Nunca a razão que leva as associações de moradores esteve tão clara e explicitamente colocada quanto o foi na declaração de Evelyn Rosenzweig, presidente da Associação de Moradores do Leblon, em 30 de março de 2017:
"Atrair dois domingos por mês vinte mil pessoas não é agradável. É um bloco de carnaval. Não é interesse nosso".
Trânsito, Arquitetura Urbanística, Meio-Ambiente e Poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas. Diversas desculpas sempre são colocadas, mas são camuflagem num discurso que esconde e sempre escondeu a principal razão à resistência: os moradores de Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa, concentração do maior poder aquisitivo, área mais nobre da cidade do Rio de Janeiro, não querem a torcida do Flamengo nas redondezas. É isto. Com ou sem estacionamento, independente de quantas vagas, com ou sem estrutura acústica... Nunca será!
Os mesmos pontos foram levantados na última vez na qual o Flamengo falou seriamente em ter um estádio na Gávea, em 1995. Na época ainda não existia o Shopping Leblon, um forte complicador adicional do trânsito da região, com uma estrutura de arquitetura urbanística pavorosa, principalmente quando observado pelo lado oposto da Lagoa Rodrigo de Freitas, à qual certamente são causados muito mais danos diários ao meio-ambiente com a poluição de restaurantes e banheiros. As associações de moradores da região nunca se manifestaram, os alvarás saíram rápido.
Republico abaixo o texto que escrevi em 9 de novembro de 2016: "Estádio próprio, Flamengo? Não vão te deixar!". Há quase quatro anos, em 4 de setembro de 2013, escrevi "A Privataria "Maracanã - Engenhão - Odebrecht" e o Flamengo mais uma vez refém de sua própria inércia", um texto que se relido, parece que foi escrito ontem! Tristemente o tema pode ser atualizado: Governador, 5 Conselheiros do TCE-RJ, Presidente e Diretores da Odebrecht estão todos presos pela Operação Lava Jato, e por investigações que envolve a "licitação ilícita" de cessão do estádio ao batizado "Consórcio Maracanã". O belo texto de André Amaral, do blog Ninho da Nação, eu reproduzi aqui.
Eis a republicação do texto "Estádio próprio, Flamengo? Não vão te deixar!":
A estratégia do Flamengo para conseguir ter uma casa continua muito mal parada! A diretoria do Flamengo tem conhecimento de trâmites públicos, conviveu com eles no BNDES, que ilusão é esta de que as leis de mercado equacionarão o assunto Maracanã? Não solucionaram, e não vão solucionar. É assim que a esfera pública funciona no Rio de Janeiro e no Brasil, por debaixo dos panos. Espero que esta diretoria mantenha sua integridade e não se envolva, e envolva o nome do clube, em falcatruas e corrupção! Só conseguirá resolver este assunto, por meios lícitos, se acertar a mão na estratégia! E até aqui já está mais uma vez muito atrasada nas decisões certas.
1. O CASO DA ARENA MCFLA: a arena olímpica do Flamengo, na Gávea, já deveria ter servido como lição. Foram quase quatro anos de trâmites para lá e para cá. Diversas esferas públicas jogando o assunto de novo e de novo para o final da fila. Já deveria ter servido como lição. Isto deveria ser transformado num Estudo de Caso! Primeiro: enumerar todos os trâmites e exigências por cada órgão ligado à Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo: comparar os tempos de tramitação com o de outras construções na região (Shopping Leblon, por exemplo, uma ameaça muito maior ao trânsito e ao meio-ambiente da Lagoa Rodrigo de Freitas). Terceiro: comparar com os tempos de tramitação de outras arenas. Tenho certeza de quais serão as evidências: um tempo de aprovação absurdo, muito maior do que de outras construções na cidade, e levando muito mais tempo do que qualquer arena construída em outra cidade. Muito provavelmente a explicação para a demora é a corrupção do estado carioca: demorou porque se esperava pelo pagamento da propina que liberaria a agilização da obra. Sem dinheiro por fora, sem negócio ("Quer rir? Tem que me fazer rir!"). É o setor público no Brasil.
Mas não é só a corrupção pública. A corrupção privada também é e será um empecilho para o estádio do Flamengo se o clube não acertar sua estratégia.
2. O CASO ENGENHÃO: a Odebrecht foi a responsável pela obra do Engenhão, e foi a grande vencedora da licitação lançada pelo Governo Sérgio Cabral, liderando o que foi chamado de Consórcio Maracanã. Pois bem, numa cara de pau que existe, mas que dificilmente se vê tão escancarada em outros lugares, quando chegou a hora de sentar para negociar contratos de longo prazo com Flamengo e Fluminense para utilização do Maracanã, o que aconteceu? Surgiu um laudo técnico condenando a obra do Engenhão e forçando o fechamento do estádio (laudo este que veio a ser contestado por engenheiros posteriormente, havendo argumentações técnicas de que a obra e o fechamento não teriam sido necessários). Sem outra opção para jogar na cidade do Rio de Janeiro, a dupla Fla-Flu estava acuada pela Odebrecht a aceitar condições menos vantajosas para assinar o contrato para jogar no Maracanã. Não havia plano B, como não há novamente agora, forçando o Flamengo a se ajoelhar perante condições menos vantajosas. Menos mal, que teve a sensatez de assinar um contrato curto, de apenas três anos.
Dois casos simbólicos, cujas lições precisam ser entendidas na luta pela obtenção de uma casa própria.
3. NOVA LICITAÇÃO DO MARACANÃ: o que os casos listados acima têm a ver com a nova licitação? A corrupção pública e a privada andam de mãos dadas! Odebrecht e Governo do Estado tem muito mais a ganhar encontrando um novo interessado, sem licitação. Basta um dinheiro por fora, e quem chegar querendo rir, fará gente dentro do governo rir. E para a Odebrecht, o que ela precisa é uma solução rápida, que se dane a viabilidade de longo prazo do estádio (para o Governo do Estado idem, já que no longo prazo o problema é de outra gestão). Se o público e o privado andam de mãos dadas, que dizer das esferas públicas estadual e municipal? Para construir um estádio novo, o Flamengo precisa de autorização (taí onde o Caso da Arena McFla entra na ilustração). Nunca terá! Os elos entre Odebrecht, Governo do Estado e Prefeitura do Rio nunca permitirão a emissão deste alvará, nem em 4 anos e nem em 10 anos! Nem para um estádio pequeno na Gávea (ainda mais porque a população do Leblon jamais quis a torcida do Flamengo por lá e jamais irá querer) e nem para um estádio de médio porte em qualquer outra área localizada dentro dos limites municipais do Rio de Janeiro.
Então não tem saída? Só haverá se acertar a estratégia, há alternativas "menos piores". Mas de antemão já houve uma perda enorme de tempo. Enquanto a diretoria ficou repetindo o mantra "Minha prioridade é o Maracanã", e ficou estudando, no papel, na teoria, outras opções, já era para estar com uma obra em andamento, pois só assim teria um fator real de pressão para colocar em cima da mesa de negociações, de resto, serão sempre palavras ao vento. Sem algo sólido que lhe dê poder de negociação, não há firmeza de princípios que resistirá ao tempo.
O Maracanã não é sustentável sem o Flamengo. É a mais pura e cristalina verdade. Mas na terra da falta de transparência e da corrupção endêmica, as regras econômicas são verdades relativas e não absolutas. Infelizmente... e os negociadores que estão do outro lado da mesa sabem disto... se o Maracanã não se sustenta financeiramente, o Flamengo também não se sustenta esportivamente e financeiramente sem o Maracanã, porque não existem outras alternativas viáveis a curto prazo.
Na esfera esportiva, sem uma casa fixa e de baixo efeito-logística (fisicamente falando, em termos de condicionamento físico do elenco), o time de futebol sentirá o desgaste e terá dificuldades de conquistar títulos. Sem novos troféus, a pressão política penderá a favor do outro lado da mesa de negociação.
Sem estádio viável na cidade, caem as receitas com bilheteria e sócio-torcedor, e 2016 por si só já basta para soluções temporárias como esta. Um outro Campeonato Brasileiro nestas condições só fará a pressão política crescer.
Sem soluções que joguem pressão sobre o outro lado da mesa de negociação, o tempo jogará a favor das decisões danosas às receitas de médio e longo prazo do clube, e mais uma vez estaremos reféns, sangrando nossas receitas para enriquecer o proprietário do nosso imóvel, como foi quando este era um ente público (SUDERJ) e é quando este é um ente privado (Consórcio Maracanã). Para o bem da saúde financeira de médio e longo prazo do Clube de Regatas do Flamengo, solucionar a questão estádio, a um custo aceitável para o clube, é urgente.
Chega! Já passou da hora do Flamengo construir suas alternativas. Se a Prefeitura do Rio de Janeiro faz pouco caso dos ganhos adicionais que um estádio do Flamengo traria para a cidade, certamente haverá uma fila de prefeituras na Baixada Fluminense disposta a oferecer uma solução, com terreno e incentivos fiscais, para o Flamengo construir uma casa lá. Uma construção alternativa, não definitiva, pois é óbvio que o Maracanã tem que ser a prioridade, mas um estádio com estrutura dupla, inferior com capacidade até 18 mil pessoas, e superior ampliando a capacidade total para 30 mil pessoas (flexibilizando o custo por evento) seria uma belíssima solução alternativa, e uma bela cartada na negociação pelo Maracanã. É preciso provar que se está falando sério quando se afirma que há firmeza na negociação das condições para se jogar no Maracanã!!!
A população da Gávea e do Leblon jamais aceitará a torcida do Flamengo em dias de jogos à sua porta. A Prefeitura do Rio não oferecerá qualquer solução rápida em termos de liberação de alvará. Mas nada pode impedir a estratégia em prol de uma solucionar É preciso uma opção pequena, uma média e uma grande. A pequena e a média podem estar no mesmo terreno, e a grande tem que ser o Maracanã. Mas não serve falar, há que se agir!!!
SRN
Marcel Pereira
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