FLAMENGO: Análise dos Resultados Financeiros de 2019
Analisando o resultado publicado na Demonstração Financeira de 2019 do Flamengo, dando continuidade ao histórico de análises sempre disponibilizadas aqui no blog (histórico pode ser visto na sessão Transparência Rubro-Negra), o que se viu no ano de 2019 foi um desempenho financeiro altissimamente positivo, espetacular. O nível de endividamento permaneceu num patamar pouco incômodo (ainda que longe ainda de poder ser considerado de todo confortável) o clube seguiu consolidando investimentos que mudaram o patamar de qualidade do futebol do clube.
O excepcional e inesquecível ano dentro dos campos - Campeão Carioca, da Libertadores e do Brasileiro - deixou marcas nas finanças rubro-negras, colocando o Flamengo muito próximo do Top 20 do futebol mundial. A gestão do clube vem conduzindo as finanças para obter uma sustentação de médio a longo prazo na capacidade de crescimento das receitas. Entretanto, sinais de alerta precisam ser mantidos ligados para monitorar riscos que ameacem este trajetória auto-sustentável.
Os sinais seguem saudáveis, pois as contratações em ampla maioria foram feitas utilizando os recursos arrecadados com as vendas de jogadores. Os investimentos vêm todos sendo realizados com lastro. A dívida cresceu, mas pouco. E o nível de empréstimos tomados junto aos bancos segue estabilizado, reduzindo extremamente a exposição a risco frente aos cenários observados nos anos anteriores.
É importante destacar que havendo sido o primeiro ano de gestão de Rodolfo Landim, que também representou o primeiro ano no qual as contas rubro-negras foram auditadas por uma das maiores empresas de auditoria do mundo, trouxeram algumas mudanças no padrão de contabilização das receitas, especialmente as relacionadas a publicidade. Dentro dos Direitos de Transmissão passou a haver o desmembramento em receitas fixas e variáveis, e pela primeira vez, frente ao crescimento de importância visto em 2019, foi publicada separadamente as receitas obtidas com Mídias Digitais. No balanço, também houve modificação - sem nenhum impacto sobre o nível de endividamento, da forma de registro dos Depósitos Judiciais, que passaram a ser registrados todos como Ativo Não Circulante.
Eis, portanto, o resumo dos números:
1) RECEITAS
A receita operacional bruta fechou 2019 em R$ 950,4 milhões, impressionantemente acima dos R$ 542,8mm do fechamento de 2018. Um resultado sustentado tanto pela receita com a venda de jogadores para a Europa, como, sobretudo, pelas receitas geradas junto à Torcida Rubro-Negra. A receita líquida (descontados os impostos) fechou em R$ 914,0 milhões, muito acima do fechamento de 2018 que foi de R$ 516,8mm.
As finanças do Flamengo continuavam evoluindo e se diversificando, num processo contínuo de melhoria de resultados. A receita bruta do resultado de 2019 pode ser quebrada primeiramente entre a receita bruta do futebol, que somou R$ 899,8 milhões, e a receita bruta do FlaGávea (clube social) e dos Esportes Olímpicos, que juntas somaram R$ 50,7 milhões. A do futebol aumentou de R$ 490,4mm para R$ 899,8mm e a outra caiu de R$ 52,4mm para R$ 50,7mm.
Detalhando então a receita do futebol, iniciando-se pela arrecadação dos Direitos de Transmissão da TV: a receita bruta arrecadada em 2019 foi de R$ 329,5 milhões (acima dos R$ 222,5mm obtidos em 2018). As receitas obtidas diretamente com a TV só cresceram por causa das receitas variáveis, bônus pelos resultados obtidos em campo. Estas receitas representavam pouco mais de 1/3 do total de receitas do clube, provando que as finanças do Flamengo não estavam sendo sustentadas pelos recursos financeiros da TV, enquanto a grande parte dos clubes brasileiros continuavam reféns destes recursos.
Os direitos de transmissão da televisão representaram 37% das receitas obtidas pelo clube em 2019. A da Gestão Rubro-Negra é fazer com que este percentual fique na casa dos 33%. Sempre é válida a referência de que na Gestão 2010-2012 as receitas da TV representavam 64% da arrecadação do Flamengo.
A meta inicial de gestão rubro-negra era ter três fatias iguais: receita com TV, com patrocínio e com a torcida. Em 2019, há três fatias aproximadamente iguais, mas com fontes diferentes das inicialmente planejadas: receita com TV, com "patrocínio + torcida", e com a venda de jogadores para o futebol europeu.
Quanto às receitas com Patrocínio, também houve uma modificação na contabilização, passando-se a incluir licenciamentos e royalties dentro do resultado. Em 2019 houve uma receita de R$ 93,3 milhões. Cabe a ressalva de que, ainda por cima, o Flamengo mudou em 2019 o seu modelo de arrecadação de patrocínio master na camisa de futebol, assinando com o Banco BS2 por um valor fixo inferior ao recebido no contrato com o patrocinador anterior, mas com uma receita variável associada a uma participação nos resultados obtidos pelo banco patrocinador, estratégia que só se poderá medir se foi vantajosa ou não quando esta participação variável entrar nos cofres rubro-negros, no último trimestre do ano.
Quanto às receitas com Patrocínio, em 2012 o clube arrecadava R$ 34,4mm. Foi melhorando até alcançar R$ 85,5mm em 2015. Teve queda em 2016 frente à grave situação econômica que o país vivia, mas retomou o crescimento, saltando a este patamar na casa de R$ 90 milhões em patrocínio por ano. Esta arrecadação triplicou frente a 2012, e teve um aumento de volume enorme frente a todas as gestões anteriores a 2013. A receita foi de R$ 90,4mm do fechamento de 2017 e de R$ 89,9 milhões em 2018. Desde 2015 o Flamengo mantém as receitas com Patrocínio na faixa entre R$ 85 e R$ 93 milhões (exceção só em 2016).
Já no que se trata das receitas obtidas diretamente com sua Torcida, somando o arrecadado com Bilheteria e com o Programa de Sócios-Torcedores: a receita com a torcida em 2019 deu um salto espetacular e impressionante de R$ 92,8 milhões para R$ 175,4mm. Com um ano fantástico, com a conquistada Tríplice Coroa de Campeão Carioca, Brasileiro e da Libertadores, a torcida respondeu, sendo fundamental para fechar a conta dos altos investimentos realizados.
Com o Sócio-Torcedor, a receita continua subindo e ano após ano atingindo seu máximo histórico, mantendo a tendência crescente de expansão do programa. O arrecadado com o Programa de Sócio-Torcedor em 2019 foi de R$ 61,7 milhões, subindo bastante frente aos R$ 48,1 milhões arrecadados em 2018. Uma receita que só passou a existir no clube a partir de 2013, quando o programa foi criado. Para ter uma referência da importância que isto representou na transformação financeira vivida pelo Flamengo: em 2012 a arrecadação com patrocínio foi de R$ 34 milhões. Só com a exploração do poder econômico de sua própria torcida, a arrecadação já em superou em muito este patamar.
Observando o resultado exclusivo obtido com Bilheteria, o resultado financeiro de 2019 mostrou uma receita de R$ 113,8 milhões (muito superior aos R$ 44,7mm obtidos em 2018). Os 62 milhões de reais arrecadados em 2017 representavam o recorde histórico de arrecadação com bilheteria na história rubro-negra, e o resultado em 2019 foi superior em R$ 50 milhões. As polêmicas escolhas de aumento de preço de ingresso, que geraram bastante ruídos na mídia esportiva, nas redes sociais e nas conversas informais entre rubro-negros, geraram um incremento de receita impressionante para os cofres do Flamengo. Em 2012 o clube havia arrecadado somente R$ 9,5 milhões. Um salto fantástico e impressionante.
Já a receita do clube "não-futebol" se mantém na faixa de R$ 50,0 milhões. Historicamente, abaixo dos R$ 56,6 milhões arrecadados em 2016, o recorde histórico neste quesito. É uma receita que não apresenta qualquer viés ou potencial de alta.
2) RESULTADO FINANCEIRO
O resultado operacional do exercício ficou bem abaixo frente a 2017, que foi o recorde histórico, mas ainda assim com superávit expressivo, o que é o mais importante. Menos exposto a dívidas, é lógico trabalhar com um superávit mais baixo, em decorrência também de um aumento na capacidade de investimentos na qualidade do time de futebol, o que naturalmente aumenta os custos. Mas são investimentos, uma vez que um elenco mais forte e mais competitivo, capaz de fazer o clube repetidas vezes brigar no alto da tabela e ter maior aspiração a títulos, representa um aumento no potencial de expansão das receitas, seja pelo Programa de Sócio-Torcedor, por Bilheteria e por Patrocínio.
O Resultado Operacional de 2019 trouxe um superávit de R$ 95,4 milhões, acima dos R$ 63,6 milhões de 2018 e bem inferior aos R$ 192,4mm obtidos em 2017. Porém ainda bem acima dos R$ 26,9 milhões de superávit em 2013, primeiro ano no qual o clube fechou positivamente a seu resultado operacional, que de 2012 para trás sempre apresentou déficit. Já em se tratando do Resultado Líquido do Exercício, uma história parecida: o fechamento de 2019 representando um superávit de R$ 62,9 milhões.
3) DÍVIDAS
A dívida rubro-negra voltou a apresentar um viés de alta! E este ponto precisa ser monitorado com atenção a partir de agora, ainda que seja uma consequência do aumento de investimentos no futebol. Até o fim de 2019, no entanto, tudo sob controle, com números bastante saudáveis.
O valor total de Empréstimos junto ao setor bancário fechou 2019 em R$ 52 milhões, o maior patamar desde o fim de 2016. Ainda é muito inferior aos R$ 111,6mm do fim de 2016 ou do pico de R$ 162,0mm ao fim de 2015. Cabe bastante atenção a este ponto daqui em diante para que a exposição a empréstimos financeiros fique sob controle. Num país com uma economia que pratica juros exorbitantes, a baixa exposição a empréstimos bancários representa uma importante liberação de fluxo de caixa, uma vez que o clube passa a ter condições de investir milhões que antes pagava como juros sobre os empréstimos tomados.
O Flamengo precisa acabar com a dependência de aquisição de empréstimos para manter seu capital de giro. A Diretoria do Flamengo já indicou que planeja esta elevação de dívida em 2019, para voltar a trabalhar por sua redução a partir de 2020. Resta saber se esta promessa será mantida.
O volume de Empréstimos de Curto Prazo (vencimento inferior a um ano), o mais importante indicador da saúde financeira, exibia um quadro significativamente melhor: R$ 23,6 milhões ao fim de 2019, e todos eles junto a uma única instituição financeira, o Banco Daycoval. É o menor nível de endividamento de curto prazo da história do clube!
A lista de instituições nas quais o Flamengo tinha recebido empréstimos nos anos anteriores, mas cujos valores foram totalmente quitados: Confederação Brasileira de Futebol - CBF, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro - FERJ, Consórcio Maracanã (Odebrecht), Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, Banco BIC, Banco Modal e Banco Brasil Plural, com a adição a esta lista em 2018 do Banco BMG, do Fundo Pólo Capital, do Banco Inermedium (Banco Inter) e do Banco Lecca.
Após dois anos sem Empréstimos de Longo Prazo (com vencimento superior a um ano), o Flamengo voltou a R$ 29,0mm em 2019. Este valor precisa voltar a ser reduzido daqui em diante.
A dívida bruta fechou 2019 em R$ 505,4 milhões, acima dos R$ 469,5mm verificados no fim de 2018. Retirados os adiantamentos de contrato, que agregam valor contábil, mas não são verdadeiramente dívida, a dívida líquida do Flamengo fechou 2019 em R$ 382,7 milhões, acima do valor em que fechou 2018 (R$ 344,0 milhões).
A razão Dívida / Receita Anual fechou em 0,42 vez. Um indicador que aponta uma boa saúde financeira frente a qualquer instituição do sistema financeiro, de qualquer segmento da economia (se quiser fazer o cálculo considerando a dívida bruta e não a líquida, o resultado aponta 0,55 vez, um resultado com viés de alta, mas ainda bastante saudável).
É preciso ser feita a ressalva de que o resultado da receita, inflado pelo ano excepcional do futebol em campo, jogou o resultado mais para baixo do que o normal. Porém, é inquestionável que o Flamengo mantém sua saúde financeira mesmo após os pesadíssimos investimentos na aquisição de jogadores de futebol que o clube realizou.
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