O mundo dá voltas e voltas e os problemas que não são resolvidos no passado, cedo ou tarde, vão te atormentar de novo. Ainda mais no Brasil, um país com baixo comprometimento com a eficiência e a qualidade.
Foi exatamente a 21 anos atrás que o futebol do Rio de Janeiro passou por situação praticamente igual à vivida neste começo de 2014. Grande parte das pessoas sequer sabe ou certamente nem se lembra. Vamos relembrar a história.
Em 1992, na final do Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Botafogo, a grade da arquibancada caiu, pessoas morreram e o estádio foi interditado, ficando fechado por meses para reformas.
Em 1993, as únicas opções de estádio eram São Januário e Caio Martins, em Niterói. O futebol carioca passou a conviver com públicos baixíssimos, muitas vezes inferiores a mil pessoas, e os caixas dos clubes naturalmente sentiram. Consequência: resolveram fuçar os borderôs e descobriram o óbvio, os grandes clubes sustentam a FERJ e os pequenos, e o clientelismo assentado dentro da Federação do Rio não dá margem de manobra, os pequenos tem mais poder de voto e elegem o presidente da FERJ, que está preocupado em zelar por seu curral eleitoral e não está nem um pouco interessado nos grandes, porque o sistema político de stutus quo garante que a FERJ seguirá ganhando com eles, estejam bem financeiramente ou não, e isto lhes basta. Ao mesmo tempo, é o curral eleitoral das federações estaduais que elege o presidente da CBF, e a lógica coronelista se repete, pois esta sobreviverá sustentada indiretamente pelos clubes, estejam eles financeiramente bem ou não. É uma situação de sindicato ou conselhos, não precisam se preocupar com produtividade ou eficiência, o dinheiro pingará igual no fim do mês igual.
Em 1993, esta situação levou à mesma revolta. Flamengo, Fluminense e Botafogo se uniram, aproximaram-se de Atlético e Cruzeiro e ameaçaram fazer uma Liga Rio-Minas e dar uma banana para os Estaduais, formando um torneio interestadual com 10 times. O burburinho foi imenso. Na época, a imprensa fuçou tudo na FERJ, os jornais publicavam matérias mostrando como até Associações Amadoras tinham papel importante nos votos para eleger o presidente da federação, à época presidida por Eduardo Viana, o Caixa D'Água. Apenas o Vasco, pela aproximação entre Eurico Miranda e Eduardo Viana, não aderiu ao movimento. A FERJ acionou a CBF, que por sua vez acionou a FIFA, se a ideia da liga fosse adiante, os clubes seriam desfiliados e proibidos de jogar partidas nacionais e internacionais. A coerção funcionou e a iniciativa naufragou.
Aproximadamente 10 anos depois, com os clubes cariocas afundados em gravíssima crise, a tentativa de rebelião voltou a ocorrer, desta vez com a realização de um Torneio Rio-São Paulo e o boicote ao Estadual 2002, que ficou batizado de Caixão (alusão a Eduardo Viana, o Caixa D'Água, que estava prestes a completar 20 aos a frente da FERJ). A iniciativa serviu para um completo remodelamento do Estadual e para um novo calendário do futebol brasileiro. Os Estaduais deixaram de durar 6 meses, como duravam até 2001, e passaram a durar apenas 3 meses.
A diferença da rebelião de 2002 e da de 1993 foi a adesão coletiva, e inter-estadual, dos grandes clubes. Como funcionou em 1987, quando o Clube dos 13 se juntou e se rebelou contra a CBF, derrubando o modelo coronelista de Campeonato Brasileiro, que reunia mais de 50 clubes por anos e era mantido para agraciar os currais eleitorais das federações estaduais, que por sua vez elegiam o presidente da CBF; situação muito parecida à sustentada na FERJ e nas demais federações estaduais hoje.
Passaram-se outros 10 anos e agora, em 2014, os problemas voltam iguais: estádios vazios, constatação pelos borderôs de que a FERJ ganha mais do que os clubes com os jogos, rediscussão da viabilidade do Campeonato Carioca, uns falando em Rio-São Paulo, e Flamengo, Vasco e Fluminense ameaçando se rebelar contra a FERJ (desta vez quem não adere é o Botafogo). Mesmos problemas. A sujeira varrida para debaixo do tapete volta para o meio da sala!
Sozinhos estes clubes não conseguirão nada. Como em 1987 e em 2002, só haverá sucesso se seja encontrada uma bandeira coletiva. É difícil a adesão dos paulista, que tem um Estadual mais lucrativo e tenderão a desdenhar os problemas alheios. Mas é preciso buscar estratégias novas e revolucionar de uma vez por todas as coisas.
Por que falar em Rio-SP? A Copa do Nordeste é sucesso? Por que não uma Copa do Sudeste então? Fla, Flu, Vasco, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Atlético e Cruzeiro. 10 clubes fortes de largada. Dá perfeitamente para um torneio de tiro curto com 16 clubes em 2 grupos de 8. Seria sucesso de público, como a Copa União foi em 1987 de uma forma jamais superada na história deste país. Se o futebol brasileiro quer mesmo competir com o europeu em rentabilidade e competitividade de competições fortes, não há mais espaço para sustentar currais eleitorais de forma clientelista e paternalista. Mas emergirá a pergunta: e os pequenos, o que serão deles?
Nenhum comentário:
Postar um comentário