Depois de passar alguns anos com um volume de investimento bem baixo no time de basquete, o Flamengo voltou a apostar na montagem de um projeto maior a partir de 1994, o qual seria capitaneado por Miguel Ângelo da Luz, treinador que havia sido Campeão Mundial com a Seleção Brasileira Feminina naquele ano de 1994. O ex-jogador do Vasco em fins dos Anos 1970 e início dos Anos 1980, estava trabalhando no Olaria quando foi convidado para assumir à Seleção Feminina. Era uma história no mínimo curiosa, porque na História da Seleção Brasileira Masculina todos os grandes títulos haviam sido conquistados sobre o comando de técnicos de basquete do Rio de Janeiro, como foi com Kanela quando o Brasil foi Campeão Mundial de 1959 e 1963, assim como foi Vice-campeão Mundial em 1970, e nas Medalhas de Bronze nas Olimpíadas de 1960 e 1964; e com Ary Vidal na conquista da Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987 (a exceção, é justo mencionar, foi a conquista da Medalha de Bronze nas Olimpíadas de 1948, quando o técnico era o paulista Moacyr Daiuto). Pois bem, no basquete feminino, a Seleção Brasileira vinha desde os Anos 1980 com uma geração fantástica, com Hortência Marcari, Magic Paula e Janeth Arcain, mas que sob treinadores paulistas não conquistava grandes títulos (embora tenha sido Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1991, não tinha grande sorte em Mundiais e Olimpíadas. Pois bem, quando foi anunciado o pouco conhecido Miguel Ângelo como novo treinador, a gritaria foi enorme, um nome sem experiência no feminino e oriundo do menos desenvolvido basquete carioca. Mas não é que foi sob seu comando que aquele fantástico time de mulheres foi Campeão Mundial em 1994 e Medalha de Bronze em 1996 (eternamente, sempre foi minimizada a sua importância nestas conquistas, pois "a geração já estava madura", mas o fato é que mundialmente não havia conseguido nenhum resultado expressivo até então.
Isto tudo para introduzir o nome em torno do qual giraria o novo projeto de basquete rubro-negro, com um treinador que até então não tinha laços fortes na Gávea. A montagem do elenco girou em volta de uma geração de jovens que havia despontado na base rubro-negra na segunda metade da década de 80, que contava para o jogo de perímetro com Alberto, Bento e Marx, e para o jogo de garrafão com Marcelão e Gema, este último o único deles que havia conseguido projeção no basquete paulista, e que acumulava convocação pra disputar Campeonato Sul-Americano pela Seleção Brasileira. Para fortalecer ao projeto, foi contratado também Carlos Henrique Nascimento, o Olívia, irmão mais velho de Carlos Alexandre Nascimento, o Olivinha, o "Deus da Raça", jogador que viria a ser um ícone do basquete rubro-negro nos Anos 2010. O pivô Olívia havia sido formado pelo Sírio, clube da capital paulista, de onde migrou para a Gávea, e já acumulava passagens pela Seleção Brasileira junto a Gema na disputa do Campeonato Sul-Americano. Outro nome que regressava à Gávea era o ala Almir Gerônimo, um jogador que tinha grande identidade com a torcida pela raça e pela entrega dentro de quadra após passagem de sucesso pelo Rio Claro, do interior paulista, e, sobretudo junto a Ary Vidal e a outro velho conhecido dos flamenguistas, o armador João Baptista, no time do Corinthians de Santa Cruz do Sul, campeão brasileiro em 1994. De resto, para dar mais poder ao time, a cada temporada foram contratados alguns norte-americanos. Este era o projeto do FlaBasquete para voltar a crescer.
Nos três anos do Tri-campeonato Carioca conquistado em 1994-1995-1996, o adversário na final foi o Tijuca Tênis Clube. Em 1994, a série final, jogada no Ginásio do Grajaú Country Clube, foi vencida pelo Flamengo por 3-0, com vitórias por 98 x 93, 102 x 91 e 105 x 80. A equipe tijucana tinha aos norte-americanos Devon Lake e Anthony White, além de três jogadores que haviam passado pela Gávea, que eram Mauro, Carlão Ostermann e Zé Mauro, e mais a principal estrela do basquete carioca na primeira metade dos Anos 1990, o ala Alexey, revelado pelo Vasco.
Em 1995, o time rubro-negro ficou ainda mais dominante no basquete da cidade quando contratou como reforço justamente a Alexey, que era o melhor jogador carioca de basquete naquela geração. A final foi novamente contra o Tijuca Tênis Clube, e mais uma vez disputada no Ginásio do Grajaú Country Clube. No time tijucano, agora treinado por Emmanuel Bonfim, estavam os jovens Marcelinho Machado e Léo Figueiró, além de nomes experientes no cenário carioca, como André Guimarães, Carlão Ostermann e Orelha. O time rubro-negro fechou a série vencida por 3-0 com uma vitória por 69 x 66.
Para o Campeonato Carioca de 1996, o investimento aumentou, com a formação do garrafão formado por Olívia e Gema, e com a contratação de dois norte-americanos que havia tido maior destaque no cenário nacional. Um deles, contratado ao Corinthians de Santa Cruz do Sul, onde foi campeão brasileiro de 94, regressava à Gávea, onde já havia estado naquele mesmo ano de 1994: Alvin Fredericks. O outro era Brent Merrit, que havia se destacado no Campeonato Paulista com o time do Guaru, da cidade de Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista. Após passar pelo Fluminense, do técnico Alberto Bial, na semi-final por 3-1 - com Brent fazendo 38 pontos na primeira partida, 36 na segunda, 22 na terceira, e 29 na última - o time voltou a enfrentar, pelo terceiro ano consecutivo, ao Tijuca Tênis Clube - de Marcelinho Machado, Espiga e Marcionílio, e do técnico Emmanuel Bonfim - na decisão do campeonato. A série final foi disputada no Maracanãzinho e atraiu bons públicos. O Flamengo venceu por 3-0, com vitórias por 96 x 87 (28 pontos de Brent e 22 de Alvin), 85 x 72 (31 pontos de Alvin, e só 10 de Brent), e 96 x 95 (partida na qual só conseguiu passar a frente no marcador quando faltavam 1 minuto e 45 segundos para o fim do jogo, e com Alvin marcando 31 pontos e Brent anotando 28, de forma que os dois norte-americanos somaram 59 dos 96 pontos rubro-negros na noite). Mengão Tri-Campeão Carioca!
1994 - Campeão Carioca
Time: Alberto, Almir Gerônimo, Alvin Fredericks, Johnny Walker e Marcelão
Téc: Miguel Ângelo da Luz
Sexto jogador: Marx
1995 - Bi-campeão Carioca
Time: Alberto, Bento, Derrick Johnson, Alexey e Leon Jones
Téc: Miguel Ângelo da Luz
Sexto jogador: Olívia
1996 - Tri-campeão Carioca
Time: Alberto, Brent Merrit, Alvin Fredericks, Gema e Olívia
Téc: Miguel Ângelo da Luz
Sexto jogador: Bento
Foi com estas equipes que o Flamengo voltou ao cenário nacional do basquete. Regressou para a disputa do Campeonato de 1995. Naquele ano o torneio foi disputado por 21 clubes, que foram divididos em dois grupos, um com 10 e outro com 11 (o rubro-negro). Todos se enfrentavam em turno e returno, com os oito primeiros colocados avançando à fase de mata-mata a partir das oitavas de final. O time terminou em 5º lugar, avançando atrás dos quatro paulistas mais fortes do grupo - CESP/Rio Claro, Palmeiras, SABESP/Franca e Nosso Clube de Limeira - e a frente dos também paulistas Sírio e Telesp, e do Akros/Joinville, de Santa Catarina, do Tijuca Tênis Clube, do Ponta Grossa, do Paraná, e do Uberlândia, de Minas Gerais. Na 1ª fase, em 20 jogos, venceu 11 e perdeu 9. Nas oitavas, acabou eliminado pelo gaúcho Corinthians de Santa Cruz do Sul. Depois de perder a primeira partida no Rio por 106 x 110, não teve forçar para reagir, perdendo a série por 3-0.
1995 - 12º lugar na Liga Nacional
Time: Alberto, Almir Gerônimo, Alvin Fredericks, Johnny Walker e Marcelão
Téc: Miguel Ângelo da Luz
Banco: Bento
Para a temporada de 1996, o time chegou mais fortalecido, e fez uma campanha melhor. O modelo de disputa mudou, e o torneio reuniu a 12 clubes na Fase Regular, sem divisão de grupos e se enfrentando em ida e volta para definir os oito classificados que avançavam às quartas de final. Entre os oito primeiros colocados ao fim da 1ª fase, apenas dois não eram paulistas, o Corinthians de Santa Cruz do Sul, que terminou em 3º lugar, e o Flamengo, que terminou em 5º lugar. Tendo em 22 jogos, obtido 13 vitórias e 9 derrotas, o time rubro-negro terminou atrás também do Corinthians paulista, de Oscar Schmidt, do Rio Claro e do Franca, e conseguindo ficar a frente de Mogi, Guaru e Nosso Clube de Limeira. Foram eliminados nesta primeira fase as equipes mineiras do Ginástico e do Minas Tênis Clube, a catarinense do Joinville, e a paranaense do Ponta Grossa. A maior atuação rubro-negra nesta primeira fase foi na vitória, em casa, por 96 x 90 sobre o Corinthians, de Oscar, que viria a ser o campeão daquela edição. A missão rubro-negra nas quartas de final, em melhor de três jogos, era dificílima, contra a equipe da COSESP/Franca. Com muito suor, o time rubro-negro conseguiu superar aos francanos no primeiro jogo no Rio de Janeiro, vencendo por 91 x 90, mas depois foi duas vezes derrotado no Ginásio Pedrocão, por 97 x 106 e 106 x 111, dando adeus à competição, mas no saldo com uma muito boa participação.
1996 - 5º lugar na Liga Nacional
Time: Alberto, Anray Stewart, Alexey, Olívia e Leon Jones
Téc: Miguel Ângelo da Luz
Banco: Bento, Joel Vicari e Marcelão
A partir deste trabalho, o Flamengo engrenou a uma sequência de boas participações visando uma evolução que o permitisse aspirar ao título brasileiro de basquete, figurando na parte de cima da tabela constantemente entre 1997 e 2004.
Tenho 66 anos e acompanhei muito um time do FLAMENGO que tinha: GABRIEL-PEDRINHO-MARCELO COCADA-MONTENEGRO e PEDRÃO, o treinador era Kanela. Esse time foi campeão da TAÇA GERDAL BÔSCOLI em 1968.
ResponderExcluirGostaria muito de ver uma publicação á respeito.
Obrigado.
Ademir,
ResponderExcluirVou tentar investigar e atender seu pedido. Mas desde já, posso te dar a lista de todos os campeões da Taça Gerdal Bôscoli:
- 1964 a 1968: Vasco Penta-campeão
- 1969: Flamengo Campeão
- 1970: Fluminense Campeão
- 1971: Vasco Campeão
- 1972 a 1974: Fluminense Tri-Campeão
- 1975 e 1976: Flamengo Bi-campeão
- 1975 e 1976: Vasco Bi-campeão