sexta-feira, 10 de junho de 2016

Maracanã: Ruim com a Concessionária, mas Pior sem Ela? - Parte 3

Finalizando a análise, Daniel Nigri entra no detalhe dos borderôs inacreditáveis da FERJ no Maracanã.

Parte III: Análises dos borderôs da final do Carioca 2016

Depois de quase cinco meses, o Maracanã teve as portas reabertas, no ultimo dia 01/05, no primeiro jogo da final do Campeonato Carioca 2016. Uma pergunta que eu sempre fiz e já ouvi de muitos torcedores era: será que o Consorcio Maracanã realmente tinha tantos custos na operação? Será que não seria possível fazer essa operação mais barata?

Resolvi então comparar os borderôs de dois jogos de Flamengo e Fluminense no Campeonato Brasileiro 2015. Os jogos dos dois times contra o Vasco, que coincidentemente tiveram públicos, renda, e valor de ingressos parecidos.

Antes de começar a comparação, o primeiro número que salta os olhos, na final do estadual, foi o relativo aos camarotes promocionais. Foram 787 lugares aos quais foram atribuídos o valor de R$ 200,00 cada, o que totalizou um valor superior a R$ 150.000,00 em camarotes promocionais, que se somados aos 2600 ingressos promocionais de cadeiras normais, teremos um total de R$ 235.400,00 do total da renda, ou 12,80% do total de ingressos promocionais.

Obs: Não estamos falando de gratuidades. Para efeito de comparação, dos camarotes vendidos pelo preço de 200,00, tinham 654 disponíveis e só foram vendidos 220. Os ingressos promocionais geraram quase R$ 12.000 de INSS a mais. Um absurdo.

Gratuidades e Cadeiras Cativas

Com relação às gratuidades, os totais de 1570 cadeiras cativas e 5045 gratuidades, por força de lei, representaram 3,6% e 11,5% respectivamente do público total de 43.822 presentes. O total de gratuidades representou mais de 15% do publico total. Que se somados aos ingressos promocionais representaram mais de 22,5% do publico no estádio. Mais de 10.000 pessoas assistiram ao jogo de graça.

No jogo Flamengo x Vasco, do Campeonato Brasileiro, por exemplo, os ingressos promocionais, representaram menos de 3% da renda da partida e no jogo Fluminense x Vasco, esses ingressos representaram 8% do total da renda.

Quanto as gratuidades o jogo Flamengo x Vasco teve 1.360 ingressos de cadeiras cativas e 2.761 gratuidades, o que gera um total de 3,06% e 6,22% respectivamente. Isto é menos de 10% do total.

Antes de passar para a análise dos custos, propriamente dita, gostaria de deixar minha indignação, quanto a falta de beneficio especial para o sócio torcedor no estadual, como ocorre no Campeonato Brasileiro.

O Sócio Torcedor paga o mesmo valor de meia-entrada da maioria dos outros torcedores. Com essa regra, infelizmente, a FERJ, joga contra os seus afiliados, atrapalhando uma captação de receitas que poderia ser importante para os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. E que poderia ajudar a encher mais os estádios e aumentar a média de público desse campeonato que anda decadente.

Outros Custos

Na questão dos custos, o primeiro que me chamou a atenção foi o valor pago a COOPAFERJ, a Cooperativa de Árbitros de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Cooperativa esta, que já foi inclusive, executada pelo Ministério Público do Trabalho, por não efetuar o recolhimento de INSS dos árbitros. Na final do ultimo domingo, o valor pago foi de R$ 29.792,40 além, de 15% de INSS no valor de R$ 4.468,86. Totalizando mais de R$ 34.000,00 para a cooperativa de árbitros.

Enquanto isso, no brasileiro do ano passado, nos jogo Flamengo x Vasco e Fluminense x Vasco foram pagos apenas R$ 1.422,46 para a cooperativa, além do INSS de 15%. Nestes dois jogos, em um campo separado do borderô, havia um campo designado como taxa de arbitragem no valor de R$ 9.000,00 e outro com INSS de 20% no valor de R$ 1.800,00. A minha pergunta que espero poder ser esclarecida é: Por que a FERJ prefere recolher o valor dos árbitros via cooperativa e não como no campeonato brasileiro com a taxa de arbitragem que é paga diretamente aos árbitros? Por que o valor recolhido para árbitros na final do carioca é o triplo do total gasto com arbitragens nos jogos de brasileiro?

Despesas Operacionais

As despesas operacionais e de delegado do jogo vieram em linha com o praticado no Campeonato Brasileiro, além do valor dos alugueis de grades e taxa de bombeiros que vieram em valores pouco superiores, mas mesmo assim, considerado por mim, como normais.

O valor referente a antidoping está zerado. Gostaria realmente de saber o motivo da ausência desses valores ou se não foram feitos. Sabemos que em vários jogos do Campeonato, os exames anti-doping não foram feitos, devido a seus custos elevados.

No Brasileiro do ano passado Flamengo e Fluminense pagavam cerca de R$ 5.000,00 por jogo para isso. Sabemos também que a Federação não obriga a realização dos mesmos nesse Campeonato Estadual. Acho um absurdo se os exames não tiverem sido feitos no jogo final do Estadual. Mas, prefiro esperar a resposta.

Seguro do Público Presente

Aí chegamos em outro ponto: o seguro do público presente. Tanto Flamengo quanto Fluminense pagavam R$ 0,05 (cinco centavos) por torcedor no Campeonato Brasileiro do ano passado.

No jogo Fluminense x Vasco, o público presente foi de 41.764 presentes, logo o seguro pago foi de R$ 2.088,20. Na final entre Vasco x Botafogo, o valor cobrado pelo seguro foi de R$ 0,15 por torcedor. O triplo do valor. Valor total pago foi de: R$ 6.573,30. Considerado por mim como, no mínimo, excessivo.

Produção de Ingressos

Outro centro de custos crucial, é a confecção, venda e pré venda de ingressos. Na final de domingo, o valor total gasto foi de R$ 128.397,60, isto é, foram gastos R$ 2,93, por torcedor que estava presente no estádio do Maracanã nesse item.

Para efeito de comparação o Flamengo no jogo do ano passado gastou R$ 70.822,40, além de R$ 20.664,16 com despesa de venda e pré venda de sócio torcedor. Totalizando R$ 91.486,60 com despesas de confecção de ingressos e venda o que representa R$ 2,06 por torcedor presente. O que significa um valor 30% menor.

Aluguel do Maracanã

Em relação ao custo operacional do estádio, o jogo da final teve um custo de R$ 531.133,60, isto é, teve um custo referente a quase 29% do total da renda bruta. E ainda houve uma despesa de R$ 50 mil para cada um dos clubes, que provavelmente tem a ver com a operação do estádio também.

No Flamengo x Vasco do ano passado foi pago de custo operacional do Estádio, o valor de R$ 311.070,00, além de um aluguel no valor de R$ 364.107,60. Já o Fluminense pagou à Concessionária, seu sócio no contrato, o valor de R$ 711.256,50. Esses números evidenciam que as arenas modernas, embora sejam muito confortáveis, são extremamente lesiva aos clubes do ponto de vista financeiro.

Com todos esses custos exorbitantes, cada time só conseguiu levar pra casa o valor de R$ 240.574,80, ou seja, cerca de 13,5% da renda bruta cada.

Só pra efeito de comparação, Flamengo x Vasco jogaram a semifinal em Manaus e de cota cada um recebeu R$ 500 mil reais. Outros jogos, que o Flamengo vendeu seu mando de campo recebeu R$ 700 mil reais. Por que, então no Rio de Janeiro não é possível que os clubes consigam lucrar esse mesmo valor, nem mesmo em um jogo com 75% de lotação do Maracanã? Espero que este texto ajude ao leitor a entender os motivos.


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