Jogos Inesquecíveis: 31/01/2010 - Flamengo 5 x 3 Fluminense
Um clássico agitado, emocionante, imprevisível, digno dos grandes Fla-Flus da história! O Fluminense vencia por 3 a 1 até o intervalo, mas o Flamengo reagiu e conseguiu uma virada heroica e impressionante no segundo tempo, vencendo por 5 a 3 no Maracanã, mesmo estando com um jogador a menos desde os 17 minutos do 2º tempo. Foi uma vitória gigante! Naquela temporada o trio ofensivo formado por Petkovic, Adriano Imperador e Vágner Love, de quem se esperava muito, não materializou o sucesso que se esperava deles juntos. Ainda assim, apesar do insucesso no campeonato, este Fla-Flu foi um jogaço! Uma partida daquelas que marca a memória dos torcedores para sempre.
Ficha Técnica
31/01/2010 - Flamengo 5 x 3 Fluminense
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 54.726 espectadores)
Gols: Alan (14'1T), Dario Conca (40'1T), Adriano (42'1T), Cássio (45'1T), Vágner Love (7'2T), Kléberson (8'2T), e Adriano (37'2T) e (44'2T)
Fla: Bruno, Gonzalo Fierro (David Bráz), Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Fernando (Willians), Toró, Kléberson e Dejan Petkovic (Vinícius Pacheco); Adriano e Vágner Love.
Téc: Andrade
Flu: Rafael, Mariano, Leandro Euzébio, Gum, Cássio (Kieza) e Júlio César Moraes (Marquinho); Diguinho, Maicon (Willians Santana) e Dario Conca; Éverton Andrade e Alan.
Téc: Alexi Stival, "Cuca"
A História do Jogo
Há jogos que são grandiosos só pelo que foram naqueles noventa minutos jogados dentro de campo, que por si só valem para sempre. Este Fla-Flu de início de temporada de 2010 é um destes casos, válidos pelo que representaram naquele momento, independentemente de que as consequências para o restante do campeonato em si tenham tido pouca relevância.
No início da temporada de 2010 havia uma enorme expectativa em torno do rendimento do time do Flamengo. Esperava-se muito daquela temporada. O time havia fechado o ano de 2009 com uma surpreendente conquista do título de Campeão Brasileiro, com Adriano e Petkovic inspiradíssimos individualmente. Buscando preparar o time para subir um degrau a mais, a diretoria rubro-negra contratou o principal jogador do Palmeiras, o centroavante Vágner Love. Com o poderoso trio ofensivo, esperava-se que muitas glórias fossem vir a ser conquistadas.
O ataque formado por Adriano Imperador e Vágner Love (sendo a palavra "love", amor em inglês) logo foi batizado como o "Império do Amor". O Flamengo era o Tri-Campeão Carioca de 2007, 2008 e 2009, e lutaria em 2010 por um inédito tetra-campeonato, nunca obtido antes em sua história. E ainda havia pela frente a Libertadores da América. O time chegou àquele Fla-Flu sem ainda ter sido derrotado, era a 5ª rodada, de uma total de sete na primeira fase da Taça Guanabara, 1º Turno do campeonato. Tendo superado nas rodadas anteriores a Duque de Caxias, Volta Redonda, Bangu e Americano, o time rubro-negro, apesar das vitórias, ainda não havia apresentado um futebol convincente. O Fla-Flu seria a primeira prova de fogo para o time provar suas reais qualidades.
O Flamengo entrava em campo quase completo, desfalcado apenas do lateral-direito Leonardo Moura, naquela tarde substituído pelo improvisado meia chileno Gonzalo Fierro, que atuou como lateral. De resto era aquele time que Andrade levou ao sucesso no fim do ano anterior, com um meio de campo bastante fechado e super defensivo, apostando nas individualidades da linha ofensiva. Já o Fluminense entrava em campo com um time mais jovem, recheado de garotos formados em seu Centro de Treinamento para as Divisões de Base em Xerém. E entrava em campo desfalcado de seu centroavante Fred, vetado por causa de uma lesão na panturrilha direita. Sua estrela em campo era o seu camisa 10, o criativo e habilidoso meia argentino Dario Conca. O time entrava em campo com três zagueiros, dando sinais de que também se resguardaria defensivamente. E com dois times resguardados defensivamente, ninguém apostava num duelo recheado de gols... mas o futebol é uma caixa de surpresas.
Naquela noite de domingo, depois de ter sido massacrado pelo Fluminense no primeiro tempo, o time rubro-negro conseguiu, não no amor, mas na raça, a materialização de um resultado que parecia improvável. Mesmo com um jogador a menos por mais de trinta minutos - o zagueiro Álvaro foi expulso - o Flamengo virou o placar, marcando quatro gols no segundo tempo. A defesa do Fluminense ainda não havia sofrido nenhum gol em 2010, e levou cinco naquele jogo!
Apesar do desfalque de Fred, o time tricolor teve um primeiro tempo ofensivamente avassalador. Parecia o prenúncio de uma goleada. Sem mobilidade, o trio ofensivo rubro-negro formado por Pet, Vágner Love e Adriano foi facilmente anulado, sobrecarregando o meio-campo, pois a bola cada vez que ia para o campo de ataque, batia na defesa tricolor e voltava. O Flamengo tinha mais posse de bola nos primeiros dez minutos, mas Kléberson e Petkovic tinham dificuldades para municiar a dupla de ataque. A defesa rubro-negra deixava buracos, e o Fluminense soube aproveitar. Logo com quatorze minutos, Alan - o substituto de Fred - colocou a equipe tricolor em vantagem. Diguinho deu um ótimo passe em profundidade para ele nas costas da defesa flamenguista, que falhou na tentativa de fazer a linha de impedimento, tendo Juan deixado o atacante, que estava a frente da dupla de zagueiros, em condições legais de jogo. Alan correu nas costas de Álvaro, ajeitou o corpo, e bateu firme, no canto direito do goleiro Bruno: Flu 1 a 0.
A partir do gol, que foi a primeira chance real no jogo, o predomínio tricolor em campo ficou gritante. Na defesa do Flamengo, o improvisado Fierro sofria com a velocidade de Maicon, e o time não tinha saída pelos lados do campo, tornando-se presa fácil para a marcação adversária. O domínio era tanto, que antes mesmo dos trinta minutos, a torcida do Fluminense, que claramente era minoria nas arquibancadas frente à maioria rubro-negra, começou a dar os primeiros gritos de "Olé". Neste momento, Alan recebeu de Maicon, nas costas de Fierro, e bateu cruzado, rente à trave. O segundo gol parecia que seria questão de tempo para que saísse. Aos trinta e oito minutos, Diguinho novamente fez um lançamento para Alan, aproveitando os buracos deixados pela desarrumação da defesa rubro-negra, e o atacante invadiu a área, girou e bateu com perigo, quase marcando o segundo de novo.
No minuto seguinte, quando o relógio marcava trinta e nove minutos, Alan invadiu a área e deu um bonito drible de corpo em Ronaldo Angelim, que empurrou o jogador tricolor. O juiz apontou pênalti. Eram quarenta minutos quando Dario Conca cobrou com categoria, no alto, longe do alcance do goleiro rubro-negro: Flu 2 a 0. O destaque da partida até aquele momento era o jovem Alan, que infernizava os zagueiros do Flamengo com sua velocidade.
Dois minutos depois, o lateral-esquerdo Juan foi ao fundo e entrou na área e, infantilmente, Diguinho deu um carrinho para tentar cortar a bola, mas errou o tempo, a bola passou e Juan caiu. Pênalti para o Flamengo. O camisa 10 Adriano foi para a cobrança, e não vacilou, chute rasteiro no canto esquerdo de Rafael, goleiro de um lado e bola do outro: 2 a 1. Era o primeiro gol sofrido pelo Fluminense naquele Campeonato Carioca.
Mas os minutos finais da primeira etapa foram agitados, e as emoções ainda não tinham terminado. Já nos acréscimos, Dario Conca cobrou escanteio na área rubro-negra, Alan escorou de cabeça e o zagueiro Cássio chutou, contando com um desvio no meio do caminho para tirar do alcance de Bruno; bola dentro do gol: 3 a 1.
A facilidade tricolor no primeiro tempo, e o placar dilatado deixaram os rubro-negros muito apreensivos. A torcida do Flamengo convivia com fantasmas de goleadas sofridas no período anterior para a turma das Laranjeiras. Nos Campeonatos Cariocas de 2002, 2005 e 2008, o Fluminense havia goleado ao Flamengo por 4 a 1. Seria aquela mais uma humilhante goleada a ser sofrida para o rival num intervalo de apenas 8 anos? Só que não! E no segundo tempo, a possibilidade deste pesadelo ruiu por terra muito rápido!
O técnico Andrade mexeu no time no intervalo, e as substituições surtiram efeito, com o time rubro-negro voltando muito mais equilibrado e bem postado em campo. Andrade tirou Petkovic e Fernando para as entradas em seus lugares de Vinícius Pacheco e Willians, respectivamente. A entrada de Willians deu mais poder de marcação ao meio de campo rubro-negro, que passou a controlar a partida. E a entrada do jovem Vinícius Pacheco deu uma saída em velocidade pelo lado de campo, que abriu mais espaços na defesa do Fluminense. As condições no tabuleiro do jogo mudaram, e a resposta chegou muito rápido.
Logo aos seis minutos, Vinícius Pacheco entrou em velocidade, chutou de fora da área, e acertou o pé da trave. A maioria rubro-negra nas arquibancadas se animou. E em pouco tempo as emoções se incendiaram no estádio. Sem deixar a temperatura baixar, no minuto seguinte, Willians levantou na área, Adriano usou sua força física para disputar a bola com a zaga tricolor, e ela escapou. Vágner Love, oportunista, aproveitou a confusão dentro da área para bater de perna direita e marcar, diminuindo a vantagem para 3 a 2.
A torcida rubro-negra ainda comemorava quando Vinícius Pacheco fez ótima jogada pela ponta direita, indo à linha de fundo e cruzando, Kléberson entrava pela segunda trave, e apenas precisou rolar para dentro do gol para deixar tudo igual no placar: 3 a 3! Sensacional, em pouco minutos após a volta do intervalo, já estava tudo igual de novo. Um reinício avassalador do time do Flamengo. O Maracanã pegava fogo, a gritos enlouquecidos de "Mengo" eram bradados das arquibancadas.
Mas no meio da festa, o ímpeto rubro-negro foi contido. Eram dezessete minutos quando Álvaro fez uma falta mais dura em Maicon no meio de campo e recebeu o segundo cartão amarelo, sendo assim expulso de campo. O fato de o time rubro-negro passar a jogar com um a menos, mudou mais uma vez a dinâmica da partida. Andrade agiu rápido, lançando o zagueiro reserva David Bráz no lugar de Fierro, e orientando para que o meio de campo recuasse mais para fechar a proteção defensiva, passando a partir dali a explorar as jogadas de contra-ataque. A estratégia funcionou, e o Fluminense não conseguia se aproveitar de sua vantagem numérica em campo.
Com esta nova dinâmica das duas equipes, o ritmo alucinante do clássico diminuiu. O Fluminense passou a ter mais posse de bola, e o Flamengo a jogar mesmo recuado e incomodando em contra-ataques. Apesar de não ter a posse de bola e de ver o adversário com maior controle das ações, era o Flamengo quem estava mais bem arrumado em campo, contra-golpeando sempre em velocidade e levando mais perigo.
E foi assim que aos trinta e sete minutos, numa jogada que coroou a grande atuação do trio ofensivo rubro-negro no segundo tempo, Vágner Love fez ótima jogada desde o meio de campo, passando pela marcação tricolor em velocidade, e lançando para Vinícius Pacheco pelo lado do campo, que invadiu a área, viu a passagem de Adriano pelo meio da defesa, e tocou com precisão para o Imperador no meio da área, Adriano só empurrou para as redes: 4 a 3. Virada épica! Frenesi nas arquibancadas!
O time tricolor, golpeado psicologicamente por ter levado a virada mesmo jogando com um a mais, saiu um tanto desordenadamente para tentar voltar a obter o empate, e deixou buracos em sua defesa. Já os rubro-negros seguiram fechados, à espera de brechas para poder contra-atacar. E foi assim que, quando o jogo se aproximava do fim, Willians lançou em profundidade e Adriano partiu desde o meio de campo, em velocidade, em direção à área, e ao ficar frente a frente, escolheu o canto, tocando na saída do goleiro para sacramentar uma vitória maiúscula do Flamengo: 5 a 3! Uma noite épica para os rubro-negros no Maracanã!
Antes mesmo do apito final, os torcedores tricolores deixavam massivamente às arquibancadas, decepcionados com seu time, e levando um misto de tristeza e incredulidade para casa. Uma virada espetacular, sensacional e incrível. Não é toda hora que o futebol vê uma partida tão emocionante e intensa quanto aquela.
A temporada rubro-negra acabou sendo frustrante. No Campeonato Carioca, o time seria duas vezes derrotado pelo Botafogo, do centroavante uruguaio Loco Abreu, na semi-final da Taça Guanabara e na final da Taça Rio, vendo ruir o sonho de ser tetra consecutivo. Na Libertadores, cairia nas quartas de final perante a Universidad de Chile, sucumbindo ao brilho de seu camisa 10, o argentino Wálter Montillo, e desperdiçando a oportunidade de voltar a jogar uma semi-final de Libertadores após quase trinta anos. Já o Fluminense, teria uma temporada de sucesso, no decorrer do ano trocaria Cuca por Muricy Ramalho, e com um time reforçado por nomes como Deco, Emerson Sheik e Fred, seria o campeão brasileiro, obtendo o título que não conquistava havia vinte e cinco anos. Mas nem os papéis invertidos ao longo da temporada, nem o fracasso de seu trio ofensivo, que não conquistou os títulos que se esperava que fossem conquistar, tiram o brilho daquela impressionante e inesquecível virada no Maracanã, uma vitória grandiosa!
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