sexta-feira, 22 de julho de 2022

Maiores Jogos da História do Flamengo: 10/01/54 - Flamengo 4 x 1 Vasco




Jogos Inesquecíveis: 10/01/1954 - Flamengo 4 x 1 Vasco

Uma tarde histórica no Maracanã, em jogo válido pelo 3º Turno do Campeonato Carioca de 53, já adentrando por janeiro de 1954. O time rubro-negro havia terminado a soma dos dois primeiros turnos na liderança do campeonato, e disputava um turno hexagonal extra, cujo vencedor disputaria o título da cidade contra ele. A não ser que o próprio Flamengo se sagrasse campeão deste turno extra. O duelo contra o Vasco era válido pela penúltima rodada, e o time rubro-negro chegava a ele na liderança do certame.

Era o duelo entre os times dos dois grandes técnicos do futebol carioca naquele momento. De um lado, o multi-campeão e "cria da Gávea" Flávio Costa, que havia pela segunda vez trocado o vermelho e preto para defender ao cruzmaltino de São Januário. Do outro lado, o inovador paraguaio Fleitas Solich defendia e comandava ao onze rubro-negro. Desde 1944 que o Flamengo não era campeão carioca, um incômodo jejum de oito campeonatos sem ter conquistado o título, período no qual o Rio de Janeiro foi dominado pelo Vasco da Gama. Com uma atuação empolgante e inapelável, os flamenguistas golearam impiedosamente por 4 a 1, conquistando o título da cidade novamente, com uma rodada de antecipação! Um sentimento inigualável iluminava a alma rubro-negra!




Ficha Técnica
10/01/1954 - Flamengo 4 x 1 Vasco
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 132.508 pagantes)
Gols: Jorge (contra, 16'1T), Índio (32'1T), Benítez (45'1T), Ademir Menezes (15'2T) e Benítez (44'2T)
Fla: Garcia, Marinho, Pavão, Servílio e Jordan; Dequinha e Rubens; Joel, Índio, Benítez e Esquerdinha.
Téc: Fleitas Solich
Vasco: Osvaldo Baliza, Bellini e Haroldo; Mirim, Ely e Jorge; Maneca, Ademir Menezes, Ipojucan, Pinga e Alvinho.
Téc: Flávio Costa




A História do Jogo

Depois de um intenso período de rivalidade e domínio de Flamengo e Fluminense entre 1937 e 1944 no Campeonato Carioca, que havia criado a magia do Fla-Flu, com quatro títulos para cada lado no período, a colônia portuguesa do Rio de Janeiro decidiu investir pesado no fortalecimento do Vasco da Gama. A principal estratégia foi tirar ao técnico Flávio Costa da Gávea, pagando-lhe o maior salário da história do futebol brasileiro de até então para que ele comandasse ao "Clube da Colina". E lá ele montou o "Expresso da Vitória", dominante no campeonato da cidade entre 1945 e 1952, quando faturou cinco dos oito campeonatos disputados. Neste período, o Flamengo não faturou nenhum, e ainda amargou seu maior jejum contra os vascaínos na história, sem que o Flamengo tenha vencido ao Vasco entre 1945 e 1951 por incríveis 23 partidas. Por mais que já houvesse conseguido encerrar esta incômoda série adversa, a fragilidade perante o rival naquele período ainda estava muito viva e fresca na memória rubro-negra. A goleada rubro-negra em janeiro de 54, com a conquista do título, exorcizou-a em definitivo!

A massa rubro-negra, já na iminência da conquista do título, fez-se presente no "Maior Estádio do Mundo", e como foi muito alardeado por todos os jornais no dia seguinte, o "Clássico dos Milhões" bateu o recorde de renda da história do futebol carioca de até então (por mera curiosidade: CR$ 2.108.312,20). Para tão importante acontecimento, os dois clubes não conseguiram chegar a um consenso sobre a indicação do juiz do jogo. O Vasco da Gama queria Alberto Malcher, e o Flamengo a Mário Viana. Sem consenso, foi convocado um conselho arbitral, no qual ficou decidido que a arbitragem seria conduzida por um trio de estrangeiro, sendo o árbitro o inglês Henry Hartless, e seus auxiliares o inglês Bertley Cross e o austríaco Franz Grill.

A partida se iniciou, e desde seu começo foi o time rubro-negro quem teve o domínio. Suas linhas táticas estavam claramente mais bem articuladas no campo de jogo, e o time sufocava ao adversário, que demonstrava uma maior dificuldade para conseguir chegar ao campo de ataque. O Flamengo criava mais chances de gol, Osvaldo Baliza era forçada a trabalhar repetidamente, gerando uma maior quantidade de escanteios em favor do time rubro-negro, retratando a seu maior domínio no jogo. O time rubro-negra se via mais solto, mais espontâneo, mais natural em campo, e o da cruz de malta estava mais preso, sem conseguir encontrar escapes.

Entretanto, aos dezesseis minutos do primeiro tempo, foi num lance de infelicidade do defensor vascaíno que o placar foi inaugurado. Esquerdinha lançou uma bola pelo alto em direção ao gol e ela foi interceptada pelo goleiro Osvaldo, que não conseguiu segurá-la. A bola subiu e, ao decair, Jorge tentou afastar o perigo usando a cabeça, sob a pressão da aproximação de Índio, mas já quase sobre a linha se enrolou e, numa infelicidade tremenda, jogou a bola para dentro de sua própria baliza, marcando gol contra.

Um fato determinante para a elasticidade do resultado final se deu aos vinte e cinco minutos do primeiro tempo, quando Ely se lesionou no tornozelo, sendo forçado a deixar a partida. Em tempos nos quais as substituições ainda não eram permitidas em partidas oficiais, o time do Vasco foi forçado a jogar o restante do jogo com um jogador a menos.  

Aos trinta e dois minutos, Índio usou todo o seu oportunismo, ganhou da zaga do Vasco, e ampliou. O domínio desde o início era pleno do Flamengo. A partir da saída de Ely, ficou ainda maior. Enquanto a Charanga Rubro-Negra de Jayme de Carvalho fazia a festa e animava musicalmente ao certame, o Vasco mal conseguia reter a bola.

O primeiro tempo estava por se encerrar quando Benítez resolveu tentar um chute de longe. Mandou um petardo, de uma distância bastante grande da meta vascaína. Surpreendido, talvez pela força do chute, o arqueiro cruzmaltino tão só conseguiu roçar as bolas com os dedos antes dela estufar a rede. Ainda antes do intervalo: Flamengo 3 a 0! O título estava sacramentado!

O Flamengo seguiu demonstrando um pleno domínio sobre o adversário. Aos quinze minutos, porém, foi o Vasco quem conseguiu chegar ao ataque. Maneca avançou pela ponta e cruzou para a área. O goleiro paraguaio Sinforiano Garcia, a cuja meta só havia chegado um único ataque em toda a partida até então, ficou sobre a trave. O cruzamento chegou à cabeça do centroavante Ademir Marques de Menezes, que estava sem marcação em meio à zaga rubro-negra e o veterano Ademir, então a seus 32 anos, não vacilou, testando no canto, longe do alcance de Garcia, e diminuindo: 3 a 1.

O time rubro-negro esteve perto de fazer mais um quando Índio foi lançado em profundidade e entrou frente a frente ao goleiro vascaíno, poderia ter tentado arrematar ao gol, mas decidiu tentar passar pelo goleiro e entrar com bola e tudo, mas Osvaldo corajosamente saiu a seus pés e evitou que fosse marcado mais um. A arquibancada já havia muito tempo que só cantava e gritava em festa, parecendo já não se importar mais com o que se desenrolava dentro das quatro linhas. Os rubro-negros entoavam: "Era uma barbada, eu já sabia / Só o Flávio Costa é que não via / E o Flamengo, ganhou como quis / E deixando o Vasco escolher o juiz". O título era rubro-negro! O jejum de nove anos estava sendo encerrado!

Os gritos de "Flamengo! Flamengo!" e "É campeão! É campeão!" soavam a plenos pulmões numa confusão de vozes desordenadas que se atropelavam em euforia plena e indiscriminada. Era uma celebração alvoroçada que fazia parecer que já era carnaval. Para encerrar à festa, quando o cronômetro marcava 44 minutos e 30 segundos, Benítez cobrando pênalti fechou a comemorações, dando números finais à vitória marcante, e com uma goleada: Mengão 4 a 1!

Pela narrativa das páginas do Jornal do Brasil: "Quando trilou o apito final o C. R. do Flamengo estava sagrado campeão da cidade, após uma peleja em que triunfou com indiscutível mérito, pois foi o que agiu com mais acerto e superioridade". Pelas palavras do Jornal dos Sports: "o carnaval começou no estádio e ganhou as ruas da cidade inteira". O time rubro-negro terminava o campeonato com o melhor ataque e a melhor defesa, e tinha em seu ponta de lança, o paraguaio Jorge Benítez, o artilheiro e goleador máximo da competição. O time comandado pelo paraguaio Fleitas Solich sobrou perante os adversários, e inquestionavelmente era o mais forte do Rio de Janeiro.







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