Uma seleção de ídolos rubro-negros foram à Gávea nesta terça-feira se despedir de Carlinhos, que foi velado na sede do Flamengo e cremado no fim da tarde no Memorial do Carmo, no Caju. Entre as personalidades, estavam companheiros da época de jogador, na década de 60, e atletas que foram dirigidos por ele nos anos 80 e 90. Ao lado do caixão, no Salão Gilberto Cardoso Filho, emoldurando sua importância para o Flamengo, os troféus conquistados por Carlinhos, jogando (Rio-São Paulo de 1961 e Cariocas de 1963 e 1965) e dirigindo a equipe (Brasileiros de 1987 e 1992, Cariocas de 1991, 1999 e 2000, e Mercosul de 1999, além das Taças Guanabara de 1988 e 1999 e Taças Rio de 1991 e 2000). Zico, Leandro, Evaristo de Macedo e outros grandes nomes do Flamengo estiveram na manhã desta terça-feira na Gávea para se despedir de Carlinhos. O local ficou cheio para o adeus ao Violino, como Carlinhos era carinhosamente chamado por conta do seu requinte no toque de bola.
Zico lembrou da amizade que tinha com Carlinhos. O maior ídolo do Flamengo fez questão também de falar sobre Leonardo. Carlinhos foi quem lançou oficialmente o ex-jogador em 87 em uma partida contra o Vasco. Segundo o ex-camisa 10, a pedido dos próprios jogadores, Violino resolveu colocar o lateral após a equipe perder Aldair. Tempos mais tarde, já em 94, ele seria tetracampeão com a camisa do Brasil.
- Quando encerrei no Kashima pude dar minha última camisa ao Carlinhos. Tinha uma amizade muito grande. Sempre fez da Gávea sua casa. Tenho certeza que será muito bem recebido e vai continuar abençoando o Flamengo la de cima. É uma perda grande para todos nós. Um cara muito engraçado. Ficava quieto lá no canto dele, tinha falava mansa, mas quando a gente bobeava ele soltava uma pérola boa com um pouco de ironia. Tem a questão do lançamento do Leonardo. E ele lançou contra o Vasco. Depois o Leonardo foi titular da Seleção Brasileira - lembrou.
Leandro, que foi lateral-direito do Fla e estava naquela geração vencedora de 87, conquistando o título brasileiro sob o comando do Carlinhos, lembrou com carinho do ex-técnico. Ele disse que Violino foi uma inspiração.
- Carlinhos deu exemplo para muitos, principalmente para mim. Quando eu cheguei no Flamengo, sempre procurei me espelhar em pessoas que tivessem raízes no clube, e Carlinhos era uma dessas pessoas. Sempre deu muita força para a gente das categorias de base. Ele foi muito importante e revelou muitos outros jogadores do Flamengo depois. É um dia muito triste, mas a gente sabe que ele cumpriu com dignidade tudo que lhe foi passado. A gente vem hoje aqui mais por solidariedade com toda família e sabe que ele está em boas mãos agora - ressaltou.
Evaristo de Macedo também não poupou elogios a Carlinhos. Para ele, o ex-jogador e técnico decacampeão rubro-negro estará sempre nos corações dos torcedores do Flamengo.
- É um capítulo da história do futebol do Flamengo muito importante e a gente lamenta profundamente tê-lo perdido. Um protagonista fantástico, mas Deus é que sabe. De toda maneira, eu acho que ele Fica na historia do Flamengo. Isso é que é importante. Vai ser sempre lembrado e relembrado - destacou.
Zinho ficou emocionado ao falar sobre Carlinhos. Ele contou que o treinador foi responsável por seu início no futebol e chegou a dizer que Violino foi um pai para ele.
- Foi um dos grandes responsáveis por eu ter me tornador jogador de futebol. Quando cheguei ao Flamengo com onze anos, foi ele que me aprovou no teste. Foi ele o responsável por eu permanecer no Flamengo. Foi meu treinador no infantil, no juvenil, no juniores e no profissional também, porque quando ele assumiu a equipe em 87 ele me efetivou, Eu subi em 86, mas ainda não era titular, mas ele por me conhecer das categorias de base, foi o treinador que me efetivou. Meu primeiro titulo brasileiro foi ao lado dele. Então, é um dia triste, mas as lembranças são as melhores e o agradecimento pela pessoa que ele foi na minha vida, pelo treinador, incentivador orientador, educador, foi um pai dentro do futebol pra mim - disse.
Jorginho, que estava iniciando a carreira em 87 e foi comandando por Carlinhos naquela geração de ouro de 87, também lamentou a morte de Violino. Ele lembrou da simplicidade e do jeito do ex-técnico levar a vida.
- Muito mais do que um profissional, o que me marcou, foi sua vida, os conceitos morais. Era alguém que via nas coisas mais simples da vida, como sentar e jogar um baralho, um dos maiores prazeres da vida. Então a gente passa a valorizar coisas que passam despercebido. Ele conversava muito isso com a gente. É alguém que marcou a minha vida como homem. Ele liderou um grande clube, com os feras da época e com uma geração promissora. Essas coisas é que marcam o ser humano - enaltece.
Paulo Henrique, que jogou com Carlinhos no Flamengo, diz que aprendeu muito e lamentou a perda do amigo.
- Pra mim ele representou tudo. Aprendi muito. Assim que eu cheguei ao Flamengo ele já estava jogando na equipe principal. Acho que é uma perda lamentável, mas tem que entregar a Deus. Que ele esteja em um bom lugar e eu sei que ele vai estar - disse
Além desses, Nelsinho, Andrade, Jayme de Almeida, Nélio, Ubirajara Alcântara, Júnior Baiano, Carlos Alberto, Athirson e muitos outros estiveram presentes no velório de Carlinhos. A presença de tantos ex-atletas só mostra a admiração que os rubro-negros têm por Violino.
Regina, filha de Sabú e Célia, que comandavam o restaurante do Flamengo na época em que Carlinhos era jovem e foram uma espécie de padrinhos do rubro-negro, relembrou passagens da juventude de Violino. Ela contou que nos momentos de folga após os jogos, o ex-técnico da Gávea os levava para passear em São Conrado e tocava bossa nova no violão.
A relação do ex-jogador com a família de Regina era bem forte, tanto que ele era tratado como queridinho por dona Célia.
- Eu e minhas irmãs dizíamos: “mamãe gosta mais dele do que da gente”. Porque era um paparico geral. Quando o Silva veio do Corinthians, o Carlinhos levou ele também lá para casa. E a mame adotou o Silva também. Era uma família. Babá, Dida, Vanderlei, Oraci, Almir, Marco Aurélio, Marco Antônio... sempre a mamãe preparando comida para eles - revela.
O ex-companheiro Silva se emocionou: "Perdi um grande amigo. Uma pessoa que me acolheu na casa dele quando cheguei ao Flamengo, junto com minha filha e minha mulher. Essa perda é muito dura. É difícil aceitar o Carlinhos fora da Gávea. Tínhamos uma amizade muito grande. Ele auxiliou e treinou meus filhos aqui no clube. Quando cheguei, me acolheu. Foi tudo para mim", revelou Silva.
Não demorou muito para que os ídolos chegassem para se despedirem do ídolo. Evaristo de Macedo, Leandro, Zinho e Jorginho foram os primeiros a chegarem. "Ele como treinador era diferente. Não concordava com tudo, mas sempre discordava com muita habilidade. Nunca teve um confronto muito grande. Convivi muito com o Carlinhos, mas sempre fui mais velho. A gente tinha um com relacionamento mas o grupo que ele tinha, sempre fui mais afastado, e não compartilhava muito. Depois nós trabalhamos juntos, ele foi supervisor e fui treinador, e, juntos, trabalhamos muito bem. Sempre tivemos um entendimento muito grande", revelou Evaristo.
"Em termos de raízes do futebol, Carlinhos foi um exemplo de se doar para o clube, sempre pronto para ajudar quando fosse solicitado. E isso aconteceu diversas vezes. Ele é um símbolo do Flamengo e uma perda muito grande", revelou Leandro após se despedir do Violino e conversar com torcedores também emocionados. "Quando cheguei, a filha dele me falou 'Meu pai gostava muito de você'. Sentia isso, sabia que o professor Carlinhos me tinha como um filho no futebol, foi um pai para mim. Sou muito agradecido a Deus por ele e que descanse em paz", revelou Zinho, que foi comandado pelo técnico no Brasileiro de 1987.
A Gávea recebeu também a presença de rei Zico, que relembrou com saudades do amigo e ídolo. "É uma amizade muito grande, um dos maiores rubro-negros que a gente tem e que sempre fez da Gávea a sua casa. É uma perda grande para todos. Será muito bem recebido e vai continuar abençoando o Flamengo lá em cima", revelou. O violinista João Vitor Valera's compareceu para tocar o hino em homenagem ao mito.
Pela tarde, o presidente Eduardo Bandeira de Mello prestou suas homenagens, assim como Nélio e o auxiliar-técnico do time profissional Jayme de Almeida, além de outros profissionais do futebol. Todos lamentaram a perda e relembraram seus momentos com o Violino.
Às 16h, o velório se encerrou e o corpo de Carlinhos seguiu para a cerimônia de cremação. Valera's já havia encerrado sua música, mas todas as notas de Carlinhos Violino seguiu dando o tom das conversas entre os últimos presentes. Assim como em sua história eterna pelo Mais Querido do Mundo.
Entre muitas histórias para contar e títulos conquistados, antigos companheiros de Carlinhos deram o último adeus a Violino. Com a Gávea como segunda casa, muitas memórias ficaram marcadas nos caminhos do clube e nos corações de quem viveu momentos inesquecíveis com Carlinhos na sede do Flamengo. Além de Zico, que recebeu as chuteiras do craque em sua aposentadoria, e Silva Batuta, que era o craque do time campeão carioca de 1965 capitaneado por Violino, outros ídolos rubro-negros se despediram de Carlinhos no velório que aconteceu nesta terça-feira (23/06), no Salão Nobre da Gávea.
Confira o que cada um falou de Carlinhos:
Leandro: "Meu pai sempre disse que ele jogava o fino da bola. Vimos isso depois nas categorias de base e no profissional, quando ele batia uma bolinha com a gente. Em 1987, em um time em que praticamente todos falavam que tinha idade avançada, ele reformulou aquela equipe e fomos campeões. As atitudes dele eram muito serenas e inteligentes. Não colocava sozinho suas ideias, sempre chamava os atletas mais experientes para conversar. Era um cara muito aberto e verdadeiro. Não tinha aquela questão de diferenciação, estrela. Tratava a todos igualmente. Em termos de raízes do futebol, Carlinhos foi um exemplo de se doar para o clube, sempre pronto para ajudar quando fosse solicitado. E isso aconteceu diversas vezes. Ele é um símbolo do Flamengo e uma perda muito grande".
Zinho: "Quando cheguei aqui (no Salão Nobre), a filha dele me falou 'Meu pai gostava muito de você'. Eu sentia isso, sabia que o professor carlinhos me tinha como um filho no futebol, foi um pai para mim. Ele foi meu treinador em todas as categorias de base e o título brasileiro de 1987 marcou todo o trabalho que tivemos desde a base. Nos profissionais, via em todos os grandes ídolos do Flamengo o respeito que tinham com ele. Sou muito agradecido a Deus por ele e que ele descanse em paz".
Evaristo de Macedo: "Tive o prazer de jogar com ele, um jogador de uma categoria e uma técnica fantásticas. Carlinhos era um homem tranquilo, do bem. Todo mundo respeitava e gostava dele. Convivi muito com o Carlinhos, mas sempre fui mais velho. Depois, quando nós trabalhamos juntos, ele supervisor e eu treinador, trabalhamos muito bem. Sempre tivemos um entendimento muito grande".
Jayme de Almeida: "Conheci o Carlinhos quando eu vinha com meu pai aqui para o Flamengo. Meu pai era auxiliar-técnico aqui do profissional e eu era garoto. Conheci o Carlinhos assim, já jogando no Flamengo. Ele foi meu primeiro grande ídolo do Flamengo. Era um jogador fantástico e depois tive a honra e o prazer de trabalhar com ele nas categorias de base do clube, quando a convivência foi muito maior. Era uma pessoa doce, carinhosa, que fez uma história no clube. Foi campeão de 1963 e 1965 como jogador, campeão como técnico, três vezes carioca, duas vezes campeão brasileiro. E acima de tudo, era uma pessoa com um carinho, uma paz no coração e uma bondade enormes. Foi um grande amigo e o Flamengo perde uma das grandes pessoas que amavam o clube, respeitavam o clube. Ele deu muita alegria para a torcida. É uma perda muito grande, a torcida do Flamengo com certeza está de luto porque perdeu um grande homem".
Nélio: "Falar do Carlinhos é muito fácil, não é? Até porque a gente pode dizer que ele sempre foi um legítimo rubro-negro, independente da sua função como jogador. Ele foi jogador, foi treinador e foi torcedor. Eu acho que mesmo nas vezes que ele não estava diretamente ligado ao Flamengo, ele respirava o Flamengo. Então eu, particularmente, só tenho a agradecer a ele por tudo, não só como jogador de futebol, mas como homem também. Acho que minha formação como homem veio muito da personalidade dele. Tive a oportunidade trabalhar com o Carlinhos não só nas divisões de base, mas como profissional também, e a gente só tem que agradecer a ele por tudo. Sem sombra de dúvidas foi o melhor treinador que eu tive na minha vida, e sou muito grato a ele, por tudo que fez não só por mim, mas pelo Flamengo também".
Reconhecido como um dos maiores formadores de jogadores nas divisões de base do Flamengo, o ex-técnico e ex-jogador clube Carlinhos recebeu as últimas homenagens de alguns dos seus ex-comandados. Nélio campeão brasileiro com o ex-treinador, em 1992, falou da importância do Violino para a carreira dele:
- Representou tudo para mim. Trabalhei com ele na base e no profissional. Modificou e moldou minha formação tática. Me tornei um jogador importante no Flamengo muito pelo trabalho dele. Ficamos muito tristes. Não há muito o que falar, porque era uma pessoa magnífica. Vivia aqui dentro, foi um grande flamenguista. Uma grande perde para todos nós - disse Nélio, que atualmente, faz parte do time de Masters do Flamengo.
Quem também esteve presente ao velório, foi Leandro, ex-lateral-direito, campeão mundial de 1981 pelo Flamengo. O ex-lateral, que participou da conquista do Campeonato Brasileiro de 1987, quando Carlinhos era o treinador, ressaltou o grande amor que o Violino sempre demonstrou pelo clube.
- Eu não o vi jogando, mas como rubro-negro sempre me informei sobre o passado do clube. Ele sempre foi um espelho para mim. Um exemplo de jogador identificado, com raízes no com o clube, algo raro nos dias de hoje. Sempre se prontificou a ajudar o Flamengo. Revelou muitos jogadores base, algo difícil hoje também. Convivíamos diariamente, fiquei aqui por 16 anos e o via todos os dias na Gávea - disse Leandro, prosseguindo nos elogios d lembrando de uma homenagem do clube ao ídolo:
- O currículo dele era extenso, mas o mais importante era o que ele nos passava da importância e da grandeza desse clube e a paixão que mantinha pelo Flamengo. Além disso, foi um ser humano maravilhoso. Ele tem um busto aqui na Gávea, a praça aqui leva o nome dele... Então, o Flamengo também reconheceu o que ele fez, o homenageou em vida. O clube reconhece os seus ídolos do passado também.
Recebido por Carlinhos na Gávea, quando foi fazer testes, aos 11 anos de idade, Zinho, campeão estadual em 1991, e brasileiro em 1987 e 1992, esteve na Gávea e afirmou que o ex-treinador foi determinante para tudo o que conquistou na carreira.
- O grande responsável por eu ter me tornado um jogador de futebol, foi o professor Carlinhos. Me aprovou quando cheguei ao Flamengo com 11 anos, foi meu professor e meu treinador em toda a divisão de base. O conheci como homem também, ajudou na minha formação como homem também - disse Zinho.
Lançado por Carlinhos em 1992, com apenas 17 anos, Gélson Baresi, que jogou a final do Brasileirão daquele ano, contra o Botafogo, foi outro a ressaltar o carinho e atenção que o ex-técnico tinha com os garotos da base rubro-negra.
- Foi ele (Carlinhos) que me subiu para o time profissional. Podemos dizer que o Flamengo era a casa dele. Foi um grande treinador, um grande jogador, mas como pessoa, foi ainda melhor. A Nação Rubro-Negra fica triste por perdê-lo. Tenho muitas lembrancas boas. Confiou muito em mim. Era sereno, não precisava gritar para ser respeitado. Sr colocava sempre com elegância e passava o seu recado. Só tenho a agradecer, o que me ensinou engrandeceu muito a minha carreira - disse Gélson.
Sem poder estar presente no velório, por estar no Chile como comentarista da Rede Globo cobrindo a Copa América, Júnior também se emocionou ao lembrar de Carlinhos: "Eu tinha uma relação muito forte com o Carlinhos, principalmente pelo período que ele comandou o Flamengo, entre 1991 e 93. Ele foi o responsável, inclusive, pelo prolongamento da minha carreira. Em 91, a gente estava comemorando o título carioca, em um restaurante da Gávea, um reduto rubro-negro. Eu perguntei a ele: “Seu contrato está acabando, o que você vai fazer?”. Ele disse para mim: “Se você renovar, eu renovo”. Eu respondi: “Falando sério? Está fechado”. Depois, eu tive a felicidade de desfrutar aquele Campeonato Brasileiro de 1992. Se ele não me diz aquilo ali, eu teria pendurado as chuteiras, porque tinha ganhado o Campeonato Carioca".
Júnior destacou a simplicidade e a serenidade com que Carlinhos comandava o elenco do Flamengo. E, mesmo assim, conseguia arrancar o melhor de seus jogadores: "O Carlinhos tinha uma coisa completamente diferente dos outros técnicos. Talvez fosse semelhante só com o Cláudio Coutinho. Ele não gritava, ele conseguia as coisas sem se exaltar. Ele conseguia as coisas, de uma maneira que contaminava positivamente todo mundo. A simplicidade dele era uma coisa realmente incrível".
Luiz Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos, tinha 77 anos e morreu nesta segunda-feira, vítima de insuficiência cardíaca. Veja também: Porque já não se fazem mais ídolos como antigamente
Fontes: GloboEsporte / Site Oficial do Flamengo / Zona Esportiva / Jornal O Povo / SporTV
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