terça-feira, 9 de abril de 2019

FLAMENGO: Análise dos Resultados Financeiros de 2018


Analisando o resultado publicado na Demonstração Financeira de 2018 do Flamengo, dando continuidade ao histórico de análises sempre disponibilizadas aqui no blog (histórico pode ser visto na sessão Transparência Rubro-Negra), o que se vê é um desempenho financeiro ainda altamente positivo, mas desta vez com uma clara alteração de tendência frente aos exercícios anteriores, o que já era esperado e até desejado. Uma vez que o nível de endividamento chegou a um patamar menos incômodo (longe de poder ser considerado de todo confortável, é bom sempre que se frise) o clube partiu para consolidar investimentos que mudassem o patamar de qualidade do futebol do clube, um investimento em busca de resultados que amplifiquem o poder de publicidade e possam trazer retornos em maiores premiações, maiores receitas com patrocínio e publicidade, e, sobretudo, ampliação da capacidade de arrecadação com sua própria torcida (estádios cheios e crescimento contínuo do Programa de Sócio-Torcedor).

Como já dito, era um anseio coletivo, e uma decisão racionalmente necessária para dar sustentação de médio prazo à capacidade de crescimento das receitas. É agora, porém, que sinais de alerta precisam ser ligados, e mais do que nunca é preciso monitorar o viés de resultado daqui para frente. No que tange ao Resultado Financeiro de 2018, os sinais ainda são saudáveis, pois as contratações em ampla maioria foram feitas utilizando os recursos arrecadados com as vendas de jogadores. A dívida cresceu, mas pouco. E o nível de empréstimos tomados junto aos bancos diminuiu bastante, reduzindo extremamente a exposição a risco frente aos cenários observados nos anos anteriores.


1) RECEITAS

A receita operacional bruta fechou 2018 em R$ 542,8 milhões, abaixo dos R$ 648,7mm do fechamento de 2017. A queda já era esperada e no detalhamento abaixo ficará visível onde e porquê ela aconteceu. A receita líquida (descontados os impostos) fechou em R$ 516,8 milhões, abaixo do fechamento de 2017 que foi de R$ 623,7mm.


Os motivos da redução do volume das receitas rubro-negras: se em 2016 entraram receitas extras com as luvas da negociação dos contratos de TV a partir de 2019, no resultado de 2017 entraram os recursos da venda de Vinícius Júnior ao Real Madrid, a maior transação de um jogador sub-20 na história do futebol até então, ambas receitas pontuais e extraordinárias.

Olhando os valores quebrados da receita do futebol, a conclusão apesar desta queda é bastante positiva: as finanças do Flamengo ainda estavam evoluindo e se diversificando, num processo contínuo de melhoria de resultados.

A receita bruta do resultado de 2018 pode ser quebrada primeiramente entre a receita bruta do futebol, que somou R$ 490,5 milhões, e a receita bruta do FlaGávea (clube social) e dos Esportes Olímpicos, que juntas somaram R$ 52,4 milhões. A do futebol caiu de R$ 599,8mm para R$ 490,4mm pelo motivo já falado, e a outra subiu de R$ 48,9mm para R$ 52,4mm.


Detalhando então a receita do futebol, iniciando-se pela arrecadação dos Direitos de Transmissão da TV: a receita bruta arrecadada em 2018 foi de R$ 222,5 milhões (acima dos R$ 199,1mm obtidos em 2017 e abaixo dos R$ 297,2mm arrecadados em 2016, quando entraram as luvas recebidas a vista da negociação de extensão de contrato com a Rede Globo). Frente a 2015, um salto de quase R$ 100 milhões, um incremento sem dúvida bastante expressivo.


Os direitos de transmissão da televisão representaram 45% das receitas obtidas pelo clube em 2018. É um percentual ainda elevado frente à meta da Gestão 2013-2018 que queria inicialmente que este percentual ficasse na casa dos 33%. Mas é um descumprimento de meta positivo, afinal aconteceu porque entraram R$ 100 milhões de reais nos cofres. Ainda que 45% seja uma dependência alta, e represente quase a metade da arrecadação rubro-negra, é uma bela evolução frente à Gestão 2010-2012, por exemplo, quando as receitas da TV representavam quase 2/3 da arrecadação do Flamengo (64%), a mesma realidade que existia comparando-se frente às gestões anteriores a 2010.


Sobre as receitas com Patrocínio, houve uma levíssima piora na comparação entre os resultados de 2017 e 2018, mas um resultado ainda muito bom! A receita com patrocínios em 2018 foi de R$ 89,9 milhões, um pouquinho abaixo dos R$ 90,4mm do fechamento de 2017. Porém, são as duas maiores arrecadações com patrocínio na história do Flamengo! Em 2012 o clube arrecadou R$ 34,4mm. Foi melhorando até alcançar R$ 85,5mm em 2015. Teve queda em 2016 frente à grave situação econômica que o país vivia, mas retomou o crescimento, saltando a este patamar na casa de R$ 90 milhões em patrocínio por ano. Esta arrecadação triplicou frente a 2012, e teve um aumento de volume enorme frente a todas as gestões anteriores a 2013.


Já no que se trata das receitas obtidas diretamente com sua Torcida, somando o arrecadado com Bilheteria e com o Programa de Sócios-Torcedores: a receita com a torcida em 2018 foi de R$ 92,8 milhões, com uma queda frente aos R$ 105,3mm obtidos em 2017. O motivo da redução: a não-arrecadação com bilheteria nas duas primeiras partidas da Libertadores no 1º trimestre de 2018, um prejuízo causado por sua própria torcida nos incidentes externos ao Maracanã ocorridos antes e depois da Final da Copa Sul-Americana 2017. Uma perda estimada em mais de R$ 10 milhões! Se tivesse tido torcida nestes dois jogos, a arrecadação com a torcida estaria praticamente no mesmo patamar daquela obtida no ano anterior.


Com o Sócio-Torcedor, a receita subiu e atingiu seu máximo histórico, mantendo a tendência crescente de expansão do programa. O Flamengo se desligou do Movimento por um Futebol Melhor, e o forte decremento de STs verificado no site do movimento contrasta com a expressiva melhora de arrecadação. A leitura do departamento de marketing do clube foi a de que os descontos em produtos lá cadastrados eram praticamente indiferentes na capacidade de atrair STs. O Flamengo então partiu para oferecer suas próprias vantagens, e o resultado foi muito bom. O arrecadado com o Programa de Sócio-Torcedor em 2018 foi de R$ 48,1 milhões. Uma receita que só passou a existir no clube a partir de 2013, quando o programa foi criado. Para ter uma referência da importância que isto representou na transformação financeira vivida pelo Flamengo: em 2012 a arrecadação com patrocínio foi de R$ 34 milhões. Só com a exploração do poder econômico de sua própria torcida, a arrecadação já em superou em muito este patamar.


Observando o resultado exclusivo obtido com Bilheteria, o resultado financeiro de 2018 mostrou uma receita de R$ 44,7 milhões (inferior aos R$ 62,3mm obtidos em 2017, uma queda como já explicado, relacionada aos dois jogos com portões fechados pela Libertadores 2018). Os 62 milhões de reais arrecadados em 2017 representaram o recorde histórico de arrecadação com bilheteria na história rubro-negra. As polêmicas escolhas de aumento de preço de ingresso, que geraram bastante ruídos na mídia esportiva, nas redes sociais e nas conversas informais entre rubro-negros, geraram um incremento de receita impressionante para os cofres do Flamengo. Em 2012 o clube havia arrecadado somente R$ 9,5 milhões. Saltou para um potencial de arrecadação na casa de mais de R$ 60 milhões ao ano. Um aumento de 500%!


Já a receita do clube "não-futebol" mantém um leve viés de alta. Em 2018 representou 52,3 milhões, o que historicamente só ficava abaixo dos R$ 56,6 milhões arrecadados em 2016.


A receita com incentivos fiscais, uma receita nova também, só possível de ser obtida após o clube obter as Certidões Negativas de Débito junto aos órgãos públicos, a primeira grande conquista no 1º mandato de Eduardo Bandeira de Mello, fechou 2018 em 14,2 milhões. Em 2014, primeiro ano em que conseguiu ter acesso a esta fonte de financiamento, o clube arrecadou R$ 21,9mm, o que mostra o quanto há de possibilidades para obter resultados ainda melhores neste quesito.



2) RESULTADO FINANCEIRO

O resultado operacional do exercício ficou bem abaixo frente a 2017, mas ainda assim com superávit, o que é o mais importante. Menos exposto a dívidas, era lógico trabalhar com um superávit mais baixo, em decorrência também de um aumento na capacidade de investimentos na qualidade do time de futebol, o que naturalmente aumenta os custos. Mas são investimentos, uma vez que um elenco mais forte e mais competitivo, capaz de fazer o clube repetidas vezes brigar no alto da tabela e ter maior aspiração a títulos, representa um aumento no potencial de expansão das receitas, seja pelo Programa de Sócio-Torcedor, por Bilheteria e por Patrocínio.


O Resultado Operacional de 2018 trouxe um superávit de R$ 63,6 milhões. Bem inferior aos R$ 192,4mm obtidos em 2017, e o menor superávit desde 2014. Porém ainda bem acima dos R$ 26,9 milhões de superávit em 2013, primeiro ano no qual o clube fechou positivamente a seu resultado operacional, que de 2012 para trás sempre apresentou déficit. Já em se tratando do Resultado Líquido do Exercício, uma história parecida: o fechamento de 2018 representou um superávit de R$ 45,9 milhões, o menor resultado desde 2015, primeiro ano no qual o resultado líquido fechou positivo (ou seja, com superávit).



3) DÍVIDAS

A dívida rubro-negra voltou a apresentar um viés de alta! E este ponto precisa ser monitorado com atenção a partir de agora, ainda que seja uma consequência do aumento de investimentos no futebol. Até o fim de 2018, no entanto, tudo sob controle, com números bastante saudáveis.

O resultado ainda saudável pode ser constatado no valor total de Empréstimos. Queda vertiginosa! O Total de Empréstimos junto ao setor bancário caiu para o menor patamar em muitas décadas, fechando 2018 em R$ 25 milhões (havia fechado 2017 em R$ 44,9mm e em 2016 fechou em R$ 111,6mm, após atingir o pico de R$ 162,0 milhões ao fim de 2015). O processo tão massivamente criticado na imprensa de "troca" de dívida pública (sonegação de impostos) por dívida privada, estava concluído com êxito. Sendo a gestão financeira conduzida corretamente a partir de 2019, ou seja, com os grandes investimentos só sendo realizados com lastro em receitas cem por cento certas de serem realizadas, e a exposição em empréstimos financeiros ficará sob controle. Num país com uma economia que pratica juros exorbitantes, a baixa exposição a empréstimos bancários representa uma importante liberação de fluxo de caixa, uma vez que o clube passa a ter condições de investir milhões que antes pagava como juros sobre os empréstimos tomados.

Durante 2018, o clube havia votado no Conselho Deliberativo o pedido de aprovação de novos empréstimos que levaram a um frenesi de notícias mentirosas na imprensa esportiva e em canais de comunicação de torcidas rivais. Falou-se que o Flamengo estaria quebrado, e só realizando contratações por adiantamentos de contratos de TV. Pura mentira! A notícia falsa, cujo principal alardeador sensacionalista foi o blog do jornalista Renato Maurício Prado (um nome que já havia muito tempo que não estava empregado por nenhum dos principais veículos de comunicação esportiva) levou a uma situação ridícula, com a FOX Sports precisando fazer uma retratação ao vivo em um de seus programas, constatando a inveracidade e o absurdo da informação antes mesmo do fim do seu programa ao vivo, no qual alguns de seus jornalistas fizeram seus alardes sensacionalistas. O novo empréstimo executou um giro sob uma taxa de juros menor à quitação de empréstimos por hora em vigor a uma taxa de juros superior à deste.


O volume de Empréstimos de Curto Prazo (vencimento inferior a um ano), o mais importante indicador da saúde financeira, exibia um quadro significativamente melhor: R$ 25 milhões ao fim de 2018, e todos eles junto a uma única instituição financeira, o Banco Daycoval.

A lista de instituições nas quais o Flamengo tinha recebido empréstimos nos anos anteriores mas cujos valores já estavam totalmente quitados, não restando nenhuma dívida foi ampliada ao fim de 2018, fazendo parte dela: Confederação Brasileira de Futebol - CBF, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro - FERJ, Consórcio Maracanã (Odebrecht), Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, Banco BIC, Banco Modal e Banco Brasil Plural, com a adição a esta lista em 2018 do Banco BMG, do Fundo Pólo Capital, do Banco Inermedium (Banco Inter) e do Banco Lecca.


Pelo segundo ano consecutivo o Flamengo terminou sem Empréstimos de Longo Prazo (com vencimento superior a um ano). Uma prova mais do equacionamento de sua exposição financeira. Após subir de R$ 30,7 milhões para R$ 80,0 milhões de 2012 para 2013, este volume, ano após ano, só caiu: passou a R$ 69,7mm em 2014, a R$ 60,5mm em 2015 e a R$ 18,7mm em 2016, fechando zerado os anos de 2017 e 2018.   


Entretanto, com a realização de maiores investimentos no elenco do futebol, a dívida rubro-negra voltou a subir. Tendência que deve se repetir em 2019 dadas as grandes contratações realizadas no começo do ano (De Arrascaeta, Bruno Henrique e Rodrigo Caio). A dívida bruta fechou 2018 em R$ 469,5 milhões, acima dos R$ 334,7 milhões em que havia fechado 2017. Retirados os adiantamentos de contrato, que agregam valor contábil, mas não são verdadeiramente dívida, a dívida líquida do Flamengo fechou 2018 em R$ 344,0 milhões, acima do valor em que fechou 2017 (R$ 262,4 milhões), mas ainda praticamente no mesmo patamar do fechamento de 2016 (R$ 366 milhões).


A razão Dívida / Receita Anual fechou em 0,67 vez. Um indicador que aponta uma boa saúde financeira frente a qualquer instituição do sistema financeiro, de qualquer segmento da economia (se quiser fazer o cálculo considerando a dívida bruta e não a líquida, o resultado aponta 0,91 vez, um resultado com viés de alta, mas ainda bastante saudável).





Veja histórico: Transparência Rubro-Negra


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