Na América Hispânica, no basquete, o termo usado para jogadores estrangeiros é "importados". O primeiro estrangeiro a vestir a camisa de basquete rubro-negra foi o francês Robert Zagury em 1957 e 1958 (jogou o Campeonato Carioca de 1957, que se encerrou somente em março de 1958). De nacionalidade francesa, ele realmente nasceu em Casablanca, no Marrocos, e foi titular da Seleção da França que jogou o Campeonato Mundial de 1954 no Rio de Janeiro. Envolveu-se num relacionamento amoroso com uma brasileira, que lhe encurtaram os caminhos para que voltasse ao Rio em 1957 para vestir vermelho e preto.
Na última página (a de nº 12) do Jornal dos Sports, 1º de outubro de 1957, a página onde sempre saíam as notícias do basquete do Rio de Janeiro, estava a manchete "Francês no Flamengo: Bob Zagury transferiu-se do Paris Universite Club" estando assim narrado: "Robert Zagury com 27 anos de idade e natural de Paris (...) já deu entrada na FMB (Federação Metropolitana de Basketball) a favor do Hexacampeão (Carioca) (...) segundo opinião de quem já o viu atuar, o novo elemento rubro-negro tem qualidades para brilhar".
Narrava a edição do Jornal dos Sports de 27 de outubro sob o título "Com uma vitória do Flamengo, o reinício do certame, apenas um jogo completando a sexta rodada do turno": "derrotado o Tijuca por 75 x 47, com a estréia do scratchman francês Robert Zagury", após 35-19 no 1º tempo, estando assim descrita a pontuação rubro-negra no jogo: Algodão (10), Otto (29), Willi (12), Godinho (10), Wálter (2), Fernando (6), Alfredo (0), Roberto (6) e Zeca (0).
Em 15 de março de 1958, estava na página 12 do Jornal dos Sports: "Vitória de Campeão a do Flamengo, a brilhante campanha dos basketballers rubro-negros, consagrando-se como Heptacampeões da cidade; o Vasco da Gama não conseguiu evitar a derrota pelo marcador de 83 x 66 (...) estiveram em noite inspirada, principalmente o gigantesco pivot Otto. Também Algodão, Fernando e Willy repetiram as suas destacadas e habituais performances, bem coadjuvadas por Coqueiro, Godinho, o francês Zagury, Válter e Zeca".
Para fechar, o Jornal dos Sports narrava que dos 17 jogadores que atuaram, somente 9 vão ser considerados campeões pela FMB, por terem participado de pelo menos a metade dos jogos da campanha: Otto, Algodão, Godinho, Zé Coqueiro, Willi, Wálter, Fernando, Zeca e Alfredo. Zagury atuou em apenas 4 partidas, não entrando na lista de campeões oficiais considerada pela Federação Metropolitana.
O investimento mais agressivo nos "importados", no entanto, só aconteceu depois que o Flamengo viveu seu maior jejum de títulos em sua história no basquete carioca, ao ficar sem ser campeão entre 1964 e 1975, a série mais longa da história do clube sem títulos nesta modalidade. No início dos Anos 1970, o Flamengo tentou pela primeira vez importar norte-americanos.
Abaixo, um registro fotográfico da passagem dos primeiros americanos pela Gávea. Na foto abaixo, de 1974, aparecem o supervisor Kanela, o técnico Marcelo Cocada, e os norte-americanos, com seus cabelos “black powers”, estão de pé ao lado deles. Da esquerda para a direita: George Thompson é o primeiro, com a camisa 8, depois com a camisa 11 está Erick McWilliams, e com o camisa 9 está James Lee.
São muito raros os registros da passagem destes estrangeiros. Paulo Murilo, em artigo publicado em 14 de setembro de 2004 em seu blog “Basquete Brasil”, sob o título “Vícios de nosso cotidiano", narra uma interessantíssima história desta experiência. Ele, Paulo Murilo, era então técnico do time juvenil do Flamengo. Eis a história: "Quando treinava a grande equipe juvenil do Flamengo de 1965, com Peixotinho, Gabriel, Pedrinho, Robertinho, todos com passagem posterior pela Seleção Brasileira, o grande Togo Renan Soares, Kanela, fazia questão que após o treino de sua categoria participassem também do treino da primeira divisão, preparando-os para assumirem a equipe no futuro. Nesta equipe havia dois norte-americanos, que pouco ou nada entendiam do português. Num destes treinos comandado pelo assistente do velho Togo, eu me deparei, vindo do vestiário, com a seguinte cena: pedia-se ao Pedrinho ou ao Peixotinho que comandasse as jogadas com ordens em inglês para o entendimento dos norte-americanos. Intervi de imediato, já que eram jogadores da minha equipe, e fiz ver a todos que o correto era que eles, os norte-americanos, procurassem entender o nosso idioma pois estavam participando de uma equipe brasileira. Após um breve mal-entendido com o assistente, eis que um dos norte-americanos se aproximou e disse arrastando nossa lingua: ‘Coach, o senhor ter razão!’, e nada mais foi discutido".
Já havia sido feita uma tentativa no Flamengo com norte-americanos em 1973, no mesmo ano no qual, no primeiro semestre, durante a Taça Brasil que acabou sendo conquistada pelo Vila Nova, houve uma enorme polêmica com a utilização de estrangeiros pelo time do Palmeiras, que contou nesta competição com dois norte-americanos e dois argentinos, para protestos generalizados dos adversários.
A moda chegou rápido à Gávea. Ainda em 1973 o Flamengo aderiu a ela. Naquela temporada, o clube tentava quebrar seu jejum de títulos, e queria se reforçar depois de ter perdido a Gabriel, que era o principal nome do basquete rubro-negro em fins dos Anos 1960 e começo dos Anos 1970. Foi contratado para ser o principal nome do time a Fioravante, um dos destaques da equipe então campeã carioca e hegemônica no basquete do Rio de Janeiro, o Fluminense. Adicionalmente, contratou também ao norte-americano Charles Bush. Ambos chegavam para rechear um time que tinha a Pedrinho Ferrer, Montenegro e Érico. Ainda assim, mais uma vez o título escapou, seguindo de novo para as Laranjeiras.
Em 1974, a aposta foi ainda mais ousada, com a contratação de três norte-americanos de uma vez, os já citados Thompson, Lee e McWilliams. A Confederação Brasileira de Desportos decidiu então intervir e definir que cada equipe não poderia ter mais do que um jogador estrangeiro. Com isso, decidiu-se que apnas Thompson continuaria na Gávea, tendo Erick McWilliams regressado aos EUA, e James Lee ido defender às cores da camisa do clube Mackenzie, do Méier, com quem disputou o Campeonato Carioca. Já George Thmpson seguiu por alguns anos na Gávea, onde permaneu até o fim de 1978, tendo seguido carreira então no Clube Municipal, da Tijuca, ao qual defendeu no Carioca de 1979. Thompson foi um dos destaques do time rubro-negro quando o Flamengo consegiu voltar a levantar um troféu, no Carioca de 1975, dando fim a seu jejum de títulos.
No Carioca de 75, o Flamengo venceu os dois turnos, conquistando automaticamente o título do Carioca. Em ambos os turnos venceu ao Vasco nas partidas decisivas disputadas no Maracanãzinho. No 1º turno, com uma vitória por 84 x 81, e no 2º turno superando ao Vasco por 74 x 66. Depois de 11 anos, o Flamengo era novamente o Campeão Carioca de Basquete diante de um público de 2.482 pagantes no ginásio, que viram Sérgio Maracarrão, com 18 pontos, e Thompson, com 17 tentos, lideraram a conquista em quadra. Dois anos depois, o time rubro-negro voltaria a se sagrar campeão sobre o Vasco, desta vez com uma vitória por 78 x 68 no Maracanãzinho, mas sem que o norte-americano ainda tiesse energia para estar entre os líderes da pontuação rubro-negra (ainda que tenha marcado 11 pontos nesta noite decisiva).
1975 - Campeão Carioca
Time: Peixotinho, Pedrinho Ferrer, George Thompson, Rogério e Sérgio Macarrão
Téc: Tude Sobrinho
Banco: Alberto Bial e Jorge Maravilha
1977 - Campeão Carioca
Time: Peixotinho, Zezé, George Thompson, Charuto e Paulão Abdalla
Time: Peixotinho, Zezé, George Thompson, Charuto e Paulão Abdalla
Téc: Waldyr Boccardo
Banco: Márvio, Pedrinho Ferrer e Rogério
O processo de contar com jogadores norte-americanos ou de outras nacionalidades era ainda incipiente no Brasil; a nível nacional mesmo as experiências com importados ainda eram pontuais. O primeiro estrangeiro a se sagrar campeão nacional foi o norte-americano Albert de Witt, com o time do Palmeiras em 1977, exatamente em cima do Flamengo. Nos campeonatos seguintes, quando o Sírio sagrou-se bi-campeão brasileiro em 1978 e 79, sua equipe também tinha importados, a dupla Larry Dyal e Mike Daugherty. Daí para frente a quantidade de estrangeiros cresceu. E a porta se abriu não só para jogadores vindos dos Estados Unidos. Nos anos 80, jogaram por equipes brasileiras os argentinos Germán Filloy (por Sirio e Flamengo), Camissasa (pelo Corinthians), Aguirre (pelo Palmeiras) e Luis González (por Franca), além do panamenho Mario Butler, que jogou no Corinthians.
Embora não tenha dado certo na largada, a história do basquete rubro-negro foi recheada de talentos estrangeiros. Entre os muitos que passaram sob o manto vermelho e preto, os nomes que mais se destacaram foram os argentinos Germán Filloy, Federico Kammerichs, Nico Laprovittola e Franco Balbi, os dominicanos Héctor Muñoz e Victor Chacón; os norte-americanos Rocky Smith, John Flowers, Morgan Taylor, Alvin Fredericks, Brent Merrit, Leon Jones, Marc Brown, Ken Redfield, Askia Jones, Steve Worthy, Kendrick Warren, Robyn Davis e David Jackson; o canadense Greg Newton e o cubano Amiel Vega".
DESCULPE,O GABRIEL NÃO ESTÁ NA FOTO. E OS DOIS AMERICANOS NA VERDADE SÃO 3,Á SABER: O PRIMEIRO(CAMISA 8 É GEORGE THOMPSON, O SEGUNDO (CAMISA 11) É ERICK McWILLIANS, E O TERCEIRO (CAMISA 9) É JAMES LEE.
ResponderExcluirAdemir,
ResponderExcluirAlguma desconfiança de quando seria esta foto? De que ano?
O Gabriel não é o camisa 5? Não é ele no começo da carreira?
SRN. Marcel
Gostaria de receber a foto do Morgan Taylor - Basquete do Flamengo 1989- é possível?
ResponderExcluirEmail:astrid.lins@yahoo.com.br
Astrid,
ExcluirNão tenho nenhum registro de imagem do Morgan Taylor.