quinta-feira, 7 de novembro de 2019

De onde veio o dinheiro do Flamengo?


FLAMENGO: Resultado Financeiro do 3° Trimestre 2019

Seguindo o histórico de análises sempre disponibilizadas aqui no blog (histórico pode ser visto na sessão Transparência Rubro-Negra): mesmo com o substantivo crescimento dos investimentos na qualidade do elenco, apesar de todas as grandes aquisições e aumentos na massa salarial do elenco do futebol, o desempenho financeiro segue numa trilha altamente positiva, como veio sendo a tendência já apresentada nos exercícios anteriores. Mais do que isso: o ano de 2019, mesmo com todos os gastos, fechará mais uma vez com superávit. Mas há uma mudança estrutural que precisa ser dita, e não de forma negativa, mas até como endosso à resposabilidade em gestão e execução orçamentária da Diretoria do Flamengo: as finanças rubro-negras passaram a ser sustentadas pela venda de jogadores, ainda que a arrecadação com torcida mantenha um forte incremento, principalmente sustentada pelos sólidos números do Programa de Sócio Torcedores, mas também pelas crescentes receitas de Bilheteria com o Maracanã tendo os maiores públicos do campeonato, sustentado pela fantástica campanha do futebol rubro-negro no ano.

Analisando os números do 3º Trimestre de 2019 detalhadamente:


1) RECEITAS

A receita operacional bruta acumulada no 1º semestre havia sido de R$ 407,2 milhões, e o acumulado até o fim do 3º trimestre alcançou incríveis R$ 652,4 milhões. Em 9 meses o acumulado não só superou o total de 2018, como superou os R$ 648,7 milhões arrecadados em 2017, que era o recorde histórico do clube. O resultado se divide em R$ 623,4 mm obtidos com o futebol e R$ 29,0 mm obtidos com o clube social e os esportes olímpicos. O bom resultado se sustenta na contabilização das vendas de jogadores para o futebol europeu acertadas no fim de 2018, somado às vendas realizadas em 2019. Esta arrecadação colocará o Flamengo no Top 20 de Receitas do Futebol Mundial!

Já quanto aos demais quesitos, há notícias boas e ruins. Descontados os impostos incidentes sobre a movimentação de receita, a receita operacional líquida total acumulada no 3º trimestre de 2019 atingiu R$ 634,4 milhões, um grande aumento frente aos R$ 395,2 mm arrecadados no mesmo período do ano anterior.



Detalhado a receita do futebol, iniciando-se pela arrecadação dos Direitos de Transmissão da TV. O resultado acumulado até o 3º trimestre de 2019 foi de R$ 161,3 milhões. Uma arrecadação relativamente baixa. Analisando pela "ótica do copo meio cheio": prova o quanto as finanças do Flamengo se sustentam, e não são mais dependentes dos recursos financeiros da TV, dos quais grande parte dos clubes brasileiros continuam reféns.


Sobre as receitas com Patrocínio, também houve uma importante piora de resultados no comparativo ao ano anterior. O resultado acumulado até o 3º semestre de 2019 fechou em R$ 52,0 milhões, uma queda frente aos R$ 64,6 mm obtidos no ano anterior. Cabe a ressalva que o Flamengo mudou seu modelo de arrecadação de patrocínio master na camisa de futebol, assinando com o Banco BS2 por um valor fixo inferior ao recebido no contrato com o patrocinador anterior, mas com uma receita variável associada a uma participação nos resultados obtidos pelo banco patrocinador, estratégia que só se poderá medir se foi vantajosa ou não quando esta participação variável entrar nos cofres rubro-negros, no último trimestre do ano.


Detalhando as receitas obtidas diretamente com sua Torcida, quebrando entre o arrecadado com Bilheteria e o diretamente obtido com o Programa de Sócio-Torcedor, ambas subiram bastante frente a 2018, com um desempenho fantástico. No saldo das duas, um expressivo aumento: é a torcida rubro-negra quem está tendo um importante papel para pagar a conta e financiar sua felicidade! A receita com torcida subiu de R$ 74 mm para R$ 105 mm no comparativo entre os acumulados até o 3º semestre de um ano e de outro. Embalado pela fantástica campanha no Campeonato Brasileiro e na Libertadores, em 2019 o clube voltou a gerar mais de R$ 100 milhões ao ano com receitas geradas por sua própria torcida, como aconteceu em 2017. E atingiu este patamar, superando aquele que era seu recorde histórico de arrecadação com sua própria torcida já no acumulado dos nove primeiros meses do ano!


A Bilheteria subiu para R$ 65,4 milhões depois de ter estado em R$ 40,0 mm no acumulado até o 3º trimestre de 2018. No início do ano anterior, o resultado havia sido baixo pelos dois jogos com portões fechados nas duas primeiras partidas da Copa Libertadores (um prejuízo causado por sua própria torcida nos incidentes externos ao Maracanã ocorridos antes e depois da Final da Copa-Sul-Americana 2017). Mas outros fatores inflaram a comparação de resultado de 2019 frente ao ano anterior: a presença na Final do Campeonato Carioca, que não aconteceu em 2018, a campanha que o manteve em 1º lugar na maior parte do Campaonato Brasileiro, e a chegada à Final da Libertadores da América. Assim, fica endossada a conclusão importantíssima de que para as finanças, é fundamental fazer grandes campanhas.


Com o Sócio-Torcedor, a receita manteve seu comportamento cada vez mais ascendente, tendo fechado o acumulado até o 3º trimestre de 2019 em R$ 39,9 milhões. Caminha para obter uma arrecadação de sócio-torcedores superior a R$ 50 milhões no ano.



2) RESULTADO FINANCEIRO

O resultado operacional do exercício foi bem melhor do que o acumulado até o 3º trimestre de 2018, mas está em muito sustentado pela contabilização das vendas de jogadores. O resultado acumulado até o 3º trimestre de 2019 foi de R$ 102,6 milhões. É um resultado excepcional, mas que pelo fator descrito deve ser visto com alguma ressalva.


Descontando-se as despesas financeiras, chegou-se a um resultado líquido também muito positivo e muito superior ao do mesmo período do ano anterior. O superávit acumulado até o 3º trimestre de 2019 foi de R$ 74,7 milhões, superior ao superávit de R$ 45,9 milhões acumulado em todo o ano de 2018. Excepional, mas, de novo: sob as mesmas ressalvas.



3) DÍVIDAS

A dívida bruta fechou o 3º trimestre de 2019 em R$ 566,5 milhões. Bem acima dos R$ 466,5 milhões que havia fechado o 3º trimestre de 2018. Um movimento de aumento que tem acontecido trimestre a trimestre há algum tempo e precisa continuar sendo monitorado bem de perto. Após os grandes investimentos feitos nas aquisições de Giorgian De Arrascaeta, Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gérson, este aumento já era mais que esperado. Não há expectativa de queda volumosa da dívida ao longo de 2019, o momento é de aposta na conquista de títulos expressivos no futebol. Daqui para frente, é necessária muita atenção para não haver um novo descontrole na gestão do nível de endividamento do clube. A Diretoria do Flamengo já indicou que planeja esta elevação de dívida em 2019, para voltar a trabalhar por sua redução a partir de 2020. Resta saber se esta promessa será mantida caso os títulos expressivos não apareçam.

Retirados os adiantamentos de contrato, a dívida líquida do Flamengo fechou o 3º trimestre de 2019 em R$ 417,3 milhões.


A razão Dívida / Receita Anual fechou o trimestre em 0,49 vez. Muito bom, mas sob a mesma ressalva já feita para o resultado da receita, que, inflado, jogou o resultado para baixo. Porém, é inquestionável que o Flamengo mantém sua saúde financeira mesmo após os pesadíssimos investimentos na aquisição de jogadores de futebol que o clube realizou. Basta buscar a evolução histórica, apresentada aqui no blog, na Transparência Rubro-Negra, na avaliação do Resultado Anual de 2018.


O nível de empréstimos tomados junto a bancos privados terminou o 3º trimestre de 2019 em R$ 56,1 milhões, dos quais R$ 36,8 milhões com vencimento superior a 12 meses, e R$ 19,3 milhões com vencimento inferior a 1 ano. A título de comparação de longo prazo: em dezembro de 2012, o Flamengo devia R$ 85,2 milhões aos bancos, sendo R$ 54,5 milhões com vencimento inferior a um ano. É uma situação financeira muito mais confortável! Mas o Flamengo precisa acabar com a dependência de aquisição de empréstimos para manter seu capital de giro.

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