Jogos Inesquecíveis: 13/04/1980 - Flamengo 6 x 2 Palmeiras
A doce vingança. Em 9 de dezembro de 1979, o Palmeiras meteu 4 a 1 no Flamengo no Maracanã, e acabou com o sonho rubro-negro do título brasileiro. Quetro meses depois, no mesmo palco, após os flamenguistas terem ouvido muito por conta daquela acachapante e constrangedora derrota de meses antes, o Flamengo foi à forra: 6 a 2. E as manchetes no dia seguinte sintetizavam o sentimento: "A vingança diabólica", "Goleada devolvida com juros". A alma rubro-negra estava lavada! Como tantas vezes precisou ser na história do clube.
Ficha Técnica
13/04/1980 - Flamengo 6 x 2 Palmeiras
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 70.389 pagantes)
Gols: Tita (13'1T), Zico (33'1T), Zico (7'2T), Toninho (16'2T), Tita (26'2T), Baroninho (30'2T), Mococa (36'2T) e Nunes (40'2T)
Fla: Raul, Toninho Baiano, Marinho, Rondinelli e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico (Reinaldo); Tita, Nunes e Júlio César (Adílio).
Téc: Cláudio Coutinho
Palmeiras: Gilmar, Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho Vicençote; Pires, Wilson (Mococa) e Jorginho Putinatti (Carlos Alberto Seixas); Lúcio, César Moraes e Baroninho.
Téc: Osvaldo Brandão
A História do Jogo
Na edição anterior do Campeonato Brasileiro, o Maracanã recebeu 112 mil pagantes para ver o jogo entre Flamengo e Palmeiras no qual com uma simples vitória o time rubro-negro, invicto naquele campeonato, avançaria à semi-final. Porém, a massa flamenguista no estádio foi silenciada com uma goleada decepcionante para seus corações. Os alvi-verdes meteram 4 a 1 e acabaram com o sonho rubro-negro.
Aquele jogo estava na memória de lado a lado. O Flamengo, então treinado por Cláudio Coutinho, havia sido goleado jogando com Cantarelli, Toninho, Dequinha, Manguito e Júnior; Carpegiani, Adílio (Beijoca) e Zico; Tita, Cláudio Adão e Reinaldo (Carlos Henrique). Portanto, além do próprio Coutinho, sete jogadores que tinham sofrido aquela derrota no Maracanã, estiveram em campo na partida de 1980: Toninho, Júnior, Carpegiani, Adílio, Zico, Reinaldo e Tita. Do lado palmeirense, o time então treinado por Telê Santana havia atuado com Gilmar, Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho Vicençote; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho Putinatti (Carlos Alberto Seixas), César Moraes (Zé Mário) e Baroninho. O técnico era outro, mas em campo, em 1980, jogaram onze jogadores que tinham calado a multidão no Maracanã alguns poucos meses antes, em 9 de dezembro de 1979. Entretanto, o principal jogador daquele time, Jorge Mendonça, havia saído, contratado pelo Vasco.
O novo técnico palmeirense Oswaldo Brandão faria sua estreia a frente do Palmeiras. A imprensa paulista nunca havia aceitado a troca de comando da Seleção Brasileira às vésperas da Copa do Mundo de 1978, quando saiu Brandão e entrou Coutinho. E estes dois então duelariam no Maracanã naquele dia. O Palmeiras vivia uma fase de crise, e o novo treinador chegou declarando: "vamos ao Maracanã para arrebentar!". Do lado rubro-negro, os jornais destacavam à véspera: "Zico encara na boas as declarações de Brandão" e "Coutinho estimula time a devolver goleada de 4 a 1". A expectativa para o confronto era muito grande.
O duelo era válido pela 2ª Fase do Campeonato Brasileiro de 1980, e os dois rivais estavam no grupo quadrangular que também tinha ao Bangu, onde jogavam Dé Aranha e Caio Cambalhota, e ao Santa Cruz, do treinador Paulo Emílio, o mesmo que havia sido o carrasco rubro-negro com o tricolor pernambucano no Brasileiro de 75, quando também num Maracanã lotado no qual bastava uma vitória simples para o Flamengo avançar à semi-final, o time de Júnior e Zico foi derrotado por 3 x 1. Portanto, como clube, naquele grupo o Flamengo enfrentava aos seus fantasmas dos Anos 1970 na sua caminhada que lhe levaria a conquistar pela primeira vez a um título nacional. Na 1ª rodada, o time rubro-negro empatou sem gols com o Santa Cruz em Recife, e o Palmeiras perdeu em casa por 3 a 2 para o Bangu, resultado que levou os paulistas a trocarem de treinador, demitindo Sérgio Clérici e contratando Brandão. Era nestas circunstâncias que os dois chegavam para se enfrentar no Estádio Mário Filho.
Quando a bola rolou, o que se viu no primeiro tempo foi um jogo bastante estudado de parte a parte, com poucas chances de gol. O Flamengo, porém, aproveitou melhor as que teve. E na primeira chance do jogo, já aos treze minutos, saiu em vantagem. Andrade ganhou uma bola estourada com Rosemiro, e a sobra foi para um Júlio César na ponta esquerda. O camisa 11 parou, olhou para a área e centrou. Gilmar saltou para a defesa, mas não segurou, falhando clamorosamente no lance e soltando uma bola fácil, que Tita rebateu de cabeça para as redes, abrindo a contagem.
O relógio marcava trinta e três minutos quando Júnior fez jogada pelo lado esquerdo e sofreu falta de Rosemiro perto do bico da grande área. O cronômetro já avançava para os trinta e quatro minutos quando Zico acertou uma cobrança magistral, perfeita, na gaveta de Gilmar, que incrédulo, nada conseguiu fazer além de olhar: Flamengo 2 a 0.
Antes ainda do intervalo, quase saiu o terceiro gol. O lateral-direito Toninho acertou uma bomba em cobrança de falta de longe, Gilmar deu rebote, mas nem Zico nem Nunes conseguiram concluir a gol.
No segundo tempo, logo aos sete minutos, Zico tabelou com Tita, entrou na área e foi derrubado por Pires. Sem titubear, o árbitro apontou para a marca da cal. Pênalti! O próprio Zico foi quem cobrou: 3 a 0!
Atordoado e perdido em campo, o time do Palmeiras era como um lutador encurralado nas cordas. E os gols foram saindo um atrás do outro, numa naturalidade impactante. E isto que aos doze minutos, Zico fez sinal para o banco pedindo substituição, alegando dores musculares. Ele foi substituído pelo ponta-direita Reinaldo, com Tita deslocado para a função de ponta-de-lança.
Logo após a saída de Zico, aos dezesseis minutos, saiu um golaço, o quarto gol rubro-negro. Júlio César bateu escanteio rolando a bola para Júnior, que carregou e abriu na diagonal, Nunes fez o corta-luz e então abriu-se um clarão pelo lado esquerdo da defesa palmeirense, e nele apareceu Toninho, que encheu o pé e soltou uma bomba para fuzilar Gilmar: Mengão 4 a 0! A vingança estava materializada!
O Palmeiras tentou então reagir e lançou-se ao ataque, enquanto o time rubro-negro tentava reter a bola a administrar a partida. Mas o Flamengo não parava de fazer gols. Aos vinte e seis minutos, Carpegiani, que vinha tendo uma atuação espetacular naquela tarde, fez o que quis pelo lado direito do ataque: tocou, recebeu de volta, limpou, foi à linha de fundo e cruzou, encobrindo Polozzi, e colocando a bola em Tita. O meia chutou de virada e marcou o quinto. Hora de extravasar: o camisa 7 atravessou o campo todo correndo e se dirigiu ao setor das arquibancadas onde estavam cerca de três mil palmeirenses, provocando-os com um "tchauzinho".
A provocação do camisa 7 rubro-negro parece ter mexido com os brios dos jogadores alvi-verdes, que aguerridamente se lançaram com mais determinação ao ataque, ensaiando uma breve reação. Três minutos após o quinto gol rubro-negro, Marinho calçou César na área e o árbitro marcou pênalti. Baroninho cobrou com um chute forte, diminuindo. Cinco minutos depois, o ponta-direita Lúcio cruzou para a área e encontrou Mococa nas costas da defesa rubro-negra. Ele finalizou com precisão e marcou o segundo: 5 a 2.
A temperatura do jogo então esfriou um pouco. Os flamenguistas já pareciam satisfeitos, e os palmeirenses pareciam menos angustiados após ter marcado dois gols, e sabendo que o empate era logicamente inalcançável.
Mas a festa não havia terminado. Aos quarenta e quatro minutos, Reinaldo avançou pela direita e cruzou para Nunes na segunda trave, Beto Fuscão não alcançou, não conseguindo cortar. O camisa 9 rubro-negro, na pequena área, teve todo o tempo de ajeitar, deixar cair a bola, e bater seco, por entre as pernas de Gilmar: 6 a 2! Era uma conclusão magistral para uma deliciosa vingança do Flamengo, que calava a boca da imprensa paulista.
No dia seguinte, a manchete da página 4 do Jornal dos Sports resumia bem o sentimento rubro-negro: "Fla endoida a galera na forra que todos queriam: 6 a 2". E a reportagem assim se iniciava: "Flamengo lavou a alma da sua torcida, ontem, no Estádio Mário Filho". Foi um massacrante banho de bola rubro-negro! Poderia ter sido uma goleada ainda maior. Ao fazer 5 a 0, o time rubro-negro desacelerou seu ímpeto, e optou por tocar mais a bola. Zico, que precisou ser substituído ao sentir uma lesão muscular, fez de tudo em campo, estando endiabrado, com uma vontade de participar que não se inquietava nunca! Até correr para cobrir a lateral, ele correu. E Tita fez o que todo rubro-negro queria fazer depois de tudo que ouviu em provocações na imprensa após a goleada para o rival no ano anterior: tirou sarro dos palmeirenses, correndo para a linha lateral após o quinto gol, na direção de onde se concentrava um grupo de torcedores do Palmeiras, e fez sinal de tchau com as duas mãos. Espírito rejuvenescido! Alma lavada!
Após aquela forra, o Flamengo garantiu sua classificação antecipada para a 3ª Fase nos dois jogos seguintes no Maracanã, com vitórias por 2 a 1 sobre Bangu e Santa Cruz. A confirmação da classificação permitiu que Cláudio Coutinho poupasse Zico, que dava sinais do risco de um desgaste físico mais sério. O camisa 10 ficaria de fora dos dois últimos jogos daquela etapa, com Tita ocupando sua posição. No jogo de volta contra o Palmeiras, em São Paulo, os alvi-verdes estavam ávidos por vingança, mas o jogo terminou empatado. Júlio César fez um golaço, armando um salseiro na defesa palmeirense e passando de calcanhar para Júnior, que disparou à linha de fundo e cruzou para Tita, que com uma cabeçada fulminante abriu a contagem. Três minutos depois, Jorginho recebeu lançamento e empatou. A virada aconteceu no começo do segundo tempo, com gol de Baroninho. Mas a nove minutos do fim, Reinaldo cruzou da direita, Rondinelli escorou de cabeça, e Carlos Henrique chutou de virada para empatar: 2 a 2. Na última rodada, o Flamengo meteu 3 a 0 no Bangu no Maracanã, terminando em primeiro no grupo. O Palmeiras terminou em segundo e também avançou à 3ª Fase. Na sequência, o time rubro-negro avançaria ao mata-mata, e chegaria à final, na qual superou ao Atlético Mineiro e se consagrou campeão brasileiro pela primeira vez em sua história.
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