Jogos Inesquecíveis: 28/08/1994 - Flamengo 5 x 2 Corinthians
Pressionado por resultados ruins, o jovem time do Flamengo recebia a um Corinthians ainda invicto naquele Campeonato Brasileiro no Maracanã. Com a camisa rubro-negra uma legião de jovens emergidos da base, entre os quais o mais experiente era o zagueiro Gélson Baresi, presente no jogo do título brasileiro de 1992, e o mais badalado era o "Diabo Loiro" Sávio, que emergia com a camisa 11 com a alcunha de um "Novo Zico" na Gávea. Mas quem brilhou naquela noite foi um jovem nascido em Curitiba, na época com apenas 20 anos, e que começava como titular como centroavante. Foi o maior jogo da carreira de Magno. Uma vitória histórica, com uma goleada por 5 a 2 em cima de um Corinthians repleto de jogadores experientes, como o goleiro Ronaldo, Wilson Mano, Boiadeiro, Tupãzinho e Viola, junto a uma geração de jovens proeminentes, como Zé Elias, Souza e Marques, estes dois últimos que vieram a vestir rubro-negro mais adiante em suas carreiras. Uma vitória fabulosa e arrasadora! A garotada rubro-negra massacrou aquele experiente Corinthians.
Aquele time do Flamengo era impressionantemente jovem. Só havia dois jogadores mais experientes e com idade maior do que 24 anos: o goleiro Gilmar, então com 35 anos, e o volante Charles Guerreiro, que tinha 30 anos. Depois deles, o mais velho era o lateral-esquerdo Marcos Adriano, jogador emprestado pelo Santos, que tinha 24 anos. Havia três jogadores da geração rubro-negra Campeã da Copa São Paulo de Juniores de 1990, Marquinhos, Nélio e Paulo Nunes, todos entre 22 e 23 anos. Todos os demais seis jogadores vinham de uma mesma geração da base, e tinham 20 anos ou menos. Cinco tinham exatamente 20 anos: Índio, Gélson, Hugo, Magno e Sávio. O mais jovem era Fabiano, ainda com 19 anos. Um time com média de idade de apenas 23 anos, sendo que a média dos jogadores de linha era de 22 anos.
A imprensa havia batizado Sávio e Magno como o "Casal 20" do Flamengo
Time de Carlinhos anunciava que iria sem medo para cima do Corinthians
Ficha Técnica
28/08/1994 - Flamengo 5 x 2 Corinthians
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 22.097 pagantes; 23.077 presentes)
Gols: Henrique (8'1T), Magno (4'2T), Marcos Adriano (6'2T), Magno (21'2T) e (27'2T), Marques (35'2T) e Sávio (44'2T)
Fla: Gilmar Rinaldi, Fabiano (Paulo Nunes), Índio, Gélson Baresi e Marcos Adriano; Charles Guerreiro, Marquinhos, Hugo e Nélio; Sávio e Magno.
Téc: Carlinhos
Corinthians: Ronaldo Giovanelli, Valdo, Henrique Etges, Gralak e Daniel; Zé Elias, Wilson Mano, Marco Antônio Boiadeiro e Souza (Tupãzinho); Marques e Viola.
Téc: Jair Pereira
A História do Jogo
Apesar do Flamengo ser mandante, com o jogo no Maracanã, a fase do Corinthians era muito melhor do que a rubro-negra. Os paulistas eram os líderes do grupo no Brasileirão e tinham uma equipe muito mais experiente do que a jovem garotada rubro-negra, recém chegada do profissional da categoria Sub-20 da Gávea. Animada, a torcida do Corinthians viajou em 50 ônibus de São Paulo ao Rio de Janeiro para marcar presença no estádio. Acabaram regressando de cabeça quente.
Mas nos minutos iniciais de jogo, a pressão foi toda paulista. Com 8 minutos, Marques recebeu passe aberto pela esquerda de ataque, buscando explorar exatamente o fato de que o time rubro-negro atuava com um zagueiro improvisado na posição. O arisco ponta passou por Fabiano e Índio e cruzou para Viola meter a cabeça na bola na pequena área. A cabeçada saiu forte, mas Gilmar espalmou, fazendo boa defesa.
Aos 25 minutos, Gilmar foi obrigado a trabalhar de novo. Marques novamente explorou as costas de Fabiano, mas desta vez sofreu falta antes que cruzasse. O lateral-esquerdo Daniel cobrou, cruzando para a área, e o próprio Marques meteu a cabeça, em direção ao chão, mas Gilmar defendeu.
A pressão alvi-negra crescia. Sempre com Marques, que desta vez inverteu posição para buscar confundir a defesa rubro-negra. Aos 33 minutos, recebeu pelo lado direito de ataque e penetrou pela área, tocando na saída de Gilmar, e vendo a bola cruzar à pequena área e passar rente à trave.
As melhores chances rubro-negras até aquele momento saíram seguidas, aos 36 e aos 37 minutos, mas nenhuma das duas levou grande perigo ao gol de Ronaldo. Primeiro com Marquinhos cruzando pela esquerda para Nélio. O zagueiro Henrique cortou a escanteio. Na cobrança, de Sávio, a bola cruzou a área e Hugo chegou atrasado, som conseguir alcançá-la. No ataque seguinte, novo escanteio cobrado por Sávio, Marquinhos raspou para trás, e desta vez foi a vez de Magno chegar atrasado e não conseguir a conclusão.
Quando o Flamengo ameaçava reagir, foi o Corinthians quem marcou. Marques sofreu mais uma falta pela esquerda de ataque. Eram 40 minutos do 1º tempo, Souza cobrou na cabeça do zagueiro gaúcho Henrique, que subiu entre Índio e Gélson e tocou para o gol. Gilmar não saiu para tentar o corte, e só pode olhar ir mansa para dentro do gol, colocando o alvi-negro paulista a frente no placar.
Antes do intervalo, porém, o polêmico centroavante Viola xingou o árbitro Márcio Rezende de Freitas e recebeu cartão vermelho, deixando sua equipe com um jogador a menos em campo. Eram 43 minutos quando Sávio sofreu entrada de Valdo na entrada da área. O time corinthiano reclamou, e segundo o árbitro mineiro, as palavras do centroavante a ele foram xingamentos. Na cobrança da falta, Hugo não levou qualquer perigo, e ao apito do árbitro a vantagem era corinthiana no placar: 1 a 0.
No intervalo, Carlinhos deu sua cartada para tentar reverter o quadro negativo, apostando de forma ousada: retirou o zagueiro improvisado como lateral-direito Fabiano, e lançou o ponta-direita Paulo Nunes no lugar. Assumiu um claro risco defensivo, deixando sua equipe agressivamente ofensiva com três atacantes, Paulo Nunes e Sávio caindo pelas pontas, e Magno enfiado pelo meio da área. A ousadia por premiada com um resultado a partir dali que até antes da bola rolar era pensado como improvável e até inimaginável.
O time rubro-negro havia criado pouquíssimo no 1º tempo, não tendo tido sequer uma chance clara de gol a seu favor. Mas com ânimo renovado e muita jovialidade na linha de frente, o time rubro-negro chegou ao empate logo aos 4 minutos. Nélio deu um belo toque de calcanhar para o lateral-esquerdo Marcos Adriano, que avançou pelo lado esquerdo e cruzou para a área, com a bola passando por Sávio e encontrando Magno entrando por trás da defesa para tocar para o gol e empatar a partida.
Dois minutos depois saiu a virada. De novo com participação ativa do lateral Marcos Adriano, desta vez em bela jogada individual e fazendo um golaço. Ele pegou a bola na intermediária e avançou sem ser combatido. Foi entrando em direção à área, livrou-se dos marcadores e tocou de bico de chuteira para tirar de Ronaldo e ver a bola entrar mansamente para dentro do gol: 2 a 1.
Gol de Marcos Adriano
Aos 18 minutos, o zagueiro Índio ia marcando o terceiro, para euforia da torcida nas arquibancadas, mas o juiz anulou o gol. O zagueiro escorou de cabeça um cruzamento de Hugo, que cobrou falta pela esquerda. O árbitro alegou que a bola resvalou em seu braço após a cabeçada, mudando sua trajetória, e assim anulou ao tento por toque de mão.
Mas dois minutos depois, aos 20, não teve jeito. O zagueiro Gralak se enrolou na saída de bola e perdeu a posse para Magno, que abriu imediatamente na ponta para Sávio, que fez jogada individual, foi à linha de fundo, e cruzou rasteiro para o meio da área para encontrar ao próprio Magno, que havia iniciado à jogada, e que só teve o trabalho de escolher o canto e escorar para dentro do gol: 3 a 1.
Quando o relógio apontava 27 minutos, saiu mais um belo gol. Gralak voltou a perder a posse de bola para Magno, que partiu em velocidade e penetrou pelo meio dos zagueiros do Corinthians, que não conseguiram combatê-lo. O jovem bateu firme, fora do alcance de Ronaldo, marcando o quarto gol, seu terceiro no jogo. Foram quatro gols, e um quinto anulado, em pouco mais de vinte minutos de bola rolando. Um show rubro-negro no Maracanã!
Extasiada, a torcida rubro-negra passou a gritar "olé" enquanto seus jogadores trocavam passes, enervando os jogadores do Corinthians, que se irritaram e partiram mais aguerridamente a tentar o jogo, acabando por conseguir diminuir a diferença quando faltavam dez minutos para o fim da partida. O meia Marco Antônio Boiadeiro - que no primeiro semestre havia feito parte do time do Flamengo que perdeu o título do Campeonato Carioca na última rodada para o Vasco - meteu em profundidade para Marques na área. Ele entrou sozinho, em desatenção da zaga rubro-negra, e bateu à esquerda de Gilmar para diminuir: 4 a 2.
Os ânimos se acalmaram, e o Flamengo ainda encontrou seus meios para marcar mais um. Estava faltando o tento da principal joia rubro-negra. E seu gol saiu no minuto regulamentar final. O Corinthians pressionava em busca do seu terceiro gol quando o Flamengo retomou a bola e partiu em rápido contra-ataque. Hugo lançou Sávio, que penetrou pela área e concluiu na saída do goleiro para fechar a festa rubro-negra. Impiedosos 5 a 2.
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