domingo, 31 de julho de 2022

Maiores Jogos da História do Flamengo: 25/10/59 - Flamengo 6 x 2 Botafogo




Jogos Inesquecíveis: 25/10/1959 - Flamengo 6 x 2 Botafogo

O Flamengo já havia metido seis no Botafogo duas vezes antes na história - 6 a 2 em 1919 e 6 a 3 em 1953 - e meteu de novo duas vezes depois, na mais marcante de todas em 1981, e depois na sequência também em 1985. Mas meter seis em cima de uma equipe na qual atuava o maior camisa 7 da história do futebol mundial, é muito especial! Garrincha, Nilton Santos, Amarildo, Quarentinha, Paulinho Valentim, João Saldanha... Todos eles nomes históricos do Botafogo e do futebol brasileiro, verdadeiras bandeiras do clube alvi-negro. Símbolos de uma época dourada do clube da Estrela Solitária. Todos eles estavam em campo (ou no banco, no caso de Saldanha) em 25 de outubro de 1959 contra o Flamengo, pela 3ª rodada do returno do Campeonato Carioca. O Botafogo era o líder do campeonato ao lado do Fluminense. Quarentinha era o artilheiro disparado da competição, com 18 gols. E o Flamengo não fazia uma boa temporada, vinha bem atrás na tabela, não havia vencido nenhum clássico. Desacreditado, surpreendeu ao mundo da bola! Era uma partida como outra qualquer na primeira etapa, com o time rubro-negro vencendo por 2 a 1. De repente, os gols começaram a siar uns atrás dos outros. O Flamengo meteu mais quatro gols e o dia comum se tornou apoteose!





Ficha Técnica
25/10/1959 - Flamengo 6 x 2 Botafogo
Local: Maracanã, Rio de Janeiro
Gols: Quarentinha (6'1T), Henrique Frade (7'1T), Babá (24'1T), Henrique Frade (7'2T), Babá (24'2T), Luís Carlos (31'2T), Dida (37'2T) e Paulinho Valentim (44'2T)
Fla: Mauro, Joubert, Santana, Jadir e Jordan; Carlinhos e Moacir; Luís Carlos, Henrique Frade, Dida e Babá.
Téc: Jayme de Almeida
Botafogo: Ernani, Cacá, Florindo, Ronald e Nilton Santos; Pampolini e Tião Macalé; Garrincha, Quarentinha, Paulinho Valentim e Amarildo.
Téc: João Saldanha




A História do Jogo

O Botafogo disputava cabeça a cabeça com o Fluminense a ponta do Campeonato Carioca de 59. Quando entrou em campo para enfrentar ao Flamengo naquela tarde de domingo, era dado como franco favorito para sair com a vitória. A poderosa linha de frente alvi-negra - formada por Garrincha, Quarentinha, Paulinho Valentim e Zagallo - era tida como a melhor da cidade, e uma das melhores do Brasil, atrás apenas da linha ofensiva do Santos. Eram os dois pontas titulares da Seleção Brasileira que um ano antes conquistou a Copa do Mundo na Suécia, e o camisa 9, e artilheiro máximo daquela edição do Campeonato Carioca: Quarentinha. Na véspera do duelo, o técnico João Saldanha decidiu mexer na equipe, colocando um jovem que havia se destacado no último treino antes do confronto, marcando quatro gols. Jovem que havia passado sem sucesso pelo Flamengo, e que três anos depois teria papel determinante com a Seleção Brasileira na conquista da Copa do Mundo do Chile: Amarildo. Saldanha o lançou improvisado na ponta-esquerda, sacando o ex-rubro-negro Zagallo do time titular.

Há certas vitórias épicas que precisam ser colocadas dentro do seu contexto histórico para que se possa entender a dimensão que tiveram quando vão além do que por si só representaram. Aquele time rubro-negro tinha um histórico vitorioso, tendo vários de seus jogadores feito parte da campanha do Tri-campeonato Carioca conquistado entre 1953 e 1955. Entretanto, apesar de ainda estar jogando bem, o time de Solich não vinha conseguindo voltar a conquistar títulos. No Torneio Rio-São Paulo, foi vice-campeão em 1957 e 1958, e brigou na ponta, mas acabou a edição de 59 em terceiro. No Carioca, em 57 perdeu força na reta final e terminou em terceiro, e em 1958 chegou a um tríplice empate com Botafogo e Vasco, foi para o triangular desempate, no qual os três voltaram a fazer campanhas iguais. No segundo triangular desempate, o SuperSuperCampeonato, perdeu o título. O time estava ficando com o estigma de equipe que joga bem mas não ganha. No 1º Turno do Carioca de 59, no duelo contra o Botafogo dominou a partida, criou muito mais chances de gol, mas o goleiro botafoguense fez milagres, fechou o gol, e a vitória foi alvi-negra por 2 a 1. Mais uma vez: "o time que joga bem, mas não vence!".

O sentimento estigmatizado estava entalado na garganta dos jogadores rubro-negros, ávidos por mudar esta imagem. No dia seguinte, nas páginas do Jornal dos Sports, foi Mário Filho quem melhor capturou isto quando afirmou (mantendo-se a grafia da época): "Eis um placard que precisa de uma explicação, embora se explique por si mesmo. Há uma psicologia do placard ou de certos placards. Alguns placards, como este seis a dois, têm o que se poderia chamar de hereditariedade. São gerados antes, pelo menos no ímpeto que o torna possível. Aquela fúria do Flamengo não teria sentido se não fôsse o outro jôgo com o Botafogo, que lhe cortou as aspirações e justamente no dia em que o team rubronegro mais jogou. Foi, portanto, esta vitória do Flamengo uma consequência da derrota do turno, que o feriu e de cheio. Daí a ânsia de vitória do Flamengo e que não se apagou nem com a vitória que se ampliava e que, para o Flamengo, não bastava e precisava ser mais ampla, esmagadora mesmo".

A bola rolou, e logo com seis minutos o árbitro assinalou uma falta na entrada da área para o Botafogo. Barreira de cinco, com o canto esquerdo de Mauro sendo deixado mais aberto. Quarentinha correu e disparou um chute forte, seco e direto, no alto, sem dar chance de defesa ao goleiro rubro-negro, que se esticou todo e não a alcançou. O Flamengo parecia vulnerável novamente.

Mas o ímpeto de vitória do onze rubro-negro logo se materializou no minuto seguinte, não dando margem a qualquer vulnerabilidade. Joubert cobrou falta rolando para Moacir, e ele passou para trás, fora da grande área, para Henrique, que bateu rasteiro de primeira para empatar, com a bola entrando no canto direito do goleiro Ernani, recolocando a massa rubro-negra em seu êxtase. O jogo se incendiava! Mas não seria dia de "Fogo". Havia em campo um grupo de jogadores trajados de vermelho e preto que queriam provar que estavam a altura de ser o Flamengo do "Tua glória é lutar!", da força de vontade, da de sua bandeira e de sua camisa.

O jogo se arrastava. O Botafogo lutava por marcar de novo, porque acreditava que o golpe seria duro para os rubro-negros, que se afundariam em sua vulnerabilidade emocional. E pelo lado rubro-negro, sentia-se uma vontade extra, havia sangue nos olhos. Era um jogo bom, muito bem jogado, e até ali muito equilibrado. E aos vinte e quatro minutos, numa jogada com participação de todo o ataque rubro-negro, Henrique recebeu de Jadir já dentro da área, poderia ter tentado o chute, mas preferiu o passe para Dida, que a fez chegar a Babá; o ponta-esquerda entrava pela lateral da área e pegou firme no arremate, bem no canto, para fazer o segundo. Virada no Maracanã! Flamengo 2 a 1!

O jogo seguiu bastante aberto e franco até o fim do primeiro tempo. Novas chances de gol de lado a lado. Mas Jordan anulava brilhantemente a Garrincha, e isto diminuía em muito a capacidade alvi-negra de chegar com mais frequência à meta de Mauro. Foi um primeiro tempo grandioso, jogado entre duas equipes de altíssima categoria que se digladiavam lealmente em busca da vitória. Quarenta e cinco minutos fantásticos! Um jogaço de futebol! Não havia qualquer indício do desequilíbrio que viria a se materializar no segundo tempo.

O Flamengo conseguiu fazer mais dois gols no segundo tempo curiosamente nos mesmos minutos em que havia feito seus gols na primeira etapa, primeiro aos sete, e depois ao vinte e quatro, e respectivamente com os mesmos autores. Aos sete, Dida cobrou falta rapidamente para Henrique que, com oportunismo, aproveitou a falha da defesa para que, livre, tocasse sem ser importunado, sem que o encoberto Ernani tivesse tempo de reação para impedir a bola de cruzar a linha. O Botafogo se lançou então inteiramente ao ataque, e o Flamengo, em contra-golpes, disparou a goleada. Aos vinte e quatro, Babá recebeu um passe de Henrique e chutou de canhota, um petardo que fez uma curva e entrou no canto direito: Mengão 4 a 1!

O Flamengo seguia com fúria rumo a construir um placar elástico, sem se contentar ou se satisfazer, não havia um sentimento demonstrado de que já fosse a hora de parar. Queria-se mais e mais, e ainda um pouco mais. Quando muitos teriam se dado por satisfeitos, o time quis mais, e marcou o gol mais bonito daquela tarde de domingo. Eram trinta e um minutos do segundo tempo. Jogada iniciada com Moacir, que parte em contra-ataque a partir da intermediária rubro-negra e aciona Henrique na ponta direita, que passa a Luís Carlos, que por sua vez repassa a Dida. O camisa 10 rubro-negra entra driblando pela defesa sem que ninguém fosse capaz de pará-lo, atraindo mais marcadores para si, e abrindo espaço no meio da área para a entrada livre do ponta-direita rubro-negro, então Dida dá de calcanhar para Luís Carlos, deixando frente a frente a Ernani, e ele não falha, toca par fora do alcance do arqueiro, levando a bola mais uma vez para dentro do gol: 5 a 1!

Eufórica, a multidão rubro-negro berrava "Mais um! Mais um!". E era atendida. O relógio marcava trinta e sete minutos quando Jadir escapou e foi atacado por Amarildo e Quarentinha, a bola seguiu adiante e o árbitro assinalou vantagem, já que Dida deu prosseguimento à dinâmica de jogo, seguindo pela intermediária trocando passes com o capitão do time Henrique, diante de uma desguarnecida defesa alvi-negra. A troca de passes chegou até à área, onde o meia alagoano recebeu o último passe do centroavante Henrique Frade que o deixava frente ao frente ao goleiro. Ele avançou livre e deferiu um potente chute: Mengão 6 a 1!

O Botafogo havia atuado dividido em duas partes bem distintas: o quinteto de ataque bem na frente, numa metade do campo, e a linha de quatro zagueiros e o arqueiro, no outro, com o único Pampolini para fazer a ligação. O centro médio desdobrou-se, aliás, jogando uma grande partida. Com Garrincha dominado por Jordan, e Nilton Santos sem ter como impedir a avalanche de gols, o Flamengo deu olé, lavou a alma e destronou ao Botafogo. Todos os contra-ataques do Flamengo lançavam confusão à retaguarda alvi-negra, que acabou sucumbindo, esmagada pela tarefa impossível de conter o endiabrado ataque rubro-negro.

O espírito incansável do time rubro-negro naquela tarde se materializaria claramente aos quarenta minutos da segunda etapa. Com um seis a um a seu favor, os jogadores rubro-negros estariam calmos? Não estavam. Joubert discutiu asperamente com o árbitro por este não ter interrompido a partida para que Carlinhos, caído no chão, fosse atendido pelos médicos, e recebeu o cartão vermelho, deixando o time rubro-negro com um a menos em campo. Dois minutos depois, no entanto, Quarentinha acertaria Luís Carlos com um chute sem bola, depois de ser driblado duas vezes pelo ponta flamenguista e, pela deslealdade, também seria expulso de campo. Após as expulsões, aos quarenta e quatro minutos e meio, Paulinho ainda conseguiria marcar um segundo gol de honra para os alvi-negros: 6 a 2!

Foi uma tarde de plenos acertos e de um festival ensolarado de futebol corrido, veloz, ardente, vibrante e entusiasmante, redundando numa sensacional e merecida vitória por 6 a 2 sobre o então líder Botafogo. A torcida do Flamengo encontrava, finalmente, a compensação pela sequência de dissabores sofridos. O Flamengo ganhou magnificamente, goleando com uma facilidade aparente o esquadrão botafoguense desarvorado.




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