terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Maiores Jogos da História do Flamengo: 03/12/39 - Flamengo 4 x 0 Vasco




Jogos Inesquecíveis: 03/12/1939 - Flamengo 4 x 0 Vasco

O título de Campeão Carioca de 1939 tem um peso gigantesco de auto-afirmação na história do futebol do Flamengo. O Flamengo vivia o maior jejum de títulos de sua história. Em 1927 mesmo já havia sido o campeão quando era tido como fora do páreo entre os favoritos à taça. Entre 1928 e 1933 fez algumas das piores campanhas de sua história no Campeonato Carioca. Via seus rivais na cidade se fortalecerem cada vez mais, e ameaçava ficar para trás em competitividade. A partir de 33 começou a se reestruturar. Em especial de 1936 voltou a realizar grandes investimentos, contratando um treinador estrangeiro e um titular da Seleção Argentina (Arcádio López), e o trio de jogadores mais badalados do Brasil naqueles meados de Anos 1930: Domingos da Guia, Fausto dos Santos, e Leônidas da Silva. Mas perdeu os títulos de 1937 e 1938 para o Fluminense. Era urgente celebrar esta sua recuperação econômica com um título. E em 1939 ele foi conquistado!

A goleada de 1939 sobre o Vasco, na última rodada, foi o jogo de celebração para a torcida do título já assegurado. Em 20 de novembro, Flamengo e América empataram sem gols em São Januário, alçando o time rubro-negro a 34 pontos na tabela, com apenas uma partida por fazer, contra o Vasco nas Laranjeiras. O Botafogo tinha 31 pontos e dois jogos por realizar, contra América e Bangu. Para tirar o título do time rubro-negro, os alvi-negros tinham que vencer seus dois jogos pendentes, o que lhes levaria a 35 pontos, além de precisar torcer por uma vitória vascaína sobre o Flamengo na partida derradeira. Era a única combinação de resultados que impediria uma conquista do Flamengo.

Em 26 de novembro, América e Botafogo entraram em campo no Estádio de São Januário. O time alvi-negro era treinado pelo húngaro Dori Kurschner, que havia treinado o Flamengo entre 1937 e 1938. O centroavante botafoguense Carvalho Leite marcou três gols naquela tarde, e Zezé Moreira ainda converteu um quarto, mas não foi suficiente para impedir a vitória do América que garantiu matematicamente o título do Rio de Janeiro ao Flamengo. Com três gols de Hortêncio e dois de Pirica, o time rubro venceu por 5 a 4, resultado que levou o troféu do campeonato para a Gávea.

Em 3 de dezembro, já campeão, o Flamengo recebeu ao Vasco no Estádio das Laranjeiras, que ficou abarrotado de gente para celebrar o festa do novo campeão da cidade! Desde 1927 o Flamengo não era Campeão Carioca, tendo sido assim interrompido o maior jejum da história rubro-negra! Enquanto o Botafogo goleava ao Bangu por 5 a 0, o Flamengo teve atuação majestosa diante do time cruzmaltino, tão só o 6º colocado na tabela de classificação, com uma goleada que selou com chave de ouro uma campanha excepcional.

O time do Vasco era treinado pelo uruguaio Ramon Platero, e tinha quatro estrangeiro na sua linha: o uruguaio Segundo Villadoniga, principal goleador da equipe, e os argentinos Jose Agnelli, Jose Luis Dacunto e Bernardo Gandulla. No lado rubro-negro também se destacavam um trio de argentinos: Carlos Volante, Agustín Valido e Alfredo González. E na goleada rubro-negra naquela tarde de 3 de dezembro, três tentos foram marcados por argentinos, um de Valido e dois de González, com o herói brasileiro Leônidas da Silva fechando a vitória. Flamengo, campeão do Rio!



Ficha Técnica
03/12/1939 - Flamengo 4 x 0 Vasco da Gama
Local: Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Gols: Valido (7'1T), Alfredo González (26'2T), Leônidas da Silva (29'2T) e Alfredo González (34'2T)
Fla: Yustrich, Domingos da Guia e Newton Canegal; Artigas, Carlos Volante e Médio da Guia; Sá, Agustin Valido, Leônidas da Silva, Alfredo González e Jarbas.
Téc: Flávio Costa
Vasco: Nascimento, Jose Agnelli e Florindo; Jose Luis Dacunto, Zarzur e Argemiro; Orlando, Alfredo, Segundo Villadoniga, Bernardo Gandulla e Emeal.
Téc: Ramon Platero




A História do Jogo 

O campeonato de 1939 foi disputado por nove clubes em três turnos corridos, com cada clube jogando contra seus adversários uma vez como mandante, uma como visitante, e uma terceira em campo neutro. No início, o Fluminense, tri-campeão do Rio, era apontado como o grande favorito para conquistar a sua quarta conquista consecutiva. Cabia a Flamengo, Botafogo, Vasco e América lutar para impedi-los, com Bangu, São Cristóvão, Madureira e Bonsucesso correndo por fora para tentar surpreender. O Madureira - onde começava a brilhar o ainda jovem Jair Rosa Pinto - tinha sido o campeão do Torneio Início, mostrando qualidades.

A campanha rubro-negra arrancou no 1º turno com três goleadas consecutivas: 5 a 1 no Madureira, 4 a 1 no Botafogo, e 5 a 1 no São Cristóvão. Na 4ª rodada, no entanto, o time mostrou suas fragilidades, goleado por 4 a 0 pelo Bangu no Estádio da Gávea, em partida que terminou em briga generalizada entre os jogadores dos dois times. Após empatar com o Fluminense, o time retomou a boa sequência, goleando ao América por 7 a 1 na Gávea e ao Bonsucesso por 5 a 1, mas sendo derrotado por 2 a 0 pelo Vasco em plena Gávea. Com 5 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, o Flamengo terminou o 1º turno dividindo a liderança com 11 pontos junto ao Vasco, seguidos por Botafogo e São Cristóvão com 10 pontos, e pelo Fluminense com 9 pontos. Tudo embolado na tabela!

No 2º turno, o Flamengo fraquejou nas três primeiras rodadas e perdeu a liderança da tabela, período no qual perdeu Leônidas lesionado. Depois de voltar a golear ao Madureira por 5 a 1, foi goleado por 5 a 1 pelo Botafogo no Estádio da Rua General Severiano, e empatou com o São Cristóvão. Instável e sem confiança, o time venceu apertado ao Bangu por 2 a 1 no antigo Estádio da Rua Ferrer, na Zona Oeste da cidade.

O Flamengo 1939, da esquerda para a direita estão: Yustrich, Agustin Valido,
Newton Canegal, Domingos da Guia, Carlos Volante, Artigas, Médio da Guia,
Alfredo González, Leônidas da Silva, Jarbas e Sá.

Foi assim que chegou ao Fla-Flu na 5ª rodada, a ser disputado no Estádio de São Januário, que ficou lotado com mais de 30 mil espectadores. Leônidas, que voltava ao time naquela tarde, abriu a contagem aos 21 minutos do 1º tempo. A vantagem foi ampliada no início da etapa final, com gol do argentino Alfredo González. O craque tricolor Romeu Pellicciari ainda descontou, mas a vitória foi mesmo rubro-negra, aumentando a moral da equipe, que embalou uma sequência de vitórias que lhe assegurou a liderança ainda ao fim do 2º turno: 2 a 1 no América, 3 a 0 no Vasco - com direito a um gol de bicicleta marcado por Leônidas em pleno São Januário - e por fim 2 a 1 no Bonsucesso.

Uma sequência fundamental para manter o clube vivo na luta pelo título. O líder era o Botafogo, com 25 pontos, seguido pelo time rubro-negro que aparecia com 24 na tabela. Em terceiro aparecia o São Cristóvão com 21 pontos, indicando que líder e vice-líder eram os dois grandes favoritos naquele momento a conquistar o troféu.

A largada no turno final era contra o Madureira, a quem os rubro-negros tinham vencido duas vezes por 5 a 1. Desta vez empatou por 2 a 2. A perda de 1 ponto poderia ter sido crucial, mas alguns dias depois o Botafogo foi derrotado por 3 a 2 pelo São Cristóvão, com os dois clubes terminando a rodada inicial do turno derradeiro empatados na ponta. Mas os dois se enfrentavam em São Januário na 2ª rodada, tendo havido a vitória alvi-negra por 3 a 2, de virada, após Leônidas ter marcado duas vezes nos quinze minutos iniciais de partida. Mais uma vez a conquista parecia estar se perdendo. E faltavam apenas 6 rodadas por serem jogadas.

Na 3ª rodada, uma primeira de uma sequência de jogos decisivos, contra o 3º colocado da tabela, o São Cristóvão. Vitória rubro-negra de virada por 2 a 1. No jogo seguinte, uma goleada por 4 a 0 no Bangu mantinha o time vivo na luta pelo título, tirando um ponto de diferença, dado que o Botafogo empatou com o Madureira.

Na 5ª rodada, uma nova decisão, de novo num Fla-Flu, e com vitória fundamental rubro-negra por 2 a 1, com dois gols marcados pelo ponta-direita Sá. O Flamengo seguia vivo e lutando. Venceu ao Bonsucesso por 4 a 2, e viu o Botafogo ser derrotado por 3 a 2 pelo Fluminense em São Januário, assumindo assim a ponta da tabela. E O Botafogo ainda empatou por 2 a 2 com o Vasco no Estádio das Laranjeiras.

Em 20 de novembro, Flamengo e América empataram sem gols em São Januário, alçando o time rubro-negro a 34 pontos na tabela, com apenas uma partida por fazer, contra o Vasco nas Laranjeiras. O Botafogo tinha 31 pontos e dois jogos por realizar, contra América e Bangu. Para tirar o título do time rubro-negro, os alvi-negros tinham que vencer seus dois jogos pendentes, o que lhes levaria a 35 pontos, além de precisar torcer por uma vitória vascaína sobre o Flamengo na partida derradeira. Era a única combinação de resultados que impediria uma conquista do Flamengo.

Em 26 de novembro, América e Botafogo entraram em campo no Estádio de São Januário. O time alvi-negro era treinado pelo húngaro Dori Kurschner, que havia treinado o Flamengo entre 1937 e 1938. O centroavante botafoguense Carvalho Leite marcou três gols naquela tarde, e Zezé Moreira ainda converteu um quarto, mas não foi suficiente para impedir a vitória do América que garantiu matematicamente o título do Rio de Janeiro ao Flamengo. Com três gols de Hortêncio e dois de Pirica, o time rubro venceu por 5 a 4, resultado que levou o troféu do campeonato para a Gávea.

Em 3 de dezembro, já campeão, o Flamengo recebeu ao Vasco no Estádio das Laranjeiras, que ficou abarrotado de gente para celebrar a festa do novo campeão da cidade! Desde 1927 o Flamengo não era Campeão Carioca, tendo sido assim interrompido o maior jejum da história rubro-negra! As páginas do “Globo Sportivo” naquela manhã destacavam que o desempenho rubro-negro no campeonato havia se tornado mais consistente a cada turno, e o título já se justificava amplamente.

O Estádio da Rua Álvaro Chaves estava com sua lotação máxima. Os rubro-negros queriam celebrar seus campeões. Logo aos 7 minutos, o marcador foi inaugurado: o argentino Valido chutou com força de fora da área e o goleiro vascaíno Nascimento espalmou para escanteio. Jarbas levantou a bola na área e foi novamente Valido quem subiu mais do que toda a defesa para testar para dentro da rede: Flamengo 1 a 0.

Pelo resto do 1º tempo, o Flamengo diminuiu seu ímpeto em função muito provavelmente do forte calor de verão que assolava a cidade. Mas o time rubro-negro era inquestionavelmente aquele que dominava as ações em campo. Para a frustração de um Vasco que esperava um adversário relaxado, o time rubro-negro está motivado e transpira de vontade para vencer à derradeira partida e fechar com chave de ouro a sua impecável campanha.

Na etapa final, o Vasco praticamente se limitou a se defender. Leônidas simplesmente enlouquece a linha de zaga vascaína, com uma movimentação incessante e dribles desconcertantes que abrem crateras na bem postada defesa rival. Com efeito, o ataque formado por Leônidas com os irrequietos Sá e Jarbas nas pontas, Valido armando e o guerreiro argentino Gonzalez mais à frente, faz da linha de frente rubro-negra algo que assombrava os mais sólidos ferrolhos. Parecia ser questão de tempo para saírem mais gols. E assim foi!

Porém, a goleada só se consolidou a partir dos 25 minutos, quando a temperatura já estava mais agradável, e então se fez a catarse definitiva rubro-negra. Primeiro, Agnelli botou a mão na bola na lateral da área. Jarbas bateu a falta para dentro da área para uma cabeçada precisa de González. Três minutos e meio depois, Leônidas recua e pede bola, e o meia-esquerda argentino o lança. O "Diamante Negro" risca dois defensores, faz a tabela e chuta, batendo forte e superando ao goleiro Nascimento: 3 a 0.


O jogo vai se encaminhando para o final, os dois times começam a demonstrar cansaço. Feliz com a exibição de gala, a torcida começa a entoar seus gritos de ordem e saudações aos campeões! Houvesse "olé". É farta a gritaria. O Flamengo roda a bola, roda o time, roda o jogo, o Vasco inerte apenas anseia ardente pelo fim do tormento. Está exangue, entregue, abandonado à própria sorte. E a contagem é então encerrada: Alfredo González anotaria seu segundo gol no jogo, decretando os 4 a 0 definitivos para o Flamengo, campeão incontestável! Como celebraria a página do Jornal dos Sports na manhã seguinte: "verdadeiramente o campeão!". Terminada a partida, a torcida rubro-negra que deixava o estádio se juntou à multidão que aguardava do lado de fora, e juntos rumam todos à Praia do Flamengo, que acaba interditada ao trânsito! Carnaval no início de dezembro pelas ruas do Rio. Acabou o jejum! O Flamengo era campeão de novo! O clube estava pronto para alçar voo e se consolidar definitivamente entre os maiores do Brasil!






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