sábado, 30 de abril de 2016

Surpresas nos aguardados números financeiros do 1º trimestre do Flamengo

O Flamengo publicou o Balanço Financeiro do 1º Trimestre de 2016. Estava ansioso por dar uma olhada nestes números após tanto barulho político ao longo deste trimestre: Primeira Liga, crise com a FERJ, Maracanã fechado, muitas milhas para jogar em estádio por todo o Brasil, contrato adicional com a TV pela Primeira Liga, e o ano no qual o contrato com a televisão daria um aguardado salto.

Antes de se debruçar sobre os números, curiosidades relatadas no documento recém divulgado:

- Entre os credores, apareceu um empréstimo de R$ 12 milhões associado a CCB - Pessoa Física. Qual pessoa física, milionária obviamente, emprestou este caminhão de dinheiro ao clube? E sob quais condições?

- Entre a referência de direitos de jogadores, a participação do Flamengo no passe do chileno Gonzalo Fierro, hoje defendendo o Colo Colo, saltou de 30% para 100%. Quais planos terão levado a isso?

- O Flamengo não tem mais participação no passe do meia Adryan. Pode ser deslize meu, mas não me lembro de isto ter sido noticiado pela imprensa.

Pontuadas estas investigações jornalísticas, vamos à vertente econômica e financeira.

Como em todos os balanços trimestrais (sempre publicados 30 dias após o fim do exercício, já que não precisam passar por Auditoria, diferentemente do balanço anual, que sai 3 meses após o fechamento), a análise se debruçará sobre indicadores de estoque: Empréstimos de Curto Prazo, Dívida e Razão Dívida/Receita Anualizada (indicadores de estoque são um retrato de momento) e em indicadores de fluxo: Receita Total, Receitas Brutas do Futebol e Resultado Líquido (os indicadores de fluxo são crescentes no exercício, acumulando-se ao longo do ano até o resultado anual final).

Como sempre vem sendo ressaltado aqui, desde a Análise do Balanço Financeiro de 2014: "a situação, ainda que tendo melhorado bastante, está longe de ser tranquila ... nestes dois anos tanto os Empréstimos com vencimento de curto prazo (eram R$ 70,9 milhões no fechamento de dezembro de 2014), quanto o volume de Contas a Pagar de curto prazo (eram R$ 51,8 milhões no fechamento de dezembro de 2014) tem crescido. Estas duas rubricas precisam ser atentamente acompanhadas nos exercícios de 2015 e 2016". Monitorando estas contas de perto, como termômetro da Saúde Financeira do Flamengo, seguem os dados.

As contas a pagar de curto prazo seguem relativamente, ainda que tenha havido aumento na comparação do 1º trimestre 2016 contra o 4º trimestre 2015. Já os empréstimos seguem em nível bastante elevado, ainda que tenha havido queda na comparação do 1º trimestre 2016 contra o 4º trimestre 2015.



O nível de receitas do Flamengo continua em viés de elevação! Isto já era esperado para 2016 em função do aumento dos valores a serem recebidos pelos contratos de TV com a Rede Globo. Porém, o negativo é a queda qualitativa que este aumento representa. No 1º trimestre de 2016, as receitas de televisão representaram 64% das receitas do futebol no período. Precisa haver injeção nas rubricas Patrocínio, Bilheteria e Sócio-Torcedor, para equilibrar qualitativamente as receitas. O caminho indica que as receitas em 2016 deverão ser ainda maiores do que em 2015. No 1º tri de 2016, a receita operacional líquida foi R$ 35,2 milhões superior à do 1º tri de 2015, um aumento de 40,6%. Pode-se projetar assim uma receita próxima a R$ 475 milhões no fechamento de 2016!


As receitas do futebol são naturalmente a principal responsável por este incremento, já que a receita de TV estava associada às transmissões deste.


A melhora mais sensível, já dita, foi com as Transmissões de TV, que tiveram um crescimento de 47,6% na comparação ano contra ano.


A receita com patrocínio, como já era esperado, frente à perda sem reposição de dois patrocinadores (Guaraviton e Jeep) caiu na comparação frente ao primeiro trimestre de 2015. É um problema que tem afetado a todos os clubes, mais que a uns que a outros.


Em Bilheteria, apesar do Maracanã fechado, o Flamengo conseguiu manter o mesmo patamar observado no mesmo período do ano anterior, tendo tido inclusive um leve incremento. Seria muito bom ter acesso aos dados equivalentes dos três principais rivais cariocas - Botafogo, Fluminense e Vasco - para poder comparar. Mas eles estão longe de ter o mesmo nível de transparência do Flamengo, assim só podemos imaginar o quanto eles tiveram de perda neste quesito em 2016.


Por fim, as receitas com o Sócio-Torcedor, que tiveram uma leve queda frente ao mesmo período do ano anterior. O Flamengo já teve redução nos resultados de 2015 frente a 2014, e voltará a ter em 2016 frente a 2015. Só uma excelente campanha no Campeonato Brasileiro mudaria isto. A tendência é que no fechamento do ano, o Programa Nação Rubro-Negra tenha gerado algo entre R$ 27 e 28 milhões para os cofres rubro-negros. Ainda é um volume importante, mas que poderia estar um pouco melhor do que isto.

Fato é que, apesar das dificuldades neste começo de ano, a receita com Torcida (somando Bilheteria e Sócio-Torcedor) permaneceu estática, sem perdas significativas. E por mais que se possa argumentar que isto não é um feito, dado que não se conquistou títulos, em 2015 tinha Maracanã, tinha menos viagens, tinha mais tempo de repouso dos jogadores, e o resultado foi exatamente o mesmo.





O Resultado Líquido segue um caminho de expressivo superávit, mostrando uma grande eficiência na gestão financeira do clube. Certamente repetiremos em 2016 um excelente superávit, assim como aconteceu em 2014 e 2015


Por fim, voltando aos estoques. A dívida do Flamengo teve uma leve alta no 1º trimestre de 2016 frente ao 4º trimestre de 2015. Mas vale sempre relembrar o histórico: no fim de 2012, a dívida era de R$ 715 milhões, no fim de 2013 estava em R$ 626 milhões (queda de R$ 89 milhões no ano), no fim de 2014 em R$ 577 milhões (queda de R$ 49 milhões no ano), e no fim de 2015 estava em R$ 481 milhões (queda de R$ 96 milhões no ano). Não porquê o Flamengo não jogar este volume de dívida para um patamar inferior a R$ 400 milhões. Seria saudável que até o fim de 2017 ela se encontrasse ligeiramente abaixo de R$ 350 milhões.


A razão entre dívida e receita era de 3,6x no fim de 2012, passou a 2,4x no fim de 2013, para 1,7x no fim de 2014 e para 1,4x no fim de 2015. Agora, a receita anualizada representa 1,0x o valor da dívida. É uma mutação de um quadro de insolvência para a solvência.

Excelente desempenho, aproximando-se da relação observada em clubes cujas finanças são consideradas exemplo, e não por coincidência são os clubes que brigam na ponta da tabela do Campeonato Brasileiro na última década.


Um comentário:

  1. Estava esperando alguém escrever sobre o balanço do 1º trimestre de 2016. Que bom que achei esse texto!!!
    A pessoa física CCP deve ser o Cláudio Pracownik...
    Não consegui entender o motivo do aumento da dívida sendo que o Flamengo teria tido o melhor trimestre da história (http://colunadoflamengo.com/2016/05/sem-crise-flamengo-tem-melhor-trimestre-da-historia-com-aumento-de-40-nas-financas/).
    Parabéns pelo texto!!!

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