Jogos Inesquecíveis: 23/03/1958 - Flamengo 6 x 2 Palmeiras
No Rio-São Paulo de 1958 o time rubro-negro fez uma excelente campanha. Largou vencendo nas três primeiras rodadas, duas delas em vitórias como visitante, contra São Paulo e Santos, além de ter batido à Portuguesa de Desportos no Maracanã. Na 4ª rodada, um tropeço, perdeu para o América por 3 a 2. Recuperou-se nas duas rodadas seguidas, com duas goleadas: 4 x 0 no Botafogo e 6 x 2 no Palmeiras.
Esta vitória histórica sobre o alvi-verde paulista colocou o time cabeça à cabeça com o rival Vasco da Gama na luta pela conquista do troféu. Aquele ano inteiro de 1958 foi recheado de atuações grandiosas, mas os troféus escaparam, e aquele timaço não recebeu o justo prêmio que merecia. O que nada diminui aquela colossal e acachapante vitória sobre o Palmeiras no Maracanã!
Ficha Técnica
23/03/1958 - Flamengo 6 x 2 Palmeiras
Local: Maracanã, Rio de Janeiro
Gols: Henrique Frade (5'1T) e (8'1T), Nilo (13'1T), Henrique Frade (24'1T), Milton Copolillo (contra, 30'1T), Dida (4'2T) e (5'2T), e Henrique Frade (32'2T)
Fla: Fernando, Joubert, Milton Copolillo, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Joel, Henrique Frade, Dida (Luís Carlos) e Zagallo.
Téc: Fleitas Solich
Palmeiras: Aparecido (Humberto Torgado), Mexicano, Valdemar Carabina, Édson e Fausto Laguardia; Martim e Ivan; Paulinho, Altafini Mazzola, Nilo (Renatinho) e Nardo.
Técnico: Osvaldo Brandão
A História do Jogo
O Flamengo entrava em campo como líder do Torneio Rio-São Paulo de 1958, competição que nunca havia conquistado desde a implementação em 1950, ainda que tenha sido o campeão de uma edição avulsa ocorrida em 1940. Era uma liderança dividida, compartilhada com o rival Vasco da Gama na ponta da tabela. A expectativa era grande para receber ao Palmeiras, treinado pelo badalado Osvaldo Brandão, técnico da Seleção Brasileira nos Campeonatos Sul-Americanos de 1956 e 1957, e que trazia na linha de frente ao centroavante titular do escrete verde-amarelo, José Altafini, o também renomado Mazzola. Mas a linha de frente rubro-negra formada por Joel, Henrique, Dida e Zagallo vinha de uma sequência de atuações exuberantes, com uma rapidez de movimentos coordenados que impressionava. A expectativa era enorme!
A partida se iniciou com o Flamengo impondo um forte ritmo desde os primeiros minutos de jogo. Mal havia rolado a bola, e Dida foi lançado em penetração para aparecer frente a frente com o goleiro Aparecido, que conseguiu se antecipar e fazer a defesa. As linhas ofensivas rubro-negras se movimentavam com mais eficiência ofensivamente, e a defesa palmeirense dava sinais de desorientação, o primeiro gol rubro-negro parecia era questão de tempo. Num de fora da área aos 3 minutos, Moacir quase marcou. A pressão era fortíssima. E deu resultado.
Aos 5 minutos, o ponta-esquerda rubro-negro Zagallo vai ao fundo e cruza para a área. Aparecido sai em falso, mas interrompe a saída esperando que sua dupla de zaga afastasse o perigo, mas esta, por sua vez, fica esperando que o goleiro cortasse. Aproveitando-se da indecisão, o centroavante rubro-negro Henrique apareceu no meio da defesa alvi-verde e empurrou para dentro do gol com um rápido toque de primeira. O Flamengo estava avassalador, e três minutos depois marcou seu segundo gol: troca de passes na intermediária e o passe de Dida encontra Henrique Frade muito bem posicionado, para se livrar dos marcadores e escorar no canto esquerdo para dentro da rede: Mengão 2 a 0!
O Palmeiras tinha um time muito bom, e logo tratou de provar que a vida rubro-negra não seria fácil, e que o início ruim havia sido um mero lapso momentâneo. Pouco após o reinício, Mazzola levou perigo ao se desvencilhar dos zagueiros e arrematar a gol, para defesa do goleiro rubro-negro Fernando. Mas a vantagem de dois gols não duraria cinco minutos. Aos 13, a partir de uma cobrança de escanteio pela esquerda alçada à área do Flamengo; Fernando não saiu do gol, e Nilo subiu para testar firme e marcar o primeiro gol palmeirense: 2 a 1.
O jogo passou a ser de alta qualidade, num intenso ritmo "lá e cá". Os comandados do paraguaio Fleitas Solich criaram sequenciais chances de gol nos minutos seguintes, mas nenhuma sem grande perigo para ao gol da equipe comandada pelo treinador Osvaldo Brandão. Até que aos 24 minutos, é Zagallo quem cobra um escanteio para a área palmeirense. Era uma tarde de infelicidade dos goleiros para sair do gol nas bolas alçadas sobre suas áreas. Aparecido sai muito mal de sua meta, e a bola sobra na entrada da pequena área para Henrique escorar de virada para dentro do gol, marcando ainda na metade do 1º tempo, o seu terceiro gol naquela tarde. Magistral atuação do camisa 9 do time rubro-negro.
O Palmeiras se atordoa com o terceiro tento e volta a se desorganizar. Dida tem oportunidade clara para marcar o quarto gol mal dada a saída após o terceiro de Henrique. Ele é lançado e invade a área alvi-verde frente a frente com Aparecido, a quem tenta encobrir, mas sem sucesso, ainda que a bola tenha saído rente à trave. O Flamengo tem um volume de jogo muito maior do que o seu adversário. Parecia já se desenhar uma goleada. Mas o time paulista não estava disposto a entregá-la fácil.
Eram 30 minutos do 1º tempo quando o Palmeias chega a seu segundo gol, mas por total infelicidade do zagueiro flamenguista Milton Copolillo, que erra bisonhamente. A cobrança de escanteio veio pela esquerda. A bola alçada na área poderia ter sido cortada por Milton, ele ameaça deixá-la passar mas se enrola. A bola lhe bate nas costas e cruza a linha defendida por Fernando. Era marcado um gol contra: 3 a 2. Resultado totalmente em aberto! E foi assim que terminou o 1º tempo. Pelas falhas na etapa inicial, o goleiro palmeirense é trocado por Brandão no intervalo, sai Aparecido e entra Humberto.
No intervalo, o "bruxo" Solich redesenhou as jogadas de ataque, e mais uma vez o time do Flamengo entrou em campo avassalador naquela tarde. Logo aos 4 minutos de bola tendo voltado a rolar, a movimentação de ataque intensiva de Dida e Henrique confunde a defesa paulista. O camisa 9 sai da área par receber na intermediária e dar o passe preciso para o camisa 10 que vem entrando por trás da intermediária. Ele acerta um chute potente da entrada da área, vencendo sem dificuldade ao arqueiro que recém havia ingressado na partida: Mengão 4 a 2! E a etapa final estava apenas começando.
A festa vira um baile, com os palmeirenses desnorteados no meio do salão. Foi só o jogo ser reiniciado, e no ataque seguinte do Flamengo, a jogada é praticamente idêntica: Henrique sai da área e recebe um passe, Dida penetra pela área e é magistralmente encontrado por Henrique Frade. O camisa 10 d´mais um chutaço, vence de novo ao atordoado goleiro Humberto, e faz um novo golaço, o seu segundo naquela tarde. Cinco minutos do segundo tempo, e o placar já assinalava 5 a 2. Fantástico!
O time rubro-negro passa a esperar mais aos alvi-verdes daí em diante, cozinhando o tempo, esperando que a partida avance para seu final. A vitória já estava consumada. O Palmeiras tem dificuldade para furar a barreira defensiva formada por Joubert, Copolillo, Jadir, Jordan e Dequinha. Numa única oportunidade de mais perigo, Fernando fez boa defesa após chute de Mazzola. Solich lança então a campo ao jovem e promissor Luís Carlos, buscando dar mais velocidade a eventuais contra-golpes.
A estratégia funciona. Aos 32 minutos, o Flamengo avança em velocidade, com Luís Carlos e Henrique trocando passes pela intermediária. Era a hora de consagração do grande herói daquela tarde de domingo no Maracanã. O camisa 9 recebe livre e avança par dentro da área, livre de marcação. Com extrema felicidade, acerta um chute potente e preciso no ângulo esquerdo de Humberto. Era o quarto gol de Henrique Frade, que ainda havia dado as duas assistências decisivas nos dois gols marcados por Dida. Que atuação soberba!
Flamengo 6 a 2! Como diria no seguinte as páginas do "Diário da Noite": "Assim vence um líder". Vitória saudada pelas palavras do técnico adversário Osvaldo Brandão dentro do vestiário após a partida: "o Flamengo está como nos bons tempos, correndo e dando muito trabalho às defensivas adversárias". A capa da edição seguinte da Revista Manchete Esportiva seria mais irônica: "Flamengo depenou o periquito".
Um jogo histórico que merecia ter premiado a soberba campanha rubro-negra, mas o título não foi conquistado ao final. Faltando duas rodadas, Flamengo e Vasco estavam empatados na liderança, ambos tendo sofrido apenas uma derrota cada (os vascaínos perderam para o Palmeiras logo na estreia) e vencido todos os seus demais jogos. Na penúltima rodada, os dois se enfrentavam no Maracanã. O estádio recebeu o maior público da história do Torneio Rio-São Paulo: 120.165 pagantes e 129.625 presentes. Em campo, 1 a 1. O título ficou para ser decidido então na última rodada, quando os dois rivais foram jogar em São Paulo, respectivamente contra Corinthians e Portuguesa de Desportos. O time rubro-negro perdeu (0 x 3 no Pacaembu) e os cruzmaltinos golearam (5 x 1) e se sagraram campeões. O Flamengo, vice-campeão, terminou dois pontos atrás na tabela. Depois de 6 edições sem conseguir terminar no "Top 4" do Torneio Rio-São Paulo, o Flamengo terminou pela segunda vez consecutiva com um 2º lugar. Aquele timaço rubro-negro merecia mais!
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