quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Os desafios para o futebol durante a crise


O futebol brasileiro vive um momento de profundas mudanças. Em meio à grave crise econômica que o país atravessa, os clubes precisarão praticar uma nova forma de gestão.

A aprovação do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) no Congresso, apesar de positiva para auxiliar na equação dos problemas com o pagamento de impostos atrasados, fará com que os times tenham que adotar uma rigorosa disciplina no uso de seus recursos para a realização de custos operacionais e investimentos.

Dentro desse conceito de responsabilidade financeira e de aprimoramento de gestão, o Flamengo, então sob nosso comando administrativo/financeiro, iniciou em 2013 um programa de ajustes que nos possibilitou equacionar dívidas antigas e pagar despesas correntes em dia.

Conseguimos um importante resgate de credibilidade e reputação para o clube mais popular do Brasil nos colocando em situação privilegiada para enfrentar tempos difíceis. Segundo dados do Itaú BBA, a dívida total dos 23 maiores clubes do Brasil chegou a R$ 4,5 bilhões em 2014, o que representou um aumento de 22,8% em relação a 2013.

Ao mesmo tempo, vimos uma retração de investimento na ordem de 23,5%. Já o Flamengo, graças a um aumento significativo que conseguimos nas receitas de marketing e um rigoroso controle de despesas que implementamos, obteve em 2014 o maior lucro da história do futebol brasileiro, com R$ 64,311 milhões.

O Ebtida (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) subiu 37% entre 2013 e 2014, chegando a R$ 117 milhões. No ano passado, o Flamengo conseguiu o valor histórico de R$ 347 milhões de receita bruta, com 27% de crescimento em relação ao ano anterior e 64% acima do resultado de 2012.

O esforço financeiro que fizemos em nosso período de administração permitiu o pagamento de R$ 224 milhões em dívidas, sendo R$ 138 milhões do principal e R$ 86 milhões de juros líquidos, fazendo com que a divida do clube caísse dos R$ 750 milhões de 2012 para R$ 577 milhões no final de 2014.

Os direitos de TV, ao contrário da maioria dos clubes, não representam hoje mais da metade da receita. Com o crescimento das arrecadações com marketing e competições, o seu percentual caiu de 52% em 2011 para os 33% de 2014.

Ao nos desligarmos da atual administração do Flamengo para apoiar a candidatura de Wallim Vasconcellos nas eleições de dezembro, podemos afirmar que é possível mudar a forma de gerir o futebol brasileiro. Práticas do passado, ainda vigentes em vários clubes, precisam ser definitivamente descartadas.

É hora de profissionalizar ainda mais a gestão. É hora de se valorizar quem sabe administrar. Não se pode aceitar que instituições que fazem parte da paixão dos brasileiros, muitas delas com faturamento superior a R$ 200 milhões/ano, sejam gerenciadas com aventuras ou amadorismo. O trabalho que fizemos em nosso clube do coração é uma prova de que isso é possível. O Flamengo já andou um bom caminho. Não se pode permitir retrocesso algum.

O momento exige cada vez mais de seus dirigentes esportivos: experiência, articulação empresarial e capacidade de execução comprovadas. Só assim o futebol brasileiro conseguirá retomar a liderança que nunca deveria ter perdido.

RODOLFO LANDIM, 58, é presidente da Ouro Preto Óleo e Gás. Foi presidente da BR Distribuidora e vice-presidente de planejamento e orçamento do Flamengo
RODRIGO TOSTES, 39, diretor-executivo de operações do Comitê Organizador da Olimpíada Rio-2016, foi vice-presidente de finanças do Flamengo

* Artigo publicado na Folha de São Paulo em 15/09/2015

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