quinta-feira, 6 de abril de 2017

Operação Teto do Engenhão 2

Este tema já havia surgido, levantado por Gabriela Moreira da ESPN, em matéria de 13 de fevereiro, sob o título "Dívida 'misteriosa' de R$ 30 milhões (do Botafogo) com Odebrecht": "Uma fatura milionária cujos bastidores são guardados a sete chaves (...) Contraída em fevereiro de 2014, a dívida deveria ter sido paga até o ano passado. Mas até agora, nenhum centavo foi pago (...) A Odebrecht parece não querer receber, embora esteja em grave crise institucional e financeira desde o início da Lava-Jato (...) o clube nunca foi acionado para receber (...) Passivo da gestão de Maurício Assumpção, não se sabe qual foi o motivo do empréstimo. O contrato foi assinado e é válido, mas estranhamente não passou pela aprovação do Conselho Deliberativo do clube. Mais estranho ainda é o fato de a Odebrecht não ter feito qualquer gesto na tentativa de receber o dinheiro. Quando os milhões entraram na conta do Botafogo, a Odebrecht estava em meio a uma briga com o Flamengo para que o mesmo assinasse com o Maracanã, administrado pela construtora. Sem a assinatura com pelo menos dois clubes, a concessão poderia ser contestada. O Fluminense já havia garantido contrato de longa duração, mas faltava o rubro-negro. O então chamado Engenhão, agora Nilton Santos, seria uma opção para o clube, mas era administrado pelo Botafogo. Na época, suspeitou-se que o valor seria uma forma de fidelizar o clube alvinegro aos interesses da empreiteira, mas nada foi provado. Não se sabe, também, quem intermediou o empréstimo milionário. Nas investigações da Lava-Jato, o nome do Botafogo é citado como apelido do deputado Rodrigo Maia, botafoguense e filho do prefeito César Maia, responsável pela construção do então chamado Engenhão. A obra foi finalizada pela Odebrecht, após saída de um consórcio anterior formado pelas empresas Delta, Racional e Recoma. O valor devido está devidamente declarado nos balanços financeiros do Botafogo. Em 2014, eram 23.729 milhões. No de 2015, último publicado, o valor já estava em R$ 28.769 milhões. Não se sabe em qual empresa do grupo Odebrecht estaria declarado o valor emprestado ao clube. Na declaração do clube, a rubrica aparece em nome de Odebrecht Part".

O assunto volta a tona com uma escandalosa matéria que passou quase desapercebida no site do GloboEsporte.com em 3 de abril, num texto de autoria de Rodrigo Capelo: "O Vice-Presidente de Administração do Flamengo, Rafael Strauch, relembrou de um caso de 2013, em que o Botafogo, Flamengo e Fluminense assinam para jogar no então Engenhão e não fecham com a Odebrecht. Strauch acusa o Alvinegro de receber empréstimo duvidoso da empreiteira por "serviços prestados".

Março de 2013: Flamengo e Fluminense assinam com o Botafogo para jogar no Engenhão e não assinaram com a Odebrecht SA pelo Maracanã. Na semana seguinte a Prefeitura fecha o Engenhão! Deixa os três clubes perplexos! Para conseguir a concessão do Maracanã, a Odebrecht SA precisa assinar com dois Clubes, e assim, assinam com Fluminense e o próprio Botafogo. Para quem finge não ver (ou saber), surge um empréstimo (nunca cobrado) da Odebrecht SA para o Botafogo pelos "serviços prestados".

Detalhe que o Botafogo não poderia jogar no Maracanã, pois seu contrato de concessão com a Prefeitura do Rio o obriga a mandar todos seus jogos no Engenhão. Ou seja, não duvidem de absolutamente nada das dificuldades que irão impor ao Flamengo por não aceitar jogar no Maracanã com a Lagardère/BWA".

Complementando o assunto, excelente e pertinente coluna de Mauro Cézar Pereira da ESPN publicada neste dia 6 de abril sob o título "Franceses se aproximam do Maracanã e Fla pode ficar 'asfixiado'":

"Lagardère e consórcio Maracanã (Odebrecht) devem assinar nesta sexta-feira (7 de abril) um "memorando de intenções", que oficializará prazo e condições para apresentação de uma proposta firme de compra da concessão do estádio. Isso praticamente sela a aquisição pelos franceses, que pagariam, parceladamente, R$ 60 milhões pelo direito de gerir e explorar a "arena". O governo do Estado do Rio de Janeiro habilitou a empresa em janeiro, quando entrou na disputa pelo palco da final da Copa, que deverá gerir até 2048.

Assinado o documento, levará mais 20 dias para a evolução do memorando até o contrato. Depois serão necessários cerca de dois meses, a partir da assinatura do documento, para a transição que deve representar a entrega das chaves do "New Maracanan" à Lagardère. Como o Flamengo se recusa a lá jogar sob a administração da empresa, corre risco de sofrer "asfixia" na busca por locais onde atuar durante a temporada 2017.

Em 23 de março, o clube emitiu nota oficial na qual é categórico: "O Flamengo reforça mais uma vez que não fará nenhum tipo de negociação com a Lagardère e seus parceiros comerciais. Nossa experiência com eles evidencia uma total incompatibilidade com os princípios e valores do Flamengo". E aí surgem situações que, nos bastidores, chamam a atenção pelo repentino maior rigor de fiscalização.

Desde que o clube chegou a um acordo com o consórcio encabeçado pela Odebrecht para enfrentar o San Lorenzo no Maracanã, ações fiscalizatórias têm sido mais assíduas. Na oportunidade, o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) apareceu de maneira repentina e questionou a reabertura do Maracanã, que parecia ameaçada. O impasse teve grande repercussão, mas após uma inspeção, deu o ok.

Há dois dias, o Corpo de Bombeiros decidiu interditar todo o setor leste superior pela falta de cadeiras. A interdição valeu para o jogo de ontem, entre Fluminense e Liverpool do Uruguai, pela Copa Sul-Americana. O Flamengo vende ingressos para o local e promete reparar o problema até a partida de quarta-feira, contra o Atlético Paranaense, pela Libertadores da América — uma inspeção está prevista para a véspera da peleja.

Hoje, a Folha de S. Paulo publica matéria sobre a "reconstrução de um canal pluvial que passava ao lado do campo criou um buraco entre as duas arquibancadas temporárias no estádio localizado na Ilha do Governador". O clube minimizou o fato ao emitir nota assegurando que a "obra segue em curso com total respaldo técnico e total nível de segurança e tem previsão de término no fim de abril".

Em 2016 o Botafogo montou arquibancadas no local onde mandou vários jogos da Série A e Copa do Brasil. Em 4 de outubro, quando teve vetada o aparentemente bem encaminhada marcação do Fla-Flu (mando tricolor) para a Ilha sob administração alvinegra, o Fluminense emitiu nota oficial, onde se lê que "o Botafogo entrou em contato (...) e alegou problemas na tubulação de esgoto do estádio Luso-Brasileiro. O clube de General Severiano informou que não teria como avaliar a extensão do problema e que, por se tratar de uma questão técnica subterrânea".

Administrado pelo Botafogo, o Nilton Santos, ou Engenhão, deixou de ser opção para os rubro-negros por conta da incompatibilidade entre as diretorias dos dois clubes. Além disso, no Brasileirão (começa em 13 de maio), não será permitido mandar jogos fora do Estado onde a agremiação está sediada. Em suma: se o Flamengo não viabilizar a Ilha a tempo, poderá ser "forçado" a negociar com a Lagardère a partir de junho, julho, quando o estádio poderá estar nas mãos da companhia que tem matriz em Paris.

Uma das barreiras entre Flamengo e Lagardère era a parceria com a BWA, empresa com a qual o clube se recusa a ter qualquer relacionamento comercial. O blog ouviu a assessoria da organização francesa no Brasil, que assegurou: se ela assumir o Maracanã, os rubro-negros poderão mandar seus jogos no local fazendo a chamada operação das partidas, ou seja, cuidando do funcionamento do estádio, venda de ingressos, etc. Sem BWA! Contudo, nem assim os dirigentes da Gávea admitem um acordo devido a outras questões.

Na prática os obstáculos não se limitam à BWA, como explicou em 26 de março o jornalista Rodrigo Mattos em seu blog. A questão não é financeira, mas de alinhamento, de não fazer negócios com a empresa pelo perfil apresentado no Brasil, a partir daqueles aos quais se associou no país.

Faz sentido. No entanto, o Flamengo pode ser sufocado. Se adiante, por alguma razão, não puder jogar na Ilha do Governador, será empurrado na direção do Maracanã e dos franceses. Ou terá que ir para Volta Redonda, por exemplo. Mas se alcançar fases decisivas da Copa Libertadores, precisará de um estádio para pelo menos 40 mil pessoas. No caso, seria Maracanã ou uma cancha em outro Estado, o que dependeria de aprovação da Confederação Sul-americana e concordância com outros clubes.

Assim, enquanto os franceses se aproximam do Maracanã, o Flamengo faz sábado, contra o Vasco, sua primeira "despedida" do estádio. Mas se ficar "asfixiado", pode se ver obrigado a voltar atrás. Uma queda de braço que ameaça se esticar pelos próximos meses e mostrará se foi boa a estratégia de Eduardo Bandeira de Mello, ao afirmar que com a Lagardère seu time não volta ao estádio.

Vejamos se o presidente rubro-negro saberá fazer como Alexandre Kalil, quando à frente do Atlético. O time carioca tem o seu "estádio Independência" na Ilha, para jogos menores. E precisará, provavelmente, saber negociar jogo a jogo para usar o Maracanã quando lhe convir e de maneira que valha a pena. A experiência atleticana nos embates com a Minas Arena, que gere o Mineirão, vale como referência".




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