sábado, 31 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 02/12/89 - Flamengo 5 x 0 Fluminense




Jogos Inesquecíveis: 02/12/1989 - Flamengo 5 x 0 Fluminense

"O final do ano de 1989 marcou a despedida de Zico. Seu último jogo oficial pelo Flamengo foi marcante, uma goleada de 5 a 0 sobre o Fluminense, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, disputada no estádio municipal de Juiz de Fora. Neste jogo, Zico, de falta, fez o primeiro gol o Flamengo. Depois, houve uma segunda despedida, em partida amistosa contra um time de Amigos de Zico, no Maracanã". (A NAÇÃO, pg. 155)


Em dezembro de 1989, Zico despedia-se da camisa do Flamengo. E com estilo, foi dele o gol de falta, em cobrança precisa, no ângulo, que abriu o placar naquela tarde de sol no Estádio Municipal de Juizde Fora. Era o último jogo oficial de Zico com a camisa do Flamengo. Renato Gaúcho, Bujica, Uidemar e o jovem meia Luís Carlos fecharam o placar. Despedida com estilo, goleada sobre o Fluminense. Fechou-se as cortinas de uma era que deixa muitas saudades nos corações rubro-negros.

O maior momento da história do Estádio Municipal Mário Helênico, em Juiz de Fora, cidade mineiro próxima à divisa entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, aconteceu na despedida oficial de Zico do futebol brasileiro. O Galinho de Quintino escolheu o clássico contra o Fluminense, pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano, como sua última partida oficial vestindo a camisa rubro-negra. Em seu último jogo, o craque não decepcionou, além de marcar o primeiro gol do jogo, em uma cobrança perfeita de falta, que entrou no ângulo, a grande marca registrada de sua carreira, ele ainda brindou companheiros e torcida com belos lançamentos e uma atuação de gala. No fim da goleada, o dono da festa foi substituído para ser ovacionado por um estádio cheio.



Ficha Técnica
02/12/1989 - Flamengo 5 x 0 Fluminense
Local: Estádio Municipal, Juiz de Fora (Público: 13.783 pagantes)
Gols: Zico (22'1T), Renato Gaúcho (4'2T), Luís Carlos (22'2T), Uidemar (31'2T) e Bujica (42'2T)
Fla: Zé Carlos, Josimar, Júnior, Rogério Lourenço e Leonardo (Marcelinho Carioca); Ailton, Luís Carlos, Zico (Uidemar) e Zinho; Renato Gaúcho e Bujica.
Téc: Valdir Espinoza
Flu: Ricardo Pinto, Carlos André, Édson Mariano, Alexandre Torres e Marcelo Barreto; Vítor, Donizetti Oliveira, Vander Luís e João Santos (Dedei); Franklin (Marcelo Henrique) e Sílvio.
Téc: Telê Santana






A História do Jogo

O Fla x Flu válido pela 17ª rodada, a penúltima, da 1ª Fase do Campeonato Brasileiro de 1989 marcou a última partida oficial de Zico com a camisa do Flamengo. Por conta dos altos custos de utilização do Maracanã, o Flamengo estava mandando seus jogos como mandante naquela edição fora do Rio de Janeiro, utilizando o estádio de Juiz de Fora, em Minas Gerais. As duas equipes não ambicionavam mais nada no Campeonato, mas o jogo era um Fla x Flu! A campanha de ambos os rivais também não estava sendo animadora, o time tricolor estava na rabeira de seu grupo, e o time rubro-negro estava sem forças para alcançar o São Paulo e lutar por uma vaga na decisão. Ao menos, o Galinho de Quintino garantiu uma grande história em campo: comandou uma goleada histórica por 5 a 0.

Zico gostava de maltratar o Fluminense, e mais uma vez o faria naquela tarde. O primeiro gol nasceu de sua genialidade. Ele aplicou uma caneta desconcertante em Donizeti, metendo-lhe a bola pelo meio das pernas, e acabou só sendo parado com falta. Na cobrança: bola na gaveta, sem que o goleiro Ricardo Pinto conseguisse alcançar. Um golaço, no ângulo! No segundo tempo, um outro lance magistral do camisa 10 da Gávea. Zico descolou um lançamento fabuloso para Renato Gaúcho, que arrancou e resolveu, marcando o segundo tento rubro-negro. Era o suficiente ao veterano de 36 anos, que então deixou o campo, ovacionado, pendurando as chuteiras em partidas oficiais no Brasil. No início do ano seguinte, ele ainda teria uma festa de despedida no Maracanã, num amistoso reunindo estrelas internacionais num time de "Amigos de Zico", que enfrentou ao Flamengo. A aposentadoria dos gramados acabaria não sendo definitiva, tendo poucos anos depois ele regressado aos campos ao aceitar um convite para formatar o futebol profissional no Japão.

Mas voltemos ao dia dois de dezembro de 89 em Juiz de Fora, quando se deu o fim de carreira de uma lenda mais do que tudo do Flamengo, mas também do futebol brasileiro, e sim, do futebol mundial! Zico fez a sua última partida oficial com a camisa do Flamengo que ele defendeu por 18 anos na carreira. Zico deixava órfã uma Nação inteira! Como o Flamengo viveria sem Zico?

O Flamengo, treinado por Valdir Espinoza, entrou em campo escalado com: Zé Carlos, Josimar, Júnior, Rogério e Leonardo; Aílton, Luis Carlos, Zico e Zinho; Renato Gaúcho e Bujica. E o Fluminense, do técnico Telê Santana, entrou em campo com: Ricardo Pinto, Carlos André, Alexandre Torres, Édson Mariano e Marcelo Barreto; Vítor, Donizete Oliveira e João Santos; Vander Luís, Sílvio e Franklin.

Todos estavam empenhados no Flamengo em fazer daquele jogo uma grande festa inesquecível para o eterno "Galinho de Quintino". O Flamengo teve a primeira grande oportunidade num belo chute de Josimar de fora da área para bela defesa do goleiro Ricardo Pinto. Logo depois foi Bujica quem quase marcou numa bela jogada de Renato Gaúcho, tendo Ricardo Pinto mais uma vez salvado o time tricolor. O Fluminense só chegou ao ataque aos onze minutos, num chute de Vítor que passou longe da meta rubro-negra.

Quando o Fluminense passava a chegar com mais perigo ao ataque, e o Flamengo se encolhia em campo, eis que Zico colocou a bola entre as pernas de Donizete, que o segurou, fazendo falta na intermediária. Zico cobrou com a perfeição de sempre e marcou o seu último gol de falta com a camisa do Flamengo num jogo oficial. Zico cada vez mais comprovava que seria difícil viver sem Zico!

Após o gol, o Flamengo voltou a dominar completamente as ações do jogo enquanto o Fluminense atacava sem qualquer perigo. O Flamengo ainda permaneceu fechado, esperando o Fluminense em seu campo de defesa, e o adversário tentava buscar o empate, mas sempre sem sucesso. Até o fim do primeiro tempo, o Flamengo equilibrou as ações na partida, indo para os vestiários em vantagem.

No segundo tempo, logo aos quatro minutos, Zico fez um lançamento magistral para Renato Gaúcho, que partiu em velocidade, driblou o seu marcador e marcou um golaço! Gol que seria seu último com assistência de Zico! A comemoração foi envolta em muita comoção e abraços em Zico!

Logo em seguida, Zico saiu, substituído pelo volante Uidemar, e entregou a faixa de capitão para Júnior! A torcida deu o seu grito emblemático e tradicional de muitos anos: "Ei, ei, ei, Zico é o nosso rei!". E assim foi perdurando o grito enquanto o Galinho tentava sair de campo, cercado por dezenas de repórteres. Zico saía e com ele uma enormidade de vazio nos corações de todos os rubro-negros se formava, uma saudade que jamais seria contida!

Zico, assim como tantos outros craques, devia ser eterno em seu auge físico e técnico para que nunca houvesse a despedida, e o futebol seria brindado pra sempre com sua magia, e o coração de milhares de rubro-negros. Era o Flamengo que teria que definitivamente passar a viver sem Zico!

Aos vinte e dois minutos, para deixar a festa mais bonita, Zinho cobrou escanteio e o jovem meia Luís Carlos desviou para fazer três a zero. Contagiado, o time do Flamengo continuou buscando o gol a todo o momento. Aos trinta e um, Ailton recebeu na entrada da área e tocou para Uidemar fazer o quarto gol rubro-negro. Era o Flamengo goleando o Fluminense naquela partida histórica! No apagar das luzes, numa bela tabela na entrada da área entre Zinho e Ailton, Bujica finalizou após receber assistência de Ailton. Golaço para abrilhantar mais a festa de despedida de Zico! Flamengo cinco, Fluminense zero! Goleada!

Ao final do clássico, Zico não escondeu a emoção, enquanto recebeu a merecida nota 10 dos jornais. Ainda se juntaria à Seleção Brasileira de Seniors nas semanas seguintes, enquanto a despedida grandiosa no Maracanã ficaria marcada para fevereiro de 1990, com um amistoso que levou 100 mil às arquibancadas do estádio.

Adeus Galinho. E Muito Obrigado!






sexta-feira, 30 de março de 2012

6º lugar: JOEL SANTANA

Atualizado em: 6º lugar: Joel Santana

Joel Santana agora é o sexto treinador que mais vezes treinou o Flamengo na história, estando atualmente em sua quinta passagem pela Gávea. Na derrota para o Olimpia por 3 a 2 pela Libertadores atingiu 185 jogos a frente do Flamengo, reultrapassando Vanderlei Luxemburgo, seu antecessor, que lhe havia tomado a sexta posição.

Joel Santana foi o único treinador na história a ter conseguido fazer sucesso como técnico dos 4 grandes do Rio de Janeiro. É ex-zagueiro do Vasco, onde jogou de 1971 a 1975, tendo sido titular da zaga cruzmaltina na campanha do título brasileiro de 1974. Depois, de 1976 a 1980 jogou no América de Natal, do Rio Grande do Norte.

Carreira: 1986-87 Vasco; 1987-90 Al Hilal (Arábia S.); 1990-92 Al Nassr (Arábia S.); 1992-93 Vasco; 1994 Bahia; 1995 Fluminense; 1996 Flamengo; 1997 Botafogo; 1997 Corinthians; 1998 Flamengo; 1999 Bahia; 2000 Botafogo; 2000-01 Vasco; 2001 Coritiba; 2002-03 Vitória; 2003 Fluminense; 2004 Guarani (SP); 2004 Internacional de Porto Alegre; 2005 Vasco; 2005 Brasiliense (DF); 2005 Flamengo; 2006 Vegalta Sendai (Japão); 2007 Fluminense; 2007-08 Flamengo; 2008-10 Seleção da África do Sul; 2010-11 Botafogo; 2011 Cruzeiro; 2011 Bahia; 2012 Flamengo.

Campeão Carioca de 1987, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 2008 e 2010 (8 vezes).
Campeão Baiano de 1994, 1999, 2002 e 2003 (4 vezes).

Disputou a Copa das Confederações de 2009 na África do Sul comandando os donos da casa.

Foi o treinador do "Gol de Barriga" em cima do Flamengo em 1995 e era o treinador vascaíno no "Gol do Pet" em 2001.

Passagens pelo Flamengo:
1996 - treinou o time na temporada inteira de 1996. Foi Campeão Carioca invicto no primeiro semestre; no segundo, o time ficou em 13º lugar. Foram 81 jogos nessa passagem, com 44 vitórias, 21 empates e 16 derrotas. Nesta passagem, treinou Romário, Sávio, Mancuso, Bebeto, Djair, Amoroso, e tinha em Iranildo sua espécie de amuleto, trunfo.
1998 - a segunda passagem foi de março a agosto de 1998. Foi chamado para substituir Paulo Autuori e comandar um time com Romário, Rodrigo Fabbri, Palhinha, Zé Roberto e Cleisson. Sem conseguir fazer o time engrenar, acabou demitido. Em 5 meses, foram 28 jogos, com 13 vitórias, 9 empates e 6 derrotas.
2006 - foi ressucitado pelo Flamengo, pois andava desacreditado no Brasiliense, e ao mesmo tempo ressucitou o Flamengo, que estava praticamente rebaixado naquele ano. Chegou faltando 9 jogos e conseguiu sair invicto, com 6 vitórias e 3 empates. O time tinha o paraguaio César Ramirez, Diego Souza, Leonardo Moura e Renato Abreu. O milagre salvou o Flamengo da 2ª divisão e rendeu a Joel uma volumosa transferência para o Japão.
2007-08 - a quarta passagem foi entre agosto de 2007 e maio de 2008, com uma campanha fantástica no Brasileiro de 2007 e depois com o título carioca de 2008. O sucesso o levou a ser convidado para dirigir a África do Sul. Seu último jogo foi a catastrófica derrota para o América do México, que eliminou o time da Libertadores. Em 9 meses, foram 54 jogos, com 35 vitórias, 7 empates e 12 derrotas. Teve no volante Toró seu homem de confiança, em times que tiveram Leonardo Moura, Juan, Fábio Luciano, Ibson, Renato Augusto e Obina.
2012 - ...


7º lugar: VANDERLEI LUXEMBURGO

Vanderlei Luxemburgo foi reultrapassado por Joel Santana, que o sucedeu no cargo, e agora é o 7º técnico que mais vezes comandou o Flamengo na história. Foram 184 jogos, com 90 vitórias, 57 empates e 37 derrotas em três passagens pela Gávea.

Vanderlei Luxemburgo foi lateral esquerdo, jogou por Flamengo (1971-78), Botafogo (1979) e Internacional (1980-81). No Flamengo, sempre foi reserva, pois o titular inquestionável da posição durante toda sua estadia na Gávea foi Júnior. Como treinador, começou a fazer sucesso quando levou o Bragantino ao título de Campeão Paulista. As passagens mais marcantes de sua carreira foram em São Paulo, com Palmeiras, Corinthians e Santos. Em 2003, com o Cruzeiro, conquistou a Tríplice Coroa: Campeão Mineiro, da Copa do Brasil e Brasileiro no mesmo ano.

Carreira: 1983 Campo Grande (RJ); 1983-84 Rio Branco (ES); 1984 Friburguense (RJ); 1984-85 Al Ittihad (Arábia S.); 1985-86 Democrata GV (MG); 1987 América (RJ); 1988 Fluminense Sub 20; 1989-90 Bragantino (SP); 1991 Flamengo; 1992 Ponte Preta (SP); 1993-94 Palmeiras; 1995 Flamengo; 1995 Paraná Clube; 1996 Palmeiras; 1997-98 Santos; 1998-99 Corinthians; 1999-2000 Seleção Brasileira; 2001-02 Corinthians; 2003-04 Cruzeiro; 2004 Santos; 2005 Real Madrid (Espanha); 2006-07 Santos; 2008-09 Palmeiras; 2009 Santos; 2010 Atlético Mineiro; 2010-11 Flamengo; 2012 Grêmio.

Campeão Brasileiro de 1993; 1994; 1998; 2003 e 2004 (5 vezes)
Campeão da Copa América de 1999
Campeão da Copa do Brasil de 2003
Campeão Paulista de 1990; 1993; 1994; 1996; 2001; 2006; 2007 e 2008 (8 vezes)
Campeão Mineiro de 2003 e 2010
Campeão Carioca de 2011
Campeão Capixaba de 1983

Passagens pelo Flamengo:
1991 - chegou ao Flamengo depois de dar o título paulista para o Bragantino; treinou o time entre janeiro e agosto de 1991. Foi 9º lugar no Campeonato Brasileiro, no primeiro semestre. Caiu no início do Campeonato Carioca, tendo sido substituído por Carlinhos, que levou o clube ao título Carioca daquele ano e ao Brasileiro do ano seguinte. Nesta passagem foram 52 jogos, com 24 vitórias, 12 empates e 12 derrotas. O time tinha o goleiro Gilmar, o maestro Júnior, Wilson Gottardo, Zinho, Marcelinho Carioca e Gaúcho.
1995 - voltou ao clube como bicampeão paulista e brasileiro pelo Palmeiras, para ser o treinador do "Time do Centenário". O vice-campeonato carioca, após o "Gol de Barriga" e os desentendimentos com Romário o tiraram da Gávea. Entre janeiro e julho daquele ano foram 46 jogos, com 27 vitórias, 10 empates e 9 derrotas. O time tinha Romário, Sávio, Nélio, o veterano Branco, Válber e Jorge Luís.
2010-11 - chegou ao Flamengo, para sua terceira passagem pelo clube, sendo atacado pela imprensa, que dizia que ele já era um treinador ultrapassado. Salvou o time do rebaixamento em 2010 e foi campeão carioca invicto em 2011. Em 2010, o time tinha Leonardo Moura, Willians, Renato Abreu, Maldonado e Kléberson. Em 2011, foi reforçado com Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves.

Seu maior legado para a história do Flamengo foi a participação ativa na modernização do Centro de Treinamento em Vargem Grande, o Ninho do Urubu. Sem ele, seguramente a modernização teria demorado bem mais para acontecer. A obra começou em 2011 e será concluída em 2012.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 13/12/1981 - Flamengo 3 x 0 Liverpool




Jogos Inesquecíveis: 
13/12/1981 - Flamengo 3 x 0 Liverpool

"o rubro-negro chegou ao Japão, vestido de humildes chuteiras com trava de borracha frente às poderosas e mais caras chuteiras de trava de metal dos ingleses do Liverpool, que entrou em campo cheio de empáfia. Os sorrisos irônicos de seus jogadores, destes que fogem pelos cantos da boca, mexeram com os brios rubro-negros. Aos treze minutos do primeiro tempo, Nunes aproveitou lançamento de Zico para fazer 1 a 0, transformando os sorrisos irônicos em olhares preocupados. Aos 36 minutos, Adílio fez 2 a 0. Aos 42, Nunes, de novo, sacramentou o 3 a 0. Os times desceram para o intervalo já com a conquista explicitada. E poderia ter sido de mais, se o Flamengo não houvesse passado o segundo tempo administrando o resultado, esperando o tempo correr, diante de um Liverpool que ainda não conseguia entender muito bem o que se passava, cuja empáfia se transformara em abatimento e desorientação. Mengão campeão do mundo! Coisa que, até então, só o Santos de Pelé havia logrado entre as equipes brasileiras". (A NAÇÃO, pg. 131)




Ficha Técnica do Jogo:

13/12/1981 - Flamengo 3 x 0 Liverpool (Inglaterra)
Local: Estádio Nacional de Tóquio, Japão (Público: 62.000 espectadores (estimado))
Gols: Nunes (13'1T), Adílio (34'1T) e Nunes (41'1T)
Flamengo: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
Téc: Paulo César Carpeggiani
Liverpool: Bruce Grobbelaar, Phil Neal, Ray Kennedy, Mark Lawrenson e Phil Thompson; Alan Hansen, Kenny Dalglish e Sammy Lee; Craig Johnston, Graeme Souness e Terry McDermott (David Johnson).
Téc: Bob Paisley




A História do Jogo

O planejamento para a decisão do torneio intercontinental teve o cuidado condizente com a importância da disputa: viagem na segunda-feira até Los Angeles, permanência nos Estados Unidos até quinta-feira, com fuso horário de cinco horas para diminuir o efeito das doze horas de diferença para o Japão. A delegação partiu sem Adílio, que havia se casado naquela segunda-feira e só partiu do Rio de Janeiro na quarta, tendo na quinta-feira se juntado ao grupo e rumado junto a toda a delegação para Tóquio. A pedido dos jogadores, Anselmo seguiu com a equipe, mesmo estando suspenso pelo cartão vermelho recebido na final da Libertadores diante do Cobreloa, em Montevidéu. Assim como seguiram também as esposas e familiares dos atletas junto à delegação. A intenção era relaxar um grupo desgastado com tantas decisões. Para o time que se acostumou a entrar em campo praticamente a cada três dias, a preparação de uma semana podia ser mais tranquila. Na quarta-feira, para relaxar, acompanhado dos familiares, o grupo fez um passeio pela Disneylandia.

Como sempre foi comum, desde sempre, as equipes sul-americanas davam maior importância ao confronto do que as europeias. Carpegiani havia visto jogos do Liverpool contra o Real Madrid e o Nottingham Forest, tendo tido o auxílio do observador Jairo dos Santos, que entregou as fitas com as gravações destas duas partidas, além de um vasto material entregue ao treinador rubro-negro com anotações feitas após Jairo fazer observações in loco em solo europeu, nas quais destacou a Clemence, Thompson, Watson, Neil e Dalglish. No detalhamento tático: "Eles jogam num 4-4-2 com falsos pontas. O Souness, que atua pelo lado esquerdo, é o cérebro do time. Atacaremos sempre em duplas e, no meio-campo, vamos revezar-nos para tentar confundir o tipo de marcação deles, que é individual". O escocês Souness, no entanto, no Liverpool e na Seleção Escocesa, era um típico meia central britânico, combatendo e atacando. E o "four four two" não se baseava na marcação homem a homem, que só persistia na Itália naquele momento na Europa.

Mas Zico garante que os relatórios de Jairo dos Santos deram maior segurança ao time: "Sabíamos muita coisa deles. E eles, pelo visto, não tinham a menor ideia de como jogávamos. Melhor para nós". Júnior também lembrava da vitória da Seleção Brasileira por 1 a 0 sobre a Inglaterra no Estádio de Wembley, em Londres, com gol de Zico, em maio daquele ano: "São jogadores experientes e com vários jogos pela Seleção Inglesa. Tanto o goleiro Ray Clemence, quanto o lateral Neil e o zagueiro Watson, todos mostraram qualidades naquela partida".

O time estava desgastado. O goleiro Raul vinha sofrendo com dores no nervo ciático e Andrade sentia a virilha. O estado atlético de Adílio também preocupava. Sem contar a previsão de dez graus na capital japonesa para o dia do jogo. A partida se iniciaria à meia-noite de sábado para domingo no horário de Brasília. O domingo começaria atípico no Rio de Janeiro, e estava prestes a se tornar histórico e inesquecível dali em breve.

Em 13 de dezembro, Flamengo e Liverpool entraram em campo no Estádio Nacional de Tóquio, como previsto, a 10 graus nos termômetros. Fazia um sol de inverno maravilhoso no Estádio Nacional para a decisão da Copa Intercontinental, popularmente chamada no Brasil como Mundial Interclubes. Era a segunda edição da Copa Toyota, bancada pela montadora automotiva japonesa dede 1980, acabando com as rusgas, brigas, baixarias e desistências nas disputas entre sul-americanos e europeus realizadas até 1979 num modelo de "ida e volta", com uma partida na América do Sul e outra na Europa. A partir de 1980, era um jogo único, disputado em Tóquio, no Japão, com o propósito de expandir o mercado futebolístico naquela que era a segunda maior economia do mundo naquele momento, atrás apenas dos Estados Unidos, e buscando também expandir a publicidade em toda a Ásia, já de olho no potencial mercado da China, àquela altura ainda muito fechado, totalmente sob o controle de seu regime socialista.

O Flamengo entrou em campo com a formação clássica que ficou eternizada e cantada em prosa e verso por todo rubro-negro, assim como por muitos amantes do bom futebol apaixonados por outras agremiações também, ainda que esta escalação clássica - Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico - só tenha iniciado quatro partidas pelo Flamengo, esta e apenas outras três mais.

Com a camisa 10, o craque do Mundial, da Libertadores, do Carioca, da Gávea, de Quintino, o "Rei Arthur". Raul estava na meta com a camisa 1, dando os toques e defesas de experiência. Pelas laterais, quase pontas, Leandro e Júnior, o fino da bola rubro-negra, os titulares da Seleção Brasileira dali a alguns meses depois na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Pelas palavras de Pelé, o lateral-esquerdo Júnior havia sido o melhor jogador no Brasil naquele ano de 1981 até ali: "Ofensivamente se equivale a Nilton Santos, embora seja menos eficiente na marcação". Mas "o Capacete" chegava baleado a Tóquio, como ele mesmo afirmou: "Cheguei com o joelho esquerdo bem prejudicado por uma tendinite. Levei uma pancada do Amauri, do Vasco, mas já vinha com problemas. Na época começava a se falar de acupuntura. Um amigo nosso arrumou um cara, mas que só podia à meia-noite. Ele fez o trabalho, enfiou uma agulha grande no meu joelho e melhorou bastante. Disse que eu podia jogar, deixando claro que no final eu sentiria o desgaste. Comecei o jogo sem aquela sensação incômoda de antes e, como ele disse, fui bem até os 25 do segundo tempo. Com o jogo decidido, ficou mais fácil administrar".

Na dupla de zaga, o time tinha a velocidade de Marinho e a "categoria de veterano" do jovem Mozer. Na cabeça da área, protegendo mais à esquerda o avanço de Júnior, o volante Andrade, que desarmava e armava junto com o meia Adílio, que se mexia por todo o campo, ainda que com funções mais defensivas dentro da dinâmica natural da equipe. Na linha de frente, um toque de classe e de felicidade tática: Tita começava o jogo pela meia direita e Lico aberto pela esquerda, com Zico fazendo tudo mais centralizado, e mais à frente o centroavante Nunes, o artilheiro das decisões. Junto a eles, estava presente também o 12º jogador: o estádio rápido se bandeou para os sons dos tambores e os acordes animados da Charanga Rubro-Negra do Flamengo.

O time, de uniforme branco, entrou em campo com as mangas compridas por causa do frio. O Liverpool, mais acostumado à temperatura, e menos desgastado por estar no meio da temporada, chegou ao Japão um dia antes que a delegação rubro-negra, que vinha exausta por uma maratona de decisões. Desde outubro, quando havia vencido ao Deportivo Cali, o Flamengo havia atuado 20 vezes, tendo Zico estado presente em 19 destes jogos, além de mais um pela Seleção Brasileira.

Para o 21º jogo em 79 dias (a 78ª partida rubro-negra em 1981), o Flamengo precisava manter o pique dos sete jogos imediatamente anteriores (seis dos quais valendo título). Era preciso psicologicamente esquecer o estresse e o desgaste. E a confiança era total: "Um time que está ganhando tudo, consegue jogar até mais do que 90 minutos", avaliava o preparador físico José Roberto Francalacci, fundamental para aquela conquista.

Os jogadores complementavam esta percepção. Nas palavras de Andrade: "A gente tinha prazer em jogar futebol. E como era só descansar e jogar, e nós adorávamos. O Francallaci dava o famoso ‘pijama training’, a gente entrava em campo e rendia, porque ficava com a bola o tempo todo e cansava menos. E também tínhamos a motivação das vitórias e dos títulos". Júnior complementava: "Não tinha cansaço. Quando você joga e ganha, quer jogar todo dia. Tomar porrada todo dia é que cansa para caramba! Esse pique ganhava jogos". E Lico fechava esta lógica: "Aquele Flamengo botou o Liverpool na roda porque sentia prazer de jogar. Era tão gostoso treinar e jogar um com outro que ninguém queria descanso. Aquele Flamengo botou o Liverpool na roda porque fizesse chuva ou sol, fosse jogo ou treinamento, sentia prazer de estar em campo".

O Liverpool havia desistido de disputar duas edições anteriores do torneio em seus moldes de "ida e volta", mas credenciado por três títulos europeus em cinco anos, entrava em campo com pinta de favorito. O mítico treinador Bob Paisley, ex-zagueiro e preparador físico do clube, foi o técnico do Liverpool de 1974 a 1983. Ganhou seis títulos nacionais, três Copas da Liga Inglesa, uma Copa da UEFA, uma Supercopa da Europa, e três Ligas dos Campeões da UEFA (o bicampeonato de 1977 e 1978, e o título de 1981). Entre 1975 e 1986, o Liverpool reinou absoluto na Inglaterra, tendo sido 8 vezes campeão inglês em 11 edições disputadas. Bob Paisley fazia o futebol simples, direto como seu humor. Definia que o Liverpool era um time compacto, que não se perdia e, por tabela, ganhava. Em suas próprias palavras: "Quando as coisas não vão bem, quando parecemos perdidos na neblina, o melhor a fazer é manter o grupo unido, próximo um do outro. Desse modo a gente não fica perdido. É o nosso segredo".

Quase todo o time de vermelho do Liverpool estava em campo usando mangas curtas. O árbitro mexicano Rubio Vásquez, ao meio-dia no horário de Tóquio, dia 13, e à meia-noite do horário brasileiro, que não tinha horário de verão, autorizou e a bola rolou. A transmissão para o Brasil era feita pela TV Globo, com narração do jovem Galvão Bueno. Foi o artilheiro das decisões, Nunes, quem deu a saída para o gol à direita das cabines de TV.

Era preciso marcar terreno e apresentar a carta de intenções. No primeiro minuto Zico, de costas para o ídolo do Liverpool, o meia-atacante escocês Kenny Dalglish, deu um balãozinho no camisa sete dos Reds. A senha estava dada. A sanha pelo gol e pelo espetáculo começava. Mais um minuto e Zico limpava três adversários no meio-campo e iniciava um contra-ataque. Constantemente o camisa 10 da Gávea procurava o jogo com Tita, aberto pela direita, para explorar a fragilidade e a lentidão do lateral-esquerdo irlandês Lawrenson, então substituto do lateral Alan Kennedy, que estava na reserva, tendo ele sido o autor do gol que definiu o título europeu, em 27 de maio, no Parque dos Príncipes, em Paris. Naquele dia, eram 37 minutos quando Kennedy bateu um lateral e o zagueiro Sabido, do Real Madrid, atrapalhou-se com a bola. Kennedy roubou, avançou pela área e bateu forte. O jogo amarrado e de pouca técnica entre Liverpool e Real Madrid, foi decidido numa infelicidade de um jogador merengue, e num raríssimo ataque de Alan Kennedy. Festa em Paris ao som da clássica canção "You'll Never Walk Alone".

Oito titulares daquela final da Liga dos Campeões da Europa estavam no time que entrou para enfrentar ao Flamengo no Japão. Fora Alan Kennedy, mais duas trocas: na meta o titular em Tóquio foi o sul-africano Grobbelaar, um bom goleiro que obrigara o ídolo Ray Clemence a trocar onze anos de Liverpool pelo Tottenham. No ataque, David Johnson, o atacante mais à esquerda no 4-3-3 montado para vencer ao Real Madrid, foi substituído por Craig Johnston, mais um meia-atacante que um homem de frente, um australiano nascido na África do Sul.

O 4-3-3 que variava para um 4-4-2 armado por Paisley no Japão deixava clara a intenção do treinador: esperar o Flamengo e especular por contra-ataques, confiando na boa fase no apoio do bom lateral-direito da Seleção da Inglaterra Neal. Para conter o ataque rubro-negro, havia a solidez pelo alto dos entrosados zagueiros Thompson e Hansen, e a boa capacidade de marcação pela esquerda de Lawrenson. No meio, o melhor do Liverpool: McDermott, Souness e Ray Kennedy faziam de tudo um pouco. E muito bem. Marcavam como se fossem volantes, e sabiam organizar como meio-campistas de área a área. Era difícil precisar a posição real deles, pois se movimentavam e finalizavam com qualidade, dando suporte aos homens de frente Lee e Johnston. Lee fechava à esquerda, com McDermott mais aberto à direita para travar Júnior. Eventualmente, Lee caía pela direita, com Dalglish ou Johnson abrindo pela esquerda.

Logo no início, o Flamengo assumiu um maior controle das trocas de passe. A principal frente de ataque rubro-negra era pelo lado direito. Adílio chegava mais por este lado, e logo aos cinco minutos tentou o seu gol, de canhota. O Flamengo procurava mais o gol, movia-se mais em campo, e voltava todo sem a bola, compactando-se e não deixando espaço para o Liverpool. Na avaliação de Andrade: "estávamos muito bem posicionados e resolvemos tudo no contra-ataque, com bolas longas para o Nunes". E Carpegiani endossava: "Eu era um treinador jovem, ainda garoto e sem experiência. Mas desde então já treinava muito duas situações. Uma era simples: o "overlapping" aprendido com o Cláudio Coutinho. Tínhamos muitas jogadas pelos flancos. E naquele Flamengo, era melhor atuar com Tita e Lico, que faziam múltiplas funções. A outra situação que eu trabalhava muito era a compactação. É muito difícil você acertar isso numa equipe. Sem a bola, todos atrás dela. Não é fácil recompor rapidamente. Trabalhamos muito nisso. Não admito que os zagueiros rivais tenham liberdade para sair jogando. Insistia muito com o Nunes. Até que acertamos e dávamos pouco espaço para os adversários saírem jogando. O Nunes forçava os zagueiros a lateralizarem o jogo. Desse modo, fazíamos o "pressing", a pressão na saída deles. Deu muito certo".

Aos 11 minutos, parecia que Nunes teria de recuar um pouco mais. Os passes começavam a sair errados. Até Zico receber no grande círculo e girar rápido para o camisa 9. O zagueiro Thompson interceptou o lance, além da intermediária. Desta vez, não deu certo, mas um minuto e cinquenta segundos depois, a história seria outra. O relógio na televisão assinalava 12 minutos e 25 segundos. Desta vez, Zico dominou e lançou às costas descobertas de Thompson. A bola foi para Nunes, pela esquerda. Ele tocou de calcanhar para Mozer achar Zico, e o craque encontrou o camisa 9, fazendo um lançamento por cima da defesa. Thompson subiu e não achou a bola, que deslizou pelo gramado limpa para Nunes avançar e, na saída de Grobbelaar, dar um toque de pé direito, cruzado, para morrer na meta da trave branca com a sombra preta retangular projetada no gramado: Mengão 1 a 0!

Aos 17 minutos, Nunes buscou um lindo lance pela direita, levando dois do Liverpool e, de vez, a torcida japonesa que ainda estivesse neutra. O jogo ainda não estava ganho, mas o estádio já estava. Até as placas de publicidade, com anúncios da companhia aérea Varig e dos violões Di Giorgio, eram mais brasileiras do que inglesas. No relato de Júnior: "Ainda em Los Angeles nos reunimos para planejar o melhor jeito de ganhar a torcida japonesa. Chegamos à conclusão rapidamente: era só jogar bem como fazíamos".

O Liverpool tentou atacar, explorando as costas de Júnior, encostando Dalglish no atacante pela direita Lee, para explorarem aquele espaço. Porém, Andrade estava muito bem na cobertura e o garoto Mozer estava limpando a área com notável velocidade, qualidade e tarimba.

Aos 20, Leandro desarmou um ataque dentro da pequena área e saiu jogando, sem chutão, a bola chegou a Júnior, que saiu driblando com a bola na entrada da área. Soberba? Arrogância? Talvez uma auto-suficiência além do recomendado. Mas se havia um time que sabia e podia sair jogando em qualquer lugar era aquele Flamengo. Pouco depois, Neal avançou pelo setor e cruzou para Johnston dominar entre Leandro, Marinho, Lico e Mozer e mandar à direita de Raul. Era o primeiro lance perigoso dos ingleses.

Mas a consciência tática rubro-negra era louvável. Nunes, aos 29, fez a cobertura de Júnior e salvou um perigoso contra-ataque inglês. Lico, como sempre, corria por todos. Zico e Adílio tentavam tocar a bola e tirar a velocidade da partida. Aos 31 minutos, Tita bateu da direita uma bola no bico da grande área, na esquerda, para Júnior emendar um sem-pulo espetacular de direita, que passou perto da trave inglesa. O estádio aplaudiu. O Flamengo voltava ao ataque e ao jogo.

Dois minutos depois, Zico lançou Tita, que entrou em diagonal e ganhou de presente uma violenta entrada de McDermott no tornozelo. Falta para cartão amarelo não mostrado. Falta desnecessária, até porque Tita já havia devolvido a bola a Zico. Não havia justificativa. Os ingleses sabiam que os brasileiros batiam faltas de forma diferenciada. McDermott e Neal tinham feito parte do "English Team" derrotado pela Seleção Brasileira de Telê Santana em maio daquele ano em Wembley. A primeira derrota da Inglaterra em casa para um rival sul-americano na história, e com um golaço de falta marcado por Zico.

Mas a falta era distante. O relógio da TV indicava 33 minutos e 51 segundos. Zico ajeitou a bola na meia direita. Apenas quatro jogadores faziam a barreira inglesa. Grobbelaar deixava a visão livre. Mas o ângulo, também. Nunes fazia o quinto homem da barreira, na frente do goleiro. Era a mira do Galinho. Zico bateu forte. Para fazer o gol. Ou para a bola quicar na frente de Grobbelaar. O goleiro não conseguiu segurar o chute que explodiu no peito. A bola sobrou na esquerda do ataque. Lico e Adílio acreditaram no rebote. Thompson e Hansen formaram a tropa de choque inglesa. Lico chegou antes e bateu para o gol. Grobbelaar, desta vez, foi bem. Mas, no novo rebote, no bico da pequena área, Adílio esticou o pé direito. A bola bateu no corpo de Thompson e na rede lateral da meta do Liverpool: Mengão 2 a 0! Adílio saiu para o abraço, mandando beijos para a mulher Rose, com quem havia recém se casado, e estava presente nas arquibancadas do estádio.

O Liverpool sentiu o golpe. Aos 35, Zico e Tita fizeram lindo lance pela direita, até o camisa 7 isolar a bola. Nem o bom lance de McDermott pela direita, que exigiu uma boa defesa de Raul, perturbou a festa rubro-negra. A jogada havia nascido de uma tirada de calcanhar de Andrade. Logo depois, um lençol de Mozer dentro da área, que daria num passe errado e num lance perigoso. Aos 38 minutos, Zicos deu um chapéu em Neal, na intermediária, e iniciou um contra-ataque. Era um show de bola dado pelo time do Flamengo.

O relógio marcava 40 minutos e 47 segundos quando Adílio carregou pela direita e achou Zico na intermediária cercado por cinco rivais. Zico recebeu atrás dos volantes e lançou às costas do lateral Lawrenson. Não era Tita quem estava por ali, como geralmente estaria, mas Nunes. Ele passou por Lawrenson e pelo zagueiro Hansen e bateu cruzado na saída de Grobbelaar: Mengão 3 a 0! Com mais de 45 minutos de antecipação, a maior vitória da história da Toyota Cup já podia ser decretada, o mundo tinha um novo campeão mundial de clubes.

Zico e Tita faziam solos de futebol, driblando rivais e fazendo o tempo passar rápido como a bola que jogavam. Bob Paisley tentou jogar o time ao ataque. Aos 7 minutos do 2º tempo, tirou o nervoso McDermott e escalou mais um homem de área, Johnson, recuando um pouco Johnston. Mas o Flamengo seguia fazendo bonito. Aos 9 minutos, Júnior escapou pela esquerda como se fosse um ponta, passou por dois e recuou para o volante Andrade chegar como se fosse um meia e emendar com a parte externa do pé direito, cheia de efeito, para Grobbelaar fazer difícil defesa para escanteio. Quase o quarto!

"Em condições físicas ideais, o Flamengo não perde para time algum do mundo". A previsão de João Saldanha alguns dias antes nas páginas do Jornal do Brasil estava sendo provada. Porém, aos 15 minutos, Johnson só não fez o gol de honra porque o veterano goleiro Raul não deixou. Mas um minuto depois, materializou-se uma nova obra de arte rubro-negra. Raul bateu um tiro de meta de canhota buscando Tita na intermediária, junto à lateral direita. Ele tocou para Zico arrancar por dentro e rolar para Lico, no comando de ataque. O camisa 11 serviu de calcanhar para Adílio lançar de primeira a Júnior, chegando pela ponta esquerda. O camisa 5 cortou por dentro um adversário e rolou para Adílio para bater cruzado de canhota. Foram 15 segundos desde o tiro de meta de Raul, um lance que valeu pelos regulamentares 45 minutos finais, jogados apenas para o estádio aplaudir aquela jogada que melhor define o Flamengo. Um time de troca de bolas e de funções com a naturalidade dos gigantes que se sabem grandes.

Aos 26 minutos, Zico, de calcanhar, iniciou mais um sensacional ataque para Adílio e deste para Nunes, que só não ampliou pela bela defesa do goleiro rival. O jogo era mais aberto. Mozer fechava tudo atrás. Aos 36 minutos, ele saiu jogando dentro da área depois de desarmar um rival matando a bola no peito. O Flamengo mandava em campo e sobrava. Mas o grito de "é campeão", no entanto, só tomou conta do estádio de Tóquio a partir dos 42 minutos, quando a equipe assumiu de vez o espetáculo e começou a fazer lances de efeito.


Aos 46 minutos e 23 segundos, Ray Kenneddy passou a bola às mãos do árbitro mexicano, que terminou o espetáculo. Braços erguidos do mexicano, rubro-negros alçados pelo Brasil e pelo mundo que agora, definitivamente, era Flamengo. Um lance inesquecível para a memória dos rubro-negros para sempre! Em 21 dias, o Flamengo ganhava seu terceiro título seguido: Campeão da Libertadores sobre o Cobreloa, Campeão Carioca sobre o Vasco, e Campeão Mundial sobre o Liverpool.


Os jogadores correram para o lado esquerdo do campo onde marcaram os três gols. Lá estavam muitas bandeiras rubro-negras e duas brasileiras. Rapidamente tiveram de voltar para o centro do gramado, para a solenidade protocolar, em pontualidade japonesa. No centro do gramado, o capitão Zico recebeu e levantou a Taça Intercontinental. Olhou para cima, sorriu e a ergueu. Deu a Raul que a beijou. Mozer e Leandro fizeram o mesmo. Depois Zico levantou a Copa Toyota. Os campeões receberam as medalhas dos organizadores, que colocavam os objetos dourados nas mãos dos atletas, que então as colocavam sobre o peito. Na sequência, a entrega dos prêmios para os melhores jogadores em campo: dois carros, um Toyota Celica vermelho e um Toyota Carina branco. Os jogadores tinham decidido que, se algum deles ganhasse os carros, pediria o valor correspondente e o dinheiro seria dividido entre todos. Como o interesse da montadora era ter os carros circulando pelo Rio de Janeiro, foram entregues com todas as despesas de frete e taxas alfandegárias pagas pela Toyota. Zico e Nunes foram os premiados e se dispuseram a ficar com eles, doando o dinheiro para ser rateado entre os outros jogadores. O de Zico valia quase um milhão de cruzeiros. Ele recebeu o chavão simbólico e cumprimentou todos os que o ajudaram a ser o maior em campo.

A volta olímpica foi ao som da Charanga Rubro-Negra e do samba brasileiro. Bob Paisley definiu melhor o que aconteceu em campo: "Enquanto um jogador nosso precisava tocar na bola três vezes para iniciar uma jogada, eles tocaram de primeira. Assim fica muito difícil a marcação. Meu time parecia morto, física e psicologicamente. Não tenho desculpa nenhuma para apresentar". Do outro lado, a análise de João Saldanha: "Imaginei que o Flamengo estava no bagaço, mas o entendimento e conjunto do time, a solidariedade dos jogadores entre si, e a calma da direção, fizeram o Flamengo superar tudo isto e conquistar este título inédito, de campeão em três frentes simultâneas. É uma honra do futebol brasileiro que os clubismos e regionalismos mesquinhos não podem empanar o brilho". E a análise de Júnior, feita muitos anos depois, fechava a descrição do que havia sido aquele jogo: "Aquele primeiro tempo contra o Liverpool foi acima da média. Eles não conheciam a gente. Na hora achei que eles tinham nos menosprezado antes da partida, mas depois que eu fui para a Europa entendi que aquela era a postura deles mesmo. Imagine na cabeça deles ver o adversário de agasalho tocando samba antes de um jogo importante! Eles passaram rindo. E na hora serviu como um gancho para a gente crescer. A gente sabia como eles jogavam. O Zico ficou às costas da linha de quatro no meio só lançando bolas para o Nunes nas diagonais". O Flamengo era Campeão do Mundo de Futebol!









Revista World Soccer









sábado, 24 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 06/04/79 - Flamengo 5 x 1 Atlético Mineiro




Jogos Inesquecíveis: 06/04/1979 - Flamengo 5 x 1 Atlético Mineiro

Um meio de campo dos sonhos: Carpegiani, Zico e Pelé

"Em 6 de abril de 1979, o Flamengo recebia o Atlético Mineiro, em amistoso no Maracanã. Por uma noite, numa confraternização que buscou angariar fundos para as vítimas das enchentes que inundaram o Rio de Janeiro em março de 1979, Zico cedeu a camisa 10. E não foi para qualquer um, foi para Édson Arantes do Nascimento, Pelé, o Atleta do Século.


Pelé jogou o primeiro tempo apenas. E foi no segundo, com ele já substituído por Cláudio Adão, que o Flamengo aplicou uma avassaladora goleada por 5 a 1. Este dia será eternamente lembrado pelas imagens de Pelé trajando rubro-negro. Esse fato acabou ofuscando uma outra marca histórica daquela noite. Com os três gols que fez nesta goleada, Zico tornou-se o maior goleador da história do Flamengo, superando a marca de até então, daquele que até hoje é o segundo maior goleador da história rubro-negra, Dida, com 263 gols. Com os três daquela nostálgica noite, Zico chegou aos 265". (A NAÇÃO, pg. 124)




Ficha técnica
06/04/1979 - Flamengo 5 x 1 Atlético Mineiro
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 139.953 pagantes)
Gols: Marcelo (21'1T), Zico (35'1T), (10'2T) e (14'2T), Luisinho Lemos (28'2T) e Cláudio Adão (39'2T)
Fla: Cantareli, Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli (Nélson) e Júnior; Andrade, Carpegiani (Sergio Ramírez) e Zico (Cláudio Adão); Tita, Pelé (Luisinho Lemos) e Júlio César (Reinaldo).
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Alves, Osmar, Luisinho e Hilton Bruniz; Toninho Cerezo, Marcelo (Carlinhos) e Paulo Isidoro; Serginho (Pedrinho Gaúcho), Dario e Ziza (Vilmar).
Téc: Procópio Cardoso






A História do Jogo

Qualquer torcedor que não o do Santos gostaria de ter visto Pelé com a camisa de seu clube do coração. E os flamenguistas puderam matar essa curiosidade em um jogo beneficente realizado no Maracanã no dia 6 de abril de 1979, Flamengo e Atlético Mineiro entraram no gramado do Estádio Mário Filho para um amistoso em prol das vítimas das enchentes que assolaram Minas Gerais entre janeiro e fevereiro daquele ano. Após mais de 35 dias seguidos de chuva, 246 pessoas morreram.

Na escalação rubro-negra, Zico apareceu com a camisa 9. A 10, claro, foi concedida a Pelé, atração principal mesmo aos 38 anos e aposentado do futebol havia dois, após terminar sua passagem pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos.

Era tanta a expectativa para ver o "Rei do Futebol" atuando no time de maior torcida do Brasil que até o então Presidente da República, o general João Figueiredo, que havia acabado de assumir o governo, foi à partida junto de uma comitiva de 12 ministros.

"Pois doze ministros são uma dúzia deles e o Ministério, no total, tem pouco mais do que isso", dizia o editorial na página 2 da Folha de São Paulo no dia seguinte ao jogo, com foto e destaque para o amistoso na capa do jornal. Na época, eram 16 as casas que compunham o Ministério.

Quem também não queria perder a chance de estar perto de Pelé eram os jogadores do Flamengo. Para que Pelé entrasse no time, alguém precisaria sair. E a dúvida sobre quem deveria ceder a vaga rendeu boas discussões entre os rubro-negros.

"Eu não corria muito risco porque jogava pela direita e ninguém atuava como eu, que atacava e voltava marcando. O Zico tinha que jogar e foi para frente. O Carpegiani era o capitão e tinha o Andrade. Acabou sobrando para o Adílio", lembrou em entrevista à reportagem o meia Tita, titular naquele amistoso.

Andrade foi outro que fez questão de apontar sua importância no aspecto tático. Afinal, com Pelé já aposentado, alguém precisaria marcar no meio de campo: "No meu lugar ele não vai jogar, ele não é volante. E o Júlio César falou: 'Ele não joga de ponta-esquerda, no meu lugar também não vai'".

Houve disputa até para sair na foto que o elenco tirou um dia antes do jogo. Júlio César, ponta-esquerda, geralmente saía longe do centro nas fotografias do time. Porém, com Pelé no meio de todos, o jogador deu um jeito de sair ao lado do ídolo, empurrando Carpegiani para o lado.

A solução para definir o preterido na escalação inicial acabou surgindo de maneira fortuita. Adílio se machucou às vésperas da partida, em treinamento na Gávea, e abriu a vaga para Pelé.

"O Adílio caiu no campo e o médico veio correndo. Quando o Adílio disse que não era nada, o médico tapou a boca dele e ainda mandou: 'Engessa ele! Engessa ele!'", contou Andrade às gargalhadas.

A equipe do Flamengo foi formada naquele 6 de abril com: Cantareli, Toninho, Rondinelli, Manguito e Júnior; Andrade, Carpegiani, Pelé e Zico; Tita e Júlio César.

Foram 139.953 pessoas ao Maracanã para ver Pelé e Zico juntos. O jovem zagueiro Figeiredo brincou à beira do campo antes da bola rolar: "Sei que por minha causa não é". Assim como aquele que estavam dentro e à beira do campo, privilegiados espectadores de luxo de um acontecimento histórico.

Dario, o Dadá Maravilha, centroavante do Atlético Mineiro, campeão do mundo ao lado de Pelé com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, além de campeão carioca com Zico pelo Flamengo no ano de 1974, testemunhou: "Eu posso dizer que foi o jogo mais importante da minha vida. Eu me senti um torcedor privilegiado dentro do gramado vendo Pelé e Zico barbarizarem juntos".


O jovem rubro-negro Tita também estava contagiado: "Foi um dos grandes momentos da minha carreira. Eu era garoto, tinha 21 anos. O Pelé e o Zico foram meus dois grandes ídolos". Tita chegou a fazer uma tabela com Pelé antes de cruzar para Zico, que cabeceou por cima.

O Rei Pelé atuou apenas nos primeiros 45 minutos. Os atleticanos saíram na frente, com gol de Marcelo Oliveira. O empate aconteceu ainda na primeira etapa, com Zico. Luizinho fez pênalti em Tita. Zico pegou a bola e deu para o Pelé bater, mas Pelé recusou e devolveu a bola ao ídolo flamenguista, que deixou tudo igual.





No intervalo, Pelé deu lugar ao centroavante Luisinho Lemos. E na volta para o 2º tempo, só deu Flamengo. Logo aos 10 minutos, Zico voltou a brilhar, fazendo um papel de artilheiro equivalente à camisa 9 que vestia naquele dia. Como um verdadeiro goleador, ele marcou o segundo gol rubro-negro. E, quatro minutos depois, ele voltou a balançar as redes, deixando o Flamengo com a vantagem de 3 x 1 no placar. Luisinho aos 28 minutos da etapa final marcou o quarto gol do Flamengo.

Era uma goleada formada a favor da equipe comandada pelo treinador Cláudio Coutinho. E ainda vinha mais. Quem fechou o caixão foi o artilheiro Cláudio Adão, aos 39. Festa da torcida e dos jogadores rubro-negros. Um dia inesquecível, com certeza, para toda a Nação Rubro-Negra, e para o Rei Pelé, que afirmou ter sido um grande prazer honrar a camisa do clube e jogar ao lado de Zico.






quarta-feira, 21 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 08/11/81 - Flamengo 6 x 0 Botafogo


Matéria da Revista Placar


Jogos Inesquecíveis: 
08/11/1981 - Flamengo 6 x 0 Botafogo

Aquele dia teria sido o primeiro e único na história do futebol mundial no qual o time venceria por 5 a 0 e sua torcida teria saído arrasada, destruída, destroçada, do estádio. Voltaria para casa praticamente sob um luto daqueles que mordem as entranhas. Porém ...


"Quarenta dias de sonho, iniciados em 8 de novembro de 1981, com uma goleada de 6 a 0 no Botafogo, na qual o Flamengo vingava-se, definitivamente, da goleada sofrida em 15 de novembro de 1972. E com o mesmo placar. Por nove anos, em todos os clássicos entre Flamengo e Botafogo, lá estava pendurada, no lado destinado aos botafoguenses, uma faixa em alusão àqueles 6 a 0. Era um trauma... Quando o Mengo fez 5 a 0, se o sexto não tivesse saído, todos os rubro-negros, naquele dia, iriam para casa tristes. A torcida berrava “Queremos 6!” E foi dos pés de Andrade, o camisa 6 rubro-negro, que partiu o chute que estufou a rede a cinco minutos do fim do jogo. Seis!!!!!! O fantasma estava exorcizado!" (A NAÇÃO, pg. 131)



Ficha Técnica
08/11/1981 - Flamengo 6 x 0 Botafogo
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 69.051 pagantes)
Gols: Nunes (7'1T), Zico (27'1T), Lico (33'1T), Adílio (40'1T), Zico (30'2T) e Andrade (42'2T)
Fla: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
Téc: Paulo César Carpegiani
Botafogo: Paulo Sérgio, Perivaldo, Gaúcho, Osvaldo e Jorge Luís; Rocha, Ademir Lobo e Mendonça; Édson Carpegiani (Jairzinho), Mirandinha e Ziza.
Téc: Paulinho de Almeida


A História do Jogo

Aquele Flamengo x Botafogo de 1981 foi uma forra histórica, que valeu e foi comemorado como se houvesse sido um título. Só os rubro-negros que passaram anos a fio aturando aquela pequena e desengonçada faixa exibida pela torcida do Botafogo - "6 x 0" - em todos os jogos contra o Flamengo, têm a mais plena consciência do que representou aquela goleada, a forra de uma igual sofrida nove anos antes materializada numa tarde cinzenta de domingo, 8 de novembro de 1981.

O time de General Severiano havia goleado por 6 a 0 em 15 de novembro de 1972, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano, num resultado bastante surpreendente, porque os times eram tecnicamente bem equivalentes. Mas aconteceu. Daí em diante, entrava ano, saía ano, e lá estava a faixinha, esfarrapada nas pontas, com seus números meio tortos: 6x0. Depois acompanhada de uma outra, com os dizeres: "Nós gostamos de Vo6!". Aquilo doía na alma flamenguista.

O Flamengo, na prática, teve duas chances de devolver o placar. A primeira, em 19 de julho de 1975, quando fez 3 a 0 em 13 minutos e começou a diminuir o ritmo, levando a torcida ao desespero. Nem o quarto gol, no finzinho do 2º tempo, foi capaz de evitar os protestos contra os jogadores. Apesar da goleada, os rubro-negros não ficaram satisfeitos. A segunda chance surgiu em 18 de março de 1979, quando o Flamengo meteu 3 a 0 em 40 minutos e voltou para o segundo tempo apenas fazendo o tempo passar. A torcida rubro-negra, maioria esmagadora entre os 128.106 pagantes, mais uma vez deixou o Maracanã frustrada, pois gritou diversas vezes "queremos seis!", mas não foi atendida.

No dia 8 de novembro de 1981, o público era menor, quase a metade: 69.051. Chovia no Rio desde o sábado e o torcedor guardava o seu dinheiro para o primeiro jogo da decisão da Libertadores, previsto para cinco dias depois contra o Cobreloa.

Logo aos sete minutos, Nunes recebeu cruzamento pela direita de Adílio e na pequena área fuzilou para abrir o placar: Flamengo 1 a 0. No minuto 27, Adílio entrou pela área, enfileirou a defesa alvi-negra e passou para Zico ampliar o marcador: Flamengo 2 a 0. Aos 33, um gol de trabalho coletivo da equipe do Flamengo. Zico acionou Júnior pela esquerda, que devolveu para o Galinho de Quintino. Ele tocou na direção de Nunes, que fez o pivô para Lico ampliar para 3 a 0. Ainda na primeira etapa, saiu o quarto gol, marcado por Adílio. Zico cobrou falta e Paulo Sérgio defendeu parcialmente, só que o camisa 8 desviou de cabeça para o fundo da rede. A massa já não se continha mais e urrava: "Queremos seis! Queremos seis! Queremos seis!". Era ali, naquele dia, ou nunca mais!

Com o placar em 4 a 0, a esperança de uma goleada estava cristalina para a torcida do Flamengo e o medo, o pânico, tomava conta dos botafoguenses. O técnico Paulinho de Almeida resolveu colocar Jairzinho em campo, um dos carrascos dos 6 a 0 a favor do Botafogo em 1972. Jairzinho havia voltado ao Botafogo, já veterano, aos 37 anos de idade. Ao entrar em campo, naquele segundo tempo da partida de 81, acabou se tornando um símbolo da forra absolutamente formidável e inesquecível para todos os que passaram nove anos seguidos aturando a faixinha presa na grade do outro lado da arquibancada do Maracanã.

No segundo tempo, o Botafogo estava bem fechado, obviamente tentando dificultar um placar ainda mais elástico como queriam os flamenguistas. A missão de segurar o jogo estava sendo bem cumprida até os 30 minutos. A apreensão já tomava conta de todos os rubro-negros àquela altura do jogo. Então Adílio invadiu a área pela esquerda e foi derrubado por Rocha. Pênalti marcado! Zico cobrou e marcou o quinto gol rubro-negro.

A partir daquele momento o Maracanã entrou em êxtase. Ainda havia um bom tempo para que fosse marcado o gol que faltava. O coro das arquibancadas recomeçou - uníssono, forte e cada vez mais exigente -. Era ali ou nunca. Ninguém ficaria satisfeito com um 5 a 0, isto já estava claríssimo! Tinha que ser de seis! Era uma oportunidade que provavelmente jamais se repetiria. Ainda mais pela força daquele Flamengo, que ainda naquele ano de 1981, num intervalo do calendário, havia ido à Itália disputar um torneio no qual meteu 5 a 1 no Avelino e 5 a 0 no Napoli, no Estádio San Paolo lotado. Aquele time que ainda mostraria o melhor que estava por vir: num espaço de 21 dias, conquistou a Copa Libertadores da América, em 23 de novembro, o Estadual sobre o Vasco, em 6 de dezembro, e o Mundial Interclubes sobre o Liverpool, em 13 de dezembro.

O time rubro-negro, inflamado pelos gritos das arquibancadas, foi para a frente. Vários craques daquele esquadrão formidável tinham sido criados na Gávea, e sentiam o desejo de vingança como torcedores rubro-negros, também queriam a redenção! A pressão se tornou insuportável!

O placar mostrava 5 a 0 para o Flamengo e o Maracanã todo estava ansioso. E esta história teve seu capítulo final escrito curiosamente pelo jogador do Flamengo que usava a camisa 6. Aos 42 minutos, a zaga rebateu, e Andrade, que vinha na corrida, chutou forte, de primeira, sem chance para Paulo Sérgio, fuzilando a meta para fazer o sexto gol rubro-negro! Seis a zero! Sem choro nem vela!

As piadas em torno do jogo de 1972 e a famosa faixa nunca mais seriam exibidas, feitas e comemoradas. A alma flamenguista estava lavada e o placar que doía na mente e no sentimento rubro-negro estava devolvido de forma justa, sem acréscimos! Assim como não podia ter ficado em cinco, não podia ser feito o sétimo, muito menos ter sofrido gol. Todos os rubro-negros queriam a forra do 6 a 0. Ela aconteceu, e valeu como um título!