RIEMER: o remédio à ausência de títulos
Carreira: 1910 Haddock Lobo (RJ); 1911 Mangueira (RJ); 1911 Fluminense; 1912 América; 1913-1917 Flamengo
Foi o primeiro jogador na história a superar a marca de 50 gols com a camisa do Flamengo. Sua chegada ao clube deu a qualidade final que aquele grupo de jogadores que havia trocado o Fluminense pelo Flamengo em 1912 precisava para voltar a ser campeão.
Riemer foi o artilheiro do Flamengo nas temporadas de 1914, 1915 e 1916. Foi o jogador que mais fez gols com a camisa rubro-negra nos Anos 1910.
Pelo Flamengo fez 69 jogos e marcou 56 gols.
Abaixo, texto de Alberto Santos publicado no blog "Vinhos, Livros e História" contando mais sobre a carreira de Ricardo Riemer:
Ricardo Guimarães Riemer, nascido no Rio de Janeiro em 07 de junho de 1884, iniciou sua prática esportiva ainda estudante, defendendo a equipe de futebol do Colégio Paula Freitas.
Em 1910, inicia-se como amador pelo Haddock Lobo F.C., em 1911 pela equipe do S.C. Mangueira consegue o acesso à 1ª divisão. Os livros não falam, mas Riemer também chegou a jogar algumas partidas pelo Fluminense em 1911, e pertenceu ao mesmo grupo de Borgerth que debandou das Laranjeiras. Ajudou a criar o Departamento de Esportes Terrestres do Flamengo, porém optou por jogar inicialmente no América. Em abril de 1912, em jogo-treino, o América enfrentou ao Flamengo, cabendo a vitória ao rubro-negro por 2 x 1, gols de Gustavo e Bahiano. Riemer, pelo América, marcou o 1º gol da partida. Até então, sua passagem pelo futebol fora discretíssima. Foi quando em julho de 1912, é inscrito na AMEA pelo C.R. do Flamengo, para disputar o certame carioca de 1913.
Em menos de dois anos tornar-se-ia ídolo rubro-negro, ao conquistar o 1º título de futebol do clube e alcançar a co-artilharia do campeonato, com 8 gols. Embora fosse médio-volante, tornou-se artilheiro: tinha um potente chute. Quando a bola vinha no jeito, Riemer ficava meio de lado, usando a perna direita como encosto, muleta. E aí pegava de bate-pronto aquela “paulada”. Por isso ganhou o apelido de perna-de-pau. E dizia: "que diabos! Eu sou inside-left (quer dizer, meia-esquerda) não sou?".
Nos anos que se seguiram, tornou-se o maior artilheiro rubro-negro da década de 1910. Ao total de sua carreira no clube marcou 56 gols em 69 partidas, alcançando a média de 0,81 com por partida (esta é a 4ª melhor média da história do clube). É dele ainda a maior média histórica de gols em Fla-Flus: 1,08 (com 13 gols no total). Pela média, é o maior carrasco do Fluminense.
Dividiu glórias com os companheiros daquele poderoso scratch que tinha por base: Baena, Píndaro e Nery; Lawrence Andrews, Amarante e Gallo (Arand de Almeida); Bahiano, Riemer e Borgerth; Gumercindo e Arnaldo... Outras formações durante a competição contavam ainda com Curiol (Coriolano), Angelo, Miguel, Raul, Sidney, Paulo Buarque, Milton, Orlando, Gustavo, Barra, Joca, Pinho, Zé Pedro e Antonico. A partir de 1918 passou apenas a participar dos torneios internos do clube.
Já em 1913, dividia seu tempo entre o Flamengo e a Faculdade Nacional de Medicina, onde concluiu seu curso em 1919. Em 1914, ainda participava de jogos pelo Acadhemicos, equipe de futebol da Escola de Medicina.
Em 1920, já formado, casa-se e abandona o futebol para exercer seu ofício como médico: primeiramente como sub-inspetor do Hospital Sanitário Marítimo, posteriormente assumiu a direção da Hospital de Clínicas Médicas para homens (do Souza Aguiar), onde aposentou-se compulsoriamente em 1964. No ano de 1943, em decorrência da Segunda Grande Guerra, é nomeado Major-Médico do Exército.
Seus últimos dias, revelam toda sua paixão pelo Flamengo. Entrevistado dias antes de seu falecimento, revelou algumas boas histórias. Riemer advogava uma teoria sobre a popularidade de Flamengo em todo o país. Dizia ele que esta popularidade se devia à equipe de 1914, pelo fato de que a maioria dos atletas desta equipe (Píndaro, Nery, Angelo, Miguel, Arnaldo, Gumercindo, Raul, outros...) como ele, formaram-se em Medicina, e que passaram a atuar nos vários rincões do Brasil, e onde estabeleciam seus consultórios, instalavam na porta de entrada o escudo e a bandeira do Flamengo. Por conta disso, a maioria dos pacientes, por vezes tratados gratuitamente, indagavam curiosos sobre o que era aquilo, e sabendo tratar-se da paixão dos médicos que os atendia, acabavam por simpatizar com o clube, sem mesmo tê-lo visto jogar.
Riemer nunca abandonou sua paixão pelo futebol e pelo Flamengo. Contava ele que ao casar, sua esposa, Dona Raquel Castro Riemer (cantora lírica/pianista) que detestava o esporte bretão, o reprimia de ir aos domingos nos jogos, pois achava um tremendo mau gosto assistir a homens correndo atrás de uma bola. Riemer encontrava o ‘jeitinho’ brasileiro para driblar sua senhora. Servia-lhe após o almoço de domingo uma taça cheia de vinho tinto forte (possivelmente do Porto) e em poucos minutos ela adormecia, momento em que ele ganhava a rua para ir a São Januário. Dizia ele: voltava feliz pois quase sempre o Flamengo saía vitorioso.
Na época desta entrevista, no auge dos seus 71 anos, tinha como alegrias cuidar de seus passarinhos, em seu apartamento na Rua Domingos Ferreira, além de folhear revistas e fotos antigas de seus gols.
Com o tempo e com a idade chegando, passou a acompanhar os jogos somente pelo rádio. Depois de anos, esta rotina foi quebrada. Em agosto de 1965, dias antes de seu falecimento, Riemer fora ao Aeroporto recepcionar a filha Rosina, o genro Lee e o neto Richard de 2 anos, e como surpresa, recebeu de Rosina uma camisa rubro-negra. Empolgado com o presente que o fazia relembrar os gritos de “dá-lhe, Riemer!”, entoados no passado pela torcida rubro-negra, decidiu ir ao Maracanã. Era uma tarde de domingo, 8 de agosto de 1965. Vestindo o manto, assistiu a seu último Fla-Flu. Seu último adeus ao mais querido. O jogo foi melancólico. Riemer resumiu-o, curto e grosso: “Achei a partida muito feia, nunca apreciei o 0 x 0”. Esta foi a última frase de Riemer sobre o futebol.
Para um artilheiro nato, uma partida sem gols é de doer o coração. E quatro dias após o coração do artilheiro parou de bater. Nas palavras do repórter, “... o coração velho e fraco, terminou ontem, por desfalecer o Flamengo, de mais um dos homens que viram o nascimento de uma paixão nacional”. Ficou só a memória do saudoso Riemer...
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