quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Hall da Fama do C.R. Flamengo: JORDAN


JORDAN: o Marcador Leal

Carreira: 1951 São Cristóvão (RJ); 1952-1963 Flamengo

Por si só, alguém que disputou mais de 600 partidas com a camisa do mesmo clube não poderá nunca ser esquecido. E Jordan, o ex-lateral-esquerdo do Flamengo, tem motivos para ser ainda mais lembrado porque foi eternizado por Mané Garrincha como "o Melhor e Mais Leal Marcador" que o maior ponta-direita do futebol de todos os tempos teve ao longo de toda a sua carreira.

Pelo Flamengo, ele fez 609 jogos e marcou 3 gols.


Abaixo, estão combinados dois textos, um de autoria de José Rezende no site "Historiadores dos Esportes", e outro publicado no site "Tardes de Pacaembu":

Jordan da Costa nasceu na cidade do Rio de janeiro em 24 de novembro de 1932. O primeiro dos três filhos do casal Costa, Jordan foi criado ao lado de duas irmãs, Doriceles e Miriam. Antes de vencer no futebol, ele trabalhou vendendo balas e depois como vidreiro até meados de 1949, quando foi encaminhado aos quadros amadores do São Cristóvão de Futebol e Regatas. Depois de passar pelo time de aspirantes, Jordan foi aproveitado no time principal durante o campeonato carioca de 1951, temporada em que seu futebol foi devidamente percebido pelos grandes times do Rio.

Pelo próprio Jordan, lembrando seus primeiros passos com a bola no Morro da Mangueira: "Tenho grande lembrança do campo do Bandeirante, onde comecei lá no Morro da Mangueira. Lá todos gostam de mim e constantemente estou na Mangueira. Na pelada eu brincava muito na frente e fazia muitos gols de center-forward. Depois, mesmo nas peladas, comecei a recuar quando nós estávamos ganhando, para ajudar a defesa. Quando cheguei ao São Cristóvão para treinar, fui para a lateral-esquerda. Comecei no São Cristóvão com 15 anos e lá fui progredindo desde o juvenil. Dois anos depois, já com 17 anos, estava jogando no primeiro time. Nesta época jogavam comigo Carlyle (não o que jogou no Fluminense), Julinho, Ivan, Luís Borracha, Tórbis".

O próprio jogador conta também: "No meu tempo, a defesa funcionava da seguinte maneira: o zagueiro central marcava sempre o centroavante, os laterais, que eram os beques direito e esquerdo, marcavam os extremas. Nós íamos até o meio de campo, passávamos a bola e parávamos. Não podíamos ir até a área do adversário".

As atuações de Jordan chamaram à atenção dos dirigentes do Flamengo e o jovem lateral tomou o rumo da Gávea. "Eu conversei uma vez com o Flávio Costa sem o conhecimento do São Cristóvão. O Flamengo deu em cima e o São Cristóvão não queria me largar. Eu falei que se o Flamengo queria me levar, que me deixassem ir. Deixa eu arrumar a minha vida. Aí, num dia de treino, o Flávio Costa foi até Figueira de Melo, me chamou perante à diretoria e disse que eu iria para o Flamengo. Respondi: o São Cristóvão é que resolve".

O sonho de jogar pelo Flamengo virou realidade em 1952. A primeira participação aconteceu em 27 de janeiro, na vitória por 3 x 1 sobre o Deportivo Cali, num amistoso realizado no Maracanã. A convivência com Flávio Costa durou apenas um ano. O técnico retornou ao Vasco no final da temporada de 1952. A partir do ano seguinte, o Flamengo passou a ser dirigido pelo paraguaio Fleitas Solich. Com a camisa rubro-negra, Jordan fez parte da histórica "linha média" ao lado de Jadir e Dequinha, no fabuloso esquadrão Tri-Campeão Carioca de 1953, 1954 e 1955 sob o comando de Solich.

Mais uma vez pelas palavras do próprio jogador, sua chegada à Gávea: "No Flamengo, substituí o Bigode que retornou ao Fluminense. O Fleitas Solich manteve a base. Garcia, Rubens já estavam lá. Eu fui o último do grupo que conquistou o título de 53 a chegar. Formei com Jadir e Dequinha a intermediária do Flamengo por muito tempo. Era importante porque a gente se conhecia. Isso levava a gente a jogar bem. Marcar, passar a bola, saber onde o adversário ia lançar uma bola. Não precisávamos gritar, nós nos conhecíamos um ao outro. Quando um saía para dar combate o outro já fazia a cobertura".


E se o futuro construiria a estigma de que o jogador se fosse rubro-negro, entregava-se mais em campo e estaria mais propenso a ser vitorioso pelo clube, nas palavras do próprio Jordan, uma confissão: "Sinceramente, todos os flamenguistas têm a ilusão de que eu sou Flamengo. Mas eu sou São Cristóvão. Eu gosto do São Cristóvão. O Flamengo é o meu segundo time".

Jordan raramente visitava o Departamento Médico do clube. Quando isso acontecia, não era motivo suficiente para ficar ausente do próximo prélio. Ele esteve em campo contra seu ex-clube na maior goleada registrada até hoje no Maracanã: o confronto, válido pelo Campeonato Carioca que aconteceu em 27 de outubro de 1956 e o Flamengo venceu ao São Cristóvão por 12 x 2.

Era sempre o mesmo roteiro em quase todos os clássicos entre Botafogo e Flamengo. Mais um vez, o às vezes volante e às vezes lateral-esquerdo Jordan teria pela frente a ingrata missão de marcar o previsível Garrincha, já que o ponteiro do Botafogo sempre driblava para o lado direito. Se Garrincha balançava para lado direito, como de costume, Jordan também balançava. E assim seguia o duelo!

Certa vez, questionado por um repórter sobre o tormento de marcar Garrincha, Jordan respondeu que preferia correr atrás do camisa 7 do que passar vergonha por ser considerado um carniceiro qualquer. Jordan nunca foi expulso de campo em todos os jogos pelo Flamengo. Ele sempre foi leal e nunca foi violento com Garrincha, nem mesmo naquela medonha tarde de 15 de dezembro de 1962, quando o Botafogo foi bi-campeão carioca ao vencer o Flamengo por 3 x 0, com dois gols do gênio Mané. Naquele dia, com o jogo já decidido, Jordan ainda teve que suportar o regozijo de Garrincha, que com o couro nos pés ainda dizia: "Vem Jordan, vem me pegar".

O depoimento dele sobre aquele histórico confronto: "No retorno de Flávio Costa ao Flamengo, as mudanças feitas pelo técnico influenciaram no rendimento do time. Nesta decisão de 62 contra o Botafogo, o Flávio queria que o Gérson desse o primeiro combate ao Mané. Todas às vezes que o Mané pegasse a bola eu tinha que recuar. Mas o Gérson não queria fazer isso. Eu fiz o que ele mandou, recuava para guardar a entrada da grande área. Se o Gérson não conseguisse tomar a bola do Mané, eu sairia na cobertura dele. Na minha opinião, o Gérson não tinha de maneira alguma condições de dar esse primeiro combate. Se o Flávio invertesse, eu ir na frente e o Gérson vir por trás fazer a cobertura, seria muito melhor. Garrincha nesse jogo não jogou acima do normal, ele jogou o jogo dele. Garrincha fez o que queria e infelizmente o Gérson levou um baile. O Gérson me falava 'Jordan, eu vou fingir que vou, mas não vou não'. Ele não ia, sabia que tomaria o drible. E olha, é interessante isso. Depois que o Gérson saiu daquela embaralhada, o homem (Flávio Costa) mandou eu fazer aquele trabalho e o Gérson fazer o meu trabalho. Eu chegava muito mais perto do Mané. Quando ele tentava o drible, eu parava para dar o bote certo. Algumas vezes eu o pegava, outras não pegava. A gente ficou assim nessa. Quando ele fazia aquela de passar o pé por cima da bola, eu parava e ficava assistindo. Quando ele parava, eu dava o bote. Ele não tinha como se mexer e se embaralhava, e aí eu pegava".

Jordan foi considerado o melhor marcador do fenomenal Garrincha. Ele contou como recebia esse elogio: "Mané tinha uma arrancada sensacional. Primeiro ele passava a perna esquerda em cima da bola para apanhar com a direita. Eu ficava junto. Quando ele passava, eu ficava junto porque sabia que ele não tinha perna esquerda. Ele não chutava com a esquerda. Eu vinha, vinha, vinha e quando ele fazia aquela de puxar com a direita eu já ia levando a minha perna direita na bola. À vezes ele passava, o que era normal, mas muitas vezes eu o desarmei".

Contou Jordan: "Eu não ligava muito para a imprensa. Eu fazia o normal de sempre. Saber chegar nele numa bola. Quando enfrentei o Garrincha pela primeira vez, eu me surpreendi, mas o marquei bem. A imprensa me elogiou. Ele vinha com os dribles dele e eu nunca dei pontapé. Eu não sabia bater. Eu ia na bola. Dei muita sorte também. Num dos últimos jogos que eu fiz contra o Mané, quando terminou o jogo ele apanhou a bola e veio na minha direção e disse: "Negão, hoje você merece tudo. Ela é sua".

Em 1961 o Flamengo de Jordan superou o Botafogo de Garrincha e conquistou o Torneio Rio-São Paulo da temporada. Mas além de Garrincha, Jordan enfrentou outros tormentos: Sabará do Vasco da Gama, Canário do América e outros tantos bons valores daquele período. Jordan também fez parte do elenco que conquistou o título carioca de 1963. E faturou o Torneio Octogonal de Verão em 61. Em 1963, aos 31 anos de idade, Jordan perdeu espaço no time comandado pelo técnico Flávio Costa. Para justificar o aproveitamento do jovem Paulo Henrique, o técnico afirmou que Jordan era uma "bananeira que já deu cacho", palavras que não foram bem recebidas pelos torcedores.

Jordan poderia ter escolhido outro clube e jogar por mais algum tempo. Mas não o fez. Preferiu encerrar sua carreira no clube, não fazia sentido jogar por outra agremiação.

Sua outra grande paixão era a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, onde costumeiramente era encontrado. Criado na comunidade da Mangueira, onde morou por muito tempo, Jordan sempre estava presente para rever os amigos, mesmo depois de conhecer o sucesso como jogador do Flamengo.

Em 14 de fevereiro de 2012, o ex-jogador do Flamengo foi internado para os procedimentos de amputação de sua perna direita em decorrência de diabetes. Em 17 de fevereiro, Jordan da Costa não resistiu e faleceu no Hospital Salgado Filho.



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