Jogos Inesquecíveis: 23/04/1961 - Flamengo 2 x 0 Corinthians
A conquista do título do Torneio Rio-São Paulo de 1961, uma festa no Maracanã. Depois de vencer o Palmeiras no mesmo Maracanã, e de golear ao Santos num histórico 5 a 1 no Pacaembu, o duelo contra o alvi-negro paulista valia o título. Era um Hexagonal Final, disputado por três paulista e três cariocas - Flamengo, Vasco, Botafogo, Santos, Palmeiras e Corinthians - e no qual só havia confrontos interestaduais. Para a última rodada, Vasco e Flamengo chegavam com duas vitórias, o Botafogo com uma vitória e um empate, e o Palmeiras com um empate. O Corinthians chegava ao Maracanã após perder duas vezes no Pacaembu, por 1 a 0 para o Botafogo e por 2 a 0 para o Vasco.
Enquanto Flamengo e Corinthians duelavam no Rio de Janeiro, o Vasco enfrentava ao Palmeiras no Pacaembu, e o Botafogo duelava contra o Santos. Dentre seus adversários, os cruzmaltinos acabaram derrotados pelo time alvi-verde, e o alvi-negro carioca venceu aos santistas. O Flamengo precisava vencer. Depois de tensos primeiros quarenta e cinco minutos sem gols, voltou do intervalo determinado a ser campeão, com Carlinhos fazendo a contenção e dando ritmo ao meio de campo, e uma linha ofensiva arrasadora com Gérson na armação, Joel e Germano pelas pontas, e Dida e Henrique se alternando no comando de ataque.
Ficha Técnica
23/04/1961 - Flamengo 2 x 0 Corinthians
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público estimado: 40.000 pagantes)
Gols: Joel (7'2T) e Dida (21'2T)
Fla: Ari, Bolero, Joubert, Jadir e Jordan; Carlinhos e Gérson; Joel (Othon), Henrique Frade, Dida (Norival) e Germano
Téc: Fleitas Solich
Corinthians: Cabeção, Olavo, Ari Clemente, Jaime e Oreco; Sídnei e Paulinho (Battaglia); Rafael, Miranda, Zague e Gélson.
Téc: Alfredo Ramos
A História do Jogo
A torcida rubro-negro estava animada desde antes da entrada do time em campo. Quando o onze vermelho e preto subiu do túnel do Maracanã, uma estrondosa queima de fogos, palmas fortes e enérgicas, e o grito de "Meeengo!", fazendo uma algazarra em meio às bandeiras desfraldadas que se agitavam nas arquibancadas. O estádio não estava tão cheio como nos clássicos do Campeonato Carioca, recebia cerca de 40 mil pessoas. O Torneio Rio-São Paulo não costumava atrair tanto público quando os grandes duelos locais. Mas ainda assim se podia sentir a euforia de quem estava ansioso por gritar campeão.
Desde 1955, com a conquista do Tri-campeonato Carioca, em título conquistado já no início de 1956, que a torcida rubro-negra não celebrava um título. Nas temporadas anteriores havia chegado perto algumas vezes, tanto no Carioca quanto no Rio-São Paulo, mas nada de ser campeão. Três meses antes, aquele mesmo time havia sido Campeão do Torneio Octogonal Sul-Americano de Verão, competição amistosa que reuniu Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo, River Plate, Boca Juniors, Nacional e Cerro. Um torneio amistoso, cujo troféu foi conquistado na distante Montevidéu, longe dos olhos do torcedor rubro-negro, que desfrutou a conquista pelas narrações no rádio, e pelas páginas dos jornais do dia seguinte. Agora, a oportunidade era ali diante dos seus olhos, no "Maior Estádio do Mundo".
Embalado prelo frenesi de sua torcida, o time começou o jogo quente, e quase marcou logo aos 8 minutos de jogo. Dida foi lançado e penetrou frente a frente a Cabeção, que saiu do gol e foi encoberto com um sutil e bem aplicado lençol. A torcida acompanhou a curvatura da bola no ar até ela acertar o travessão, próxima ao ângulo, e retornar aos braços do goleiro, que já voltava em direção à meta após ser encoberto. A vibração foi intensa, e a animação se manteve nos minutos seguintes. Mas o time não conseguia se articular suficientemente para criar novas oportunidades, e isto foi desanimando à torcida, que diminuiu a intensidade dos seus cânticos.
Aos 20 minutos foi a vez do Corinthians chegar com perigo. Mirando penetrou em meio à defesa rubro-negra e mandou um petardo, que passou pelo goleiro Ari, e acertou a base da trave direita, fazendo gelar os corações flamenguistas no estádio. Estes dois lances representaram os poucos momentos de emoção num primeiro tempo frio. Não é que o Flamengo estivesse tecnicamente mal no jogo, mas não conseguia criar jogadas de perigo, nem penetrar à área adversária envolvendo a defesa corinthiana. O próprio Corinthians, que não brigava por nada para si mesmo, e cuja única pretensão naquela tarde era a de tentar estragar a festa rubro-negra, também atuava friamente.
As páginas do Jornal dos Sports assim definiram a atuação dos donos da casa naqueles primeiros quarenta e cinco minutos: "Era um Flamengo sem as camisas do Flamengo vestidas pelos jogadores do Flamengo". E foi assim que a primeira etapa terminou sem gols.
Fleitas Solich deu um choque motivacional em seus jogadores no intervalo, porque a equipe voltou com outra energia para a etapa final. Na reentrada em campo, a torcida repetiu a algazarra de fogos, gritos e bandeiras do início da partida. O time respondeu, jogando com mais intensidade, e as arquibancadas seguiram empurrando. E a história daquela tarde começou a mudar logo aos 6 minutos após a bola voltar a rolar. Dida caiu pelo lado esquerdo de ataque e foi lançado pelo lado da área alvi-negra. Livrou-se de Olavo com um lindo drible e entrou frente a frente a Cabeção. Preparou-se para soltar um forte chute, mas Olavo conseguiu se recuperar do drible, levantar-se e prensar o chute de Dida, fazendo a bola ir para escanteio, por cima da trave.
O relógio apontava 7 minutos quando aquele escanteio foi cobrado por Germano pelo lado esquerdo. A bola atravessou à área sem que pudesse ser cortada pelo goleiro, e no lado oposto da área encontrou uma testada fulminante do ponta-direita Joel para dentro da baliza. Explosão no Maracanã: Flamengo 1 a 0.
A torcida passou a empurrar sem parar a partir de então, e a química entre torcida e jogadores só fez a euforia se converter num amplo domínio a partir de então. Quando Solich lançou Othon no lugar de Joel, a supremacia em campo ficou explícita, com trocas de passe mais envolventes entre a linha de frente, que deixavam a defesa do Corinthians sem reação.
Não tardou para a fatura ser liquidada. Eram 21 minutos jogados quando foi a vez de Henrique Frade deixar o comando de ataque e cair pela ponta direita para ser lançado. Foi dele toda a jogada, avançando até o fundo contra a marcação de Ari Clemente, vencendo-o na velocidade e centrando rasteiro para o meio da área, onde encontrou Dida penetrando no meio da defesa. O camisa 10 do Flamengo escorou de primeira, com o peito do pé, para dentro da rede. Flamengo 2 a 0! A euforia era definitiva. Estava claro que o Corinthians não tinha motivação nem forças para mudar nada a partir de então. O Flamengo era Campeão Inter-Estadual!!
Nada mais de expressivo aconteceu nos vinte e cinco minutos finais. A torcida rubro-negra cantava sem parar. Gérson foi aclamado como o melhor em campo, apesar das participações decisivas de Joel, Henrique, Dida e Germano nos dois gols flamenguistas. Mas Carlinhos e Gérson foram os regentes no meio, que não deixaram a linha ofensiva alvi-negra jogar, e municiaram os atacantes com maestria para que escrevessem os gols da vitória.
Assim saudou ao campeão as páginas no dia seguinte do Jornal dos Sports: "O Flamengo é o novo campeão do Rio-São Paulo. Novo e pela primeira vez campeão deste que é o mais importante torneio inter-clubes do Brasil. O Jornal dos Sports leva suas felicitações ao presidente Osvaldo Aranha Filho e seus assessores do Departamento de Football; ao técnico Don Manuel Fleitas Solich, seus companheiros, médicos, massagistas e enfermeiros; ao plantel inteiro, bravo e brioso; assim como a essa imensa legião de torcedores que agita o Brasil todo, de Norte a Sul.
Nenhum outro team mereceu mais a vitória. Superando obstáculos aparentemente intransponíveis, após sofrer ásperas derrotas, de tão duras capazes de desmoralizar qualquer concorrente ao título, eis que a equipe emerge destes revéses para se transfigurar e dar a si mesmo, tanto quanto à sua plateia, a prova incontestável de que a última batalha nunca está perdida, sobretudo quando existe fé e coragem.
Desde ontem, a cidade está em festa com o triunfo rubronegro. Os dois a zero que o consagraram, no Maracanã, foram cristalinos e merecidos. O Corinthians - seu adversário - bem que lutou para vender caro a derrota. No fim, prevaleceu a maior e melhor categoria dos rapazes de Don Fleitas, com um Gérson soberbo, um Carlinhos quase gigantesco na segunda fase; e o resto mantendo o coração acima dos cuidados físicos, para o bem do Flamengo".
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