Eu já relembrei aqui no blog as crises passadas entre FERJ e Flamengo no texto Só se rebelar contra a FERJ não resolve. A crise em 1993 ameaçou criar a Liga Rio-Minas e até a FIFA ameaçou intervir. Em 2002, a tentativa de renascimento do Rio-São Paulo como substituto do Carioca, e a reação foi o famigerado e vergonhoso Campeonato Caixão, vencido pelo Fluminense sobre o Americano.
A essência do problema foi explicada no texto abaixo extraído de A NAÇÃO.
"No Campeonato Carioca de 1976 participaram, pela primeira vez, Americano, Goytacaz e Volta Redonda. Entretanto, apesar da presença de times do antigo Estado do Rio na competição, ainda havia duas federações: a Federação Fluminense de Desportos e a Federação Carioca de Futebol. A FFD seguiu organizando seu campeonato até 1978. Preparava-se para organizar o de 1979 quando, logo após o término do Campeonato Carioca, no primeiro semestre, chegou-se a um acordo político para a fusão entre a FFD e a FCF, que formaram a FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro).
A pré-condição para o acordo, imposta pela FFD, que não havia ainda organizado seu campeonato naquele ano, é que se realizasse um estadual. O último campeonato carioca organizado pela Federação Carioca de Futebol teve a participação de Americano, Goytacaz e Volta Redonda, que já vinham participando desde 1976. O primeiro campeonato estadual organizado pela FERJ teve, como representantes do antigo Estado do Rio, além destes três, outros três times: o Serrano, de Petrópolis; o ADN, de Niterói, antes chamado de Manufatora; e o Fluminense de Friburgo, que anos depois passaria a se chamar Friburguense. Foi assim que, em 1979, houve dois campeonatos, ambos vencidos pelo Flamengo. O único clube do mundo a ser bicampeão em um único ano e a ser tricampeão em apenas dois. Particularidades propiciadas por estes confusos dias de desestruturação política". (A NAÇÃO, pgs 117-118)
"Como nos anos 70 havia doze clubes na capital (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, América, Bangu, São Cristóvão, Madureira, Olaria, Bonsucesso, Portuguesa e Campo Grande) e somente quatro com alguma expressão no antigo estado do Rio de Janeiro (Americano, Goytacaz, Volta Redonda e Serrano), montou-se uma estrutura eleitoral dentro da FERJ para equilibrar forças e esvaziar o poder da antiga Guanabara. Assim, o quadro eleitoral foi composto não só por clubes, mas por todo tipo de associações amadoras espalhadas por diversas cidadezinhas. Estas associações tinham o mesmo poder de voto dos clubes da capital, fazendo com que a maioria dos votos ficasse em poder da antiga Federação Fluminense de Desportos e não da antiga Federação Carioca de Futebol.
Este quadro pouco mudou com o tempo. Nos anos 80, emergiram no cenário estadual clubes do interior, como Friburguense, Cabofriense e Porto Alegre (que depois passou a se chamar Itaperuna). Nos anos 90, emergiram outros três do interior: América de Três Rios, Entrerriense e Barreira, de Saquarema (que depois passou a se chamar Boavista). Mas com alguns emergindo e outros submergindo no interior, os clubes da capital sempre foram maioria entre os participantes do Campeonato Estadual, por isso, jamais se cogitou mudar o quadro eleitoral, mantendo-se o voto das ligas e associações amadoras. Esta é, sem dúvida, uma particularidade do Rio de Janeiro, fruto de um processo de fusão (tanto no caso dos estados quanto no das federações de futebol) muito mal elaborado, cheio de distorções políticas criminosas. Este era o capítulo final de um processo cujo embrião escondia-se na transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília". (A NAÇÃO, pg. 165)
Em 2015 o problema retorna, a cancerígena relação Caixa D'Água-Eurico Miranda renasce na dupla Rubens Lopes-Eurico Miranda. Mais do mesmo!
A integra dos primeiros ataques e contra-ataques foram publicados aqui no blog, no texto A Guerra de Preços no Campeonato Carioca 2015.
Complementando o tema, o excelente texto de Jorge Murtinho, publicado no blog República Paz e Amor, que republiquei aqui sob outro título: Campeonato Carioca, tu agonizas mas não morre.
Fica aqui o registro de mais um capítulo, na nota publicada por Flamengo e Fluminense em 30 de janeiro de 2015, véspera da data de início do Carioca 2015. Segue abaixo a integra da mesma:
"O Clube de Regatas do Flamengo e o Fluminense Football Club mais uma vez vêm a público esclarecer alguns pontos sobre o claro desgaste da relação entre a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) e os seus filiados.
Infelizmente, a postura ditatorial da FERJ tem afastado Flamengo e Fluminense de qualquer possibilidade de entendimento;
Não obstante ter tomado decisões ilegais como;
1. Tabelar preços dos ingressos ao arrepio da Lei da Meia-Entrada.
2. Tentar exterminar o conceito de mandante previsto em toda legislação vigente. Burlando o próprio REC que, em seu artigo oitavo, parágrafo segundo, prevê a existência de mandos em todos os jogos, para efeitos legais.
3. Atentar contra a saúde financeira de seus filiados.
A FERJ agora marca nova reunião do arbitral, nesta sexta-feira, dia 30 de janeiro de 2015, para discutir, dentre outros temas, a criação de um dito Programa Sócio-Torcedor de Futebol do Estado do Rio de Janeiro que nunca nos foi apresentado. Isto nos leva a supor que se trata de uma tentativa de destruir valor dos programas Sócio-Torcedor de seus filiados, buscando se apropriar, cada vez mais, dos ativos dos clubes, como já vem fazendo com as receitas de bilheteria, as cotas de televisão e a totalidade das receitas proveniente das placas publicitárias nos estádios. Interessante notar que a Ferj, enquanto se diz defensora de uma política de ingressos mais baratos, não reduz as próprias taxas que cobra dos clubes. Aliás, as mais altas taxas do futebol brasileiro.
Por conta desta e de muitas outras arbitrariedades praticadas pela FERJ em prejuízo e empobrecimento do futebol carioca, deixamos clara nossa posição:
A FERJ, ao contrário do que pensam seu presidente e parceiros íntimos, não possui dono e deveria, além de ser a maior defensora da legalidade, ser a representante de todos os clubes e não apenas daqueles que se submetem aos seus interesses.
A FERJ tenta induzir a opinião pública ao erro, querendo dar caráter desportivo a uma questão de cunho estritamente comercial.
A FERJ tenta cassar dos clubes o direito de gerenciar suas receitas, prejudicando a todos e beneficiando apenas a Federação e seus parceiros íntimos.
A manifestação de Flamengo e Fluminense se dá pelo direito de pratar preços compatíveis com os custos de operação de seus jogos e de garantir o conforto de suas torcidas em seu estádio. Reiteramos que vamos defender esse direito e que buscaremos na Justiça a reparação das perdas que certamente teremos.
Nós, que representamos cerca de 70% dos torcedores em nosso estado e que conquistamos mais da metade de todos os campeonatos cariocas disputados desde 1906, temos consciência da nossa enorme relevância histórica para a afirmação do futebol do Rio de Janeiro, não só no cenário nacional, como também internacionalmente.
Por essa razão, Flamengo e Fluminense, em respeito aos seus torcedores, patrocinadores, parceiros comerciais e aos detentores dos direitos de transmissão disputarão, sob protesto, o Campeonato Carioca 2015. Porém, não nos interessamos em participar de competições futuras organizadas nesses moldes e estudamos, em conjunto, a criação da Liga dos Clubes Cariocas.
O Flamengo e o Fluminense convocam seus torcedores e todos os que acompanham o futebol para apoiá-los na oposição ao que vem sendo feito e conduzido pela FERJ. Entidade que, ao longo do tempo, tem representado o evidente empobrecimento técnico e financeiro do nosso futebol.
Vamos juntos pela profissionalização e moralização do futebol carioca.
Clube de Regatas do Flamengo e Fluminense Football Club"
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