O Flamengo publicou o Balanço Financeiro do 3º Trimestre de 2016. Abaixo estão as ilustrações gráficas comparativas com os últimos trimestres, com uma análise econômico-financeira detalhada.
Antes, porém, um parêntese sobre a análise sobre estes números publicadas no blog Olhar Crônico Esportivo. O autor daquele blog, Emerson Gonçalves, quase sempre muito feliz nas suas análises, escreveu em 01/11/16, em matéria sob o título "Resultados financeiros do Flamengo: ótimos e perigosos": "Receita maior que a dívida: uma notícia perigosa. Pois é, como pensar que notícia tão alvissareira possa ser perigosa? O simples fato de entrar mais dinheiro do que o total da dívida do clube ou de qualquer outra instituição ou empresa ou pessoa física é muito bom em termos teóricos, mas nem tanto, geralmente, em termos práticos. Porque para gerar uma determinada receita há uma correspondente e necessária despesa, não existindo na vida real a máxima popular “se eu pegar tudo que ganho, conseguirei pagar tudo que devo”... Ou seja, isso significa que as dívidas continuarão presentes por um tempo determinado, novas dívidas poderão ser feitas (a dívida em si não é boa ou ruim e pode ser, o que é desejável, a alavanca para maiores receitas) e parte das receitas continuará sendo destinada ao pagamento delas. Portanto, deve-se sempre administrar com olhos no futuro e pés firmemente cravados no chão. E os olhos não podem comandar os pés, pois, nesse caso, o tombo é inevitável". Não entendi direito o que ele quis dizer com estas palavras. É uma notícia boa, ponto. Talvez tenha tentado fazer um alerta, escolhendo as palavras erradas, do tipo "agora que o problema está perto de ser equacionado, não vá se empolgar e descontrolar tudo de novo". Pode ser... mas, primeiro, ainda que com viés de queda, a dívida líquida cresceu frente ao trimestre anterior, e está longe de ser confortável; segundo, as receitas tiveram um resultado excepcional, num ano de crise econômica para todos os setores; e terceiro, as despesas tem que ser controladas, mas sim serão expandidas, até porque há margem no resultado operacional para isto, pois só assim as receitas poderão continuar crescendo, só um time forte garantirá isto. O Flamengo gastará mais com o elenco em 2017 e tem margem para isto!
Vamos então à minha análise dos números: como em todos os balanços trimestrais (sempre publicados 30 dias após o fim do exercício, já que não precisam passar por Auditoria, diferentemente do balanço anual, que sai 3 meses após o fechamento), a análise se debruçará sobre indicadores de estoque: Empréstimos de Curto Prazo, Dívida e Razão Dívida/Receita Anualizada (indicadores de estoque são um retrato de momento) e em indicadores de fluxo: Receita Total, Receitas Brutas do Futebol e Resultado Líquido (os indicadores de fluxo são crescentes no exercício, acumulando-se ao longo do ano até o resultado anual final).
Antes, porém, um parêntese sobre a análise sobre estes números publicadas no blog Olhar Crônico Esportivo. O autor daquele blog, Emerson Gonçalves, quase sempre muito feliz nas suas análises, escreveu em 01/11/16, em matéria sob o título "Resultados financeiros do Flamengo: ótimos e perigosos": "Receita maior que a dívida: uma notícia perigosa. Pois é, como pensar que notícia tão alvissareira possa ser perigosa? O simples fato de entrar mais dinheiro do que o total da dívida do clube ou de qualquer outra instituição ou empresa ou pessoa física é muito bom em termos teóricos, mas nem tanto, geralmente, em termos práticos. Porque para gerar uma determinada receita há uma correspondente e necessária despesa, não existindo na vida real a máxima popular “se eu pegar tudo que ganho, conseguirei pagar tudo que devo”... Ou seja, isso significa que as dívidas continuarão presentes por um tempo determinado, novas dívidas poderão ser feitas (a dívida em si não é boa ou ruim e pode ser, o que é desejável, a alavanca para maiores receitas) e parte das receitas continuará sendo destinada ao pagamento delas. Portanto, deve-se sempre administrar com olhos no futuro e pés firmemente cravados no chão. E os olhos não podem comandar os pés, pois, nesse caso, o tombo é inevitável". Não entendi direito o que ele quis dizer com estas palavras. É uma notícia boa, ponto. Talvez tenha tentado fazer um alerta, escolhendo as palavras erradas, do tipo "agora que o problema está perto de ser equacionado, não vá se empolgar e descontrolar tudo de novo". Pode ser... mas, primeiro, ainda que com viés de queda, a dívida líquida cresceu frente ao trimestre anterior, e está longe de ser confortável; segundo, as receitas tiveram um resultado excepcional, num ano de crise econômica para todos os setores; e terceiro, as despesas tem que ser controladas, mas sim serão expandidas, até porque há margem no resultado operacional para isto, pois só assim as receitas poderão continuar crescendo, só um time forte garantirá isto. O Flamengo gastará mais com o elenco em 2017 e tem margem para isto!
Vamos então à minha análise dos números: como em todos os balanços trimestrais (sempre publicados 30 dias após o fim do exercício, já que não precisam passar por Auditoria, diferentemente do balanço anual, que sai 3 meses após o fechamento), a análise se debruçará sobre indicadores de estoque: Empréstimos de Curto Prazo, Dívida e Razão Dívida/Receita Anualizada (indicadores de estoque são um retrato de momento) e em indicadores de fluxo: Receita Total, Receitas Brutas do Futebol e Resultado Líquido (os indicadores de fluxo são crescentes no exercício, acumulando-se ao longo do ano até o resultado anual final).
As contas a pagar de curto prazo seguem relativamente bem controladas, e os empréstimos seguem sendo o principal um ponto de atenção, o volume com vencimentos de curto prazo é elevado. O empréstimo que nos dois últimos balancetes aparecia como CCP - Pessoa Física (possivelmente Cláudio Pracownik, Vice-presidente de Finanças) passou a um novo empréstimo ao Banco Brasil Plural. A dívida com a FERJ já não existe mais, e as com o Consórcio Maracanã e a CBF caminham para serem zeradas.
O nível de receitas do Flamengo continua em viés de elevação por causa do aumento dos valores recebidos pelos contratos de TV com a Rede Globo. Porém, o negativo é a queda qualitativa que este aumento representa, pois as receitas de televisão representaram agora 58% das receitas do futebol. É preciso que haja injeção nas rubricas Patrocínio, Bilheteria e Sócio-Torcedor, para equilibrar qualitativamente as receitas. O caminho indica que as receitas em 2016 serão ainda maiores do que em 2015, graças ao aumento significativo no contrato com a televisão, que compensou as quedas com bilheteria, sócio-torcedor e patrocínio.
A receita com patrocínio, como já era esperado, frente à perda sem reposição de alguns patrocinadores, caiu na comparação frente ao mesmo período do ano anterior. É um problema que tem afetado a todos os clubes, mais que a uns que a outros. Dá para dizer que a posição do clube, frente às circunstâncias econômicas do Brasil, é até boa.
Em Bilheteria, com o Maracanã fechado, embora o Flamengo tenha conseguido crescer as entradas no 1º semestre, no 3º trimestre, com o Campeonato Brasileiro, na comparação ano contra ano a redução foi expressiva em R$ 10,1 milhões (-26,2%). Em compensação, as despesas operacionais com jogos e competições caiu R$ 6,5 milhões, compensando parte da perda em termos líquidos. Mas, ainda assim, do ponto de vista econômico representou uma perda inquestionável. Ainda mais pela retração que a ausência de um estádio no Rio de Janeiro causou nas receitas do Programa de Sócio-Torcedor. E ainda há que se considerar o ponto de vista desportivo, muito negativo, pelo evidente cansaço físico do time em função do excesso de viagens.
A receita com Torcida (somando Bilheteria e Sócio-Torcedor) despencou por causa da queda de bilheteria no 3º trimestre. Diferentemente do que eu esperava nas análises anteriores, não fechará 2016 acima de R$ 75 milhões, devendo fechar entre R$ 65 e 70 MM. Ainda assim, é um baita resultado se comparado ao desempenho de três ou quatro anos atrás neste quesito. Representa o equivalente a cada torcedor rubro-negro do Brasil estar dando R$ 2 ao clube por ano. Até 2012, a contribuição média por torcedor rubro-negro não chegava a R$ 0,30 (30 centavos)!
A queda expressiva de Resultado Líquida na comparação entre os terceiros trimestres de 2015 e 2016 é enganosa, porque o resultado do 3º tri de 2015 foi "inflado" pelos ganhos fiscais obtidos na renegociação das dívidas públicas com o PROFUTE. O relevante é a expansão no trimestre contra o trimestre imediatamente anterior, indicando a saúde financeira ainda em estado de melhora e expansão. É a prova de que há margem, há saúde financeira, para justificar um aumento no investimento na folha salarial em 2017 sem comprometer a melhoria da "política fiscal" do Clube de Regatas Flamengo.
O importante é olhar o Resultado Operacional. Ele piorou no 3º tri frente ao ano anterior em função da retração dos resultados de Bilheteria e Sócio-Torcedor. E ambos melhorarão no 4º trimestre.
A razão entre dívida e receita era de 3,6x no fim de 2012, passou a 2,4x no fim de 2013, para 1,7x no fim de 2014 e para 1,4x no fim de 2015. Agora, a receita anualizada representa 1,1x o valor da dívida. É uma mutação de um quadro de insolvência para a solvência. Excelente desempenho, aproximando-se da relação observada em clubes cujas finanças são consideradas exemplo, e que, não por coincidência, são os clubes que brigam na ponta da tabela do Campeonato Brasileiro na última década.
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