sexta-feira, 20 de março de 2015

E o futebol carioca entra mais uma vez em guerra...

Matéria da ESPN publicada em 20 de março de 2015:

Eurico Miranda voltou à presidência do Vasco há menos de quatro meses. Desde o dia 2 de dezembro, data de sua posse, a configuração política do futebol carioca mudou. Houve interferências diretas na relação de clubes com a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e indiretas do velho cartola até na política interna do arquirrival Flamengo. O Consórcio Maracanã ganhou um desafiador público. O Fluminense, novamente, teve um rival nos bastidores como na década de 90.

Na gestão de Roberto Dinamite, o Vasco se posicionava ao lado de Flamengo e Fluminense contra a Ferj e seu presidente, Rubens Lopes. A simples volta de Eurico fez o tabuleiro do futebol carioca balançar. Fiel escudeiro da Federação, Eurico causou um terremoto político ao se agarrar a dois pontos: o lado da torcida vascaína no Maracanã e a cobrança de ingressos mais baratos para o Campeonato Carioca. E atingiu em cheio a dupla Fla-Flu e o Consórcio que gerencia o estádio da final da Copa de 2014.

Rubro-negros e tricolores têm contrato acertado com o Consórcio que gerencia o estádio. A obrigatoriedade de preços mais baixos significaria menos lucro ou prejuízo. Eurico se posicionou ao lado da Ferj e viu a relação dos clubes rivais com a entidade implodir. Trocas de notas oficiais, ameaças de desfiliação, acusações mútuas.

De longe, o presidente vascaíno assistiu a tudo. E foi mais incisivo com o Fluminense, ao garantir que não jogaria clássico com o rival se a torcida vascaína não voltasse para o lado direito das cabines de rádio e tv no estádio, como ocorria desde 1950. O Tricolor lembrou de um contrato de exclusividade do setor. O jogo foi realizado no Engenhão, com vitória vascaína.

Acuado, o Fluminense respondeu de forma direta, variando entre notas oficiais irônica ou mais agressiva. Agora, a Ferj ameaçou o clube das Laranjeiras de suspensão e cobrou dívida antiga, no valor de R$ 400 mil, não reconhecida pelos tricolores. Em entrevista ao jornal Extra, Peter Siemsen disparou contra Eurico, insinuando que o dirigente poderia estar em busca de vantagem política com a briga sobre o lado do Maracanã. Ex-deputado federal, Eurico, ao seu velho estilo, disparou em nota oficial:

"Preciso ressaltar que tenho mais anos de futebol do que ele tem de vida. Não dou o direito a ele de se referir a mim como se estivesse falando com alguém de sua relação".

A influência de Eurico Miranda no cenário político carioca não se restringe apenas à Ferj, onde já sentou na cadeira destinada ao presidente, Rubens Lopes, em algumas coletivas de imprensa. Eurico propôs a redução de ingressos e bagunçou o cenário político do Flamengo. Revoltado com a imposição da Ferj e do dirigente vascaíno, apoiada por 12 clubes, o então vice de marketing, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, cobrou atuação mais forte do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.

O tom político utilizado pelo presidente rubro-negro e a costura de um acordo para um jogo no Maracanã contra o Barra Mansa mesmo após abandonar uma reunião em fora xingado por Rubens Lopes irritaram Bap. Um dos cabeças do grupo eleito no fim de 2012, o dirigente deixou o Flamengo, rompeu com Bandeira e promete fazer oposição ao mandatário. O cenário azul da eleição rubro-negra, no fim deste ano, tornou-se cinzento. Indiretamente, com influência de Eurico Miranda.

No toma lá, dá cá de notas oficias do futebol carioca, até mesmo o moderado presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, eleito em dezembro, entrou na dança. Irritado por ter sua atuação ao lado da Ferj na guerra com Flamengo e Fluminense contestada por Peter Siemsen, o presidente alvinegro também disparou contra mandatário tricolor via nota oficial.

Nas correntes políticas de clubes rivais, como Flamengo e Fluminense, muitos viram o retorno de Eurico como um sinal de alerta. Os problemas eram considerados até previsíveis. Mas Eurico deixou o cenário em meados de 2008. Em uma década, a renovação de cartolas no futebol carioca existiu, mas grande parte jamais havia conhecido de perto a personalidade de Eurico. Até mesmo o Consórcio Maracanã o encarou com ressalvas, embora analise que se trate de um adversário que deixa claras suas prioridades.

Ao se eleger novamente presidente do Vasco, Eurico Miranda por vezes utilizou o bordão "o respeito voltou", referindo-se à sua atuação à frente do Vasco, combalido após anos temerários de Roberto Dinamite no poder. Mas ao voltar com o respeito para o Vasco, Eurico voltou também ao seu modo, com influência direta no terremoto que assolou o tabuleiro político do futebol carioca no início deste ano.


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