com 7 candidatos. Delair Dumbrosck era o candidato do grupo político liderado por Márcio Braga; Plínio Serpa Pinto, do grupo de Kléber Leite; o advogado criminalista Clóvis Sahione, do grupo que elegera Edmundo Santos Silva; a ex-nadadora Patrícia Amorim, candidata dos esportes olímpicos em outras eleições, dessa vez tinha o apoio dos ex-presidentes Hélio Ferraz e Luiz Augusto Veloso; o candidato dos esportes olímpicos era o ex-jogador de basquete Pedrinho Ferrer; e com um discurso profissionalizante e modernizador entrou no pleito João Henrique Areias, profissional de gestão e marketing esportivo, que se lançou como candidato independente (a falta de apoio lhe custou caro, tendo ele ficado em último no pleito). Venceu, surpreendentemente, a vereadora Patrícia Amorim, a primeira mulher a sentar na cadeira de presidente da Gávea.

No triênio 2010-12, Patrícia começou apostando na continuidade para cuidar do futebol: entre janeiro e abril de 2010, o Vice-presidente de futebol foi Marcos Braz, do grupo político de Márcio Braga e Delair, com o Gerente de Futebol ainda sendo Isaías Tinoco. Em junho, uma nova tentativa de gestão com um executivo profissional e autônomo: Patrícia conseguiu atrair Zico para a política do clube! De junho a setembro de 2010, o Vice-presidente de futebol foi Vinícius França, com o Diretor Executivo do futebol sendo Zico e o Gerente de Futebol ainda sendo Isaías Tinoco. Porém, acusações de Capitão Léo, então Presidente do Conselho Fiscal, levaram a um pedido de demissão de Zico (Vinícius França se demitiu junto).

Com isso, de outubro de 2010 a fevereiro de 2012, a cúpula do futebol ficou com o Vice-presidente de futebol, Luiz Augusto Veloso, e o Gerente de Futebol, Isaías Tinoco; além de Vanderlei Luxemburgo que era o técnico e exercia não-oficialmente uma função com poderes similares aos de um Diretor Executivo de Futebol. Em fevereiro de 2012, toda a cúpula foi demitida e renovada. E dali em diante a instabilidade reinou até a eleição seguinte.

O novo Vice-presidente de futebol passou a ser então Paulo César Coutinho, filho do ex-treinador Cláudio Coutinho. Ele assumiu em fevereiro e foi demitido em setembro de 2012. O Diretor Executivo do futebol foi Zinho (assumiu no começo de maio de 2012) e o Gerente de Futebol foi Jairo dos Santos (que só ficou no cargo por três meses, de começo de março ao fim de maio de 2012).

Em dezembro de 2012 houve uma nova eleição, aquela que deve ser considerada como a mais importante da história do Flamengo, superando em importância até mesmo àquela que havia levado a Frente Ampla pelo Flamengo à cadeira da presidência no fim dos Anos 1970. E o resultado desta eleição não só deu continuidade ao processo de reconstrução rubro-negra, como foi além, realizando uma verdadeira revolução financeira e administrativa que redefiniu os alicerces da Gávea.

A eleição foi vencida por um grupo de executivos de grandes empresas que se mobilizaram em torno de sua paixão comum - o vermelho e o negro - e se juntaram para revitalizar a gestão do clube. Este movimento elegeu a Eduardo Bandeira de Mello como novo presidente rubro-negro, com uma diretoria da qual faziam parte: Luiz Eduardo Baptista, o BAP, como Vice-Presidente de Marketing; Rodolfo Landim como Vice-Presidente de Planejamento; Rodrigo Tostes como Vice-Presidente de Finanças; Carlos Langoni como Vice-Presidente de Restruturação da Dívida; Cláudio Pracownik como Vice-Presidente de Administração; Flávio Godinho como Vice-Presidente de Relações Externas; Gustavo Oliveira como Vice-Presidente de Comunicação; Flávio Willeman como Vice-Presidente Jurídico; Wallim Vasconcelos como Vice-Presidente de Futebol; e Alexandre Póvoa como Vice-Presidente de Esportes Olímpicos. Com esta equipe de executivos renomados, o clube viveria a mais profunda transformação já vista na história do futebol brasileiro!


As sementes do processo de reconstrução do futebol rubro-negro e reversão dos momentos caóticos vividos entre 2002 e 2006 começaram a ser semeadas pela dobradinha Márcio Braga e Kléber Leite em dezembro de 2006. O Flamengo terminava um ano pela primeira vez em muito tempo dando continuidade ao trabalho de um treinador: Ney Franco. Com a conquista do título da Copa do Brasil de 2006, a sangria foi estancada. O clube ainda estava muito longe de viver uma situação financeira e administrativa equilibrada, mas enfim começou a praticar ações básicas e elementares de planejamento: ao invés de ir montando um elenco ao longo da temporada, quase todos os reforços contratados já estavam definidos antes do ano novo, de forma que o elenco voltaria de férias e faria uma pré-temporada com uma base já estruturada. Pode parecer o mínimo recomendável, mas frente aos frenéticos Anos 1990 e aos caóticos dias vividos entre 2002 e 2006, fazer o básico já era padrão de qualidade.

Diferentemente de todos os anos antecedentes, desta vez havia uma base de elenco sobre a qual se trabalhar para a montagem de um bom time: o goleiro Bruno, os laterais Leonardo Moura e Juan, o zagueiro Ronaldo Angelim, o baixinho e carrapato Paulinho na contenção do meio, Renato Abreu como meia de ligação, e Obina no ataque. Ainda havia o jovem Renato Augusto, muito bem pinçado por Ney Franco na categoria sub-20. Também comporia esta base o zagueiro Renato Silva mas, a contra-gosto do clube, ele aceitou uma proposta financeiramente mais vantajosa e foi para o Fluminense. Dentre os não aproveitados ao fim da temporada 2006, saíram os veteranos Sávio e Luizão, o paraguaio El Tigre Ramirez, que regressou ao Cerro Porteño, o zagueiro Fernando, que voltou ao futebol alemão, desta vez para defender ao modesto Duisburg; os jovens Egídio, Júnior, Felipe Gabriel, Vinícius Pacheco e Fabiano Oliveira foram emprestados, e Léo, Deni e Jajá não tiveram seus contratos renovados. Ao todo, saíram 13 jogadores. Terreno preparado para rechear a base já existente com reforços. Foram contratados três zagueiros: Moisés, ex-Cruzeiro, que estava no Sporting, de Portugal, Irineu, também ex-Cruzeiro, que estava no Braga, também de Portugal, e Thiago Gosling, reserva do Fluminense. As principais apostas, no entanto, foram feitas do meio para frente: o volante Claiton, do Botafogo, o meia Juninho Paulista voltava ao clube, contratado ao Palmeiras, o meia Léo Lima, do Grêmio, o atacante Roni, ex-Fluminense, que estava no Atlético Mineiro, e o centroavante Souza, ex-Vasco, que estava no Goiás. Menos badalados, também chegaram o meio-campista Gérson Magrão, que estava no Feyenoord, da Holanda, e os centroavantes Advaldo, do Vitória, e Leonardo, do Paraná Clube. Foram 11 contratações. Havia um sinal claro de recuperação financeira após o colapso que se havia arrastado desde o ano 2000. O clube ainda renovou a parceria com o mineiro Ipatinga. Da primeira leva que havia chegado em 2006, Paulinho e Léo Medeiros tinham sido aprovados e seguiam na Gávea, enquanto Wálter Minhoca e Diego Silva tinham regressado a Minas. Em 2007, o clube recebeu mais três jogadores: o lateral-direito Luizinho e os volantes Jailton e Leandro Salino. A torcida rubro-negra esperava um novo Flamengo, revigorado e mais fortalecido para aquela temporada.

E este time deu sinais de uma nova realidade na Gávea já na Taça Guanabara. O time começou o 1º turno do Campeonato Carioca com três vitórias seguidas, sobre Cabofriense, Americano e Boavista, e obteve um empate por 3 x 3 com o Botafogo. Na última rodada, já classificado à semi-final, para a qual Botafogo e Fluminense não obtiveram a classificação, o time sofreu um revés e foi goleado por 4 x 1 pelo Madureira no Estádio de Moça Bonita, com quatro gols marcados pelo centroavante Marcelo. Na semi, o time empatou com o Vasco por 1 x 1 e a disputa foi às penalidades. Bruno defendeu duas cobranças e a vitória rubro-negra foi por 3 x 1. Na final, em melhor de duas partidas, ambas no Maracanã, o time reencontrou ao Madureira, que liderado pelo veterano Djair, havia derrubado ao América na outra semi-final. No primeiro jogo, o tricolor suburbano venceu por 1 x 0, gol do jovem Maicon, que viria a construir uma carreira de sucesso, passando nos anos seguintes por Fluminense, Botafogo, São Paulo e Grêmio. Na segunda partida, no entanto, os rubro-negros devolveram os 4 x 1, com dois gols de Souza, um de Renato Augusto e outro de Renato Abreu, e conquistaram a Taça Guanabara, garantindo o lugar na final do Carioca.


Como ainda disputava em paralelo à Libertadores, para a qual deu prioridade, ao ter a vaga na final assegurada, o clube jogou a Taça Rio utilizando os reservas. Com três vitórias e três derrotas, não se classificou às semi-finais, da qual o Fluminense voltou a ficar de fora. O vencedor do 2º turno foi o Botafogo, que também se habilitou a jogar a final. O título foi decidido em duas partidas jogadas no Maracanã, tendo ambas terminado em empates por 2 x 2. Na primeira, os alvi-negros abriram 2 x 0 no 1º tempo, com gols de Dodô e Lúcio Flávio, mas os rubro-negros buscaram o empate no 2º tempo, com gols de Renato Abreu e Souza. Na segunda, após uma primeira etapa sem gols, Souza colocou o Flamengo em vantagem aos 7 minutos, mas aos 15 o Botafogo já havia virado, com gols do zagueiro Juninho e do centroavante Dodô. Apesar do abatimento natural, ainda houve forças para a busca do empate, obtido quando Renato Augusto acertou um chutaço do meio da intermediária. Emoções fortes e penalidades para decidir o Campeão Estadual. E o goleiro Bruno voltou a ser o herói. Defendeu logo a primeira cobrança, do meia Lúcio Flávio, e depois ainda defendeu o chute do zagueiro Juninho. Coube a Leonardo Moura a cobrança que sacramentou o título, com a vitória por 4 x 2 nos pênaltis. Campeão com uma particularidade histórica: não venceu nenhum clássico. Foram três empates com o Botafogo, um empate e uma derrota para o Vasco, e uma derrota para o Fluminense. Mas a taça seguiu para a Gávea!

Flamengo no Carioca de 2007
Bruno, Leonardo Moura, Irineu, Ronaldo Angelim e Juan; Paulinho, Claiton, Renato Augusto e Renato Abreu; Roni e Souza
Téc: Ney Franco
Banco: Diego, Moisés, Jailton, Juninho Paulista e Obina

Como campeão da Copa do Brasil de 2006, o Flamengo disputou a Libertadores da América de 2007. A principal missão era provar que o fiasco de sua participação em 2002 havia sido um acidente de percurso. E o time fez uma excelente campanha na 1ª fase, na qual teve que enfrentar uma partida a mais de 4 mil metros de altitude na cidade de Potosí, na Bolívia.

O time rubro-negro terminou a 1ª fase com 5 vitórias e 1 empate, vencendo duas vezes ao Paraná Clube e ao Maracaibo, da Venezuela, e deixando de vencer apenas a partida na altitude, logo na estreia, da qual saiu com um heroico empate por 2 x 2 contra o Real Potosí. Nas oitavas de final, o adversário foi o Defensor Sporting, do Uruguai. Em Montevidéu, no Estádio Centenário, onde conquistou a Libertadores de 1981, o Flamengo foi implacavelmente derrotado por 3 x 0. Na partida de volta, no Maracanã, mais de 67 mil rubro-negros presentes empurraram à equipe, que conseguiu fazer 2 x 0, com dois gols de Renato Abreu, ainda antes dos 2 minutos do 2º tempo. Foram 45 minutos para conseguir marcar o terceiro e levar a disputa para os pênaltis, mas a equipe não teve força, acabando eliminada precocemente.

Flamengo na Libertadores de 2007
Bruno, Leonardo Moura, Irineu, Ronaldo Angelim e Juan; Paulinho, Renato Augusto, Juninho Paulista e Renato Abreu; Roni e Souza
Téc: Ney Franco
Banco: Diego, Moisés, Jailton, Leandro Salino, Léo Medeiros, Leonardo e Obina

Tendo sido o Campeão Carioca, apesar da eliminação precoce na Libertadores, o propósito da diretoria era dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito. Mas foram necessários ajustes, pois algumas peças foram perdidas: Renato Abreu recebeu proposta do Al Nassr, e foi jogar no futebol dos Emirados Árabes, Juninho Paulista se desentendeu com Ney Franco no intervalo da derrota em Montevidéu pela Libertadores e saiu, indo atuar no futebol da Austrália, e o atacante Roni trocou o Flamengo pelo Cruzeiro. Também deixou o clube o criticado pela torcida Claiton, que seguiu para o Atlético Paranaense, e saíram, dispensados, Leandro Salino, Gérson Magrão e Advaldo.

Mas havia uma base pronta e armada, sobre a qual só eram necessários alguns ajustes. Foram feitas então quatro contratações de jogadores que chegavam em condições de lutar para serem titulares: o volante Cristian, do Atlético Paranaense, os meias Roger Flores, do Corinthians, e Ibson, regressando ao clube após passagem pelo Porto, de Portugal, e o ponta argentino Maxi Biancucchi, primo-irmão de Lionel Messi, que chegava do Sportivo Luqueño, do Paraguai.

A tabela rubro-negra no Brasileirão de 2007 foi muito confusa, pois em função do uso do Maracanã para a realização dos Jogos Pan-Americanos, o clube teve vários de seus jogos alterados, tanto adiados quanto adiantados. Muitos mandos foram invertidos, e no 1º turno o time jogou bem mais vezes como visitante do que como mandante, o que prejudicou seu desempenho. Nas 12 primeiras partidas, a equipe foi 4 vezes mandante e 8 vezes visitante. Só conseguiu 2 vitórias, sobre Goiás e América de Natal, obtendo 6 empates e sofrendo 4 derrotas, tendo na pior delas sido goleado por 4 x 0 pelo Figueirense em Florianópolis. Com aproveitamento de 33% dos pontos disputados, e figurando na Zona de Rebaixamento à Série B, a diretoria decidiu pela demissão de Ney Franco, que recém havia completado um ano a frente do Flamengo.

A escolha do novo treinador recaiu sobre o nome que havia obtido melhores resultados a frente do clube nos piores anos de sua história: Joel Santana, que, invicto, livrou o clube do rebaixamento em 2005, mas saiu por uma proposta do futebol japonês. O desempenho da equipe sob o comando de Joel melhorou. Nas últimas sete rodadas do 1º turno, ele venceu todos os 4 jogos nos quais foi mandante, e perdeu os 3 em que foi o visitante, com um aproveitamento de conquista de 57% dos pontos disputados.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2007
Bruno, Leonardo Moura, Irineu, Ronaldo Angelim e Juan; Paulinho (Cristian), Jailton, Léo Medeiros e Renato Augusto; Paulo Sérgio e Obina
Téc: Ney Franco, depois Joel Santana
Banco: Diego, Thiago Gosling, Ibson, Léo Lima, Roger Flores, Maxi Biancucchi, Leonardo e Souza

Para o returno, mais alguns ajustes pontuais no elenco foram feitos. Foi contratado o zagueiro Fábio Luciano, ex-Corinthians, e que estava no Koln, da Alemanha, e com sua chegada, saíram Moisés, Irineu e Thiago Gosling. No meio, Paulinho aceitou proposta do Maccabi Haifa, de Israel, e saiu, tendo sido contratado, para repor à sua saída, o volante argentino Hugo Colace, do Estudiantes de La Plata. Também houve a saída do meia Léo Lima, que seguiu para o Palmeiras, mas sua saída não foi reposta.

No 2º turno, 13 das 19 partidas rubro-negras seriam disputadas no Maracanã. E o time aproveitou isto para embalar uma sequência impressionante de bons resultados que o alçou da 19ª para a 3ª colocação na tabela, conseguindo a classificação para disputar a Libertadores de 2008. Foram 11 vitórias, 4 empates e 4 derrotas no returno. Com uma goleada de 4 x 1 no Figueirense, e vitórias expressivas por 3 x 1 no Cruzeiro, 1 x 0 no Atlético Mineiro, 1 x 0 no São Paulo, 2 x 1 no Vasco, 2 x 0 no Grêmio, 2 x 1 no Corinthians, 1 x 0 no Santos, e 2 x 0 no Atlético Paranaense, o time foi embalando e motivando a torcida, que passou a lotar ao Maracanã a cada jogo com mais de 80 mil presentes. A vitória que selou matematicamente a vaga na Libertadores, sobre o Atlético do Paraná, foi comemorada como a conquista de um título, até com volta olímpica após o apito final. Com o 3º lugar conseguido, o Flamengo fazia sua melhor campanha em dez anos, desde o 5º lugar obtido em 1997, período no qual conseguiu terminar apenas duas vezes entre os 10 primeiros colocados da classificação (a outra vez foi com um 8º lugar em 2003).

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2007
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Jailton (Léo Medeiros), Cristian, Toró e Ibson; Obina e Souza
Téc: Joel Santana
Banco: Diego, Thiago Sales, Rômulo, Roger Flores, Renato Augusto, Maxi Biancucchi e Paulo Sérgio

Após terminar a temporada anterior com o melhor resultado em dez anos, a diretoria decidiu aumentar a aposta para a temporada 2008, investindo em reforços. O elenco teve apenas duas baixas, com as saídas de dois reservas: o meia Roger Flores seguiu para o Grêmio, e o centroavante Leonardo voltou para o Paraná Clube. E o elenco foi reforçado com a contratação de 7 jogadores: o zagueiro Rodrigo, ex-São Paulo, contratado ao Dínamo Kiev, da Ucrânia; mais três volantes, o tetra-campeão com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, Kléberson, contratado ao Besiktas, da Turquia, o paraguaio Gavilán, contratado ao Grêmio, e Jônatas, que regressava ao clube após passagem pelo Espanyol, de Barcelona, Espanha; e três atacantes: Diego Tardelli, do São Paulo, Marcinho, do Atlético Mineiro, e o ponta Éder, do Guarani. Era um pacote de peso. Em termos de qualidade, foi o investimento mais expressivo para reforçar elenco feito pelo clube desde fins dos Anos 1990, sendo montado um elenco com diferentes opções para todas as posições.

O Campeonato Carioca teve um aumento de 12 para 16 participantes, mantendo o formato de disputa com dois grupos e em dois turnos, ora num turno cada clube enfrentando seu próprio grupo, ora enfrentando ao outro. Na Taça Guanabara, o time encaixou seis vitórias consecutivas, vencendo a Boavista, Cardoso Moreira, Duque de Caxias, Macaé, América e Volta Redonda. Na última rodada, já classificado às semi-finais, o time acabou sofrendo uma goleada de 4 x 1 no Fla-Flu, com Thiago Neves marcando três vezes. Na semi-final, de virada, venceu ao Vasco por 2 x 1, e enfrentou na final do 1º turno ao Botafogo, vencendo também de virada por 2 x 1, sendo pelo segundo ano consecutivo o campeão do 1º turno, e garantindo vaga na final do Estadual.

Como jogava a Libertadores em paralelo, à qual priorizava, repetiu a estratégia do ano anterior e jogou a Taça Rio com os reservas. Ainda assim, venceu cinco dos oito jogos, avançando à semi-final, na qual, com o time titular, acabou derrotado implacavelmente pelo Botafogo por 3 x 0. Os alvi-negros venceram o 2º turno e, assim, Flamengo e Botafogo voltaram a decidir o Carioca pelo segundo ano consecutivo.

O Botafogo havia sido arrumado financeiramente por seu então presidente Bebeto de Freitas, ex-técnico da Seleção Brasileira e da Seleção Italiana de vôlei, e com isto conseguiu se estruturar. O adversário direto naquele momento era o Flamengo, que também havia se reestruturado, ainda que se mantivesse com problemas financeiros graves. Nos dois Estaduais anteriores, um título para cada lado, em 2006 conquistado pelo Botafogo, e em 2007 conquistado pelo Flamengo sobre o Botafogo. Na Taça Guanabara de 2008, os dois decidiram o título, com vitória rubro-negra e ao final da partida uma polêmica entrevista coletiva da equipe alvi-negra inteira reclamando da arbitragem, na qual vários jogadores choravam. A torcida rubro-negra não perdoou e passou a entoar: "E ninguém cala, esse chororô. Chora o presidente, chora o time inteiro, chora o torcedor". A rivalidade entre os dois clubes se aflorou ainda mais. E se estenderia pelos anos seguintes, com os dois clubes decidindo o Carioca constantemente até 2012. Aquele era o clima da Final do Carioca de 2008.

Mas naquela decisão, o time rubro-negro não deu margem para o vacilo. Venceu a primeira partida por 1 x 0, gol marcado por Obina. No segundo jogo, os mais de 78 mil presentes no Maracanã viram Lúcio Flávio igualar as coisas com um gol no 1º tempo, mas na etapa final, Obina logo aos 3 minutos, Diego Tardelli aos 37, e novamente Obina, já nos acréscimos, decretaram o 3 x 1 inapelável. Flamengo, Bi-campeão Carioca!

Flamengo no Carioca de 2008
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Cristian (Jailton), Toró, Kléberson e Ibson; Marcinho e Souza (Obina)
Téc: Joel Santana
Banco: Diego, Thiago Sales, Jônatas, Renato Augusto, Maxi Biancucchi e Diego Tardelli

Em paralelo ao Estadual, havia a disputa pelo sonho de repetir um título sul-americano. Na 1ª fase, a campanha se iniciou titubeante, com um empate sem gols contra o Coronel Bolognesi em Tacna, no Peru, e uma derrota por 3 x 0 para o Nacional em Montevidéu. Nos jogos de volta, no entanto, o time embalou e venceu três vezes seguidas, fazendo 2 x 0 no Nacional no Maracanã, 3 x 0 no Cienciano a três mil metros de altitude em Cuzco, no Peru (adversário a quem já havia vencido no Rio), e por fim com um 2 x 0 sobre o Coronel Bolognesi no Maracanã, com direito a gol de falta do goleiro Bruno para abrir o placar aos 37 minutos do 2º tempo.

Nas oitavas de final, o adversário foi o América do México. Na primeira partida, na cidade do México, o time rubro-negro venceu por 4 x 2 no Estádio Azteca. Todos contavam que a classificação às quartas já estava definida. Porém, estourou uma bomba política na Gávea: o técnico Joel Santana anunciou ter aceito proposta para assumir à Seleção da África do Sul e, assim, deixaria o clube. O substituto foi rapidamente definido: Caio Júnior. O jovem treinador havia se destacado pelos trabalhos no Campeonato Brasileiro a frente do Paraná Clube, 5º lugar em 2006, e do Palmeiras, 7º lugar em 2007. Ele estava no Goiás quando aceitou a proposta rubro-negra. Um treinador que veio a falecer fatidicamente em 2016 com a queda do vôo que levava à Chapecoense, a quem comandava, para a decisão da Copa Sul-Americana daquele ano.

Com festa no vestiário antes do jogo para celebrar a despedida e o fim de mais uma vitoriosa passagem de Joel pelo clube, e com Caio Júnior nas arquibancadas para observar a equipe que assumiria, o time rubro-negro esqueceu que ninguém vence uma partida antes de jogá-la. E nem os mais de 47 mil torcedores presentes no estádio foram capazes de reverter o destino. Resultado: o paraguaio Salvador Cabañas fez um gol aos 20 e Enrique Esqueda fez outro aos 38, e o 1º tempo terminou 2 a 0 para o América; mais um gol e o time rubro-negro estava eliminado, e ele saiu aos 32 minutos, de novo pelos pés de Cabañas. 3 x 0. Pelo segundo ano consecutivo, o Flamengo caía nas oitavas de final da Libertadores da América.

Flamengo na Libertadores de 2008
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Cristian, Toró, Kléberson e Ibson; Marcinho e Souza
Téc: Joel Santana
Banco: Diego, Luizinho, Jailton, Jônatas, Renato Augusto, Diego Tardelli e Obina

Apear da mudança forçada de treinador, o planejamento para o Brasileiro de 2008 foi o de mexer o menos possível no elenco, apenas saíram jogadores contratados que não tinham dado certo no clube, havendo as saídas do zagueiro Rodrigo, dos dois cabeças de área estrangeiros, Colace e Gavilán, e do ponta Éder. E foi feita uma única contratação, a do zagueiro Dininho, reserva no Palmeiras.

O time começou muito bem o campeonato, mas a debilidade financeira que ainda pairava sobre o clube prejudicou à continuidade do bom trabalho. Nas cinco primeiras rodadas, quatro vitórias no Maracanã, sobre Santos, Internacional, Fluminense e Figueirense (goleada por 5 x 0), e um empate sem gols como visitante contra o Grêmio, assim o time rubro-negro assumiu a liderança do campeonato. Nas cinco rodadas seguintes, o time perdeu em casa por 4 x 2 para o São Paulo, mas encaixou vitórias sobre Ipatinga, Sport Recife e Náutico, e empatou contra o Atlético no Mineirão. Para fechar a fantástica sequência nas 11 primeiras rodadas, venceu o clássico contra o Vasco. Com este excelente desempenho, foi o líder do campeonato da 5ª à 13ª rodada. Com 8 vitórias, 2 empates e 1 derrota, largou com um excelente desempenho de 79% de aproveitamento dos pontos que disputou, e tendo a Marcinho como o artilheiro do campeonato com 7 gols.

Com as finanças ainda bastante debilitadas, o clube perdeu jogadores, e não conseguiu sustentar seu bom desempenho. Primeiro, para fazer caixa, a diretoria vendeu ao jovem Renato Augusto para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Ele havia tido um bom começo nas mãos de Ney Franco entre o segundo semestre de 2006 e o a temporada 2007, mas perdeu espaço com Joel Santana, que dava preferência a meio-campistas de característica mais defensiva. Ele não estava sendo usado como titular, mas jogou em seis dos nove primeiros jogos da campanha. A boa campanha rubro-negra despertou a cobiça de clubes estrangeiros, e o Flamengo não teve condições de reter os jogadores que mais estavam se destacando. O centroavante Souza saiu para o Panathinaikos, da Grécia. Ele era titular, tendo disputado onze jogos nas treze primeiras rodadas. Mas a grande baixa, porém, que foi um divisor de águas na campanha, foi a saída do artilheiro Marcinho, titular em todos os onze jogos até a 11ª rodada. Ele recebeu proposta financeiramente muito vantajosa e deixou a Gávea rumo ao Qatar Sport Club. Depois de sua saída, o desempenho do time desandou.

Da 12ª à 18ª rodada, o time não venceu nenhuma vez, e somou apenas dois pontos: perdeu para o Coritiba como visitante e para o Vitória em pleno Maracanã, empatou com Portuguesa de Desportos e Botafogo, e perdeu para Palmeiras e Goiás como visitante, e para o Cruzeiro como mandante. Em meio à derrocada, torcedores se indignaram com a queda de produção, e uma torcida organizada chegou a invadir a Gávea durante um treino, atirando uma bomba em campo. O ato criminoso em nada mudou a queda de produção. O time só voltou a vencer na 19ª e última rodada do turno, quando superou ao Atlético Paranaense por 1 x 0 no Maracanã. Entre a 12ª e a 19ª rodadas, o aproveitamento foi de meros 21%, fazendo o desempenho acumulado cair para 54%.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2008
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Jailton, Cristian, Jônatas (Toró) e Ibson; Marcinho (Diego Tardelli) e Obina (Souza)
Téc: Caio Júnior
Banco: Diego, Dininho, Kléberson, Renato Augusto e Maxi Biancucchi


Apesar da perda de produtividade, e de uma enorme pressão externa, a diretoria manteve o técnico Caio Júnior no cargo, passando a ter como meta a classificação à Libertadores do ano seguinte. Mas o elenco seguiu sofrendo baixas importantes: Cristian saiu após a 20ª rodada, a primeira do returno, contratado pelo Corinthians, e Diego Tardelli, que sofreu uma fratura no braço direito que o deixou de fora da equipe em todo o returno.

Forçada a voltar a investir no elenco, foram contratados para o returno três meias, o argentino Sambueza, do River Plate, o chileno Gonzalo Fierro, do Colo Colo, e Éverton, do Paraná Clube. Porém, as duas principais apostas foram nas contratações dos atacantes Marcelinho Paraíba, do Wolfsburg, da Alemanha, e Josiel, artilheiro do Brasileirão 2007 com a camisa do Paraná Clube, contratado ao Al Wahda, dos Emirados Árabes. Também se investiu em opções menos badaladas, com as chegadas do lateral-esquerdo Eltinho, reserva no Cruzeiro, do meia Fernando, do Mixto, do Mato Grosso, e dos centroavantes Vandinho, do Avaí, e Fernandão, do América do Rio.

Com a continuidade dada ao treinador e a chegada de reforços, o time se recuperou no campeonato. Nas cinco primeiras rodadas do returno, venceu a Grêmio e Figueirense, e empatou com Santos, Internacional e Fluminense, acumulando seis jogos sem perder. Caiu perante o São Paulo, como visitante, venceu três seguidas contra Ipatinga, Sport e Náutico, mas perdeu para o Atlético Mineiro no Maracanã, interrompendo o bom momento.

Mas seguiu forte na briga pela classificação para a Libertadores, passando seis rodadas sem perder, nas quais venceu a Vasco, Coritiba (goleada por 5 x 0), Botafogo e Palmeiras (goleada por 5 x 2 no Maracanã), e empatou com Vitória e Portuguesa de Desportos. Faltando três rodadas para o fim, estava dentro do Top 4 que se classificaria à competição continental.

Porém, acabou perdendo a vaga nas últimas rodadas, depois de perder fora de casa para Cruzeiro e Atlético Paranaense, e empatar por 3 x 3 com o Goiás no Maracanã. Este último jogo foi uma tragédia! Em pleno Maracanã, após abrir 3 a 0 sobre o Goiás pela penúltima rodada, o time rubro-negro permitiu o empate. A vitória o teria deixado na 3ª colocação, o empate o deixou em 5º lugar. Na última rodada, derrota para o Atlético Paranaense em Curitiba e a possibilidade de disputar pela terceira vez consecutiva o torneio sul-americano naufragou. O time terminou em 5º lugar, um ponto atrás do quarto colocado, o Palmeiras. A campanha no returno teve 9 vitórias, 6 empates e 4 derrotas, com 58% de aproveitamento dos pontos que disputou. Pelo segundo ano consecutivo o Flamengo terminava entre os cinco primeiros colocados (entre 1993 e 2006, em 14 edições do Brasileirão, havia ficado só uma vez no Top 5). Entretanto, não tendo alcançado seu objetivo, a diretoria optou por demitir ao treinador Caio Júnior ao fim do torneio, após mantê-lo no cargo de ponta a ponta, em todas as 38 rodadas do campeonato.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2008
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Jailton, Toró, Ibson e Kléberson; Marcelinho Paraíba e Obina
Téc: Caio Júnior
Banco: Diego, Aírton, Fierro, Sambueza, Éverton, Maxi Biancucchi e Vandinho

O novo técnico escolhido para a temporada 2009 foi Cuca, que voltava à Gávea após uma passagem não muito boa em 2005. Desde que havia deixado o clube, tinha passado por Coritiba, Botafogo, Santos e Fluminense. Neste período, não conquistou títulos, tendo o trabalho mais destacado sido a frente do Botafogo, vice-campeão carioca em 2007 e 2008, nas duas oportunidades derrotado pelo próprio Flamengo.  

Quanto ao elenco, havia uma base montada, que foi mantida. Dos jogadores que vinham sendo utilizados como titulares, saíram Marcelinho Paraíba, que rumou para o Coritiba, e Jailton, contratado pelo Fluminense. O clube não teve interesse de dar continuidade a Diego Tardelli, que acabou rumando para o Atlético Mineiro. De resto, saíram jogadores que não tinham agradado e conseguido espaço: os zagueiros Dininho e Leonardo, o lateral-esquerdo Eltinho, os meias Sambueza e Fernando, e os centroavantes Vandinho e Fernandão. E para reforçar o elenco foram feitas contratações pontuais: o meia-atacante Zé Roberto, ex-Botafogo, regressando ao país após passagem pelo Schalke 04, da Alemanha; o atacante Emerson Sheik, até então desconhecido no Brasil, que chegava do Al Sadd, do Qatar; e duas apostas feitas em dois nomes contratados ao Santo André, o zagueiro Douglas e o volante Willians.

A campanha rubro-negra começou vacilante, com vitórias apertadas, mas emplacou cinco vitórias consecutivas nas cinco primeiras rodadas. Nas duas últimas, empates frente a Boavista e Botafogo, mas com a classificação à semi-final garantida. Franco favorito, o bi-campeão carioca entrou em campo numa tarde de Maracanã, diante de quase 28 mil pagantes, para enfrentar ao Resende, clube que estava tão só em sua segunda temporada na 1ª Divisão do futebol carioca. O modesto adversário do sul do estado do Rio, no entanto, não se intimidou e venceu por 3 x 1, eliminando ao Flamengo e avançando para fazer a final da Taça Guanabara contra o Botafogo, que viria a ficar com o título e a classificação automática à final do Estadual.

No 2º turno - a Taça Rio - após vencer a Cabofriense e Duque de Caxias nas duas primeiras rodadas, o time empatou contra o Tigres do Brasil e perdeu para o Vasco, vendo a situação ficar complicada na tabela. Porém, na sequência encaixou vitórias consecutivas sobre Madureira, Resende e Americano e garantiu sua ida à semi-final. O time passou então pelo Fluminense por 1 x 0, gol do lateral-esquerdo Juan, e avançou para fazer a final do turno contra o Botafogo. Se os alvi-negros vencessem, conquistariam automaticamente ao Estadual, já que tinham sido os campeões do 1º turno. O Flamengo venceu, com um gol contra do zagueiro Emerson aos 17 minutos do 2º tempo, conquistando a Taça Rio, e garantindo a realização de uma final do Campeonato Carioca, pelo terceiro ano consecutivo, entre Flamengo e Botafogo.

Em 2007, Ney Franco era o técnico rubro-negro e Cuca o alvi-negro; dois anos depois os papéis nos bancos de reserva estavam invertidos. Dois anos antes, a final havia sido decidida nos pênaltis após dois empates por 2 x 2, e na final de 2009 este filme se repetiu. Era a despedida do zagueiro Fábio Luciano, capitão do time rubro-negro, que havia decidido por sua aposentadoria. No primeiro jogo, o Flamengo saiu na frente, tomou uma virada ainda no 1º tempo, e obteve o empate com gol de Willians aos 39 minutos do 2º tempo. No segundo jogo, a primeira etapa foi toda rubro-negra, com Ronaldo Angelim e Kléberson marcando os gols que puseram o placar 2 a 0 para o Fla. Mas na etapa final, o zagueiro Juninho e o volante Túlio Souza decretaram o empate ainda antes dos 20 minutos. Troféu valendo o quinto Tri-campeonato Carioca da história rubro-negra decidido em cobranças de penalidades. E, repetindo dois anos antes mais uma vez, o herói foi o goleiro Bruno, que mais uma vez defendeu dois pênaltis, como em 2007, tendo mais uma vez agarrado a cobrança do zagueiro Juninho, e pego também a última, que definiu o título, saída dos pés do volante Leandro Guerreiro: 4 x 2. Flamengo, Penta-Tri-Campeão Carioca! Após o tri-campeonato com três conquistas consecutivas em cima do Vasco em 1999, 2000 e 2001, o Flamengo conquista um tri-campeonato com três conquistas consecutivas em cima do Botafogo em 2007, 2008 e 2009.

Flamengo no Carioca de 2009
Bruno, Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Aírton, Willians, Kléberson e Ibson; Zé Roberto e Emerson Sheik (Josiel)
Téc: Cuca
Banco: Diego, Éverton Silva, Jônatas, Erick Flores, Éverton, Maxi Biancucchi e Obina

Após o tri do Estadual, as mudanças no elenco foram pontuais. Além da saída de Fábio Luciano, que se aposentou, a outra baixa no elenco foi a saída do atacante reserva Obina, contratado pelo Palmeiras. Não havia a intenção da contratação de reforços. Mas oportunidades apareceram e elas foram aproveitadas pela diretoria. A primeira e principal delas foi o retorno à Gávea do atacante Adriano, o Imperador. Depois de se consagrar no futebol europeu com a camisa da Internazionale, ele havia entrado em um processo depressivo após a morte do pai, e alguns meses antes havia rompido seu contrato na Europa, disposto a uma aposentadoria precoce, aos 27 anos. Após alguns meses sem jogar, chegou a um acordo com o Flamengo para retornar aos gramados. Foi apresentado com uma grande festa e pompa. Fez sua reestreia em vermelho e preto na 4ª rodada, numa vitória por 2 x 1 sobre o Atlético Paranaense num Maracanã em festa, recebendo mais de 68 mil pagantes. Mas ele não foi o único aposentado a regressar à Gávea. O sérvio Dejan Petkovic também queria voltar a vestir rubro-negro para se despedir do futebol. Acertou então com o então vice-presidente de futebol Kléber Leite um acordo de compensação, no qual o clube aceitava-o de novo no elenco em troca de um abatimento financeiro na dívida que o clube ainda detinha com ele referente a salários atrasados do período que jogou no Flamengo. A contra-gosto do técnico Cuca, o estrangeiro que então estava próximo de completar 37 anos foi incorporado ao grupo, fazendo sua estreia no decorrer da partida da 7ª rodada contra o Internacional, no Maracanã. Estes dois, Adriano e Petkovic, foram os dois personagens principais da epopeia que estava por ser escrita nos meses seguintes.

A campanha rubro-negra começou bastante instável. Após não vencer nas duas primeiras rodadas, o time venceu a Santo André e Atlético Paranaense. Mas na sequência, como visitante, perdeu por 4 x 2 para o Sport Recife, e foi goleado por 5 x 0 pelo Coritiba. Recuperou-se com uma goleada de 4 x 0 sobre o Internacional em casa, seguido por mais três partidas sem perder, mas duas das quais com um empate. Perdeu em casa para o Palmeiras e empatou mais duas vezes, contra Botafogo e Grêmio Barueri. A diretoria decidiu então dar fim ao trabalho de Cuca. Em 13 rodadas, o time tinha 4 vitórias, 5 empates e 4 derrotas, um aproveitamento de 43,5% dos pontos disputados.


Sem uma solução imediata, foi efetivado o auxiliar-técnico Andrade, no clube desde 2004, tendo sido assistente de Abel Braga, Ricardo Gomes, Celso Roth, Valdir Espinosa, Waldemar Lemos, Ney Franco, Joel Santana, Caio Júnior e Cuca. Com ele no comando, o time encaixou duas boas vitórias seguidas, sobre o Santos na Vila Belmiro, e o Atlético Mineiro no Maracanã. Nos seis jogos finais do 1º turno, obteve 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, a pior delas na última rodada, quando foi goleado por 4 x 1 pelo Grêmio. Ele melhorou o aproveitamento da equipe, que nestas seis partidas obteve 55,5% dos pontos disputados. Ainda assim, o Flamengo terminava o turno muito distante das primeiras colocações.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2009
Bruno, Leonardo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim e Éverton; Aírton, Willians, Toró (Fierro) e Kléberson; Emerson Sheik e Adriano
Téc: Cuca, depois Andrade
Banco: Diego, Éverton Silva, Juan, Ibson, Petkovic e Zé Roberto

Para dificultar ainda mais, o elenco teve três baixas: Emerson Sheik foi contratado pelo Al Ain, dos Emirados Árabes, Ibson pelo Spartak Moscou, da Rússia, e Josiel pelo Al Wahda, também dos Emirados Árabes. A diretoria buscou então reforçar o elenco contratando a cinco jogadores: os zagueiros Álvaro, do Internacional, e David Bráz, ex-Palmeiras, que estava no Panathinaikos, da Grécia, o veterano volante chileno Maldonado, ex-Cruzeiro, São Paulo e Santos, e então no Fenerbahce, da Turquia, o veterano atacante Gil, ex-Corinthians, que estava no Internacional, e o centroavante Dênis Marques, ex-Atlético Paranaense, e então no Omiya Ardija, do Japão. Dois nomes em especial nesta lista deram um grande incremento de qualidade ao time: Álvaro e Maldonado.

A campanha no returno começou mal. Após ter terminado o turno sengo goleado pelo Grêmio, o time começou o returno perdendo em casa para o Cruzeiro e fora para o Avaí. Naquele momento do campeonato, o Flamengo terminava a rodada na 14ª colocação na tabela, o que não permitia a sua torcida sonhar com nada, pois até a luta por uma vaga na Libertadores estava muito distante. Porém, a partir de então se iniciou um ponto de inflexão e o Flamengo encaixou uma sequência de 10 jogos seguidos sem derrota. Bateu ao Santo André por 3 x 0 no Maracanã, empatou sem gols com o Atlético Paranaense em Curitiba, ganhou mais duas vezes por 3 x 0 no Maracanã, desta vez de Sport e Coritiba, empatou sem gols com o Internacional no Beira-Rio, fez 2 x 0 no Fluminense, e empatou por 3 x 3 com o Vitória em Salvador. Deu uma arrancada, ganhando várias posições e entrando na luta pelo G-4, grupo que garantia vaga na Libertadores de 2010. Ao fim da 28ª rodada, o Flamengo era o 6º colocado com 44 pontos, 10 pontos atrás do líder Palmeiras, que tinha 54. Entre eles, o São Paulo tinha 49, o Internacional e o Atlético Mineiro 47, e o Goiás 45.

A partir da 29ª rodada, o Palmeiras despencou. Perdeu três vezes seguidas, para o Náutico fora de casa (3 x 0), para o próprio Flamengo em casa, e para o Santo André (2 x 0). Aquele foi o momento chave, pois o time rubro-negro encaixou uma sensacional sequência de três vitórias: 2 x 1 no São Paulo, no Maracanã, 2 x 0 no líder Palmeiras, no Parque Antárctica, em São Paulo, com dois gols antológicos do camisa 43, Petkovic, tendo o segundo sido um gol olímpico, e 1 x 0 no Botafogo, no Engenhão, gol de Adriano. Daí em diante a briga rubro-negra deixou de ser pelo G-4 e o título já aparecia como algo alcançável.

Na única derrota que sofreu nas 17 rodadas finais, o time caiu por 2 x 0 para o Grêmio Barueri, o que poderia ter sido uma ducha de água fria em suas pretensões. Porém, o time encaixou uma nova sequência de três vitórias consecutivas que o aproximou da 1ª colocação. Venceu ao Santos por 1 x 0 no Maracanã, numa tarde na qual o goleiro Bruno defendeu dois pênaltis cobrados por Paulo Henrique Ganso, conseguiu uma vitória magistral sobre um concorrente direto na luta pelo título e pelo G-4, quando bateu ao então líder Atlético Mineiro em pleno Minerão por 3 x 1, com nova atuação soberba de Petkovic, que abriu o placar naquela tarde de domingo com mais um gol olímpico, cobrando escanteio direto para dentro das redes. E para fechar, venceu por 2 x 0 ao Náutico, em Recife.

Faltando três rodadas para o fim, o Flamengo perdeu a chance de assumir a liderança quando, na última partida da rodada, na noite de domingo, empatou sem gols com o Goiás num Maracanã lotado por mais de 80 mil pessoas. O mesmo Goiás que na rodada seguinte venceu ao então líder São Paulo jogando em casa, permitindo ao Flamengo, com uma vitória por 2 x 0 sobre o Corinthians, em jogo realizado em Campinas, estado de São Paulo, assumir, pela primeira vez em todo o campeonato, a liderança da competição, e quando faltava apenas uma rodada para o campeonato acabar.

O último jogo era contra o Grêmio, no Maracanã. Uma vitória gremista daria o título a seu rival gaúcho, o Internacional. A polêmica já começou quando o Grêmio, que não tinha mais qualquer pretensão no campeonato, decidiu viajar ao Rio de Janeiro sem seus titulares. O Flamengo não tinha nada com isso, precisava apenas vencer, num Maracanã em que não cabia mais nenhuma alma, lotado por 85 mil presentes. Logo no começo do jogo, quem abriu o marcador foi o tricolor gaúcho. Tensão total. Os 16 anos de jejum pesavam mais do que nunca nos ombros de todos os rubro-negros. No fim do 1º tempo, o zagueiro David Bráz, que substituía ao suspenso Álvaro, empatou. No 2º tempo, aos 24 minutos, Petkovic cobrou escanteio, Ronaldo Angelim entrou como um raio entra os zagueiros adversários e testou para as redes: 2 x 1. O herói improvável: o "Magro de Aço", do Sertão do Ceará para o coração da Nação Rubro-Negra. Flamengo, Hexacampeão Brasileiro! Mais do que nunca os anos acumulados de sofrimento e humilhações eclodiam como um brado libertador de orgulho e glória!


Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2009
Bruno, Leonardo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Aírton, Maldonado (Toró), Willians (Fierro) e Petkovic; Zé Roberto e Adriano
Téc: Andrade
Banco: Diego, David Bráz, Kléberson, Éverton e Dênis Marques

O Flamengo é um clube diferente de todos os demais. Na mesma semana em que conquistou o seu sexto título nacional, a situação perdeu a eleição presidencial para a oposição, o que é algo totalmente fora do padrão. E desta eleição, pela primeira vez uma mulher foi eleita presidente do Flamengo, a ex-nadadora do clube Patrícia Amorim. Com uma nova diretoria, e uma temporada 2010 com mais uma oportunidade de jogar a Libertadores, a torcida foi presenteada com uma contratação de impacto: Vágner Love, centroavante do Palmeiras. Com sua chegada, foi montado o ataque batizado de "Império do Amor".

O elenco também precisou passar por algumas mudanças, mas elas foram pontuais. Com ofertas financeiras vantajosas, o elenco perdeu quatro jogadores, dois deles titulares: o volante Aírton foi comprado pelo Benfica, de Portugal, o meia Éverton pelo Tigres, do México, o meia-atacante Zé Roberto pelo Schalke 04, da Alemanha, e o ponta argentino Maxi Biancucchi pelo Cruz Azul, do México. Além de Vágner Love, foram contratados pontualmente quatro reforços: o lateral-esquerdo Rodrigo Alvim, do Wolfsburg, da Alemanha, o volante Fernando, do Goiás, e os meias Michael, do Dínamo de Kiev, da Ucrânia, e Ramon, ex-Corinthians, do CSKA Moscou, da Rússia. Para fechar, decidiu reincorporar dois jogadores revelados na base rubro-negra e que vinham, havia muitas temporadas seguidas, sendo emprestados para amadurecer: o meia Vinícius Pacheco e o centroavante Bruno Mezenga.

Embalado pelo título nacional, o otimismo rubro-negro pela conquista do Campeonato Carioca era enorme. E o começo foi animador. O time venceu cinco partidas seguidas, incluindo uma virada espetacular no Fla-Flu, no qual terminou o 1º tempo perdendo por 3 x 1 para a equipe comandada em campo pela técnica do meia argentino Dario Conca. No 2º tempo, com um gol aos 7 e outro aos 8 minutos, um de Love e outro de Kléberson, o time empatou a partida. E com dois gols de Adriano nos minutos finais, um aos 37 e outro aos 43, virou, vencendo por 5 x 3. Nas sete partidas da Taça Guanabara, venceu seis, só empatando (3 x 3) com o Olaria na 6ª rodada. Assim se classificou às semi-finais, na qual perdeu por 2 x 1 para o Botafogo. 

No returno, o time voltou a estar embalado. Nos oito jogos da Taça Rio, venceu sete, só deixando de vencer ao Botafogo, em partida que terminou empatada por 2 x 2 (Adriano empatou aos 48 minutos do 2º tempo). Avançou às semi-finais, na qual superou ao Vasco por 2 x 1, com dois gols de Vágner Love. Na final do 2º turno, reencontrou ao Botafogo. Pelo quarto ano consecutivo, o título seria decidido entre Flamengo e Botafogo. Como campeão do 1º turno, se vencessem, os alvi-negros conquistavam o título automaticamente. Se a vitória fosse rubro-negra, o título estadual seria decidido em melhor de dois jogos. Repetia-se a situação do ano anterior. Desta vez, porém, a vitória foi alvi-negra, por 2 x 1, com gols de sua dupla de atacantes estrangeiros, o argentino Herrera e o uruguaio Loco Abreu, que marcaram uma vez cada um, impedindo o tetra-campeonato rubro-negro.

Flamengo no Carioca de 2010
Bruno, Leonardo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Maldonado (Fernando), Willians (Kléberson), Toró e Vinícius Pacheco; Adriano e Vágner Love
Téc: Andrade
Banco: Marcelo Lomba, David Bráz, Fierro, Petkovic e Bruno Mezenga


O otimismo por uma boa campanha na Libertadores da América também era muito grande. Na fase de grupos, o time tinha pela frente dois adversários chilenos e um venezuelano. A campanha começou com duas vitórias, em casa sobre a Universidad Católica e fora sobre o Caracas. Na 3ª rodada, perdeu por 2 x 1 para a Universidad de Chile no Estádio Nacional, em Santiago. Nos jogos de volta, empatou com a Universidad de Chile no Maracanã, e perdeu para a Universidad Católica em Santiago. Mas garantiu sua participação na fase seguinte com uma vitória por 3 x 2 sobre o Caracas no Maracanã.

Classificado às oitavas de final, o time perdeu o treinador Andrade, demitido após a derrota e a eliminação para o Botafogo no Campeonato Carioca. Para o seu lugar foi feita a escolha de uma solução caseira, assumindo como treinador o ex-zagueiro rubro-negro Rogério Lourenço, então técnico do time sub-20 do clube.

Em meio a esta instabilidade, enfrentou ao Corinthians nas oitavas de final. No primeiro duelo, venceu por 1 x 0 no Maracanã, gol de Adriano. No segundo jogo, no Pacaembu, em São Paulo, foi amplamente dominado, e terminou o 1º tempo perdendo por 2 x 0. Aos 4 minutos do 2º tempo, no entanto, conseguiu diminuir, através de gol marcado por Vágner Love, e com a derrota por 2 x 1 conseguia a classificação, pelo critério de mais gols marcados como visitante. Conseguiu manter o placar até o final da partida, e assim garantiu a classificação para as quartas de final, na qual reencontraria à Universidad de Chile, a quem havia enfrentado duas vezes, sem ter conseguido vencer.

Com o "Império do Amor", a esperança do Flamengo voltar a disputar uma semi-final de Libertadores novamente após 25 anos era muito grande. Mas o sonho rubro-negro foi atrapalhado por um camisa 10 argentino baixinho, de nome Wálter Montillo, que comandou a vitória chilena por 3 x 2 na primeira partida no Maracanã. O time precisava de uma milagrosa vitória por dois de diferença em Santiago. Terminou o 1º tempo vencendo por 1 x 0, gol de Love, mas Montillo empatou aos 28 minutos do 2º tempo. Adriano ainda conseguiu marcar novamente, mas a vitória por 2 x 1 não foi suficiente. A eliminação nas quartas de final, somada à perda do título do Carioca, escrevia o fracasso do "Império do Amor".

Flamengo na Libertadores de 2010
Bruno, Leonardo Moura, David Bráz, Ronaldo Angelim e Juan; Willians, Toró, Kléberson e Vinícius Pacheco; Adriano e Vágner Love
Téc: Andrade, depois Rogério Lourenço
Banco: Marcelo Lomba, Álvaro, Maldonado, Fierro, Michael, Petkovic e Bruno Mezenga

O fracasso no 1º semestre forçou um forte desinvestimento no elenco rubro-negro, capitaneado pela saída da dupla de ataque, com Adriano rumando para a Roma, da Itália, e Vágner Love para o CSKA Moscou, da Rússia. Também deixaram o clube nomes que haviam perdido espaço no elenco, com as saídas dos zagueiros Álvaro e Fabrício, dos meias Erick Flores e Ramon, e dos atacantes Gil, Dênis Marques e Bruno Mezenga. Além disso, o chileno Gonzalo Fierro foi cedido por empréstimo de seis meses ao Boca Juniors, da Argentina.

A principal aposta para o Brasileirão de 2010 foi no retorno ao clube do meia Renato Abreu, que estava atuando pelo Al Shabab, dos Emirados Árabes. Junto a ele houve as contratações de 5 outros reforços: o zagueiro Jean, do Moscou, da Rússia, o volante Corrêa, do Atlético Mineiro, e três centroavantes; Val Baiano, que estava no Monterrey, do México, Leandro Amaral, ex-Fluminense e Vasco, que estava desempregado, e o colombiano Cristian Borja, que estava jogando no Caxias, do Rio Grande do Sul. Novamente pressionado pelas finanças, era um elenco bem mais modesto que o do primeiro semestre, tentando se sustentar no talento do já veteraníssimo sérvio Petkovic, com 38 anos de idade.

Os dias que se seguiram foram os mais tempestuosos da história do clube. Ninguém poderia estar preparado para o que viria a acontecer. Foi decretada a prisão do goleiro rubro-negro Bruno como mandante da morte de Eliza Samudio, a qual havia engravidado dele. Como não poderia deixar de ser, dada a gravidade dos fatos, o ambiente no clube ficou extremamente conturbado.

Em meio a tanta turbulência, a campanha no certame nacional, como parecia ser inevitável, foi muito ruim. Mas não foi só pelos fatos extra-campo, pesou também a inexperiência do técnico Rogério a frente do time. Após 16 rodadas, nas quais a equipe obteve 5 vitórias, 6 empates e 5 derrotas, com aproveitamento de 44% dos pontos disputados, a diretoria optou por demiti-lo.

Após uma rodada com Toninho Barroso como treinador interino, e mais uma derrota, foi apresentado o novo técnico escolhido, o ex-jogador Paulo Silas, um nome sem qualquer identidade com o clube, e novato na função de treinador. Silas havia levado o Avaí, de Santa Catarina, à 6ª colocação no Brasileirão de 2009, e depois foi Campeão Gaúcho de 2010 com o Grêmio, por quem havia sido demitido algumas semanas antes de aceitar o convite rubro-negro.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2010
Marcelo Lomba, Leonardo Moura, David Bráz (Jean), Ronaldo Angelim e Juan; Corrêa, Willians, Kléberson e Petkovic; Vinícius Pacheco e Diego Maurício
Téc: Rogério Lourenço, depois Silas
Banco: Bruno, Welinton, Fernando, Toró, Michael, Renato Abreu e Val Baiano

Com treinador novo, o clube buscou reformular ao elenco para buscar uma recuperação no returno, cedeu o meia Vinícius Pacheco para o Figueirense, de Santa Catarina, e contratou três reforços: o meia Marquinhos, do Vitória, e os atacantes Diogo, do Olimpiakos, da Grécia, e Deivid, do Fenerbahce, da Turquia.

Mas não resolveu, e a passagem de Silas como técnico rubro-negro foi muito curta, tendo ele sido demitido após a 27ª rodadas, com o clube próximo à Zona de Rebaixamento, ocupando a 15ª colocação da tabela. Nos 10 jogos em que comandou o time, obteve apenas 1 vitória, sobre o Grêmio Prudente (ex-Grêmio Barueri), 6 empates e 3 derrotas, conquistando apenas 30% dos pontos disputados, um desempenho bem inferior ao de Rogério Lourenço.

A aposta então foi a de novamente contratar um treinador renomado, e a escolha recaiu sobre Vanderlei Luxemburgo, contratado para sua terceira passagem como treinador do Flamengo. Um técnico multi-campeão, cujo curriculum tinha 8 títulos do Campeonato Paulista, 2 títulos do Campeonato Mineiro, 5 títulos do Campeonato Brasileiro e 1 título da Copa do Brasil.

Restavam 11 rodadas, e o objetivo era afastar a equipe da Zona de Rebaixamento. Em seus seis primeiros jogos, Vanderlei não foi derrotado, mas tendo empatado quatro deles, a situação ainda não havia sido tranquilizada. E voltou a ficar apertada quando o time foi derrotado pelo Atlético Paranaense em pleno Maracanã, e na sequência goleado por 4 x 1 pelo Atlético no Mineirão. Com 29% de aproveitamento em suas nove primeiras partidas, não havia sinal de melhora frente ao trabalho de Silas. E o risco de rebaixamento seguia rondando o clube.

Na 36ª rodada, o time venceu ao Guarani no Rio de Janeiro, chegando a 43 pontos na tabela e respirando, fazendo com que as chances de rebaixamento ficassem remotas. Na penúltima rodada, enfrentava ao Cruzeiro como mandante, em partida que optou por disputar na cidade de Volta Redonda, no Estádio Raulino de Oliveira. Perdeu de virada, por 2 x 1, mas apesar da derrota, livrou-se matematicamente do rebaixamento. No fim, terminou com uma modesta 14ª colocação. Nos 11 jogos em que comandou a equipe, Luxemburgo teve um aproveitamento de meros 33% dos pontos disputados, quase o mesmo de Silas, e ambos piores do que a primeira solução caseira, o inexperiente Rogério Lourenço. O clube queria esquecer a temporada 2010, na qual tudo deu absurdamente errado! Desde o período 2001-2005, quando lutou em quatro das cinco edições para fugir da degola, que o Flamengo não precisava se preocupar com a possibilidade de rebaixamento à Série B. Em 2010, este fantasma voltou a rondá-lo.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2010
Marcelo Lomba, Leonardo Moura, David Bráz (Welinton), Ronaldo Angelim e Juan; Corrêa, Willians, Petkovic e Renato Abreu; Diogo (Diego Maurício) e Deivid
Téc: Silas, depois Vanderlei Luxemburgo
Banco: Paulo Victor, Jean, Maldonado, Toró, Kléberson, Marquinhos e Val Baiano

Para a temporada 2011, a diretoria deu a oportunidade a Vanderlei Luxemburgo de preparar a equipe com calma, tendo uma pré-temporada para dar sua cara ao time. E foi feita uma contratação bombástica, que sacudiu o futebol brasileiro: o Flamengo contratou Ronaldinho Gaúcho para ser seu camisa 10. O jogador foi contratado após se desligar do Milan, da Itália. Uma chegada tão bombástica, midiaticamente, quanto as de Romário e Edmundo em 1995, e de Adriano em 2009. Junto a ele, contratou também outros dois meias: Thiago Neves, ex-Fluminense, que estava no Al Hilal, dos Emirados Árabes, e o argentino Dario Bottinelli, que estava na Universidad Católica, do Chile. Outra contratação importante foi a de um goleiro, para repor a perda de Bruno. O nome escolhido foi Felipe, ex-Corinthians, que estava no Braga, de Portugal. Pontualmente ainda foram feitas mais duas apostas, no meia Vander, do Bahia, e no centroavante Wanderley, do Grêmio Prudente. Estes 6 reforços revigoravam o elenco, que foi renovado. Dejan Petkovic se aposentou. O lateral Juan também saiu, comprado pelo São Paulo, assim como Marcelo Lomba, cedido ao Bahia, Toró, comprado pelo Atlético Mineiro, e Kléberson, cedido ao Atlético Paranaense. Várias das apostas feitas no ano anterior também tiveram seus vínculos encerrados: Corrêa, Michael, Diogo, Cristian Borja, Leandro Amaral e Val Baiano. No total, tendo havido a saída de 11 jogadores, deixando o elenco mais enxuto para Vanderlei Luxemburgo trabalhar.

O investimento e o planejamento deram frutos. O Flamengo venceu todos os seus 7 jogos da fase inicial da Taça Guanabara. Venceu a Volta Redonda, América, Americano e Vasco. Na 5ª rodada, Ronaldinho fez sua estreia, na vitória magra por 1 x 0 sobre o Nova Iguaçu numa noite de quarta-feira com 42 mil pagantes no Engenhão. Seu primeiro gol com a camisa rubro-negra aconteceu na rodada seguinte, cobrando pênalti, o primeiro gol da vitória por 3 x 2 sobre o Boavista no Estádio Cláudio Moacyr, em Macaé. Já classificado, o time ainda venceu ao Resende na última rodada. Na semi-final, empatou por 1 x 1 com o Botafogo, de Loco Abreu, e treinado por Joel Santana, vencendo nos pênaltis por 3 x 1, com Felipe defendendo duas cobranças. Decidiu o turno contra o Boavista, que havia eliminado ao Fluminense nos pênaltis, após um empate por 2 x 2, na outra semi-final. Foi um jogo duro, frente a um adversário bastante retrancado. Aos 26 minutos do 2º tempo, cobrando falta, Ronaldinho marcou o gol da vitória, aquele que veio a garantir o título.


Na Taça Rio, o time se manteve na mesma tocada. Venceu a Olaria, Bangu, Duque de Caxias e Botafogo, e empatou com Fluminense, Cabofriense, Madureira e Macaé. Avançou às semi-finais em 2º lugar, um ponto atrás do Vasco. Enfrentou então ao Fluminense e empatou por 1 x 1, vencendo nos pênaltis por 5 x 4, com Felipe voltando a defender duas cobranças. A final do 2º turno foi contra o Vasco. Se vencesse, o Flamengo era automaticamente campeão carioca, uma vez que havia conquistado ao 1º turno. Já o Vasco, sonhava em vingar-se das derrotas sofridas em finais de campeonato em 1999, 2000, 2001, 2004 e 2006. Num jogo amarrado e sem gol, o título também foi decidido nos pênaltis. O Vasco mandou três cobranças para fora, e na última, Thiago Neves converteu e consolidou a vitória por 3 x 1. Sem jogar um futebol exuberante, mas sendo eficiente, o time rubro-negro foi campeão carioca invicto, consagrando a chegada de Ronaldinho Gaúcho à Gávea.

Flamengo no Carioca de 2011
Felipe, Leonardo Moura, Welinton, David Bráz e Rodrigo Alvim (Egídio); Maldonado, Willians, Thiago Neves e Renato Abreu; Ronaldinho Gaúcho e Deivid
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Paulo Victor, Ronaldo Angelim, Fernando, Fierro, Dario Bottinelli, Diego Maurício e Wanderley

Com a boa campanha invicta e o título do Estadual, as mudanças no elenco no início do Brasileiro daquele ano foram mínimas. Saíram dois reservas: o meia Marquinhos, de volta ao Vitória, e o lateral-esquerdo Egídio, rumo ao Ceará. E entraram três reforços pontuais: o zagueiro Gustavo, do Boavista, do Rio de Janeiro, e o lateral-esquerdo Júnior César, do São Paulo, havendo ainda a volta ao clube do volante Aírton, após passagem pelo Benfica, de Portugal. Sem novos grandes investimentos, a prioridade era dar espaço no elenco para a geração que, no começo daquele ano, conquistou pela segunda vez na história do clube o título da Copa São Paulo Sub-20, que era a principal competição nacional da categoria no Brasil, geração da qual faziam parte o goleiro César, os zagueiros Frauches e Marllon, os volantes Muralha e Luiz Antônio, os meias Adryan e Thomás, e os pontas Rafinha e Negueba.

Mantendo um ritmo forte e uma longa invencibilidade, o time arrancou muito bem no Brasileirão de 2011. Já largou aplicando uma goleada de 4 x 0 sobre o Avaí na 1ª rodada. Depois empatou quatro partidas consecutivamente: Bahia e Atlético Paranaense como visitante, Corinthians como mandante, e com o Botafogo no Engenhão. Na 6ª rodada, voltou a golear: 4 x 1 no Atlético Mineiro no Rio. Emendou com uma sequência de mais três vitórias: América Mineiro, São Paulo e Fluminense. Nas duas partidas seguintes, empatou com Palmeiras e Ceará. Na 12ª rodada, num duelo inesquecível entre Ronaldinho e Neymar na Vila Belmiro, conseguiu uma virada antológica em uma partida que perdia por 3 x 0 na metade do 1º tempo, vencendo-a por 5 x 4, com Ronaldinho balançando as redes três vezes. Embalado, na sequência obteve mais três vitórias consecutivas, sobre Grêmio, Cruzeiro e Coritiba, seguidas por um empate fora de casa com o Figueirense, em jogo no qual abriu 2 a 0, mas tomou dois gols. Em 16 jogos, havia obtido 9 vitórias e 7 empates, com um aproveitamento de 71% dos pontos disputados, mas não esteve na liderança nenhuma vez. Este empate em Florianópolis justamente impediu que o Flamengo a assumisse pela primeira vez no campeonato, terminando a rodada empatado em 34 pontos com o Corinthians, líder no critério de desempate, o número de vitórias.


Após se manter invicto nas dezesseis primeiras rodadas, na 17ª rodada o time tropeçou feio, e justamente na partida na qual fazia sua estreia o novo zagueiro contratado, Alex Silva, o "Pirulito", que supostamente chegaria para resolver o problema de debilidade da criticada zaga formado por Welinton e David Bráz. Jogando em casa, no Engenhão, já que o Maracanã estava interditado para as obras de preparação do estádio para a Copa do Mundo de 2014, e desfalcado de Ronaldinho, o adversário pela frente era o Atlético Goianiense. O estádio recebeu meros 7 mil pagantes, que viram uma goleada improvável, os goianos venceram impiedosamente por 4 x 1! Nas duas últimas rodadas, empates com Internacional e Vasco, e o time terminou o turno se despegando um pouco da briga pela ponta. O desempenho no turno tinha tido 9 vitórias, 9 empates e somente 1 derrota, um aproveitamento de 63% dos pontos disputados. Só restava lutar para se recuperar no returno se o time queria o título.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2011
Felipe, Leonardo Moura, Welinton, David Bráz (Ronaldo Angelim) e Júnior César; Willians, Renato Abreu, Dario Bottinelli e Thiago Neves; Ronaldinho Gaúcho e Deivid
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Paulo Victor, Jean, Aírton, Luiz Antônio, Negueba, Diego Maurício e Wanderley

Durante o 1º turno, o Flamengo perdeu o centroavante reserva Wanderley, contratado pelo Al Arabi, do Qatar, repondo sua saída com a contratação de Jael, da Portuguesa de Desportos. E para reforçar à zaga, houve a já citada contratação de Alex Silva, ex-São Paulo e com histórico de convocações à Seleção Brasileira, que regressava ao país após uma passagem mal-sucedida pelo Hamburgo, da Alemanha. Com a sua chegada, o zagueiro reserva Jean foi cedido ao Vitória.

Mas o returno começou com o caldo entornando. Na verdade, com a panela inteira derrubada no chão! O time ficou seis jogos sem vencer. Nas quatro primeiras rodadas, perdeu todas, como visitante perante Avaí e Corinthians, e como mandante frente a Bahia e Atlético Paranaense. Na sequência, empates contra Botafogo e Atlético Mineiro. Com estes resultados, o Flamengo caía para a 6ª posição na tabela de classificação.

O time então se recuperou com uma sequência de três vitórias consecutivas, sobre América Mineiro, São Paulo e Fluminense. Depois empatou com Palmeiras e Santos, e venceu ao Ceará. Nas últimas sete rodadas, só venceu duas vezes, numa delas com uma imponente goleada de 5 x 1 sobre o Cruzeiro. Ainda assim, fez o suficiente para terminar o campeonato na 4ª colocação e garantir participação na Libertadores do ano seguinte.

Mas naquele segundo semestre, além da derrocada no 2º turno do Brasileiro, o time rubro-negro ainda sofreu uma eliminação traumatizante na Copa Sul-Americana, que disputava em paralelo. Após eliminar ao Atlético Paranaense com duas vitórias por 1 x 0, o time foi eliminado nas oitavas de final pela Universidad de Chile, do técnico argentino Jorge Sampaoli. A mesma Universidad de Chile que o havia eliminado nas quartas de final da Libertadores do ano anterior após vencer logo a primeira partida no Maracanã. O primeiro jogo era mais uma vez no Rio de Janeiro, desta vez no Engenhão, e o time rubro-negro sofreu uma goleada de 4 x 0, com dois gols de Eduardo Vargas, um de José Rojas e outro de Lorenzetti.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2011
Felipe, Leonardo Moura, Welinton, Alex Silva e Júnior César; Aírton, Willians, Thiago Neves e Renato Abreu; Ronaldinho Gaúcho e Deivid
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: Paulo Victor, Maldonado, Fierro, Dario Bottinelli, Negueba, Diego Maurício e Jael

Desapontada com o desempenho rubro-negro no returno do Brasileirão, a diretoria optou por trocar o treinador. O novo escolhido para a função no início da temporada 2012 foi Joel Santana, que chegava para sua quinta passagem como técnico do Flamengo, tendo em três das quatro anteriores tido bastante sucesso: campeão carioca invicto em 1996, livrando o clube do rebaixamento em 2005 com uma passagem de nove jogos invictos, e depois sendo 3º no Brasileiro de 2007 e campeão carioca de 2008.

Antes mesmo do início de temporada, os dias na Gávea já estavam bastante turbulentos, com a Traffic, parceira que estava pagando o salário de Ronaldinho Gaúcho, rompendo o contrato e deixando de ficar responsável pelo pagamento salarial do "R10". E a diretoria cometeu um grande erro, pois não querendo perder sua estrela, entendeu que tinha como assumir este pagamento. Os meses seguintes provaram que o clube não tinha entrada de receitas suficiente para assumir um custo tão elevado em sua folha de pagamentos. Como resultado, o clube voltou a apresentar graves problemas de fluxo de caixa e a não conseguir honrar compromissos.

Manteve Ronaldinho, mas perdeu Thiago Neves, que aceitou proposta e trocou o Flamengo pelo rival Fluminense. Também liberou dois zagueiros, com Alex Silva rumando para o Cruzeiro, e Ronaldo Angelim voltando ao Fortaleza para seus momentos finais antes de sua aposentadoria. Quatro reservas também não tiveram seus contratos renovados: o volante Fernando, o meia chileno Gonzalo Fierro, além de Vander e Jael. E foram contratados três reforços, sendo o principal e mais badalado deles o centroavante Vágner Love, contratado ao CSKA Moscou, da Rússia. Também foram contratados o zagueiro chileno Marcos González, da Universidad de Chile, e o atacante Itamar, que estava no Al Rayyan, do Qatar. Para fechar, regressou ao clube o meia Kléberson, após passagens por empréstimo pelo Atlético Paranaense e pelo Bahia.

O Flamengo era o franco favorito para o bi-campeonato. Porém, como tinha em paralelo a disputa da Libertadores, fez uma pré-temporada mais robusta, optando por jogar com uma equipe alternativa nas quatro primeiras rodadas, e empatando três jogos seguidos sem gols. Mas quando o time titular fez sua estreia, venceu três jogos seguidos e garantiu a classificação à semi-final da Taça Guanabara, na qual enfrentou ao Vasco. Depois de ter saído na frente na partida disputada no Engenhão, com gol de Vágner Love logo nos primeiros minutos de jogo, sofreu a virada, com gols de Alecsandro e Diego Souza, ficando de fora da final.

Na Taça Rio, o time começou mal, tropeçando na estreia com uma derrota para o Boavista, mas depois embalou, vencendo os sete jogos seguintes e garantindo a classificação para a semi-final, na qual o adversário seria novamente o Vasco. O filme foi quase o mesmo do 1º turno, com Vágner Love abrindo o placar logo nos primeiros minutos, e o time rubro-negro sofrendo a virada, com um gol de Éder Luís e dois do meia Felipe. No 2º tempo, Kléberson ainda diminuiu, mas o time não conseguiu nada além disso, com a derrota por 3 x 2 eliminando-o. Com duas eliminações para o Vasco, uma na semi-final de cada turno, o ambiente político no clube ferveu.

Flamengo no Carioca de 2012
Felipe, Leonardo Moura, Welinton, David Bráz e Júnior César; Muralha (Willians), Luiz Antônio, Dario Bottinelli e Ronaldinho Gaúcho; Deivid e Vágner Love
Téc: Joel Santana
Banco: Paulo Victor, Marcos González, Maldonado, Kléberson, Renato Abreu, Negueba e Diego Maurício

O primeiro desafio rubro-negro na Libertadores da América de 2012 era na etapa eliminatória anterior à fase de grupos, e o adversário era o Real Potosí, da Bolívia, que mandava seus jogos a mais de 4 mil metros de altitude. No primeiro jogo, como visitante, o time perdeu de virada por 2 x 1. Mas com o gol feito na altitude, bastava uma vitória simples por um gol no Engenhão. Em casa, o time abriu vantagem logo na primeira etapa, mas demorou para consumar a vitória, só conseguindo com Ronaldinho Gaúcho aos 45 minutos do 2º tempo, colocando o 2 x 0 definitivo no marcador.

O Flamengo caiu então num grupo que não era considerado dentre os mais difíceis, reunindo a Lanus, da Argentina, Emelec, do Equador, e Olímpia, do Paraguai. Nos três primeiros jogos, empatou fora de casa com os argentinos e venceu aos equatorianos. Na terceira partida, contra o Olimpia, no Engenhão, vencia por 3 x 0 até os 32 minutos do 2º tempo. A vitória levaria o time aos 7 pontos e o deixaria numa situação bastante confortável para obter a classificação. Porém, o impensável aconteceu, os paraguaios marcaram três gols nos minutos finais e a partida terminou 3 x 3.

As duas partidas seguintes eram fora de casa, a primeira em Assunção e a segunda em Guayaquil. O Flamengo perdeu ambas por 3 x 2, e sua situação ficou matematicamente muito complicada para obter a classificação: o Lanus era o líder com 10 pontos e já estava classificado, o Olímpia, em segundo, tinha 7 pontos, o Emelec 6 e o Flamengo, em último, tinha 5. Na última rodada, o time rubro-negro receberia ao Lanus no Engenhão, precisava vencer, mas ainda assim só se classificaria se Olímpia e Emelec empatassem em Assunção. Uma vitória de qualquer um dos dois eliminava o time rubro-negro.

O Flamengo venceu com tranquilidade, aplicando 3 x 0 no Lanus. Enquanto isto, em Assunção, acontecia um dramalhão hispano-americano! Aos 46 minutos do 1º tempo o Olímpia saiu na frente, gol de Castorino. Aos 22 do 2º tempo, o Emelec empatou, gol do argentino Mondaini. O empate, que classificaria o Flamengo, sustentou-se até os 43 minutos do 2º tempo, quando Angel Mena colocou o Emelec a frente. As emoções ainda estavam longe de terminar. Aos 47 minutos, o camisa 10 paraguaio Pablo Zeballos voltou a empatar o jogo. A classificação voltava a ser do Flamengo. No Engenhão, com o jogo já encerrado, os jogadores rubro-negros receberam a notícia do gol de empate ainda dentro de campo, e comemoraram. Mas lá em Assunção, dada a saída e, aos 48 minutos, o camisa 5 equatoriano Jose Luis Quiñonez fez o gol que colocou 3 x 2 a favor do Emelec no marcador. No Rio de Janeiro, o lateral Leonardo Moura dava entrevista à TV com um fone de ouvido, escutando a narração dos minutos finais na capital paraguaia, e com um sorriso no rosto, que logo virou um semblante fechado ao escutar e receber a confirmação do gol do Emelec. O Flamengo estava eliminado prematuramente logo na Fase de Grupos da Libertadores, repetindo o vexame que havia acontecido em 2002.

Flamengo na Libertadores de 2012
Felipe, Leonardo Moura, Marcos González, David Bráz e Júnior César; Muralha, Luiz Antônio, Dario Bottinelli e Ronaldinho Gaúcho; Deivid e Vágner Love
Téc: Joel Santana
Banco: Paulo Victor, Welinton, Willians, Camacho, Thomás, Renato Abreu e Negueba

Apesar dos fracassos no Carioca e na Libertadores, deu-se continuidade ao trabalho de Joel Santana como técnico. E o elenco sofreu algumas modificações. Para fazer caixa, Willians foi vendido para a Udinese, da Itália. O zagueiro David Bráz e o lateral-direito reserva Rafael Galhardo, formado na base rubro-negra, seguiram para o Santos. E também saíram três jogadores que estavam sem espaço no elenco: o zagueiro Gustavo, o lateral-esquerdo Rodrigo Alvim, e o centroavante Itamar.

Para reforçar o time, a principal aposta foi no regresso ao clube do meio-campista Ibson, que estava no Santos. Junto a ele chegaram outros três reforços: o volante paraguaio Victor Cáceres, do Libertad, o lateral-esquerdo Ramon, ex-Vasco, que estava na reserva do Corinthians, e o centroavante Hernane, o "Brocador", do Mogi-Mirim, destaque da recém-concluída edição do Campeonato Paulista. A diretoria também decidiu apostar na contratação de 5 jogadores de clubes de menor expressão que tinham se destacado no recém-concluído Campeonato Carioca: o lateral-direito Wellington Silva, do Resende, a dupla de zaga do Madureira formada por Thiago Medeiros e Artur Sanches, o volante Amaral, do Nova Iguaçu, e o meia Jorge Luís, do Friburguense.

O ambiente estava turbulento, principalmente porque as finanças continuavam debilitadas. E após dois empates nas duas primeiras rodadas, contra Sport Recife e Internacional, estourou a bombástica notícia de que Ronaldinho Gaúcho estava trocando o Flamengo pelo Atlético Mineiro, para onde também seguiu o lateral-esquerdo Júnior César.

Após a 11ª rodada, após duas derrotas seguidas para Corinthians e Cruzeiro, a diretoria optou pela demissão de Joel Santana. Até ali, a campanha era de 4 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, com um aproveitamento de 45% dos pontos disputados. O escolhido para substituí-lo foi Dorival Júnior, técnico campeão paulista de 2010 com o Santos e campeão gaúcho de 2012 com o Internacional. O desempenho com o novo treinador nas últimas 8 rodadas do turno foi de 50%, ligeiramente superior ao de Joel, foram 3 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, ambas fora de casa, para Palmeiras e São Paulo, nesta última com o time tendo sido goleado por 4 x 1. O Flamengo fazia uma campanha de meio de tabela.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2012
Paulo Victor, Leonardo Moura, Welinton, Marcos González e Ramon (Magal); Aírton (Victor Cáceres), Luiz Antônio, Ibson, Adryan (Dario Bottinelli) e Renato Abreu; Vágner Love
Téc: Joel Santana, depois Dorival Júnior
Banco: Felipe, Wellington Silva, Marllon, Amaral, Thomás, Matheus, Negueba e Hernane

O elenco para o returno sofreu pequenas modificações, sobretudo no ataque, com Diego Maurício, cria da base rubro-negra, tendo sido vendido ao Alania Vladikavkaz, da Rússia, e o centroavante Deivid tendo saído, rumando para o Coritiba. Das apostas em reforços contratados a times pequenos do Rio, Thiago Medeiros, Artur Sanches e Jorge Luís deixaram a Gávea. E foram contratados 4 reforços: o zagueiro Renato Santos, do Avaí, os meias Wellington Bruno, do Ipatinga, e Cléber Santana, que também estava no Avaí, além do veterano centroavante Liédson, do Corinthians, que vestia pela segunda vez a camisa rubro-negra, já que havia atuado no clube dez anos antes, em 2002.

A campanha no returno começou bastante fraca. Após ser goleado por 4 x 1 pelo Internacional no Beira-Rio, em Porto Alegre, na 1ª rodada, seguiram-se mais três derrotas, para Ponte Preta, Coritiba e Santos, seguidas por um empate em casa contra o Grêmio. Com a sequência ruim, o time caiu para a 16ª colocação na tabela, uma acima do início da Zona de Rebaixamento. Respirou um pouco após duas vitórias seguidas, como visitante contra o Atlético Goianiense e como mandante contra o Atlético Mineiro. Mas passou outras cinco rodadas sem vencer, nas quais perdeu para Fluminense e Corinthians, e empatou com Bahia, Cruzeiro e Portuguesa de Desportos, regressando à 15ª colocação.

Faltando sete rodadas para o fim do campeonato, o time enfim conseguiu encaixar uma sequência de resultados suficiente para afastá-lo da zona de perigo. Venceu ao São Paulo no Engenhão por 1 x 0, empatou fora de casa com o Atlético Mineiro, e venceu em sequência a Figueirense e Náutico. Já fora de perigo, nas três últimas rodadas empatou com Palmeiras, Vasco e Botafogo, terminando o campeonato em 11º lugar. Dorival terminou com um aproveitamento de conquista de 43% dos pontos que disputou nas 27 rodadas a frente do time (8 vitórias, 11 empates e 8 derrotas), praticamente o mesmo desempenho percentual de Joel Santana nas 11 primeiras rodadas. Uma campanha de meio de tabela, com direito a momentos de sufoco.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2012
Felipe, Wellington Silva, Renato Santos, Marcos González e Ramon; Amaral, Ibson, Cléber Santana e Adryan (Leonardo Moura); Liédson e Vágner Love
Téc: Dorival Júnior
Banco: Paulo Victor, Frauches, Luiz Antônio, Dario Bottinelli, Renato Abreu, Wellington Bruno e Hernane

Na eleição que ocorreu no fim de 2012, um grupo de executivos bem-sucedidos nas suas vidas empresariais foi eleito, com Eduardo Bandeira de Mello no cargo de presidente, assumindo a gestão do clube e prometendo uma revolução financeira de longo prazo. Antes, porém, seriam necessários alguns anos de esforço, cujo principal objetivo seria gerar novas receitas para diminuir o nível de endividamento do clube, recuperando sua saúde financeira.

As primeiras medidas de austeridade incluíram a devolução de Vágner Love ao CSKA Moscou junto a um acordo de anulação da dívida sobre a aquisição do centroavante, e a saída durante o Campeonato Carioca, meramente por questões financeiras, do treinador Dorival Júnior em troca de um nome que fosse mais barato. Diminuindo a quantidade de jogadores no elenco para aliviar a folha salarial, saíram Wellington Silva, Welinton, Magal, Aírton, Muralha, Maldonado, Camacho, Bottinelli, Wellington Bruno, Negueba e Liédson. Saíram 12 jogadores, houve o retorno de Alex Silva, que havia estado por empréstimo no Cruzeiro, e foram contratados apenas 5 reforços: o zagueiro Wallace Reis, do Corinthians, o lateral-esquerdo João Paulo, da Ponte Preta, o volante Elias, ex-Corinthians, que estava no Sporting, de Portugal, e os meias Gabriel, do Bahia, e Carlos Eduardo, ex-Grêmio, que estava no Rubin Kazan, da Rússia. E foi dado mais espaço para nomes que estavam subindo do sub-20, como Samir, Rodolfo, Rafinha e Nixon.

Durante a Taça Guanabara o técnico ainda foi Dorival Júnior. Na fase inicial, o time venceu sete das oito partidas que disputou, empatando apenas com o Madureira. Na semi-final, caiu por 2 x 0 para o Botafogo. Apesar da boa campanha, razões financeiras, já que o técnico não aceitou rever seu contrato e reduzir seu salário, levaram à troca dele. O nome escolhido para substituí-lo era o de um ídolo na história rubro-negra, o lateral-direito Jorginho. Porém, foi uma aposta muito arriscada, pois ele estava apenas iniciando a sua carreira de treinador. O ex-auxiliar de Dunga na Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010, havia tido como trabalho de maior destaque a 7ª colocação com o Figueirense no Brasileirão de 2011, chegando ao Flamengo após um trabalho no Kashima Anthlers, do Japão.

Na Taça Rio, o time sofreu derrotas para Resende e Audax Rio, além de haver empatado com Boavista e Duque de Caxias, sequer obtendo a classificação para as semi-finais, tendo as vagas de seu grupo ficado com Fluminense e Resende. Um fiasco enorme, e muita pressão interna e externa, mas a diretoria se manteve firme em sua política de austeridade financeira.

Flamengo no Carioca de 2013
Felipe, Leonardo Moura, Wallace (Renato Santos), Marcos González e João Paulo; Amaral (Victor Cáceres), Elias, Ibson (Gabriel) e Rodolfo; Rafinha e Hernane
Téc: Dorival Júnior, depois Jorginho
Banco: Paulo Victor, Alex Silva, Cléber Santana, Renato Abreu, Carlos Eduardo e Nixon

Após o fracasso no Carioca, a diretoria deu prosseguimento ao trabalho de renovação do elenco. Para fazer caixa, vendeu o jovem meia Thomás ao Siena, da Itália. E providenciou a saída de quatro jogadores do elenco que já estavam com idade mais avançada: o meia Renato Abreu seguiu para o Santos, Ibson para o Corinthians, Cléber Santana para o Avaí, e o zagueiro Alex Silva para o Boa Esporte, de Minas Gerais. Firme na política de austeridade financeira, contratou três reforços pontuais: o veterano zagueiro Chicão, do Corinthians, o lateral-esquerdo André Santos, que estava por empréstimo no Grêmio e com passe vinculado ao Arsenal, da Inglaterra - regressava à Gávea, por onde já havia passado em 2005 - e ainda ao centroavante Marcelo Moreno, filho de brasileiros mas que defendia à Seleção da Bolívia. Adicionalmente, foi feita a aposta em 4 jogadores que tinham chamado atenção por clubes de menor expressão no Campeonato Paulista daquele ano: o volante Val, do Mogi Mirim, o meia Bruninho, do Atlético Sorocaba, e dois jogadores do XV de Piracicaba, o volante Diego Silva e o ponta Paulinho.

Mesmo após o fiasco na Taça Rio, foi dada continuidade ao trabalho de Jorginho como técnico rubro-negro. Mas os resultados não chegaram, e não tardou para que ele fosse substituído. Ele ficou no cargo apenas até a 4ª rodada, após 2 empates, e 2 derrotas para Ponte Preta e Náutico. A diretoria logo entendeu que seria necessário abrir uma brecha na política de contenção de gastos para permitir a chegada de um treinador renomado e mais experiente. O escolhido foi Mano Menezes, que tinha no curriculum dois títulos da Série B do Brasileirão, com o Grêmio em 2005 e com o Corinthians em 2008, além de haver sido bi-campeão gaúcho com o Grêmio em 2006 e 2007, e campeão paulista e da Copa do Brasil com o Corinthians em 2009, títulos que o levaram a ser o técnico da Seleção Brasileira de 2010 a 2012.

Com Mano, o time subiu de produção. Ele comandou à equipe da 6ª à 22ª rodada. Embora não estivesse com um desempenho tão bom - aproveitamento de 41% dos pontos disputados: 5 vitórias, 6 empates e 6 derrotas - a diretoria confiava nela para estruturar um trabalho de longo prazo. No entanto, após a 22ª rodada ele pediu demissão. A verdade é que dias antes Tite havia sido demitido do Corinthians, e aquele era o cargo que ele aspirava, tanto que logo depois de se desligar do Flamengo, assumiu como novo treinador corinthiano.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2013
Felipe, Leonardo Moura, Wallace, Marcos González e João Paulo; Luiz Antônio, Elias, Gabriel e André Santos (Carlos Eduardo); Paulinho e Hernane
Téc: Jorginho, depois Mano Menezes
Banco: Paulo Victor, Chicão, Samir, Victor Cáceres, Adryan, Rafinha, Nixon e Marcelo Moreno

Com a saída de Mano Menezes, a diretoria decidiu apostar numa solução caseira, e escolheu o auxiliar-técnico Jayme de Almeida Filho. Ex-zagueiro do clube, e filho de um ex-lateral do clube que também havia sido treinador rubro-negro, era a primeira vez na história do Flamengo que um pai e um filho tinham sido treinadores do futebol do clube. E a troca de técnicos aconteceu justamente às vésperas de uma decisão importante pelo Copa do Brasil, o duelo de quartas de final contra o Botafogo.

O Flamengo havia eliminado ao Remo, do Pará, e ao Campinense, da Paraíba, ainda com Jorginho como treinador. Depois, com Mano, eliminou ao ASA de Arapiraca, de Alagoas, e obteve uma vitória épica no "Novo Maracanã" por 1 x 0 sobre o Cruzeiro, depois de haver perdido por 2 x 1 em Belo Horizonte, com Elias consumando o gol da classificação aos 43 minutos do 2º tempo. O Cruzeiro, líder com larga vantagem no Brasileirão, do qual acabou campeão, era o franco favorito no confronto.

Nas quartas, após empatar o primeiro duelo por 1 x 1, aplicou uma goleada de 4 x 0 sobre o Botafogo diante de mais de 50 mil pagantes no Maracanã, com três gols de Hernane. Avançou então à semi-final, na qual enfrentou ao Goiás. Venceu duas vezes por 2 x 1 e se habilitou para enfrentar ao Atlético Paranaense na final.

A primeira partida foi no Estádio Durival de Brito, em Curitiba. O Flamengo começou em desvantagem, com gol de Marcelo Cirino, mas conseguiu o empate ainda no 1º tempo, com um chutaço do volante Amaral de fora da área. A partida terminou assim: 1 a 1. Com este resultado, um empate sem gols garantia o título ao Flamengo. O Maracanã recebeu 58 mil pagantes, dispostos a empurrar à equipe incondicionalmente. O fantasma da derrota para o Santo André nove anos antes, em 2004, rondava o imaginário de todos. O jogo se arrastou tenso até o final, com um empate sem gols brigado e nervoso. A nação rubro-negra explodiu em emoção aos 42 minutos do 2º tempo, quando Elias, novamente ele, marcou o gol do Flamengo. O Atlético partiu em desespero em busca do empate, e num contra-ataque aos 48 minutos, ainda houve tempo para Hernane marcar o segundo gol rubro-negro. Flamengo, campeão da Copa do Brasil de 2013! O projeto de reestruturação financeira do clube ganhava um saboroso presente de boas-vindas.

Flamengo na Copa do Brasil de 2013
Felipe, Leonardo Moura, Wallace, Samir e André Santos; Amaral, Luiz Antônio, Elias e Carlos Eduardo; Paulinho e Hernane
Téc: Jorginho, depois Mano Menezes, depois Jayme de Almeida Filho
Banco: Paulo Victor, Chicão, Marcos González, João Paulo, Victor Cáceres, Diego Silva, Gabriel, Rafinha e Nixon

Com Jayme de Almeida comandando a equipe a partir da 23ª rodada, o time arrancou no novo trabalho com cinco jogos sem perder, goleando ao Criciúma por 4 x 1 no Maracanã, vencendo ao Coritiba fora de casa e ao Internacional em casa, e empatando com Náutico e Vasco. No saldo das 16 rodadas com ele no comando, o time teve um aproveitamento de conquista de 48% dos pontos disputados, com 6 vitórias, 5 empates e 5 derrotas. Um aproveitamento superior ao do "bem mais caro do que ele" Mano Menezes.

O Flamengo fez, pelo segundo ano consecutivo, uma campanha de meio de tabela. Teria terminado em 11º lugar, porém perdeu 6 pontos, numa história bastante confusa na 38ª e última rodada. Todos os jogos seriam no domingo no mesmo horário à exceção de Flamengo x Cruzeiro, antecipado para as 19h de sábado (jogo finalizado por volta das 21h do mesmo dia) porque os dois times não tinham mais aspirações a nada, e tampouco corriam risco de nada. O lateral-esquerdo André Santos havia sido expulso no segundo jogo da final da Copa do Brasil contra o Atlético Paranaense nos acréscimos, depois do Flamengo ter marcado o gol que lhe garantiu o título. Na véspera da 38ª rodada, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva havia julgado o caso e aplicado um jogo de suspensão, e como a Copa do Brasil havia se encerrado, determinou que o jogador deveria cumprir a punição na última rodada do Brasileirão. O Flamengo não atentou a isso, e o lateral entrou em campo. Após o fim da 38ª rodada, Fluminense e Vasco estavam matematicamente rebaixados à 2ª Divisão. Com a perda dos 6 pontos, o Flamengo ficava com pontuação inferior à do Fluminense, e seria rebaixado junto ao Vasco. Porém, no mesmo julgamento que suspendeu André Santos, o STJD julgou Héverton, da Portuguesa de Desportos, e lhe havia dado um 2º jogo de suspensão além do que já havia cumprido. A Portuguesa também escalou o jogador irregularmente e também foi condenada à perda de 6 pontos. Vasco e Portuguesa acabaram assim rebaixados, e o Flamengo caiu do 11º para o 16º lugar na tabela.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2013
Paulo Victor (Felipe), Leonardo Moura, Wallace, Samir (Chicão) e André Santos (João Paulo); Amaral, Luiz Antônio, Elias e Carlos Eduardo (Gabriel); Paulinho e Hernane
Téc: Mano Menezes, depois Jayme de Almeida Filho
Banco: César, Marcos González, Diego Silva, Adryan, Bruninho e Rafinha

Ainda sob um esforço para contenção de despesas, o clube deu continuidade ao trabalho do técnico Jayme de Almeida e não fez nenhuma contratação badalada e custosa. O elenco teve baixas, com a saída de Elias, que aceitou proposta do Sporting, de Portugal, e com a não continuidade dos contratos de Marcos González e Marcelo Moreno. Das quatro apostas feitas no ano anterior em jogadores do interior de São Paulo, três não foram aproveitados: Val, Diego Silva e Bruninho. E dois jovens foram emprestados para ganhar rodagem e experiência: Adryan para o Cagliari, da Itália, e Rafinha para o Bahia. Por outro lado, buscando evoluir frente ao trabalho da temporada anterior, o clube contratou 8 reforços no início de 2014: o veterano meia Elano, então no Grêmio, o volante Márcio Araújo, do Palmeiras, o centroavante Alecsandro, do Atlético Mineiro, dois jogadores titulares do time do Atlético Paranaense sobre quem havia vencido a Copa do Brasil, o lateral-direito Léo Morais e o meia Éverton (que regressava ao clube onde havia estado em 2009), além do zagueiro equatoriano Frickson Erazo, contratado ao Barcelona de Guayaquil, e do meia argentino Lucas Mugni, contratado ao Colón. Para fechar, apostou no jovem volante Feijão, do Bahia, e teve ainda o regresso de dois jovens que estavam emprestados: Muralha e Negueba. Fazia-se a aposta num elenco que ainda estava longe de permitir grandes aspirações, já que a diretriz continuava sendo a de entregar um ordenamento financeiro de médio a longo prazo que diminuísse a pressão dos encargos de dívida sobre o fluxo de caixa do futebol rubro-negro.

A forma de disputa do Campeonato Carioca mudou em 2014, com 16 clubes jogando em turno único, com os quatro primeiros avançando para fazer a semi-final do Estadual. Para que o time titular tivesse uma preparação física e tática mais adequada para a disputa da Libertadores, nas duas primeiras rodadas foi lançado a campo um time alternativo, mesclando reservas e juniores, mas que cumpriu seu papel, obtendo duas vitórias por 1 x 0, sobre Audax Rio e Volta Redonda. Na Taça Guanabara, o elenco rubro-negro se impôs com folga sobre os demais, e nas quinze rodadas venceu doze vezes, empatando com Duque de Caxias e Bangu, e perdendo uma única vez, para o Fluminense. Nas semi-finais, o Flamengo enfrentou à Cabofriense, que ficou com a quarta colocação, deixando o Botafogo (que foi apenas o 9º) de fora da decisão do título. O time rubro-negro não teve dificuldade alguma, vencendo aos dois duelos por 3 x 0 e 3 x 1, e avançando para enfrentar ao Vasco na final. Era a primeira vez desde a final da Copa do Brasil de 2006 que os dois rivais voltavam a se encontrar numa decisão de campeonato. Pela melhor campanha, o time rubro-negro tinha a vantagem de dois resultados iguais para ser decretado o campeão.

No primeiro jogo, o time rubro-negro saiu em desvantagem, com um gol do zagueiro Rodrigo no 1º tempo, mas empatou com o ponta Paulinho aos 15 minutos do 2º tempo. E as emoções ficaram nisso. Na segunda partida, os vascaínos saíram novamente em vantagem, desta vez com um gol do meia Douglas já aos 30 minutos do 2º tempo. E parecia que nada impediria aos cruzmaltinos de vingarem as derrotas consecutivas em 1999, 2000, 2001, 2004 e 2006. Porém, aos 46 minutos do 2º tempo, Léo Moura cobrou escanteio na área e o zagueiro Wallace mandou uma cabeçada na trave, a bola atravessou a pequena área em diagonal, por trás do goleiro, e Mário Araújo e Nixon correram em direção a ela, chegando quase juntos; mas foi Márcio Araújo quem tocou para dentro das redes. A massa rubro-negra explodiu no Maracanã, que recebia mais de 49 mil pagantes! E a repetição do lance na televisão mostrou que no momento do toque de Wallace, o volante rubro-negro estava a frente da última linha de marcadores vascaína, no que seria um impedimento que nem árbitro nem auxiliar viram. Com dramaticidade e emoção, o Flamengo era novamente campeão carioca sobre o Vasco.


Flamengo no Carioca de 2014
Felipe, Leonardo Moura, Wallace, Samir e André Santos (João Paulo); Márcio Araújo, Amaral, Luiz Antônio (Gabriel) e Éverton; Paulinho e Alecsandro
Téc: Jayme de Almeida Filho
Banco: Paulo Victor, Victor Cáceres, Muralha, Lucas Mugni, Negueba, Nixon e Hernane

Como campeão da Copa do Brasil, o Flamengo disputou a Libertadores da América de 2014. Caiu num grupo que não era dos mais complicados, junto ao León, do México, o Emelec, do Equador, e o Bolívar, da Bolívia. Mas se o sorteio dos grupos lhe facilitou a vida, ele mesmo tratou sozinho de complicá-la. Na estreia, viajou ao México e foi derrotado pelo León. Tinha então dois jogos seguidos no Maracanã para se recuperar. Venceu o primeiro sobre o Emelec, mas empatou por 2 x 2 com o Bolívar no seguinte. Com apenas quatro pontos conquistado, tinha uma missão difícil pela frente, principalmente porque a partida seguinte era na altitude de La Paz.

O time perdeu para o Bolivar e, agonizante, foi a Guayaquil, onde conseguiu uma vitória por 2 x 1 sobre o Emelec que o colocava novamente na briga pela vaga nas oitavas de final. A última partida era no Maracanã contra o León, e com uma vitória simples, o Flamengo não dependeria de mais ninguém para obter a classificação. Saiu atrás no marcador, mas nove minutos depois empatou. Dada a saída, tomou um novo gol, mas de novo reagiu, voltando a deixar a partida igualada três minutos depois. O jogo se arrastou empatado até os 39 minutos do 2º tempo, quando Carlos Peña marcou 3 a 2 a favor do León. Pela segunda participação consecutiva, o Flamengo era eliminado logo na Fase de Grupos da Libertadores.

Flamengo na Libertadores de 2014
Felipe, Leonardo Moura, Wallace, Samir e André Santos; Amaral, Muralha, Elano e Éverton; Paulinho e Alecsandro
Téc: Jayme de Almeida Filho
Banco: Paulo Victor, Chicão, João Paulo, Victor Cáceres, Lucas Mugni, Gabriel e Hernane

Apesar da eliminação precoce na Libertadores, o título Carioca mantinha a confiança da diretoria no trabalho, ainda que fosse crescente os questionamentos à capacidade de Jayme de Almeida. O elenco foi pouco mexido, tendo havido as saídas de Carlos Eduardo e Feijão, e poucas contratações, tendo as duas principais sido as chegadas do volante argentino Héctor Canteros, do Vélez Sarsfield, e do atacante brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva, contratado ao Shakthar Donetsk, da Ucrânia. Como apostas, também foram contratados o zagueiro Marcelo, do Volta Redonda, e o centroavante Arthur Caíke, do Londrina.

O Flamengo começou o campeonato com uma campanha horripilante, que lhe fez passar algumas rodadas na última colocação. A vida extra dada a Jayme de Almeida durou somente até a 4ª rodada. Depois de 1 vitória (4 x 2 no Palmeiras), 1 empate e 2 derrotas, o treinador foi demitido do cargo. Para o seu lugar a escolha foi por Ney Franco. O treinador havia tido sua primeira grande chance no futebol brasileiro justamente no Flamengo, entre 2006 e 2007. Após sair do clube, ele passou por Atlético Paranaense e Botafogo, e entre 2010 e 2012 foi o técnico da Seleção Brasileira Sub-20, tendo conquistado o Sul-Americano e o Mundial da categoria em 2011. Em 2012 ainda foi campeão da Copa Sul-Americana comandando ao São Paulo, tendo voltado ao Flamengo após passar por Coritiba e Vitória.

Mas o desempenho com Ney Franco não melhorou, ao contrário: ele comandou a equipe da 5ª até a 11ª rodada e não venceu! Nenhuma vitória nas sete partidas no comando do time, incluindo uma goleada sofrida de 4 x 0 para o Internacional no Beira-Rio, em Porto Alegre. Foi demitido após 3 empates e 4 derrotas.

E o escolhido para substituí-lo foi novamente Vanderlei Luxemburgo, contratado para sua quarta passagem pelo Flamengo. Depois de ter sido o treinador de Grêmio e Fluminense após sua última saída do clube, muitos críticos o viam como um técnico ultrapassado, já que havia muitos anos que não conquistava títulos de expressão. Mas com ele, a tendência mudou e o time passou a crescer constantemente na tabela. O time encaixou cinco vitórias consecutivas entre a 14ª e a 18ª rodadas, superando ao Sport Recife e ao Atlético Mineiro como mandante, e a Coritiba, Criciúma e Vitória como visitante.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2014
Paulo Victor, Leonardo Moura, Wallace, Marcelo (Samir) e João Paulo; Márcio Araújo, Luiz Antônio, Canteros (Lucas Mugni) e Éverton; Paulinho e Alecsandro
Téc: Jayme de Almeida Filho, depois Ney Franco, depois Vanderlei Luxemburgo
Banco: Felipe, Chicão, André Santos, Victor Cáceres, Amaral, Gabriel, Negueba, Eduardo da Silva e Arthur Caíke

E as necessidades financeiras e rearrumações de elenco exigiam constantes replanejamentos com a competição em curso. Durante aquele Brasileirão, o centroavante Hernane foi vendido ao Al Nassr, da Arábia Saudita, e os veteranos André Santos e Elano deixaram o clube. Para repor a saída de Hernane, foi contratado o centroavante Élton, ex-Vasco e Corinthians, e então no Al Nassr, da Arábia Saudita. Para a lateral-esquerda, Luxemburgo convidou Ânderson Pico, ex-jogador do Grêmio e então desempregado, para reforçar ao elenco.

O trabalho de Vanderlei Luxemburgo terminou com um bom aproveitamento de 56% dos pontos que disputou. Nas 27 rodadas em que comandou a equipe, obteve 13 vitórias, 6 empates e 8 derrotas. O time, mais uma vez, pelo terceiro ano consecutivo, terminou o campeonato numa posição intermediária. Apesar da péssima primeira metade de 1º turno, em que passou rodadas na última posição, recuperou-se e não correu qualquer risco de rebaixamento, mas ao mesmo tempo esteve todo o tempo bem longe da briga por vaga na Libertadores do ano seguinte.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2014
Paulo Victor, Leonardo Moura, Wallace, Marcelo (Chicão) e João Paulo (Ânderson Pico); Márcio Araújo, Canteros, Gabriel (Luiz Antônio) e Éverton; Eduardo da Silva e Élton (Nixon)
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: César, Samir, Victor Cáceres, Lucas Mugni e Alecsandro

No início de 2015 a diretoria anunciou que os frutos da reestruturação financeira iriam começar a ser colhidos. E como grande contratação anunciou a compra do passe do ponta Marcelo Cirino, do Atlético Paranaense. Junto a ele foram contratados também dois jogadores do Grêmio, o lateral-direito Pará e o zagueiro Bressan, que chegava ao clube por empréstimo. Como apostas, foram contratados também o lateral-esquerdo Thallyson, do ASA de Arapiraca, de Alagoas, o volante Jonas, do Sampaio Correa, do Maranhão, e o meia Arthur Maia, do América de Natal. Já a lista de atletas deixando o clube no início da temporada foi bem mais longa: o lateral-direito Leonardo Moura, após 10 anos como titular da posição, aceitou proposta do Fort Lauderdale, dos Estados Unidos; além dele, o goleiro Felipe seguiu para o Figueirense e o lateral-esquerdo João Paulo para o Palmeiras; também deixaram o clube Léo Morais, Erazo, Chicão, Amaral, Muralha, Negueba, Arthur Caíke e Élton.

O Campeonato Carioca foi novamente disputado em turno único, com os quatro melhores colocados avançando para fazer a semi-final. O Flamengo foi o líder da Taça Guanabara até a penúltima rodada, mas com um empate sem gols contra o Nova Iguaçu perdeu o título do turno e o 1º lugar no chaveamento semi-final para o Botafogo. Ainda assim, avançou com a vantagem de dois resultados iguais contra o Vasco para se habilitar à luta pelo bi-campeonato. Porém, acabou derrubado pelo rival. Após um empate na primeira partida, perdeu a segunda por 1 x 0, com gol irregular marcado pelo centroavante Gilberto, sendo eliminado.

Flamengo no Carioca de 2015
Paulo Victor, Pará, Wallace, Bressan (Samir) e Ânderson Pico; Márcio Araújo, Jonas (Luiz Antônio), Canteros e Gabriel; Marcelo Cirino e Alecsandro
Téc: Vanderlei Luxemburgo
Banco: César, Victor Cáceres, Arthur Maia, Lucas Mugni, Éverton, Nixon e Eduardo da Silva

O Flamengo voltou a se esforçar para ser ousado no mercado, apostando como principal reforço para o Brasileirão de 2015 na contratação do veterano atacante do Corinthians Emerson Sheik, que havia se destacado para o futebol brasileiro com a camisa rubro-negra em 2009. Apostou também nas chegadas de dois jogadores do Palmeiras, o lateral-direito Ayrton e o meia Alan Patrick, este último emprestado pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Também foi buscar três jogadores na Europa: o zagueiro César Martins, emprestado pelo Benfica, de Portugal, o meia Éderson, da Lazio, da Itália, e o lateral-esquerdo colombiano Pablo Armero, ex-Palmeiras, que estava na Udinese, da Itália. Para fechar o pacote, apostou na contratação do veterano ponta Almir, do Bangu. Com estes 7 reforços, esperava dar mais qualidade ao time de Vanderlei Luxemburgo que havia sido eliminado pelo Vasco no Estadual. Em rota oposta, o clube não deu continuidade aos contratos de Lucas Mugni, Alecsandro e Thallyson.

A derrota que eliminou o clube do Campeonato Carioca deixou uma ferida aberta, e a pressão e a desconfiança sobre o trabalho do treinador eram crescentes. Os tradicionais caldeirões de fritura interna e externa que sempre rondam o clube de massa quando as coisas não saem dentro do esperado estavam fervendo. Nas três primeiras rodadas do Brasileiro, o time não venceu, perdendo como visitante para São Paulo e Avaí, e empatando como mandante com o Sport Recife. Foi o suficiente para a guilhotina ser acionada e Vanderlei ser demitido.

A escolha do novo treinador foi rápida, e com mais uma vez havendo a aposta num nome iniciante na carreira como treinador: Cristóvão Borges foi o escolhido, técnico que em edições anteriores do Brasileirão foi 2º lugar com o Vasco em 2011 e 6º lugar com o Fluminense em 2014. Porém, o desempenho com ele seguiu ruim, tendo nas dezesseis rodadas seguintes o time obtido 7 vitórias, 1 empate e 8 derrotas (46% de aproveitamento). Nem mesmo a chegada de um reforço de peso mudou isto. Num ousado movimento de mercado, o Flamengo tirou o centroavante peruano Paolo Guerrero do Corinthians, ídolo no clube, autor do gol sobre o Chelsea que deu o título do Mundial Interclubes de 2012 ao alvi-negro paulista. Ele fez sua estreia na 12ª rodada, fez gols, mas o time seguiu numa posição intermediária na tabela.

Flamengo no 1º Turno do Brasileiro de 2015
César, Pará (Ayrton), Wallace, Samir e Jorge; Márcio Araújo, Jonas (Alan Patrick), Canteros e Éverton; Marcelo Cirino e Emerson Sheik
Téc: Vanderlei Luxemburgo, depois Cristóvão Borges
Banco: Paulo Victor, Marcelo, Luiz Antônio, Gabriel, Paulinho, Eduardo da Silva e Paolo Guerrero

Para o returno houve a saída de quatro jogadores, com Bressan regressando ao Grêmio ao fim do empréstimo, e três jogadores sendo vendidos, todos reservas: o paraguaio Victor Cáceres para o Al Rayyan, do Qatar, Ânderson Pico para o Dnipro, da Ucrânia, e Arthur Maia para o Kawasaki Frontale, do Japão. Durante o returno ainda houve também a saída de Eduardo da Silva. Antes, porém, houve a chegada do centroavante Kayke, revelado na base rubro-negra e que estava se destacando como artilheiro na Série B pelo ABC, do Rio Grande do Norte.

A principal mudança, no entanto, foi a aposta num novo treinador, após a última rodada do 1º turno, quando o time caiu por 4 x 2 para o Palmeiras na capital paulista, a diretoria demitiu a Cristóvão Borges, e apostou no regresso ao clube de Oswaldo de Oliveira, que havia sido o treinador rubro-negro doze anos antes, em 2003, quando rompeu seu vínculo pedindo demissão. Desde então, havia passado por Corinthians, Santos, Fluminense, Cruzeiro, Botafogo e Palmeiras, além do futebol dos Emirados Árabes e do Japão, tendo neste período sido campeão japonês de 2011 com o Kashima Anthlers, campeão carioca de 2013 com o Botafogo, e vice-campeão paulista de 2014 com o Santos.

Mas o trabalho do novo treinador não evoluiu em relação ao do técnico anterior, provando que a limitação estava no time, e que as expectativas sobre a equipe após as chegadas de Emerson Sheik e Paolo Guererro é que eram desproporcionais. O elenco ainda precisava de mais investimento para entregar mais do que estava entregando. Com Oswaldo de Oliveira, o time no returno conseguiu 8 vitórias, 2 empates e 9 derrotas, conquistando 46% dos pontos que disputou, e terminando o Brasileiro como 12º colocado.

Flamengo no 2º Turno do Brasileiro de 2015
Paulo Victor, Pará, Wallace, César Martins e Jorge; Márcio Araújo, Canteros, Alan Patrick e Éverton; Emerson Sheik (Paulinho) e Paolo Guerrero (Kayke)
Téc: Oswaldo de Oliveira
Banco: César, Ayrton, Samir, Jonas, Luiz Antônio, Gabriel, Éderson e Marcelo Cirino


Entre 2007 e 2015, o Flamengo dominou o cenário estadual, tendo conquistado 5 vezes ao Campeonato Carioca, contra 2 títulos do Botafogo, 1 do Fluminense e 1 do Vasco. E no acúmulo histórico, durante este período ultrapassou ao Fluminense e se tornou o maior conquistador do torneio do Rio de Janeiro em todos os tempos. Mas a nível nacional, via o cenário continuar a ser dominado pelo crescente poderio dos clubes paulistas. Neste intervalo de nove anos, o título do Campeonato Brasileiro foi conquistado 2 vezes por São Paulo, Corinthians, Fluminense e Cruzeiro, e 1 vez pelo Flamengo. No acúmulo histórico de 1971 a 2015, o Corinthians e o São Paulo tinham igualado os mesmos 6 títulos do Flamengo; o Palmeiras e o Vasco tinham 4; o Cruzeiro, o Fluminense e o Internacional tinham 3; o Santos e o Grêmio tinham 2, e o Botafogo, o Atlético Mineiro, o Guarani, o Coritiba, o Bahia e o Atlético Paranaense tinham 1. Mas foi neste período que a CBF determinou que os títulos da Taça Brasil (de 1959 a 1968) e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (de 1967 a 1970) também deveriam ser computados como títulos brasileiros. Adicionando o Roberto Gomes Pedrosa, o Palmeiras passava a ter 8 títulos, sendo o maior vencedor, enquanto o Fluminense passava a 4 e o Santos a 3. Com a adição dos títulos da Taça Brasil, o Palmeiras passava a 10, o Santos a 8, o Cruzeiro a 4, e o Botafogo e o Bahia a 2 títulos. O clube precisava recuperar seu protagonismo no cenário nacional. E sinais de recuperação já tinham aparecido...

De 1993 a 2006, o Flamengo havia ficado somente uma única vez entre os cinco primeiros colocados do Campeonato Brasileiro. Em 2007, 2008 e 2009, o Flamengo ficou três vezes consecutivas entre os cinco primeiros do Brasileirão. Entre 2006 e 2009, o clube foi Tri-Campeão Carioca 2007-08-09, Campeão da Copa do Brasil de 2006, e Campeão Brasileiro de 2009, o que representava a segunda maior concentração de títulos num intervalo de quatro anos em toda a história rubro-negra de até então, perdendo apenas para as conquistas obtidas entre 1980 e 1983. No intervalo entre 2007 e 2011, o Flamengo obteve o segundo melhor desempenho relativo entre todos os clubes do país no Campeonato Brasileiro, tendo obtido um 1º, um 3º, um 4º e um 5º lugar, perdendo apenas para o São Paulo, que foi duas vezes 1º lugar, uma 3º, uma 6º e uma 9º. Definitivamente, depois do período mais caótico de sua história entre 2002 e 2006, o Flamengo havia iniciado o processo de sua reconstrução, ainda que até 2012 ainda estivesse bastante debilitado financeiramente, com uma dívida crescente e uma fila de credores cobrando-o na justiça, com vários técnicos sendo remunerados ao mesmo tempo - pelas trocas constantes feitas nos nomes que cuidavam da organização tática do time - e vivia metido em problemas para honrar a folha salarial mensal do elenco, não tendo capacidade de realizar investimentos vultuosos sem pedir recursos emprestados a terceiros.

Em 2011, foi uma destas parcerias que viabilizou a contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo. Ele chegou à Gávea com o altíssimo salário sendo bancado pela empresa paulista de marketing esportivo Traffic. A mega-contratação do jogador duas vezes escolhido como o melhor do mundo - em 2004 e 2005, quando defendia ao Barcelona - inflou os egos rubro-negros. Ainda mais quando ele definiu a acirrada disputa entre Flamengo, Grêmio e Palmeiras para o contratar nos seguintes termos: "Nasci no Grêmio, o Palmeiras tem o Felipão e o Flamengo é o Flamengo". O rubro-negro era para ele o único que não precisava de uma explicação. É, porque é. É diferenciado. Para Ronaldinho, o laço com o Grêmio era emocional porque havia sido o clube que o havia revelado para o futebol em sua Porto Alegre natal, com o Palmeiras o laço de gratidão ao então treinador alvi-verde Luiz Felipe Scolari, e o Flamengo porque é o que é, e pronto. O Flamengo não precisa de um motivo!

Mas em 2012, a Traffic saiu da operação e deixou de pagar o salário de Ronaldinho Gaúcho. A diretoria, então comandada pelo presidente Patrícia Amorim, acreditava que conseguiria honrar o estratosférico salário do jogador. Não conseguiu. Os problemas financeiros voltaram a crescer, e o clube regrediu algumas etapas em seu processo de reestruturação. Mas há males que vêm para o bem. Emergiu então um grupo político disposto a organizar financeiramente em definitivo ao clube, inovando na geração de novas receitas, modernizando as estratégias de negócio do clube, e trabalhando para reduzir a dívida, que era a maior dentre todos os clubes de futebol do Brasil. Nas palavras do então vice-presidente de marketing, Luiz Eduardo Baptista: "O potencial de trabalho da marca é tão grande que não temos dúvida do que irá acontecer: o Flamengo vai ter a maior arrecadação do Brasil. Ponto. O que a gente tem dúvida é quando". Foi dito e feito, depois de décadas seguidas nas quais os clubes de São Paulo obtinham a maior quantidade de receita anual arrecadada, o Flamengo passou a ter, por anos consecutivos, a maior receita do futebol brasileiro. E como diz o clássico livro espanhol de Ferran Soriano - "A bola não entra por acaso" - que narra a história de agigantamento econômico do Barcelona no futebol europeu: com um modelo de gestão eficiente e focado na organização financeira, os resultados dentro de campo aparecem. E foi exatamente a partir da reestruturação financeira vivida entre 2013 e 2015 que germinaram as sementes que levaram a um novo período de glórias e conquistas rubro-negras, longe da megalomania de agressivos investimentos sem lastro de outros tempos, e rumando para um período de prudência e investimentos com lastro, que foram revertidos na ampliação da sala de troféus do clube.

A melhoria da gestão financeira se sustentou na queda contínua do endividamento, que caiu pela metade em cinco anos. E credibilidade exige transparência: o processo se iniciou com uma auditoria da dívida e transcorreu com a publicação trimestral de resultados. A dívida que era de quase quatro vezes a receita anual, passou a ser de uma vez e meia ao fim de 2015. A partir de 2013, houve crescimentos subsequentes de receita ano após ano. As novas receitas foram criadas com maior profissionalismo, com o clube focando em análise do valor de sua marca, no aperfeiçoamento das técnicas de marketing, com profissionalização da forma de negociação, mais do que duplicando a capacidade de captação de recursos. Em bilheteria foi onde houve as maiores críticas sofridas ao processo de reestruturação: a elitização do futebol, com o aumento do preço do ingresso. A nova receita se deu pela melhor precificação do valor do espetáculo: com a maximização das receitas dos jogos como mandante, quebrando o paradigma da inelasticidade do preço dos ingressos no futebol. Com o Maracanã modernizado para a Copa do Mundo de 2014, o maior conforto dado aos espectadores viabilizou que houvesse o casamento entre um preço de ingresso mais caro combinado a uma maior presença de torcedores no estádio. Porém, a grande inovação geradora de receita foi através dos benefícios oferecidos através do Programa de Sócios-Torcedores, que geraram uma receita inteiramente nova, que manteve um ritmo de crescimento relativamente constante a cada ano desde sua criação. Assim, na combinação destes dois fatores, o coração da transformação na geração de novas receitas se deu através do financiamento via recursos gerados por seu próprio torcedor. Se alguém procurar por uma fórmula mágica responsável pela revolução que viveu o Flamengo a partir de 2013, não encontrará. E é exatamente esta a beleza a ser desflorada. Toda a transformação pela qual passou, deu-se pura e simplesmente por qualidade de gestão. A fórmula utilizada foi tão só a de explorar a força do que sempre esteve lá: a dimensão desproporcional que tem sua torcida frente aos seus concorrentes.



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