terça-feira, 18 de agosto de 2015

Gestão Azul: Capítulo 11 - Riscos e Retornos com os investimentos tardios

Em apresentação feita a patrocinadores em 18 de maio de 2015, os dirigentes da Gestão Azul mostraram um plano ambicioso para 2020: projeções para que a receita ultrapasse R$ 600 milhões e a dívida fique abaixo de R$ 300 milhões. Números que deixariam o clube em posição de poder investir pesado no futebol.

De 2017 a 2021, o Flamengo espera ganhar 4 Campeonatos Cariocas, 5 Títulos Nacionais e 1 Libertadores da América. O objetivo é se tornar hegemônico no Brasil. Ao fim de 2014 o Flamengo chegou ao 1º lugar do futebol brasileiro em receita gerada e ao 40º lugar em receita no futebol mundial. Seu objetivo é virar Top 10 do mundo. Projetos muito ambiciosos, mas que dependem muito de mais acertos do que desacertos na gestão do time de futebol.

Fora de campo, as notícias positivas continuavam se acumulando. A edição de 2015 do estudo Valor das Marcas dos 30 clubes brasileiros trouxe à tona um novo líder no topo do ranking. Se nas sete primeiras edições o Corinthians foi o ocupante da condição de marca mais valiosa do Brasil, a partir de 2015 a liderança passou a ser do Flamengo, que pela primeira vez não via nenhum outro clube à sua frente. Mais uma importante conquista da Revolução Prometida pela Chapa Azul da eleição de 2012.

Já dentro de campo, como era de se esperar após a perda de um Campeonato Carioca no qual os adversários estavam economicamente muito fragilizados, a pressão aumentou muito, com críticas vindas de todos os lados!

Ao fim do Carioca, o Flamengo conseguiu manter Vanderlei Luxemburgo no cargo, resistindo ao assédio do São Paulo, porém o início sem vitórias nas primeiras três rodadas do Brasileiro 2015, e a 17ª posição na tabela, fizeram crescer muito o tom das críticas a seu trabalho. Por unanimidade, o Conselho Gestor decidiu então demitir o treinador. Numa entrevista raivosa, Luxemburgo bradou que a diretoria podia entender de finanças, mas não entendia nada de futebol. No dia seguinte à entrevista, a coluna do jornalista Renato Maurício Prado, no jornal O Globo vinha intitulada: "Não sabem nada mesmo".

E os badalados reforços demoravam a chegar. Desde 2013 a busca era por dois jogadores renomados, um para a posição de camisa 10 e outro para a camisa 9. As finanças começavam a permitir projetos maiores como disse o então vice-presidente de futebol, Alexandre Wrobel: "a situação nos permite mais ousadia para contratar". Com isto, a ansiedade crescia. Um novo treinador foi logo anunciado, Cristóvão Borges, mas as badaladas contratações não fechavam. A primeira foi oficialmente confirmada em 29 de maio de 2015. A primeira contratação de impacto da Gestão Azul desde que ela chegou ao clube, em janeiro de 2013: o centroavante peruano Paolo Guerrero, antes jogador do Corinthians.

O início de Campeonato Brasileiro foi catastrófico. Cristóvão Borges perdeu seus dois primeiros jogos. Em cinco rodadas, o Flamengo perdeu do São Paulo (1 x 2), empatou com o Sport (2 x 2), e perdeu para Avaí (1 x 2), Fluminense (2 x 3) e Cruzeiro (0 x 1). Com apenas 1 ponto e na 19ª posição na tabela, era o pior início de Brasileiro do Flamengo na história!

Os titulares no início do Brasileiro eram: Paulo Victor, Pará, Wallace, Samir e Anderson Pico; Jonas, Canteros, Gabriel e Éverton; Marcelo Cirino e Alecsandro.

Houve um óbvio erro de planejamento. Os reforços renomados eram para ter sido contratados na virada de 2014 para 2015, para que o time já tivesse condições de começar embalado e despontar no grupo da frente do Brasileiro. As condições financeiras já permitiam esta "ousadia" no início da temporada. Mas a diretoria preferiu economizar na folha de pagamentos até julho. Uma economia burra. Até porque o Sócio-Torcedor já vinha precisando de um empurrão extra havia tempo.

Para piorar o nível de dificuldade vivido naquele momento, tinha a Copa América, e o Flamengo perdeu Pablo Armero, da Seleção da Colômbia, Victor Cáceres, da Seleção do Paraguai, e o camisa 9 que ainda não havia feito sua estréia, Paolo Guerrero, da Seleção do Peru.

Na 6ª rodada, a primeira vitória, um magro 1 x 0 sobre a Chapecoense no Maracanã. No jogo seguinte, a primeira vitória fora de casa: 1 x 0 sobre o Coritiba. E aos poucos, o Flamengo foi conseguindo anunciar reforços: o atacante Emerson Sheik, de saída do Corinthians, o meia Alan Patrick, ex-Santos, que estava sem espaço no Palmeiras, e o lateral-direito reserva do Palmeiras Ayrton. Faltava ainda um clássico camisa 10.

Emerson Sheik fez sua estréia, com derrota por 2 x 0 para o Atlético Mineiro no Maracanã. O time estava de volta à Zona de Rebaixamento. No jogo seguinte, uma derrota de 1 x 0 para o Vasco, então 20º e último colocado, que conseguia naquele jogo sua primeira vitória no campeonato. Pressão crescente! E o cargo de Cristóvão já ameaçado. Nas rodadas seguintes, vitória por 1 x 0 sobre o Joinville em Santa Catarina e derrota por 2 x 1 para o Figueirense no Maracanã, perdendo a oportunidade de respirar na tabela. O Flamengo estava então em 15º lugar e com o mesmo número de pontos da primeira equipe na Zona de Descenso. A partir de então, enfim, teria seu elenco completo com o fim da Copa América.

O time titular: Paulo Victor, Ayrton, Wallace, Samir e Armero; Jonas, Canteros, Gabriel e Éverton; Emerson Sheik e Paolo Guerrero. O time reserva: César, Pará, Marcelo, Bressan e Jorge; Cáceres, Márcio Araújo, Luiz Antônio e Alan Patrick; Marcelo Cirino e Eduardo da Silva. No elenco ainda estavam Anderson Pico, Arthur Maia, Almir, Paulinho e Nixon.

A estréia de Guerrero foi promissora, com o Flamengo vencendo o Internacional por 2 x 1 em Porto Alegre, e o atacante peruano balanço as redes logo aos 10 minutos do 1º tempo. Na rodada seguinte no entanto, sem poder usar usar Sheik e Guerrero contra o Corinthians, o time rubro-negro não foi páreo para os paulistas em pleno Maracanã. Mas uma vez o Flamengo perdia uma chance de respirar e se mantinha bem próximo a Área de Degola.

Novo alívio, e novamente com gol de Guerrero, ao vencer o Náutico em Recife, evitando a eliminação precoce na 3ª fase da Copa do Brasil. Havia empatado por 1 x 1 no Maracanã, venceu por 2 x 0 fora de casa. Faltava uma boa sequência no Brasileiro.

Para se respaldar frente a um risco de queda para a 2ª Divisão, novos reforços. Enfim se investiu num camisa 10: Ederson, jogador que estava há muitos anos na Europa, passou a temporada anterior encostado na reserva da Lazio, no Campeonato Italiano, onde não conseguiu repetir as boas atuações que teve no Lyon, no Campeonato Francês. Jogador que saiu muito jovem do Brasil e era uma incógnita. Temia-se que fosse a repetição da frustração com o investimento em Carlos Eduardo em 2013, a primeira aposta num camisa 10 para o futebol durante a Gestão Azul. Também investimento no zagueiro César Martins, ex-Ponte Preta, e mais uma que estava encostada na reserva na Europa, no Benfica, de Portugal.

Faltava uma boa sequência para selar a recuperação. Na estréia de Paolo Guerrero no Maracanã, com gol dele, o Flamengo fez 1 x 0 no Grêmio. Na sequência venceu o Goiás por 1 x 0 em Goiânia, chegando à 11ª posição. A oportunidade para embalar era diante do Santos, que estava próximo à Zona de Rebaixamento, e num Maracanã que receberia o maior público do Flamengo no ano. O 1º tempo terminou 2 x 0 para o time rubro-negro, a terceira vitória seguida parecia encaminhada. Porém, o time cedeu o empate no 2º tempo: 2 x 2. E mais uma chance de ouro desperdiçada.

Sem conseguir embalar, a posição ao final do Primeiro Turno estava longe de agradar. Os pontos perdidos para o Santos fizeram ainda mais falta depois que na rodada seguinte o Flamengo foi a Campinas e perdeu por 1 x 0 para a Ponte Preta. Na penúltima rodada, vitória por 3 x 2 sobre o Atlético Paranaense no Maracanã. Na última rodada do turno, o Flamengo enfrentou o Palmeiras em São Paulo, saiu atrás no marcador, virou o jogo, mas levou três gols em dez minutos e acabou levando uma sapatada de 4 x 2, terminando a metade do campeonato na 13ª posição, com 23 pontos.

O Flamengo tinha um time minimamente competitivo, mas o investimento só veio no meio do turno, tardiamente. E isto não permitiu que houvesse margem para respirar, pois ao fim do 1º Turno o time estava só 4 pontos a frente do 17º colocado, o primeiro na Zona de Rebaixamento, e estava 10 pontos atrás do 4º colocado, bem distante da Zona de Classificação à Libertadores.

A pressão pela demissão de Cristóvão Borges tinha sido imensa após a ausência de vitórias no início de seu trabalho. A diretoria resistiu e não o demitiu. O time se recuperou. Mas a queda de produção no final do Turno fez ressurgir fortes pressões em favor de sua demissão. E com a aproximação das eleições que ocorreriam no fim de 2015, o climas político fervilhava na Gávea. E, ademais, a Gestão Azul estava dividida.

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