segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Hall da Fama do C.R. Flamengo: RENATO GAÚCHO


RENATO GAÚCHO: o Rei do Rio

Carreira: 1979 Esportivo (RS); 1980-1986 Grêmio; 1987-1988 Flamengo; 1988-1989 Roma (Itália); 1989-1990 Flamengo; 1991 Botafogo; 1991 Grêmio; 1992 Botafogo; 1992-1993 Cruzeiro; 1993 Flamengo; 1994 Atlético Mineiro; 1995-1997 Fluminense; 1997-1998 Flamengo; 1999 Bangu (RJ)

Renato teve 4 passagens pelo Flamengo. Nenhum outro jogador teve tantas idas e vindas com a camisa rubro-negra na história. Foram passagens curtas, mas bem marcantes. O ídolo gaúcho tornou-se um carioca por paixão, especialmente pelas areias da praia.

Como jogador do Flamengo, ele fez 211 jogos, e marcou 68 gols.


Abaixo, o texto sobre as passagens do jogador pelo clube escrito por Adriano Melo, na coluna "Alfarrábios do Melo" e publicado no site "Buteco do Flamengo", complementado por trechos de outros sites contando a história da carreira do jogador:

Renato Portaluppi nasceu em Guaporé, no Rio Grande do Sul, em 9 de setembro de 1962. Filho de Francisco Portaluppi e Maria Portaluppi, ainda era muito pequeno - tinha apenas 3 anos - quando a família se mudou para a cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Aos 12 anos, o garoto já trabalhava para ajudar a família. Seu primeiro emprego foi na padaria do Sr. Azir Favaretto, o primeiro chefe de Renato. Ele trabalhou lá por dois anos. Passou então a ser empregado da empresa Todeschini, uma conhecida fábrica de móveis em Bento Gonçalves, onde ficou de 26 de abril de 1977 a 3 de agosto de 1979, responsável pela carga dos caminhões da empresa. Na mesma época ele começou a treinar nas divisões de base do Esportivo de Bento Gonçalves, onde ingressou em 1978, levado por um olheiro que acompanhava as peladas de bairro da cidade.

Em 1979, o Esportivo foi Vice-campeão do Campeonato Gaúcho, perdendo o título para o Grêmio, o melhor resultado da história do clube. Renato fazia parte daquele grupo, porém jogou pouquíssimas partidas naquela campanha, era muito jovem e estava na reserva. Sua primeira partida no profissional foi em 12 de agosto de 1979, quando ainda tinha 16 anos. Logo depois disso, no fim daquele ano, o Grêmio contratou ao técnico do Esportivo, Valdir Espinosa, e ele indicou Renato para as categorias de base do Grêmio, a contragosto do pai do adolescente, Seu Francisco Portaluppi, torcedor ardoroso do Internacional.

A estreia no profissional do Grêmio aconteceu em 1981, quando Renato estava com 19 anos. No entanto, ele teve poucas chances no time do técnico Ênio Andrade, Campeão Brasileiro de 81, e também não teve muitas chances durante 1982. Tudo mudou a partir de 1983, quando Valdir Espinosa voltou a ser o técnico tricolor. Renato teve atuações de destaque na campanha que fez do Grêmio o Campeão da Copa Libertadores da América de 83. Sua grande atuação histórica, no entanto, a que lhe renderia seu nome gravado na eternidade da história do Grêmio, aconteceu em 11 de dezembro de 1983, no Estádio Nacional de Tóquio, quando Renato marcaria dois gols na vitória por 2 x 1 sobre o Hamburgo, da Alemanha, que lhe deu o título de Campeão Mundial Interclubes, tendo ele sido escolhido o melhor em campo naquele Mundial.

Renato ainda seria Vice-campeão da Libertadores de 84, e Bi-Campeão Gaúcho em 1985 e 1986. Suas atuações de destaque lhe renderam a primeira convocação para a Seleção Brasileira. Quando chegou para vestir a camisa canarinho, a seleção já tinha um Renato, e foi então, que para diferenciá-lo, surgiu o "Renato Gaúcho". O outro, meia do São Paulo, também conhecido como "Renato Pé Murcho", ficou sendo o Renato Paulista, embora o apelido não tenha pegado e sido usado só temporariamente. Já o Renato Gaúcho ficou para sempre...

Renato teve atuações de destaque em 1985 durante as Eliminatórias para a Copa de 86, e entrou na pré-lista de jogadores que estavam treinando para o Mundial, entretanto acabou cortado por Telê Santana após um episódio polêmico junto ao lateral-direito Leandro, do Flamengo. Os dois se excederam durante uma folga e só voltaram para o hotel após o horário autorizado por Telê, e retornaram embriagados. Os dois vinham sendo titulares, ainda que a moral do lateral rubro-negro com o treinador fosse muito maior que a do jovem Renato, afinal Leandro havia sido titular absoluto na Copa de 82 e aclamado como melhor lateral-direito do mundo. Na escolha final daqueles que iriam para o México, Renato acabou cortado por Telê, e Leandro não (o lateral acabou pedindo dispensa e também não indo à Copa, alegando que se os dois tinham cometido o mesmo erro, era justo que ambos sofressem um castigo igual). Daí em diante, Renato Gaúcho e Telê Santana não deveriam mais "ser convidados para a mesma mesa".

Foi então em 1987 que aconteceu a primeira passagem de Renato Gaúcho pelo Flamengo. A mega-contratação foi anunciada no fim de 86, capitaneada pelo diretor de marketing Rogério Steinberg, o mesmo que havia montado a operação financeira que repatriou Zico da Udinese. A identificação de Renato com o Flamengo foi intensa e imediata. O atacante fez sua estreia em um amistoso contra o Uberlândia, no Parque do Sabiá (2-2) e marcou seu primeiro gol pelo clube em Florianópolis (2-1 sobre o Avaí, em outro amistoso). Já se destacou nas primeiras partidas da Taça Guanabara, quando então sofreu uma séria lesão na planta do pé ao chutar a sola de um zagueiro adversário, num lance no qual marcou um dos gols na vitória sobre a Portuguesa da Ilha (2-0). Ainda tentou retornar de forma precipitada, o que atrasou ainda mais sua recuperação. Festeiro e amante de um bom chopp desde os tempos de jogador, ele era conhecido pela dificuldade de entrar em forma, o que atrasou ainda mais seu retorno à equipe. Usou as últimas partidas do Estadual para ganhar ritmo de jogo, e entrou voando fisicamente na Copa União. Idolatrado e extremamente motivado, foi o motor e o trator da equipe que conquistou o Tetra-campeonato: Flamengo Campeão Brasileiro de 1987. Na campanha histórica do título nacional, Renato marcou gols decisivos, acumulou assistências, e acabou premiado, de forma justa, como o melhor jogador da competição. Viveu então seu auge de popularidade no Flamengo. Era o principal ídolo de um time que tinha Zico, Leandro, Jorginho, Edinho, Andrade e Bebeto.

Com o prestígio nas alturas, tornou-se símbolo sexual e acumulou casos amorosos de conhecimento público, embora fosse casado. Ele foi uma das celebridades do verão de 1988 no Rio de Janeiro, tendo tido um relacionamento amoroso com a modelo Luma de Oliveira, maior símbolo sexual do Brasil na época.

No embalo do título brasileiro, Renato comandou ao Flamengo na conquista da Taça Guanabara de 88, com destaque para o jogo decisivo contra o América (2-1). Entre o segundo semestre de 87 e o primeiro semestre de 1988, Renato protagonizou algumas das maiores atuações individuais de um jogador na história do Maracanã.

Mas nenhuma árvore crescerá a ponto de tocar aos céus. Poucos dias depois do jogo do título do turno contra o América, ele foi caçado criminosamente em uma partida contra o mesmo América e lesionou o joelho, que a partir dali sempre atormentou à sua carreira. Retornaria cerca de trinta dias depois. Sem ele, o Flamengo perdeu rendimento, e quando voltou, Renato já não era nem sombra do jogador do primeiro turno, e o time acabou perdendo o título carioca para o Vasco, de um endiabrado Romário.

Os milhões do futebol europeu, então, tiraram o jogador da Gávea. A Roma contratou a Andrade e a Renato para a temporada 1988/89. Buscavam repetir o sucesso que o clube obtivera anos antes com outros dois brasileiros: Falcão e Toninho Cerezo. Porém, nenhum dos dois vingou no Campeonato Italiano, não conseguindo sequer se manter entre os titulares. Ao fim da temporada, a Roma reconheceu o fracasso e se desfez de ambos, que retornaram ao Rio.

Renato Gaúcho voltava então para a sua segunda passagem pela Gávea, que novamente, assim como a primeira, duraria 18 meses. Sua chegada, após a apagada passagem pela Roma, já foi marcada por várias polêmicas: vários conselheiros questionavam o valor da compra e alegavam que o investimento poderia ter sido usado para a renovação do contrato de Bebeto, evitando a perda do craque para o rival Vasco; outros, com bastante discernimento, viam perspectivas de sérios problemas de convivência do astro com o técnico rubro-negro, afinal quem estava ocupando o cargo de treinador do Flamengo naquele momento era justamente Telê Santana, seu antigo desafeto.

E, com efeito, a relação entre Renato e o treinador durou apenas três jogos, implodindo após Telê tirar o atacante no meio de uma partida contra o Corinthians (0-1), crise que redundou na saída do técnico. Renato foi à imprensa de modo enfático: "aqui, ou é ele ou eu". A diretoria não só ficou do lado da estrela do time, como lhe deu carta branca na escolha do substituto, tendo o novo técnico rubro-negro passado a ser o velho amigo Valdir Espinoza, seu ex-treinador no Esportivo e no Grêmio, e que recém havia batido ao Flamengo de Telê, a frente do Botafogo, na final do Carioca de 89. Porém, a "vitória" no embate com Telê não melhorou o rendimento de Renato, que fez um Brasileiro apagado. Em 1990 o craque, mais motivado e buscando vaga na Seleção Brasileira que iria ao Mundial, tornou-se rapidamente o líder e a referência da equipe, sendo um dos poucos a se salvarem na pífia campanha no Carioca de 90. A personalidade forte, com língua afiada e sempre polêmico, suscitava reações diversas, ajudando a decidir partidas mas atrapalhando muitas vezes pelas provocações em demasia aos adversários, especialmente antes dos clássicos cariocas.

A péssima campanha naquele Estadual provocou reformulações no clube, tendo Francisco Horta (ex-presidente do Fluminense) sido contratado pelo Flamengo como diretor do futebol. Rapidamente a relação entre Renato e Horta se deteriorou, com trocas públicas de farpas ("Renato é o nosso Frank Sinatra, mas ele está rouco"). O dirigente tentou incluir o atacante em trocas com o São Paulo (por Raí) e até com o Vasco (por Bebeto), sem sucesso. Renato ainda era o craque do time, mas tinha caído bastante de produção. Porém, voltou instantaneamente a atuar em alto nível após a demissão de Horta, depois de uma sequência de maus resultados no Brasileiro. No restante do ano, Renato colecionou atuações de gala (como nos 2-0 contra a Portuguesa, no Canindé), protagonizando com o amigo Gaúcho um ataque devastador e, dividindo a liderança da equipe com o craque Júnior, fazendo do Flamengo o Campeão da Copa do Brasil de 1990.

Ele ainda acabou convocado por Sebastião Lazaroni para disputar a Copa do Mundo de 1990 na Itália, a única que disputou na carreira. Mas ele não conseguiu se tornar titular na Seleção Brasileira. A dupla de ataque titular foi formada por Muller e Careca, com Renato Gaúcho, Bebeto e Romário no banco de reservas. E o Brasil fracassou no Mundial, caindo perante a Argentina, de Maradona, nas oitavas de final.

Depois de novamente ter sido o destaque na conquista de um título nacional pelo Flamengo, em 1990 Renato se tornou vilão ao perder um pênalti contra o Grêmio em Juiz de Fora, numa derrota (0-1) que praticamente cravou a eliminação do time do Brasileirão daquele ano. Num ano de altos e baixos, e com uma segunda passagem na qual não conseguia repetir as grandes atuações de sua primeira, ao final de 1990 a diretoria do Flamengo foi trocada e a nova, alegando questões financeiras, não fez qualquer questão de tentar cobrir a proposta do Botafogo, para onde Renato se mudou no início de 1991. A "dedicação" às badalações noturnas do Rio de Janeiro geravam muitas críticas, e foram o real motivo pelo Flamengo não ter lutado para mantê-lo.

Sua passagem pelo Botafogo também levou 18 meses, com direito a um empréstimo relâmpago ao Grêmio no meio deste período. Neste período, desgostoso com a diretoria rubro-negra por não ter se esforçado para mantê-lo, Renato não perdia oportunidades de provocar ao Flamengo. No Campeonato Brasileiro de 1992, Flamengo e Botafogo se classificaram para fazer a Final. O time alvi-negro tinha a melhor campanha, era favorito, mas no primeiro jogo da finalíssima o Flamengo atropelou, vencendo por 3 x 0, com Júnior ainda dando uma sequência de dribles desconcertantes que deixaram Renato sentado no chão. Para piorar, Renato durante a semana seguinte, a que antecedeu ao segundo jogo, cometeu alguns "atos falhos" de exaltação à grandeza do Flamengo, irritando à diretoria do Botafogo, que ordenou ao treinador que o retirasse da segunda partida, na qual o Flamengo sacramentou o título.

Descartado pelo Botafogo, Renato acertou então com o Cruzeiro, e a passagem por Belo Horizonte foi vitoriosa, com o ponta-direita voltando a ter atuações exuberantes. Foi Campeão Mineiro e Campeão da Supercopa dos Campeões da Libertadores de 1992, vencendo ao Racing, da Argentina, na final. Nesta campanha, no jogo Cruzeiro 8 x 0 Atlético Nacional de Medellin, da Colômbia, ele pela primeira vez em sua carreira marcou 5 gols em uma só partida. Assim, ao fim de 92 ele voltou a ser considerado o melhor atacante brasileiro em atividade, empilhando gols e jogadas mortais. Renato Gaúcho ficou exatamente um ano jogando com a camisa celeste. O sucesso em Minas fez que voltassem a querê-lo na Gávea, e o amor era intenso e mútuo, sendo prontamente correspondido, tendo no inverno de 93 ele acertado seu retorno ao Flamengo para sua terceira passagem pelo clube.

A proposta rubro-negra entusiasmou Renato Gaúcho, que ignorou as melhores ofertas feitas por Santos e pelo próprio Cruzeiro, e assim retornou à Gávea. Mas a terceira passagem do craque pelo Flamengo voltou a ser marcada por confusões e contratempos. Após estreia discreta em festivo amistoso contra o Cruzeiro e alguns poucos jogos (destacou-se na vitória contra o Nacional de Medellin, pela Libertadores, quando marcou o único gol do jogo ao roubar a bola do folclórico goleiro Higuita, que havia saído para driblar fora da área), Renato voltou a sofrer uma séria lesão no joelho, perdendo praticamente o primeiro semestre inteiro. Retornou na reta final do Estadual, mas acabou criticado pelo individualismo. Arrumou confusão com o centroavante Nílson, concorrente do amigo Gaúcho no time titular, a ponto de ambos - Renato e Nílson - baterem boca em público. O estopim foi uma partida contra o Itaperuna, que ia se arrastando em um empate (1-1) que praticamente eliminava o time do Estadual. Nos minutos finais, pênalti! Renato tomou a bola das mãos de Nílson (o cobrador oficial) e bateu, mas isolou a cobrança e as chances rubro-negras.

Alguns dias depois, já pelo Torneio Rio-São Paulo, Renato reclamou do posicionamento de Djalminha num jogo contra o Fluminense, que retrucou. A discussão dentro de campo se tornou áspera e degenerou uma troca de empurrões entre os dois. O incidente encerrou a passagem do garoto pelo Flamengo, enquanto Renato sofreu apenas uma punição leve. A partir dali, o filho do grande Djalma Dias, jovem camisa 10 que havia sido o grande nome da conquista da Copa São Paulo de Juniores (sub-20) em 1990, deixou a Gávea e foi brilhar fora do clube, primeiro no Guarani, e depois no Palmeiras e no Deportivo La Coruña.

No segundo semestre de 93, no Brasileiro e na Supercopa, Renato voltou a atuar em bom nível, formando uma perigosa dupla de ataque com Casagrande. O Flamengo cresceu e chegou às finais das duas competições. Mas as confusões e polêmicas não cessavam! Renato marcou vários gols importantes, mas cometeu um pênalti infantil contra o Vitória, na Fonte Nova, já pela Fase Final, lance que selou uma derrota decisiva e acendeu uma nova crise de relacionamento com um jovem da base, desta vez com o zagueiro Júnior Baiano. O Flamengo não resistiu aos problemas de convivência e ao estafante calendário, encerrando o ano de forma frustrante. Acabou Vice-campeão da Supercopa, perdendo a final para o São Paulo, de Telê Santana, que mais uma vez cruzava seu caminho.

Em 1994, Renato é negociado, transferindo-se para o Atlético Mineiro, seguindo de volta para Belo Horizonte. Assim como na passagem pelo rival Cruzeiro, a estadia na capital de Minas Gerais durou apenas um ano. Depois do Atlético, já sem a mesma credibilidade de outros tempos, chegou ao Fluminense em janeiro de 1995. Naquele ano era comemorado o Centenário do Flamengo e a diretoria rubro-negra, capitaneada pelo presidente Kléber Leite, fez várias contratações: na maior delas repatriou Romário, na maior transação da história do futebol brasileiro até então, adquirido ao Barcelona, da Espanha. A expectativa para aquele Campeonato Carioca era enorme.

Fluminense e Flamengo chegaram à última rodada do Octogonal Final como os únicos com chance de conquistar o título. Apesar de terminar o primeiro tempo em vantagem de 2 a 0, o time rubro-negro buscou o empate por 2 a 2 que lhe daria o título. Entretanto, aos 41 minutos do 2º tempo, Aílton fez boa jogada pela ponta e bateu para o gol, a bola escorou na barriga de Renato e tomou a direção do gol. Com o resultado de 3–2, o Fluminense foi Campeão Carioca de 1995. A jogada ficou eternizada como "o Gol de Barriga".

Ele ainda vestiria a camisa tricolor por mais dois anos depois do "gol de barriga". Até que voltou a se lesionar seriamente no joelho, acabando relegado a segundo plano nas Laranjeiras. Magoado, aceitou a oferta para tornar a vestir a camisa do Flamengo numa quarta passagem. Já veterano, o jogador estava visivelmente longe de suas melhores condições físicas. Agora atuando como homem de área, um "falso 9", mostrou instinto de goleador nos poucos momentos em que conseguiu entrar em campo, mas a experiência não durou muito tempo. Ele ainda viria a disputar o Campeonato Carioca de 1999 com a camisa do Bangu antes de encerrar definitivamente sua carreira como jogador de futebol.

Personagem sempre polêmico e irreverente, foi capaz de suscitar as mais exaltadas reações. A ele, podia-se idolatrar, admirar, odiar, rejeitar, mas Renato Portaluppi jamais teria convivido com a indiferença. Com seu temperamento sanguíneo e pulsante, soube cultivar em sua relação flamenga o mais visceral dos sentimentos, o mais ardente: a paixão. Pelas palavras de Renato Gaúcho em 1991, enquanto vestia a camisa alvi-negra do Botafogo: "A torcida do Flamengo é um espetáculo. Dá vontade de parar pra ficar olhando. Bem diferente da nossa".

Boêmio e fã incondicional das praias cariocas, Renato curiosamente nunca vestiu a camisa de nenhum clube de São Paulo como jogador, conquistando muitas vitórias e muitas polêmicas por Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Encerrada a carreira de jogador, entrava em cena o treinador Renato Portaluppi. O início da carreira de técnico foi todo ele no futebol do Rio de Janeiro. Entre 2002 e 2009 trabalhou quatro vezes no Fluminense e duas vezes no Vasco.

Mas a primeira experiência foi com o Madureira, no Campeonato Carioca de 2001. Em setembro de 2002, foi contratado pelo Fluminense, onde ficou até julho de 2003. Pouco depois voltou a assumir ao clube, sendo o técnico tricolor de outubro e dezembro de 2003. Ficou desempregado durante 2004. Em julho de 2005, foi contratado como técnico do Vasco da Gama que, em crise, estava na Zona do Rebaixamento. Apesar de momentos conturbados, como a goleada de 7 a 2 sofrida para o Atlético Paranaense, conseguiu evitar a queda à Série B, e seu trabalho recebeu muitos elogios. Em 2006, levou o Vasco a ser Vice-campeão da Copa do Brasil (perdendo a final para o Flamengo) e ao 6º lugar do Brasileirão. Acabou demitido, após quase dois anos a frente do clube, depois que ficou de fora das finais do Carioca de 2007. No 2º semestre de 2007, voltou ao Fluminense, e pelo segundo ano consecutivo chegou à final da Copa do Brasil. Na final, empatou com o Figueirense por 1 a 1 no Rio e venceu em Florianópolis por 1 a 0: Campeão da Copa do Brasil de 2007! O primeiro título da carreira do treinador Renato Portaluppi.

Um feito ainda maior terminou sem taça! Na Libertadores de 2008, o Fluminense de Renato Gaúcho eliminou nas quartas de final ao São Paulo, do técnico Muricy Ramalho, com um gol do atacante Washington nos acréscimos do segundo tempo e foi à semi-final, na qual superou ao Boca Juniors (empate por 2 a 2 em La Bombonera e vitória por 3 a 1 no Maracanã), classificando-se à Final da Libertadores contra a LDU, de Quito. Perdeu o primeiro jogo na altitude da capital equatoriana por 4 a 2 e venceu por 3 a 1 no Maracanã, perdendo o título nos pênaltis. Foi Vice-campeão da Libertadores da América de 2008.

Seguiram-se resultados negativos e Renato acabou demitido pelo Fluminense na madrugada de 11 de agosto de 2008. Um mês depois, acertou o seu retorno ao Vasco, mas a campanha não foi boa e os vascaínos acabaram rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro, sendo Renato demitido. Em 20 de julho de 2009, ele foi contratado de novo como treinador do Fluminense, onde ficou somente até 1º de setembro de 2009. Estes dois retumbantes fracassos consecutivos no Vasco e no Fluminense acabaram encerrando sua fase de treinador pelo Rio de Janeiro.

Em 13 de dezembro de 2009 ele seria anunciado como novo treinador do Bahia. Enfim, teria sua primeira oportunidade como técnico fora do Rio. Comandou o time no Campeonato Brasileiro da Série B de 2010. O Bahia estava em 6º lugar, fora da zona de classificação, quando, em 10 de agosto daquele ano, o Grêmio contratou-o. Em Porto Alegre, fez um trabalho excepcional: assumiu o time na Zona de Rebaixamento, mas alçou-o para o 4º lugar na classificação final, obtendo uma das vagas para a Libertadores de 2011. Ficou no clube gaúcho até 30 de junho de 2011. Seguiu-se uma rápida passagem pelo Atlético Paranaense, entre 4 de julho e 1º de setembro de 2011. Depois ficou dois anos parado. Em 1º de julho de 2013, acertou seu retorno ao Grêmio, onde foi Vice-campeão Brasileiro de 2013 e não teve o seu contrato renovado. Regressou ao Fluminense, pela 5ª vez, onde ficou de 24 de dezembro de 2013 a 2 de abril de 2014. Depois foram mais dois anos parado. Parecia que não haveria mais quem estivesse disposto a lhe dar uma oportunidade como treinador na elite do futebol brasileiro.

Entretanto, no dia 18 de setembro de 2016, ele acertou mais um retorno ao Grêmio, em sua 3ª passagem pelo clube como treinador. E desta vez para fazer o trabalho mais duradouro de um técnico no futebol brasileiro em muitas décadas. Foi Campeão da Copa do Brasil de 2016, dando fim a um jejum de 15 anos sem títulos nacionais do Grêmio. No ano seguinte, o grande momento da sua carreira como treinador: Campeão da Copa Libertadores da América de 2017, batendo ao Lanus, da Argentina, na final. Foi ainda Campeão da Recopa Sul-Americana de 2018, e Tri-Campeão Gaúcho em 2018, 2019 e 2020. Colocou ao Grêmio na semi-final da Libertadores por três edições consecutivas. Em 2018, acabou caindo para o River Plate, e em 2019 foi superado pelo Flamengo com uma acachapante goleada de 5 x 0 no Maracanã. Em ambas, caiu perante aquele que veio a ser o campeão.

Foram 4 anos e 7 meses a frente do Grêmio. Em 15 de abril de 2021 acabou demitido, após uma eliminação precoce na Libertadores. No curriculum, três títulos do Estadual, um de Copa do Brasil e uma Libertadores. Muitas vezes durante este tempo a frente do tricolor gaúcho, deu sinais de que sonhava em se tornar o treinador do Flamengo. Sempre polêmico e falastrão, muitas vezes durante 2019 deu declarações minimizando o excepcional desempenho do português Jorge Jesus a frente do Flamengo, afirmando que qualquer treinador venceria com um time tão caro nas mãos, o mérito era do time, não do técnico.

Em 10 de julho de 2021, três meses após a saída do Grêmio, Renato Gaúcho é contratado como técnico do Flamengo para substituir a Rogério Ceni. O Flamengo era o bi-campeão brasileiro e tinha o elenco mais caro do Brasil, era hora de Renato provar suas virtudes. O início foi avassalador! A estreia foi pelas oitavas de final da Libertadores com uma vitória por 1 a 0 sobre o Defensa y Justicia, na Argentina. Depois se seguiram goleadas: 5 x 0 no Bahia, 4 x 1 no Defensa y Justicia no jogo de volta, 5 x 1 no São Paulo e 6 x 0 no ABC, de Natal, pela Copa do Brasil. No total, foram 7 vitórias consecutivas em seus sete primeiros jogos. Pelas quartas de final da Libertadores, ainda aplicou duas goleadas sobre o Olimpia, 4 a 1 na ida, no Paraguai, e 5 a 1 na volta, no Maracanã. O time, voando, ainda meteu dois 4 a 0, em Santos e Grêmio. Nos 16 primeiros jogos, 14 vitórias, 1 empate e 1 derrota. Lembrava o Flamengo de Jorge Jesus! Mas com uma maratona de jogos, o time caiu de produção. Terminou a temporada como Vice-campeão Brasileiro e da Libertadores. Após a derrota para o Palmeiras, na final continental, foi demitido. Saiu com um impressionante desempenho de 73% dos pontos disputados, melhor do que as de Domenec Torrent e de Rogério Ceni na campanha que levou ao título do Brasileirão de 2020. Em 38 jogos, foram 25 vitórias, 8 empates e só 5 derrotas. Mas não foi campeão, com um time quase igual ao que Jorge Jesus tinha à sua disposição. E aí seu falastronismo de tempos de Grêmio cobrou sua conta. Após apenas quatro meses e meio, seu sonho de treinar o Flamengo chegou ao fim.



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