quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Maiores Jogos da História do Flamengo: 23/04/72 - Flamengo 5 x 2 Fluminense




Jogos Inesquecíveis: 23/04/1972 - Flamengo 5 x 2 Fluminense

"Para a temporada de 1972, o Flamengo teve a volta de Doval, que estava emprestado ao Huracán. Mas a grande aposta foi feita sobre o craque de um rival: Paulo César Caju, do Botafogo. Paulo César despontou no alvinegro na segunda metade dos anos 60, numa linha de ataque  fortíssima: Jairzinho, Gérson, Roberto Miranda e Paulo César. Basta constatar que os quatro estavam no México, na Copa do Mundo de 1970. Foi um ataque que teve a responsabilidade de substituir a gloriosa formação Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, que juntamente a Nilton Santos e Didi dera tantos títulos ao Botafogo. E eles deram conta do recado, com Paulo César jogando neste começo de carreira bem aberto pela ponta-esquerda.

No Flamengo, ele voltou a brilhar, foi o carro-chefe na equipe que, depois de seis anos, voltou a conquistar um título carioca. O ano se anunciava bom para o Flamengo logo no início. A conquista do 2º Torneio Internacional de Verão, no Rio de Janeiro, e do 2º Torneio do Povo, que reunia Flamengo, Corinthians, Internacional, Atlético Mineiro e Bahia, sinalizava que bons resultados estavam por vir. A engrenagem da equipe estava se acertando. Na sequência, veio a conquista da Taça Guanabara, na primeira vez em que esta foi disputada como sendo o primeiro turno do Campeonato Carioca. O título foi conquistado em grande estilo, com goleada de 5 a 2 sobre o Fluminense. O investimento para aquele ano foi montado em torno da contratação do técnico Zagallo, campeão mundial em 1970, que chegava para sua primeira passagem como treinador rubro-negro. Além da chegada de Paulo César, e da volta de Doval, foi contratado também o goleiro Renato, que tinha acabado de vencer o Campeonato Brasileiro de 1971 como titular absoluto do Atlético Mineiro. Renato, que havia iniciado a carreira no próprio Flamengo, esteve nos anos de 1970 e 1971 jogando pelo Atlético. No meio da temporada, Zé Mário, que fora contratado ao Bonsucesso em 1971, ganhou a posição de Zanata. Formou-se a base campeã, que jogava com: Renato, Aloísio, Fred, Reyes e Rodrigues Neto; Liminha e Zé Mário; Rogério, Doval, Caio Cambalhota e Paulo César Caju.

O alto investimento deu frutos. Este Flamengo, nos primeiros oito meses do ano, levantou quatro troféus. Em 46 partidas, venceu 26, empatou dezesseis e perdeu apenas quatro. O Flamengo estava maduro para voltar a seus grandes dias e encerrar de vez o período mais escasso em títulos de sua história". (A NAÇÃO, pg. 104 e 105)




Ficha Técnica
23/04/1972 - Flamengo 5 x 2 Fluminense
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 137.002 espectadores)
Gols: Liminha (11'1T), Caio (19'1T) e (29'1T), Doval (19'2T), Jair Pereira (31'2T), Mickey (35'2T) e Caio (45+1'2T)
Fla: Renato, Aloísio, Fred, Tinho e Rodrigues Neto; Liminha, Zé Mário e Doval; Rogério Hetmanek, Caio Cambalhota e Paulo César Caju.
Téc: Mário Jorge Lobo Zagallo
Flu: Félix, Oliveira, Sérgio Cosme, Assis e Marco Antônio; Silveira, Denílson e Didi (Ivair); Wilton, Mickey e Jair Pereira.
Téc: Paulo Amaral




A História do Jogo

Há partidas de futebol que são maiores que títulos na memória de um torcedor e de um clube, principalmente aquelas que são exuberantemente bem jogadas. O Flamengo foi o Campeão Carioca de 1972, mas se há uma partida naquela campanha que ficou eternizada entre as maiores da história rubro-negra, esta foi a que decidiu o 1º Turno, uma goleada que fez do Flamengo o Campeão da Taça Guanabara daquele ano. Foi um Fla-Flu histórico!

A capa do Jornal dos Sports do dia seguinte exaltava: "Mengo. Mengo. Mengo. A cada grito da torcida, o Flamengo respondia com um gol. Cinco vezes, time e torcida se identificaram, no campo e nas arquibancadas. Diante de tal demonstração de força, o Fluminense era um time inibido, que sentiu falta de seu mais importante jogador: Lula. O Fla é o grande campeão!". E o craque rubro-negro, contratando sob grande badalação no início daquela temporada, Paulo César, derretia-se em meio à festa: "No delírio do vestiário do Mengão, houve lágrimas, risos, abraços e muita emoção. Uma frase de Paulo César refletia a fase do Fla: 'Esse é o clube dos meus sonhos'".

O Maracanã viveu um festa maravilhosa naquela tarde de domingo. Era um carnaval de cores e cânticos nas arquibancadas bem distribuídas entre os torcedores de verde, branco e grená que atiravam pó de arroz enquanto moviam suas bandeiras, e os que do lado oposto flamejavam muitas bandeiras vermelho e pretas e cantavam forte e alto. Um palco explêndido para uma festa apoteótica.

O jogo começou, e os ataques se alternaram de um lado e de outro. Mas quem primeiro levou perigo foi o time tricolor. Aos seis minutos, a defesa rubro-negra ficou indecisa e a bola sobrou para o meia-esquerda Jair, o ex-jogador do Flamengo, por onde havia passado em 1968, cruzou para a pequena área e Wilton meteu a cabeça na bola, para fora, mas levando perigo ao gol de Renato.

Na primeira vez em que levaria perigo, o Flamengo já chegaria marcando. O cronômetro marcava dez minutos, avançando para onze, quando Rogério recebeu pela ponta direita, próximo à grande área, foi avançando e a marcação de Marco Antônio recuando, ele então vê Liminha penetrando pela área entre Denílson e Assis e acerta um passe preciso, deixando-o frente a frente a Félix. O cabeça de área rubro-negro, chegando como elemento surpresa ao ataque, dá um sutil toque para desviar do goleiro, a bola vai entrando mansa para dentro do gol. Festa nas arquibancadas! O Flamengo fazia 1 a 0. E sua torcida entoava e adaptada letra do cântico típico de carnaval daquela época: "Olê, olê, olê, olá... o Flamengo tá botando pra quebrar". No lado rubro-negro das arquibancadas, ninguém conseguia mais sentar.

Dali em diante, o time rubro-negro embala. Minutos depois, Paulo César pega a bola na área rubro-negra e enfileira adversários driblando até chegar ao meio de campo, onde é derrubado com falta por Didi, o "Ouro Branco", meio-campista tricolor. Aos dezenove minutos, Paulo César lança Aloísio pela lateral direita, que avança alguns metros e passa para Doval, que dribla Sérgio Cosme e chuta forte, no ângulo esquerdo, obrigando Félix a se esticar para dar um tapa de pontas de dedo para escanteio, com a bola passando rente à trave pelo lado de fora. Quase o segundo!

Mas na cobrança de escanteio, o gol saiu. Rogério cobrou para a área, Caio domina no peito, limpa a jogada para a esquerda, e acerta um tirambaço no ângulo esquerdo do gol tricolor. Um golaço! O centroavante rubro-negro, como sempre passou a fazer quando marcava um gol, corre e dá três cambalhotas para celebrar seu tento, cumprindo o que havia prometido à imprensa durante a semana que antecedeu à partida. Flamengo 2 a 0!

A superioridade rubro-negra em campo incomoda ao técnico tricolor Paulo Amaral, e ele manda Ivair para o aquecimento. Ainda era metade do primeiro tempo, e ele decide mexer no time, tirando de campo a Didi, que deixa o campo visivelmente contrariado. A substituição, entretanto, não só não fez efeito, como parece ter desorganizado ainda mais à equipe do Fluminense, com o domínio rubro-negro até o intervalo passando a ser ainda maior.

Eram vinte e nove minutos quando o lateral-esquerdo rubro-negro Rodrigues avançou pelo lado e passou por Oliveira, entrou pela pequena área e concluiu. Félix rebateu, impedindo o terceiro gol, mas a bola sobrou para Caio que pega de primeira, com força, antes mesmo de deixar a bola cair no chão, e estufa a rede. Félix, caído, nem viu por onde a bola passou. Nova explosão da torcida, mais três cambalhotas, e Flamengo 3 a 0! A torcida já começa a gritar, antes ainda do intervalo: "É campeão! É campeão!".



O time esfriou um pouco o jogo até o intervalo, mas com amplo domínio do meio de campo, troca passes a vontade. Na volta para o segundo tempo, o ímpeto flamenguista segue firme. Logo aos seis minutos, Rogério cruza na medida para Paulo César que, sozinho, perde um gol feito. No minuto seguinte, os tricolores respondem, Jair chuta e Renato faz grande defesa.

Aos dezoito minutos, o argentino Doval recebe de Zé Mário na área, a bola escapa um pouco, mas ele tem tempo de reacelerar e bater forte, estufando a rede do Maracanã. Era festa plena no Maraca. Tinha virado goleada: 4 a 0! Alguns torcedores tricolores começam a deixar as arquibancadas para ir para casa, mesmo tão longe do apito final.

Mas o ferido orgulho tricolor é compensado com luta em campo de seus jogadores, que partem para o ataque. O Flamengo se encolhe na defesa, tentando aproveitar para partir em contra-ataques. Mas o Fluminense consegue se aproveitar e fazer dois gols quase seguidos, primeiro num chute de Jair e depois em conclusão de Mickey: 4 a 2. A comemoração da torcida tricolor em cada um dos gols é tímida. Faltavam dez minutos para o fim.

O cronômetro passa dos quarenta e cinco, quando a bola ainda sobra para Caio e o artilheiro da noite não desperdiça, coroando sua grande atuação com seu terceiro gol daquele fim de tarde já noite no Maracanã. Três gols, três cambalhotas para cada um. Doval e Caio formavam uma dupla de ataque perfeita e infernal, o argentinos com suas idas fulminantes do meio de campo rumo à área, com um vigor físico impressionante, e uma grande visão de jogo. Um encaixe perfeito com o faro de artilheiro nato de Caio Cambalhota. E uma linha ofensiva mravilhosa, com a categoria de Paulo César Caju, e a velocidade de Rogério Hetmanek pela direita de ataque. Aquele novo Flamengo dava muitas esperanças à torcida. E aquele dia mágico ficaria guardado na memória para sempre.

Fim de jogo. O campo foi tomado pela multidão rubro-negra, numa explosão de êxtase num carnaval fora de época. Jogadores carregados nos braços, a Taça Guanabara foi erguida em meio à completa balbúrdia e foi passando de mão em mão. O presidente Hélio Maurício, o vice-presidente de futebol Radamés Lattari e o técnico Zagallo celebravam em meio ao povo. A festa da multidão vararia a madrugada noite adentro. O entusiasmo e o frenesi eram todos vermelho e pretos no Rio de Janeiro.

A força daquele Flamengo estava estampada na tabela de artilheiros ao fim daquele primeiro turno: a primeira posição era dividida por Doval e Caio, com 10 gols cada um, e atrás deles apareciam Lula, do Fluminense, e Jorge, do São Cristóvão, com 6 gols, e Silveira, também do Fluminense, Jorge Mendes, do Campo Grande, e Jairzinho, do Botafogo, com 5 gols. O ataque rubro-negro vivia uma fase infernal. Aquele Fluminense era muito forte, e reencontraria ao time rubro-negro no jogo que decidiu aquele Campeonato Carioca. O torneio foi decidido num triangular final, entre Flamengo, Fluminense e Vasco. A dupla Fla-Flu superou então aos vascaínos por 1 x 0 cada um, e se encontrariam de novo no feriado de 7 de setembro para determinar quem seria o campeão estadual daquele ano, numa nova partida que, coincidentemente, também levaria outra vez 137 mil torcedores ao Maracanã. Doval e Caio marcaram no 1º tempo, Jair Pereira diminuiu no segundo, e a vitória por 2 a 1 fez do Flamengo o campeão carioca de 72. Mas o jogo que ficou para sempre cravado nos corações rubro-negros foi aquela magnífica goleada por 5 a 2 da final da Taça Guanabara.






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