Foi uma atuação implacável. Um primeiro tempo surpreendente e arrasador. O Botafogo entrava como grande favorito na final do Campeonato Brasileiro de 1992. Em pouco menos de 40 minutos, desmoronou este favoritismo. Com gols de Júnior, Gaúcho e Nélio, o Mengão atropelou os alvi-negros. A torcida foi para casa se dando como campeã. A tarefa ainda foi facilitada com a demissão de Renato Gaúcho, principal jogador do time, pela diretoria do Botafogo. Depois do jogo, ele ofereceu um churrasco a Gaúcho, centroavante do Flamengo, e seu melhor amigo, com a presença de outros ex-companheiros em seus tempos de Flamengo. A dretoria achou intolerável e ele nunca mais vestiu a camisa do Botafogo. No domingo seguinte, o Flamengo abrui 1 a 0 no primeiro tempo, com Júnior, e no início do segundo, ampliou com Júlio César. O Botafogo ainda empatou, com dois pênaltes inventados pelo árbitro. Mengão, Pentacampeão do Brasil!!!!!
Ficha Técnica
12/07/1992 - Flamengo 3 x 0 Botafogo
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 102.547 pagantes)
Gols: Júnior (15'1T), Nélio (34'1T) e Gaúcho (38'1T)
Fla: Gilmar, Fabinho, Wilson Gottardo, Júnior Baiano e Piá; Uidemar, Júnior, Nélio (Paulo Nunes (Marcelinho Carioca)) e Zinho; Júlio César e Gaúcho
Téc: Carlinhos
Botafogo: Ricardo Cruz, Odemilson, Válber, Márcio Santos e Renê Playboy; Carlos Alberto Santos, Pingo e Carlos Alberto Dias; Renato Gaúcho, Pichetti (Vivinho) e Valdeir.
Téc: Gil
A História do Jogo
Mais uma vez o Flamengo chegava a uma final de Campeonato Brasileiro sem ser considerado favorito. O jovem time rubro-negro terminou a 1ª Fase com a 4ª colocação, atrás do líder Vasco da Gama, do vice-líder Botafogo, e do Bragantino. Avançou entre os oito classificados, que foram divididos em dois grupos de quatro, dos quais os vencedores fariam a final. O grupo rubro-negro ainda tinha a Vasco, São Paulo e Santos. Todos os prognósticos apostavam no time vascaíno, com seu poderoso ataque formado por Edmundo e Bebeto, como favorito para avançar. Pois o Flamengo ficou com a vaga.
O Botafogo confirmou o seu favoritismo no outro grupo e se habilitou para decidir o título frente ao time de garotos comandados por Júnior, o Maestro, já então com 38 anos. O time rubro-negro contava com 8 jogadores que tinham conquistado o título da Copa São Paulo de Juniores de 1990, principal competição Sub-20 do futebol brasileiro na época. Entre os titulares naquela tarde, Fabinho, Júnior Baiano, Piá e Nélio participaram da campanha dois anos antes, e entre os que estavam no banco de reservas, Marquinhos, Marcelinho, Djalminha e Paulo Nunes também foram campeões.
Assim, na final, mais uma vez, todo o favoritismo era dado ao adversário. Ainda mais porque o regulamento dava ao Botafogo a vantagem de obter dois resultados iguais para se sagrar campeão brasileiro. A expectativa, no entanto, ruiu por terra em apenas quarenta e cinco minutos, pois com uma atuação de gala, o time rubro-negro colocou um 3 a 0 logo no 1º tempo, naquela tarde de domingo, 12 de julho de 1992, e praticamente sacramentou a conquista do título. No dia seguinte, o Jornal dos Sports abria seu relato do jogo falando: "O Flamengo já deve ter mandado confeccionar as faixas para festejar o quinto título brasileiro. A vitória por 3 a 0 sobre o Botafogo deixou o time rubro-negro em ótima situação para ser campeão". No entanto, algumas páginas mais a frente no mesmo jornal, o título em letras garrafais chamava a atenção no alto da página: "Mengão proíbe comemorações", trazendo palavras de Júnior: "o momento exige aplicação e muito cuidado dentro e fora de campo".
Desde o começo da partida a superioridade em campo do Flamengo ficou nítida. O time rubro-negro atuava desfalcado do lateral-direito titular Charles Guerreira, e entrou em campo deslocando, como sempre fazia, o cabeça de área Fabinho para executar a função pelo lado direito do campo. E para ganhar o meio de campo, o técnico Carlinhos lançou o goiano Júlio César, um meia-atacante que jogava mais fechando o meio de campo do que no ataque, pressionando a defesa adversária. O meio de campo rubro-negro se sobrepovoou, com Uidemar mais recuado, fazendo o "trabalho sujo" na contenção, dando liberdade ao Maestro Júnior para que se movimentasse por trás de uma linha de frente na qual Júlio César, Zinho e Nélio davam o primeiro combate à saída de bola adversária, com constantes inversões de posição pelo lado esquerdo entre Nélio e Zinho. Com esta formação, Carlinhos ganhou o meio de campo, matou a articulação ofensiva do adversário, dominou a troca de passes no setor, e foi construindo gols uns em sequência dos outros. O Botafogo parecia até que estava com menos homens em campo desde a saída de bola. O meio de campo alvi-negro era completamente envolvido pelo rubro-negro.
Aos nove minutos, o time botafoguense ainda conseguiu chegar com perigo, Renato Gaúcho lançou Valdeir em profundida, mas Gilnar conseguiu se antecipar, sair do gol, e fazer a defesa. Um minuto depois, Júnior deu uma sequência de dribles desconcertantes no ponta Renato no meio da intermediária de defesa rubro-negra, incendiando as arquibancadas, que já tinham iniciado a partida animadas, e a partir dali se inflamaram ainda mais. Era o início da festa rubro-negra, pois quatro minutos depois, quando o relógio assinalava quatorze minutos do primeiro tempo, Zinho avançou pelo lado esquerdo de ataque e tocou para o lateral Piá, que passava em velocidade às suas costas, que tocou para o meio, rasteiro, o centroavante Gaúcho fez um conta-luz, a zaga alvi-negra se desorientou, e a bola encontrou os pés de Júnior, que disparou ao gol sem qualquer chance de defesa para Ricardo Cruz: Flamengo 1 a 0!
O Botafogo partiu para pressionar pelo empate, e o time rubro-negro, ainda dono do meio de campo, soube se aproveitar. Aos trinta e três minutos, Fabinho roubou uma bola e fez um lançamento em profundidade para Nélio, o "Marreco", que partiu em velocidade desde antes da linha do meio de campo. O meia, que na campanha do título da Copinha Sub-20 de dois anos antes era o centroavante do time, mostrou seu senso de goleador. Era penetrou em direção à área, perseguido pelos zagueiros do Botafogo, esperou a saída do goleiro, e tocou entre as pernas dele, a bola foi mansa, como se estivesse rolando numa mesa de sinuca, até encontrar a rede do gol: Flamengo 2 a 0!
Com os botafoguenses completamente atordoados, o time rubro-negro aproveitou para mandar o adversário direto à lona: pois quatro minutos depois, numa jogada de almanaque, a bola chegou limpa a Piá na ponta-esquerda, e ele, num dia no qual teve uma atuação majestosa, cruzou com perfeição para a pequena área, na primeira trave; Ricardo Cruz tentou sair e cortar, mas Gaúcho se antecipou e fez aquilo que fazia de melhor, uma testada fulminante para dentro do gol: Flamengo 3 a 0! O Maracanã explodia! Aos 38 minutos do 1º tempo, a fatura já parecia que podia ser dada como liquidada.
O técnico alvi-negro mexeu no intervalo, lançando o rápido Vivinho no lugar de Pichetti, que havia sido o escolhido para substituir o titular Chicão, ausente naquela tarde. Com a rapidez de uma dupla de ataque formada por Vivinho e Valdeir, o Botafogo cresceu no jogo, e passou a ameaçar mais. Mas o time acabou derrubado por seus nervos. O zagueiro Márcio Santos - aquele que dois anos depois seria o titular da Seleção Brasileira na conquista da Copa do Mundo de 1994 - apelou com uma primeira falta dura, para matar uma chance de contra-ataque rubro-negro, e recebeu o cartão amarelo. Alguns minutos depois, aos dezessete minutos, ele fez falta dura em Júlio César na entrada da área, recebeu o segundo cartão amarelo e foi assim automaticamente expulso de campo. Mesmo após este cartão vermelho, no entanto, o Botafogo não diminuiu a intensidade e passou a estar melhor no jogo. Mas criou muito poucas chances de gol efetivamente.
Teve uma grande oportunidade aos vinte e quatro minutos, quando seu camisa 10, Carlos Alberto Dias, recebeu passe perfeito de Valdeir quase sobre a linha da pequena área. Eles estava frente a frente a um Gilmar que quase nada teria o que fazer naquela oportunidade, mas Dias isolou para longe das traves. Dois minutos depois, uma penetração de Valdeir e um chute a gol que, este sim saiu com mais perigo, passando rente à trave. Mas foi só. Administrando o resultado no segundo tempo, o Flamengo construiu uma enorme vantagem para a segunda partida da decisão, na qual poderia perder por até dois gols de diferença que ainda seria o campeão.
Para o segundo jogo, o Flamengo teria a volta de Charles, entretanto perdeu Nélio, com uma entorse no joelho, garantindo a manutenção de Fabinho entre os onze que iriam a campo. Do lado botafoguense, haveria a volta de Chicão, mas por outro lado, a diretoria ficou revoltada com Renato Gaúcho, que no seguinte à vitória neste primeiro jogo, pagou um churrasco ao amigo Gaúcho, com quem havia feito uma aposta, e decidiu expulsá-lo do clube, tendo esta sido a última vez na qual ele vestiu a camisa alvi-negra.
Geralmente, o normal é que um jogo histórico, numa final de campeonato, seja aquele no qual efetivamente é sacramentada a conquista. Porém, naquela final de 1992 não foi assim. O momento mais marcante, guardado para a história, foram os primeiros 45 minutos de jogo. Um momento épico. Com enorme vantagem, no segundo jogo o Flamengo ainda saiu na frente, com um gol de falta de Júnior logo no começo da partida que praticamente liquidava a fatura. No início do segundo tempo, Júlio César ainda ampliou. No fim, o árbitro ainda inventou dois pênaltis para o Botafogo, um convertido e outro desperdiçado, que só serviram para impedir duas vitórias rubro-negras na final. O jogo terminou empatado em 2 a 2, e o título foi rubro-negro. Mengão, Penta-Campeão Brasileiro de Futebol. Era a quinta conquista rubro-negra em treze edições disputadas entre 1980 e 1992, período no qual o São Paulo, com duas conquistas, foi o único outro clube a ter vencido mais de uma vez (Grêmio, Fluminense, Coritiba, Bahia, Vasco e Corinthians faturaram uma vez cada). Um grande encerramento para uma época de ouro da história do Flamengo!
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