O brasileiro tem memória curta. Muito curta. Curtíssima! Vamos desconstruir este chavão neste texto, mas por hora vamos ficar com ele... O dia 28 de novembro de 2002 mudou para sempre a história do futebol brasileiro. Certamente você, que lê este texto, ainda não sabe o porquê.
Em 28/11/02, num jogo válido pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro, o Santos Futebol Clube, de Robinho e Diego, 8º colocado na 1ª fase, eliminava o São Paulo Futebol Clube, de Rogério Ceni, 1º colocado no turno único de todos contra todos. Ali, naquele dia, nascia o discurso de "Justiça no Futebol" que reescreveria as páginas futuras de todas as edições de Campeonato Brasileiro (enfia o termo Brasileirão no cu de um paulista!). A principal veiculadora do discurso reformista em prol da justiça foi a equipe de jornalistas esportivos da ESPN Brasil, liderada por Juca Kfouri, o maior dentre os defensores da justiça dentro das quatro linhas. Entre as lideranças esportivas, o injustiçado Rogério Ceni era o orador da mudança. O fato, já gravado nos pergaminhos da história, é que a partir de 2003 o Brasileiro passou a ser por pontos corridos. Curiosamente, a final daquele Campeonato Brasileiro de 2002, quando o Santos FC bateu o Sport Club Corinthians Paulista, reservou um dos últimos momentos de genialidade da arte de jogar futebol tipicamente brasileira, quando Robinho eternizou uma sequência de pedaladas para cima de um desesperado e muito limitado zagueiro Rogério, que, desesperado, recuava para dentro de sua própria área sem saber o que fazer.... Não à toa a "Geração 7 x 1" está cheia de "limitados Rogérios" e desprovida de pedaladas.
(se o atento leitor notou que fiz questão de colocar o "nome todo" de todos os atores deste espetáculo, foi de propósito, para deixar o trecho bem com a cara da forma de pensar paulista... SPFC, SCCP, SFC, PQP VTNC...)
Pois bem. Vamos ao paralelo. O dia 12 de maio de 2016 poderia entrar para a história do esporte (para a história já entrou, como o dia em que o Senado aprovou o Impedimento Temporário da presidente Dilma, mas o assunto aqui não é este). O que aconteceu neste dia no esporte? Não foi no futebol, nem aqui no Brasil...
Em 12/05/16, o San Antonio Spurs foi derrotado pelo Oklahoma City Thunder, que fechou a série semi-final da Conferência Oeste da NBA em 4 x 2. O OKC avançou para fazer a final da conferência contra o Golden State Warriors, que com 73 vitórias e 9 derrotas fez a melhor campanha na Fase Regular da história da liga profissional norte-americana de basquete, superando o Chicago Bull de Michael Jordan, que tinha feito 72-10 na temporada 1995-96. Apesar da campanha histórica para conquistar o justíssimo título, o GSW ainda terá que provar sua superioridade diante do OKC numa melhor de sete jogos na final a conferência.
(Sim, atento leitor, usei siglas e os nomes das equipes de propósito, para fazer o paralelo com os trechos acima)
Mas 12/05/16 por si só foi uma data muito injusta no esporte, pois o Spurs jogou 41 jogos na Fase Regular em seu ginásio, no Texas, e conseguiu 40 vitórias e 1 derrota, e com este 40-1 igualou o recorde histórico de uma campanha fantástica do Boston Celtics na temporada 1985-86, quando a franquia, com justiça, conquistou o título daquela temporada depois de fazer 40-1 em casa na 1ª Fase. Como seria justo o Spurs fazer a final da Conferência contra o Warriors. Porém... Quer ficar esperando a maior liga do mundo mudar sua forma de disputa em prol da justiça no esporte? Senta aí e espera, Mas fica bem quietinho e concentrado tá? Porque pode demorar... Só se lembre de pedir a alguém para te levar água e comida todo dia, porque senão esta espera será fatal.
Já tentaram racionalizar a escolha do modelo de pontos corridos mostrando as médias de público, a arrecadação, o ganho coletivo, a distribuição dos ganhos de bilheteria entre todos e não apenas entre os oito primeiros... Os norte-americanos, reis do pragmatismo, certamente sabem de tudo isto, mas não aceitarão nenhum destes argumentos, pois sabem que o que dá sustentabilidade a qualquer esporte de médio a longo prazo é a emoção.
Infelizmente não é por motivos nobres ou racionais que os argentinos chamam os brasileiros de macaquitos. Mas sem querer eles acertam, pois somos grandes macacos de imitação. E não é por termos memória curta... O provincianismo paulista, agora hegemônico na forma de pensar brasileira, quis imitar os pontos corridos do futebol europeu. Se fu...
O brilhante e inigualável Nélson Rodrigues, que se ressuscitasse nos dias de hoje, certamente voltava correndo para dentro do caixão, foi muito analítico quando definiu isto como o Complexo de Vira-Lata. O Brasil não é para amadores, é incapaz de ser entendido com uma olhadela superficial, mas o gênio conseguiu resumir o complexo numa forma simples e compreensível por qualquer um, por isto, foi, é, e será sempre gênio.
Ah é! Falta desconstruir o chavão, como prometi no primeiro parágrafo... Há uma outra frase genial que eu aprendi como tendo sido dita por Mário Henrique Simonsen, mas que já vi outros citarem outros autores para ela, portanto, para evitar injustiças, vamos considerá-la anônima: "no Brasil, o passado é tão ou mais incerto do que o futuro". Não é problema de memória não, é falta de capacidade de entender o nosso passado. E não é nada difícil de entender os porquês, já que o brasileiro em ampla maioria tem dificuldade para entender até o presente, por isto não entende nem seu passado nem seu futuro. Em tempos da segregação burra na qual o PT transformou o Brasil, do nós contra eles, nunca escutei tanta asneira sendo dita junta, tanto por nós, quanto por eles, sejamos eu e vocês ou o nós ou o eles nesta história.
Bom, mas e os pontos corridos? E a justiça no esporte? Bom, quando os paulistas pensaram neste formato, foram estratégicos: numa disputa assim, justa, vencerá quem tiver mais dinheiro, assim concentramos a divisão dos títulos entre nós, paulistas, no maior centro urbano da América do Sul. Os cariocas então, bagunçados e desleixados como são, nunca ganharão neste formato, e nunca teriam ganho antes na história deste país um título brasileiro sequer. Eu sempre gostei mais do modelo com play-offs (para usar um termo que macaco de imitação curte, eu particularmente prefiro mata-mata, tendo ou não derby... PQP VTNC SP!). Mas confesso que jamais quis que mudasse enquanto o Flamengo não conquistasse um título em pontos corridos para enfiar na guela deles. Ainda que vamos ouvir para sempre que foi "uma aberração" e foi "sem querer" (talvez tenha sido mesmo! quem se importa? é campeão porra, VTNC!). Ainda gostaria, antes de vê-lo novamente em mata-mata e não em pontos corridos, ver o Flamengo ser bi ou tri-campeão brasileiro, consecutivamente, neste formato (só para deixar o cuzinho deles bem assado!). Mesmo que aí o disco vá mudar e aí a choradeira será anti-espanholização. Lembro-me como se fosse hoje da turma da ESPN falando, com sorriso no rosto, em Lyonização quando o SPFC foi tri-campeão brasileiro em 2008 (o Lyon, para os que não se lembrarem, foi sete vezes seguidas campeão francês).
(sim, atento leitor, que teve saco para chegar até aqui, tem vários recadinhos implícitos e não explicitados propositalmente colocados no meio do texto, cada um faça a interpretação que quiser)
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