terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Hall da Fama do C.R. Flamengo: JUAN


JUAN: elegância e precisão em desarmes

Carreira: 1996-2002 Flamengo; 2002-2007 Bayer Leverkusen (Alemanha); 2007-2012 Roma (Itália); 2012-2015 Internacional; 2016-2019 Flamengo

Tamanha era sua elegância na execução de sua função defensiva, que Juan ficou conhecido como o "zagueiro que jogava de terno". Ao sustentar a camisa 4, o zagueiro artilheiro, foi um jogador com foco total, perfeita leitura de espaços no sistema defensivo, além de um atleta altamente competitivo, e um tempo perfeito para dar botes certos e desarmar, sem falta, aos atacantes adversários.

Como jogador do Flamengo, ele fez 332 jogos e marcou 32 gols.


Abaixo, a combinação com trechos de dois textos sobre a carreira do jogador escritos por Matheus Dantas para o jornal "Lance!", e por Alexandre Ferrari para o site "Calciopedia":

Juan Silveira dos Santos nasceu no Rio de Janeiro em 1º de fevereiro de 1979. Ele cresceu no bairro do Humaitá, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e estudou dos 6 aos 17 anos no Colégio Pedro II daquele bairro, uma das escolas públicas mais tradicionais e mais bem capacitadas da cidade do Rio, e onde sua mãe trabalhava. Os rumos com a bola de futebol nos pés foram iniciados no futsal do Grajaú Country Club, onde atuou ao lado do goleiro Júlio César, que viria a ser seu companheiro de equipe no profissional do Flamengo e na Seleção Brasileira. Posteriormente, migrou para o futebol de campo quando estava com 12 anos, passando a fazer parte do Nova Geração, time de garotos treinados por Zico no bairro da Barra da Tijuca, e que foi o embrião do projeto de criação do Centro de Futebol Zico (CFZ). Um garoto da Zona Sul da cidade, jogando futsal na Zona Norte e fazendo escolinha de futebol de campo na Zona Oeste, as distâncias não seriam uma barreira, já era um indício da determinação que o levou a se profissionalizar como jogador de futebol.

No futebol, tamanha era a sua elegância na execução de sua função defensiva, que Juan ficou conhecido como o "zagueiro que jogava de terno". Depois que chegou à Gávea, sua ascensão foi muito rápida. Ele fez sua estreia no time profissional com tão só 17 anos, em 5 de julho de 1996, quando Joel Santana era técnico rubro-negro, num amistoso contra o Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo. Durante o Brasileirão de 96, entraria em campo durante 12 partidas. Nas temporadas de 1997 e 1998 a frequência em campo aumentou, após as 13 partidas disputadas em 96, ele jogou 36 partidas na temporada de 97 e 29 na de 98. No primeiro semestre de 1999 acabou não sendo aproveitado na campanha que deu o título carioca ao Flamengo, mas no 2º semestre emergiria como titular, formando dupla de zaga com o veterano Célio Silva, na campanha do título de Campeão da Copa Mercosul de 1999.

Permaneceria titular nas campanhas rubro-negras como Campeão Carioca de 2000 (formando dupla de zaga ora com Fabão ora com Luiz Alberto) e como Campeão Carioca de 2001 (formando dupla de zaga com o paraguaio Carlos Gamarra). Em 2001, foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. Ao mesmo tempo, o Flamengo entrava em ferrenha crise financeira após o colapso da parceria com a gigante suíça de marketing ISL. A temporada de 2002 seria de luta por continuação na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro.

O proeminente zagueiro, que ainda muito jovem já chegara à seleção, despertou a atenção do futebol europeu, e ao Flamengo, descapitalizado, só restou vendê-lo. A Lazio tentou comprá-lo, mas, contudo, foi o Bayer Leverkusen, da Alemanha, quem desembolsou cerca de 6 milhões de euros para contratar ao zagueiro de 23 anos. De 2002 a 2007, o zagueiro defendeu à equipe alemã, fazendo uma histórica dupla de zaga com o também brasileiro Lúcio. O mesmo dueto que marcou época pela Seleção Brasileira: vestindo verde e amarelo, os dois jogaram juntos 49 vezes, com um saldo de 34 vitórias, 10 empates e 5 derrotas. Foram apenas 28 gols sofridos pelo Brasil quando os dois jogaram juntos – média de 0,57 por partida.

Defendeu ao Bayer por 5 temporadas e migrou para a Itália, onde chegou "pronto" e se tornou ainda mais líder na Roma, contratado para a temporada 2007/08. Ele já tinha um currículo vencedor e era um jogador consolidado na sua posição. Custou 6,4 milhões de euros, mas só porque exigira uma cláusula rescisória baixa ao firmar contrato com o Bayer Leverkusen. Não havia sido campeão na Alemanha, mas havia se tornado ídolo e crescido como jogador. Ao desembarcar na capital italiana, Juan já tinha no currículo a conquista com a Seleção Brasileira da Copa América de 2004 e de 2007, e da Copa das Confederações de 2005, além de ter sido titular do Brasil na Copa do Mundo de 2006.

Não demorou para ter chances como titular na Roma. Na época da sua contratação, os veículos de comunicação na Itália noticiavam que Juan seria o substituto do zagueiro Cristian Chivu, que poderia deixar a Loba para acertar com a Internazionale. Dito e feito. Em seu primeiro ano, após a saída do romeno, Juan atuou em 32 jogos pela equipe giallorossa, formando dupla de zaga com o francês Philippe Mexes. Algumas lesões musculares o atrapalharam em seu primeiro biênio na Cidade Eterna e ele não ficou disponível para a utilização de Luciano Spalletti durante todo o período.

Na temporada 2007/08, ele foi Campeão da Supercopa da Itália de 2007 e da Copa Itália de 2008, numa equipe que também tinha vários brasileiros: os goleiros Doni e Júlio Sérgio, o lateral-direito Cicinho e os meias Mancini e Rodrigo Taddei. Por causa das atuações, dos movimentos em campo, do espírito de liderança e demais características, Juan chegou a ser comparado por Rudi Voller com outro ídolo da Roma: Aldair. O camisa 4 atuou em 149 partidas pela equipe italiana e marcou 11 gols.

Neste período se sagrou, com a Seleção Brasileira, Campeão da Copa das Confederações de 2009, e foi novamente titular num Mundial, a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. Na carreira, foram 79 partidas e 7 gols marcados pelo camisa 4 atuando pelo Brasil. No Mundial de 2010, a derrota para a Holanda nas quartas de final foi a sua última partida com a camisa canarinho.

No final da temporada 2011/12, Juan foi liberado pela direção romanista e, aos 33 anos, retornou para o Brasil. Ele chegou a ser sondado pelo Flamengo, mas segundo declarou à imprensa à época: "a sensação que eu tinha todas as vezes que conversava com algum representante do clube é de que o Flamengo sempre foi prioridade para mim, mas eu nunca fui prioridade para o Flamengo. O nome Juan era valorizado pelos seus dirigentes, mas o jogador Juan, não. Tenho muita consideração pelo clube, por ter iniciado minha carreira lá, com apenas nove anos, mas faltou contrapartida. Sei que tenho uma história, meu valor e gostaria de ver o Flamengo reconhecendo isso". Acertou então sua transferência para o Internacional, clube no qual permaneceu por três anos e meio. Com o Inter de Porto Alegre, foi Tri-Campeão Gaúcho de 2013, 2014 e 2015, disputando 114 partidas e marcando 8 gols pelo clube. Na última temporada pelo colorado, contudo, conviveu com lesões e pouco atuou.

A trajetória de Juan no futebol, no entanto, não poderia ter terminado longe da Gávea. O zagueiro acertou o retorno ao clube para 2016. Nas duas primeiras temporadas após a volta, formou boa dupla com Réver e chegou a mais 60 jogos com a camisa rubro-negra. Nas últimas temporadas virou reserva, mas sempre exercendo papel de liderança no vestiário e servindo como inspiração para os jovens por conta do profissionalismo e postura. Em setembro de 2018, sofreu uma grave lesão e foi submetido a procedimento cirúrgico.

Voltou durante 2019 para encerrar seu ciclo como jogador de futebol. Em seu regresso ao Flamengo esteve presente nas campanhas nas quais o clube foi Campeão Carioca de 2017 e 2019. No dia 27 de abril de 2019, com um misto de tristeza e felicidade para todos que o admiram, aos 45 minutos do 2º tempo do jogo entre Flamengo e Cruzeiro, na rodada inaugural da Série A do Campeonato Brasileiro de 2019, Juan, com 40 anos, voltou da séria lesão no Tendão de Aquiles para pisar no gramado do Maracanã pela última vez. Atuou por quatro minutos na vitória por 3 a 1. A cada toque na bola, a torcida rubro-negra ovacionava o zagueiro. Os adversários não apertavam a marcação quando ele, de terno, tocava na pelota. Foram os últimos momentos do defensor como jogador de futebol. Um abre-alas para uma campanha majestosa na qual o Flamengo foi Campeão Brasileiro e da Libertadores da América de 2019 com a benção de Juan, que ao se retirar dos gramados passou a se dedicar ao gerenciamento de atividades do futebol rubro-negro.


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