segunda-feira, 25 de julho de 2022

Maiores Jogos da História do Flamengo: 18/12/55 - Flamengo 6 x 1 Fluminense




Jogos Inesquecíveis: 18/12/1955 - Flamengo 6 x 1 Fluminense

Um duelo histórico entre dois grandes times no Maracanã. Do lado rubro-negro, uma forte linha defensiva, com Dequinha na proteção, uma linha de frente histórica com Joel, Índio, Dida e Zagallo. Do lado tricolor, uma linha que fez história nas Laranjeiras também, com Veludo no gol, Pinheiro no comando de zaga, Didi na armação, Telê e Escurinho pelos lados, e Valdo como o artilheiro. Dois grandes times, que dão uma dimensão ainda maior do gigantismo daquela vitória espetacular!

E uma vitória com virada, pois foi o Fluminense quem colocou a bola dentro do gol primeiro. Mas o dia era rubro-negro. Três minutos após o gol tricolor, o time do Flamengo já tinha marcado duas vezes, virando o resultado, e comandando as ações dali em diante. E mesmo com uma adversidade séria, tendo Índio se lesionado e, como naqueles tempos não eram permitidas substituições, passado o resto do jogo praticamente andando pela ponta direita. Era quase como estar com um a menos em campo, ainda que de fato não estivesse. Com uma atuação magnífica, os gols foram saindo um atrás do outro, até se construir aquele magnífico 6 a 1!




Ficha Técnica
18/12/1955 - Flamengo 6 x 1 Fluminense
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 64.304 pagantes; 71.539 presentes)
Gols: Didi (24'1T), Joel (25'1T), Dida (27'1T), Paulinho (45+2'1T), Dida (26'2T), e Paulinho (37'2T) e (45+1'2T)
Fla: Aníbal, Servílio, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Paulinho; Joel, Índio, Dida e Zagallo.
Téc: Fleitas Solich
Flu: Veludo, Benê e Pinheiro; Vítor, Clóvis e Bassu; Telê Santana, Didi, Valdo, Róbson e Escurinho.
Téc: Francisco Ferreira, "Gradim"




A História do Jogo

O Flamengo era o Bi-Campeão Carioca de Futebol, e aquele fantástico time treinado por Fleitas Solich, entrou fortíssimo na luta por voltar a ser Tri-Campeão! Taticamente inovador, o sistema de jogo do "Bruxo", o "Feiticeiro", estava causando estrago nos adversários. No 1º Turno, o time fez 5 x 2 no Madureira, 4 x 1 no Bonsucesso, 5 x 1 na Portuguesa, 5 x 0 no Olaria, e 4 x 0 no São Cristóvão. Porém, foi derrotado no Fla-Flu. No 2º Turno, retomou o fluxo de goleadas, tendo metido novamente 5 x 2 no Madureira, e feito 5 x 2 no Canto do Rio e 4 x 1 no América, quando voltou a jogar um Fla-Flu, pela 6ª rodada. Fez história naquele dia. Na sequência ainda golearia à Portuguesa por 6 a 0, e ao Bonsucesso por 4 a 0. Em 22 jogos na soma dos dois turnos, obteve 17 vitórias, sendo 11 delas por goleada! Nos outros cinco jogos, 2 empates e 3 derrotas.

Em meio a esta majestosa campanha, há que se contar em especial a história daquele Fla-Flu, disputado uma semana antes do Natal. O Fluminense era treinado por Gradim, ex-jogador com rápida passagem pelo Flamengo, em 1933, após seu início de carreira no Bonsucesso, mas que conseguiu mais projeção com as camisas do Vasco, de 1933 a 1935, e principalmente com a do Santos, de 1936 a 1947. A experiência como treinador havia começado justamente no tricolor das Laranjeiras em 1954. Em campo, um time com uma forte espinha dorsal, com o goleiro Veludo, o zagueiro Pinheiro, a armação de Didi, a força pelas pontas de Telê e Escurinho, e a capacidade goleadora de Valdo dentro da área. Todos são nomes históricos do Fluminense. Um baita time de futebol! E o Flamengo entrava em campo pressionado, pois na rodada anterior havia perdido de 3 a 2 para o Olaria.

A partida foi apitada pelo árbitro inglês Robert Davies, e quando a bola rolou, o ritmo de jogo se iniciou um tanto despretensioso. Muita pouca coisa de relevante aconteceu nos primeiros vinte e poucos minutos, ainda que o Flamengo tenha estado melhor em campo, mantendo a bola por mais tempo sob seu controle. Até que Didi mandou um preciso tiro de fora da área, com a bola fazendo uma curva e decaindo dentro da rede de Aníbal. As inquietações rubro-negras logo fervilharam.

A meta vinha sendo a grande dor de cabeça de Fleitas Solich. Garcia já não repetia as atuações seguras de 53 e 54, e o treinador começou o campeonato com Ari como seu titular da camisa 1. Sem sentir segurança em seu arqueiro, ele decidiu durante o turno reconduzir o paraguaio, como ele, Garcia à titularidade, mas logo se arrependeu. O titular então passou a ser Aníbal, mas sem achar ainda as atuações que considerava ideal, ele terminou por optar pelo argentino Chamorro. Naquele Fla-Flu era Aníbal quem estava na meta. E quando a bola de Didi passou poe ele e chegou à rede, os rubro-negros logo se inquietaram.

Mas se a defesa dava sustos, o ataque resolvia. E a angústia rubro-negra acabou muito rápido. Deu-se a nova saída de bola e se lançou ao camisa 7 Joel, que invertendo posição, aparecia pela ponta esquerda de ataque. Ele cortou para dentro e chutou meio despretensiosamente. Parecia que a defesa não seria complicada para Veludo, só que o goleiro parece não ter acreditado que ela iria na direção do gol. Demorou muito a se mover em direção a ela, a bola, e quando foi, já era tarde. O arqueiro tricolor não conseguiu cortar e a bola morreu no fundo do gol. Partida imediatamente empatada no Maracanã. E a torcida tricolor indignada com seu goleiro, entendendo que havia aceitado um frango.

Os gritos de lado a lado ficaram mais intensos nas arquibancadas, mas não demorou para que os de um lado estivessem mais fortes que do outro. Passaram-se apenas dois minutos desde que os rubro-negros tinham empatado, e Paulinho fez um lançamento para a penetração em velocidade pela área, com a bola caindo nos pés do craque da camisa 10, Dida, que ficou frente a frente a Veludo, e arrematou com força na saída do goleiro, sem lhe dar chance de reação: 2 a 1. Virada no Maracanã!


O Fluminense então cresceu no jogo, passando a ter a partir de então um volume ofensivo que, apesar de já ter marcado um gol, não havia conseguido ter em nenhum momento até ali na partida. Nos minutos finais, Paulinho caiu o campo, reclamando de dores musculares na perna. Há quem tenha acreditado que foi proposital, para que instruções táticas do paraguaio "Don Fleitas" chegassem através do médico Paulo São Tiago para uma rearrumação tática em campo. Fato é que o Flamengo retomou o controle do jogo nos momentos finais da primeira etapa, e voltou a criar oportunidades. Numa delas, já nos acréscimos, Dida arrematou, e Veludo não conseguiu segurar, soltando a bola na pequena área. Atento, Paulinho, que chegava como elemento surpresa dentro da área, vindo de trás, estava no lugar certo e na hora certa, só para empurrar para dentro do gol: 3 a 1. E o 1º Tempo termina com uma confortável vantagem do Flamengo.

No segundo tempo, o Fluminense não demonstrou absolutamente nenhum poder de reação. Aníbal só assistiu à partida de posição privilegiada, dentro da área rubro-negra. O jornalista Mário Filho, em sua crônica no dia seguinte, definiu brilhantemente o desenrolar da etapa final: "o Flamengo soube correr em campo e, sobretudo, fazer os goals mais bonitos depois de garantida a vitória. Por isso é que muito tricolor se considerou envergonhado com a derrota (...) na derrota de seis, o score explica tudo (...) o Flamengo podia parar, e não parava, pelo contrário, cada vez corria mais em campo, cada vez era mais Flamengo".

A superioridade rubro-negra na segunda etapa continuou presente mesmo depois de Índio ter sentido uma contusão. Como não havia substituição, continuou se arrastando em campo, fazendo número pela ponta direita. Apesar disto, o domínio seguia sendo todo rubro-negro. O quarto gol dava sinais de que já estava por acontecer quando a bola explodiu na trave de Veludo. A bola voltou então ao ataque rubro-negro e recaiu nos pés de Dida. O garoto de Alagoas dominou na entrada da grande área e acertou um chute seco, que foi morrer com força, sacudindo as redes. E Dida sai em euforia com os braços levantados. A vitória já estava sacramentada, mas havia que se comemorar, aquilo era Fla-Flu! E o placar dizia tudo: Flamengo 4 a 1!

A partir deste tento, o torcedor tricolor já começou a se levantar em grande número e deixar o Maracanã. Seu time estava claramente desorientado e atônito. Pareciam sentir que era questão de tempo para saírem outros gols, e não queriam presenciar tamanha vergonha. E os gols seguiram saindo. Dali em diante sairiam mais ou menos a cada dez minutos.

Após uma rápida troca de passes em velocidade do ataque flamenguista na intermediária, Paulinho pegou, penetrou pela área, e na corrida bateu firme, estufando a rede com força: Mengão 5 a 1! Já era suficiente? Não, não era não. O relógio entrava pelo tempo extra quando Paulinho pegou pelo lado do campo e invadiu a área, superando a marcação de Pinheiro, e colocando, quase sem ângulo, entre Veludo e a trave. 6 a 1! Goleada épica no Maracanã!

No final do jogo, as estatísticas indicavam 70 idas ao ataque do time rubro-negro contra apenas 32 dos tricolores. Mais do que o dobro de volume ofensivo, e muito mais eficiência em concluir as oportunidades de gol que teve. Apesar dos três gols de Paulinho, os destaques da imprensa esportiva nos dias subsequentes eram todos dados a Dida. O garoto ganhou os louros pela goleada nas páginas de O Globo e do Jornal dos Sports por sua atuação esfuziante e sua agilidade estonteante.

O Flamengo fez a melhor campanha, com sobras, na soma dos dois turnos. A fórmula de disputa ainda exigia, entretanto, a disputa de um terceiro turno, um hexagonal. O título era decidido entre o vencedor da soma dos dois primeiros turnos, contra o vencedor deste terceiro turno. O Flamengo viria a ser derrotado em três dos cinco jogos do hexagonal, tendo o América tido o melhor desempenho na soma destas cinco partidas extras. Flamengo e América fizeram a final, em melhor de dois jogos, mas sem critérios de desempate, que ainda não existiam no futebol naqueles tempos, já que confrontos em mata-mata ainda eram uma novidade. Com uma vitória para cada lado, houve a realização de um terceiro jogo no Maracanã, vencido pelo time rubro-negro, que ficou com o título, vindo a ser, pela segunda vez na história Tri-Campeão Carioca!





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