quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Futebol do Flamengo de 1956 a 1965: a paixão movendo multidões


HISTÓRIA DO FUTEBOL DO FLAMENGO


O NASCIMENTO DO MAIS QUERIDO 3ª Parte (1956 a 1965)
A paixão rubro-negra como um fenômeno social movimentador de multidões

Com a inauguração do Maior Estádio do Mundo em 1950 no Rio de Janeiro, o Maracanã, o fenômeno Flamengo se tornou um movedor de multidões como nenhum outro no Brasil. O futebol já era o símbolo maior da cultura popular brasileira, e o vermelho e preto já tinha se espalhado como um fenômeno nacional, deflagrado a partir da capital federal para todos os cantos do território brasileiro. O poder de mover multidões que o Flamengo tinha, só amplificava estes fatores no sonho e no imaginário de todos que ouviam falar daquelas monumentais aglomerações de mais de cem mil pessoas num estádio para ver um jogo de futebol. E ninguém tinha o poder que o clube da Gávea tinha para fazer estas massas se aglomerarem: no Século XX, o Maracanã sediou 214 dos 278 jogos com mais de cem mil pessoas realizados no Brasil, dos quais em 117 deles a multidão foi ver ao Flamengo jogar, o segundo a ter atraído mais vezes públicos centenários foi o Vasco da Gama, em 72 oportunidades. Dos clássicos cariocas, o que mais vezes levou um público centenário ao Maracanã foi justamente o que ficou batizado como "Clássico dos Milhões": foram 44 vezes que o Flamengo-Vasco pôs mais de cem mil no estádio, seguido pelo Fla-Flu, que pôs 32 vezes, e o Flamengo-Botafogo que colocou 21 vezes. Sem a camisa rubro-negra em campo, o clássico que mais vezes teve um público centenário foi Vasco- Fluminense, em apenas 11 vezes. Dos dez maiores públicos da história do estádio, o Flamengo estava em campo em cinco deles e a Seleção Brasileira em quatro, e sendo o outro que completa a lista um jogo em rodada dupla que foi a preliminar de um Fla-Flu. Estas são as dimensões do gigantismo deste clube.


Em 1956, confusões e divergências políticas em torno do calendário do futebol brasileiro fizeram que não houvesse a disputa do Torneio Rio-São Paulo no 1º semestre. O Flamengo articulou então um novo giro pela Europa. O time tri-campeão carioca, ainda que em 55 já não tendo mostrado a mesma força apresentada em 53 e em 54, teve um excelente desempenho em solo europeu, tendo disputado 11 jogos, e obtido 8 vitórias, 1 empate e 2 derrotas. Jogou na Suécia, na Noruega, na França e em Portugal. Fechou a excursão com uma vitória por 2 x 1 sobre o Benfica no Estádio da Luz, em Lisboa.

Estando com o elenco bastante inchado, o clube decidiu ceder alguns jogadores, tendo quatro sido negociados com clubes do Nordeste: para o Bahia foi enviado o veterano ponta-esquerda Esquerdinha e o lateral-direito reserva Leone, que se tornou capitão do time que viria a ser campeão da Taça Brasil de 1959, vindo a ser aclamado como um dos maiores nomes da posição na história do clube baiano; outros dois nomes seguiram para Pernambuco, o goleiro Aníbal para o Santa Cruz, e o atacante paraguaio Benítez, que já havia muito tempo que não estava entre os titulares rubro-negros, e foi para o Náutico.

O grupo que lutaria pela segunda vez na história rubro-negra por tentar um tetra-campeonato mantinha todos os titulares, e todos os reservas que entravam com mais frequência na campanha do ano anterior.

O Campeonato Carioca voltou a ser por pontos corridos em turno e returno. O time rubro-negro venceu a Madureira, São Cristóvão e Portuguesa, mas tropeçou na quarta rodada, derrotado por 1 a 0 pelo Olaria na Rua Bariri. Parece não ter se abalado, pois na sequência venceu a Bonsucesso, Bangu, Canto do Rio e Fluminense. Porém, depois perdeu para o América e foi goleado por 5 a 0 pelo Botafogo. Na última rodada ainda empatou com o Vasco, afastando-se da luta pelo título.

No returno estreou mal, empatando com o Bonsucesso. Na 3ª rodada, aplicou a maior goleada da história do Maracanã, vencendo ao São Cristóvão por 12 x 2, com cinco gols de Evaristo e quatro de Índio. Até a 9ª rodada só voltou a perder pontos num empate com o América, vencendo a Vasco e Fluminense por 1 x 0, em ambas oportunidades com gol do centroavante Índio. Nas duas últimas rodadas, porém, derrotas para Botafogo e Canto do Rio (no Caio Martins, em Niterói). Terminou o campeonato em 3º lugar.

Flamengo no Carioca de 1956
Ari, Tomires, Pavão, Milton Copolillo e Jordan; Dequinha e Paulinho; Joel, Índio, Evaristo e Zagallo
Téc: Fleitas Solich
Banco: Chamorro, Jadir, Servílio, Duca e Dida

O ano de 1957 já se iniciou com um evento histórico para o Flamengo: chegou ao Brasil o time húngaro do Honved, cuja principal estrela era Ferenc Puskas, que surpreendera ao mundo na Copa de 54 com um estilo de jogo e uma preparação física revolucionários, que rendeu à Hungria o vice-campeonato. Outras estrelas daquela seleção - como Sandor Kocsis, Jozsef Bozsik, Zoltan Czibor e Grosics - também jogavam naquele Honved, que era a base daquela Seleção da Hungria. Com um Maracanã lotado por 120 mil espectadores para ver aquela sensação do futebol mundial, o Flamengo venceu por 6 x 4, num jogaço histórico!

Para a temporada de 1957, a diretoria rubro-negra e o técnico Fleitas Solich tinham um grande desafio pela frente, pois o time havia perdido dois de seus mais importantes titulares, que se haviam destacado nos anos anteriores: Evaristo foi contratado pelo Barcelona, da Espanha, e Paulinho pelo Palmeiras. Ainda tiveram outras duas baixas no grupo: o veterano goleiro Chamorro voltou a seu país para se juntar ao Newell's Old Boys, e o zagueiro Servílio foi contratado pelo Botafogo. Mas a aposta do clube não foi por buscar reposições fora da Gávea. Na frente, abriu-se a oportunidade para que Dida assumisse definitivamente a titularidade, ao mesmo tempo Solich deu espaço para o aproveitamento de uma nova safra que emergia da base, da qual faziam parte o zagueiro Décio Crespo, o meia Moacir e o atacante Luís Carlos. Só foram contratados dois jogadores, ambos para encorpar elenco, e chegados do Bangu: o goleiro Fernando e o volante Édson.

Embora o técnico continuasse sendo o paraguaio Solich, em campo, com a saída de Chamorro, era a primeira vez em mais de duas décadas que o time do Flamengo não teria pelo menos um estrangeiro em seu time. Embora o veterano goleiro Garcia ainda fizesse parte do elenco, àquela altura de sua carreira ele era tão só o terceiro goleiro. Em 1956, ele só havia atuado duas vezes, e só numa delas sendo um jogo oficial. Durante 1957 entrou em campo cinco vezes, sendo todas elas partidas amistosas. E em 1958, seu último ano em vermelho e preto antes de decidir por sua aposentadoria, defendeu ao arco do clube em três jogos do Carioca daquele ano. Era a primeira vez desde 1936 que o Flamengo não recorreria a pelo menos um jogador estrangeiro.

O time não fez uma boa estreia no Rio-São Paulo, terminando goleado por 4 x 1 no Pacaembu pelo São Paulo. Recuperou-se na 2ª rodada goleando ao Santos por 4 x 0 no Maracanã. Depois perdeu os clássicos perante Vasco e Fluminense, e goleou ao Corinthians por 4 x 0 dentro do Pacaembu e ao Botafogo por 4 x 1 diante de meros 18 mil torcedores no Maracanã. O Fluminense já havia disparado na liderança e conquistaria o título com três rodadas de antecipação. Na reta final, o time rubro-negro venceria a Palmeiras e América, e empataria com a Portuguesa de Desportos. Terminou a competição com o vice-campeonato. Na 7ª edição disputada do Torneio Rio-São Paulo, foi a primeira vez que o Flamengo conseguiu terminar entre os três primeiros colocados.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1957
Ari, Tomires (Joubert), Milton Copolillo, Jadir e Jordan; Luís Roberto (Édson) e Moacir; Joel, Henrique Frade, Luís Carlos e Babá
Téc: Fleitas Solich

O time no 2º semestre seguiria tendo baixas, mas a aposta continuaria firme em que as reposições seriam feitas integralmente pelos jovens emergidos da base. Desta vez saíram três meio-campistas e o centroavante titular. O volante Luís Roberto decidiu emigrar para Portugal, aceitando convite para ir defender ao Porto. Milton Bororó, que não havia tido boa passagem nos dois anos em que esteve na Gávea, foi para o Grêmio. O herói do Segundo Tri, Rubens, que estava insatisfeito por estar, já havia um tempo, relegado ao banco de reservas, foi contratado pelo Vasco (onde mostraria que ainda tinha valor e teria bons momentos com a camisa cruzmaltina num ano de 1958, no qual se consagraria campeão do Rio-São Paulo e campeão carioca). Por fim, o Corinthians contratou ao goleador Índio. Apesar das perdas, o Flamengo mais uma vez não fez nenhuma contratação.

Após a histórica vitória sobre o Honved, em janeiro, haveria um outro marco histórico para o Flamengo naquele ano, que aconteceria em setembro de 1957. Em meio à disputa do Campeonato Carioca, entre a 9ª e a 10ª rodada do 1º turno, o time fez uma viagem à Europa para participar do evento de inauguração do Estádio Camp Nou. Foi apenas um jogo de exibição. No dia 24 de setembro, data oficial da inauguração, a delegação rubro-negra desfilou pelo estádio carregando a bandeira brasileira e foi ovacionada pela torcida catalã. No primeiro jogo no novo estádio, o Barcelona venceu por 4 x 2 a um Combinado de Varsóvia, da Polônia (Evaristo, ex-jogador do Flamengo, marcou o segundo gol dos azul-grenás). No 2º jogo realizado no estádio, o time rubro-negro venceu ao Burnley, da Inglaterra, por 4 x 0, gols de Dida, Zagallo, Henrique e um contra. No dia seguinte, o jornal catalão "Mundo Deportivo" dava destaque ao esquema tático de Fleitas Solich, com um sistema 4-2-4 - uma novidade na época - e a intensa troca de posições no ataque rubro-negro.

Dida na Gávea

Durante o Campeonato Carioca, o time só sofreu 2 derrotas nas 22 rodadas dos dois turnos (e ambas no Fla-Flu), porém, empatou muito, e com isso terminou em 3º lugar. No 1º turno, só perdeu para o Fluminense, aplicando várias goleadas: 5 x 1 no Olaria, 8 x 0 no Madureira, 4 x 1 no Bangu, e 4 x 1 no Vasco. Mas empatou com Portuguesa e Botafogo, perdendo pontos importantes, já que a disputa pela ponta estava extremamente acirrada. No final do 1º turno, o Flamengo era o vice-líder, com 18 pontos, uma a menos que o Fluminense e um a mais que o Botafogo.

Na abertura do returno, o líder Fluminense empatou com o Bonsucesso, e o Flamengo passou a dividir a liderança com o time tricolor. Nas cinco primeiras rodadas, o time rubro-negro encaixou cinco vitórias consecutivas, com direito a goleadas de 5 x 1 no Bonsucesso e 5 x 2 na Portuguesa, apresentando um ótimo futebol. Com a vitória na 5ª rodada, pela primeira vez assumiu a ponta da tabela de forma isolada, um ponto a frente do Fluminense e três a frente do Botafogo, contra quem, no entanto, na 6ª rodada, o time voltaria a empatar, permitindo que os tricolores voltassem a estar a seu lado na ponta da tabela.

Faltavam seis rodadas para o fim do campeonato. E foi na sequência entre a 6ª e a 9ª rodada que o time perdeu o título, pois empatou com América e Madureira, e voltou a perder para o Fluminense, caindo para a 3ª colocação, um ponto atrás do Botafogo e dois atrás dos tricolores, ainda líderes. Depois o time rubro-negro voltou a meter 4 x 1 no Vasco, repetindo a goleada do turno. Despediu-se empatando sem gols com o Bangu. No fim, o campeão foi o Botafogo, com 36 pontos (conquistou o título com uma goleada por 6 a 2 sobre o Fluminense na última rodada). Com o vice, o Fluminense com 35, seguido por Flamengo com 34 e Vasco com 33. Uma disputa extremamente acirrada, o que reforça a percepção de que foram nestes Anos 1950 que ficou marcada a diferenciação destes clubes como "Os Quatro Grandes do Rio".

Flamengo no Carioca de 1957
Ari, Joubert, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Joel, Henrique Frade, Dida e Zagallo
Téc: Fleitas Solich
Banco: Fernando, Milton Copolillo, Décio Crespo e Luís Carlos

No Rio-São Paulo de 58, o time rubro-negro fez excelente campanha. Venceu nas três primeiras rodadas, sendo duas fora de casa, contra São Paulo e Santos, além de ter batido à Portuguesa de Desportos no Maracanã. Na 4ª rodada, porém, perdeu para o América por 3 a 2. Recuperou-se com duas goleadas seguidas: 4 x 0 no Botafogo e 6 x 2 no Palmeiras. E venceu o Fla-Flu por 1 a 0 diante de um público de 51 mil pessoas (interessante notar como, mesmo diante da excepcional campanha, o inter-estadual não conseguia atrair a mesma multidão observada no Campeonato Carioca). Mas naquele mesmo torneio, porém, viria a ser batido o recorde de público da competição, justamente no "Clássico das Multidões".

Faltando duas rodadas, Flamengo e Vasco estavam empatados na liderança, ambos tendo sofrido apenas uma derrota cada (os vascaínos perderam para o Palmeiras logo na estreia) e vencido todos os seus demais jogos. Na penúltima rodada, os dois se enfrentavam no Maracanã. O estádio recebeu o maior público da história do Torneio Rio-São Paulo: 120.165 pagantes e 129.625 presentes. E a multidão presenciou a "Lei do Ex", pois a rede foi balançada pela primeira vez no início do 2º tempo, com gol de Rubens para a camisa da cruz de malta. O time rubro-negro posteriormente empatou, gol de Luís Carlos. Ficou nisso: 1 a 1. O título ficou para ser decidido então na última rodada, quando os dois rivais foram jogar em São Paulo, respectivamente contra Corinthians e Portuguesa de Desportos. O time rubro-negro perdeu (0 x 3 no Pacaembu) e os cruzmaltinos golearam (5 x 1, quatro dias depois no mesmo local), sagrando-se campeões. O Flamengo, vice-campeão, terminou dois pontos atrás na tabela. Depois de 6 edições sem conseguir terminar no "Top 4" do Rio-São Paulo, o Flamengo terminou pela segunda vez consecutiva com o 2º lugar.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1958
Fernando, Joubert, Milton Copolillo, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Joel, Henrique Frade, Dida e Zagallo
Téc: Fleitas Solich

Para o Campeonato Carioca de 58 o Flamengo perdeu seus dois pontas. Na reta final do primeiro semestre, pouco antes da realização da Copa do Mundo de 1958, na qual o Brasil se sagraria pela primeira vez campeão na Suécia, o ponta-esquerda Zagallo trocou o Flamengo pelo Botafogo ao receber uma oferta financeiramente mais vantajosa. Embalado pelo bom desempenho do time rubro-negra no Rio-São Paulo, na linha de frente do time, só Henrique não foi disputar ao Mundial com a Seleção Brasileira, foram convocados: Joel, Moacir, Dida e Zagallo (este último àquela altura já como jogador alvi-negro). E logo depois da Copa, outro selecionado canarinho deixaria de usar vermelho e preto, tendo o ponta-direita Joel sido vendido para o Valencia, da Espanha. Fiel à sua política, o clube não foi atrás de contratar reposições, apostando em Luís Carlos e Babá, dois nomes revelados na base do clube, para repor estas saídas.

Antes do Carioca, porém, o time partiu para uma excursão pela Europa, tendo realizado 12 jogos em sete países diferentes: Espanha, Inglaterra, Hungria, França, Portugal, Grécia e Turquia. Teve um bom desempenho, com 7 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, com maior destaque para as goleadas por 6 x 1 sobre o Nantes, por 3 x 0 sobre o Sporting, em Lisboa, e por 6 x 2 sobre o Besiktas. Estava pronto para fazer uma boa campanha no Estadual.

A reta final para definir o Campeão Carioca de 58 foi ainda mais emocionante do que já havia sido a de 1957. O Flamengo fez uma campanha exatamente igual nos dois turnos: 7 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. No 1º turno, empatou com Botafogo e Vasco, e perdeu para América e Bangu. No 2º turno, empatou com Bangu e Bonsucesso, e perdeu para Fluminense e Botafogo. Uma curiosidade deste time está no fato de que dos 66 gols que marcou durante a campanha, 65 se concentraram em 6 jogadores, todos da linha de frente: o meia Moacir, o ponta de lança Dida, os pontas Luís Carlos, Joel e Babá, e o centroavante Henrique. O artilheiro rubro-negro foi Dida, com 18 gols, seguido por Moacir, Henrique e Babá, os três com 11. Para fechar, os dois pontas-direitas, Luís Carlos com 8, e Joel, que deixou o time no decorrer da campanha rumo à Espanha, com 6.

O Vasco vinha liderando o campeonato depois do Flamengo ter perdido para Fluminense e Botafogo na 5ª e na 6ª rodada do returno, mas na 10ª e penúltima rodada o Vasco perdeu por 2 x 0 para o Botafogo, permitindo a aproximação de rubro-negros e alvi-negros. O Flamengo poderia ter se aproveitado ainda mais, não houvesse empatado com o Bonsucesso na 9ª rodada, o qual lhe custou o título carioca, sem a necessidade de realização do SuperCampeonato. Na 11ª e última rodada, Flamengo e Vasco se enfrentavam no Maracanã. Com um simples empate, o título seria cruzmaltino. O Flamengo venceu por 3 x 1 e empatou em pontos com os vascaínos. Como o Botafogo fez seu papel na rodada e goleou ao São Cristóvão por 4 x 1, deu-se o tríplice empate em 32 pontos, cada um com 14 vitórias, 4 empates e 4 derrotas. No saldo de gols, o Flamengo tinha +38, o Botafogo +30 e o Vasco +23, mas o regulamento não previa critérios de desempate.

Foi disputado então um Triangular Final (SuperCampeonato), o qual também terminou com os três empatados com 1 vitória cada um, desta vez o Vasco com saldo de gols +1, o Botafogo com saldo zero e o Flamengo com saldo -1. Na última rodada, Flamengo e Botafogo se enfrentaram no Maracanã, e como aconteceu na última rodada do returno contra o Vasco, bastava um empate para o título ficar com o adversário. E novamente o Flamengo venceu, voltando a provocar um tríplice empate. Como não havia critérios de desempate, disputou-se um Novo Triangular Final (SuperSuperCampeonato). O Vasco venceu ao Botafogo, que por sua vez empatou contra o Flamengo. No último jogo, já não era mais possível um tríplice empate. Flamengo e Vasco decidiram o título no Maracanã, quem vencesse era campeão, e o empate representava o título cruzmaltino. O Maracanã recebeu 131 mil pessoas, que foram ver a decisão do título. Deu empate (1 x 1) e o Vasco terminou como o campeão.

Era a terceira competição consecutiva na qual o Flamengo chegava muito perto do título, mas não conseguia ser o campeão. Assim ocorreu no Campeonato Carioca de 1957, no Torneio Rio-São Paulo de 1958 e no Campeonato Carioca de 1958. Ainda assim, a fé no trabalho do treinador paraguaio, "O Bruxo" Manuel Fleitas Solich, seguia inabalável.

Flamengo no Carioca de 1958
Fernando, Joubert, Pavão (Milton Copolillo), Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Luís Carlos, Henrique Frade, Dida e Babá
Téc: Fleitas Solich
Banco: Garcia, Tomires e Joel

Com dois SuperCampeonatos de desempate para definir o Campeão Carioca de 58, a decisão entrou por janeiro de 59, embolando o calendário rubro-negro, que teve que atrasar sua estreia no torneio amistoso que fora convidado para disputar em Lima, no Peru, reunindo alguns dos mais tradicionais clubes de futebol da América do Sul. O torneio foi chamado de "Gran Serie Suramericana Inter Clubs de 1959", ou "Hexagonal de Lima", como ficou sendo chamado no Brasil, tendo 15 partidas jogadas entre 14 de janeiro e 6 de fevereiro.

Além do Flamengo, o torneio reunia a Peñarol - campeão uruguaio de 58, que seria bi em 59 e faturaria a primeira Libertadores da América em 1960, que tinha entre seus principais nomes a Tito Gonçalves, Luis Cubilla e Juan Eduardo Hohberg - e a River Plate, tri-campeão argentino em 1955-56-57, que havia sido 5º lugar no campeonato de 58, em cujo time brilhavam Norberto Menéndez e Ángel Labruna. Para completar, o chileno Colo-Colo, vice-campeão chileno de 58, com Enrique Hormazábal como seu principal jogador, e os dois clubes mais populares do Peru, o Universitario e o Alianza Lima, respectivamente 4º e 7º no Campeonato Peruano de 58.

O time do Flamengo chegou ao Peru cansado. Quando chegou, já tinham sido disputados 5 jogos: o Universitario tinha 4 pontos (2 vitórias), o River Plate tinha 3, o Colo-Colo 2, o Alianza 1 e o Peñarol zero. Na estreia rubro-negra, vitória uruguaia por 2 a 0. Na sequência, o Peñarol voltou a vencer, desta vez aos chilenos, chegando a 4 pontos. O Flamengo bateu a Universitario e Colo-Colo, e também foi a 4. O Alianza ganhou o clássico peruano, o River venceu aos chilenos, e o Peñarol empatou com o Alianza. Faltavam três jogos. River Plate e Peñarol tinham 5 pontos e só mais um jogo a fazer. Universitario e Alianza tinham 4 e também só mais um jogo. O Flamengo, com 4, ainda jogaria duas vezes. E o Colo-Colo, com 2 pontos, já estava fora. O Flamengo goleou ao River Plate por 4 a 1 e saltou a 6 pontos. Na última rodada, o Peñarol se vencesse ao Universitario saltaria a 7 pontos. Porém, empatou por 2 x 2 e ficou com os mesmos 6 que o Flamengo já tinha. No último jogo, bastava o empate ao Flamengo diante do Alianza para ele ser campeão. Estádio lotado e o clube mais popular do Peru chegou a 2 a 0 ainda no 1° tempo, e antes dos 10 minutos do 2° tempo fez 3 a 0. O título parecia distante... mas em apenas seis minutos, um milagre aconteceu: Manoelzinho - um garoto mineiro de 18 anos, que havia chegado à base rubro-negro um pouco mais de um ano antes - marcou três gols seguidos, deixando o placar em 3 x 3. Na reta final, Henrique marcou o quarto, o da virada: 4 a 3! Mengão campeão!

Volta olímpica do Flamengo no Peru

Flamengo no Hexagonal de Lima de 1959
Fernando, Joubert, Pavão, Jadir e Jordan; Milton Copolillo e Moacir; Luís Carlos (Manoelzinho), Henrique Frade, Dida e Babá.
Téc: Fleitas Solich

No começo de 1959, o elenco rubro-negra voltaria a perder alguns jogadores, ainda que nenhum deles do time titular. O goleiro paraguaio Garcia enfim decidiu pela aposentadoria. Para repor sua saída, a diretoria contratou dois goleiros: o jovem terceiro goleiro do Vasco, Mauro, e o jovem Ari Carlos, levado a testes no clube oriundo do futebol paulista, onde atuava pelo Radium. Ambos aportavam na Gávea para fazer sombra ao então titular Fernando, que fora contratado anos antes ao Bangu. A defesa teve a baixa também do lateral Tomires, que foi para o Sport Recife; para a posição já havia Bolero, que subira da base rubro-negra. A defesa foi reforçada ainda pela contratação de Navarro, zagueiro do Madureira. Na frente, saiu Duca, que foi para o Zaragoza, da Espanha. A aposta rubro-negra mais uma vez recaía sobre mais uma geração que emergia da base mostrando qualidade, da qual faziam parte o zagueiro Vanderlei, o volante Carlinhos, o meia Gérson e o ponta-esquerda Germano.

O time rubro-negro começou o Rio-São Paulo de 59 embalado, obtendo 4 vitórias nas cinco primeiras rodadas, com direito a goleadas por 7 x 2 sobre o América, e por 5 x 1 sobre o Corinthians dentro do Pacaembu, na capital paulista. A única derrota até então foi na 2ª rodada para o Santos, de Pelé (perdeu por 3 x 2 no Pacaembu). O Flamengo estava fortíssimo na briga pelo título. Afastou-se da ponta na 6ª e na 7ª rodada em duas partidas no Maracanã, nas quais empatou sem gols no clássico com o Vasco, e perdeu para o Palmeiras (1 x 2). Nas duas últimas rodadas, venceu ao Botafogo e perdeu para o São Paulo, terminando em 3º lugar.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1959
Fernando, Joubert, Milton Copolillo, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Luís Carlos (Roberto), Henrique Frade, Dida e Babá
Téc: Fleitas Solich

Antes do início do Carioca de 59, o elenco perdeu mais um remanescente do elenco do Segundo Tri: o zagueiro Pavão, que já não vinha figurando entre os titulares rubro-negros, foi contratado para dar experiência ao jovem time do Santos, dos garotos Pelé, Coutinho e Pepe.

A grande perda, no entanto, foi a saída de seu treinador: Fleitas Solich foi contratado pelo Real Madrid, da Espanha, que então era o tetra-campeão europeu, para substituir ao argentino Luís Carniglia. Ele assumiu o comando merengue para a temporada 1959/60 do Campeonato Espanhol, e ficou 33 partidas no comando do time - 23 vitórias, 4 empates e 6 derrotas - perdendo o título espanhol para o Barcelona na última rodada, e pelo saldo de gols, já que os dois clubes terminaram igualados com 46 pontos. Entre seus comandados, o time contava com o goleiro argentino Rogelio Domínguez (que posteriormente viria a ser jogador do Flamengo), o zagueiro uruguaio Santamaría, o meia brasileiro Didi, e uma linha de frente com o argentino Alfredo Di Stéfano, o húngaro Ferenc Puskas (artilheiro do campeonato) e o ídolo espanhol Gento na ponta-esquerda. Um timaço que havia conquistado as quatro primeiras edições da Copa dos Campeões da UEFA (1955/56, 1956/57, 1957/58 e 1958/59). Na temporada 1959/60, Solich classificou o time para a semi-final, mas foi demitido após a perda do título espanhol para o Barça, sendo substituído por Miguel Muñoz, que comandou o time que superou ao Barcelona na semi-final e venceu ao Eintracht Frankfurt, da Alemanha, por 7 x 3 na final, sagrando-se penta-campeão europeu.

Desde o Segundo Tri, o time rubro-negro havia perdido sequencialmente diversos jogadores importantes, indo sempre buscar reposição na base, sem grandes contratações, e assim se manteve na ponta, disputando os títulos. Podia-se ver a mão de qualidade de trabalho do treinador paraguaio, pois após sua saída, o desempenho da equipe desmoronou. Fiel à sua política, o Flamengo foi buscar a substituição a Solich dentro da própria Gávea, com o técnico passando a ser o auxiliar Jayme de Almeida, ex-lateral-esquerdo rubro-negro.

Jadir, Carlinhos e Jordan

A atuação no Carioca de 59 foi muito ruim, com o time terminando o campeonato na 6ª colocação. Já começou mal, não vencendo nas três primeiras rodadas, empatando com Vasco e Olaria, e perdendo para o Bangu. No restante do turno, ainda empatou com o Fluminense, e perdeu para América e Botafogo. No 2º turno, empatou com América, Bangu e Vasco, e perdeu para Madureira e Fluminense. Após esta última derrota, a direção decidiu trocar o treinador, substituindo Jayme pelo paraguaio Modesto Bria, que também havia sido auxiliar de Solich, ele esteve a frente do time nas quatro últimas rodadas. O time rubro-negro teve apenas um momento de brilhantismo naquele torneio, ainda com Jayme como técnico, quando goleou ao Botafogo por 6 x 2 pela terceira rodada do returno.

Flamengo no Carioca de 1959
Mauro, Joubert (Bolero), Milton Copolillo (Santana), Jadir e Jordan; Carlinhos e Moacir; Luís Carlos, Henrique Frade, Dida e Babá
Téc: Jayme de Almeida, depois Modesto Bria
Banco: Fernando, Dequinha, Adalberto, Manoelzinho e Humberto

O ano de 1960 marcou a ascensão definitiva ao time titular de dois jogadores que recém haviam subido da base rubro-negra, o volante Carlinhos e o ponta de lança Gérson, o "Canhota de Ouro", que viria a ser Campeão Mundial com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México. Mantinha-se um time que mesclava a experiência de alguns veteranos à disposição de alguns jovens talentos.

A campanha no Rio-São Paulo de 60 resultou num modesto 5º lugar entre os 10 participantes. O time começou mal, perdendo para a Portuguesa de Desportos no Maracanã. Recuperou-se vencendo ao Corinthians, mas depois perdeu para o Palmeiras. Ganhou do Botafogo, mas logo tomou uma goleada acachapante de 5 a 1 do América. Fora da briga pelo título, subiu um pouco na tabela ao vencer na sequência a Santos, Fluminense e Vasco. Na última rodada, empatou com o São Paulo no Pacaembu.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1960
Mauro, Bolero, Navarro, Jadir e Jordan; Carlinhos e Moacir; Roberto (Luís Carlos), Henrique Frade, Gérson e Babá
Téc: Modesto Bria

No fim do primeiro semestre, o Flamengo viajou para uma excursão de dois meses em solo europeu, cujo primeiro jogo foi em 20 de abril e o último em 20 de junho. O time teve um desempenho muito ruim nesta viajem, tendo feito 14 jogos e só vencido 5, com 3 empates e 6 derrotas, algumas delas sendo as mais vexatórias da história rubro-negra, como as goleadas sofridas por 6 x 0 para a Seleção da Bulgária, e por inacreditáveis 9 x 2 para o modesto Motherwell, da Escócia (com seis gols marcados pelo centroavante escocês Ian Saint John). Na sua passagem pela Alemanha, obteve também um esdrúxulo empate por 5 x 5 frente ao Alemania Aachen. A viagem acabou marcando a despedida de Bria como técnico do time.

A grande novidade para o Carioca de 60 era a volta de Manuel Fleitas Solich ao comando técnico da equipe, após uma temporada no Real Madrid. No elenco, saíram o jovem zagueiro Décio Crespo, contratado pelo River Plate, da Argentina, e o veterano volante Dequinha, que foi jogar no emergente Campo Grande, que chegava ao cenário carioca. Ambos, no entanto, não vinham sendo titulares do time. Desta vez o clube entendeu que deveria ir buscar a um reforço, e recorreu a um velho costume, voltando-se para o mercado sul-americano. Contratou ao zagueiro Carlos Monin, titular da Seleção do Paraguai, adquirido junto ao Cerro Porteño.

A defesa de 1960, da esquerda para a direita: de pé, Joubert,
o goleiro Ari e o paraguaio Monin, e agachados, Jadir, Carlinhos e Jordan

No Carioca de 60, o time teve tropeços logo nas primeiras rodadas, empatando com o Botafogo e o Madureira. Ainda viria a empatar com Fluminense e Bonsucesso, e sofreria duas derrotas, ambas por 1 a 0, primeiro para o Vasco e depois para o América. Terminaria o turno, portanto, sem ter vencido nenhum clássico. No 2º turno, sofreu uma goleada de 4 x 1 para o Botafogo, empatou com o América, venceu o Fla-Flu, mas depois voltou a perder por 1 x 0 para o Vasco. Longe da briga pelo título, na última rodada ainda seria derrotado pela Portuguesa, da Ilha do Governador. O Flamengo terminou o campeonato apenas em 4º lugar, tendo o campeão sido o América, que não conquistava um título desde os Anos 1930.

Flamengo no Carioca de 1960
Ari, Joubert (Bolero), Monin, Jadir e Jordan; Carlinhos e Moacir; Luís Carlos, Henrique Frade, Gérson (Dida) e Germano
Téc: Fleitas Solich
Banco: Mauro, Othon e Babá

Gérson e Germano

Para 1961, o elenco mudou muito pouco, tendo saído apenas o zagueiro Navarro, que foi para o Olaria. Entretanto, depois de um semestre sem bons resultados, desde sua volta do Real Madrid, o técnico Fleitas Solich outra vez provou sua qualidade como treinador, fazendo um primeiro semestre de 1961 repleto de conquistas.

O primeiro feito marcante se deu com o título do Octogonal Sul-Americano de Verão em janeiro. O torneio reuniu 8 tradicionais clubes das quatro maiores cidades da América do Sul - Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Montevidéu - num modelo de disputa igual ao original do Torneio Rio-São Paulo: pontos corridos em turno único. Além do Flamengo, o torneio reuniu ao Vasco (5º lugar no Carioca de 60), Corinthians e São Paulo (3º e 8º lugares, respectivamente, no Paulista de 60), River Plate e Boca Juniors (3º e 5º lugares, respectivamente, no Campeonato Argentino de 60), e Cerro e Nacional (2º e 3º lugares, respectivamente, no Campeonato Uruguaio de 60). Os critérios para participar foram, portanto, associados à popularidade e não ao desempenho técnico. Faltou, porém, a participação do Peñarol, campeão uruguaio e da 1ª edição da Taça Libertadores da América em 1960. Ainda assim, era um torneio com um nível de dificuldade muito alto.

Na estreia, o time rubro-negro foi à capital paulista e venceu ao Corinthians por 2 x 1 no Pacaembu. Na sequência, venceu ao São Paulo por 3 x 2 no Maracanã. Após as duas rodadas, só o Flamengo, na liderança, tinha duas vitórias; os dois argentinos vinham em sua cola, um ponto atrás. Na terceira rodada, derrota rubro-negra por 1 x 0 para o Vasco (terceira derrota seguida para o rival por este placar, repetindo os resultados de ida e volta no Carioca do ano anterior). River e Boca empataram, e o Corinthians venceu a segunda seguida, logo a liderança estava dividida entre os quatro, com 4 pontos cada um. Logo atrás, Vasco e Cerro vinham com 3 pontos. São Paulo e Nacional estavam fora da briga.

Nas quatro rodadas finais, o Flamengo só jogava no exterior, viajando primeiro a Buenos Aires e depois a Montevidéu. Pela quarta rodada, no duelo de líderes, o Flamengo conseguiu uma vitória maiúscula sobre o River Plate em pleno Estádio Monumental de Núñez: 1 x 0, gol de Henrique Frade aos 23 minutos do 1º tempo. Em La Bombonera, o Boca fez 2 a 0 no Vasco. E o Cerro venceu ao Corinthians. Assim, Flamengo e Boca Juniors dividiam a liderança com 6 pontos, seguidos pelo Cerro, com 5. O time rubro-negro tinha então mais um jogo decisivo pela frente, mais um duelo de líderes, desta vez diante dos xeneizes em La Bombonera. O Flamengo foi goleado por 4 x 0... ainda viu que o Cerro batera ao São Paulo, logo caíra para a 3ª posição, dois pontos atrás do líder, e um atrás do vice-líder, e faltando apenas duas rodadas.

Pela 6ª rodada, o líder tropeçou, perdendo por 4 x 3 para o Corinthians em La Bombonera. O Cerro, do Uruguai, venceu ao Vasco, e assumiu a liderança. O Flamengo foi ao Estádio Centenário enfrentar ao Nacional de Montevidéu, vencendo por 1 x 0, gol do ponta-esquerda Babá aos 22 minutos do 2º tempo. Na última rodada, o confronto rubro-negro era justamente contra o líder, no Estádio Centenário. Ao Flamengo não bastava vencer, tinha que torcer também para o Boca perder ponto para o São Paulo em La Bombonera.

No dia 24 de janeiro de 1961, o tricolor paulista atropelou aos xeneizes dentro da casa do rival, goleando por 5 x 1. Cabia então ao Flamengo vencer ao líder Cerro. O time rubro-negro entrou em campo impondo uma forte pressão ofensiva, e logo com dois minutos de jogo Gérson, que vinha se consolidando muito rapidamente como o grande craque do time, cobrou falta com perfeição e marcou o primeiro gol rubro-negro. Daí em diante, foi o típico de um duelo contra um uruguaio: muita pressão, dentro e fora de campo, torcida local inflamada por 43 mil torcedores presentes, e o time brasileiro tendo que suportar. Aos 40 minutos, num contra-ataque, Babá marcou, mas o árbitro invalidou. O jogo se arrastava truncado, até que aos 44 minutos do 2º tempo, Gérson, novamente, sacramentou a vitória, concluindo um veloz contra-ataque rubro-negro. Depois disso, o jogo ficou paralisado por cinco minutos por uma chuva de garrafas atiradas ao campo pela torcida uruguaia em momento de fúria. Reiniciado o jogo, consumado o 2 a 0, e Mengão campeão! Mesmo placar e mesmo estádio de onde 20 anos depois o Flamengo se consagraria campeão da Libertadores da América.

Flamengo no Sul-Americano de 1961
Ari, Bolero, Joubert, Nelinho e Jordan; Carlinhos e Moacir; Othon, Henrique Frade, Gérson e Babá
Téc: Fleitas Solich
Banco: Fernando, Monin, Jadir, Luís Carlos e Dida

O time perdeu ao zagueiro paraguaio Carlos Monin, que decidiu voltar ao Cerro Porteño. Para o outro extremo do campo, voltou ao Flamengo o veterano ponta-direita Joel, após uma passagem de um ano e meio pelo futebol espanhol com a camisa do Valencia. Com a auto-estima revigorada após a conquista do Octogonal de Verão, o Flamengo entrou motivado para a disputa do Torneio Rio-São Paulo de 1961, do qual também se consagraria campeão!

A fórmula de disputa do torneio naquele ano mudou em relação aos anos anteriores: haveria uma Primeira Fase com os times divididos em dois grupos, um só de cariocas e outro só de paulistas, mas com todos os dez clubes se enfrentando em turno único, como nos anos anteriores; os três primeiros colocados de cada grupo avançariam para fazer um Hexagonal Final para definir o campeão.

Repetindo o início do Octogonal Sul-Americano, o time rubro-negra venceu nas duas primeiras rodadas, desta vez, porém, jogando duas vezes no Pacaembu, onde superou a São Paulo e Palmeiras. Animada, a torcida colocou 90 mil pessoas no Maracanã, num sábado a noite, para ver o duelo contra o Santos, de Pelé. Multidão que ao final do jogo aplaudiu de pé o que viu em campo, apesar do resultado colossalmente adverso. A histórica linha ofensiva com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe atropelou o time rubro-negro. O ponta de lança Pelé marcou três, o ponta-esquerda Pepe fez dois, e o centroavante Coutinho e o ponta-direita Dorval completaram a goleada santista por 7 a 1.

O time parece que sentiu o impacto, pois nas duas rodadas seguintes perdeu para Fluminense e Botafogo. Recuperou-se com uma sequência de vitórias sobre Portuguesa de Desportos, América e Vasco, que o recolocou no caminho para a classificação à Fase Final. Mesmo perdendo para o Corinthians na última rodada, no Pacaembu, avançou. Quem mais pontuou na Primeira Fase e teria sido o campeão na fórmula de disputa que prevaleceu até o ao anterior foi o Santos (15 pontos). O Flamengo ficou em 3º no seu grupo, atrás de Botafogo e Vasco, e fez tão só a 6ª melhor campanha da Primeira Fase, a pior entre os que se classificaram ao Hexagonal Final.


Na fase final, os clubes tinham apenas que enfrentar aos adversários classificados que eram do outro estado, assim cada um só faria três jogos, todos recomeçando a pontuação do zero. O Flamengo venceu a seus três jogos, batendo ao Palmeiras por 3 x 1 no Maracanã, e goleando ao Santos por 5 a 1 no Pacaembu, numa noite espetacular da dupla Gérson e Dida, tendo o primeiro marcado três gols e o segundo dois - Coutinho descontou nos minutos finais - tendo o time sabido aproveitar o desfalque do principal jogador rival, já que Pelé não esteve em campo pelo alvi-negro praiano naquele dia.

Na última rodada, a disputa do título estava entre Flamengo e Vasco, com quatro pontos cada um, e Botafogo, que tinha três. Nenhum dos paulistas tinha mais chance de título. Vasco e Botafogo iam a São Paulo, enfrentar respectivamente a Palmeiras e Santos, e o Flamengo recebia ao Corinthians no Maracanã. Apesar de valer o título, o Maracanã recebeu apenas 40 mil pagantes, um público baixo para os padrões da época. Era uma prova de que o torcedor dava muito mais valor ao Campeonato Carioca e aos clássicos estaduais.

Enquanto o Palmeiras vencia ao Vasco por 1 a 0 no Pacaembu, o time rubro-negro sacramentou o título no início do 2º tempo, com gols de Joel aos 7 minutos e de Dida aos 21, consolidando o 2 a 0 que lhe deu o título. Dentre os 10 participantes da competição inter-estadual, somente Flamengo, Botafogo, São Paulo e América não haviam conquistado o título até então (e os dois últimos desta lista jamais vieram a fazê-lo). O rubro-negro se igualava a Palmeiras (1951), Vasco (1958) e Santos (1959), todos com um título RJ-SP cada um até aquele momento.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1961
Ari, Bolero, Joubert, Jadir e Jordan; Carlinhos e Gérson; Joel, Henrique Frade, Dida e Germano
Téc: Fleitas Solich
Banco: Fernando, Nelinho, Norival, Luís Carlos e Babá

Com uma linha média sólida formada por Carlinhos, Gérson e Dida, quem perdeu espaço no time foi Moacir. O jogador se aproveitou então do renome por ter feito parte da Seleção Brasileira Campeã da Copa do Mundo de 1958 e aceitou proposta do River Plate, transferindo-se para jogar na Argentina.

O Flamengo também acertou o empréstimo de três jovens talentos emergidos da base para o Corinthians. O mais experiente dos três era Manoelzinho, que ao fim desta passagem foi o único a ter sido comprado pelo Corinthians, vindo a se tornar um dos maiores artilheiros da história do clube paulista. Pelo Flamengo havia atuado relativamente pouco, tendo tido como seu único momento de brilho o jogo dos três gols relâmpagos na histórica virada sobre o Alianza Lima que deu ao Flamengo o título do Hexagonal de Peru em 1959. Outro a ser emprestado foi o ponta-direita Espanhol, que no profissional rubro-negro havia feito apenas dois jogos até então, na campanha do Rio-São Paulo daquele mesmo ano de 61. O ponta nasceu em Pontevedra, na região da Galícia, na Espanha, e imigrou com os pais para o Rio de Janeiro em 1954, quando tinha ainda 13 anos. Foi formado nas divisões de base da Gávea, e após o período de empréstimo ao Corinthians, voltou e se firmou titular do time rubro-negro entre 1962 e 1964, tornando-se um dos principais nomes da equipe. Com o sucesso, José Ufarte - seu nome de nascimento, e como ficou conhecido no futebol espanhol - foi contratado pelo Atlético de Madrid, onde tornou-se ídolo, defendendo as cores do clube de 1964 a 1974. Atuou também pela Seleção da Espanha, tendo marcado o gol na vitória sobre a Irlanda em 1965 pelas Eliminatórias, o qual classificou sua seleção para o Mundial de 66. Durante a Copa do Mundo, entrou em campo uma vez, na derrota perante a Argentina. O terceiro garoto emprestado ao Corinthians foi Élson Beirute, garoto que chegara à Gávea em 58 e no ano seguinte conquistou a Medalha de Prata nos Jogos Pan-Americanos de Chicago com a Seleção Brasileira Sub-20. Tinha entrado em campo apenas quatro vezes com a camisa rubro-negra quando foi mandado para o Parque São Jorge, onde foi titular, mas devolvido ao Flamengo após o fim do empréstimo. Pouco tendo atuado em vermelho e preto, Beirute só viria a encontrar sucesso no futebol com a camisa do Colo-Colo, no Chile, onde foi atuar a partir de 1965, tornando-se ídolo no clube.

Gérson, Henrique e Dida (de pé), Joel e Babá (agachados)

O Flamengo mantinha-se sólido com a política incentivada por Fleitas Solich de apostar em garotos emergidos da base, assim, seguiu sem se reforçar. Começou o Carioca de 61 muito bem, vencendo nas quatro primeiras rodadas. Logo na estreia, bateu ao Vasco por 1 a 0, com gol de Henrique, num Maracanã com mais de 82 mil presentes. A boa campanha foi interrompida, porém, com um tropeço na 5ª rodada do 1º turno, numa derrota por 3 x 2 para o Olaria num Maracanã que recebia 16 mil torcedores. Dali em diante a campanha até o fim do turno foi bastante instável, com derrotas para Fluminense (diante de 84 mil pagantes) e São Cristóvão, e empates com Botafogo e América. Porém, a fórmula do Campeonato Carioca havia mudado, e naquele ano o 1º Turno servia apenas para definir os 8 classificados que jogariam em ida (2º Turno) e volta (3º Turno) em pontos corridos para definir o campeão.

Apesar da campanha instável, o Flamengo terminou o turno em 2º lugar, empatado com o Vasco, e quatro pontos atrás do Botafogo. Mas tudo voltava a se zerar e o que valeria o título era a disputa a partir dali. Mas a instabilidade do time rubro-negro se mantinha presente no 2º turno: goleou ao Olaria por 5 x 1, mas foi goleado pelo América por 4 x 0, perdeu ainda para o Bangu, e empatou com São Cristóvão e Botafogo, que se distanciava na ponta. No 3º turno, três vitórias seguidas nas primeiras rodadas, incluindo uma vitória por goleada de 4 x 1 no Fla-Flu. Não bastou, o Botafogo conquistou o título com três rodadas de antecedência, mesmo tendo nesta rodada sofrido sua única derrota em toda a competição, para o América, a qual lhe impediu de ser campeão invicto. Na última rodada, já campeão, o Botafogo venceu ao Flamengo por 3 x 0, e mesmo com a derrota, o rubro-negro acabou vice-campeão, terminando com uma grande distância de pontos para o rival alvi-negro.

Flamengo no Carioca de 1961
Ari, Bolero, Joubert (Ouraci), Jadir e Jordan; Carlinhos e Gérson; Joel, Henrique Frade, Dida e Babá
Téc: Fleitas Solich
Banco: Fernando, Marinho, Vanderlei, Othon e Luís Carlos

O Corinthians, que vivia uma fase muito negativa no futebol paulista, voltou a se voltar para o Flamengo na sua luta por se reerguer, e desta vez foi mais agressivo, levando ao técnico Manuel Fleitas Solich com uma agressiva proposta financeira.

O histórico de técnicos a frente do Flamengo até aquele momento da história é bem fácil de ser resumido: a função amadureceu com o advento do profissionalismo no futebol e de 1934 a 1946 foi ocupada por Flávio Costa (com um intervalo de um ano, entre 1937 e 1938, quando ele foi substituído pelo húngaro Dori Kurschner), depois de sua saída, o clube viveu quatro anos confusos entre 1947 e 1950, com trocas constantes de treinador, até que Flávio Costa retornou para ordenar a bagunça em 1951 e 1952. Quando ele saiu de novo, a função de técnico do time foi de 1953 a 1961 do paraguaio Fleitas Solich (com um intervalo de um ano, quando ele foi treinar ao Real Madrid). Com a saída do "Bruxo", a direção recorreu a seu passado, indo buscar novamente, para substituí-lo, ao veterano Flávio Costa, que depois de ter saído do Flamengo, ficou no Vasco até 1956, treinou ao Porto, de Portugal, na temporada 1956/57, e depois passou por Portuguesa de Desportos e Colo-Colo, do Chile. Estava no São Paulo quando foi recontratado e voltou à Gávea para substituir a Solich.

O novo técnico decidiu mexer no elenco. Saíram os atacantes Luís Carlos, para o Atlético Mineiro, e o jovem Airton Beleza, emprestado ao Botafogo para ganhar experiência. Foram contratados o zagueiro Luís Carlos Freitas, do Farroupilha, do Rio Grande do Sul, o meia Nelsinho Rosa, do Madureira, e o ponta-esquerda Armando Miranda, do Corinthians. Também voltou ao clube o zagueiro Décio Crespo, após passagem pelo River Plate.

O Flamengo terminou a 1º Fase do Rio-São Paulo de 62 invicto. A fórmula de disputa mais uma vez havia sido modificada. Na 1ª Fase eram dois grupos, um só de cariocas e outro só de paulistas, e os dois primeiros colocados de cada grupo avançavam a um Quadrangular Final que definiria o campeão. Nos quatro jogos da fase inicial, vitórias sobre Fluminense e Botafogo, e empates com América e Vasco, e a classificação para a fase final. Na hora de decidir o título, porém, o time falhou. Já iniciou mal, com uma derrota por 3 a 0 para o Palmeiras no Pacaembu. Depois perdeu para o Botafogo e empatou com o São Paulo, terminando em 4º lugar.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1962
Fernando (Ari), Bolero, Vanderlei, Jadir e Jordan; Carlinhos e Nelsinho (Adílson); Joel, Henrique Frade, Dida e Germano
Téc: Flávio Costa

Após o Rio-São Paulo, o clube fez mais uma excursão pela Europa para sua mais longa turnê até então: foram 18 jogos ao longo de três meses, permanecendo em abril, maio e junho inteiros no Velho Continente. Passou por 7 países - Itália, Espanha, União Soviética, Tchecoslováquia, Suécia, Finlândia e Noruega - e teve 9 vitórias e 9 derrotas, não empatando nenhuma vez. O tour começou de forma luxuosa, mostrando o prestígio que o Flamengo já tinha conquistado na Europa. Na primeira partida o rubro-negro teve a honra de ser convidado para a disputa de um amistoso no Estádio Olímpico de Roma contra a Seleção da Itália, uma das mais tradicionais camisas do futebol mundial de todos os tempos (o jogo terminou com a vitória da Azurra, de virada, por 3 x 1). Até então, só três clubes de futebol estrangeiros haviam enfrentado a Seleção Italiana na história, e três ingleses: o English Wanderers em 1912, o Reading em 1913, e o Burnley em 1922. No giro pela Europa naquele ano, o Flamengo ainda enfrentaria mais duas Seleções Nacionais, pois jogaria contra a Tchecoslováquia e a Noruega. A viajem teve bons momentos, como na vitória por 2 x 0 sobre o Barcelona (dois gols de Dida), e atuações péssimas, como quando foi goleado por 5 x 1 pelo Athletic Bilbao.

O elenco voltou a sofrer perdas importantes antes do Carioca de 62: o goleiro Ari foi contratado pelo América, e o ponta-esquerda Germano aceitou proposta do Milan, indo atuar na Itália. Quem também saiu foi o veterano zagueiro Jadir que, contratado pelo Cruzeiro, rumou para Belo Horizonte. Não houve contratações, apenas o retorno de jogadores que estavam emprestados: Espanhol e Beirute ao Corinthians, e Alfredinho ao Bahia.

O time começou o Estadual muito bem, vencendo os oito primeiros jogos, com goleadas de 7 x 0 no Canto do Rio, de 5 x 2 no América, de 4 x 1 no Bonsucesso e de 4 x 0 na Portuguesa, e venceu o Fla-Flu na 5ª rodada diante de 114 mil torcedores no Maracanã. O time estava encaixado, com Luís Carlos Freitas e Vanderlei sólidos na zaga, Carlinhos e Gérson dominando as ações de meio-campo, e Joel, Henrique e Dida bastante eficientes ofensivamente. A insegurança estava na ponta-esquerda, onde Jair Bala, Alfredinho e Miranda se revezavam, mas deixavam um pouco a desejar. Flávio Costa tinha dificuldade para encontrar um substituto para repor a saída de Germano. Na 9ª rodada, o primeiro tropeço, com um empate diante do Olaria no Maracanã. Na rodada seguinte, uma derrota para o Bangu. O time recuperou a confiança ao bater o Vasco, mas na última rodada não pôde diante do Botafogo, caindo por 3 x 1.

No returno, quem assumiu a titularidade na ponta-esquerda foi o jovem Espanhol, que era ponta-direita de origem, mas acabou improvisado do lado esquerdo já que as outras opções não estavam agradando a Flávio Costa. O time voltou a se encaixar e assumiu a ponta ao só deixar de vencer um jogo nas dez primeiras rodadas, tendo perdido para o América. Faltando duas rodadas para o fim do campeonato, o Flamengo era o líder com 37 pontos, seguido por Botafogo com 35, Fluminense com 34 e Vasco com 33. Na penúltima rodada, Botafogo vs Fluminense, Flamengo vs Vasco eram os confrontos no Maracanã. No sábado, os alvi-negros venceram aos tricolores, saltando aos mesmos 37 pontos do Flamengo. No domingo, Lorico colocou os cruzmaltinos a frente já aos 28 minutos do 2º tempo. Quando tudo parecia perdido, o craque do time, Gérson, empatou aos 40 minutos.   

A última rodada restringia o título aos dois clubes que se enfrentavam no Maracanã, que recebeu 159 mil torcedores. O time rubro-negro tinha pela frente ao Botafogo e sua poderosa linha de frente formada por Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, e tinha como técnico ao ex-lateral-direito do Flamengo, e também do Botafogo, Marinho Rodrigues. O rubro-negro estaria desfalcado do ponta-direita Joel, e para substituí-lo, Flávio Costa mexeu na estrutura do time, fazendo uma mudança que teria graves consequências não só naquele dia, como após o campeonato: Espanhol foi deslocado para sua posição original, na ponta-direita, na posição de Joel, e para fazer a função de atuar no lado de campo, onde jogava o principal jogador alvi-negro, Garrincha, o técnico decidiu improvisar o cérebro do time, o meia Gérson, ficando sua posição no meio de campo ocupada por Nelsinho, reserva imediato do "Canhota". Mais do que colocar Gérson na ponta-esquerda, Flávio Costa decidiu que ele deveria marcar Garrincha, para manifesto desagrado do jogador. Os dois - Gérson e Flávio Costa - se desentenderam gravemente em função desta decisão, e o meia, apesar de ser o melhor jogador do time, acabou relegado pelo treinador durante a temporada seguinte, de 1963, o que acabou levando-o a deixar o clube.

Gérson, Henrique e Dida (de pé), Espanhol e Joel (agachados)

Líder, com 1 ponto de vantagem sobre o time alvi-negro, o Flamengo jogava pelo empate para se sagrar campeão. Mas Garrincha não deixaria isto acontecer, tomaria conta do jogo, e o Botafogo repetiria o placar da última rodada do ano anterior, fazendo 3 a 0, e se sagrando bi-campeão carioca. Muitos anos depois, o lateral-esquerdo Jordan, que foi considerado pelo "Anjo das Pernas Tortas" o melhor marcador que teve ao longo de sua carreira, assim definiu a opção tática do treinador rubro-negro: "o Flávio queria que o Gérson desse o primeiro combate ao "Mané". Todas às vezes que ele pegasse a bola, eu tinha que recuar. Mas o Gérson não queria fazer isso. Eu fiz o que ele mandou, recuava para guardar a entrada da grande área. Se o Gérson não conseguisse tomar a bola, eu sairia na cobertura dele. Na minha opinião, o Gérson não tinha condições de dar esse primeiro combate. Se o Flávio invertesse, eu ir na frente e o Gérson vir por trás fazer a cobertura, seria muito melhor. Garrincha nesse jogo não jogou acima do normal, ele jogou o jogo dele. Garrincha fez o que queria e infelizmente o Gérson levou um baile". O fato é que o Flamengo perdeu para o Botafogo por 3 x 0 na última rodada do Carioca de 61, por 3 x 1 na última rodada do turno de 62, e de novo por 3 x 0 naquela última rodada. Independente das escolhas do treinador, o fato é que o time rubro-negro não vinha conseguindo parar a ofensividade alvi-negra naquele período.

Flamengo no Carioca de 1962
Mauro, Joubert, Luís Carlos Freitas (Décio Crespo), Vanderlei e Jordan; Carlinhos e Gérson; Joel, Henrique Frade, Dida e Espanhol
Téc: Flávio Costa
Banco: Fernando, Paulo Lumumba, Nelsinho e Alfredinho

No início da temporada de 63, o Flamengo decidiu contratar mais um goleiro - Valdomiro, do Coritiba - para fazer sombra a Mauro e Fernando na posição, e foi atrás de dois nomes solicitados por Flávio Costa, dois jogadores do Olaria, o lateral-direito Murilo e o volante Nélson. Contratou ainda o atacante Paulo Alves, também chamado Paulo Choco, que chegou do Anápolis, de Goiás. O elenco teve algumas baixas: o centroavante Henrique Frade foi contratado pelo Nacional de Montevidéu, do Uruguai, e dois pontas que não tinham conseguido se firmar, também acabaram contratados por outros clubes, tendo Miranda, que fora contratado no ano anterior ao Corinthians, ido jogar na Juventus, da Itália, e Jair Bala, que chegara à Gávea em 1960 oriundo do Estrela do Norte, do Espírito Santo, indo jogar no Botafogo. Para repor a saída de Henrique, o centroavante Airton estava retornando de empréstimo ao Botafogo, assumindo a titularidade em seu lugar.

A campanha no Rio-São Paulo até começou boa, com vitórias nas primeiras rodadas sobre Olaria, São Paulo e Vasco. Na 4ª rodada, porém, diante de mais de 61 mil pessoas no Maracanã, o time rubro-negro voltou a ser superado pelo Botafogo. Na sequência, caiu também perante o Palmeiras, no Pacaembu. Ainda venceu ao Fla-Flu, mas acabou derrotado nas três últimas rodadas, por Portuguesa de Desportos, Santos e Corinthians, terminando tão só com um 7º lugar. A derrota para o Santos, na penúltima rodada foi diante de um Maracanã com 46 mil torcedores, que foram ver os santistas garantirem matematicamente o título com uma vitória por 3 a 0, gols de Coutinho, Dorval e Pelé.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1963
Mauro (Fernando), Murilo, Joubert, Luís Carlos Freitas e Jordan; Nélson e Gérson; Espanhol, Airton, Dida e Alfredinho
Téc: Flávio Costa

Antes do Carioca, o time rubro-negro voltou a fazer uma excursão pela Europa. Jogou 16 partidas em 7 diferentes países - França, Suécia, Romênia, Polônia, União Soviética, Tchecoslováquia e Áustria - tendo vencido 6 vezes, empatado 4 e sofrido 6 derrotas. Um desempenho bastante mediano, cujo principal destaque foi um empate sem gols diante da Seleção Soviética, detentora do título de Eurocopa, que conquistou em 1960.

O elenco para o Estadual foi um pouco mexido, tendo saído vários jogadores. Dois veteranos deixaram o clube, tendo o goleiro Fernando se aposentado e o ponta-direita Joel ido para o Vitória, da Bahia. Saíram também dois zagueiros, Vanderlei para o Atlético Mineiro, e Décio Crespo, para o Millonarios, da Colômbia, e o ponta-direita Alfredinho, para o Madureira. Eram poucas mudanças que afetariam o time titular, mas para repor estas saídas foram contratados três jogadores: o goleiro Marcial, do Atlético Mineiro, o zagueiro Ananias, do Bangu, e o ponta-esquerda Osvaldo "Ponta-Aérea", do Guarani, de Campinas.

A relação, que já estava azedada, entre Gérson e Flávio Costa, rompeu-se de vez no início do Carioca de 63, quando o treinador colocou ao meia no banco de reservas. O time rubro-negro começou muito bem, vencendo as seis primeiras partidas no campeonato, incluindo uma vitória por 3 a 1 sobre o Botafogo na qual valeu a "lei do ex", com dois gols marcados pelo centroavante Airton. Ainda houve duas goleadas por 5 x 0, sobre Campo Grande e Madureira. Mas na sequência vieram três resultados negativos, com derrotas para América e Bangu, e um empate sem gols com o Vasco. Foi em meio a esta turbulência que Gérson buscou a diretoria para reclamar de Flávio Costa. Segundo publicou a imprensa, ouviu do presidente rubro-negro Fadel Fadel: "se está insatisfeito, quem depositar 150 milhões (na conta rubro-negra) leva o seu passe". Parecia a história reencarnada da saída de Zizinho para o Bangu em 1950. O Botafogo estava com dinheiro vivo em mãos, pois havia vendido Amarildo para o Milan, da Itália. Pagou pelo passe, e antes mesmo do fim do 1º turno, Gérson já estava treinando em General Severiano, ainda que não pudesse vestir a camisa alvi-negra naquele campeonato, pois já havia entrado em campo três vezes com a camisa rubro-negra.

Na reta final do turno, o time venceu a São Cristóvão e Olaria, e empatou sem gols com o Fluminense. Estava "cabeça a cabeça" na luta pela ponta da tabela. No 2º turno, nas onze primeiras rodadas só não venceu dois jogos, em dois empates sem gols, contra Botafogo e Madureira. Um jogo-chave foi a vitória por 4 x 3 sobre o Vasco na 8ª rodada, com três gols de Airton Beleza. Assim, o Flamengo chegou à última rodada na liderança, com um ponto de vantagem para o vice-líder Fluminense. Repetindo a história da última rodada do ano anterior, foi para um Maracanã lotado jogando por um empate para ser campeão. Mas desta vez para uma lotação de estádio maior ainda, perante 177 mil pagantes e mais de 194 mil torcedores presentes. Foi o maior público da história do futebol para uma partida disputada entre clubes, perdendo apenas para a final da Copa do Mundo de 1950, e para o jogo entre Brasil e Paraguai pelas Eliminatórias em 1969. O palco de transformação da grandeza rubro-negra em algo mítico, o Maracanã, viabilizava a paixão rubro-negra como um fenômeno social a movimentar as multidões, impressionando não só ao Brasil inteiro, como ao mundo inteiro.

Perder pelo segundo ano seguido jogando pelo empate, seria traumático. No Fla-Flu que moveu multidões, o time de Flávio Costa enfrentava a equipe tricolor que estava sendo treinada pelo paraguaio Fleitas Solich, que não havia conseguido repetir no Corinthians o sucesso feito no Flamengo. Foi um jogo duríssimo, no qual o goleiro Marcial teve uma atuação maiúscula, com grandes defesas que impediram o time tricolor de abrir o placar. Ao final, o time rubro-negro conseguiu segurar o empate sem gols e voltou a se sagrar Campeão Carioca, título que não conquistava desde 1955. Rio de Janeiro em festa! Pintado novamente de vermelho e preto!


Flamengo no Carioca de 1963
Marcial, Murilo, Luís Carlos Freitas, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Dida e Osvaldo Ponte-Aérea
Téc: Flávio Costa
Banco: Mauro, Jordan, Nélson, Geraldo José e Osvaldo

Depois de se desentender com o craque do time Gérson, Flávio Costa voltou a ter problemas no trato com os jogadores, desta vez com o veterano ídolo Dida, o que acabou provocando sua saída para a Portuguesa de Desportos, que também estava contratando ao centroavante Henrique Frade, e remontou a dupla de frente que tanto havia brilhado junta no Flamengo. O elenco também teve a aposentadoria do veterano Jordan, e a saída do goleiro reserva Mauro, contratado pelo Corinthians. Um grupo de reforços sem qualquer badalação chegou para reforçar ao elenco, com o goleiro Franz, do São Cristóvão, o zagueiro Ditão, do XV de Piracicaba, o ponta-direita Jarbas, do Cruzeiro do Rio Grande do Sul, e o meia Fefeu, do Canto do Rio.

O time que entrou para jogar o Rio-São Paulo de 64 era basicamente o mesmo que fora Campeão Carioca de 63, e que até começou bem, vencendo ao Corinthians no Pacaembu e ao Vasco nas duas primeiras rodadas. Depois, porém, perdeu para Botafogo e São Paulo, e empatou com Fluminense e Bangu. Na 7ª rodada, enfrentou ao Santos - com Pelé em campo - no Maracanã numa partida em que não houve venda de ingressos, com portões abertos e entrada gratuita, que colocou mais de 132 mil pessoas dentro do estádio. Nas duas últimas rodadas, empates frente a Portuguesa de Desportos e Palmeiras, terminando o certame em 3º lugar, empatado com o Palmeiras, e quatro pontos atrás de Botafogo e Santos. A competição teria uma final, já que havia terminado com dois clubes empatados em pontos. Houve o primeiro jogo desta final, com vitória botafoguense no Maracanã, mas o jogo de volta nunca foi disputado, por indisponibilidade de datas, já que os dois clubes desejavam excursionar pela Europa para ganhar dinheiro, e já tinham compromissos agendados. Acabou-se decidindo pela divisão do título entre os dois clubes, já indicando, desde fases bem prematuras, a dificuldade de gestão de calendário no futebol brasileiro.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1964
Marcial, Joubert (Murilo), Luís Carlos Freitas, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Paulo Alves e Carlos Alberto
Téc: Flávio Costa

Depois do Rio-São Paulo, o grupo rubro-negro viajou para a Europa para a disputa de uma série de 9 amistosos. Abriu a série empatando por 1 x 1 com o Milan no Estádio San Siro. Depois da Itália, passou por Alemanha, Espanha, Portugal e União Soviética, obtendo 6 vitórias, 2 empates e só 1 derrota, para o Sporting Gijón.

Para o 2º semestre houve a saída de Espanhol, que aceitou proposta do Atlético de Madrid e foi atuar em seu país-natal. O clube continuava inseguro com suas opções para o gol, embora Marcial tenha se firmado como titular, seguia em busca de um bom reserva, e desta vez contratou a Marco Aurélio, do Atlético Paranaense. Já havia muitos anos que o Flamengo não fazia nenhuma grande contratação. O clube decidiu então apostar pesado num jogador que vinha sendo alardeado pela imprensa paulista como o "novo Pelé", o ponta de lança Berico, do Guarani. Junto com ele, foi contratado também o ponta-direita Amauri. A chegada ao Rio de Janeiro de um suposto "novo rei do futebol" causou alvoroço na mídia e grande expectativa. Mas o desempenho no Estadual esteve longe de agradar, Berico acabou perdendo a posição no time titular.

No Carioca de 64, o time perdeu pontos importantes logo nas primeiras rodadas, tendo empatado com o Bonsucesso no Maracanã na 3ª rodada, e perdido o Fla-Flu na rodada seguinte. No 1º turno, ainda empatou com o América e perdeu para o Bangu, entretanto venceu os clássicos frente a Vasco e Botafogo, o que fez com que se mantivesse na briga pela ponta. No 2º turno, arrancou bem, tendo só perdido ponto nas cinco primeiras rodadas num empate no Fla-Flu. Na segunda metade do returno, porém, ficaria fora da disputa do título depois de perder para o América e para o Bangu, e empatar com o São Cristóvão. Na última rodada, ainda perdeu para o Botafogo, terminando o campeonato em 3º lugar.

Flamengo no Carioca de 1964
Marcial, Murilo, Ditão, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho (Nélson); Amauri (Carlos Alberto), Airton, Paulo Alves e Osvaldo Ponte-Aérea
Téc: Flávio Costa
Banco: Marco Aurélio, Joubert, Fefeu, Berico e Foguete

Em 1964, o Flamengo participou pela única vez em sua história da Taça Brasil, torneio disputado entre 1959 e 1968 entre os Campeões Estaduais. O Flamengo participou em 1964 por ter sido o Campeão Carioca de 1963. Esta foi a única participação rubro-negra no torneio, porque nas edições de 1965, 1966 e 1967 o representante da cidade do Rio de Janeiro não foi o Campeão Carioca e sim o Campeão da Taça Guanabara.

O Flamengo se reforçou com a volta de Evaristo. Desde que havia deixado o rubro-negro para se aventurar em terras espanholas, onde construiu uma respeitável carreira e se tornou ídolo vestindo as duas maiores camisas do país, tendo jogado 5 temporadas no Barcelona, de 1957 a 1962, e 2 temporadas e meia no Real Madrid, de 1962 ao final de 1964. Regressava à Gávea aos 31 anos, o que para o futebol da época já era uma idade bastante avançada.

Os campeões do Rio de Janeiro e de São Paulo entravam direto na semi-final, fase na qual o adversário rubro-negro foi o Ceará. O Flamengo venceu aos dois jogos: 2 x 1 em Fortaleza e 3 x 1 no Maracanã (diante de meros 11 mil torcedores), avançando para fazer a final diante do Santos, de Pelé. A decisão ficou praticamente definida após o primeiro jogo, com uma goleada santista por 4 x 1 no Pacaembu (três gols de Pelé e um de Coutinho). No jogo de volta, o Maracanã recebeu mais de 52 mil pessoas, ninguém fez gol, e o empate por 0 x 0 deu o título ao Santos.

Flamengo na Taça Brasil de 1964
Marco Aurélio, Murilo, Ditão, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Evaristo; Amauri, Airton, Berico (Paulo Alves) e Carlos Alberto
Téc: Flávio Costa
Banco: Marcial, Luís Carlos Freitas, Nelsinho, Fefeu e Osvaldo Ponte-Aérea

No início de 1965, o Flamengo apostou na contratação de outro veterano, o zagueiro Zózimo, ex-Bangu, reserva da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958 e titular no time campeão da Copa do Mundo de 1962. Ele estava jogando no Guaratinguetá, de São Paulo, e chegou à Gávea como aposta para dar mais experiência à zaga, especialmente depois da saída de Ananias, que acabou contratado pelo Vasco. O clube ainda cedeu a Osvaldo Ponte-Aérea por empréstimo ao Guarani, e contratou ao meia Válter, do São Cristóvão. Foram contratações mais focadas em ampliar as opções do banco de reservas do que propriamente em reforçar o quadro de titulares.

A campanha no Rio-São Paulo foi bastante irregular. Com nova fórmula, o torneio daquele ano foi disputado em dois turnos. No 1º turno eram dois grupos de cinco, um só de cariocas e outro só de paulistas. Todos se enfrentavam, independente dos grupos, e ao final do turno, os quatro primeiros colocados de cada grupo avançavam ao 2º turno, no qual todos se encontravam num único grupo.

O time de Flávio Costa fez uma campanha extremamente instável. Começou bem, tendo obtido quatro vitórias nas cinco primeiras rodadas, vencendo a São Paulo, América, Fluminense e Corinthians, e tendo empatado contra o Santos. Mas nas quatro últimas rodadas, não venceu nenhuma vez, perdendo para a Portuguesa de Desportos, sendo goleado por 4 x 1 pelo Palmeiras em pleno Maracanã, e empatando com Vasco e Botafogo. Terminou o grupo em 3º lugar.

No 2º turno, o desempenho piorou, perdendo para Vasco e Botafogo e sendo goleado por 5 x 1 pelo Corinthians no Pacaembu. Ainda empatou com Fluminense e Portuguesa de Desportos, e só venceu duas vezes, a Palmeiras e São Paulo. Apesar da campanha ruim, terminou o torneio em 2º lugar, empatado com o mesmo número de pontos a Vasco, Botafogo e Portuguesa, e todos com uma grande desvantagem de pontos para o campeão Palmeiras.

Flamengo no Torneio Rio-São Paulo de 1965
Marcial, Murilo, Luís Carlos Freitas, Ditão e Paulo Henrique; Carlinhos e Fefeu; Amauri, Airton, Paulo Alves e Carlos Alberto (Berico)
Téc: Flávio Costa
Banco: Franz, Zózimo, Evaristo, Samuel e Fio Maravilha

A sequência de derrotas, especialmente com as goleadas sofridas para Corinthians e Palmeiras, já tinha gerado um desgaste com Flávio Costa, e durante a Taça Guanabara, que era disputada pela primeira vez naquele ano, e como um torneio independente do Estadual, o treinador acabou aceitando uma proposta para voltar a estar a frente do Porto na temporada 1965-66 do Campeonato Português. Desde o segundo semestre de 1934 até o primeiro semestre de 1965, num intervalo de mais de 30 anos, o Flamengo havia tido praticamente só dois treinadores: Flávio Costa e Fleitas Solich. Nenhum clube do Brasil teve tão poucos treinadores neste período de três décadas! Agora, o clube era forçado a apostar em outro nome.

O novo técnico escolhido foi o argentino Armando Renganeschi, um ex-zagueiro que estava erradicado no Brasil desde 1940. Não havia brilhado no futebol argentino, onde defendeu a Independiente, Estudiantes, Almagro e Talleres, tendo chegado ao Rio de Janeiro em 1940 para atuar pelo Bonsucesso. No ano seguinte ele se transferiu para o Fluminense, onde ficou por três anos, tendo depois atuado por mais cinco com a camisa do São Paulo. Após se aposentar, tornou-se técnico, passando por diversos times do interior do estado de São Paulo. Antes de chegar à Gávea, seu trabalho de maior destaque havia sido com o Palmeiras em 1961, quando foi vice-campeão da Copa Libertadores, além de ter tido passagens muito rápidas a frente do São Paulo e do Independiente. Quando foi contratado pelo Flamengo, era o técnico do XV de Jaú, no interior de São Paulo.

O clube buscou também se reforçar dentro de campo. Com a chegada do novo treinador, foi possível notar também uma mudança na política de contratações. Nos tempos de Solich, o clube não contratava quase ninguém e só aproveitava a base, com Flávio Costa a busca era sempre por nomes que não chegavam para ser titulares, mas para dar mais opções de banco. Com Renganeschi, o clube foi atrás de reforços que chegavam para serem titulares. A mudança no perfil de ida a mercado também tinha muito a ver com a chegada de um executivo como novo vice-presidente de futebol, o sueco Gunnar Goransson, que acumulava a função à de presidente da fábrica de móveis Facit. Apaixonado pelo futebol brasileiro, pelo Rio de Janeiro e pelo Flamengo, Goransson financiava o programa "Grande Revista Esportiva Facit", que passava na TV Rio, a primeira "mesa redonda" esportiva da história da televisão brasileira, que tinha a participação dos comentaristas Luiz Mendes, Nélson Rodrigues, Armando Nogueira, João Saldanha, José Maria Scassa e do sueco Hans Henningsen. O programa era dirigido por Wálter Clark. Em 1966, passou para a recém-criada TV Globo, sob o novo nome de "Grande Resenha Facit".

O primeiro passo foi desinflar o elenco. O veterano zagueiro Zózimo, de passagem relâmpago e apagada pela Gávea, foi vendido ao Sport Boys, do Peru. Dois outros jogadores foram vendidos para o futebol mexicano, o meio-campista Nélson foi para o Monterrey, e o ponta de lança Berico foi para o Oro de Jalisco, onde enfim brilhou, tornando-se ídolo no México. O principal alvo de contratação era o ponta de lança Silva, do Corinthians. Para fechar negócio, o Flamengo cedeu em definitivo ao goleiro Marcial, por empréstimo de um ano o centroavante Airton Beleza, e ainda deu parte do dinheiro arrecadado com as vendas ao futebol mexicano. Para dar peso à linha de frente e dividir a responsabilidade com Silva, foi contratado o atacante, que estava no Santos, Almir Pernambuquinho. Era um jogador experiente, revelado pelo Sport Recife, e que tinha brilhado com a camisa do Vasco no fim dos Anos 1950, tendo depois passado por Corinthians, Boca Juniors, e por Fiorentina e Genoa, na Itália. Com Almir e Silva, Renganeschi entendia ter em mãos um time com chances de conquistar o título estadual sobre o favorito Botafogo.

Almir e Silva, as grandes contratações de 65

O Carioca de 65 faria parte dos festejos preparados para a cidade pela celebração do Quarto Centenário, já que o Rio de Janeiro completava 400 anos desde sua fundação. Havia muita badalação na imprensa em função destes festejos.

A grande novidade foi que o Campeonato Carioca seria disputado por apenas 8 clubes. De resto, mantinha-se a fórmula que valeu a maior parte do tempo: disputa por pontos corridos em turno e returno para definir o campeão. O time rubro-negro iniciou sua campanha jogando muito bem. Dos sete jogos do primeiro turno, venceu cinco (América, Portuguesa, Vasco, Bonsucesso e Botafogo) e empatou dois (Bangu e Fluminense), não sofrendo nenhuma derrota. No returno, perdeu para o Bangu na 3ª rodada, mas venceu todos os outros confrontos, vindo a se sagrar campeão com uma rodada de antecipação, após a vitória por 2 x 1 no Fla-Flu em que o Maracanã recebeu mais de 62 mil torcedores (público inferior ao Fla-Flu do turno, quando 89 mil pagantes geraram o maior público do campeonato). Campeão do Rio-São Paulo em 61, e conquistando duas vezes o Carioca em três edições disputadas, tendo sido o campeão em 63 e em 65, o Flamengo alimentava seu povo com alegrias. O que ninguém sabia naquele momento é que se iniciaria depois daquele título um dos períodos mais duros da história do futebol rubro-negro.

Flamengo no Carioca de 1965
Valdomiro, Murilo, Ditão, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Paulo Alves, Almir, Silva e Rodrigues
Téc: Armando Renganeschi
Banco: Marco Aurélio, Fefeu, Clair, João Daniel e César Lemos


Até a década de 60, a história do futebol rubro-negro podia ser resumida da seguinte forma: entre 1912 e 1925 o Flamengo emergiu na ponta do cenário carioca, estando a hegemonia compartilhada pela dupla Fla-Flu; em 1926 e 1927 o desempenho deu sinais de decaimento, ainda conquistando o título de 27, mas na base da raça e da superação de suas limitações. De 1928 a 1935, o clube viveu anos de desempenho bem distantes da ponta do cenário. O protagonismo é recuperado no período de 1936 a 1944, novamente numa fase com a hegemonia compartilhada pela dupla Fla-Flu. Em 1945 e 1946 há uma perda de força, mas o clube afunda num caos após a saída de Flávio Costa, estando completamente desnorteado entre 1947 e 1950, mais uma vez bem distante da ponta do cenário carioca. Em 1951 e 1952, Flávio Costa volta e reordena a casa, preparando o terreno para a reconquista do Rio entre 1953 e 1955. Depois disto, o clube passa um período sem títulos entre 1956 e 1960, mas sempre com equipes fortes, brigando na ponta, mas sem alcançar a glória. Entre 1961 e 1965, volta a conquistar troféus antes de entrar numa nova fase caótica, com desempenhos horrorosos no fim dos Anos 1960.

Tomando como referências os títulos das competições cariocas das quais o Flamengo participou entre 1912 e 1944 (desconsiderando, portanto, os títulos de outras clubes em anos em que houve mais de um campeonato nos torneios que o clube não participou), o que se vê é: 10 títulos do Flamengo, 9 títulos do Fluminense, 6 títulos do América, 3 títulos do Vasco, 2 títulos do Botafogo, e 1 título de Paissandu, São Cristóvão e Bangu.

A conjuntura muda no período de 1945 a 1962, intervalo de tempo no qual o Campeonato Carioca foi conquistado: 7 vezes pelo Vasco, 4 vezes pelo Botafogo, 3 vezes pelo Fluminense, 3 vezes pelo Flamengo e 1 vez pelo América. O Flamengo só foi salvo neste período pela conquista do Segundo Tri. Adicionando-se mais os anos de 1963, 64 e 65, somam-se mais dois troféus do Flamengo e um do Fluminense, e o que se vê é um equilíbrio de forças bem marcado entre os "4 grandes do Rio": 7 títulos do Vasco, 5 títulos do Flamengo, 4 títulos de Botafogo e Fluminense, além de 1 do América.

E no cenário da primeira competição inter-estadual disputada no Brasil, o Torneio Rio-São Paulo, há dois períodos bem marcados. Nas seis primeiras edições todos os títulos foram paulistas: 3 vezes do Corinthians, 2 vezes da Portuguesa de Desportos e 1 vez do Palmeiras. Neste período, o Flamengo jamais ficou dentro do Top 4 em nenhuma das 6 edições. Em 1956, por razões políticas, não foi disputada a competição. Quando o torneio voltou, nas seis edições seguintes, de 1957 a 1962, o domínio foi carioca e o Flamengo ficou dentro do Top 4 em todas as 6 edições, nas quais houve 2 títulos do Fluminense, e 1 título de Vasco, Botafogo e Flamengo, com um equilíbrio bem marcado entre os "4 grandes do Rio", só quebrado pela conquista em 1959 do Santos, do garoto Pelé.


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