quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Maiores Jogos da História do Flamengo: 20/04/84 - Flamengo 5 x 0 Santos




Jogos Inesquecíveis: 20/04/1984 - Flamengo 5 x 0 Santos

Flamengo e Santos tinham decidido o Campeonato Brasileiro de 1983. No segundo jogo, no Maracanã, o time rubro-negro fez 3 a 0 a se sagrou tri-campeão nacional. No fim do jogo, não ocorreu nada melhor aos jogadores santistas do que tentar estragar a festa, quando descontrolados os jogadores causaram uma briga generalizada com jornalistas cariocas, na qual os jogadores rubro-negros não se envolveram.

Na Libertadores de 84, os dois clubes se reencontraram, e o Flamengo não tomou conhecimento do rival, colocando-os na roda e mostrando uma enorme superioridade. Logo na estreia, goleada do Flamengo sobre o alvi-negro praiano no Maracanã: 4 a 1. Após as rodadas de ida, o grupo terminou com Flamengo e América de Cali dividindo a liderança com 5 pontos cada, seguidos por Santos com 2 e Júnior de Barranquilla sem nenhum ponto. Na abertura da 4ª rodada, o Atlético Júnior marcou seus primeiros pontos, aplicando uma implacável goleada sobre o América por 4 x 1. O time rubro-negro então viajou à capital paulista para jogar contra o Santos.

E se já havia sobrado no Maracanã, no Morumbi teve uma atuação de gala, com um primeiro tempo arrasador, no qual fez 3 a 0, gols de Bebeto, Mozer e Edmar. Na etapa final, sacramentou uma goleada histórica, com Tita, duas vezes, ampliando o placar. Uma atuação impiedosa como visitante!


O duelo entre dois dos maiores goleiros da América do Sul




Ficha Técnica
20/04/1984 - Flamengo 5 x 0 Santos
Local: Morumbi, São Paulo (Público: 24.545 pagantes)
Gols: Bebeto (13'1T), Mozer (21'1T), Edmar (40'1T), e Tita (26'2T) e (37'2T)
Fla: Fillol, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade (Lúcio), Bigu e Tita; Bebeto (Élder), Edmar e João Paulo.
Téc: Cláudio Garcia
Santos: Rodolfo Rodríguez, Davi, Márcio Rossini, Toninho Carlos e Paulo Róbson; Dema, Lino e Pita; Gersinho, Ronaldo Marques (Fernando) e Gérson (Camargo).
Téc: Emmanuele Del Vecchio




A História do Jogo

Raramente há jogos de futebol em plena Sexta-feira Santa no Brasil, mas em 1984, sabe-se lá o porquê, houve. O jogo válido pela Libertadores entre Santos e Flamengo foi no Morumbi, em São Paulo, e disputada a tarde.

Os dois clubes vinham se enfrentando com assiduidade desde 1980, tendo havido neste período nada menos do que 13 confrontos num intervalo de 5 anos – um número espantoso em tempos nos quais o Campeonato Brasileiro ainda era no formato de grupos e com mata-mata. E o Flamengo levava a melhor, com grande diferença, tendo eliminado ao Peixe nas edições do Brasileiro de 1980 e 1982, conquistado o título sobre os santistas em 1983. E eliminou também na Libertadores de 1984.

Como o habitual no outono paulistano, era um dia nublado, com possibilidade de pancadas de chuva no fim da tarde. Só que a garoa prometida não aconteceu. Em seu lugar, veio outra chuva. Uma chuva de gols rubro-negros!

Treinado desde setembro de 83 por Cláudio Garcia, o Flamengo não contava mais com Zico em suas fileiras. Mas mantinha craques do quilate de Júnior, Leandro, Mozer, Andrade e Tita (além de Adílio e Nunes, que não estiveram em campo naquele dia). E o clube ainda havia se reforçado com Edmar (ex-Cruzeiro), Lúcio (ex-Guarani), João Paulo (ex-Santos, que havia sido derrotado pelo Flamengo na final do Brasileiro de 83), e o argentino Fillol, campeão do mundo com a Seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1978, no gol.

O time rubro-negro entrou em campo escalado com: 1 Fillol, 2 Leandro, 3 Figueiredo, 4 Mozer e 5 Júnior; 6 Andrade, 21 Bigu e 10 Tita; 19 Bebeto, 9 Edmar e 11 João Paulo. No decorrer da partida entrariam Lúcio com a camisa 7, e Élder com a 23.

O Flamengo dá a saída e logo sofre duas faltas em sequência. A tentativa de truncar o jogo é uma das propostas santistas para a partida. A outra é a manjadíssima tática de usar velocidade nas costas dos ofensivos laterais rubro-negros. E esta até que dá certo por um tempo. O Santos começa sufocando, jogando pelas extremas, buscando aproveitar a rapidez do ponta Gersinho pela direita e do lateral Paulo Róbson pela esquerda. Aos sete minutos, o alvi-negro praiano cria a primeira grande chance do jogo. Pita recebe de Gérson e dribla Figueiredo, entra na área, dá um corte seco em Mozer, e tenta encobrir Fillol, que defende com uma mão só.

Os santistas dão mais um exemplo de que o jogo não será pacífico aos nove minutos: Edmar sofre falta dura de Toninho Carlos na entrada da área. Após a marcação, o volante Dema chuta a bola contra Tita, que reclama, sem entender o gesto hostil gratuito.

O Flamengo responde em seu estilo. Aos treze minutos, Figueiredo dá um drible curto no ex-rubro-negro Ronaldo Marques, passa para Leandro, que tabela com Bebeto, e dá a Edmar na direta. O centroavante toca para Bebeto na área, que passa de calcanhar para Andrade, que enche o pé e obriga o goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez a dar rebote, que o próprio volante apanha e cruza da linha de fundo na cabeça do ponta-esquerda João Paulo, jogador de baixa estatura, mas que sobe mais do que a zaga para tocar de cabeça para Bebeto, que não perdoa, batendo firme e abrindo o marcador: Flamengo 1 a 0.

Aos vinte e um, João Paulo aparece bem pela ponta esquerda, arrancando rumo ao fundo para aproveitar a fragilidade de seu marcador Davi, um zagueiro central improvisado naquela tarde como lateral-direito. Sem opção diante da velocidade do ponta, o lateral improvisado o para com falta. Júnior cobra, levantando para a área. A defesa afasta e a bola sobra na direita com Leandro, que para, levanta a cabeça, olha, e cruza para Mozer entrar pelo meio da área de "peixinho", e colocar mais uma bola longe do alcance de um dos maiores arqueiros da história do Uruguai. Bola na rede: Flamengo 2 a 0.

Logo depois do segundo, quase saiu o terceiro. João Paulo lançou Tita pela esquerda, o camisa 10 avançou no vazio e cruzou para Edmar, que recebeu, girou e fuzilou. A bomba passou riscando o travessão. Irritado com o placar e com o baile rubro-negro, o time do Santos apelou, e o clima esquentou. Aos vinte e cinco minutos, numa dividida, Andrade é solado por Pita. O juiz gaúcho Carlos Sérgio Rosa Martins manda seguir, e é a vez de Bigu parar o camisa 10 santista com falta. Inconformado, o camisa 6 rubro-negro Andrade, parte para tomar satisfação, mostrando o joelho marcado pelas travas da chuteira do rival. A confusão se instaura. Uma encarada aqui, um dedo na cara ali, até os goleiros entram no bolo. Depois, ânimos serenados, o árbitro dá cartões amarelos aleatoriamente para Dema e Andrade.

E será dos pés do próprio Andrade que se iniciará a jogada na qual, aos quarenta minutos, gerará a ampliação do placar. O cabeça de área rubro-negro faz um desarme limpo no círculo central. A sobra fica com Tita, que logo passa para Bebeto. Ele lança em profundidade para Edmar, que entra pelas costas do zagueiro Toninho Carlos, toma-lhe a bola e invade a área, driblando Rodolfo Rodríguez, tocando para o gol e saindo para comemorar: Mengão 3 a 0!

Atônito, o time santista rezava para o árbitro terminar logo, para sair para o vestiário e respirar. E o Flamengo tentava aproveitar o adversário atordoado para ampliar ainda mais. O time rubro-negro fazia a bola girar e a partir disto criava mais chances de gol. Aos quarenta e quatro minutos, Bebeto outra vez recebeu de Tita e lançou para Edmar, que acabou perdendo o ângulo e chutando por cima do gol. Por pouco não saiu o quarto.

Na volta do intervalo, o técnico Del Vecchio tirou o centroavante Ronaldo Marques e colocou o zagueiro Fernando, tentando estancar a sangria desatada que havia sido a atuação de seu time no primeiro tempo. Desmantelado taticamente, o alvi-negro praiano passava a jogar com quatro zagueiros de área, fechando e buscando explorar as jogadas pelas pontas. O Flamengo se mantinha no mesmo estilo, com toques curtos e saídas rápidas de ligação da defesa para o ataque, tentando se aproveitar do desespero do rival.

E o desespero logo se transforma em agressões, repetindo o roteiro do que havia sido feito na final do Campeonato Brasileiro de 83, tentando intimidar o time rubro-negro e forçá-lo a colocar o pé no freio. O descontrole emocional dos paulistas se manifesta aos doze minutos, quando Dema acerta um ponta-pé por trás em Tita, depois de ele já ter passado com a bola rumo ao ataque. O árbitro aplica o cartão vermelho. Além do cabeça de área, o juiz também expulsou o diretor de futebol Clodoaldo pelas palavras gritadas do banco de reservas. Em meio à confusão instaurada, Bebeto levou um soco na boca, desferido pelo zagueiro Fernando, e com os lábios sangrando, precisou ser substituído por Élder. O zagueiro agressor saiu impune, e nem cartão amarelo recebeu.

Com um a mais, o Flamengo passou a encurralar ainda mais ao Santos na defesa. Aos vinte e três minutos, triangulação entre Andrade, Tita e Júnior, com este último chutando ao gol e obrigando Rodolfo Rodríguez a se esticar para colocar para escanteio. Dois minutos depois, aos vinte e cinco minutos, Tita inverteu o jogo para Andrade na esquerda, ele carregou ao ataque, passando por um marcador e tabelando com Élder, entrando na área e sendo derrubado por trás por Márcio. Pênalti inquestionável. Tita, camisa 10 e capitão rubro-negro, cobrou forte e rasteiro. O goleiro acertou o canto, mas com o chute foi forte, não alcançou. Goleada no Morumbi: Mengão 4 a 0!

Ainda apelando para a violência, Fernando dá uma banda em Bigu no círculo central, parando o contra-golpe rubro-negro com falta. Mais uma vez poderia ter sido expulso, e mais uma vez não foi. Mas dois minutos depois, Toninho Carlos acerta um bico na perna de Tita e, desta vez, o juiz não titubeia, expulsando o zagueiro santista.

Após os cartões vermelhos a dois jogadores alvi-negros, e a vantagem de quatro gols no placar, o Flamengo poderia ter se dado por satisfeito. Mas o técnico Cláudio Garcia pensou diferente, e lançou o time ainda mais ao ataque, tirando Andrade e colocando em seu lugar ao veloz ponta-direita Lúcio. O time rubro-negro queria mais!

E aos trinta e sete minutos foi dado o golpe final. Leandro foi ao ataque pela lateral direita e sofreu falta perto da linha de fundo. João Paulo cobrou, cruzando para a área. Márcio Rossini manda de cabeça para escanteio, que é Lúcio quem cobra, pelo lado esquerdo. Júnior e Edmar atraem a atenção da defesa santista, que deixa Tita livre na marca do pênalti. Ele manda para o gol e a rede é estufada! Goleada monstruosa na capital paulista: 5 a 0. Uma atuação irretocável, uma goleada impiedosa e um massacre histórico em vermelho e preto!

No dia seguinte, assim a Folha de São Paulo resumiu a vitória imponente em suas páginas: "Nos 5 a 0, o Santos parecia um Judas nas mãos do Flamengo. A goleada foi tão humilhante, que os santistas perderam a cabeça. Sem Serginho Chulapa e Paulo Isidoro, afastados pelo técnico interino Del Vecchio, o Santos foi um time desordenado e sem comando". Nos jornais do Rio de Janeiro, desde o tom mais ácido adotado pelo Jornal do Brasil, que colocou no alto de sua página dedicada ao jogo: "Fla supera violência com arte e cinco gols", até as mensagens mais diretas de exaltação do Jornal dos Sports, que destacou "Mengo massacra o Santos", e do jornal O Globo com um "Flamengo dá show no Santos".








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