quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A Histórica Eleição 2024 no Clube de Regatas do Flamengo!


Como registro histórico desta importantíssima Eleição 2024 no Clube de Regatas do Flamengo, segue a íntegra do excelente artigo publicado por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio) no site Ser Flamengo (http://serflamengo.com.br/), sob o título "De peça-chave do jogo a mestre do tabuleiro: como Bap deu um xeque-mate em Rodolfo Landim na eleição do Flamengo". Eis o texto original:

Luiz Eduardo Baptista, o Bap, sonha em ser presidente do Flamengo há muito tempo. O pontapé inicial foi dado em 2009, quando comprou o título de sócio proprietário e chegou a participar da “Fla-21” no mesmo ano, um embrião do que viria a ser a Chapa Azul em 2012.

Por conta dos seus compromissos profissionais, passou a colaborar com o clube através da empresa que presidia, a SKY. Foi por ela que, em 2010, patrocinou o basquete, reformou o ginásio Hélio Maurício e levou Zico para um cargo no futebol do Flamengo. O sonho de se tornar mandatário do seu clube de coração ainda teria que esperar um pouco.

Em 2012, quando se reuniu com um grupo de empresários bem-sucedidos em suas áreas de atuação, tinha por princípio o fim da reeleição e a rotatividade entre eles. A ideia era que cada um fosse presidente do clube durante as próximas décadas, mas o acordo foi quebrado em 2015 com a cisão da Chapa Azul original. Bandeira foi reeleito, e Bap foi derrotado com seu candidato, Wallim Vasconcellos.

Em 2018, Bap foi um dos homens de confiança de Landim na criação da Chapa “UniFla”. A ideia era unir o clube e formar uma forte coalizão para vencer Ricardo Lomba, candidato de Eduardo Bandeira de Mello, mesmo contando com muitos expoentes da “velha política” do Flamengo, como Patrícia Amorim e Marcos Braz.

Na reeleição de Landim, em 2021, mais uma vez o princípio da rotatividade foi quebrado. Bap deixou a vice-presidência de Relações Externas e se elegeu presidente do Conselho de Administração, mas continuou como membro do “Conselho de Futebol”, cargo que exerceu até junho de 2022, quando se afastou de vez das decisões executivas da gestão.

Foi a partir daí que Bap começou a montar sua estratégia para lançar sua candidatura. Nos meses seguintes, contratou pesquisas para sentir a temperatura e saber em quem o associado estaria disposto a votar na próxima eleição, bem como entender os temas que deveriam ser debatidos no pleito. As primeiras respostas foram positivas.

A estratégia de se colocar, como se diz no mundo acadêmico, como “o garantidor de um futuro possível” viria a ser importante na campanha, bem como o domínio dos temas fundamentais do “Princípio Dominante” para persuadir o associado. Entender o cenário antecipadamente e os anseios do torcedor, mesmo aquele sem direito a voto, foi decisivo.

Bap esperava contar com o apoio de Rodolfo Landim, mas não aguardou sua decisão para considerar o lançamento de sua candidatura. Muito antes de junho de 2024, quando o presidente anunciou, em um jantar com apoiadores, que daria seu apoio a Rodrigo Dunshee, ele já havia consultado seu círculo próximo e contava com apoios informais, como o do presidente do Conselho Deliberativo, Antonio Alcides, e do presidente da Assembleia Geral, Carlos Henrique dos Santos, um dos fundadores do grupo “FAM (Flamengo Até Morrer)”. Além disso, contava com o suporte de alguns vice-presidentes que não concordavam em apoiar o sucessor escolhido. Outras lideranças também foram abordadas, como Ricardo Hinrichsen, candidato em 2021 e um dos líderes do “Flamengo Sem Fronteiras”.

Sem se curvar às condições impostas por Landim para ser seu sucessor, Bap usou o silêncio público como estratégia. Em junho, apenas duas pré-candidaturas estavam “na rua”: Maurício Gomes de Mattos, que havia deixado a vice-presidência de Consulados e Embaixadas, e Rodrigo Dunshee, que não prometia mudanças profundas na gestão de Landim, já considerada fisiológica e insuficiente para alcançar a hegemonia no futebol.

A primeira vez que falou publicamente como pré-candidato à presidência foi em 19 de julho, durante uma entrevista ao Charla Podcast. Demonstrando conhecimento sobre os anseios dos associados e torcedores, abordou temas que se tornariam dominantes no futuro próximo: profissionalismo, governança e uma reestruturação profunda na gestão do futebol. A repercussão de suas declarações foi extremamente positiva, já que se posicionou como uma alternativa com a intenção de promover mudanças significativas no clube, especialmente no futebol.

Nas semanas seguintes, teve início a implosão da gestão de Rodolfo Landim e da candidatura de Rodrigo Dunshee, com a saída dos principais vice-presidentes: Rodrigo Tostes deixou a vice-presidência de Finanças; Marcelo Conti, a vice-presidência de Gabinete; PC Pereira, a vice-presidência de Secretaria; e Ricardo Campelo, a vice-presidência de Responsabilidade Social. Todos declararam apoio a Bap, assim como os principais grupos de apoio, como o “FAM”, “FAT (Flamengo Acima de Tudo)”, “Ideologia Rubro-Negra” e “Raiz Original”, coletivo surgido a partir de uma cisão do “Flamengo Raiz“, que havia decidido apoiar o nome escolhido pelo presidente.

Além disso, ocorreu uma divisão no “Sinergia Rubro-Negra“, que, por não seguir o candidato da chapa 1, perdeu cerca de 20 membros. Muitos desses dissidentes participaram da criação do “Vamos Flamengo”, grupo que tem Alexandre Pinto, ex-vice de TI, como um dos fundadores e que, semanas depois, também apoiou e votou na chapa “Raça, Amor e Gestão”. Esse foi um golpe significativo que enfraqueceu a “UniFla”.

Em 9 de setembro, no lançamento de sua candidatura, Bap reuniu mais de 900 pessoas no evento e demonstrou que contava com o apoio de 95% da Chapa Azul original de 2012, incluindo nomes como Cláudio Pracownik, Alexandre Póvoa, Flávio Willeman, PC Pereira, Edmilson Varejão, Pedro Almeida, Sérgio Brandão, Rubem Osta, Gustavo Fernandes e Pedro Iotty. Além disso, mais de 90% da Chapa Azul de 2015 também estava ao seu lado, com figuras como Antonio Tabet, Arian Bechara, Rodrigo Sabino, Luis Nogueira, Luiz Filipe Teixeira, Marcelo Haddad, Plinio Serpa Pinto, Ricardo Lomba e Sérgio Bessa.

Para reforçar ainda mais sua candidatura, apresentou aliados de peso, como Zico, Marcos Motta e Fabio Coelho, diretor executivo do Google Brasil. O evento foi encerrado com o slogan: “A verdadeira Chapa Azul – Juntos desde 2012”. Com isso, Bap se posicionou como um candidato forte e o principal favorito a vencer a eleição.

Com o apoio dos principais nomes das últimas quatro gestões do Flamengo (duas sob Bandeira de Mello e duas sob Rodolfo Landim), Bap tirou praticamente todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para transformar o clube em uma potência esportiva e bilionária nos últimos 12 anos, os princípios basilares dessa estrutura, os argumentos indispensáveis ao processo eleitoral e a alma do atual presidente e ex-candidato a CEO. Um verdadeiro xeque-mate político e eleitoral.

Bap adotou uma postura serena e reativa durante a campanha, buscando rebater as pechas de “pai da SAF”, “contra o estádio”, “pai do Conselho de Futebol” e “elitista”. Também deixou o “peixe morrer pela boca”, pois, sem os aliados de outrora, Landim passou a esvaziar os feitos de quem o associado e o torcedor sabem ter sido importante na reestruturação do Flamengo desde 2012. Em diversas falas, o atual mandatário parecia mais um cabo eleitoral do que um adversário, pois o próprio reconhecia a incapacidade de Dunshee em administrar o clube com os desafios que virão pela frente, como a construção do estádio próprio sem perder a capacidade esportiva do time de futebol.

Com a “UniFla” cometendo o erro do “Princípio da Dispersão”, sem se aprofundar nos temas dominantes do processo eleitoral e apostando nos resultados dos últimos anos do futebol e nas poucas informações sobre a construção do estádio próprio, ficou fácil para Luiz Eduardo Baptista se colocar como o verdadeiro “garantidor de um futuro possível”.

Sem saber para onde correr, Rodolfo Landim autorizou o uso intenso do clube para fins eleitorais nas mídias sociais da instituição, em eventos e oferecendo benesses aos associados, além das pesquisas discrepantes. Essas ações foram interpretadas como práticas da “velha política” e não caíram bem. Cercado de pessoas que passaram ao largo da campanha de 2012, Rodolfo Landim demorou a entender o novo paradigma das eleições do clube a partir de então, de que o grupo, junto com seus princípios e valores, é mais importante do que a influência de uma figura única sobre uma candidatura.

Outra estratégia bem executada por Bap foi a de lançar e trabalhar a candidatura de Ricardo Lomba como presidente do Conselho Deliberativo ainda em 15 de novembro, um mês antes da votação. Com a indefinição da “UniFla”, que dependia do resultado da votação para presidente do clube para lançar seu nome, ele dominou o debate em torno do poder legislativo, já que uma das suas promessas era fazer alterações no estatuto para melhorar a governança do clube. Após o resultado da votação e a diferença de 565 votos de Dunshee, Landim desistiu de participar de um novo processo eleitoral.

Apesar dos percalços, Bap leu e entendeu muito bem o cenário e mexeu estrategicamente o tabuleiro do xadrez eleitoral do Flamengo. Se tiver essa expertise e antevisão na sua gestão à frente do Rubro-Negro, tem tudo para maximizar as receitas do clube, profissionalizar, de fato, o departamento de futebol e construir o estádio próprio sem comprometer o desempenho esportivo do carro-chefe do clube, que não é o único desafio do novo presidente. A ver.


Adicionalmente, é válido um outro registro também que demonstra o Jogo Sujo da chapa derrotada na Eleição Rubro-Negra de 2024, indicando do que o Flamengo se livrou. A matéria também é do site Ser Flamengo (http://serflamengo.com.br/), esta sob o título "IBAP? Reinaldo Castro rompe silêncio sobre suas pesquisas após Eleição do Flamengo que elegeu Bap". Eis a íntegra deste outro texto a seguir:

As pesquisas eleitorais durante o processo eleitoral para presidente do Flamengo foram um dos pontos de grande debate e polêmica. O professor emérito da PUC-Rio, Reinaldo Castro de Souza, foi responsável pelas sondagens contratadas pela chapa de Luiz Eduardo Baptista, o Bap. Os resultados das pesquisas sempre colocaram o candidato da chapa 1 na frente, o que gerou acusações de manipulação por parte de Rodrigo Dunshee, que chegou a chamá-lo pejorativamente de “IBAP”. Após o fim do pleito na última segunda-feira, Reinaldo publicou uma nota rebatendo as críticas da chapa 3.

Na última pesquisa divulgada em 6 de dezembro, Bap liderava as intenções de voto com 49,4%, seguido por Dunshee, com 26,8%, e Maurício Gomes de Mattos (MGM), com 14,8%. Esses números se aproximaram do resultado final: Luiz Eduardo Baptista venceu com 53%, Rodrigo Dunshee teve 35% e MGM ficou com 11%.


Por outro lado, a última pesquisa contratada pela chapa de Rodrigo Dunshee, também divulgada no dia 6, apresentou resultados bem diferentes do que ocorreu nas urnas. Na amostra da Igo Survey, Dunshee liderava com 44%, enquanto Bap aparecia com 32% e Maurício Gomes de Mattos com 16%.


Além disso, a situação passou a divulgar sondagens antagônicas àquelas que estávamos publicando, inclusive, na véspera da eleição, uma divulgação extremamente viesada e errônea mencionando que a rejeição declarada da chapa 3 havia caído substancialmente para em torno de 25% e que a dita chapa 3 era a favorita em larga margem sobre a segunda colocada. E nada disso aconteceu.”, disse Reinaldo em um trecho do seu comunicado.

Reinaldo foi responsável pelas pesquisas da chapa de Rodolfo Landim nas eleições de 2018 e 2021. Além disso, integrou a diretoria como Diretor de Relações Institucionais até 2024, antes do início do processo eleitoral.

Segue a íntegra da nota do professor Reinaldo Castro Souza:

ELEIÇÕES FLA 2024: UMA REFLEXÃO

Dia 9 de dezembro de 2024, um dia histórico para o nosso Flamengo. Uma verdadeira manifestação da democracia rubro-negra, que culminou com a vitória da chapa 1 (BAP & Willeman) com larga margem.

Aliás, é sobre esta larga margem que segue esta reflexão. Desde o final de julho/início de agosto, iniciamos as nossas sondagens estatísticas visando conhecer as intenções de voto dos sócios. Inicialmente, utilizamos a base de dados de 2018, quando ainda não havia a LGPD. Posteriormente, a partir da publicação da assembleia da eleição de 2024, em 31/08/2024, segmentamos os sócios em três subpopulações, de acordo com a opção da LGPD: os que autorizavam o uso de seus dados, os que não autorizavam e os que não se manifestaram.

A partir de setembro, realizamos cinco sondagens por e-mail (via ferramenta Survey Monkey) e WhatsApp. Na semana que antecedeu o pleito, conduzimos uma sequência de tracking waves diários com amostras não repetidas do universo eleitoral permitido. Em todas as sondagens, os percentuais estimados em favor da chapa 1 foram superiores a 45%, com uma média de 12% a 15% de indecisos e não respondentes. A rejeição à chapa 3 oscilava entre 45% e 55%.

No dia 9 de dezembro, monitoramos a votação hora a hora, com pesquisas de boca de urna. Em todas as horas analisadas, a vitória da chapa 1 se confirmava, próxima aos percentuais das sondagens. Após a apuração, o resultado final comprovou que nossas pesquisas estavam corretas e sem viés.

Desde 1998, quando iniciamos essas sondagens para as eleições do Flamengo, conseguimos apontar corretamente (em termos estatísticos) o resultado final.

Por outro lado, fomos surpreendidos durante o processo com questionamentos desrespeitosos, agressivos e sem base científica, feitos pela chapa da situação. Essa mesma metodologia foi utilizada nas eleições de 2018 e 2021, que elegeram Rodolfo Landim por dois mandatos. Além disso, a situação divulgou sondagens antagônicas, como uma na véspera da eleição, que afirmava erroneamente que a rejeição da chapa 3 havia caído para 25% e que esta era favorita em larga margem sobre a segunda colocada. Nada disso aconteceu!

Esses acontecimentos são lamentáveis e prejudicam a lisura do processo eleitoral do Flamengo, que sempre foi pautado pela disputa saudável e democrática entre as chapas concorrentes. Que isso nunca mais ocorra!

SRN!
Prof. Reinaldo Castro Souza (PhD em Estatística pela Warwick University, Coventry, UK; Pós-Doutorado em Estatística e Econometria pela London School of Economics, UK; Professor Emérito da PUC-Rio)

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